0# CAPA 11.3.15 ISTOÉ edição 2362 | 11.Mar.2015 [descrição da imagem: na parte inferior da capa, no centro, pequena foto de corpo inteiro da presidente Dilma. Veste uma calça preta e um blazer branco, está de cabeça baixa e com os braços para traz das costas.] A LISTA QUE ENCOLHE O GOVERNO A relação de Janot atinge em cheio a gestão de Dilma. Ex-ministros e líderes no Congresso estão no centro do escândalo. [outros título: parte superior da capa] O HOMEM DA MALA DA CAMARGO CORRÊA Administrador que distribuiu US$ 300 milhões em propinas abre o jogo. OS RANCORES DE RENAN Incluído na lista da Lava Jato, presidente do senado se rebela contra o governo. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 11.3.15 "UM MAR DE EQUÍVOCOS" Carlos José Marques, diretor editorial Colecionando desastre sobre desastre, o governo Dilma segue vagando sem rumo em um mar de equívocos e pondo em ameaça a própria sobrevivência. Nos últimos dias, suas manobras para equilibrar o jogo político redundaram em um fracasso de proporções abissais. A divulgação antecipada e seletiva dos nomes dos presidentes da Câmara e do Senado na lista da Operação Lava-Jato e as informações da comemoração que se seguiu no Planalto após a notícia foram a gota d’água para entornar de vez o caldo nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Em retaliação, o Senado rejeitou de pronto a MP sobre a desoneração da folha de pagamento. A Câmara tirou poder de Dilma para indicações de nomes no STF ao aprovar a chamada “PEC da Bengala” que amplia a idade de aposentadoria aos ministros dos tribunais superiores. Ainda na Câmara, o desafeto Cunha acelerou as convocações de aliados na CPI da Petrobras. O Congresso, em suma, fechou as portas aos anseios e planos de Dilma. E, por tabela, deu um nó na pauta de discussões de projetos vitais para a Nação. No Judiciário o clima não andou muito diferente. A crescente insatisfação com a demora da presidente em escolher o substituto de Joaquim Barbosa provocou críticas abertas. Com um País conflagrado pela guerra entre poderes e uma presidente que não conta sequer com o apoio de sua base – o próprio PT faz protestos diretos, reclamando das medidas impopulares -, parecia não faltar mais nada no caldeirão de problemas que afligem o Planalto. Mas o início dos inquéritos contra políticos envolvidos no propinoduto da Petrobras aumenta o grau das turbulências. O Governo está mergulhado até o pescoço nesse que é o maior escândalo de desvios da República. Vários ex-ministros, colaboradores e aliados próximos estão entre os investigados. E os detalhes sobre suas participações e responsabilidades devem, em breve, vir à tona. O grau de estragos na gestão Dilma ainda está longe de atingir o pico enquanto diversos setores da sociedade começam a se organizar nas ruas para pedir a sua saída. Intramuros do Governo, Dilma se desentende até com a própria equipe. Ficou latente a irritação da presidente com declarações do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a quem cabe a decisiva missão de levar a economia à estabilidade. A coleção de evidências de sua insuperável inabilidade política em todos os campos e com inúmeros interlocutores alimentou a descrença geral na mandatária e colocou um grande ponto de interrogação sobre como ela conduzirá o País daqui para frente. _________________________________________ 2# ENTREVISTA 11.3.15 EDUARDO SUPLICY - "PESSOAS ME PARAM NAS RUAS PEDINDO PARA EU DEIXAR O PT" Secretário de Direitos Humanos da cidade de São Paulo demonstra preocupação com o PT, diz que a legenda foi varrida por um tsunami, mas sugere que Marta Suplicy dispute prévias contra Haddad para concorrer à Prefeitura em 2016 pelo partido por Luisa Purchio GRANDE FAMÍLIA - Ex-senador Eduardo Suplicy diz que, apesar dos apelos, vai ficar para ajudar o PT a "voltar a agir com correção" O ex-senador Eduardo Suplicy (PT), hoje Secretário de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, avalia que o PT, partido ao qual está filiado há 35 anos, foi varrido por um tsunami. Nos últimos dias, ele tem sido parado nas ruas por pessoas que pedem para ele deixar a legenda. Os apelos partem também de seus familiares. Apesar de precupado com a situação da legenda e da admissão de que o PT cometeu “graves erros”, ele garante em entrevista à ISTOÉ que não seguirá o caminho que – como tudo indica – será trilhado pela ex-ministra da Cultura e sua ex-mulher, Marta Suplicy. "Depois que assinei a CPI dos Correios, o Delúbio me tirou da chapa para o Diretório Nacional" “Sinto-me na responsabilidade de ajudar a corrigir o partido”, afirmou. Para Marta ele faz uma curiosa sugestão: pede para que ela permaneça no PT e concorra com o prefeito Fernando Haddad, ao qual ele está subordinado hoje, à vaga de candidata à Prefeitura de São Paulo em 2016 por meio de prévias. “O estatuto do partido permite que ela recolha o número necessário de votos dentro do diretório municipal para ser pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, se quiser. Ou ela pode recolher 10% do número de filiados que compareceram ao último processo de eleição direta do partido”, disse. "O Bolsa Família foi importante para erradicar a pobreza absoluta. Mas o programa pode ser melhorado" Para ele, o PT precisa dar exemplos no cotidiano, se quiser limpar sua imagem. Cita como prática a ser seguida sua decisão de abrir mão do salário de secretário. Parte do dinheiro será destinado à implementação do Renda Básica de Cidadania, projeto pelo qual luta incessantemente há mais de 20 anos. Istoé - O sr. ficou 24 anos no Congresso e no ano passado não foi reeleito ao cargo de senador. Ao que o sr.atribui a derrota eleitoral? EDUARDO SUPLICY - Nessa eleição houve um verdadeiro tsunami sobre o PT. Foi uma onda de críticas muito forte e aqui em São Paulo foi um momento extremamente difícil para o partido. Istoé - O PT está envolvido em mais um escândalo de corrupção, o Petrolão. Como se sente, sendo um dos fundadores do partido? EDUARDO SUPLICY - Fico preocupado todos os dias, principalmente quando surgem notícias de que algum companheiro ou alguma empresa de responsabilidade do Partido dos Trabalhadores tenha agido mal, pedido propina ou contribuição de maneira inadequada. Ou que tenha enriquecido indevidamente. Istoé - Já pensou em deixar a sigla? EDUARDO SUPLICY - Eu faço um paralelo com uma família grande. Se algum membro da minha família comete um erro grave, eu não saio da família, mas procuro verificar o que posso fazer para que essa pessoa venha a agir com correção. Istoé - A família do sr. pediu que saísse? EDUARDO SUPLICY - Algumas pessoas sim. Com frequência há pessoas que me param nas ruas dizendo que gostam muito de mim, mas que eu deveria deixar do Partido dos Trabalhadores. Sei que para Marta isso também ocorre, para nós do partido tem sido frequente. Mas eu me sinto na responsabilidade de ajudar a corrigi-lo, assim como às ações erradas de brasileiros e brasileiras. Infelizmente acontece. Istoé - Em que momento o PT começou a errar para se envolver em tantos escândalos de corrupção? EDUARDO SUPLICY - Foram desvios de procedimento. A utilização de recursos não contabilizados, por exemplo. No primeiro semestre de 2002 nós estávamos iniciando a campanha eleitoral e, em uma reunião do diretório nacional, o deputado Chico Alencar, na ocasião deputado pelo PT, propôs que nós registrássemos em tempo real e tornássemos inteiramente transparentes todas as contribuições de pessoas físicas e jurídicas ao partido, como eu sempre defendi. Istoé - Como a proposta foi recebida? EDUARDO SUPLICY - Quando ele falou, houve uma reflexão. Mas o então tesoureiro, Delúbio Soares, observou e disse, ‘olha, precisamos ver bem se isso vai ser saudável. Muitas vezes algumas empresas que estariam dispostas a contribuir para um partido podem se inibir com a transparência do processo’. Istoé - O sr. chorou quando assinou a CPI que culminou com a investigação do mensalão. Como foi o episódio? EDUARDO SUPLICY - Em 2005, quando se solicitou uma instalação da CPI dos Correios, o Diretório Nacional do PT recomendou que o partido não a assinasse. Foi uma decisão difícil, recebi uma saraivada de mensagens de pessoas muito próximas pedindo que eu assinasse de forma coerente com o que sempre fiz. Então fiz um pronunciamento e pela primeira e última vez decidi assinar contra a diretriz que o diretório nacional tinha me colocado. Istoé - A atitude teve consequências? EDUARDO SUPLICY - No início daquele ano, por volta de fevereiro, o Delúbio Soares me perguntou: ‘Eduardo, nós do campo majoritário propomos que você faça parte da chapa para o Diretório Nacional, presidida pelo deputado José Genoíno’. Eu aceitei, mas depois de ter assinado, ele disse ‘olha, depois da sua atitude não podemos mais ter você na chapa’. Istoé - Para o dia 15 de março está marcada uma grande manifestação pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Há semelhanças com o processo que levou ao impedimento do Collor, na avaliação do sr.? EDUARDO SUPLICY - Estou em pleno acordo com o professor Dalmo de Abreu Dallari, embora eu tenha amizade e respeito pelo jurista Ives Gandra da Silva Martins. Não há hoje condições objetivas para se fazer uma denúncia com respeito à culpabilidade da presidenta Dilma Rousseff. Não há nada que pudesse justificar um pedido de ­impeachment da presidente. Istoé - O sr. acredita na idoneidade do Lula e da Dilma Rousseff no que diz respeito aos escândalos de corrupção da Petrobras? EDUARDO SUPLICY - Acredito por tudo o que eu conheço, pessoalmente, de suas vidas e atitudes. Em todas as ocasiões que eu tive a oportunidade de conversar com o Lula, ele me disse: ‘para nós do PT, a questão ética é fundamental’. E a presidenta Dilma foi extremamente rigorosa todas as vezes que soube de atos de desvio de procedimento e de enriquecimento ilícito na sua administração. Istoé - Dilma tinha um cargo importante na Petrobras, o de presidente do Conselho de Administração. É possível que não tenha conhecimento do que estava acontecendo? EDUARDO SUPLICY - Por tudo que até hoje veio à tona e pela sua própria reação, ela não tinha conhecimento de que diretores e administradores responsáveis pela Petrobras estavam se enriquecendo ilicitamente. Istoé - A Marta Suplicy se demitiu do cargo de ministra da Cultura e fez uma série de críticas ao PT no ano passado. EDUARDO SUPLICY - Ela saiu do cargo quando já tinham sido anunciados os ministros que estavam finalizando o seu mandato, e que iriam apresentar cartas de afastamento. Ela apenas adiantou-se. Istoé - Como avalia as críticas dela? EDUARDO SUPLICY - Houve alguns contratempos, eu fui testemunha. Eu estava junto a ela e a presidente Dilma Rousseff quando o presidente do PT, Rui Falcão, disse para Marta ir para o banco de trás. Ela disse ‘eu sou ministra, senadora. Eu fui prefeita de São Paulo e tenho muitos votos em São Paulo. Acho que eu devo ficar aqui’. E ficou. Istoé - Se ela sair do PT, para qual partido o sr. acha que ela vai? EDUARDO SUPLICY - A minha recomendação é que ela permaneça no partido e contribua para que possam ser corrigidos os nossos erros. O estatuto do partido permite que ela recolha o número necessário de votos dentro do diretório municipal para ser pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, se quiser. Ou ela pode recolher 10% do número de filiados que compareceram ao último processo de eleição direta do partido. Não é tão fácil obter as assinaturas, mas ela poderia tentar e se apresentar à direção do partido. Istoé - Existe uma insatisfação no PT com a presidente Dilma. EDUARDO SUPLICY - Não vejo assim. Eu acho que há uma incompreensão das dificuldades pelas quais ela passa. Isso precisa ser respeitado e considerado. Istoé - Projetos que desagradam a presidente Dilma passaram pela Câmara dos Deputados, hoje sob o comando de Eduardo Cunha. Vai ser um ano difícil para o governo no Congresso? EDUARDO SUPLICY - Esse foi um sinal de que ela vai ter muitas dificuldades. O chefe do Poder Executivo deveria estar sempre dizendo aos deputados e senadores para votarem de acordo com a sua consciência, com o que consideram a defesa do interesse público. E nunca porque tenha sido aceito a indicação de tal ou qual pessoa. Istoé - O sr. é um entusiasta do “Volta, Lula”? EDUARDO SUPLICY - É mais do que legítimo que o presidente Lula seja candidato à Presidência da República. Há uma probabilidade alta de que ele possa ser nosso candidato em 2018. Istoé - O partido vai conseguir limpar sua imagem até lá? EDUARDO SUPLICY - É muito importante que nós tomemos medidas para prevenir e corrigir os graves erros que foram cometidos, para que não se repitam. Istoé - O que precisa ser feito? EDUARDO SUPLICY - Eu tive a honra de ser convidado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para ser o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, o que aceitei com alegria. Precisamos dar o exemplo no cotidiano. Por exemplo, eu vou doar minha remuneração como secretário para a própria prefeitura. Por dois motivos. Do ponto de vista ético, o Brasil está precisando de exemplos em muitas áreas, em especial de todos aqueles que estão na administração pública. Istoé - E o segundo motivo? EDUARDO SUPLICY - Quero destinar os recursos para o projeto que tanto acredito, o Renda Básica de Cidadania. É claro que eu poderia arrumar uma destinação em benefício próprio e da minha família, mas achei uma boa decisão. Istoé - O sr.já disse que deseja falar com a presidente Dilma sobre o projeto. Há quanto tempo espera uma reunião? EDUARDO SUPLICY - Desde junho de 2013. Na diplomação em 18 de dezembro de 2014 ela me deu um abraço e disse ‘é mais do que justo, vamos marcar’. Ainda não aconteceu. Mas estou na expectativa de ser chamado. Istoé - Há possibilidade de implantação do Renda Mínima somente em São Paulo? EDUARDO SUPLICY - Em plenária em 2011 eu disse que, se o prefeito Fernando Haddad fosse eleito, eu iria implementá-lo com o governo estadual e federal. O candidato Fernando Haddad disse que tinha respeito à minha batalha e iria incorporar o meu objetivo. Istoé - Como o sr. avalia o Bolsa Família? EDUARDO SUPLICY - Foi um programa extremamente importante que ajudou o Brasil a efetivamente erradicar a pobreza extrema e absoluta. Mas não foi o suficiente e esse processo de diminuição da desigualdade socioeconômica ainda não se completou. As pessoas desistem de iniciar uma atividade com medo de ter uma remuneração e então perder o benefício. Ele pode ser melhorado. Istoé - Continua fazendo exercícios físicos toda manhã? EDUARDO SUPLICY - Tenho aula de ginástica segunda e sexta-feira das 6h45 às 7h45. Há pouco mais de um ano fiz uma bateria completa de exames e perguntei ao médico: ‘estou com 73 anos, será que posso me candidatar para mais um mandato no Senado de oito anos?’. Ele disse que estou tão bem que posso me candidatar para o que quiser nos próximos 24 anos. ____________________________________ 3# COLUNISTAS 11.3.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - A LISTA DE JANOT E A ECONOMIA 3#3 PAULO LIMA - O BOM COMBATE 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANA PAULA PADRÃO - REFLEXÕES SOBRE MADAME WALKER 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Em alta No primeiro bimestre, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras presidido por Antonio Gustavo Rodrigues recebeu 200 mil comunicados de operações tidas como suspeitas. Não dá para garantir que o registro expressivo seja efeito da Operação Lava Jato, a pleno vapor. Mas pode ter alguma relação. Afinal, o número supera com folga o total de alertas recebidos em 2014 nas regiões Sul (190 mil), Nordeste (169 mil) e Norte (77 mil). Trabalho Preconceito A 15ª Vara do Trabalho de Brasília condenou a Cervejaria Petrópolis a indenizar por danos morais (R$ 40 mil) um gerente de vendas que transferido do Rio de Janeiro virou alvo de zombarias na capital federal. Seus superiores hierárquicos viviam lhe dizendo que “o carioca é ladrão e malandro” e quando não falavam sobre sua esposa que ficou na cidade. Para o juiz Cristiano Abreu Lima, “zombarias infanto-juvenis constituíram assédio moral vertical descendente”. Infraestrutura Parou por quê? No momento em que o Brasil precisa de investimentos e cresce o desemprego foge da lógica a paralisação nas reuniões do conselho curador do FI-FGTS, o segundo maior financiador de infraestrutura no Brasil. Desde outubro nenhum projeto da iniciativa privada é analisado. Com recursos provenientes do superávit do FGTS, o fundo tem bilhões em caixa para gastar. A demora pode levar grupos privados a desistir de projetos que, em última instância, geram empregos. EUA À brasileira Objeto do desejo de nove entre dez candidatas à estrela nos EUA, a çirurgia plástica para levantamento do glúteo está em discussão na mídia americana. Conhecida lá como Brazilian Butt Lift (algo como levantamento de bumbum à brasileira) a cirurgia que transfere gordura da barriga para o bumbum custa, na Flórida, entre R$ 6 mil e R$ 30 mil. Na semana passada,os principais canais de TV americanos abriram espaço para o debate sobre a febre das cirurgias, registrando os recentes exemplos de acidentes fatais, no Brasil. Água É grave a crise A “crise hídrica” em que a irresponsabilidade gerencial tucana afogou São Paulo vai aproximar a paisagem da maior cidade brasileira à de áreas mais miseráveis do País. Diante da penúria de água, o programa federal que constrói cisternas no agreste nordestino estenderá sua atuação às escolas públicas paulistas. Os reservatórios são projetados para armazenar exclusivamente água da chuva. Violência Só piora A sofrível arquitetura dos conjuntos habitacionais destinados à população de baixa renda está piorando. Em comunidades controladas por traficantes, e não são poucas, moradores que ainda não foram expulsos pelos criminosos estão cobrindo as janelas dos apartamentos com placas de ferro para proteger-se de balas perdidas. A paisagem, já terrível, fica ainda pior. Política Pano de fundo O alto comando do PT considera o Dia Nacional de Luta, na sexta-feira 13, muito mais do que atos em prol dos direitos da classe trabalhadora, da Petrobras, da democracia e da reforma política – teses que abraça. Para os dirigentes do partido, as manifestações tem ainda o valioso objetivo de colocar a militância petista novamente nas ruas, num momento em que o Governo Dilma Rousseff padece de imobilismo. Transportes Mais protestos Reunindo 56 empresas responsáveis por 16 mil kms de estradas privatizadas, a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias tem muitas críticas à Lei dos Caminhoneiros sancionada por Dilma Rousseff na semana passada. Discute se questionará nos tribunais a legislação, mas já decidiu que não vai colocar pessoal nas praças de pedágio para liberar caminhões vazios com eixo suspenso do pagamento de tarifas. Para a entidade, o trabalho será da Polícia Rodoviária Federal, em 40 dias, quando a lei entrar em vigor. Vem mais confusão nas estradas. Agricultura Efeito na balança As recentes chuvas que recuperaram um pouco dos nossos reservatórios tiveram um efeito devastador na área do café. Depois de 60 dias de escassez de água, as lavouras foram lavadas com os temporais de verão nas regiões produtoras. Com isso, menos cerca de US$ 2 bilhões nas exportações do grão nos próximos 12 meses. Em tempo: as bolsas internacionais que ditam o preço do café no interior do Brasil sofreram desvalorização de 20%, em um mês, sem contar a desvalorização do real. Trabalho Tema oportuno No Tribunal Superior do Trabalho, um assunto da maior importância será discutido nas próximas semanas. Os ministros da Seção de Dissídios Individuais decidirão se cabe por parte de empresas pedir certidão negativa de antecedentes criminais na admissão do emprego. Isso se justifica em razão da função a ser exigida ou é discriminação contra ex-detentos ou pessoas que tentam se ressocializar? A decisão firmará jurisprudência. PT Plano de voo Apesar de volta e meia o colocarem no centro dos debates políticos envolvendo petistas, José Dirceu tem um objetivo maior na vida, segundo amigos do ex-ministro. Além da almejada revisão criminal da condenação de 7 anos e 11 meses por corrupção ativa e do apelo às cortes internacionais, quando a luta terminar aqui ele pretende viver fora do Brasil – possivelmente na Espanha ou Portugal. Esporte No detalhe A Federação Internacional de Vôlei modernizará as transmissões dos torneios na temporada 2015-2016. Eles ficarão informativos como se vê nos grandes confrontos do tênis. O sistema que será disponibilizado para as confederações dos países (Volleyball Tracking System) tem câmeras automaticamente “seguindo” os atletas e a bola, dando ao público em tempo real dados como altura do salto, número de toques na bola, velocidade dos ataques, saques etc. Brasil Desconforto Além de muito papo com técnicos das agências de risco Standard & Poor´s, Moody´s e Flitch – para evitar o rebaixamento do Brasil - Joaquim Levy tem uma questão extra a lidar. Economistas do Ministério da Fazenda comentam veladamente que poderia ter havido maior avaliação dos efeitos do pacote do governo, que busca conter o rombo de R$ 32,5 bilhões nas contas públicas do ano passado. Ou seja, Levy terá que cuidar melhor do ajuste fiscal e do ajuste interno. Culinária A evolução da cozinha Prestes a completar 10 anos na TV e outros 42 anos na profissão, Claude Troisgros estreou o programa, na semana passada, que sempre teve vontade de realizar. Consiste em seduzir quem não come determinada comida a prová-la. As gravações de “Que Marravilha! Chato pra comer”. O chef é pura alegria ao constatar como a arte culinária cada vez mais faz parte da vida das pessoas. “A televisão ajudou muito, mostrando que cozinhar não é algo inatingível. Todo mundo pode ser divertir mexendo as panelas, fazendo tempero e comendo melhor”. E emenda: “antes eram só receitas, como o menu confiança, hoje o reality show de cozinha invadiu as telas, abrindo portas para o dia a dia duro de uma cozinha e a formação de talentos”. 3#2 LEONARDO ATTUCH - A LISTA DE JANOT E A ECONOMIA Um Congresso sob suspeita não faz um impeachment, mas pode atrapalhar, e muito, o ajuste fiscal. Na última semana, o governo Dilma recebeu uma boa e uma má notícia. A boa foi a lista do procurador-geral Rodrigo Janot que, ao pedir inquéritos contra os presidentes das duas casas legislativas, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), fez com que a crise da Lava Jato atravessasse a rua e mudasse de endereço, migrando do Palácio do Planalto para o Congresso Nacional. A má foi a descoberta de como ambos podem reagir, agora que se sentem atingidos por uma suposta manobra que atribuem ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo – na visão de Cunha e Calheiros, ele teria influído na ‘lista de Janot’. Na Câmara, Cunha apertou os parafusos da CPI da Petrobras. Criou quatro novas subrelatorias, minando o poder do relator Luiz Sergio (PT-RJ). Além disso, determinou a contratação da Kroll, maior firma de investigação privada do mundo, que atuou na CPI do caso PC Farias e terá a missão de rastrear contas bancárias de ex-funcionários da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque. Cunha promete, agora, uma CPI contundente, que não deixará pedra sobre pedra. No Senado, a reação de Calheiros, até recentemente o mais leal aliado do Palácio do Planalto, foi mais surpreendente. Ao devolver a medida provisória sobre desonerações tributárias, Renan instalou a dúvida na mente de investidores do Brasil e de fora. A questão, agora, é: em meio a toda essa agitação política, o governo conseguirá ou não implementar o ajuste fiscal proposto pelo ministro Joaquim Levy? Caso não consiga, quais serão as consequências econômicas? Um dia depois da devolução da MP, o dólar foi a R$ 3 e as projeções de inflação chegaram a 8%. Além disso, a possibilidade de rebaixamento de classificação de risco do País foi o tema do dia nas mesas de operação do mercado financeiro. No governo, garante-se que a meta de superávit primário de 2015, de 1,2% do PIB, será cumprida com relativa folga. No Congresso, o próprio Renan assegura que o ajuste fiscal será aprovado, agora que foi submetido da maneira correta – por projeto de lei, e não mais através de medida provisória. Ou seja: a turbulência seria apenas passageira. Além disso, investidores não estariam enxergando o aspecto mais importante, que é o firme compromisso do governo Dilma com as medidas propostas por Levy. Até recentemente, tinha-se a impressão de que a crise política seria mais grave do que a da economia, que poderia ser ajustada com pequenos ajustes aqui e acolá. Agora, o que se percebe é que o desarranjo político tem um poder de contágio sobre as expectativas dos agentes econômicos maior do que se imaginava. Um Congresso sob suspeita não faz um impeachment, mas pode atrapalhar, e muito, o ajuste fiscal. 3#3 PAULO LIMA - O BOM COMBATE Como uma das mais tradicionais entidades de comunicação do Brasil vem conseguindo ser a mais inovadora. Além dos já amplamente conhecidos novos conglomerados de tecnologia, provavelmente quem mais está ganhando com o terremoto que há alguns anos chacoalha os setores tradicionais de mídia e de comunicação são palestrantes, escritores, organizadores de simpósios e donos de cursos que especulam em torno de fórmulas mágicas para se lidar com uma das mais profundas e radicais transformações de que já se teve notícia. Ficou famoso algum tempo atrás, um documento interno do New York Times que tratava justamente de arriscar um diagnóstico sobre os erros e descaminhos de uma das mais firmes estacas do velho mundo da informação mundial diante das “ameaças” da nova ordem planetária da comunicação. Em resumo, o que se lê nas dezenas de páginas do material que vazou e ganhou as redes, é que a instituição mais respeitada do jornalismo mundial está mais perdida do que consoante em letra de axé music. Enquanto empresas de todos os tamanhos gastam o carpete das salas de reunião tentando descobrir como lidar com a velocidade das mudanças que só não é maior do que a do tráfego da informação, uma das mais tradicionais emissoras de televisão aberta do país parece ter encontrado há alguns anos a “receita secreta” para produzir um telejornalismo relevante e diferenciado em meio a concorrentes com “turbinas” infinitamente maiores e mais potentes, seja no line up das televisões abertas, seja nas fechadas. O Jornal da Cultura , levado ao ar todas as noites, de segunda a sábado, pela emissora de mesmo nome, percorreu uma linha de raciocínio relativamente simples e profundamente eficaz. Se a notícia chega hoje de forma instantânea, direta e implacável ao cérebro das pessoas mesmo que elas não queiram receber, só resta oferecer à audiência a interpretação inteligente e multicolorida do que acontece no planeta. Assim, entendendo que, ao fim e ao cabo, a única coisa que realmente faz diferença em meio a tantos veículos, suportes, plataformas e aplicativos é de fato o que se tem a dizer, resolveu reunir duplas de comentaristas preparados e capazes de empreender algo que anda escasseando em tempos de cyber haters e de intolerância digital: debater de forma madura e democrática. Junte-se a esses ingredientes um âncora competente, capaz de pontuar e conduzir o tal debate mediando e enriquecendo sem atrapalhar e resistindo à tentação de querer brilhar mais que os convidados e o resultado é um produto altamente demandado e valorizado, hoje mais do que nunca: reflexão. Nomes como Eduardo Muylaert, advogado; Paulo Saldiva, médico; Arlene Clemesha, professora de História Árabe; Luis Felipe Pondé, filósofo; Leandro Karnal, historiador; Mario Sérgio Cortella, filósofo; Christian Lohbauer, cientista político e Roberto Troster, economista, revezam-se em duplas bem escaladas para pensar com propriedade e comentar as notícias. O elegante âncora Willian Corrêa, cumpre bem e com personalidade a difícil tarefa de substituir a Maria Cristina Polli, que com seu jeito espontâneo e simpático, durante anos foi a cara da atração. O resultado não só já alcançou incríveis picosde 2,5 pontos de audiência, mas, bem além disso, tem conseguido fazer até os mais incrédulos na hipótese de encontrar algum conteúdo relevante nas emissoras de tv aberta, reverem suas posições. E só reforçou a tese de que a melhor e talvez a única opção para os veículos tradicionais percorrerem com saúde e segurança a estreita e longa ponte de transição entre o mundo antigo e o novo, está mais perto do que imagina o mais criativo dos teóricos e palestrantes sobre o assunto: investir na qualidade e na relevância do conteúdo. Para quem ainda não viu e se interessou, recomendo assistir ao jornal às segundas-feiras. É nelas que se encontram o historiador Marco Antonio Villa e o advogado e ex-parlamentar Airton Soares. Os encontros (e desencontros) entre os dois provocam um confronto de ideias e de visões de mundo que aquece a fé na dialética como a única saída razoável para se lidar com os absurdos e o drama da existência humana. Com coragem e conhecimento de causa, ambos se entregam ao bom combate sem medo e, sem julgar o mérito das questões tratadas ou das posições defendidas, prestam excelente serviço à população que dá a devida importância ao conhecimento como arma para que uma sociedade consiga deixar para trás os estágios mais precários e sombrios e possa um dia evoluir na direção de horizontes mais amplos e ensolarados. Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ "Voltar às novelas está na minha natureza" A contagem regressiva para Fábio Assunção retornar às novelas está perto de terminar. Longe dos folhetins há sete anos, o ator está em negociações avançadas para acertar sua volta como protagonista em uma novela das 19h, ainda sem título. Logo que encerrar em julho a quinta temporada do seriado “Tapas e Beijos”, Fábio estará à disposição da direção artística da Globo para estrear no segundo semestre ou no começo de 2016. Seu último trabalho foi em 2008, na novela Negócio da China (2008). ISTOÉ – O que significa voltar às novelas? Fábio Assunção – Voltar às novelas é dar continuidade ao meu trabalho em televisão iniciado em 1990. Estou animado. Terão sido cinco temporadas até o meio deste ano e infelizmente nosso “Tapas e Beijos” chega ao fim. O programa é um sucesso e fico feliz em fazer parte dele. Todos merecem reconhecimento: elenco, equipe, direção e autores. Uma turma de peso. Mas voltar às novelas está na minha natureza. ISTOÉ – Você teria sido cotado para ser protagonista da novela “Favela Chique” ou de uma novela das sete. Que convite aceitou? Fábio –Estarei em uma novela sim, assim que terminar “Tapas e Beijos” no meio deste ano. Haverá divulgação na época, mas não será na novela “Favela Chique”. ISTOÉ – Como será o desafio de dirigir a peça “Dias de Vinhos e Rosas”? Fábio – Minha responsabilidade na direção é encontrar o tom das interpretações junto aos atores. Unir a trilha sonora, a arte, cenografia, iluminação, figurino numa mesma linguagem e escolher um estilo de comunicação com o público. “Dias de Vinho e Rosas” terá uma interpretação realista e a montagem acompanhará e apoiará os atores, resultado do trabalho de uma equipe incrível composta por Clara Carvalho na tradução e preparação dos atores, Egberto Gismonti na trilha sonora, Caetano Vilela na luz, Fabio Namatame na arte e figurino além, claro, dos atores Daniel Alvim e Carolina Mânica. Minha assistência na direção é tarefa de Maristane Dresch. Sou produtor da peça em sociedade com nosso diretor de produção Edinho Rodrigues e com nossa atriz Carolina Mânica. Recebi este texto em 2013. ISTOÉ – Por que escolheu essa peça? Fábio – Escolhi esta peça por acreditar ser um tema atual e de importante discussão: o alcoolismo. Nossa peça narra uma linda história de amor que ao longo de 9 anos é minada pela dependência das personagens ao álcool. É forte dramaturgicamente. Foi um clássico feito no cinema em 1962 com os atores Jack Lemmon e Lee Remick. ISTOÉ – Você se arriscaria como diretor de tevê ou de cinema? Fábio – Gosto de dirigir equipe pequena, seguir minha intuição sem amarrações com o mercado. Talvez um dia me arrisque a dirigir nessas áreas se eu tiver independência. ISTOÉ – Que personagem ainda não fez e gostaria de fazer? Fábio – Não tenho isso, não. O que vier de bom eu traço. ISTOÉ – Tem algum sonho a realizar? Fábio – Preciso criar novos sonhos. Quando eles aparecerem vocês saberão. A gata do Pato O clique de J.R. Duran diz tudo: ela é uma gata que conquistou Pato. O mais curioso é que tudo aconteceu por causa de dois cachorros. Histórias como o inusitado começo do romance com o jogador Alexandre Pato, a atriz Fiorella Mattheis conta com exclusividade no ensaio de capa para a última edição da revista IstoÉ Gente. O editorial é de Duran com direção criativa de Luis Fiod na last issue da publicação, que chega às bancas na quarta-feira 12. Pegadinha por uma boa causa A pegadinha foi planejadíssima e guardada a sete chaves por cinco meses. O vídeo íntimo de Sabrina Sato vazado na internet bolado pela agência Leo Burnett era uma ação comercial do absorvente “Always” abrançando a causa da campanha #juntasContraVazamentos. Só no Brasil, a Safernet contabilizou em 2014 224 casos de imagens vazadas na rede, tendo mulheres como principais vítimas. O relato de desaparecimentos e depressão de meninas sensibilizou Sabrina. “Confesso que fiquei espantada pelos números”, diz ela. Mais de nove milhões de pessoas foram alcançadas até agora no viral, que teve cerca de três milhões de visualizações. Novo show da Xuxa Foi um verdadeiro show da Xuxa ao vivo. Da aterrissagem em São Paulo em seu avião à chegada à Record para a assinatura do contrato com a emissora, Xuxa Meneghel marcou com arrebatamento sua chegada à nova casa. “Sou turrona para mudar. Com certeza serei feliz”, disse a “Rainha dos Baixinhos” em um auditório, diante de 80 fãs selecionados, funcionários e da diretoria. Na porta da emissora, uma multidão. Houve gente que esperou até 14 horas para vê-la passar. O novo programa diário, que Xuxa duvida que estreie em dois meses como quer a emissora, será inspirado no formato do “Ellen DeGeneres Show”, programa de auditório norte-americano da rede NBC. Bala O ator e os analistas A performance do ator ZéCarlos Machado, conhecido por interpretar o terapeuta Theo Cecatto na série “Sessão Terapia”, do GNT, foi o ponto alto da noite de debate e relançamento do livro “Da Palavra ao Gesto do Analista”, do psicanalista Jorge Forbes, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi em São Paulo. No debate, Forbes, a psicanalista Claudia Riolfi e o jornalista Rodrigo de Almeida discutiam como a palavra afeta o corpo. E o ator demonstrou como monta seus personagens a partir da palavra e de que maneira um texto passa pelo corpo. No auditório, ele causou comoção ao se levantar e demonstrar o andar envergonhado de um pedófilo, em referência ao seu monólogo “Brincando com o Sanduíche”. 3#5 ANA PAULA PADRÃO - REFLEXÕES SOBRE MADAME WALKER É preciso evitar a passagem de outro século antes que possamos nos orgulhar de uma sociedade mais equânime em termos de gênero e raça. Você já ouviu falar em Sarah Breedlove? Ela foi a primeira de sete irmãos nascida liberta numa família de escravos. Era o fim do século XIX nos Estados Unidos. Cinquenta anos depois, em 1917, Sarah havia se transformado em Madame C J Walker. E tornara-se a primeira milionária negra da América. Antes de explicar o que a fez rica é preciso dizer que Sarah passou por tantos desafios quanto os que qualquer mulher negra enfrenta até os dias de hoje. Também no Brasil. Antes dos dez anos de idade já havia perdido pai e mãe. Eram trabalhadores braçais em lavouras de algodão e morreram de doenças que costumam vitimar a população negra e pobre. Sarah foi morar com uma irmã mais velha e casou-se aos 14 anos para livrar-se dos maus tratos do cunhado. Teve uma filha aos 17. Pouco depois ficou viúva, e sozinha mais uma vez. Mudou-se para Boston para unir-se aos irmãos, empregados num salão de cabeleireiro masculino. Sarah conseguiu ali um posto simples. Sua função era lavar os cabelos dos frequentadores. E ela aproveitou com sabedoria e resiliência a primeira chance de toda a sua vida até então. Por causa do estresse que sofreu, Sarah havia perdido muito cabelo. Não encontrava remédio que a ajudasse a se sentir melhor com sua aparência. Usava alisadores nos fios, o que só piorava a queda. Foi quando passou a estudar as fórmulas dos shampoos que conhecia no salão e pensar em produtos menos agressivos. Aquele seria o início de uma das mais bem sucedidas linhas de beleza para o cabelo dos negros em toda a história dos Estados Unidos. O próximo emprego de Sarah foi como revendedora de produtos de beleza. Estudou mais. Desenvolveu sua própria fórmula. Conheceu o homem que seria seu marido pelo resto da vida. E ele, publicitário, ajudou-a a vender sua ideia. Rodaram o sul do país formando grupos de representantes da marca. Em pouco tempo Sarah ergueu sua fábrica e uma linha de distribuição dos produtos Madame J C Walker, sobrenome de casada. Madame Walker não abandonou sua origem. Em seu testamento deixou dois terços de sua fortuna para o que na época se conhecia como filantropia. Na verdade, o que Sarah queria era ver a autoestima feminina fortalecida. Principalmente a da mulher negra. Madame Walker morreu aos 51 anos de idade, em 1919. Quase um século atrás! Os problemas que ela identificou e contra os quais lutou, no entanto, ainda são os mesmos. No Brasil, metade da população feminina é negra: 51 milhões de mulheres. Elas ganham menos que os homens e também menos que as mulheres brancas. Nas favelas, onde a maioria das mulheres é negra, 58% têm o primeiro filho antes dos 20 anos de idade! A mesma pesquisa, do Data Favela, diz que 21% dos lares nessas comunidades são chefiados por mães solteiras. E, assim como na época de Madame Walker, muitas dessas mulheres ainda têm dificuldade de adaptação a modelos de beleza midiáticos. Por isso a história dessa americana vencedora tem relevância na Semana da Mulher. Madame Walker promovia encontros pelos Estados Unidos para treinar suas representantes a vender mais do que cremes capilares. Ela queria que seu time estimulasse clientes empreendedoras, autônomas, orgulhosas de si mesmas e de suas decisões. Refletir sobre isso é evitar que se passe outro século antes que possamos nos orgulhar de uma sociedade mais equânime em termos de gênero e raça. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Ministros agora passam o pires no Congresso A aprovação do orçamento impositivo para este ano fez surgir um fenômeno novo nas relações entre o primeiro escalão do governo e o Congresso. Como o pagamento das emendas parlamentares se tornou obrigatório, os ministros agora correm atrás de deputados e senadores para pedir emendas a projetos e obras de suas áreas. Com esse objetivo, na terça-feira 3, o ministro da Pesca, Helder Barbalho, esteve com a bancada do PMDB. Como argumento, disse ter pouco mais de R$ 200 milhões de orçamento. Pouco a oferecer Até o ano passado, os parlamentares dependiam dos ministros para liberar as verbas de suas emendas. Isso dava ao Palácio do Planalto grande poder de barganha na hora de convencer os congressistas a votar as propostas de interesse do governo. A nova situação torna bem mais complicada a aprovação do ajuste fiscal. Só boas notícias Eduardo Cunha dá sinais de que as mudanças na TV Câmara vão afetar a programação mais qualificada da emissora. Para se contrapor às denúncias, a emissora institucional vai tratar de fatos positivos para Câmara. Os documentários e programas de música erudita perdem espaço. Tensão na família O deputado Sarney Filho (PV) pediu que o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, responda oficialmente se compartilhou com governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), detalhes das investigações contra Ricardo Murad, ex-secretário de Saúde e cunhado de Roseana Sarney. Fora do padrão Uma licitação feita no final do ano passado para a compra de 364 notebooks consumiu R$ 1,6 milhão do Senado. Os aparelhos chegaram sem tela de touch screen, exigida no edital, mas o Senado recebeu o equipamento mesmo assim. O preço unitário das máquinas foi de R$ 4,4 mil. A água ficou salgada Pela regra, o preço do metro cúbico da água da transposição do rio São Francisco deve ser calculado segundo o volume de investimentos públicos na obra. Como os aditivos contratuais aumentaram os custos, há o temor de que a população não possa pagar sem subsídio oficial. Uma TV para Cunha Quem assistiu à programação da TV Câmara na semana passada notou uma diferença. Agora, uma equipe da TV segue os passos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, por todo canto. Quando ele estava na CPI da Petrobras, a equipe estava junto. No momento em que Cunha voltou para o plenário, o cinegrafista e o repórter novamente o acompanharam. Cruz credo Servidores se mostram assustados com a ingerência de Eduardo Cunha nos meios de comunicação da Câmara. Na última semana, a mulher dele, Cláudia Cruz, telefonou para a Agência Câmara e mandou trocar a chamada de uma matéria sobre reforma política publicada no site. Cunha não gostara do texto. Ecos do HSBC Um dos clientes do HSBC na Suíça presente na lista em poder Coaf chama-se José Luiz de Magalhães Lins. Trata-se do ex-diretor do Banco Nacional e do BANERJ, figura proeminente da sociedade carioca. Erroneamente, o Coaf informou que Lins teria falecido. Quem morreu foi seu filho homônimo e o neto Luca, vítima da queda de um helicóptero do empreiteiro Fernando Cavendish na Bahia em 2012. Segundo o Coaf, Lins foi “relacionado em comunicação de operação suspeita referente à conta de sua titularidade”. “Os valores sacados em espécie, entre R$ 40 e R$ 50 mil, seriam utilizados para pagamento de empregados”. Operação caça às bruxas O vazamento do relatório do COAF sobre o HSBC entregue à Receita Federal irritou Dilma Roussef. A presidente determinou a abertura de uma sindicância para apurar o nome do responsável. Dois agentes da ABIN e dois da Polícia Federal participam do grupo de investigação. Haverá quebra dos sigilos telefônico e telemático dos funcionários de funcionários da Receita e da PF. Toma lá dá cá ISTOÉ – A doação de US$ 1 bilhão da Noruega para ações de preservação da Amazônia tem sido bem aplicada? Lopes – Não. Deste total, U$ 468 milhões foram transferidos ao Brasil, mas o BNDES não aplicou nem R$ 100 milhões e os noruegueses decidiram suspender as últimas parcelas. ISTOÉ – Qual é o interesse do governo da Noruega em apoiar o Fundo da Amazônia? Lopes – O Rio Amazonas joga um volume colossal de águas com micronutrientes no Oceano Atlântico. Há uma corrente que sobe e dá na costa da Noruega. O bacalhau norueguês, quando alevino, se alimenta quase exclusivamente dessa cadeia. ISTOÉ – Os estrangeiros pressionam pela aplicação dos recursos? Lopes – Eles se manifestaram questionando o excesso de burocracia. A letra S deveria sair da sigla do BNDES. O banco está voltado para projetos bilionários. Rápidas * A cada movimento no tabuleiro, os deputados dão pistas de como se comportarão na missão de investigar e punir seus pares envolvidos no esquema de corrupção flagrado pela Operação Lava Jato. A estratégia dos envolvidos é manter tudo sob controle. * O PMDB entregou ao PP a presidência da poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), colegiado mais cobiçado da Câmara. O PP tem total interesse em comandar a CCJ, pois é o partido com maior número de deputados citados na Operação Lava Jato. * Cabe à CCJ dar a palavra final sobre os pedidos de cassação definidos pelo Conselho de Ética antes do envio dos processos ao plenário. Até mesmo a admissão dos recursos passa pela comissão. O presidente da CCJ é o deputado Arthur Lira, de Alagoas. * A composição do Conselho de Ética da Câmara somente será definida a partir desta semana. Os partidos decidiram esperar a divulgação da lista de parlamentares enviada ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para indicar os nomes. Retrato falado José Serra (PSDB-SP) demorou mais de um mês para subir à tribuna no seu segundo mandato de senador. No longo pronunciamento feito na tarde de quarta-feira 4, ele surpreendeu parlamentares do governo pelo teor de seu discurso. Em vez de apelar ao escândalo da Lava Jato, o senador preferiu fazer uma análise da política econômica no governo Lula e do primeiro mandato de Dilma. Embora crítico, Serra tratou quase só de temas administrativos e econômicos. O evangélico e o comunista O ministro do Esporte, George Hilton, arranjou um jeito bem-humorado de se dirigir ao novo secretário-executivo da pasta, Ricardo Layser, militante do PCdoB. Nas conversas, Hilton costuma citar o cantor Roberto Carlos: “Ricardo Layser, meu amigo de fé, meu irmão... camarada”. Com esse bordão, de uma só tacada, Hilton faz referência à sua crença religiosa e ao tradicional tratamento entre comunistas. Aposta na experiência Ao nomear Ricardo Layser para a principal secretaria de sua pasta, George Hilton surpreendeu o setor esportivo. Imaginava-se que o ministro levaria integrantes da Igreja Universal, à qual pertence, para os principais cargos da pasta. Hilton preferiu a experiência de Layser. ___________________________________________ 4# BRASIL 11.3.15 4#1 OS RANCORES DE RENAN 4#2 O HOMEM DA MALA DA CAMARGO CORRÊA 4#3 LISTA APROFUNDA A CRISE 4#4 LEVY SOB FOGO CRUZADO 4#5 DELAÇÃO DE GIGANTE 4#6 AÇÃO ENTRE AMIGOS 4#1 OS RANCORES DE RENAN Incluído na lista da Operação Lava-Jato e com dificuldades para emplacar nomes em cargos estratégicos, o presidente do Senado se rebela contra o governo Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) está acostumado a caminhar junto com o poder. Sua inclinação ao governismo o levou a conquistar papel de destaque em diferentes períodos da vida política brasileira e a desfrutar como poucos de prestígio e influência. Apesar de sua conhecida preferência pela situação, o presidente do Senado tem demonstrado que está disposto a se rebelar contra o governo Dilma Rousseff, do qual era um dos principais aliados. Na semana passada, o peemedebista devolveu a medida provisória da Desoneração, que aumentava a carga tributária das empresas e era considerada estratégica para o ajuste fiscal. O recado de Renan foi entendido por todos e comemorado pela oposição: as complicadas relações entre ele e o governo Dilma parecem agora ter chegado ao limite. Em conversas reservadas, Renan não esconde a lista de mágoas acumuladas nos anos de convivência com a presidente – e assim se coloca como mais um entre os muitos problemas que o Planalto precisa administrar para não ser sugado pelas recentes crises. DESAFETO - Acostumado a caminhar junto com o poder, Renan agora parece estar disposto a infernizar a vida da presidente Dilma A irritação atingiu seu ápice quando ele foi informado de que está na lista de investigados do procurador-geral Rodrigo Janot por suposto envolvimento na Operação Lava-Jato. Renan contava com uma blindagem, que não aconteceu. Quando, em vez disso, viu sinais de que o governo comemorava seu infortúnio, saiu atirando. Ele diz estar convencido de que a inclusão de seu nome – e do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – foi resultado da interferência do governo, que estaria tentando jogar para o Congresso a crise gerada pela operação que investiga os desvios na Petrobras. Em troca, segundo sugere Renan, Janot receberia apoio para sua recondução ao cargo máximo do Ministério Público. Para reagir ao que acredita ter sido uma ação combinada, o presidente do Senado mostrou que o jogo com o governo será ainda mais duro. Durante reunião de líderes, o presidente avisou que não aceitaria a MP da Desoneração e o faria com base em argumentos jurídicos, uma vez que é proibido aumentar tributos por meio de MPs. Diante da surpresa dos líderes com a postura do então aliado do PT, coube ao senador Humberto Costa (PT-PE) deixar a reunião de forma discreta e avisar sobre as intenções de Renan ao ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A tensão tomou o Planalto. A saída encontrada foi colocar a própria Dilma para conversar com Renan e pedir apoio para a proposta. Durante a sessão plenária, a presidente da República telefonou três vezes para ele, mas era tarde para reverter sua decisão de rebelar-se. Nos bastidores, o presidente do Senado alega que não foi consultado pela equipe econômica sobre o teor da MP da Desoneração, embora dois dias antes da publicação da proposta ele e outros peemedebistas estivessem em uma reunião com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, justamente para discutir o ajuste fiscal. Levy não mencionou a intenção de enviar a proposta. Depois da surpresa com a devolução da MP, o ministro conversou com Renan Calheiros. Disse a ele que, ao ser convidado para o cargo, ouviu que não haveria dificuldades para aprovar matérias no Legislativo. Mas Levy percebeu que o cenário político é bem mais complicado do que lhe prometeram. Renan também está incomodado com a resistência do governo em nomear para a presidência da Transpetro alguém de sua confiança. Desde a queda de Sérgio Machado, uma das primeiras vítimas da Operação Lava-Jato, ele tem tentado emplacar o novo presidente da subsidiária da Petrobras, mas suas investidas foram infrutíferas. Embora a busca por cargos e espaços no primeiro escalão do governo seja a justificativa mais óbvia para esse comportamento rebelde, emissários do Planalto descobriram na semana passada que a insatisfação do presidente do Senado vai além do velho fatiamento do poder. Renan quer mais. Para provar sua disposição ao enfrentamento, já conversou com aliados sobre a devolução do ministério do Turismo, cuja indicação está na sua cota pessoal. Acredita que a discussão sobre cargos tem favorecido o governo, que usa o tema para ressaltar o conhecido fisiologismo do PMDB e fragilizar seus dirigentes. Para petistas, a ameaça não combina com as ambições dos peemedebistas e pode ser um blefe para conquistar pastas com maior peso político. A investida do Planalto contra o PMDB é outro ponto crucial que pode justificar a rebelião de Renan. Um dos pontos de maior tensão tem sido a movimentação do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, para atrair peemedebistas para o PSD. Renan e seus aliados acreditam que a manobra é orquestrada com o governo, para tentar reduzir o poder do PMDB e inchar o partido criado por Kassab, obediente a Dilma desde que ganhou um dos mais importantes ministérios da Esplanada. Renan deu recados de que pretendia ser chamado para uma conversa objetiva com a cúpula do governo. Declarou que a coalisão governista era capenga, que Dilma deveria dar sinais de compromisso com cortes de gastos, enxugando a máquina pública, e avisou que, para aprovar propostas, era preciso negociar melhor com os aliados. O governo não reagiu às suas intenções e seguiu prometendo atenção ao aliado de forma apenas genérica. 4#2 O HOMEM DA MALA DA CAMARGO CORRÊA Por quatro décadas, o administrador João Paulo dos Santos distribuiu US$ 300 milhões em propinas em nome da empreiteira Camargo Corrêa. Agora, aos 82 anos, depois de se sentir traído por dirigentes da empresa, ele resolveu abrir o jogo Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) O contador e administrador de empresas João Paulo dos Santos, 82 anos, trabalhou de 1951 a 1993 na Camargo Correa. Graças à eficiência do seu trabalho, tornou-se um homem de confiança de Sebastião Camargo, fundador da empresa. Ele ocupava a sala ao lado do gabinete do presidente e logo conquistaria outro privilégio que dá a medida da relação estabelecida com o todo poderoso da Camargo: recebeu a senha do cofre da empresa. Depois de obter essa distinção, passou a gerenciar as contas bancárias de todas as obras tocadas pela empreiteira. Oficialmente, Santos ocupou a diretoria financeira da empresa. Sua tarefa mais importante, porém, não foi registrada no expediente. Por razões óbvias. Santos era o homem da mala, responsável pelo Caixa 2 que abastecia contas bancárias de políticos graúdos. O PAGADOR - "Fui no Palácio dos Bandeirantes três vezes. Era um risco desgraçado porque eu entrava com o dinheiro lá dentro", afirmou João Paulo dos Santos, que distribuía propinas pela Camargo Corrêa Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, João Paulo dos Santos narra os detalhes dos pagamentos, indica contas bancárias e diz que, por três vezes, entrou com US$ 1 milhão em “maletas 007” no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Segundo o contador, os peemedebistas Orestes Quércia e Luiz Antonio Fleury Filho usavam intermediários para receber a propina, mas Paulo Maluf gostava do dinheiro em mãos. Na casa do político, conta Santos, uma poltrona com fundo falso era usada para esconder os pacotes recheados de dinheiro. “Eu paguei mais de US$ 300 milhões em propinas”, afirma. O ex-diretor relata que, no governo do ex-presidente Fernando Collor, PC Farias marcou um audiência com o dono da Camargo para negociar o caixa 2. Mas a transação não saiu. “O PC Farias disse que queriam tocar algumas obras e exigiram 23% de comissão. O dr. Sebastião mandou ele para aquele lugar.” A engrenagem da corrupção detalhada por João Paulo dos Santos impressiona. A prática de superfaturar planilhas para pagar propinas, segundo ele, foi usada pela Camargo na construção da barragem do Lago Paranoá em Brasília, na hidrelétrica de Itaipu, na ponte Rio-Niterói e em inúmeras rodovias federais e estaduais, além de pontes, viadutos e túneis. O túnel do Jóquei Clube, por exemplo, teve seu custo reajustado de US$ 40 milhões para mais de US$ 90 milhões na gestão de Paulo Maluf. O valor embutiu comissão para o então prefeito. “Foram 10% de propina para o Maluf. O primeiro pagamento eu fiz pessoalmente”, afirma. Em novembro do ano passado, após a prisão dos dirigentes das empreiteiras, Santos procurou o Ministério Público de São Paulo. Narrou os crimes ao promotor Augusto Rossini, que deve abrir um inquérito sobre o caso nos próximos dias. Do ponto de vista penal, os crimes já prescreveram. Mas, segundo ele, ainda é possível obter o ressarcimento do que foi desviado. A delação tardia de Santos não tem nada a ver com arrependimento. A cúpula da Camargo Corrêa acusa o ex-diretor de inventar denúncias de propina para tentar extorquir a empresa. “Este senhor procurou a companhia, alegando ser credor de uma dívida que lhe teria sido prometida no passado. Um empréstimo que não deveria ser pago. Mas não há qualquer procedência nisso”, diz o advogado Celso Vilardi. Segundo ele, Santos gravou fitas e tem usado as mesmas para pressionar a cúpula da empreiteira. “É uma leviandade. Ele não tem provas do que diz”, diz Vilardi. ISTOÉ procurou Maluf e Fleury. Maluf não retornou contato até o fechamento desta edição. O ex-governador Fleury diz que não conhece João Paulo dos Santos e ameaça processá-lo. “Não havia nenhum esquema desse tipo no meu governo. É uma coisa fantasiosa, uma bobagem imensa. Ele que prove, que demonstre as acusações. Esse João Paulo tem que fazer um teste de suas faculdades mentais para saber se está tudo em ordem”. Segundo ISTOÉ apurou, João Paulo dos Santos sempre foi reconhecido nos meios empresariais paulistas como um executivo ligado pessoalmente a Sebastião Camargo. Também tinha fama por sua discrição. Hoje ele não esconde as razões que o levaram a abrir o jogo. A principal delas é que diz ter se sentido traído pelos executivos da empreiteira. De acordo com Santos, depois de quatro décadas de uma relação de confiança, Sebastião Camargo lhe prometera um empréstimo a fundo perdido para ajudá-lo a terminar a construção de um hotel fazenda no interior de São Paulo. Após a morte do patrono do grupo, ele pegou o dinheiro, cerca de US$ 160 mil, no Banco Geral do Comércio. Deu como garantias sua própria residência e o hotel fazenda. Quando o banco da Camargo foi vendido ao Santander, a dívida foi transferida e, em seguida, executada judicialmente, apesar dos apelos feitos por Santos aos herdeiros de Sebastião para que honrassem o acordo. Sem dinheiro para quitar a dívida, o contador perdeu a casa e o hotel, que vai a leilão pela terceira vez. Decidiu, então, revelar tudo o que sabia. ISTOÉ – Quando o sr. começou na Camargo Correa? João Paulo dos Santos – Eu entrei em 1951, como vice-presidente financeiro da Companhia Jauense Industrial, empresa da Camargo. Daí fui acumulando cargos. Em 1988, vim para São Paulo. O dr. Sebastião (dono e fundador da Camargo Correa) queria que eu cuidasse dos assuntos particulares dele. Então comecei a organizar as coisas, fiz carreira no grupo. Eu tinha uma cota igual a dos genros de Sebastião. Fiquei lá de 1982 a 1990. Em 1990, saí para assumir a direção financeira da Camargo Correa. Até 1993, só eu e o Sebastião assinávamos as licitações. Em 1993, eu saí. ISTOÉ – Por que ? João Paulo – Estava construindo um hotel em andamento. Em 1994, o Sebastião me chamou para uma reunião. “João, preciso de você aqui na Camargo”. Eu disse que não dava, que o hotel estava quase pronto e perguntei qual era problema. Ele me pediu para assumir um assento no Conselho do Banco Geral do Comércio no lugar de um dos genros. ‘Você vai lá para vigiar, para não dar besteira’, disse-me. Fui eu que iniciei a venda do banco. Primeiro ofereci ao Bradesco, depois para o Unibanco. Acabou sendo vendido mais tarde para o Santander. Em vez de voltar, acertei com ele de ir um dia só e disse que poderia precisar de US$ 100 ou 200 mil para terminar o hotel. Ele concordou em me dar o dinheiro. ISTOÉ – Era uma doação, então? João Paulo – Era um contrato de mútuo. Assunto nosso. O Sebastião falava: “é assunto meu e do João”. O Sebastião morreu naquele ano de 1994. Continuei no conselho do banco até 1996. Fiz o empréstimo de 163 mil dólares. Como membro do conselho, achei que tinha de dar o exemplo. Meu hotel e minha casa entraram como garantia. Saí do banco em 1996. Um belo dia, recebi a carta de cobrança do Santander. ISTOÉ – E qual foi sua reação? João Paulo – Numa missa de sétimo dia de algum parente deles, eu fui e reclamei com os genros. “Agora é tarde”, me falou um deles. Quando me convidaram a dar um depoimento ao Museu da Memória da Camargo Corrêa, eu me dei conta de que não podia deixar aquilo assim. Então gravei três fitas com a história do grupo. Numa quarta fita, falei sobre os pagamentos que fiz a políticos. ISTOÉ – A Camargo alega que o sr. não tem provas do que fala. João Paulo – Não, mas tenho toda a história que vivi. Eu tratei pessoalmente com governadores e prefeitos. E, antes disso, eu que gerava a receita para todos esses outros casos de obras de fachada. ISTOÉ – Só o sr. pagava propina ou os demais diretores pagavam também? João Paulo – Os diretores? Sim. Eu é que gerava a receita. O diretor chegava, apresentava uma planilha da obra, vai custar tanto, tem que pagar por mês tanto. Eu é que preparava isso. Eu tinha as contas correntes de todas as obras. ISTOÉ – Para gerar o caixa dois essas planilhas eram superfaturadas? João Paulo – Com certeza. Mas eu não fazia nada frio, nem contrato, nem nota fiscal, porque acabavam pegando. Pegaram uma vez, antes do meu tempo como diretor financeiro. Eu não permitia isso. ISTOÉ – Usavam doleiro? João Paulo – Deixa eu te falar. Quando entreguei meu cargo em 1993, eu passei a bola para outras pessoas, uma delas era um dos genros. Eu falei claramente, expliquei tudo como era feito. E me lembro que falei: “nunca se metam com doleiro, com terceiros, na história”. Use o banco, que o banco fica comprometido também. No nosso caso era o Swiss Bank. Foi uma das recomendações que fiz e não acataram. O pagador de propinas era homem de confiança de Sebastião Camargo ISTOÉ – Só usavam o Swiss Bank? João Paulo – Era um dos bancos que eu mais operava. Tinha uma conta lá fora. Eu sacava aqui no Brasil e recebia os dólares aqui no Brasil, lá no escritório na Camargo, na minha sala. O Kurt Pickel (chefe do escritório do Swiss Bank Corporation no Brasil, preso na Operação Castelo de Areia) é que levava e depois eu entregava aos políticos. Usava sempre o recurso do Swiss Bank, ou depósito lá fora, ordem de pagamento, ou dinheiro em espécie aqui. É mais ou menos como uma operação de dólar-cabo. Usamos uma empresa lá fora. Esse dinheiro nunca aparecia na Camargo, não entrava na contabilidade da companhia. Eu recebia um dinheiro que não estava em lugar nenhum. E tinha operação oficial também. ISTOÉ – Quando o sr. começou a pagar a propina? Como foi a primeira vez? João Paulo – Foi no governo Orestes Quércia. Com o Otavio Ceccato (ex-secretário da Indústria e ex-presidente do Banespa). Eu fazia ordem de pagamento para contas que ele indicava, na Espanha, na Inglaterra. Uma vez por mês a gente se encontrava para eu entregar o comprovante do depósito. Era US$ 1,55 milhão por mês. Foi assim até o final do governo. ISTOÉ – Depois do Quércia, assumiu o Fleury. O esquema continuou? João Paulo – Sim. A primeira conversa foi com o Lilico (capitão Frederico Pinto Coelho Neto), irmão do Fleury. Eu fui no Palácio dos Bandeirantes três vezes. Era um risco desgraçado porque eu entrava com o dinheiro lá dentro. Eu falei com Sebastião. Boto um milhão de dólares no porta-malas do meu carro, tudo bem. Mas e se acontece algum acidente? Alguém me rouba? Fui três vezes lá na sala dele. Se pagava US$ 2 milhões a Camargo, a gente devolvia US$ 200 mil de comissão. ISTOÉ – Quantas vezes o Lilico foi ao seu escritório? João Paulo – Ele foi umas três ou quatro vezes. Teve uma vez que levei também uma maleta para o presidente da CESP. Fomos jantar no Don Curro. Levei US$ 700 mil na maleta. ISTOÉ – Quem sabia desses pagamentos, além do sr. e do Sebastião? João Paulo – O diretor da área, porque ele tinha que dar as informações sobre a obra. A área comercial e de engenharia. Geralmente a área comercial é que trata do assunto. ISTOÉ – Se esses pagamentos eram feitos no âmbito estadual e municipal, como ficava o federal? João Paulo – Teve um episódio com o PC Farias. Ele foi lá bem cedo, por volta das 7h. Dessa vez, o Sebastião estava presente. O PC Farias entrou e o Sebastião perguntou o que eles estavam pretendendo. Ele disse qual obra era e que queria 23% de comissão. Sebastião mandou ele para aquele lugar. Estava só eu, ele e o Sebastião. Nunca comentei com ninguém. ISTOÉ – E nos governos Itamar Franco e José Sarney? João Paulo – No Itamar não teve nada. Não lembro de ter havido pagamento para o Sarney nessa época. Tinha muita ajuda para campanha de parlamentar também, mas disso eu não participava. O Sebastião era um homem de pouca conversa. Eu vi ele sair da linha três vezes. Uma com o PC, outra com o irmão e outra com o Jânio Quadros. O Jânio era outro também né?! Quando ele saiu da presidência, veio para a Prefeitura, começou a fazer os túneis em São Paulo. Ele ficou mal de grana uma época. De vez em quando beliscava. O Sebastião se encheu disso e fechou a torneira. Ele insistiu por telefone, queria receber propina retroativa por obras federais. O Sebastião xingou ele e desligou. ISTOÉ – Qual foi o túnel que o Jânio construiu? João Paulo – O Jânio começou a construir o túnel do Jóquei Clube, que hoje se chama Sebastião Camargo. Ele saiu, ficou uma fatura pendente de US$ 11 milhões. Tinha ainda obra para fazer. Quem entrou foi a Erundina e aí ela não fez nada, não colocou um metro de túnel. Parou todas as obras. Aí, ela saiu e entrou o Maluf. Uma das promessas de campanha era terminar o túnel. Ele ganha a eleição e, uma semana depois, o Pitta me chama. Começamos a conversar e ele falou: “Me explica como é esse negócio de obra que eu não entendo nada!” Era um cara legal. Dez dias depois, ele me chamou de novo. Combinamos tudo. A Erundina tinha deixado 200 milhões de dólares em caixa. Ele pegou a fatura que eu tinha levado e mandou liquidar os US$ 11 milhões na hora. Aí fizemos um reajuste do saldo da obra, que era US$ 40 milhões. Reajustou para 90 milhões e no reajuste incluímos os 10%. ISTOÉ – E o primeiro pagamento da propina para o Maluf foi quando? João Paulo – Eu que levei o primeiro pagamento na casa do Maluf. Foi num final da tarde. Tinha um escritório fora da casa. Entrava pela garagem. Nesse dia acho que foi US$ 700 mil. Esse eu entreguei diretamente para o Maluf. Depois não sei quem ficou responsável por levar. ISTOÉ – De todos que receberam propina, o Maluf foi o único a dispensar intermediários? João Paulo – Ele gostava de receber diretamente. Foi assim desde o tempo do regime militar. Tinha as ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) ao portador. Negociava-se no mercado. Essas ORTNs eram aceitas em qualquer lugar. A inflação era diária. Sobrava caixa 2. Eu tinha uma sala cheia dessas ORTNs. A gente levava para ele diretamente. O Maluf tinha uma poltrona com fundo falso. Pegava o pacote, levantava um pouco, jogava dentro, e sentava de novo. ISTOÉ – O sr. sabia que estava fazendo algo errado? João Paulo – Eu tinha medo, receio de dar problema. Mas se recusasse, perdia o emprego. Minha relação com o Sebastião era diferente. Olhando hoje esses diretores das empreiteiras presos, acho um absurdo. Os donos é que tinham de estar presos, não os diretores. Os diretores apenas cumprem ordem, fazem ali o papel deles. ISTOÉ – Na sua época havia pagamento de propina na Petrobras? João Paulo – Nunca soube de nenhum contrato com a Petrobras naquela época. Fiquei até surpreso quando começaram a surgir essas denúncias todas. Mas começou a partir de 2000 e pouco para cá. Se existia, era coisa pequena e não passou por mim. ISTOÉ – Dos que estão presos, quem o senhor conhece? João Paulo – O João Auler é do meu tempo. Mas ele é empregado. Na minha época, trabalhava em Guarulhos. Ele é funcionário de carreira. Mas não sei de envolvimento dele. ISTOÉ – Como era a relação da Camargo com as outras empreiteiras? Havia cartel? João Paulo – É uma boa pergunta. Teve uma reunião do conselho, acho que em 1991 ou 1992. Um diretor, ligado a um dos genros, pediu para colocar na pauta uma discussão sobre formação de cartel. Eu reagi, falei para tirar aquilo. “O Sebastião não vai gostar”, disse. Eu sabia o que ele pensava. Mas insistiram. No meio da reunião, explicaram tudo e o Sebastião declarou: “A Camargo Corrêa não precisa fazer cartel com ninguém. Ela é independente”. Ele sempre foi contra cartel. A Camargo também não pagava para os políticos para ganhar obra. Era apenas praxe para ter facilidade. Para evitar que criassem dificuldade. 4#3 LISTA APROFUNDA A CRISE Relação encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF atinge a gestão de Dilma, amplia a divisão na base governista e leva os presidentes da Câmara e do Senado a partir para o confronto aberto contra o governo Sérgio Pardellas (sergiopardellas@istoe.com.br) "A tarefa de governar faz-se, a cada dia, mais complexa e difícil”. As palavras são de Getúlio Vargas, no célebre discurso do dia 7 de setembro de 1938, durante o Estado Novo, mas poderiam muito bem ter sido proferidas por Dilma Rousseff. A presidente da República inicia a semana mergulhada numa crise política e institucional sem precedentes na era petista no poder. Nem no ápice do escândalo do mensalão o governo esteve tão isolado. Um distanciamento para o qual ele mesmo contribuiu, através de manobras políticas atabalhoadas e de sérios equívocos administrativos cometidos pela presidente e seus auxiliares desde o início do segundo mandato. Nos últimos dias, a crise agravou-se em decorrência de uma aposta de elevadíssimo risco feita pelo Palácio do Planalto. Num esforço para conseguir escapar da agenda negativa, o governo jogou todas as suas fichas na divulgação da aguardada lista entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro do STF, Teori Zavascki. Apostava nos bastidores que, ao trazer integrantes da oposição e aliados que lhe causavam embaraços no Congresso, a relação dos 54 nomes – entre os quais 45 parlamentares, sendo 28 com pedidos de abertura de inquérito – implicados no escândalo do Petrolão tiraria Dilma das cordas e equilibraria o jogo político. A estratégia revelou-se um tiro no pé. A RELAÇÃO QUE IMPÔS MEDO - Às 20h11 da terça-feira 3, o ministro do STF Teori Zavascki recebeu do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a lista com 28 pedidos de abertura de inquérito contra 54 pessoas envolvidas no Petrolão A divulgação da lista de Janot, ao contrário do que acalentava Dilma e assessores, teve efeito explosivo no Planalto. Os vazamentos iniciais, que envolveram os nomes dos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), instigaram ainda mais a ira dos já descontentes peemedebistas. Ao saber da inclusão de seus nomes, Renan e Cunha resolveram declarar guerra ao Planalto. A situação se deteriorou ao se conhecer o inteiro teor do documento enviado por Janot ao STF. Motivo: a relação empurrou cabeças coroadas da gestão Dilma para o epicentro do Petrolão. Figuram na lista, extraída a partir da delação de integrantes confessos do esquema de desvios bilionários de recursos da Petrobras, cinco ex-ministros do governo – Antônio Palocci e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Edison Lobão (Minas e Energia), Mário Negromonte e Aguinaldo Ribeiro (Cidades). E mais. Nas delações, a própria presidente Dilma foi mencionada. No entanto, a citação à presidente da República não foi considerada suficiente por Janot para ensejar um pedido de abertura de inquérito contra ela no STF. O procurador disse que a Constituição não permite que Dilma seja investigada por qualquer ato sem relação com o exercício do cargo de presidente, durante a vigência do mandato. Segundo Janot, as referências à presidente na Lava Jato são alusivas a fatos ocorridos antes de ela assumir o Planalto, em 2011, como a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, quando Dilma era ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras. A decisão, no entanto, está envolta em polêmica. “A exclusão do nome da presidente Dilma Rousseff da lista da Lava Jato não significa inocência”, reconhece Ophir Cavalcanti, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Se quisesse, Janot poderia ter pedido licença ao Congresso para investigar a presidente. Optou, porém, pela decisão mais conservadora”, afirmou um ex-procurador da República ouvido por ISTOÉ. Outros sete políticos citados pelos delatores foram excluídos da investigação por recomendação de Janot, entre eles o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB). No caso de Aécio, principal líder da oposição, a citação feita pelo doleiro Alberto Youssef era indireta. Ele disse que teria ouvido alguém dizer que havia envolvimento do senador mineiro. Há, ainda, um agravante. Segundo o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, os procuradores insistiram em perguntas sobre o senador tucano induzindo-os a mencioná-lo. “Ouvir dizer não é nada. E essa postura adotada é ilegal. Delação tem que ser voluntária. Não pode ser dirigida contra”, afirmou Kakay. Contra Dilma a suspeita é outra. Segundo relato obtido pela Operação Lava Jato, a atual presidente teria conhecimento do que se passava na Petrobras. A investigação poderia, em tese, concluir pela prática de crime por omissão. A maneira atrapalhada com que o governo – tendo Dilma, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça) à frente – conduziu as articulações no sentido de tirar proveito da divulgação da lista pesou decisivamente para a deflagração da crise institucional. Na semana anterior ao encaminhamento da relação ao STF, o Planalto demonstrou incontida satisfação ao tomar conhecimento da inclusão na lista de integrantes do PSDB e de políticos considerados aliados, mas que nos últimos tempos estavam endurecendo o jogo com Dilma, casos de Renan e Eduardo Cunha. “Com a lista, a correlação de forças vai mudar”, fizeram questão de espalhar ministros do governo. A reação dos aliados mencionados foi imediata e contundente. O presidente do Senado contra-atacou à notícia do seu envolvimento no Petrolão disparando contra o governo. A primeira retaliação ocorreu na terça-feira 3, quando Renan anunciou a devolução da Medida Provisória 669/2015, que reduz a desoneração da folha de pagamentos das empresas, adotada em 2011 pelo governo para aliviar os gastos com mão-de-obra e estimular a economia. A medida era considerada essencial para os planos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de aumentar as receitas do governo. Em seguida, Renan adiou a sessão em que deputados e senadores poderiam analisar vetos da presidente Dilma e o Orçamento de 2015, impondo mais uma derrota ao Planalto. Eduardo Cunha também mostrou as armas. Na quarta-feira 4, aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia de 70 para 75 anos a idade para a aposentadoria compulsória de magistrados de tribunais superiores, a chamada “PEC da Bengala”. Foram 318 votos a favor da proposta. Um massacre na votação que incomoda o governo e deve tirar de Dilma o poder de indicar cinco ministros do STF até 2018. Mas foi na CPI da Petrobrás que Cunha produziu o maior estrago para o Planalto. Articulou com o presidente da Comissão e seu aliado Hugo Motta (PB) a contratação de uma empresa estrangeira para investigar movimentações financeiras no exterior de integrantes do governo envolvidos no Petrolão e anunciou a criação de quatro sub-relatorias – enfraquecendo o trabalho do relator, Luiz Sérgio (PT-RJ). No mesmo dia, a CPI convocou para depor os ex-presidentes da Petrobras Graça Foster e Sérgio Gabrielli, além do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, do ex-diretor de Serviços Renato Duque e dos ex-diretores da área Internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada. Diferentemente dos convites, as convocações tornam a ida à Câmara obrigatória. Os depoimentos podem ter efeito devastador para o governo. Para piorar o ambiente, o ministro da Educação, Cid Gomes, declarou que o Congresso abrigava 400 achacadores. A afirmação levou Cunha a convocá-lo para prestar explicações na Câmara. Ato contínuo à resposta ao governo, a dupla Cunha e Renan se voltou contra o procurador-geral, Rodrigo Janot. Além de pedir acesso à documentação, Renan criticou procedimentos do MPF no caso da Lava Jato e defendeu novas regras para a recondução ao cargo de procurador-geral da República, como a desincompatibilização do posto antes do período eleitoral. “Nós estamos agora com o procurador em processo de reeleição. Quem sabe se, mais adiante,não vamos ter também que regrar esse sistema que o MP tornou eletivo”, disse numa clara referência a Janot, que encerra seu mandato no cargo em setembro, mas pode ser reconduzido ao posto caso a presidente Dilma decida e o Senado aprove. Eduardo Cunha fez acusações mais sérias. Disseminou entre pessoas próximas que a informação sobre a inclusão do seu nome na lista do Petrolão chegou em primeira mão ao Palácio do Planalto. E foi efusivamente comemorada antes de ser vazada à imprensa. Teria inspirado até um brinde de champanhe entre importantes ministros de Dilma. Ainda na versão difundida por Cunha, seu nome foi estrategicamente incluído da lista pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que teria trabalhado em parceria com o procurador-geral. Aécio foi numa toada semelhante. “Foram infrutíferas as tentativas do governo de envolver a oposição na investigação”, afirmou. A desorientada articulação política do governo deu margem para as acusações. Antes de concluir a lista final de investigados com foro privilegiado, a rotina do procurador-geral, Rodrigo Janot, foi consumida por reuniões com autoridades do governo. Em fevereiro deste ano, pelo menos três encontros de Janot se tornaram públicos. O primeiro deles ocorreu no início da noite do dia 25 de fevereiro. Em seu gabinete, o procurador-geral recebeu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O prédio da PGR fica em uma área afastada da Esplanada e o acesso à ala que abriga o gabinete de Janot é feito por vagas exclusivas de garagem, com filtro de entrada e saída. Desde janeiro, as autoridades teriam se falado pessoalmente em pelo menos outras três agendas não divulgadas pela PGR ou pelo Ministério da Justiça. Ambos negaram que a lista de políticos envolvidos na Operação Lava Jato tenha pautado os encontros. Alegaram, num primeiro momento, ter discutido um projeto legislativo que envolvia competências do Ministério Público Federal e da Justiça. Duas horas depois, as assessorias das duas autoridades alteraram a versão. Dessa vez, disseram que os encontros destinaram-se a discutir a ampliação da segurança de Janot, que teve sua casa arrombada no fim de janeiro. Os ladrões teriam levado apenas o controle remoto da garagem. Após o episódio, a segurança do procurador-geral foi reforçada. Na manhã do dia 26 de fevereiro, Janot esteve no Palácio do Jaburu para uma reunião com o vice-presidente da República, Michel Temer. De acordo com parlamentares do PMDB, teria sido nesta reunião que o procurador-geral confirmou a Temer que Eduardo Cunha e Renan compunham a lista de investigados entregue ao STF. A versão de Janot sobre o encontro, porém, não menciona a Lava Jato. O procurador-geral disse que visitou o vice-presidente no Jaburu para pedir recursos orçamentários para recompor a folha salarial do Ministério Público da União. Ainda na noite do dia 26 de fevereiro, Janot foi visto deixando o Palácio da Alvorada após as 21h. A assessoria do procurador, porém, desmente qualquer encontro com a presidente Dilma Rousseff. A deterioração do cenário político consome as preocupações no Planalto. Dilma nunca esteve tão irascível, segundo relatos de auxiliares. Teme-se no PT que a crescente insatisfação da população, em razão de medidas impopulares anunciadas pelo governo nos dois primeiros meses do segundo mandato, somada ao estremecimento na relação com o Congresso crie um ambiente mais receptivo a um eventual pedido de impedimento da presidente. No fim da semana passada, ministros começaram a considerar a possibilidade de promover uma espécie de pacto nacional que inclua o PSDB, principal partido de oposição ao petismo. Com medo da recessão, setores empresariais e financeiros serviriam de ponte para a negociação. 4#4 LEVY SOB FOGO CRUZADO Nomeado com a missão de recolocar a economia nos trilhos, o ministro da Fazenda é criticado por empresários, trabalhadores e pelo próprio PT Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) Em pouco mais de dois meses no cargo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já enfrentou tormentas mais agudas do que seu antecessor, Guido Mantega, titular da pasta por quase nove anos nos governos Lula e Dilma. Nomeado com a missão de recolocar a economia do País nos trilhos, Levy conseguiu desagradar a pessoas e setores de polos extremos da sociedade. Por tomar medidas necessárias para deixar as contas em dia, ele passou a ser visto como um vilão pelas centrais sindicais. Também é criticado por representantes de grandes empresas, insatisfeitos com o ajuste fiscal que aumenta a carga tributária. Para completar o cenário negativo, o trabalho do ministro sofre rejeições de parlamentares do próprio PT. Em meio ao fogo amigo, militantes do partido chegaram ao ponto de pedir sua saída, como se o ministro fosse um quadro da oposição. O sucesso de Levy depende, claro, da aprovação de seu plano. Mas, além da indisposição do presidente do Senado, Renan Calheiros, a própria base aliada – principalmente os petistas – demonstra que não se sacrificará para salvar o pacote de Levy. Na quinta-feira 5, o ministro disse que a rapidez do Congresso na aprovação das medidas econômicas é fundamental para o País voltar a crescer. LAMÚRIAS - O ministro Joaquim Levy: as centrais sindicais condenam os cortes dos direitos trabalhistas e os empresários reclamam do aumento da carga tributária Assim que chegaram ao Congresso, as MPs 664 e 665 – que modificam as regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários – enfrentaram a rejeição de quatro senadores e nove deputados do PT. No Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), Paulo Paim (PT-RS), Marta Suplicy (PT-SP) e Ângela Portela (PT-RR) formaram a bancada de críticos. “Essa estratégia de retomada do crescimento tem que ser da presidenta Dilma”, afirma Lindbergh. “Não vamos admitir que cortem investimentos.” Na Câmara, o mal-estar com as políticas que tiram direitos dos trabalhadores é ainda maior. Até agora, os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercandante, das Relações Institucionais, Pepe Vargas, e da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rosseto, não conseguiram quebrar o gelo entre a bancada do PT e o ministro da Fazenda. “O governo terá que dinamizar a política de emprego para se submeter os trabalhadores às regras novas”, diz a deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Patrocinador das medidas impopulares, Levy ficou sozinho na defesa de seu pacote. Por duas vezes, foi escalado para uma atividade que lhe é estranha: reunir parlamentares para explicar pessoalmente a necessidade das mudanças. Os encontros marcados para segunda-feira 2 e quarta-feira 4 foram cancelados. Os deputados alegaram falta de tempo. Já os líderes do partido no Senado, Humberto Costa (PE), e na Câmara, Sibá Machado (AC), usam o impreciso gerúndio “estamos negociando” para fugir do tema. Nas reuniões com o governo, porém, eles argumentam que as novas regras trarão impacto político devastador, com risco de afetar a votação dos correligionários nas eleições municipais de 2016. Menos refratários do que os petistas, os caciques do PMDB receberam Levy, há duas semanas, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer. Diante da hospitalidade dos peemedebistas, o ministro saiu confiante do encontro. O otimismo o estimulou a soltar a língua contra a desoneração da folha de pagamento promovida por Dilma em seu primeiro mandato. “Essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano, e estudos mostram que não tem criado nem protegido empregos”, afirmou. A ousadia verbal de Levy foi repreendida pela presidente, que, em defesa de seu passado, praticamente deu caráter transitório ao pacote de Levy. “A desoneração foi importantíssima e continua sendo. Se ela não fosse importante, tínhamos eliminado e simplesmente abandonado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo”, afirmou Dilma. Levy mandou assessores dizer que se desculpava e reconheceu que errou na forma, “coloquial demais”, mas não retocou o conteúdo da crítica. O maior golpe contra o ministro da Fazenda foi dado na terça-feira 3, quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), um dos presentes na reunião do Jaburu, devolveu ao governo a medida provisória que alterava a política de desoneração da folha de pagamento. Representantes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que já haviam divulgado notas reclamando dos rumos da política econômica do governo, aplaudiram a rebeldia de Renan. O Planalto se apressou em enviar um projeto de lei com o mesmo conteúdo da MP, para desespero do empresariado. Mesmo em outro formato, a proposta depende da aprovação da Câmara e do Senado. Pelas dificuldades encontradas até agora – dentro e fora do governo, na oposição e na base aliada – Levy ainda terá muitas decepções pela frente. 4#5 DELAÇÃO DE GIGANTE Acordo de procuradores da Lava Jato com executivos da Camargo Corrêa envolve contratos com o setor elétrico e pode complicar a situação do ex-ministro José Dirceu Dalton Avancini e Eduardo Leite, presidente e vice-presidente da Camargo Corrêa, foram os primeiros executivos de uma das grandes empreiteiras do País a fazer acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato. Presos desde 14 de novembro, eles poderão deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR) nas próximas semanas, logo que o acordo seja homologado pelo juiz Sérgio Moro. E a expectativa entre os responsáveis pelas investigações é a de que a partir da liberdade deles outros diretores de grandes construtoras resolvam colaborar. Diferente do que ocorreu nas delações feitas anteriormente (leia quadro nessa página), os procuradores e delegados da Lava-Jato que formularam o acordo com os diretores da Camargo Corrêa não privilegiaram a busca de informações que levem aos nomes de políticos e agentes públicos envolvidos no esquema do Petrolão. O objetivo principal dos procuradores, agora, é reforçar as provas sobre um provável cartel formado pelas empreiteiras para fraudar licitações e superfaturar contratos. Nesse sentido, mais do que envolver novos personagens no propinoduto instalado na Petrobras, os procuradores têm especial interesse em conhecer os detalhes sobre os principais contratos da empresa com o poder público, independentemente de estarem ou não relacionados à estatal do petróleo. EM BUSCA DA LIBERDADE - Depois do acordo, Avacini (acima) e Leite podem deixar a prisão ainda nas próximas semanas Antes mesmos dos primeiros depoimentos oficiais, ainda na semana passada, Avancini e Leite fizeram chegar aos procuradores que estão dispostos a revelar a existência de conluio entre as maiores construtoras do Brasil nas obras de Belo Monte e Jirau. Sobre elas, os executivos deverão contar detalhes de reuniões que antecederam a concorrência pública e revelar como foi feito o acerto do preço a ser cobrado do governo. O que mais surpreendeu os procuradores, no entanto, foi a possibilidade de os executivos da Camargo Corrêa esmiuçarem os bastidores das licitações e contratos feitos para a construção da usina de Angra 3. Um dos procuradores ouvidos por ISTOÉ na última semana disse acreditar ser essa a porta de entrada para um dos setores onde os contratos são tratados com maior sigilo e, portanto, mais suscetíveis a acertos que possam prejudicar os cofres públicos. Embora não esteja entre as premissas informalmente pré-estabelecidas para que o acordo venha a ser acatado pelo juiz Sérgio Moro, os procuradores da Lava-Jato também deverão ouvir dos executivos da Camargo Corrêa detalhes sobre a transferência de recursos superfaturados de obras públicas para empresas indicadas pelo ex-ministro José Dirceu. O ex-ministro já admitiu ter recebido dinheiro da Camargo Corrêa e de outras construtoras, mas explicou que se tratavam do pagamento a serviços de consultoria prestados por sua empresa às empreiteiras que buscavam mercados no Exterior. Na quarta-feira 4, um dos procuradores da Lava Jato soube que nos depoimentos que farão, Avancini e Leite contarão uma nova versão para explicar a remessas feitas a Zé Dirceu. 4#6 AÇÃO ENTRE AMIGOS O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, contrata sem licitação entidades ligadas a aliados políticos para organização de eventos esportivos Para organizar eventos esportivos, a prefeitura de São Paulo tem contratado entidades de fachada, suspeitas de irregularidades e ligadas a aliados do prefeito Fernando Haddad (PT) sem licitação. Uma das beneficiárias é a Federação Paulista de Lutas e Artes Marciais (Feplam). Recebeu R$ 1,6 milhão em convênios firmados em 2014. A Feplam é presidida por Fernando Couto, principal cabo eleitoral do vereador Aurélio Miguel (PR), aliado de primeira hora de Haddad. Couto também preside o Instituto Mais Esporte, que recebeu R$ 600 mil para realização de eventos esportivos no ano passado. O programa “Juventude contra o crack”, uma das bandeiras do vereador e atual secretário estadual de Esportes, Jean Madeira (PRB), também aliado de Haddad, foi beneficiado com convênios que totalizaram R$ 381 mil em 2014. O programa foi implementado pelo instituto Esporte e Vida. CONVÊNIO ALIADO - Haddad beneficiou associação ligada ao vereador Aurélio Miguel, do PR, ao fechar convênio de R$ 1,6 milhão Além de contratar entidades ligadas a políticos próximos de Haddad, a prefeitura também firmou convênios com associações suspeitas de irregularidades. Entre elas, o Instituto de Desenvolvimento Cultural, Esportivo e Social do Estado de São Paulo (Idecesp). O Instituto foi pego na “malha fina” da prefeitura e obrigado a devolver R$ 233 mil do R$ 1,1 milhão que recebeu em 2013, depois que a Controladoria Geral do Município (CGM) descobriu que parentes do presidente da entidade realizavam atividades financiadas com dinheiro público. Outra entidade beneficiada pela prefeitura de São Paulo, apesar das suspeitas de irregularidades, foi o Projeto Mefibosete. No mesmo ano de sua criação, fechou contratos de R$ 450 mil para torneios de tênis e handebol. No endereço registrado do Projeto Mefibosete funciona uma igreja evangélica. A Secretaria Municipal de Esportes tem autonomia para firmar convênios desde 2007. Para o vereador Andrea Matarazzo (PSDB), da bancada oposicionista, falta estrutura e critério à secretaria na hora de fechar contratos. “É fundamental que se tenha uma estrutura na secretaria para que se faça uma boa análise das entidades e dos programas. Dessa forma, não ocorrerão problemas como esses”, disse. __________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 11.3.15 5#1 SEM VAGA PARA OS CUBANOS 5#2 A CASA ONDE JESUS PASSOU A INFÂNCIA 5#3 UMA FAMÍLIA DO BARULHO 5#4 BARBÁRIE SEM FIM 5#1 SEM VAGA PARA OS CUBANOS Brasileiros ocupam mais de 90% das inscrições na segunda fase do Mais Médicos e devem deixar pouco espaço para os colegas estrangeiros. O que mudou para atrair os profissionais do País para o programa? Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) A médica Camila Freire da Silva, 26 anos, caminha com desenvoltura e tranquilidade pela favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo na terça-feira 3. Mas ainda se lembra do choque que viveu há um ano e seis meses, quando saiu de Porto Velho, em Rondônia, para atuar na Unidade Básica de Saúde da localidade paulistana. Camila deixou a cidade-natal para se dedicar à saúde básica pelo programa do governo federal Mais Médicos. Desde então, uma vez por semana, ela visita pacientes que não podem se locomover e os atende em suas casas, acompanhada de uma agente de saúde. A jovem foi selecionada quando a iniciativa sofria grande rejeição na comunidade médica brasileira. “No começo, senti um pouco de preconceito por parte dos colegas, mas as pessoas daqui me aceitaram muito bem”, diz. VISITA - Camila Freire da Silva, de Rondônia, em atendimento domiciliar na favela de Paraisópolis, São Paulo ESCOLHA - Com duas residências no currículo, Kátia Marquinis deixou a rede privada para atender pacientes pelo programa Diferentemente da primeira fase, em 2013, que reuniu pouco mais de mil médicos brasileiros, o segundo edital, lançado em janeiro, possui 92% das vagas preenchidas por profissionais formados no País. “O Mais Médicos está mudando seu perfil e se transformando em um programa de contratação de brasileiros”, diz Mário Scheffer, coordenador do estudo Demografia Médica no Brasil e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Segundo o Ministério da Saúde, das 4.146 vagas abertas este ano, 3.823 já foram preenchidas. “É muito provável que a participação dos médicos estrangeiros diminua e eles passem a atuar apenas nos rincões e aldeias indígenas”, afirmou à ISTOÉ o ministro da Saúde, Arthur Chioro. Os cubanos só podem se inscrever numa terceira etapa, após os demais. Em contrapartida, auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que 49% das primeiras cidades que receberam a iniciativa dispensaram seus médicos quando os bolsistas chegaram. Um dos fatores que contribuiu para despertar o interesse dos médicos brasileiros nesta nova fase foi a integração com o Programa de Valorização da Atenção Básica (Provab), iniciativa federal que já busca levar profissionais para regiões carentes e concede aos participantes o benefício de 10% de pontuação em provas de residência. “Os municípios não terão de aderir a dois programas diferentes e contarão com uma maior quantidade de médicos atuando nos territórios”, afirma Heider Pinto, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde. Antes da unificação, os médicos inscritos no Provab atuavam na região escolhida por apenas um ano – hoje os profissionais podem permanecer por mais três. Para Scheffer, o bônus para a residência incentivou a adesão de profissionais brasileiros. “No início, o Provab enfrentou dificuldade de implantação nas universidades, mas hoje vem se mostrando uma política acertada”, diz. Por outro lado, o especialista afirma que a falta de interesse dos médicos em permanecer nas regiões inóspitas ainda é um problema a ser solucionado. “A maioria ficará por conta do benefício, com isso poderá haver uma alta rotatividade”, afirma. O médico Danilo Lobo Ramos, 30 anos, acabou se mudar para a cidade de Livramento de Nossa Senhora, com 48 mil habitantes, na Chapada Diamantina, a 600 quilômetros de Salvador (BA). Formado pela Universidade Federal da Bahia, ele se inscreveu na segunda fase do Mais Médicos motivado pela bolsa e a oportunidade de especialização. A nova rotina inclui viver em uma região sem sinal de celular, sem internet e percorrer 48 quilômetros de estrada de terra diariamente até o posto de saúde em que trabalha. “Meu primeiro dia de trabalho foi muito difícil, a população é muito pobre, atendi muitas crianças desnutridas, vou ter um grande desafio pela frente”, diz. O médico conta que decidiu abrir mão da residência para se dedicar à medicina da família. “Atendemos cerca de 80% dos problemas da população e criamos um vínculo com os pacientes, muito diferente das outras especialidades”, afirma. A meta do governo é que o Brasil chegue a 2,7 médicos por mil habitantes até 2026. Atraída pelos desafios da saúde comunitária, a médica Kátia Regina Marquinis, 40 anos, atua há um ano e seis meses na Unidade Básica da Saúde Batistini, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Com uma experiência de 10 anos, residência em cardiologia e oftalmologia no currículo, ela deixou a iniciativa privada para trabalhar no Mais Médicos. Kátia atende uma média de 30 pacientes por dia, principalmente casos de doenças crônicas, diabetes, hipertensão e transtornos mentais. “Comecei a pensar que médicos não têm contato com as pessoas, não as chamam pelo nome”, diz. “E às vezes, a conversa com o paciente é o melhor diagnóstico.” 5#2 A CASA ONDE JESUS PASSOU A INFÂNCIA Arqueólogos descobrem sob as ruínas de um convento em Nazaré o local onde Cristo teria vivido seus primeiros anos e concluem, pela estrutura do imóvel e os objetos encontrados, que a sagrada família seria de classe média Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Uma casa com pórticos arqueados e feitos de calcário, material considerado puro pelos judeus do século primeiro. Nem suntuosa, nem muito pobre. Este pode ter sido o lar de Jesus Cristo durante sua infância em Nazaré, segundo pesquisa realizada por um time de arqueólogos da Universidade de Reading, no Reino Unido. A equipe descobriu que, cerca de 600 anos após a crucificação, os bizantinos acreditavam que o menino Jesus havia vivido seus primeiros anos no local. Por isso, ao redor da construção, ergueram uma igreja que se tornou um importante centro de peregrinação para cristãos do período. HISTÓRIA - Ruínas da residência do século primeiro que teria sido a morada de Cristo (acima) e convento das Irmãs de Nazaré, onde o tesouro arqueológico foi descoberto pelos pesquisadores (abaixo) Hoje, no mesmo lugar está o convento das Irmãs de Nazaré, que foi crucial para a identificação. A principal evidência de que os cristãos daquele tempo acreditavam ser aquela a moradia do pequeno Cristo está num documento chamado “De Locis Sanctis” (Os Locais Sagrados), escrito em 670 d.C. pelo abade irlandês Adomnàn de Iona. No texto, o monge conta a história da suposta peregrinação a Nazaré feita pelo bispo franco Arculf e explica que naquele tempo existiam duas grandes igrejas na cidade, a Basílica da Anunciação e um outro templo próximo, que contava com uma cripta com duas tumbas e um poço em seu interior. Entre as sepulturas, estava uma casa que os bizantinos acreditavam ter pertencido à Sagrada Família. De acordo com os pesquisadores, a descrição da segunda igreja se encaixa perfeitamente com as ruínas sob o convento – que, além disso, está a poucos metros da Basílica da Anunciação, conforme descrito no “De Locis Sanctis”. Se esta realmente foi a casa de Jesus, seus padrões de vida estavam acima da alardeada origem humilde. Chefe da equipe acadêmica da Universidade de Reading, o arqueólogo Ken Dark explica que os moradores do local não eram nem muito pobres, nem muito ricos, a julgar pela estrutura do imóvel e pelos objetos encontrados. Ele também considera que os que lá viveram provavelmente eram judeus, já que a construção foi feita em calcário, um material que respeitava as regras de pureza daquele povo. A datação foi feita através do estilo arquitetônico e dos modelos cerâmicos encontrados. O especialista acredita que este pode ser realmente o antigo lar do menino Jesus, mas diz que as evidências científicas só permitem afirmar com certeza que os bizantinos acreditavam nessa possibilidade. “Por se tratar de uma residência do século primeiro, talvez eles estivessem corretos na identificação de onde Cristo foi criado, mas é muito difícil ligar evidências arqueológicas a pessoas específicas”, disse à ISTOÉ. A descoberta foi publicada no periódico Biblical Archaeological Review, reunindo material de dois estudos anteriores do próprio Dark. No artigo, ele revela que na escavação foram achados potes de cozinha, um fuso de tear e uma decoração de mosaicos bizantinos feita séculos depois da crucificação. “Os adornos sugerem que o local era de importância especial e possivelmente venerado”, escreveu ele. Os escombros foram descobertos por acaso no século 19 pelas freiras que moravam no convento. Em 2006, a equipe de Dark fez a datação das ruínas da residência e do antigo templo erguido em volta dela, chamado de Igreja da Nutrição (uma referência onde Maria amamentou Jesus). Depois dos bizantinos, o templo foi abandonado por um período e voltou à ativa durante as Cruzadas, antes de ser destruído pelo fogo no século 13. Mas a descoberta não é uma unanimidade entre a comunidade acadêmica. “A importância do achado está em iluminar o contexto histórico de Cristo, e não em confirmar sua presença física naquela residência”, afirma o arqueólogo Rodrigo Silva, professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo. Presidente da Associação Brasileira de Arqueologia do Mediterrâneo Oriental, Jorge Fabbro acha pouco provável que Cristo tenha passado a infância na casa. “A única evidência que os pesquisadores têm é uma tradição bizantina em relação àquele local. Essas tradições não têm valor histórico porque são muitas vezes exageradas. Do ponto de vista científico, a ligação com a figura de Jesus é precária”, afirma. Para Dark, no entanto, “as novas informações do projeto transformam o conhecimento arqueológico do período romano e da Nazaré bizantina.” Alheios às considerações acadêmicas, os cristãos do mundo todo devem adotar o local como uma importante ponto de peregrinação para alimentar a fé. 5#3 UMA FAMÍLIA DO BARULHO O clã Kardashian ultrapassa os limites da superexposição com novas polêmicas e estreia a décima temporada do reality show familiar explorando a mudança de sexo do patriarca campeão olímpico Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Um medalhista olímpico transgênero. Uma socialite que se tornou a celebridade mais copiada e seguida do mundo. Uma mãe supercontroladora que faz as vezes de empresária. Uma beldade de 19 anos apontada como uma das modelos mais talentosas e influentes da moda atual. Esses personagens por si só já dariam o que falar. Junte a eles outros membros do clã não menos polêmicos, fotos seminuas publicadas frequentemente nas redes sociais, brigas conjugais e familiares exibidas ao vivo e mais uma infinidade de polêmicas que parecem surgir na velocidade da luz: está pronta a receita de sucesso dos Kardashian. A família mais famosa da televisão chega à décima temporada de seu reality show, “Keeping Up With The Kardashians”, exibida no Brasil pelo canal E! a partir do dia 17 de março trazendo no cardápio personagens e tramas muitas vezes mais controversas do que as celebradas séries americanas. HOLOFOTE - Acima, Bruce Jenner em dois momentos: medalha de ouro na Olimpíada de Montreal e com aparência mais feminina. Abaixo, Kim Kardashian em foto seminua para comemorar os 27 milhões de seguidores no Instragram e na versão platinada A próxima e mais aguardada revelação dessa nova leva de episódios será protagonizada pelo patriarca Bruce Jenner, 65 anos, ouro no decathlon nas Olimpíadas de 1976 e ex-marido da matriarca Kris Jenner. Ele revelará às filhas e enteadas que sempre se reconheceu como mulher, segundo a imprensa americana. Irá, inclusive, pedir a elas que passem a chamá-lo por outro nome. Também é dada como certa a produção de um documentário em formato de série que mostrará todos os passos da transição de Bruce do gênero masculino para o feminino, com mudanças no visual que inclusive já são notadas, como cabelos compridos, operação para amenizar o pomo-de-adão e esmalte nas unhas. A psicanalista Letícia Lanz, especialista em estudos de gênero e de sexualidade, critica a espetacularização do processo. “É transformar a mudança de gênero em situação anormal”, diz. “Mas dependerá muito de como ele vai agir e se expor diante do público.” ÁLBUM - Bruce, Kris, filhos e enteados, quando nem imaginavam que um programa de televisão iria torná-los a família mais famosa do mundo Bruce, um dos membros mais discretos do clã, vai agora seguir a receita de exposição de outros familiares, principalmente Kim, a mais famosa. Além das infindáveis mudanças de visual, como o look platinado que mostrou na quinta-feira 5, em Paris, evitando o tédio em torno de sua persona midiática, ela expõe seu corpo para os seguidores e não tem vergonha de ser a mulher-objeto que é. A última façanha foi uma foto de lingerie no Instagram para comemorar os 27 milhões de seguidores é a conta pessoal com maior número de fãs, só perdendo para o próprio Instagram. Kendall Jenner, filha de Bruce e Kris, novo rosto da marca Estée Lauder e uma das modelos mais festejadas da atualidade, sua irmã Kylie e sua meia irmã Khloe Kardashian também figuram na lista das dez contas mais populares no mundo. PROFISSIONAL - A modelo Kendall Jenner: uma das tops mais requisitadas da atualidade Apesar de retratarem um cotidiano de luxo e riqueza tipicamente americanos, os Kardashian têm um público fiel no Brasil. Para Malena Segura Contrera, do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Semiótica da Cultura e da Midia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o sucesso do clã por aqui se deve a nossa fixação com a cultura americana e a avidez pelo consumo. “Copiamos modelos americanos e o que eles exportam é exatamente o que essa família significa: merchandising”, diz. Se depender de Bruce, Kim e o resto da trupe, os holofotes farão parte de suas vidas por um longo tempo. 5#4 BARBÁRIE SEM FIM Governo da Índia proíbe a exibição de documentário sobre estupro coletivo que chocou o mundo e reabre debate sobre escalada da violência contra a mulher Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, um caso que chocou o mundo há dois anos voltou a ser motivo de debate internacional. Na terça-feira, 3, um tribunal de Nova Déli, na Índia, emitiu uma ordem proibindo a exibição do documentário “India’s Daughter” (“Filha da Índia”) nas redes de televisão do país. O filme, previsto para ser exibido em diversos países no domingo 8, conta a história da estudante de medicina Jyoti Singh Pandey, que morreu aos 23 anos após ser vítima de um estupro coletivo em um ônibus na capital indiana, em dezembro de 2012. A brutalidade do ataque à jovem gerou uma onda de protestos por dezenas de países, e especialmente na Índia, forçando o governo a endurecer as penas por crimes sexuais. A decisão de proibir a exibição do filme, no entanto, demonstra o quanto a questão de igualdade de gêneros ainda precisa ser discutida naquele país que, apesar de ser uma das maiores democracias e economias do mundo, sustenta a hedionda marca de uma mulher estuprada a cada vinte minutos, segundo estatísticas oficiais. COMOÇÃO - O crime hediondo gerou protestos na Índia e ao redor do mundo A justificativa da corte de Nova Déli para proibir o documentário, dirigido pela britânica Leslee Udwin e exibido originalmente na rede BBC, foi o fato de ele conter declarações que podem “criar tensões e problemas de ordem pública”. Uma dessas declarações é a de Mukesh Singh, motorista do ônibus onde a universitária foi violentada e um dos cinco condenados à morte pelo ataque – o sexto homem que estuprou Jyoti era menor de idade, e por isso, não será executado. No filme, Singh chega ao absurdo de dizer que “quando está sendo estuprada, a mulher não deve lutar, deve apenas ficar em silêncio e permitir o estupro”. O ministro para Assuntos Parlamentares, Venkaiah Nahdu, considerou a produção uma “conspiração internacional para difamar a Índia”, e disse querer banir o documentário também em outros países. Na quinta-feira, 5, no entanto, “India’s Daughter” foi publicado no YouTube. TESTEMUNHO - A diretora Leslee Udwin, que entrevistou um dos condenados pelo estupro da universitária indiana _____________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 11.3.15 6#1 UMA CIRURGIA CONTRA O TOC 6#2 A RESPOSTA NA PELE 6#1 UMA CIRURGIA CONTRA O TOC Médicos brasileiros realizam procedimento cirúrgico para tratar casos graves de transtorno obsessivo compulsivo Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) Cerca de 4,6 milhões de brasileiros são portadores de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Caracterizada pela manifestação repetida de obsessões, compulsões ou de rituais, a enfermidade pode prejudicar intensamente a vida pessoal e profissional dos doentes. Há casos de pessoas que não conseguem cumprir seus compromissos nos horários, por exemplo, porque simplesmente repetem sem parar um ritual de lavagem das mãos. Em São Paulo, médicos do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração (Hcor), em parceria com o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, estão realizando um procedimento que pode servir como opção de tratamento para os casos mais graves. Trata-se de uma cirurgia realizada com um aparelho chamado Gamma Knife. O equipamento emite uma radiação precisa e reduz a atividade de um circuito de neurônios que, no caso da enfermidade, apresenta uma ação exacerbada. Ele faz a conexão entre o sistema límbico (associado à indução da repetição das atividades) e o córtex frontal basal (relacionado à lógica) – leia mais no quadro acima. Dois pacientes foram submetidos ao procedimento. O primeiro tinha como manifestação mais importante a repetição obsessiva de rituais de limpeza. Em um dos episódios mais graves, não foi a uma consulta marcada com um especialista americano, nos Estados Unidos, porque não chegou a tempo. Ainda no hotel onde estava hospedado, não conseguia interromper a repetição dos gestos. O outro paciente tem a compulsão de checar diversas vezes o que faz. Chegou a parar em uma avenida e voltar seu carro em marcha à ré para verificar o que determinava uma placa de trânsito. Queria ter certeza de que estava fazendo o que mandava a regra. “Eram pacientes totalmente dependentes da família, pois não conseguiam trabalhar, dirigir ou ter um convívio social”, explica a médica Alessandra Gorgulho, chefe clínico-científica do Hcor Neuro. PREJUÍZOS - Segundo a médica Alessandra, os pacientes não conseguiam trabalhar ou ter convívio social O procedimento durou cerca de uma hora e meia e foi feito sob anestesia local. Os pacientes tiveram alta no mesmo dia. Cálculos matemáticos precisos realizados pelo equipamento permitiram a emissão dos raios gama exatamente no local necessário. Espera-se que a radiação demore entre seis a dezoito meses para atingir seu efeito total. Neste período, os dois continuarão tomando ansiolíticos, os remédios indicados contra a doença. Só então será possível verificar se eles poderão parar de receber a medicação. A cirurgia já havia sido realizada no Brasil há alguns anos, em 18 pacientes, mas o aparelho não era tão moderno quanto o usado agora. Os estudos realizados à época também demonstraram que o método era eficaz, mas que precisaria ser aprimorado. Foi o que acabou sendo feito neste período, até a retomada de seu uso. No mundo, calcula-se que 150 pessoas tenham sido submetidas ao procedimento. No Hcor, o plano é expandir a disponibilidade do procedimento para cerca de vinte pessoas em até três anos. “Esperamos que eles atinjam uma qualidade de vida que os permita conviver em sociedade”, afirma Antonio de Salles, neurocirurgião chefe do Hcor Neuro e responsável pela aplicação da técnica. 6#2 A RESPOSTA NA PELE Cientistas criam teste para diagnosticar Alzheimer e Parkinson a partir da análise de células cutâneas Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Cada vez que um pesquisador encontra uma substância com potencial para melhorar o diagnóstico de doenças degenerativas do cérebro, como Alzheimer, Parkinson e vários tipos de demência, a ciência comemora. Desta vez, o achado foi feito por uma equipe da Universidade de San Luis Potosí, no México. Eles desenvolveram um exame de pele que revela a presença de duas proteínas – a tau e a alpha synuclein – em padrões diferenciados que estão cientificamente associados a uma dessas enfermidades. “O exame de pele que desenvolvemos poderá permitir aos médicos a identificação precoce desses males”, disse o médico Ildefonso Rodrigues-Levya, autor do estudo e médico do Hospital Central da Universidade de San Luis Potosí. Até o momento, o exame de pele que revela as duas proteínas foi aplicado em 65 voluntários. Doze deles eram pessoas saudáveis e outras 53 pessoas tinham diagnóstico de Parkinson, Alzheimer ou demência. O trabalho feito na universidade mexicana será apresentado em abril no Encontro Anual da Academia Americana de Neurologia, nos Estados Unidos. Ainda não existem exames para diagnosticar patologias degenerativas do cérebro com precisão ou em fase precoce. “Cerca de 80% a 85% dos casos de Alzheimer são identificados por exames clínicos e pelos relatos do paciente sobre sinais e sintomas associados à condição”, explica o neurologista Ivan Okamoto, coordenador do Núcleo de Excelência em Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Testes de imagem auxiliam na confirmação do diagnóstico. A chegada do exame em desenvolvimento pelos mexicanos ainda levará algum tempo pois o estudo está em fase inicial. _____________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 11.3.15 PARA PRESTAR CONTAS AO LEÃO Informações salvas na "nuvem" e pedido de CPF de dependente maior de 16 anos estão entre as novidades da Declaração do Imposto de Renda 2015 Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) A Receita Federal começou a receber na semana passada as primeiras declarações do Imposto de Renda 2015. Estima-se que 27,5 milhões de brasileiros prestarão contas ao governo, número um pouco superior aos 26,8 milhões de contribuintes que fizeram o mesmo em 2014. Desta vez, uma das novidades é a possibilidade de salvar as informações da declaração na “nuvem” (ambiente virtual onde dados podem ser armazenados) para depois acessá-las de qualquer dispositivo móvel. Outras mudanças exigem atenção redobrada. “Pela primeira vez, dependentes com 16 anos ou mais devem ter seu número do CPF informado na declaração”, diz Joaquim Adir, supervisor nacional do programa Imposto de Renda. Confira as alterações promovidas pela Receita e os cuidados que é preciso tomar para não cometer deslizes. AS PRINCIPAIS MUDANÇAS a- O contribuinte poderá iniciar o preenchimento da declaração em um dispositivo (computador, tablete ou smartphone) e continua-lo em outro sem ter de transferir o arquivo, já que as informações ficam salvas na “nuvem”. B- É possível receber alertas por SMS sobre o andamento da declaração (informações que faltam, por exemplo) C- Pessoas físicas com 16 anos ou mais registradas como dependentes devem obrigatoriamente se inscrever no Cadastro de Pessoa Física (CPF). D- Dá para fazer o preenchimento online da declaração no portal e-CAC – mas apenas quem possui certificado digital. AS DIFERENTES FORMAS DE FAZER A DECLARAÇÃO Computador – Por meio do Programa Gerador da Declaração IRPF 2015, cujo download pode ser feito no site da Receita Federal. Depois de preenche-la, é preciso fazer o download do Receitanet, programa que irá transmitir os dados ao Fisco. Online – Quem possui certificado digital pode acessar o documento pelo portal e-CAC. Essa modalidade, porém, tem limitações. Aqueles que tiveram rendimentos tributáveis recebido no exterior devem declarar pelo Programa Gerador. Tablet ou Smartphone – É possível fazer o download do aplicativo “IRPF” via App Store ou Google Play. QUEM DEVE DECLARAR 1- Pessoas físicas que receberam em 2014 rendimentos tributáveis cuja soma seja maior que R$26.816,55. 2- Contribuintes que receberam em 2014 rendimentos não-tributáveis, isentos ou com tributação exclusiva na fonte que somem mais de R$ 40 mil. 3- Indivíduos que obtiveram lucro na alienação de bens ou direitos sujeitos à incidência de imposto de renda. 4- Aqueles que realizaram operações em bolsa de valores. 5- Quem optou pela isenção do IR sobre o ganho de capital proveniente da venda de um imóvel residencial e cujo valor tenha sido aplicado, no prazo de 180 dias, na compra de imóveis residenciais localizados no País. 6- Pessoas que obtiveram com atividade rural em 2014 receita bruta maior que R$ 134.082,75 7- Contribuintes que pretendem compensar prejuízos com atividade rural ocorridos no ano-calendário 2014 ou em anos anteriores. 8- Cidadãos que possuíam em 31 de dezembro de 2014 propriedade ou posse de bens que valem mais que R$ 300 mil. 9- Pessoas que passaram a residir no Brasil e estavam nessa condição até o dia 31 de dezembro de 2014. INFORMAÇÕES ÚTEIS O prazo para entregar a declaração é até 30 de abril. A restituição vai de 15 de junho a 15 de dezembro. Quem entregar a declaração com antecedência deve receber a restituição mais cedo. Quem perder o prazo de entrega vai pagar multa de 1% ao mês sobre o valor do imposto devido. É recomendável checar com outra pessoa o correto preenchimento dos dados. Confira com cuidado se estão incluídos todos os seus rendimentos e se as despesas dedutíveis estão preenchidas corretamente. OS GASTOS QUE PODEM SER RESTITUÍDOS Seguro saúde e planos de assistência médica ou odontológica. Despesas médicas ou de hospitalização. Aparelhos ortopédicos destinados à correção de defeitos de coluna, membros ou articulações. Despesas escrituradas em Livro Caixa. Previdência Privada PGBL, cujo limite será de 12% do total dos rendimentos tributáveis no ano. Contribuições para a Previdência Social da União, dos Estados e dos Municípios. R$ 2.156,52 por dependente. Pensão alimentícia. Despesas com educação do contribuinte e de seus dependentes, com o limite de R$ 3.376,83. Valores pagos ao INSS referentes ao serviço de empregada doméstica com limite de R$ 1.152,88. FLAGRADOS PELO LEÃO 938 mil declarações caíram na malha fina em 2014. Confira os principais erros. 52% Omissão de rendimentos. 20% Despesas médicas inválidas. 10% Dados incorretos sobre pessoas físicas informados por pessoas jurídicas. 7% Erro de informação sobre dependente. 11% Outros motivos. ______________________________________ 8# MUNDO 11.3.15 UM CZAR E QUATRO CADÁVERES Mais um adversário do governo Putin é assassinado em circunstâncias nebulosas. Como das outras vezes, o mais provável é que o crime jamais seja esclarecido Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) No dia 10 de fevereiro, Boris Nemtsov, 55 anos, um dos mais ativos opositores do governo russo, deu a seguinte declaração a um site de notícias de seu país: “Tenho medo que Putin possa me matar.” Duas semanas depois, em 27 de fevereiro, Nemtsov caminhou pela última vez com a namorada na Praça Vermelha, um dos símbolos máximos do poder na Rússia. Às 23h30, em uma ponte sobre o rio Moscou e perto da Catedral de São Basílio, um homem surgiu atrás deles e disparou seis vezes. Quatro balas atingiram o líder oposicionista, que morreu na hora. A imagem do corpo de Nemtsov estendido a poucos metros do Kremlin era forte o suficiente para percorrer o mundo e suscitar uma série de perguntas. O presidente Vladimir Putin teria ligação com o crime? A escolha do lugar para a execução – na vizinhança da sede do governo – foi uma provocação? Quem faz oposição na Rússia está marcado para morrer? O primeiro questionamento se deve a acontecimentos do passado recente. Pelo menos outros três adversários do governo Putin morreram em circunstâncias nebulosas. Os casos jamais foram esclarecidos. CRIME - O corpo de Nemtsov diante da Catedral de São Basílio, um dos cartões-postais da Rússia: ele disse que temia ser assassinado Nemtsov era um tormento para Putin. Há dois anos, apresentou um relatório que acusava assessores e familiares do presidente de desvios de dinheiro. “Putin encarna o que há de pior na política”, disse. “Ele é um ser humano totalmente amoral. É mais perigoso do que os soviéticos jamais foram.” O próximo passo de Nemtsov seria revelar documentos que comprovam o apoio militar clandestino de Putin aos rebeldes separatistas na Ucrânia. Morreu antes disso. A jornalista Anna Politkovskaya também perdeu a vida às vésperas de apresentar um vasto material contra o chefe da Rússia. Ela já tinha escrito dois livros sobre os malfeitos de Putin e estava para lançar um terceiro até ser assassinada a tiros no prédio onde morava. Não deu tempo de apresentar suas novas armas contra o presidente. Horas depois do assassinato de Nemtsov, Putin declarou que cuidaria pessoalmente para que as investigações avançassem. “O homicídio não ficará impune”, disse. Tudo indica que se trata apenas do velho jogo de cena. Como nas outras vezes em que cadáveres apareceram, integrantes ou aliados do governo fizeram circular suposições diversas, mais confundindo do que explicando. O presidente da Tchetchênia, Ramzan Kadyrov, a quem Putin descreve como amigo, falou que a culpa é das “agências ocidentais de espionagem.” Um membro do segundo escalão do governo russo garantiu que extremistas islâmicos estão por trás do assassinato. Outro levantou a tese de crime passional, citando a “movimentada vida amorosa de Nemtsov.” Putin também lançou hipóteses, insinuando que a morte pode ser obra da oposição. “É surpreendente que porta-vozes da administração tenham rapidamente explicado que o assassinato de Nemtsov foi para desestabilizar o governo” disse à ISTOÉ Mark Harrison, pesquisador do Instituto Hoover. Ou seja, as investigações mal tinham começado e o chefe da nação já tinha um discurso pronto, uma resposta para dar. O mais provável é que o crime jamais seja esclarecido. SOB SUSPEITA - O presidente Putin prometeu rigor nas investigações, mas ninguém acredita que isso vai acontecer Reprimir vozes que se rebelam contra o governo se tornou corriqueiro na Rússia sob Putin, relembrando os velhos tempos do ditador Joseph Stálin. No dia do assassinato de Nemtsov, outro oponente do presidente, Alexei Navalny, blogueiro e líder do Partido Progressista, foi condenado a 15 dias de prisão por violar leis que proíbem manifestações. Não foi a única prisão por motivos fúteis, nem será a última. Putin vive seu momento mais delicado. A crise na Ucrânia e o desgaste nas relações com os Estados Unidos pioraram o quadro econômico, já debilitado principalmente pela queda do preço do petróleo. Projeções indicam que o PIB russo pode recuar até 3,5% em 2015, o que seria uma tragédia para a popularidade do presidente. Se a intenção foi calar a oposição, a morte de Nemtsov teve efeito contrário. Na semana passada, milhares de manifestantes foram às ruas protestar contra o governo e exigir empenho nas investigações. Putin terá dias difíceis pela frente. _________________________________________ 9# CULTURA 11.3.15 9#1 LIVROS - O DIA EM QUE TENTARAM MATAR TANCREDO 9#2 EM CARTAZ – MÚSICA - POESIA PINTADA E MUSICADA 9#3 EM CARTAZ – AGENDA - JERRY/LONGA/GIGANTE 9#4 EM CARTAZ – MUSICAL - O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE 9#5 EM CARTAZ – TEATRO - PERTO DO FIM 9#6 EM CARTAZ – CONCERTO - A HOMENAGEM DE PAULO SZOT AO RIO 9#7 EM CARTAZ – LIVROS - DUAS VEZES PHILIP ROTH 9#1 LIVROS - O DIA EM QUE TENTARAM MATAR TANCREDO Biografia recém-lançada joga luz sobre a trajetória política e pessoal de um dos maiores estadistas da história do País, com episódios desconhecidos de sua vida como a tentativa de assassinato durante a campanha presidencial de 1984 Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) No dia 12 de setembro de 1984, Leda Flora, repórter do jornal “O Estado de S. Paulo”, adentrou muito nervosa à sede da campanha presidencial de Tancredo Neves, em Brasília, com uma “bomba”. A redação do jornal estava recebendo telefonemas anônimos dizendo que um pistoleiro boliviano rumava para Goiânia, onde Tancredo faria um comício em dois dias, encarregado da missão de matá-lo. “Ele pediu que não houvesse nenhum esquema especial para que o atentado fosse impedido”, diz o jornalista José Augusto Ribeiro, assessor de Tancredo na época e autor de “Tancredo Neves – A Noite do Destino”, que está sendo lançado pela editora Civilização Brasileira. QUASE LÁ - Tancredo Neves no período de lançamento de sua candidatura à presidência do Brasil, em 1984 Com a volta das eleições democráticas no Brasil em 1984, Tancredo foi escolhido como representante da oposição ao governo militar por uma coligação de partidos. Acabou sendo eleito por voto indireto em 1985, morrendo antes da posse. O episódio das ameaças, nunca antes revelado, abre o livro, resultado de quase vinte anos de pesquisa do jornalista, testemunha ocular de boa parte do que narra nas quase 900 páginas da biografia. Ribeiro estava no escritório da campanha no dia da descoberta do furo, que o Estadão não publicaria depois da consulta feita ao canditato de Minas Gerais, símbolo da campanha pela volta das eleições diretas. Nos dias que se seguiram, a informação vazou. Mas o consenso de que a divulgação de uma ameaça do tipo estimulariao aparecimento das outras imperou nas redações concorrentes. Assim como Carlos Chagas, à época chefe da sucursal de Brasília do Estadão, todos as chefias dos outros veículos seguraram a notícia da ameaça de morte de Tancredo. José Augusto Ribeiro se tornou assessor do político depois de acompanhar sua carreira como repórter. Desde então, portanto, o biógrafo reuniu material diretamente do personagem que considera um dos maiores estadistas do Brasil. Para a revista “Status”, em 1983, por exemplo, Tancredo contou para Ribeiro como havia ajudado a tirar Fernando de Noronha do controle dos norte-americanos durante a Guerra Fria. Algo que só fica comprovado agora, com a publicação do livro. COMOÇÃO - Acima, funeral no Palácio do Planalto, em abril de 1985: o presidente morreu antes de assumir a presidência No curto período em que atuou como primeiro-ministro, em 1961, Tancredo teria recebido um telefonema do então embaixador dos EUA, Licoln Gordon, para a renovação de um combinado para manter a base militar na ilha brasileira. Tancredo não queria renovar o acordo. Discretamente, ele conseguiu estabelecer um combinado com o embaixador, segundo o qual a base seria retirada. “Encontrei um único documento, um ofício secreto não assinado de 19 de janeiro de 1962, que comprovava a história”, diz o jornalista. 9#2 EM CARTAZ – MÚSICA - POESIA PINTADA E MUSICADA por Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) A metamorfose da poesia em música é algo que, no Brasil, remete à parceria entre Vinícius de Moraes e Tom Jobim, entre outros. Mas e quando um poema tem um quê de inspiração da pintura e também se transforma em canção? Uma das respostas pode ser dada pelo CD “Ciclo Portinari e outras Telas Sonoras”, da gravadora Biscoito Fino. Trata-se de versos de Cândido Portinari (1903-1962,) musicados por João Guilherme Ripper (foto abaixo). A combinação pode ser conferida em 11 de março, às 19h, no Espaço BNDES, no Rio de Janeiro. No álbum, há canções interpretadas por cantoras como a soprano Gabriella Pace e a mezzosoprano Luiza Francesconi. 9#3 EM CARTAZ – AGENDA - JERRY/LONGA/GIGANTE Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Jerry Lewis – O Rei da Comédia (CCBB, em São Paulo e Brasília, até 30 de março) Mostra com 23 filmes do comediante americano, incluindo as parecerias com o cantor Dean Martin e os filmes que dirigiu nos anos 1960 O filme “O Mensageiro Trapalhão” será uma das obras apresentadas na mostra. A Longa Jornada (CCSP, em São Paulo, até 15 de março) Exposição de fotografias selecionadas que retratam o cotidiano de refugiados da Palestina, tiradas do acervo de uma agência da ONU O Gigante Egoísta (Sesi, todas as unidades do interior de São Paulo, até 19 de abril) Peça infantil da Artesanal Cia de Teatro, baseada na obra de Oscar Wilde sobre o gigante que constrói um muro para que não invadam seu jardim 9#4 EM CARTAZ – MUSICAL - O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Adaptação do filme de mesmo nome estrelado por Whoppi Goldberg e originalmente lançado em 1992, “Mudança de Hábito” se tornou um musical em 2009 com produção da própria atriz. O espetáculo chega agora a São Paulo, onde fica em cartaz em longa temporada no Teatro Renault após ser visto por mais de cinco milhões de pessoas em 11 países. A cantora Deloris testemunha um assassinato e acaba se refugiando em um convento. Lá, finge ser freira, mas seu jeito desbocado e contestador se choca com os costumes rígidos do lugar e ela usa seu tempo para cantar no coro da igreja. Com trilha sonora recheada de soul music, funk e disco, a peça tem direção de Fernanda Chamma e conta com músicas de Alan Menken adaptadas para o português, além de Karin Hils no papel de Deloris. +5 musicais da Broadway encenados no Brasil Rei Leão (FOTO) Adaptação do desenho da Disney de 1994, o espetáculo ficou 20 meses em exibiçãono Brasil, atraindo 800 mil pessoas O Fantasma da Ópera O musical passou pelo País de 2005 a 2007, e tem aqui o recorde de público no Brasil, de 880 mil pessoas Chicago A famosa peça, encenada na Broadway em 1975, já havia sido adaptada para o cinema em 1992 antes de estrear nos palcos brasileiros em 2004 Les Misérables Primeiro grande espetáculo da atual safra a ser montado no Brasil, a adaptação do livro de Victor Hugo estreou em 2001 Hair Um dos musicais mais famosos da história, foi encenado em Nova York em 1967, e ganhou adaptação brasileira dois anos depois 9#5 EM CARTAZ – TEATRO - PERTO DO FIM Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Em um futuro próximo, os EUA estão em guerra com um país desconhecido. Escondida no porão de um prédio em Nova York, Ellen (Deborah Evelyn) espera a volta do marido, desaparecido há três meses, enquanto recebe visitas inesperadas. “Hora Amarela”, adaptação de uma peça de Adam Rapp, conta ainda com cenários de Daniela Thomas, que reforçam a impressão de claustrofobia e paranoia da trama. Com direção de Monique Gardenberg, fica em cartaz no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, até 29 de março. 9#6 EM CARTAZ – CONCERTO - A HOMENAGEM DE PAULO SZOT AO RIO por Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) A Orquestra Petrobras Sinfônica (OPES) abre sua nova temporada nesse sábado 7 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, comemorando os 450 anos da cidade. Para a celebração foram encomendadas oito obras escritas por compositores diferentes, um recorde na história da OPES. Entre as apresentações agendadas para a temporada, a orquestra receberá o barítono Paulo Szot (vencedor de quatro prêmios na Broadway, incluindo um Tony) em concerto que relembrará os 150 anos do nascimento do compositor finlândes Jean Sibelius, no dia 20. 9#7 EM CARTAZ – LIVROS - DUAS VEZES PHILIP ROTH Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Considerado um dos mais importantes autores vivos dos EUA, Philip Roth chegou a receber o Pulitzer em 1997 por seu livro “Pastoral Americana”. Em “Roth Libertado”, a jornalista da New Yorker Claudia Roth Pierpont resgata a vida e obra do escritor, fortemente marcado por suas raízes judaicas, desde a estreia com “Adeus Columbus”, de 1959, até a publicação de “Nêmesis” em 2010, quando anunciou que iria parar de escrever. Além de publicar a biografia, a Companhia das Letras está relançando “Complô Contra a América”, livro de 2004 em que Roth reimagina sua infância em Nova York durante a Segunda Guerra Mundial caso Franklin Roosevelt tivesse sido derrotado nas eleições e os EUA resolvessem se alinhar aos nazistas. ________________________________________ 10# A SEMANA 11.3.15 Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "PROCESSOS CONTRA EIKE ESTÃO SUSPENSOS" O Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro publicou na quarta-feira 4 a sua decisão de suspender todos os processos existentes contra o empresário Eike Batista, acusado dos crimes de manipulação de mercado e uso indevido de informação privilegiada (insider trading). Caberá agora ao Conselho Nacional de Justiça examinar o caso. Os processos estão suspensos porque o juiz responsável por eles, Flávio Roberto de Souza, foi flagrado dirigindo um dos carros apreendidos pela PF na residência do empresário – isso é literalmente vedado a um magistrado. Na terça-feira 3 o TRF afastou o juiz de suas funções. "TRABALHADOR BRASILEIRO É POUCO PRODUTIVO " Estudo sobre a produtividade de funcionários nos mais diversos setores, divulgado na semana passada pela organização americana  e Conference Board, mostra que o Brasil está em péssima situação – só a Bolívia consegue ser pior. O estudo divide PIB pelo número de pessoas ocupadas. "A MAIOR ENCHENTE NO ACRE EM 132 ANOS" Foi torrencial a chuva que desabou na semana passada na região norte do Brasil. Na cidade de Rio Branco, capital do Acre, o rio homônimo atingiu o nível de 17,88 metros, ultrapassando o limite histórico de 17,66 registrado em 1997. Cinco abrigos públicos foram montados para acolher os cerca de dez mil desabrigados. É a maior enchente no Acre nos últimos 132 anos. "R$ 100 BILHÕES" R$ 100 bilhões é quanto perde anualmente o mercado formal brasileiro devido ao contrabando de mercadorias. O cálculo é do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras – leva em conta o prejuízo da indústria e a sonegação de impostos. "ENTENDA A ARMA TRANSGÊNICA QUE PODE ACABAR COM A DENGUE NO BRASIL" Com aumento de 280% na incidência da dengue entre a população, a cidade paulista de Piracicaba se torna pioneira no combate à doença valendo-se de um método original – a alteração genética do mosquito envolvido na transmissão do vírus. Somente a fêmea do Aedes aegypti funciona como vetor de contágio. Ela acasala apenas uma vez e vive 45 dias. Os pesquisadores mudaram geneticamente cinco mil mosquitos machos que estão sendo soltos na cidade. De seu cruzamento com a fêmeas virá uma nova geração de Aedes aegypti que morrerá logo após o nascimento. Esse processo irá se repetindo e, de geração em geração exterminada, o mosquito acabará defi nitivamente extinto como espécie. Com a confirmação de 44.410 casos de dengue, o estado de São Paulo entrou na quinta-feira 5 no mais grave quadro epidêmico dessa doença – em 2010, ano de maior incidência, foram registrados 46.816 episódios. Na semana passada, pelo menos 50 cidades estavam afetadas. "5,8 MILHÕES" 5,8 milhões de famílias brasileiras perderão subsídio no pagamento de suas contas de luz por determinação do governo federal. O auxílio se dava por meio do programa tarifa social da baixa renda. Ficarão sem tal subsídio 38% das 13,1 milhões de pessoas cadastradas até dezembro do ano passado. "CAI AVIÃO PILOTADO POR HARRISON FORD" O ator americano Harrison Ford, 72 anos, famoso por interpretar em 1981, pela primeira vez, o personagem Indiana Jones no filme de Steven Spielberg “Os Caçadores da Arca Perdida”, sofreu na quinta-feira 5 um acidente com o avião monomotor que pilotava – ele estava sozinho a bordo. Ford foi obrigado a fazer um pouso forçado em um campo de golfe em Venice, em Los Angeles, devido a problemas mecânicos. Até a tarde da sexta-feira o ator seguia hospitalizado, com ferimentos mas, segundo seus assessores, sem correr risco de morte. Em 1999 ele também se acidentou quando o helicóptero que o transportava caiu junto ao leito do rio Ventura County. "CARRO QUE VIROU SÍMBOLO DA SECA FOI ROUBADO HÁ 20 ANOS" O nível dos reservatórios do sistema Cantareira apresentou uma sequência de alta nos últimos dias – na quinta-feira 5 estava com 11,7% de sua capacidade e essa é uma boa notícia para os paulistas. Ao longo do período em que a represa ia secando, conforme a água descia foi-se e revelando um verdadeiro cemitério de carros roubados – para se ter ideia, mais de 30 veículos puderam ser retirados de um único reservatório. Na semana passada foi a vez de o mais famoso desses automóveis ser removido, aquele que se tornou símbolo da seca (foto) e teve a sua lataria grafitada: “Bem-vindo ao deserto da Cantareira”. Após a verificação do chassi descobriu-se que o carro foi roubado em 1995. "FILHO DE SCHUMACHER ESTREIA NA FÓRMULA 4" Mick Junior tem 15 anos de idade e é filho do heptacampeão de Fórmula 1 Michael Schumacher. No mês que vem ele estreará na Fórmula 4 alemã correndo pela equipe holandesa Van Amersfoort. Ótima oportunidade para que em breve chegue a principal categoria do automobilismo mundial – a mesma em que seu pai brilhou. Mick é vice-campeão europeu e mundial de kart. "JUÍZA DE BRASÍLIA DECIDE DEPORTAR CESARE BATTISTI" Qualquer cidadão de qualquer nacionalidade, condenado por crime doloso (intencional) no exterior, não pode permanecer no Brasil. Isso é lei. Pois bem, baseada nela e atendendo o pedido do Ministério Público, a juíza da 20ª Vara Federal de Brasília, Adverci Rates, determinou a deportação do ex-terrorista italiano Cesare Battisti que recebeu em seu país condenação à prisão perpétua por ter cometido quatro homicídios. Battisti está no Brasil por decisão do ex-presidente Lula que se recusou a extraditá-lo. A juíza não exige a sua extradição (enviá-lo à Itália, país no qual ficaria preso), mas sim a sua deportação (poderá ir para países por onde passou antes de aqui desembarcar, como por exemplo França ou México). A Advocacia-geral da União irá recorrer da sentença. "O PERIGO DO "AÇÚCAR OCULTO"" O açúcar que não se vê, mas que está presente na composição de diversos alimentos, é o novo alvo da OMS – e, segundo ela, um dos mais importantes na prevenção da obesidade e do diabetes. Seguindo essa nova estratégia de saúde pública, especialistas de diversos países assumiram na quarta-feira 4 uma nova diretriz: adultos, jovens e crianças não devem ingerir mais que 50 gramas do chamado “açúcar oculto” – uma colher de sopa de ketchup, por exemplo, tem quatro gramas; uma lata de refrigerante pode chegar a conter 40 gramas. "O NOVO ROSTO DE MARADONA" Estão concluídos o tratamento a laser em todo rosto, sobretudo nos lábios, e a cirurgia de retirada de bolsas de gordura sob os olhos. Aos 54 anos, esse é o novo visual do ex-craque Diego Armando Maradona – um dos melhores jogadores de futebol que a Argentina e o mundo já tiveram. O nariz de Maradona está levemente empinado, seus lábios estão marcadamente mais grossos e rosados. Assim ele apareceu na televisão de seu país e na da Venezuela apresentando o programa chamado “De Zurda” (De Canhota). "POR QUE FOI EXTINTA A PENA DE JOSÉ GENOINO" Está extinta por decisão unânime dos ministros do Supremo Tribunal Federal a pena de quatro anos e oito meses de prisão à qual foi condenado, por sentença do próprio STF, o ex-presidente do PT José Genoino. Ele cometeu o crime de corrupção ativa no caso do mensalão. Genoino valeu-se juridicamente do decreto de indulto de Natal do ano passado, assinado pela presidente Dilma Rousseff, que estabelece a extinção da punibilidade a todo preso condenado a menos de oito anos, que não seja reincidente e tenha cumprido um terço da pena. Genoino preenche tais condições. "ENCONTRADO FÓSSIL DO PRIMEIRO HOMEM" Pesquisadores dos EUA e da Etiópia anunciaram na quinta-feira 5 a descoberta de parte de uma mandíbula fossilizada que pertenceu ao mais antigo ancestral do homem – evolutivamente além da família dos macacos e, portanto, já no interior da família dos Homo. Ela foi encontrada no sítio arqueológico etíope de Lee Adoyta, pode ser datada em 2,8 milhões de anos e se torna a mais nova e importante peça no quebra-cabeça da escala evolutiva montada pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). É, assim, a comprovação científica do elo que faltava para a fixação de nosso estreito parentesco com o chamado Homo habilis, que já possuía cérebro maior que seus ascendentes e construía com as próprias mãos ferramentas de pedra lascada. Um detalhe chamou atenção dos cientistas: ainda que a mandíbula se pareça mais com v (como a dos primatas) e menos com a letra u (a exemplo dos Homo), os dentes não mais são enormes, numa demonstração de que esse ancestral já consumia alimentos bem menos duros.