0# CAPA 10.12.4 ISTOÉ edição 2350 | 10.Dez.2014 [descrição da imagem: foto de rosto de Rodrigo Janot. Rosto de frente, mão direita apoiado no rosto. Polegar encostado no queixo, dedo anelar encostado no lábio, e dedos médio e indicador apoiados na bochecha.] O ACORDÃO PARA LIVRAR O GOVERNO Rodrigo Janot se reúne com empreiteiras e propõe plano para impedir que planalto seja investigado no escândalo do petróleo. [parte superior da capa] VAIDADE QUE DESTROI O drama de Andressa Urach mostra os riscos de se buscar a perfeiçà£o física a qualquer custo. VERGONHA Depois de chantageado por decreto, congresso mostra subserviência ao planalto ao aprovar irresponsabilidade fiscal do governo. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 10.12.14 "Fisiologismo na marra" Carlos José Marques, diretor editorial A que ponto de degradação moral chegou o Estado brasileiro! O País pôde assistir na semana passada a um espetáculo de chantagem a céu aberto, às claras – com direito a truculências abomináveis como a que sofreu uma idosa de 79 anos que protestava e levou uma “gravata†do segurança do Parlamento, sendo expulsa na marra da sala de votação – com o intuito de fazer valer a qualquer custo os propósitos vis do governo. Aos senadores e deputados foi imposto o golpe contábil: ou eles aprovavam a maquiagem fiscal nas contas públicas ou não receberiam a sua cota de recursos para emendas parlamentares, gasta em obras nos seus currais eleitorais. O toma lá dá cá foi estabelecido por decreto, para assombro geral! A liberação de R$ 444,7 milhões em emendas, equivalente a um “cala-boca†de R$ 748 mil por cada deputado ou senador aliado, ficou condicionada ao sinal verde desses senhores para que o governo transgredisse a Lei de Diretrizes Orçamentárias e não incorresse assim em crime de responsabilidade. Fixou-se ali um preço pelo voto e o Congresso passou recibo. Com o ato, a presidente Dilma demoveu resistências e fez do Congresso Nacional seu quintal, sua propriedade, muito embora tenha sido ele eleito para representar o povo. Maculada – “de cócorasâ€, como definiu o senador Aécio Neves –, a “Casa dos Representantes†conquistou irremediavelmente a pecha de vendida, subornável, descendo ao pior degrau na escala das reputações. Nunca se viu nada parecido na história da República. Na ordem do dia entra em vigor o fisiologismo institucionalizado, oficializado por deliberação federal. O escambo imoral, degradante, foi sacramentado na calada da madrugada, a portas fechadas, sem direito a participação popular na plateia. Ele só não é mais grave que a medida em si, com a qual o governo recebe licença para a irresponsabilidade fiscal sem limites. Vai fazer na prática o que bem entende de seus números, enquanto dá o pior exemplo de indisciplina orçamentária aos Estados e municípios, teoricamente submetidos aos mesmos ditames da lei. Imagine se a moda pega? As contas da União estão sendo manipuladas, com o endosso parlamentar, para vender algo que não existe: o superávit capaz de legitimar a gestão da economia como adequada. Na verdade, desponta agora uma saúde financeira de aparência, montada com números fajutos, e por essa via o governo dá mais uma demonstraçà£o de escárnio contra a sociedade. O brasileiro comum pode e deve estar se perguntando por que a ele também não é concedido o mesmo direito de simplesmente apagar suas dívidas da contabilidade com um truque fiscal, capaz de livrá-lo dos incômodos compromissos. Seria um sonho, mas eis uma prerrogativa reservada exclusivamente aos que detêm o poder e, em nome dele, ajustam leis ao bel-prazer e interesse. _____________________________________ 2# ENTREVISTA 10.12.14 LEANDRO HASSUM - "HÁ PRECONCEITO COM A COMÉDIA NACIONAL" Responsável pela maior bilheteria do cinema brasileiro neste ano, o comediante Leandro Hassum diz não saber o que é humor refinado e conta como decidiu fazer cirurgia bariátrica por Rodrigo Cardoso TRAJETÓRIA - Ele começou a carreira no teatro Tablado, no Rio, aos 16 anos O humorista Leandro Hassum é o responsável pela maior bilheteria do cinema nacional neste ano. A comédia “Candidato Honestoâ€, lançada em outubro e protagonizada por ele, levou 2,6 milhàµes de pessoas para a frente da telona. Antes dela, o ator de 41 anos já havia arregimentado um público de 1,2 milhão para assistir ao filme “Vestido para Casarâ€, quinto colocado no ranking. "Sou fã do Selton Mello. Acho o filme 'O Palhaço' incrível. O que eu faço, porém, é diferente e talvez eu não fosse assistir" Sua mais nova investida – “Os Caras de Pauâ€, que estreia no dia de Natal em 800 salas do País – também deve alcançar números expressivos. Fora dos holofotes, o fluminense casado há 17 anos e pai de Pietra, 15, resolveu dar uma guinada na vida e se livrar do excesso de peso que o acompanha desde a infância. Hà¡ um mês ele se submeteu a uma cirurgia bariátrica e perdeu 17 quilos. Está com 133 e vai passar dois meses sabáticos nos Estado Unidos, onde também vai fazer cursos de cinema, direção e atuação. Se retornar de lá com 100 quilos, diz que vai rir à toa. "Comecei a pensar nisso (a cirurgia) bariátrica) no início do ano. Acompanhei o caso do André Marques, que é muito meu amigo, para ver se aprovaria a cirurgia e procurei o mesmo médico" Istoé - Seus filmes são sucesso de público, mas as críticas não costumam ser generosas. O que acha disso? Leandro Hassum - A crítica não torce o nariz para mim, ela é nosso termômetro. O problema é que há críticas mentirosas. Em “Até Que a Sorte nos Separe 1â€, um crítico disse que era constrangedor, em uma das cenas, o fato de eu estar forà§ando a graça, enquanto ninguém no cinema ria. Esse cara perdeu a credibilidade. Porque vejo várias sessões dos meus filmes. Vou a todas as pré-estreias e a cinemas, escondido, para ver a reação do público pagante. E aquela cena em que fui criticado era a que mais fazia o público rir. Ou seja, o crítico mentiu ou estava vendo o filme sozinho. Do mesmo jeito que tem diretor, ator, que faz filme para fazer o público pensar, eu faço cinema para o público só se divertir. Por que não só se divertir no cinema? Por que alguém não é bem-visto pelo fato de ir ao cinema só para dar risada? Istoé - O que espera da crítica? Leandro Hassum - Não sou unanimidade nem quero ser. Mas gostaria que a crítica fosse mais imparcial. Existe um filão da sociedade que tem um tremendo preconceito com a comédia nacional. Se for comédia popular então, é maior ainda. O Chaplin – não estou me comparando a ele, hein! – sofreu preconceito na comédia. Então, claro, tudo bem eu receber crítica. Mas já conversei com amigos críticos se não seria o caso de termos um crítico especializado em comédia popular, comercial, talvez. Porque a crítica coloca todo mundo no mesmo caldeirão. E aí me sinto injustiçado. Porque a gente leva muito público ao cinema, não à© uma comédia tão artística, porque a gente faz filme popular, porque a classe C, D, E, ri pra caramba e isso incomoda...não sei dizer, sinceramente, o porquê. O cara pode me achar um merda, não achar a menor graça em mim, mas, quando a crítica mente, me chateia. É chato quando pessoas que nem o veem direito o rotulam. Istoé - Muita gente diz preferir humor inteligente, refinado... Leandro Hassum - Não sei o que é o humor inteligente, refinado. Faço humor para a pessoa rir. Faço um humor parecido com o refinado, mas que se chama engraçado (risos). Eu sou fã do (ator e diretor) Selton Mello. Acho o filme “O Palhaço†incrível. O que faço, porém, é diferente e talvez, como público, eu não fosse assistir. Mas não posso dizer que é ruim. Sei da minha qualidade, não é à toa que o público prestigia. Venho do teatro, que sobreviveu muito tempo do boca a boca. Se meus filmes lotam salas é porque o boca a boca é bom. Gostaria que quem me assistisse chegasse com a mente aberta. E que criticasse dizendo que pecamos na qualidade de imagem, no som, o elenco não estava bom, o texto era fraco... Agora, o cara falar que a sala estava vazia, ninguém ria de nada, quando os meus filmes estão batendo recorde de bilheteria, eu pergunto: onde ele foi vê-lo? Istoé - Atores de stand-up comedy têm conquistado espaço na tevê, como o Porta dos Fundos, que foi para a Fox. Como enxerga esse movimento ? Leandro Hassum – Bacana que a internet e canais como Fox, HBO, Telecine estão abraçando essa turma. Mas, como ocorreu no teatro, só vai ficar quem é bom mesmo. Quando teve o estouro da boiada do stand-up, veio muita coisa ruim junto. O problema é que, com a ascensão dos humoristas, qualquer engraçadinho acha que faz stand-up. E muitos têm a ideia errada de que fazer stand-up é ser do contra. As histórias contadas são um tal de “sou contra isso, odeio gente que faz aquiloâ€. Tem uma galera sem talento para fazer esse humor crítico, mas que se mete a encarar e o público foge. Istoé - Mas há casas noturnas e tea-tros que abrem cada vez mais as portas para esse tipo de comediante. Leandro Hassum - Tem teatro que parece motel, tamanha a rotatividade. Pede-se que a apresentação de stand-up tenha no máximo uma hora de duração porque, na sequência, tem de entrar outro. Aí, vem um cara, de bermuda, camiseta rasgada, e cobram R$ 80. Me sinto ultrajado! Tem de entregar mais por esse preço. E outra coisa: prefiro perder a piada do que o amigo. Não arrisco perder um amigo por uma piada. Istoé - Teve de recusar trabalhos para encarar a cirurgia bariátrica, há um mês? Leandro Hassum - Comuniquei muito cedo a Rede Globo sobre a minha decisà£o de operar e ela foi parceira. Abri mão de alguns shows de teatro para o mundo corporativo, de trabalhos como mestre de cerimônia e sà³. Decidi em junho, mas desde o início do ano comecei a pensar na ideia. O André Marques (ator que há um ano também passou por esse procedimento e eliminou quase 70 quilos) é muito meu amigo, temos o estilo de vida parecido, no sentido de dizer que nunca encararíamos uma operação dessas, que éramos felizes gordinhos e coisas assim. Acompanhei o caso dele para ver se aprovaria a cirurgia e procurei o mesmo médico. Istoé - Passou pela cirurgia pensando mais na estética ou na saúde? Leandro Hassum - Eu não tenho vergonha do meu corpo. Nunca tive problema em ser gordo. Isso não me prejudicava em relação ao sexo. Me achava bonito gordo, olhava no espelho e gostava do que via. E quando atingia um limite de peso que me incomodava, fazia dieta e emagrecia. Mas aí não conseguia mais emagrecer. As dietas não eram mais eficazes, levantava da cama dolorido, ficava um trapo depois de um fim de semana de show, com dor na coluna e nos joelhos. Então, não ter domà­nio sobre o meu excesso de peso começou a me incomodar e fiquei preocupado com a saúde. Tenho pressão e colesterol normais. Mas gordo é uma bomba-relógio. Perdi meu pai, sedentário, fumante, obeso, há pouco tempo. Teve um infarto e tudo o que era periférico atrapalhou nesse momento. Istoé - Como lidou com esses dois fatos praticamente simultâneos? Leandro Hassum - Operei em 1º de novembro e meu pai faleceu seis dias depois. Deus permitiu que eu tivesse alta no dia 7, fosse ao enterro do meu pai e me despedisse dele. Meu pai infartou uma semana antes de eu operar e ficou no CTI por 15 dias. Infelizmente, minha primeira saída ao deixar o hospital, após a alta, foi ir ao cemitério para me despedir do meu pai. Até agora não consegui viver direito o luto da perda dele. Me preocupo em não chorar muito, pensar muito, porque fico com dor...enfim, receio com a minha saúde. Aí fico me contendo. Escrevi uma carta para o meu pai e postei no Facebook. Foi nesse momento que chorei. Istoé - Tem receio de voltar a engordar? Leandro Hassum - Não serei infeliz se isso ocorrer. Não entrarei em depressão. Só não vou querer atingir os 150 quilos que eu tinha. Estou 17 quilos mais magro. Quero experimentar ficar mais magro, cuidar da vaidade, vestir a roupa que sempre quis, praticar o esporte que não praticava para não me machucar por causa do meu peso. Se eu parar nos 100 quilos, estarei feliz. Não tenho pretensão de ser magro, mas de ser saudável. E não tenho o menor medo de perder a graça. Ser gordo é uma das minhas piadas. Há muitas outras! Istoé - Na maior parte da vida lidou bem ou mal com o peso? Leandro Hassum - Na adolescência foi difícil, porque adolescente é um ser cruel. Ser engraçado, então, era uma defesa. Foi aí que o meu humor nasceu. No colégio, sendo levado, bagunceiro, foi a forma de eu me destacar como o engraçado e não como o gordo. Logicamente que me incomodava. Eu não era bom no colégio porque preferia ficar contando piada nos intervalos de aula, era o cara que organizava as festas, as palhaçadas. Até que a psicóloga de là¡ sugeriu à minha mãe que eu fosse levado para o teatro, dizendo que eu queria aparecer, ser engraçado na hora errada. Ela me colocou no teatro, de onde nunca mais saí. Istoé - Exerceu alguma outra profissão? Leandro Hassum - Por um período, fiz teatro ao mesmo tempo que trabalhava como garçom. Também fui professor de inglês por quatro anos. Mas só servi para isso mesmo: o humor. Comecei aos 16 anos, no teatro Tablado. Hoje, eu consigo dizer não para trabalhos com mais facilidade. Mas, no começo, eu contava o dinheiro para sobreviver. Já passei dias comendo miojo no café, no almoço e no jantar. Já fiquei vestido de Papai Noel em shopping para poder ter dinheiro para comprar presente de Natal para a minha filha. Ganhava cerca de R$ 400 e tinha a minha esposa grávida em casa. Aí, assinei com a Globo para poder usar o plano de saúde da empresa para o parto da minha filha. Meu salário seria de R$ 700 para trabalhar com o Chico Anysio. Istoé - Mulheres jogam charme para você? Leandro Hassum - Tem fã que passa dos limites e minha mulher, com muita elegância, coloca as coisas no eixo. Estava, certa vez, sem camisa no sambódromo durante o Carnaval e uma mulher se aproximou, meteu a mão nos meus peitos e me chamou de gostoso na frente da minha esposa, que, com educação, pediu por favor para que a moça parasse. Em outra situação, em uma festa, uma mulher se aproximou e falou algo no meu ouvido. Minha esposa disse: “Por que você está contando segredo só para ele? Conta para mim também, já que sou a mulher deleâ€. Eu, graças a Deus, mesmo gordinho, nunca tive problema para ter mulher ao lado. Sempre fui namorador. Nesse sentido, realizei tudo o que queria. E me casei na hora certa. Estragar algo bonito que vivo no casamento por um rompante não vale a pena. É muita coisa em jogo para estragar por causa de meia hora de prazer. _________________________________________ 3# COLUNISTAS 10.12.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - A HORA E A VEZ DOS POLÍTICOS 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 ANA PAULA PADRÃO - O OUTRO VÍRUS DO EBOLA 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Bíblia verde Vem aí a mais completa avaliação da fauna e da flora brasileiras. Em quatro anos, 1.383 estudiosos (brasileiros e estrangeiros) analisaram 12.256 espécies, que representam todos os vertebrados do País e mais de dois mil invertebrados. Os técnicos são de 200 instituições, aproximadamente. O trabalho agora será contextualizado num programa oficial de ações, priorizando espécies e à¡reas, o que passa pela criação e pelo fortalecimento de unidades de conservação. Em 2008, estudo em escala menor, mas relevante, apontou que estão ameaçados de extinção 13% de anfà­bios, 10% de mamíferos, 17% de borboletas, 19% de plantas e 21% de peixes. Literatura Vem de longe A dívida externa do Brasil tem raízes profundas. A “Revista de História da Biblioteca Nacionalâ€, de dezembro, traz reportagem sobre o primeiro empréstimo feito pelo País, em 1827. Deu tanto ruído que o Visconde de Itabaiana distribuiu no Império o folheto “Exposição sobre a negociação do emprà©stimo contrahido em Londres e as vantagens delle resultantesâ€. Dois anos depois, mais polêmica: o Brasil não pagou os juros da dívida e precisou de mais dinheiro do exterior, sob risco de penhora da receita de nossas alfândegas. Brasil Fora dos trilhos Em maio, já em campanha, Dilma Rousseff inaugurou o trecho entre Porto Nacional (TO) e Anápolis (GO) da Ferrovia Norte-Sul, de 855 quilà´metros, primeiro do País a ser concedido a um operador independente. A presidente anunciou que por ali passariam ao menos quatro mil toneladas de minério de ferro, além da produção agrícola e industrial da região centro-Oeste. Oito meses depois, nem uma pedra foi transportada. As trapalhadas regulatórias do governo federal têm afastado, até hoje, as empresas interessadas no negócio. Varejo Parceiro global Tem CEP brasileiro a maior vendedora de TVs LG no mundo. Administradora da Casas Bahia e do Pontofrio, a Via Varejo ganhou reconhecimento da gigante LG Electronics, ao atingir o topo na comercialização de TVs da marca, este ano. Em Seul, Líbano Barroso, número 1 da rede nacional, recebeu uma placa e elogios de Mr. Há, o todo-poderoso presidente de Home Entertainment da LG Eletronics. Nenhum grupo do Brasil alcançou tal distinção. São Paulo Será? O fantasma de Paulo Preto volta a assustar o PSDB paulista. O MP investiga denúncias de que as avaliações de lotes feitas e pagas pelo Dersa chegaram em alguns casos a ser três vezes maiores do que o valor de mercado dos imóveis derrubados para a construção do Rodoanel. Gente Primeiro tempo Na 4ª Vara de Família da capital paulista, Kaká disse quanto quer pagar de pensão para seus filhos. Luca, 5 anos, e Isabella, 3, receberiam cada um R$ 30 mil. A possibilidade de acordo por ora é nula. Anistia Sem “periculum†Começou mal para os clubes Naval, Militar e de Aeronáutica, na 14ª Vara Federal, em Brasília, a tramitação da Açà£o Ordinária que objetiva suspender a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ao indeferir a antecipação de tutela pretendida pelo trio, na segunda-feira 1 º, o juiz Renato Coelho Borelli mandou notificar os presidentes das agremiações para riscarem dos autos expressões do tipo “guerrilheira Dilma Rousseff†e “terrorista Dilma Rousseffâ€. Presidência Pavor a bordo O brigadeiro Joseli Parente Camelo, que comanda o Airbus A330 da Presidàªncia da República, está prestes a se aposentar, após 39 anos de serviços prestados à FAB – foi declarado aspirante em 10 de dezembro de 1975. Com mais de cinco mil horas de voo, o militar cearense nada diz de seus ilustres passageiros. Mas há dias, em conversa com um amigo, deixou escapar que Dilma Rousseff tem pavor de turbulência (em terra é outra história). Basta o avião começar a sacudir que ela chama alguém da tripulação para perguntar se está tudo bem. Automóveis Alto giro A Chevrolet vai fechar o ano como líder no varejo (vendas ao consumidor nas concessionárias). De janeiro a dezembro a empresa estima comercializar 600 mil unidades – 50 mil a menos que em 2013. O quadro nà£o assusta Marcos Munhoz, vice-presidente da marca. “Estamos hà¡ 90 anos no País. A realidade de 12 meses não nos traumatiza. É olhar e entender o contexto.†De fato, num setor que terà¡ em 2014 vendas totais menores em uns 8% (3,45 milhões de unidades), sobre 2013, manter a fatia de mercado em 17% é uma conquista. Futebol Bola dentro Os jogadores da Seleção Brasileira de Futebol e os moradores da Granja Comary, em Teresópolis, seguirão dormindo tranquilos. A Câmara de Vereadores tombou na semana passada 72 mil m², no entorno do centro de treinamento da CBF. Na preparação do time para a Copa da Fifa especulava-se que a empresa Sanfebra Participações Ltda. lotearia a área. O Brasil não levantou a taça, mas o paraíso segue intocado. Aviação Civil Livre voar Além dos EUA e da União Europeia, o Brasil quer um acordo de cà©u aberto com a África. Ele significa número ilimitado de voos entre os dois lados, quadro de rotas em aberto, direitos de tráfego aéreo ampliados e liberdade tarifária total. A proposta foi feita à Comissão Africana de Aviação Civil na semana passada, pelo diretor-presidente da Anac, Marcelo Guaranys. Governo Alimentou o boato Migrações são tema universal. Eleonora Menegucci, ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, falou tanto sobre direitos humanos na festa do 30º aniversário da Declaração de Cartagena para Refugiados (Cartagena + 30), na terça-feira 2, em Brasà­lia, que acabou abordada. Curiosos indagavam se iria para a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, como se especula. “Não sei de nadaâ€, respondia mineiramente. Medicina privada Leão guloso A carga tributária sobre planos de saúde é alta quando comparada a outros segmentos da área de serviços. É o que aponta relatório da Associação Brasileira de Medicina de Grupo, a partir de pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Os impostos nos planos de saúde equivalem a 26% do faturamento das empresas do setor. Taxa superior à da agricultura (15%), construção civil (18%) e siderurgia (19%). Direito Abaixo o apelido No dia a dia é comum, mas esta brincadeira de mau gosto vem sendo combatida cada vez mais na Justiça. A Seção de Dissídios Individuais do TST deu ganho de causa a um operário de empresa do Paraná na qual os gerentes tinham o hábito de colocar apelidos nos subalternos. “Orelha†receberá indenização de R$ 1,5 mil. É pouco depois de percorrer todas as instâncias da Justiça do Trabalho, mas que sirva de lição para os ex-mandachuvas. Liberdade de imprensa Década depois... A Comissão Interamericana de Direitos Humanos investigará o assassinato de Mario Coelho Filho, em Magé, na Baixada Fluminense, em 2001. O filho do dono do jornal “A Verdade†era opositor do então prefeito de Caxias, José Camilo Zito. Na semana seguinte à  morte do jornalista, ele foi denunciado na Assembleia Legislativa fluminense como mandante do crime. Passados 13 anos, o sistema judicial brasileiro não puniu os assassinos. O caso foi levado à CIDH pela Sociedade Interamericana de Imprensa, em 2005. Só agora começarão as investigações. 3#2 LEONARDO ATTUCH - A HORA E A VEZ DOS POLÍTICOS Ainda antes do Natal, 46 parlamentares devem ser chamados a depor na Lava Jato de forma coercitiva. Num ano repleto de emoções, com Copa do Mundo, eleição presidencial e votações no Congresso que atravessam madrugadas, ainda há uma grande surpresa reservada para antes do Natal. Ao que tudo indica, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, irá apresentar sua denúncia contra os agentes políticos envolvidos na Operação Lava Jato ainda em 2014. Rumores que correm em Brasília dão conta de 46 chamados de convocações coercitivas de parlamentares, que equivalem a prisões para prestar depoimentos. Além disso, estão previstos outros 70 mandados de busca e apreensão, segundo informações de setores de inteligência. Tudo será feito a partir das delações já obtidas na Lava Jato, em especial de Paulo Roberto Costa, que, nesta semana, durante uma acareação na CPI da Petrobras, deixou escapar que mencionou “algumas dezenas†de parlamentares em seus depoimentos. Janot estará à frente da denúncia, mas todas as decisões serão tomadas pelo ministro Teori Zavascki, relator do caso no STF, que, ao determinar a libertação de Renato Duque, outro ex-diretor da Petrobras, já sinalizou que terá uma atuação mais contida do que a do juiz paranaense Sergio Moro. Zavascki discorda do uso de prisões temporárias e preventivas como instrumento de pressão para se obter novas delações premiadas ou de punição antecipada dos investigados – o que não significa que será leniente na condução do caso. Apenas seguirá suas convicções sobre um ordenamento jurídico que contempla garantias individuais e prevê a prisão como àºltimo recurso. O desenrolar da Lava Jato é aguardado com expectativa não só no Poder Judiciário. No Legislativo, não será possível eleger os presidentes da Câmara e do Senado, bem como suas mesas diretoras, em fevereiro de 2015, sem antes saber quem está na lista de Paulo Roberto Costa. No Planalto, há até a torcida para que a eleição do favorito Eduardo Cunha (PMDB-RJ) fique ameaçada com os desdobramentos da Lava Jato. No Executivo, várias decisões estão também travadas. Reeleita para seu segundo mandato, Dilma Rousseff fez uma reforma ministerial modesta, restrita apenas a pastas de caráter técnico, como Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento, chamando os economistas Joaquim Levy, Nelson Barbosa e o empresário Armando Monteiro Neto. Nos ministérios que passam por negociações políticas, tudo ficou congelado à espera da denúncia de Janot. Dilma não parece disposta a convidar alguém, que, em seguida, apareça enredado na teia da Lava Jato. O expurgo terá que ser feito com rapidez, mas sem atropelos contra direitos individuais. Fontes próximas ao núcleo do poder federal aguardam uma grande implosão, mas não uma bomba nuclear. Só depois desse estouro será possível enxergar as possibilidades e limitações do segundo governo Dilma. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Na corrida A apresentadora Adriane Galisteu e o marido, o empresário Alexandre Iodice, não pensaram duas vezes antes de fazer, mesmo com chuva, um tour de bicicleta por Barcelona durante o 19º Meeting Internacional do Lide (Grupo de líderes Empresariais), comandado por João Doria Jr. “Eu moraria tranquilamente nesta cidade, diferentemente de Paris, que só gosto de visitar. Isso aqui é demaisâ€, dizia ela, enquanto rodava pelo bairro gótico antes de retornar ao hotel W pela orla do Mar Mediterrâneo. Durante a viagem, Adriane jantou com o presidente da Record, Luiz Claudio Costa e sua mulher, Patrícia. Eles combinaram um jantar na casa de Adriane em São Paulo, com pratos caprichadamente preparados por Alexandre Iodice, exímio cozinheiro. Adriane, que apresenta programas no canal por assinatura Discovery Home &Health, quer voltar para a tevê aberta. Sagrada Família e convites A ex-ministra e senadora Marta Suplicy (PT-SP), que integrou a comitiva do 19º Meeting Internacional em Barcelona, não quis confirmar para qual partido irá e se vai se candidatar à Prefeitura de São Paulo em 2015. Mas há um alvoroço para atrair Marta. Exceto o PSDB e o DEM, todos os partidos fizeram convites para tê-la em seus quadros. As apostas tendem ao PMDB, mas o PPS e o PSB também a procuraram. Enquanto sua saída do PT é dada como certa, Marta confessa a amigos ser esta uma decisão difícil e dolorosa. Na viagem, Marta e o marido, o empresário Marcio Toledo, visitaram no tempo livre a catedral da Sagrada Família e se encantaram com o interior da igreja projetada por Gaudi. Balas Mais um bulling O ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, disse no seminário Brasil-Espanha, do Lide, que sofreu bullying antes da Copa quando garantia que os aeroportos iam funcionar. “Vimos depois o que não funcionouâ€, brincou. Em seguida, foi surpreendido pela pergunta de Marta Suplicy. Ex-ministra do Turismo, ela queria saber por que acabaram os voos diretos para Bonito (MS) e contou a triste história da empreendedora que vendeu três fazendas para fazer um centro de convençàµes e ficou a ver navios, ops, aviões. Superpoderosa Anitta é mesmo uma das queridinhas da Rede Globo. De suas aparições na emissora, ela é cada vez mais alçada à posià§ão de popstar. E em especiais de fim de ano é presença quase obrigatória. Depois de cantar com Roberto Carlos no ano passado, agora é a vez de Renato Aragão recebê-la em seu “Didi e o Segredo dos Anjosâ€, que vai ao ar no dia 21 de dezembro. A funkeira será uma das estrelas do programa, entoando a música “A Festa é Nossaâ€, de sua autoria. O bom é que além de animar a atração, a cantora colocou todo mundo para danà§ar: de Lima Duarte a Hélio de La Peña, de Jayme Monjardim ao próprio Renato, ninguém ficou parado. Todos se renderam literalmente aos encantos e ao rebolado da “poderosaâ€. Aulas de tiro 2014 foi um ano bem intenso para Carol Castro. Ela fez 30 anos, se casou com Raphael Sanders, participou da novela “Amor à Vidaâ€, encarnou Maria no palco da “Paixão de Cristo†e todos os domingos estava firme e forte no “Domingão do Faustão†para comentar a “Dança dos Famososâ€. Tambà©m passou os últimos meses filmando o longa “E.A.S. - Esquadrão Antissequestroâ€, de Marcus Dartagnan, que estreia no ano que vem. “Peguei o bonde andando, mas deu para fazer algumas aulas de tiro e manuseio de arma. Gosto desse universoâ€, diz a atriz. Mas este ano, chega de ação. Agora ela só quer é descansar.“Acabei de entrar de férias. Desta vez vou pedir desculpas para a família e vou fugir no Natal e Réveillonâ€. Para onde ainda não decidiu. Destino certo só em 2015, quando deve passar uma temporada nos Estados Unidos. “Vou estudar inglêsâ€, decreta. Estaria Carol de olho em uma carreira internacional? “Tenho essa vontade sim, e sei que existe um movimento de interesse em atores latinos. Mas não estou com um pé em Hollywood, como já disseram por aí. Tenho que estudar antesâ€, completa a atriz, que na foto posa para a nova campanha de Amir Slama. Desafeto Não convidem para a mesma mesa o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e o presidente da BM&F Bovespa, Edemir Pinto. Os dois se desentenderam por conta da eleição de Levy para a presidência da Brasil Investimentos & Negócios, entidade que visa promover a imagem do Paà­s nos meios empresariais no exterior. Edemir, que ambicionava o posto, não gostou da indicação do então diretor-superintendente da Bram, o braço de investimentos do Bradesco. Não tendo conseguido seu intento, ele teria procurado influir na composição da diretoria da Brain, no que foi rechaçado por Levy. 3#4 ANA PAULA PADRÃO - O OUTRO VÍRUS DO EBOLA Há muita desinformação e estigma sobre o ebola. O que me parece notável num momento tão globalizado da história e com tantas informações disponíveis na internet. Pense nisso. Quando avisei a amigos próximos que embarcaria para a Guiné para fazer reportagens sobre o surto do vírus ebola, ouvi de muitos: perdeu o juízo? A desinformação sobre o que é o ebola, como se contrai o vírus e qual sua letalidade é quase tão grave quanto a própria doença. Os números a que tenho acesso no momento em que escrevo este artigo registram quase sete mil mortos nos três países mais atingidos: Libéria, Serra Leoa e Guiné. É o maior surto da história desse vírus. Mas também à© preciso dizer que a epidemia atual afeta países nos quais o sistema público de saúde inexiste e os rituais fúnebres são os maiores propagadores da doença. O ebola não é um vírus de gripe. Não se espalha no ar. Para contrair a doença é preciso contato muito sólido com alguém que tenha o vírus e já esteja apresentando sintomas da doença. Ou seja, para pegar ebola é preciso ter contato com qualquer fluido de alguém muito doente – suor, sangue, fezes, urina, vômito. E tais fluidos não penetram na pele. Eles invadem o organismo por uma mucosa. Então, basicamente, você tem que tocar num fluido de alguém contaminado e sintomático e levar a mão à boca, ou aos olhos ou nariz. Se lavar a mão antes, com sabonete ou água clorada, você destrói o vírus. É simples assim: não se pega a doença esbarrando em alguém na rua. Acontece que, na Guiné, onde estive, e também nos demais países onde o número de vítimas é alto, os rituais fúnebres muçulmanos obrigam a família a lavar o corpo do parente morto com cuidado, limpar suas cavidades, abraçá-lo e beijá-lo e só por fim enterrá-lo enrolado apenas num tecido branco. É nesse momento, o da morte, que o corpo mais transmite a doença, pois o vírus, que ataca o sistema imunológico da vítima, já se espalhou por completo. Entre os que vão para os hospitais, que produzem estatísticas confiáveis, a taxa de mortalidade é alta, superior a 60%. Não há, ainda, medicamentos específicos já aprovados ou vacinas. O que os médicos podem fazer – e no caso da Guiné os àºnicos que trabalham heroicamente em centros de tratamento improvisados são da ONG Médicos Sem Fronteiras – é baixar a febre e aliviar os sintomas para que o organismo desenvolva anticorpos para o vírus. Por isso, quanto mais cedo se procura ajuda médica maiores as chances de sobrevivência. Mas, se o enterro em sacos plásticos lacrados, como vi dezenas em Conacri, a capital da Guiné, é uma vergonha para as famílias dos mortos, muitos optam por ficar em casa contaminando assim toda a família. E há ainda aqueles que acreditam que, como a maior parte dos doentes que vai para o hospital não volta, são os médicos que matam os pacientes. Para banir esse tipo de crendice seriam necessárias campanhas públicas fortes de conscientização, o que parece uma piada de mau gosto num país como a Guiné, que mal começa a engatinhar em terreno democrático e onde até as escolas públicas foram fechadas, em junho, sob o argumento da emergência sanitária. Ou seja, além da letalidade do vírus, há também o desinteresse dos laboratórios farmacêuticos em desenvolver remédios contra uma doença que certamente não seria epidêmica na Europa ou nos Estados Unidos. E há muita desinformação, preconceito e estigma sobre o ebola. O que me parece notável num momento tão globalizado da histà³ria e com tantas informações disponíveis na internet. Pense nisso. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Um Conselho de Ética sob medida A cúpula da Câmara tem pronta a estratégia para os julgamentos dos parlamentares envolvidos nas investigações da Operação Lava Jato. O primeiro passo será escolher para o Conselho de Ética deputados afinados com critérios preestabelecidos. Pelo plano, serão rejeitados os processos de cassação com base em delações e em doações oficiais aos políticos. O atual presidente do conselho, Ricardo Izar, PSD-SP (foto), diz ser contra o critério. Outro integrante do grupo, Ronaldo Benedet (PMDB-SC), é favorável. Quem fica, quem sai O Conselho de Ética da Câmara só vai iniciar os trabalhos em fevereiro, depois da posse dos parlamentares. Na lista em poder do Ministério Público Federal há muitos congressistas que não foram reeleitos. Quem perdeu o foro especial fica sob a responsabilidade do juiz Sérgio Moro, do Paraná. Os donos de mandato serão julgados pelo STF. Em busca de liquidez Preso em Curitiba desde a realização da Operação Juà­zo Final, o empresário José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo, manifesta a vontade de se desfazer de sua participação na OAS. Pelo que circula no mercado, o empreiteiro pede em torno de R$ 1,5 bi pelo negócio. Central de santinhos A campanha de Dilma revelou um método inusitado de divulgação eleitoral. Em vez de imprimir santinhos e banners nos Estados onde seriam distribuídos, um comitê de Porto Alegre centralizou a operaà§ão. Uma empresa aérea cobrou, em média, R$ 1,5 mil para levar cada pacote até São Paulo. Obstrução parlamentar Alguns ministros do STF se mostram ansiosos para julgar a ação que veta a doação de empresas privadas nas eleições. O caso está parado desde abril, quando Gilmar Mendes pediu vista do processo. Em tom de brincadeira, colegas dizem que ele faz “obstrução parlamentarâ€. Prejuízo realizado As grandes empreiteiras fazem as contas dos prejuízos acumulados em decorrência da Operação Lava Jato. O horizonte é tenebroso para essas empresas. Em conversas reservadas, funcionários da Camargo Corrêa afirmam que o grupo já contabiliza o fechamento da construtora. Amigo de fé, camarada Existe uma explicação para o fato de o projeto de lei que libera a publicação de biografias permanecer parado no Senado. O relator do caso, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, terra natal do cantor Roberto Carlos, principal defensor da proposta de só se publicar livros quando autorizados pelo biografado. Blindado Depois da pancadaria contra manifestantes na semana passada, Renan Calheiros foi pressionado a afastar o chefe da segurança, Pedro Ricardo. Nomeado em 2005, Pedro ganhou força por ampliar a atuação de seu departamento e adquirir dispositivos de contraespionagem. Renan disse que ele fica. Vital e o caso Pasadena A vaga a ser ocupada pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) no TCU pertencia ao ministro José Jorge, que relatava os principais processos de apuração de irregularidades na Petrobras, como a compra da Refinaria de ­Pasadena, no Texas. O caso foi sorteado na Corte e o ministro José Múcio, indicado por Lula, ficou como novo relator. A questà£o é que há quem defenda na Corte que, uma vez nomeado o substituto de um ministro, os casos relatados por ele devem ser direcionados para o novo integrante do tribunal. Por esse critério, Vital herdaria as ações envolvendo a estatal e seus amigos congressistas. Mudança de ânimo no TCU Ao longo da terça-feira 2, as opiniões no TCU sobre Vital do Ràªgo sofreram reviravoltas. No início do dia, alguns ministros e tà©cnicos achavam que ele simbolizava a politização da Corte. No início da tarde, depois do seu nome ser aprovado por unanimidade na comissão e receber um único voto contrário em plenário, a avaliação era de que ele possui talento para conciliar interesses. Toma lá dá cá Deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator da PEC 325/2009, chamada PEC da Perícia. ISTOÉ â€“ Por que a separação dos peritos da estrutura policial pode qualificar as investigações? Alessandro Molon – Com a autonomia da perícia, o departamento terá recursos próprios. Hoje, um secretário de Seguranà§a prefere adquirir viaturas e armamentos. ISTOÉ â€“ Falta ciência nas investigações? Molon – Infelizmente, ainda há larga utilização de tortura para obrigar investigados a confessar crimes. ISTOÉ â€“ O corporativismo policial prejudica o trabalho da perícia? Molon – A separação vai aperfeiçoar a cultura de imparcialidade dos peritos na produção de provas para investigar agentes do Estado. O perito não é policial, é um engenheiro, um fonoaudiólogo, um especialista. Rápidas * Na noite da quarta-feira 3, houve um momento em que parecia que o governo não conseguiria aprovar o texto principal das mudanças na LDO. O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), saiu para um jantar e liberou os deputados. Depois, chamou de volta. * Poderoso entre os deputados, Eduardo Cunha ensaia dividir com Renan Calheiros as negociações com o Palácio, caso os dois sejam eleitos presidentes da Câmara e do Senado. Hoje no comando da Câmara, Henrique Eduardo Alves fica um pouco ofuscado por Renan. * Durante a sessão da terça-feira 2, quando houve pancadaria nas galerias, parlamentares da oposição se empenharam em aparecer nas redes sociais. Alguns correram em direção aos manifestantes enquanto gritavam para assessores: “Filma e vamos postar isso!â€. * Como se não bastasse o arsenal em poder da população, deputados correm contra o tempo para tentar aprovar ainda este ano a permissà£o de que cada cidadão possa ter o porte de até nove armas. Esse tipo de projeto costuma ser aprovado na calada da noite. Retrato falado A acareação entre os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na CPMI tinha, em princípio, o objetivo de buscar contradições em suas declarações para que a CPMI se aproveitasse da situação e conseguisse novas provas contra os dois. No fim, a participação de Costa só funcionou para deixar os parlamentares ainda mais acuados. O ex-diretor da Petrobras fez questão de dizer que entregou dezenas de parlamentares e apresentou provas. A nova silhueta de Vieira Lima Pelo menos 14 parlamentares adotaram a dieta prescrita por um médico argentino que abriu uma clínica na Bahia. Vaidosos, esses congressistas­pretendem iniciar 2015 com uma silhueta mais fina. O método de emagrecimento ganhou fama no Legislativo. Quem descobriu a novidade foi o deputado Lúcio Vieira de Lima (PMDB-BA). O baiano anda feliz da vida com os resultados e já trocou o guarda-roupa antigo. Outros adeptos do regime Em linhas gerais, o regime que caiu no gosto dos parlamentares se baseia no consumo de proteínas e carboidratos com baixo teor glicêmico. Entre os deputados que aderiram de pronto à dieta criada pelo médico argentino estão Fábio Ramalho (PV-MG) e Alice Portugal (PCdoB-BA). _________________________________________ 4# BRASIL 10.12.14 4#1 AS ARTICULAÇÕES DE JANOT QUE PODEM LIVRAR O GOVERNO 4#2 VERGONHA! 4#3 OS JANTARES DE CUNHA 4#4 PROPINA PELO "CAIXA 1" DO PT 4#5 ESCÂNDALO DO METRÔ: O CERCO SE FECHA 4#1 AS ARTICULAÇÕES DE JANOT QUE PODEM LIVRAR O GOVERNO Procurador-geral da República participa de uma série de encontros com representantes das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato e propõe um acordo que impede investigações que possam chegar ao Palácio do Planalto Mário Simas Filho Há sete meses o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vem se reunindo com representantes das empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção instalado na Petrobras e investigado pela Operaçà£o Lava Jato. ISTOÉ apurou que de maio até a última semana foram realizados pelo menos quatro encontros com a presença do prà³prio Janot e outros dois com procuradores indicados por ele (leia quadro nas páginas seguintes). O objetivo dessas conversas, que inicialmente foram provocadas pelos empresários, é o de buscar um acordo no Petrolão. No Brasil, onde a legislação da delação premiada ainda engatinha, não é comum que o chefe do Ministério Público mantenha conversas com representantes de empresas envolvidas em um processo criminal. Mas, em se tratando de um caso com a alta octanagem que têm as investigações da Operação Lava Jato, as reuniões de Janot com os empreiteiros não poderiam, a princípio, ser tratadas como um pecado. Trata-se de uma prática comum nas democracias mais maduras, cujo principal objetivo não é o de evitar punições, mas o de acelerar as investigações e permitir que o Estado adote medidas concretas e imediatas para evitar a repetição de atos criminosos. O problema dos encontros de Janot à© que, segundo advogados e dois ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos por ISTOÉ na última semana, o acordo que vem sendo ofertado pelo procurador-geral nos últimos meses poderá trazer como efeito colateral a impossibilidade de investigar uma suposta participaçà£o do governo no maior esquema de corrupção já descoberto no País. Na prática pode ser um acordão para livrar o governo. DELAÇÃO - As revelações de Costa serviram para colocar empreiteiros na cadeia, mas não foram suficientes para iniciar as investigações contra os políticos JANOT - O procurador-geral espera que a delação do doleiro Youssef seja aceita para ir ao STF contra parlamentares Na sexta-feira 5, através de sua assessoria, Janot confirmou os encontros com representantes das empreiteiras e negou que esteja negociando um acordão. “Como os investigados não têm prerrogativa de foro, os acordos devem ser tratados com os integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Paranáâ€, diz o procurador. Nas conversas que manteve com representantes dos empresários, porém, Janot, segundo advogados ouvidos por ISTOÉ, definiu qual o modelo de acordo interessa à Procuradoria. Ele quer que as empresas, seus diretores e executivos assumam a responsabilidade pelos crimes investigados. Pede que as empresas reconheçam a formação de cartel e que concordem em pagar multas recordes (no caso da Mendes Júnior, estudos preliminares feitos pelos empreiteiros indicam que a multa poderá até inviabilizar a sua continuidade no setor de construção civil). Ainda de acordo com os advogados, Janot sugere que na delaçà£o premiada sejam feitas menções a políticos de diversos partidos, e não só os da base aliada do governo, e que as empresas abram mão de recorrer aos tribunais superiores. Em troca, as empreiteiras continuariam a disputar obras públicas e seus dirigentes poderiam cumprir as futuras penas em regime de prisão domiciliar. Os casos dos parlamentares mencionados serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigações posteriores. “Isso é um absurdo. Embora não acredite que seja essa a motivação do procurador, um acordo nesses termos protege o governo de eventuais investigaà§õesâ€, disse à ISTOÉ um ministro do STF na tarde da quinta-feira 4, sob o compromisso de manter o anonimato para não ser impedido de participar de futuros julgamentos provenientes da Operação Lava Jato. Segundo este ministro, ao admitir a formação de cartel e apontar o nome de parlamentares que teriam se beneficiado, as empreiteiras estariam indiretamente colocando o governo na situação de vítima de um esquema montado pelos empresários e alguns agentes políticos, sem que fosse de seu conhecimento e do qual não obteve nenhuma benesse financeira ou política. E, ainda conforme o mesmo ministro, proibir que as empresas recorram aos tribunais superiores pode impedir que elas venham a participar como colaboradoras nas investigações contra as autoridades com foro privilegiado. “Se cabe ao STF investigar os políticos com foro especial, limitar que pessosas que participaram do esquema recorram ao tribunal é violar o direito de defesa e reduzir o alcance da investigaçãoâ€, afirmou um outro ministro do STF ouvido por ISTOÉ. A iniciativa de buscar um acordo com a procuradoria partiu da Camargo Corrêa. A proposta era a de mobilizar os empreiteiros para um entendimento comum. Em 14 de junho, Janot recebeu os advogados José Geraldo Grossi, Pierpaolo Bottini e Márcio Thomaz Bastos. Em 20 de outubro, quase um mês depois de homologada a delação premiada de Paulo Roberto Costa – o ex-diretor da Petrobras que revelou a existência do propinoduto na estatal e listou empreiteiras e políticos que teriam participado do esquema –, o procurador recusou uma minuta de acerto elaborada por Thomaz Bastos. Assim, o projeto de um acordo comum a todas as empresas envolvidas acabou não prosperando. “Nessa época, ficou evidente o que o procurador-geral buscava e como ele, os procuradores da força-tarefa e o juiz Sérgio Moro iriam agir para forçar as empresas ou parte delas a participar do acordão nos termos propostos pela procuradoriaâ€, disse um dos advogados. Entre os delegados e procuradores da Operação Lava Jato existe a convicção de que manter alguns dos envolvidos na prisão facilita a obtenção de delações premiadas. E as revelações feitas por Costa permitem ao juiz Sérgio Moro decretar as prisões temporárias e provisórias. Uma estratégia que vem dando resultados, apesar das críticas feitas por alguns setores da sociedade civil. â€œà‰ inadmissível que prisões provisórias se justifiquem para forçar a confissão de acusados. O combate à corrupçà£o não legitima o atentado à liberdadeâ€, registra manifesto do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aprovado na terça-feira 2. Em 13 de novembro, atendendo a pedidos de Janot, os representantes das empreiteiras participaram de encontro com procuradores da força-tarefa, em Curitiba. Entre os presentes estavam os advogados Roberto Telhada, Maurà­cio Zanoide, Dora Cavalcanti, Alberto Toron, Celso Villardi e Pierpaolo Bottini. Cinco procuradores representavam a Operação Lava Jato, entre eles Carlos Fernando dos Santos Lima e Orlando Martello Júnior. Não houve consenso e os procuradores insistiam na fórmula defendida por Janot. No dia seguinte foi deflagrada a sétima etapa da Operaà§ão Lava Jato, batizada de Juízo Final, que levou para a cadeia executivos e diretores das principais empreiteiras do País. â€œÉ evidente que, com os seus principais quadros na prisão, muitos tendem a acatar as propostas da procuradoriaâ€, afirma um dos advogados. Em 16 de novembro, a Toyo Setal aceitou a delação premiada em termos muito próximos do que vem sendo buscado pelo procurador-geral e, em seus depoimentos, os executivos da empresa delataram a formação de cartel e listaram como beneficiários das propinas não só partidos da base do governo como também da oposição. Na quinta-feira 4, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, também teria feito acordo de delação premiada. Dez dias depois das prisões, o advogado Celso Villardi voltou a se reunir com Janot, mas o procurador não abriu mão de que haja a admissão de culpa de executivos e diretores das empreiteiras para que houvesse um acordo. O último encontro de Janot com representantes das empreiteiras ocorreu em Brasília, na terça-feira 2. Os advogados Celso Villardi, Maurício Zanoide, Dora Cavalcanti, Alberto Toron e Roberto Telhada levaram uma proposta de acordo que foi prontamente rechaçada. A exemplo do que é comum em paí-ses como os Estados Unidos e a Inglaterra, os empreiteiros admitem o pagamento de multas milionárias, concordam em colaborar com o Ministério Público fornecendo dados que permitam aprofundar as investigações, se comprometem a não repetir os mesmos erros, mas recusam a confissão das pessoas físicas e a abrir mão de recorrer aos tribunais superiores, caso julguem necessário. MAGISTRADOS - Zavascki, do STF (abaixo), vai investigar os políticos descobertos nos processos conduzidos por Moro (acima) De acordo com os advogados e ministros ouvidos por ISTOÉ, a postura tomada por Janot nas últimas semanas procura forçar as empreiteiras a aderirem ao acordo e acaba favorecendo o braço político do Petrolão. Há mais de dois meses a Justiça homologou a delaà§ão premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Isso significa que as informações prestadas por ele sobre os milionà¡rios desvios de recursos ocorridos na estatal passaram por uma primeira análise e foram consideradas relevantes. Com base nesses depoimentos e na comprovação de centenas de movimentações financeiras realizadas no Brasil e no exterior, diretores e executivos das maiores empreiteiras do País estão presos. Com os políticos acusados por Costa de receberem boa parte dos recursos roubados da Petrobrás a situação é outra, apesar de as provas serem as mesmas. Para que as investigações sobre eles sejam iniciadas é preciso que Janot faça uma denúncia ao ministro Teori Zavascki, do STF. O procurador-geral, no entanto, tem dito que só tomará essa medida depois de homologada a delação do doleiro Alberto Youssef. Enquanto isso, empreiteiros que continuam presos podem aderir ao acordão. Quando o caso chegar no STF, segundo os advogados ouvidos por ISTOÉ, os rumos poderão ser diferentes. “No STF poderemos saber exatamente do que somos acusados e responder a tudo, inclusive apontar todos os envolvidosâ€, asseguram pelo menos dois grandes empreiteiros citados na Operação Lava Jato. 4#2 VERGONHA! Depois de ser chantageado por decreto, o Congresso demonstra subserviência ao Palácio do Planalto ao aprovar irresponsabilidade fiscal do governo Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) O governo conseguiu quase tudo o que queria. Depois de muita resistência da oposição, os partidos aliados aprovaram o texto principal da alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para evitar que a presidente Dilma Rousseff incorra em crime de responsabilidade por encerrar o ano sem cumprir a meta de superávit primário. Nem de longe, porém, o Planalto pode tratar como vitória o que aconteceu no Congresso. Desde o dia 11 de novembro, quando o projeto de mudança na LDO foi enviado ao Parlamento, a realidade das contas públicas ficou exposta e a imagem de boa administradora da presidente Dilma se esvaiu. A oposição teve argumentos para aumentar o tom das crà­ticas e especialistas da área econômica e cidadãos que foram expulsos do Congresso durante a votação da proposta se mostraram indignados com a manobra. “O que a presidente está querendo é passar uma esponja na cena do crimeâ€, resumiu o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). Foram 22 dias de fritura atà© o resultado da votação em uma sessão que começou na manhã da quarta-feira 3 e terminou na madrugada da quinta-feira 4. DE JOELHOS - Após quase 19 horas de sessão, parlamentares aprovam projeto que viabiliza a manobra fiscal e permite ao governo fechar as contas deste ano As imagens das galerias vazias, da entrada do Congresso abarrotada de manifestantes e de policiais militares e de parlamentares exauridos física e moralmente refletem as afrontas à democracia que antecederam a votação do PLN 36. O governo agiu sem parcimônias para fazer valer sua vontade. Foi necessária a publicação de uma edição extra do “Diário Oficial da União†para assegurar a aprovação do projeto. Na sexta-feira 28 de novembro, a presidente assinou um surpreendente decreto condicionando a liberação de R$ 444,7 milhões em emendas parlamentares à autorização do Congresso para alterar a meta de superávit. Oficializou-se ali a chantagem do Palácio do Planalto ao Congresso, nunca antes tão explícita.“Hoje a presidente coloca de cócoras o Legislativo ao estabelecer que cada parlamentar aqui tem um preçoâ€, entoou da tribuna o senador Aécio Neves (PSDB-MG). AMEAÇA DE PAPEL PASSADO - Governo editou decreto (abaixo) condicionando uma nova liberação de R$ 444,7 milhões para as emendas parlamentares à aprovação da proposta que muda a meta fiscal de 2014 Constrangidos, poucos aliados ao Palácio ocuparam o púlpito do Congresso para defender a presidente. Os que se apresentaram restringiam o leque de argumentos à frase “o País não pode pararâ€. Apenas o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ousou no discurso. Nos bastidores, porém, as barganhas para a aprovação do projeto surtiram efeito. Alguns esforços feitos pelo Planalto para reconciliaà§ão entre aliados que se estranhavam deram certo. De persona non grata no Planalto, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), transformou-se em um valioso parceiro. Ele e a presidente Dilma mantinham há alguns anos uma péssima relação, mas, diante de uma ameaça de voto rebelde da bancada do PMDB, o deputado do Rio foi chamado e unificou os correligionários. O apoio pode ser pago com o aval de Dilma à sua candidatura à presidência da Câmara. A fatura do Planalto com o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), também alcançou níveis inéditos. Renan assumiu a responsabilidade de aprovar o projeto de alteração do superávit. Quando o relator da proposta, senador Romero Jucá (PMDB-RR), cometeu o deslize de solicitar que o governo reenviasse o projeto com pedido de urgência – manobra proibida por se tratar de tema orçamentário – Renan recompôs o ritmo da tramitação com a elaboração de um calendário especial. Ou seja, longe ou próximo dos holofotes, o presidente do Congresso atuou com o desembaraço político de costume. DESRESPEITO - Impedido de entrar nas dependências do Congresso, o povo protesta erguendo cartazes do lado de fora, enquanto o senador Renan Calheiros zomba dos manifestantes Mas, ao adotar medidas impopulares, Renan sofreu reveses que podem ter manchado ainda mais sua imagem pública. O experimentado presidente do Senado errou ao não saber administrar os protestos dos manifestantes apinhados nas galerias da Câmara, na noite de terça-feira 2. Visivelmente destemperado, o senador alagoano solicitou a retirada da claque das dependências do Congresso e criou uma grande confusão. Parlamentares subiram às galerias para evitar a intervenção da polícia legislativa, o que também foi uma atitude de desrespeito com os congressistas da Mesa Diretora. Os agentes de segurança perderam a cabeça e retiraram à força uma idosa de 79 anos. Imagens mostram policiais legislativos segurando a mulher com um golpe de “gravataâ€. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) reclamou do veto à participação popular. “A galeria está quieta. Isso é deprimenteâ€, bradou o parlamentar goiano. O povo foi calado – e expulso do ambiente que deveria ser considerado a casa do povo – e os peemedebistas cooptados pelo Planalto optaram pelo silêncio. Muitos só decidiram votar com o governo apà³s intensas reuniões com os líderes de bancada. No fim das contas, uma maioria de 240 parlamentares, contra 60, deu ao governo a liberdade de descumprir a meta fiscal. Mesmo massacrada pela robustez numérica da base do governo, uma combativa oposição como há muito não se via repetiu o que o PT fazia antes de chegar ao poder, mas que agora passou a condenar: o uso de todos os recursos regimentais disponíveis para obstruir a votação. Na sessão de análise de dois vetos presidenciais e da apreciação de um projeto que concede crédito complementar para a Previdência – direcionada ao fundo Aerus –, seguidos pedidos de verificação de quà³rum e longos discursos atrasaram a sessão. O objetivo dos parlamentares do PSDB, do DEM e do PPS era estender o debate até a manhã da quinta-feira 4 e, assim, tentar adiar a votação por mais uma semana. Prevaleceram, porém, as ameaças do governo a um Congresso subserviente e servil. CONTRASTE - Da tribuna, o senador Aécio Neves acusou o governo de cometer “irresponsabilidades atrás de irresponsabilidadesâ€. Do lado de fora do Congresso, José Sarney foi vaiado por manifestantes Os 22 dias que antecederam a manobra que rasgou a lei de responsabilidade fiscal marcaram uma série de maus exemplos para a democracia. Pelo menos duas vezes, parlamentares da base agrediram o regimento interno do Congresso para fazer valer a vontade do governo. A Câmara sucumbiu à sua tradição de “Casa do povo†e impediu cidadà£os de se pronunciarem durante a votação. Fora do Legislativo federal, a criatividade contábil do governo abriu um precedente para instâncias municipais e estaduais repetirem manobras sempre que estiverem à beira da irresponsabilidade fiscal. O aval do Congresso tira poder dos tribunais de contas estaduais e de assembleias e câmaras municipais de exigirem dos gestores respeito às diretrizes orçamentárias prefixadas. Satisfeito o pleito imediato do governo, o Congresso postergou para a prà³xima semana a continuação do debate. Os parlamentares voltarão a se reunir na terça-feira 9 para votar emenda apresentada pelo deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) que propõe teto para as despesas correntes do governo. O parlamentar restringe os gastos ao total executado no ano orçamentário anterior. A oposição conta ainda com a apreciação de mandados de segurança enviados ao STF com questionamentos sobre a manobra orçamentária do governo. Mesmo que o tribunal rejeite a iniciativa, o que é mais provável, o desgaste da imagem do governo e do Congresso já é uma realidade. 4#3 OS JANTARES DE CUNHA Em franca campanha pela Presidência da Câmara, o deputado Eduardo Cunha transforma os encontros com parlamentares ao redor da mesa numa espécie de ritual de promessas para angariar votos Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) Faz parte do anedotário político de Brasília apontar o Congresso como um mero palco de celebração dos acordos costurados à  mesa, em agradáveis reuniões regadas a vinhos selecionados, pratos sofisticados e tudo aquilo que os chefs da capital têm a oferecer de melhor. Nas últimas semanas, as refeições na Câmara ganharam um novo tempero. Nelas só se discute uma coisa: a candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência. Pode-se dizer que nunca, numa campanha ao comando da Casa legislativa, se jantou tanto. Na curta semana de três dias de trabalho parlamentar, o líder do PMDB promove jantares pelo menos duas vezes com deputados de diversas colorações partidárias. E serão mais 16 até a eleià§ão. Diferentemente do que ocorre nas sessões do Congresso, Cunha não precisa se esforçar muito para garantir o quórum. Ele e seus coordenadores de campanha estabeleceram em 25 comensais o número mínimo para abrir os trabalhos. A regra é clara e simples: são convidados 30 deputados, entre os reeleitos e não eleitos, e esses parlamentares têm a missão de levar mais dois acompanhantes, de preferência os novatos que tomarão posse em 2015. “A orientação é ter overbookingâ€, resume o deputado Lúcio Vieira Lima, um dos oito coordenadores da campanha de Cunha. O FAVORITO - Nos jantares promovidos por Eduardo Cunha, o candidato usa frases de efeito como "precisamos retomar a altivez do Congresso" e é hora de "resgatar o orgulho pelo broche parlamentar" Nos jantares de Cunha, rostos conhecidos se resumem aos dos anfitriões e aliados que estão à frente da agenda do candidato e dos planos de ação da campanha. Os demais são desconhecidos. Em uma Casa de 513 parlamentares composta por não mais que 60 deputados com status de “estrelaâ€, o candidato à presidência da Câmara aposta no chamado “Baixo Clero†para ganhar as eleições. Os 198 deputados que desembarcarão no Congresso pela primeira vez têm prioridade nos jantares. Cunha quer ser a referàªncia, o primeiro contato dos novatos. Os convites para jantar foram a forma que Cunha escolheu para vender a tese aos novos deputados de que ele comanda a fraternidade mais popular da Câmara. Para dar aos encontros uma atmosfera mais intimista, o candidato preferiu escolher como palco as próprias residências de amigos e correligionários, em vez de promover os jantares em restaurantes ou espaços corporativos. Assim, nas três últimas semanas, os deputados Newton Cardoso (PMDB-MG), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Washington Reis (PMDB-RJ) e Júnior Coimbra (PMDB-TO) emprestaram suas casas para os jantares de Cunha. Coube aos anfitriões a escolha do cardápio. Convidados do candidato à presidência da Câmara relataram à ISTOÉ que as recepções são sofisticadas, mas sem grandes extravagâncias. No jantar que precedeu a votação do projeto que alterou a meta de superávit prevista para 2014 foram servidos vinhos chileno da vinícola Quintay e o português Herdade dos Grous. Apesar da ausência de excessos, as residências oficiais adquirem uma decoração caprichada. Flores e iluminação indireta disfarçam a natureza institucional do jantar. As reuniões não duram mais que duas horas. Mesmo assim, ninguà©m entre os organizadores demonstra pressa. Tudo parece transcorrer de forma bem natural, mas a busca por votos, na verdade, obedece a uma espécie de ritual predeterminado. Na liturgia adotada minuciosamente pelo peemedebista, quem recebe o comensal à porta é sempre o dono da casa. O anfitrião faz um breve pronunciamento de boas-vindas e só então passa a palavra ao candidato à presidência da Câmara. O discurso de Cunha é considerado o “ponto alto†do jantar. A retórica do deputado do PMDB soa como música aos ouvidos dos convidados ao mesmo tempo que inclui um elemento perigoso ao Palà¡cio do Planalto. O candidato promete, por exemplo, fazer com que as emendas coletivas de bancadas, as que realmente alcançam altas cifras do orçamento, tornem-se impositivas. Num momento de aperto fiscal, carimbar as emendas de bancadas como “obrigatórias†é tudo o que o Planalto não quer a partir de 2015. Para adoçar a boca dos comensais presentes, pequenos mimos também são prometidos. Cunha tem ouvido relatos constantes de deputados sobre a situação dos gabinetes. Aparelhos telefônicos usados pela Casa e alguns computadores estão obsoletos. Diante do quadro, ele garante que irá reformar os gabinetes. Outro ponto frequentemente debatido pelo deputado do Rio é a ampliação da Procuradoria Parlamentar. O órgão é responsável por representar os parlamentares na Justiça. Sempre que um deputado se considera ofendido ou prejudicado, ele pode acionar a procuradoria. Mas o número de funcionà¡rios do setor é pequeno. Na linha de frente da defesa dos colegas, o candidato se compromete a ampliar o departamento. Mas o que tem chamado, mesmo, a atenção dos convidados dos jantares é o discurso de Cunha sobre a valorização da categoria. Quando o tema surge na pauta, o candidato entoa uma cantilena típica de uma preleção de técnico de futebol às vésperas da partida decisiva. Em meio a frases de efeito como “precisamos retomar a altivez do Congressoâ€, Cunha convoca os colegas a resgatarem o “orgulho pelo broche parlamentarâ€. A refeição é servida em três ou quatro mesas que comportam oito pessoas. Após a jantar, o ambiente se torna leve como pluma. É hora das risadas. Nos momentos de descontração comenta-se em tom de pilhéria o que chamam de “desespero†do governo com o crescimento da candidatura. Na verdade, o que se viu nos últimos dias foi quase uma rendição do Planalto em relação à aspiração de Eduardo Cunha. Diante do acúmulo de apoios ao candidato do PMDB, hoje mais favorito do que nunca para vencer a eleição, um pragmático Planalto ensaia não fazer mais oposição à sua candidatura. Em troca, obteve o empenho dele para aprovar o projeto da manobra fiscal patrocinada pelo governo no Congresso. Deu certo. “Ele unificou a bancada. Eu tinha uma posição contrária, mas votei favorávelâ€, afirma o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). No PT, diz-se que o sucesso da votação pode realmente ter mudado a cabeça do governo em relação ao peemedebista que transformou os prazeres da boa mesa em seu principal palanque. Não será surpresa se, num prà³ximo jantar, algum emissário do Planalto marcar presença entre os comensais. 4#4 PROPINA PELO "CAIXA 1" DO PT Depoimento de executivo da Toyo Setal confirma denúncia antecipada por ISTOÉ de que dinheiro desviado abasteceu a contabilidade oficial de partidos da base do governo. Temor no Planalto é que revelação influencie análise das contas de campanha de Dilma Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Na semana passada, em um dos mais importantes depoimentos até entà£o sobre o esquema de desvios de recursos da Petrobras, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo do grupo Toyo Setal, relacionou pela primeira vez o pagamento de propina às doações oficiais feitas ao PT por fornecedores da estatal. Mendonça Neto disse a procuradores e policiais da Operação Lava Jato que o PT, entre 2008 e 2011, recebeu parte da propina na forma de contribuição ao partido por meio do “caixa 1†de campanha. A confissão confirma reportagem de capa de ISTOÉ publicada há duas semanas. Baseada em relatórios sigilosos da investigação e em conversas com delegados e procuradores, ISTOÉ revelou que PT, PMDB e PP usaram “de forma estruturada†o “caixa 1†de campanhas eleitorais para lavar o dinheiro desviado. As doações ao PT foram intermediadas pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, que era o elo com o tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. O lobista Fernando Baiano fez a ponte com o PMDB. No caso do PP, o intermediário foi o próprio ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, que assumiu função antes exercida pelo ex-deputado José Janene, morto em 2010. E AGORA? - Segundo o empresário Augusto de Mendonça Neto (abaixo), R$ 4 milhões foram repassados oficialmente ao PT, representado pelo tesoureiro João Vaccari Neto (acima) Ao confirmar o uso da contabilidade oficial do PT para ocultar operações financeiras ilegais, Mendonça Neto coloca em suspeiçà£o a contabilidade do PT em meio à campanha de Dilma Rousseff em 2010. No Palácio do Planalto, o sinal de alerta foi aceso, pois é exatamente o caixa oficial do PT que hoje se encontra submetido à anà¡lise do ministro do STF, Gilmar Mendes, responsável por julgar a contabilidade da campanha à reeleição. Apesar de o relato de Mendonça Neto se referir à campanha de 2010, há um temor no Planalto de que, na devassa promovida nas contas de Dilma de 2014, sejam encontradas conexões do mesmo esquema. Para investigadores da Lava Jato, há indícios de lavagem de dinheiro também na campanha deste ano. Se irregularidades graves forem descobertas na contabilidade da campanha, os ministros do STF podem – em último caso – atà© impedir a diplomação da presidente, apesar de esta hipótese ainda depender do prazo a ser exercido por Gilmar Mendes para concluir seu parecer. A oposição, antes cautelosa, já fala em “ilegitimidade†do mandato de Dilma. “Estou estarrecido. Se isso (o depoimento do executivo da Toyo Setal) for verdadeiro, temos um governo ilegítimo no Brasil. É a denúncia mais grave que surgiu até aquiâ€, afirmou o presidente do PSDB, Aécio Neves.“Se houve uso do petrolão em 2010 e o esquema continuou operando até agora, é necessário apurar se a fonte não irrigou também a campanha de 2014. Temos uma presidente sob suspeitaâ€, fez coro o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA). DESDOBRAMENTO - O ministro Gilmar Mendes ganhou novos subsídios para julgar as contas da campanha de Dilma Para garantir a homologação do acordo de delação premiada, os executivos já apresentaram provas. Mendonça Neto, por exemplo, forneceu à força-tarefa da Operação Lava Jato cà³pias das notas físicas frias utilizadas para justificar a saída dos recursos, bem como contratos de prestação de serviços que nunca foram executados. Mendonça Neto explicou que a propina foi paga em doações oficiais feitas ao PT, entre os anos de 2008 e 2011, pelas empresas Setec, PEM Engenharia e SOG Óleo e Gás. O prà³prio Duque teria pedido as contribuições ao empresário, cujo acerto final acabou discutido pessoalmente com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, no próprio diretório do partido em São Paulo. “O valor das doações foi de aproximadamente R$ 4 milhõesâ€, disse o delator. Na Justiça Eleitoral, os registros oficiais de empresas do grupo Toyo Setal ao PT somam R$ 3,4 milhões. Desse total, R$ 2 milhões foram repassados em 2010, ano em que Dilma foi eleita pela primeira vez. Dentre os parlamentares beneficiados estão os senadores petistas Delcídio Amaral (MS), Lindbergh Farias (RS) e Marta Suplicy (SP), que juntos receberam R$ 850 mil. Os deputados federais João Paulo Cunha (SP) e Jilmar Tatto também embolsaram R$ 150 mil em doações legais de empresas do grupo. Só a SOG Óleo e Gás registrou doações legais aos deputados federais Carlos Santana (PT-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ), a Jandira Feghali, líder do PCdoB na Câmara, e a Eliseu Padilha (PMDB-RS), cotado agora para assumir o Ministério da Integração. O maior destinatário das doações da SOG foi Celso Russomanno, derrotado na disputa pelo governo de São Paulo em 2010 pelo PP. Este ano ele foi eleito deputado federal pelo PRB. 4#5 ESCÂNDALO DO METRÔ: O CERCO SE FECHA Polícia Federal indicia envolvidos no cartel de trens em São Paulo, bloqueia milhões de reais no exterior e cumpre pedido da Justià§a suíça de busca e apreensão na casa de ex-diretor da CPTM Alan Rodrigues (alan@istoe.com.br) Na última semana, a Polícia Federal deu passos importantes nas investigações sobre o chamado “trensalãoâ€, cartel de trens que operou nos governos paulistas do PSDB, entre 1988 e 2008. Na quarta-feira 3, foram indiciadas 33 pessoas ligadas ao esquema. Entre os denunciados estão servidores públicos, doleiros, empresários e executivos de multinacionais do setor de transporte sobre trilhos, que teriam participado do conluio para vencer licitações e obter contratos com o Metrô de São Paulo e a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Os envolvidos, que já estão com R$ 60 milhões bloqueados, responderão por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, formação de cartel e crime licitatório. NA MIRA - João Roberto Zaniboni, ex-dirigente da CPTM, acumulou um saldo de US$ 826 mil numa conta secreta na Suíça Um dia antes, na terça-feira 2, os agentes da PF cumpriram uma ordem de busca e apreensão na casa do ex-diretor da CPTM João Roberto Zaniboni. A atuação dos policiais aconteceu em atendimento a um pedido autônomo de autoridades suíças que investigam valores suspeitos depositados na conta de Zaniboni no país europeu. Os procuradores suíços querem saber as fontes das remessas. Eles já descobriram que algumas dessas transferências foram realizadas a partir de offshores sediadas em Montevidéu, no Uruguai. O ex-diretor da CPTM chegou a ter um saldo de US$ 826 mil numa conta secreta chamada Milmar – uma homenagem às suas duas filhas –, no Credit Suisse de Zurique. Zaniboni nega que o dinheiro seja oriundo de propina e alega que recebeu por consultorias. “Nenhum documento apreendido compromete a honra do sr. Zaniboni, um homem com mais de 50 anos de serviço público e dedicação ao governo de São Paulo. Ele tem a consciência absolutamente tranquilaâ€, afirma o advogado Luiz Fernando Pacheco. Na diligência, um representante da Procuradoria, um delegado, dois agentes, um perito e um escrivão copiaram dados do computador e recolheram documentos. Chama a atenção dos investigadores a correlação entre as decisões tomadas por Zaniboni, enquanto diretor da CPTM, e os depósitos feitos em sua conta fora do País. A dinheirama era depositada logo após ele assinar aditamentos em contratos firmados pela CPTM e empresas acusadas de integrar o cartel dos trens. O cartel metroferroviário foi denunciado pela multinacional alemã Siemens em acordo de leniência celebrado com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em maio de 2013. As denúncias contra autoridades de governos tucanos de São Paulo foram antecipadas em uma série de reportagens de ISTOÉ. Na ocasião, a Siemens revelou que o cartel agiu durante pelo menos uma década. __________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 10.12.14 5#1 A VAIDADE QUE DESTRÓI 5#2 OS MUSEUS ESTÃO VIVOS 5#1 A VAIDADE QUE DESTRÓI O drama da apresentadora Andressa Urach, que está na UTI em função de um procedimento estético malsucedido, mostra os riscos de buscar a beleza a qualquer custo Cilene Pereira, Fabíola Perez, Helena Borges, Mônica Tarantino e Paula Rocha Até a sexta-feira 5, a apresentadora Andressa Urach, 27 anos, permanecia na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Nossa Senhora da Conceià§ão, em Porto Alegre. Ela estava no hospital havia seis dias, internada para tratar complicações surgidas por causa da colocação de uma substância na forma hidrogel para aumentar as coxas. O produto vem sendo utilizado de maneira incorreta em procedimentos estéticos como a que Andressa se submeteu e é, já há algum tempo, um dos alvos de maior preocupação dos médicos. Entre outras ameaças à saúde, pode provocar infecções, cegueira e até a morte. “Ele é extremamente nocivo. É uma bomba relógio que uma hora ou outra irá explodirâ€, afirma João de Moraes Prado Neto, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC). PERIGO - Cinco anos depois de aplicar hidrogel, Andressa foi parar na UTI por conta de complicações provocadas pela substância Andressa sentia dores na região desde março. Em julho, submeteu-se à primeira cirurgia para a retirada do produto colocado há cinco anos. Seis dias depois, a apresentadora foi internada em São Paulo, com febre. Ela estava com uma inflamação decorrente dos resíduos do hidrogel que permaneciam em seu organismo. De lá para cá, seu estado foi piorando, até culminar na internação na UTI. Semanas antes de o drama da apresentadora ser divulgado, o País jà¡ havia conhecido uma tragédia fatal, dessa vez em Goiânia. Lá, uma mulher de 39 anos, Maria Medrado, morreu após ter se submetido a um implante no glúteo de uma substância que pode ser hidrogel ou até silicone industrial – uma análise toxicolà³gica irá dirimir dúvidas (leia mais detalhes no quadro à pág 60). Maria e Andressa são as vítimas mais recentes de uma espécie de submundo do mercado da beleza que persiste no País. Uma zona nebulosa, em que compostos químicos são misturados de forma indevida ou ilegal e sem o mínimo de preparo por profissionais irresponsáveis ou golpistas de ocasião. Esta combinação compõe uma teia que escapa à fiscalização e atrai jovens dispostas a tudo para obter formas consideradas perfeitas. E, de preferàªncia, a um custo mais baixo do que o desembolsado em clínicas que atuam de maneira correta e dispõem dos produtos apropriados. Nesse cenário, o exemplo do hidrogel é perfeito. Trata-se de um polímero sintético utilizado para preenchimento cutâneo. O hidrogel “Aqualift†é indicado para correção de defeitos, contornos, assimetria de tecidos e na eliminação de alterações específicas da idade nos tecidos moles faciais. O produto pode ser encontrado nas versões face e corpo. De acordo com o que determina a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a quantidade a ser injetada no rosto pode variar de 1 a 50 mililitros (ml). No corpo, de 25 ml a 30 ml. Porém, Andressa – e dezenas de outras jovens – tiveram implantadas concentrações bastante superiores. A apresentadora, por exemplo, recebeu 400 ml de hidrogel em cada coxa. O segundo problema diz respeito à durabilidade do produto. Ele é vendido aos clientes como uma substância absorvível. Ou seja, se algo der errado, o próprio corpo se encarregaria de resolver. Em no máximo cinco anos não haveria vestígio do composto. Mas isso não é verdade. “Ele se impregna nos tecidos e fica impossível retirá-lo totalmenteâ€, afirma o cirurgião Prado Neto, da SBPC. “Aos poucos, isso pode causar processos inflamatà³rios recorrentes extremamente nocivosâ€, acrescenta. Para completar o desastre, normalmente quem injeta a substância nà£o é médico – os profissionais sérios preferem opções reconhecidamente seguras, como o ácido hialurônico ou a realização de enxertos de gordura para remodelar áreas mais extensas. Uma zona turva existente no campo das normas que regulam as atribuições de cada profissional da área de saúde autoriza biomédicos e fisioterapeutas, por exemplo, a realizar esses procedimentos. Sob protesto do Conselho Federal de Medicina (CFM). “A lei é clara: os procedimentos invasivos devem ser executados apenas por médicos, que são os profissionais devidamente capacitados para tantoâ€, afirma Carlos Vital, presidente do CFM. Porém, apesar do protesto médico, os conselhos dos fisioterapeutas e dos biomédicos emitiram resoluções nas quais permitem que seus associados executem intervenções invasivas. O CFM entrou na Justiça questionando o pleito. Mesmo quando o profissional responsável pela aplicação à© realmente médico, em grande parte dos casos ele não é cirurgião plástico ou dermatologista, os dois especialistas mais habilitados a fazer procedimentos do gênero. “Os riscos se multiplicam quando o procedimento é feito por pessoas que não conhecem anatomia e não sabem como proceder se houver complicaçõesâ€, afirma a dermatologista Gabriella Correa de Albuquerque, coordenadora de cosmiatria da regional fluminense da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Na mesma categoria de risco do hidrogel está o metacrilato (PMMA). A apresentadora Andressa também tinha a substância implantada. Trata-se, neste caso, de um preenchedor definitivo. “Essa substância é um dos nossos pavores. Pode causar necrose nos tecidos e embolia pulmonar, entre outros problemasâ€, explica o cirurgião plástico Fernando Almeida Prado, presidente da regional paulista da SBPC. Isso ocorre, por exemplo, quando a pessoa que aplica a substância desconhece anatomia e a insere em um vaso sanguíneo, por exemplo. Ou se o composto migra pelo organismo e se aloja em alguma artéria. Os problemas podem ser imediatos ou a longo prazo. â€œÉ possà­vel que as complicações ocorram em um período que varia de três a 20 anos após a inserçãoâ€, alerta Alessandra Grassi Salles, responsável pela área de cosmiatria, laser e cirurgia plástica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo. Ela acompanha há mais de 11 anos pacientes que sofreram complicações decorrentes do uso do PMMA. Há casos de cegueira, deformações graves, perda de movimentos. “Não se justifica usar preenchedores definitivos em partes moles como a face, bumbum, panturrilhas e coxas. Há evidências científicas mostrando as chances de complicações e a impossibilidade de remover completamente a substânciaâ€, diz a médica, que pertence a um recém-criado comitê de segurança da SBPC. Em 2008, ela publicou um trabalho importante na revista “Plastic Reconstructive Surgery†comprovando as consequências imediatas e de longo prazo dos preenchedores definitivos. Atualmente, a médica estuda terapias clínicas e cirúrgicas para amenizar as sequelas de pacientes que fizeram uso dessas substâncias. A fiscalização sobre o uso desses produtos é questionável. Na determinação da Anvisa, o hidrogel, por exemplo, era atà© recentemente comprado em uma importadora (no momento não há nenhuma empresa fazendo a comercialização). Quem podia adquiri-lo eram clínicas, médicos e pessoas com receita. Mas a Anvisa afirma que a fiscalização sobre o uso do composto não é de sua competência. Os conselhos regionais de medicina teriam essa atribuição. Mas, novamente, cai-se aqui na confusão de quem pode ou não pode usar o produto. E os fisioterapeutas, por exemplo? Estariam sujeitos à fiscalização de quem? Não está nos planos da Anvisa a implementação de qualquer programa específico nessa área. “Não há indícios que justifiquem a criação de um programa de monitoramento de tratamentos estéticosâ€, acredita Leandro Pereira, gerente de Tecnologias de Materiais de Uso em Saúde da Anvisa. A existência de um quadro como esse é extremamente preocupante, principalmente quando se sabe que a população brasileira é uma das mais vaidosas do mundo. O Brasil é o primeiro colocado no ranking mundial de cirurgias plásticas e ocupa lugar de destaque na lista dos que mais realizam procedimentos não invasivos, como aplicaçà£o de toxina botulínica (conhecida como botox) e de preenchedores de sulcos e rugas. Por isso, não surpreende constatar que um imenso contingente de mulheres – mais do que homens – esteja disposta a se submeter a intervenções arriscadas para tentar ficar mais bonita. Principalmente quando essas intervenções custam bem menos do que os procedimentos padrão. Para se ter uma ideia, um mililitro de hidrogel custa cerca de R$ 50. A mesma quantidade de ácido hialurà´nico sai por R$ 500. A cultura nacional do culto ao corpo atinge até mesmo as mulheres mais jovens, que em princípio não teriam necessidade de se submeter a intervenções estéticas. Andressa, por exemplo, resolveu se submeter ao implante de hidrogel e de PMMA porque queria resultados rápidos. “Ela desejava ser assistente de palco e chegou a afirmar que não tinha tempo para malhar e então optou por essas substânciasâ€, contou seu assessor Cacau Oliver. Para a psicóloga Denise Brandão, professora titular de pós-graduação em psicologia clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a procura pelo corpo ideal à© uma maneira de essas mulheres lidarem com problemas emocionais como baixa autoestima ou insegurança. “Elas projetam para a aparência externa uma insatisfação internaâ€, diz Denise. â€œÉ por esse motivo que, depois de um procedimento estético, logo surge a necessidade de realizar outroâ€, explica. Com base em entrevistas realizadas com pacientes, a psicóloga chegou à conclusão de que a felicidade experimentada após uma intervenção estética satisfatória dura em média dez meses. “Depois desse período a mulher se descobre insatisfeita com outra parte do corpo, mas nada do que ela faça em relação à própria beleza vai aplacar a angústia que senteâ€, diz. Esse sentimento, segundo Denise, é o que motiva muitas pessoas a recorrer a procedimentos considerados perigosos. “A dor de não ser como se deseja é maior do que a ameaça que o tratamento arriscado apresentaâ€, diz. “São mulheres tão inseguras e infelizes que preferem correr o risco de morrer a continuar ‘feias’â€, afirma. O combustível que alimenta esse ambiente no qual é obrigatório estar com as formas impecáveis é a adoração às celebridades – mulheres que surgem com aparência jovem e irretocável, despertando nas comuns mortais o desejo de ser exatamente como elas. “Essa indústria cria uma ilusão de que essas mulheres lindas e maravilhosas são mais felizes. Por isso muitas jovens projetam no corpo a expectativa de uma vida melhorâ€, diz a psicóloga. Infelizmente, porém, há casos em que se tornam tragicamente vítimas de uma vaidade que só destrói. 5#2 OS MUSEUS ESTÃO VIVOS Exposições interativas e o uso das redes sociais mudam o jeito de os brasileiros consumirem arte e atraem público recorde para instituições culturais em 2014 Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Uma cena já se tornou comum em vários museus e centros culturais do País: do lado de fora dessas instituições, centenas ou até milhares de pessoas se aglomeram em enormes e demoradas filas para ter a chance de visitar exibições de arte. Esse fenômeno, que até alguns anos atrás se restringia às exposições de grandes mestres como Auguste Rodin e os Renascentistas, hoje se tornou padrão até em mostras de artistas menos conhecidos. Uma das exposições mais visitadas do Brasil em 2014 foi a da artista plástica japonesa Yayoi Kusama que, mesmo não sendo muito popular por aqui, atraiu mais de 750 mil pessoas somente ao Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro – em São Paulo, outros 522 mil visitantes foram conferir suas obras de perto. Vistas por mais de 300 mil pessoas no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio, as esculturas hiper-realistas do australiano Ron Mueck, também pouco conhecido no País, atualmente geram longas filas em torno da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A procura expressiva pela arte desses e de outros artistas menos famosos pode ser explicada por dois fatores: obras interativas ou imersivas e o uso cada vez maior das redes sociais, que garantiram recordes de visitação para as exposições em 2014 e caracterizam uma nova forma de o brasileiro consumir arte. OLHA EU AQUI - Visitantes tiram selfies junto às obras de Ron Mueck, na Pinacoteca de São Paulo, e postam nas redes sociais A demanda crescente do público por exposições no Brasil mostrou seu potencial e atingiu dimensões de fenômeno cultural em 2011, quando a mostra “O Mundo Mágico de Escherâ€, dedicada ao ilustrador holandês M.C. Escher, levou mais de 670 mil pessoas ao CCBB Rio. O diferencial daquela exibição foi oferecer aos visitantes um ambiente onde eles pudessem “entrar†e se fotografar em uma obra do artista, o que gerou muita repercussão nas redes sociais e, por consequência, mais interesse pela exposição. “Tanto na mostra do Escher quanto na da Yayoi Kusama, muitas pessoas na fila nem sabiam quem era o artistaâ€, diz Pieter Tjabbes, sócio diretor da produtora ArtUnlimited, responsável pela montagem de várias exibições de sucesso. “Mas não acho que isso seja uma coisa ruim. O brasileiro gosta de poder se fotografar em uma exposição e já percebeu que não precisa ser entendedor de arte para apreciá-laâ€, diz. O sucesso de público das mostras recentes no País e a preferàªncia dos brasileiros por obras imersivas e interativas acabou alterando também a forma como as exposições internacionais chegam ao Brasil. “Antes as exibições vinham prontas de fora e o público brasileiro via uma mostra da mesma forma que ela havia sido apresentada na França ou em Londres, por exemploâ€, diz Marcelo Mendonça, gerente geral do CCBB Rio. Hoje, segundo Mendonça, o comportamento do público brasileiro dita a expografia das exibiçàµes. “A sala dos espelhos na exposição do Salvador Dali, onde os visitantes podem se fotografar, foi um pedido nosso, pois sabemos que os brasileiros gostam de interagir com as obras de arteâ€, diz. A mostra do mestre do surrealismo foi vista por 978 mil pessoas durante os três meses em que esteve em cartaz no CCBB Rio, quebrando todos os recordes de visitação do centro cultural carioca, e atualmente está no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. A capital paulista também sedia a exposição “Leonardo da Vinci, a Natureza da Invençãoâ€, cujos inventos, que podem ser manipulados e testados pelo público, já atraíram mais de 39 mil pessoas ao Centro Cultural Fiesp desde a inauguração da mostra, em 11 de novembro. INTERAÇÃO - Público testa os experimentos de Leonardo da Vinci, no Centro Cultural Fiesp Enquanto a procura pelas exposições temporárias explode no País, museus tradicionais, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), cuja média anual de visitantes atinge 800 mil pessoas, têm de enfrentar o desafio de angariar mais público utilizando como atrativo seus próprios acervos. Depois de sanar uma dívida tributária e trabalhista que somava R$ 12 milhões, o museu planeja para 2015 uma série de mostras que devem explorar as peças menos conhecidas ou divulgadas de seu rico acervo, de oito mil itens. “Nosso desejo é que o público volte a conviver com o acervo e com o prédio do Masp de uma forma mais abrangente.Por isso vamos retomar também os cavaletes do projeto original de Lina Bo Bardiâ€, diz Heitor Martins, novo presidente do museu paulista. Sobre o número de visitantes da instituição, Martins admite que “gostaria que ele fosse maiorâ€, em consonância com o tamanho e a importância do museu. “Mas não dá para comparar a visitação de uma mostra temporária e inédita no País com a procura pelo acervo de museus tradicionaisâ€, diz. __________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 10.12.14 ENZIMA ARTIFICIAL Pela primeira vez, cientistas criam molécula que pode interferir no DNA e mudar o tratamento de doenças como o câncer Por Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) e Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) Apartir do ano que vem, os livros de biologia provavelmente irão conter mais um elemento no capítulo que explica as estruturas que carregam as instruções genéticas da vida, como o DNA. Na semana passada, cientistas do Conselho de Pesquisa Médica (Medical Research Council), em Cambridge, na Inglaterra, anunciaram a criação de molà©culas sintéticas que têm o poder de armazenar informaçà£o genética. Mais do que isso, os pesquisadores descobriram meios de fazê-la desencadear reações químicas que permitem a elas se ligar ou se desligar de outras estruturas, como o RNA, molécula que também guarda informação genética e que está presente em todas as células. Elas estão sendo chamadas de XNAenzymes. “Até recentemente, pensava-se que as moléculas de DNA e RNA fossem a única forma de armazenar informação genà©ticaâ€, disse à ISTOÉ o cientista brasileiro Vitor Pinheiro, do Instituto de Biologia Estrutural e Molecular da University College of London e um dos autores do estudo. O trabalho foi publicado pela revista científica “Natureâ€. A descoberta é considerada um avanço muito importante porque amplia a forma de pensar a origem da vida e inaugura novos caminhos na medicina. “São as primeiras enzimas artificiais do mundo criadas com material genético que não existe na naturezaâ€, explicou Pinheiro. Os cientistas acreditam que essas novas estruturas agem de modo similar às primeiras enzimas existentes no planeta quando a vida surgiu na Terra. VANGUARDA - O brasileiro Vitor Pinheiro faz parte do grupo de pesquisadores que desenvolveu a nova estrutura para guardar dados genéticos No campo da medicina, espera-se que as novas moléculas ajudem, por caminhos inéditos, a combater doenças como o câncer e até mesmo a conter vírus como o ebola. “A perspectiva é que elas interfiram com o DNA das células, impedindo, por exemplo, que se repliquemâ€, diz o cientista. ______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 10.12.14 A ESPANHA MANDA DIZER Os espanhóis vivem maus momentos, com desemprego e separatismo ameaà§ando a estabilidade. Mas o ex-premiê José María Aznar e o mago da cozinha Ferran Adrià não pouparam conselhos a empresà¡rios brasileiros reunidos em Barcelona. Os dois defenderam mudanças Gisele Vitória, de Barcelona Além de ilustres espanhóis, José María Aznar, ex-premiê do país (1996-2004), e o chef de cozinha Ferran Adrià parecem falar línguas diferentes. Ferran discursa num catalão difà­cil de entender; Aznar é dono de um claríssimo castelhano. Ferran é informal e agitado. Aznar é formal e comedido. Ferran transita no universo da arte e da culinária e transforma alimentos no paà­s da cozinha; Aznar alimenta a política com a receita da conciliação e transforma palavras em diretrizes econômicas. Mas hà¡ algo de essencial que os dois têm em comum. O mago da cozinha, que fechou no auge o seu El Bulli, e o líder político, que com o seu partido de volta ao poder tenta domar a crise destruidora de milhões de empregos, desejam uma Espanha unida. RECADOS - "O Brasil não deveria cometer o erro de mal-interpretar os resultados eleitorais. É preciso um novo impulso reformista", discursou Aznar. Ele defendeu que o País trate melhor a sua classe média Mas cada um a seu modo. No delicado filme de animação “As Aventuras de Azur e Asmar†(2006), do francês Michel Ocelot, o sonho de encontrar a fada dos Djinns para alcançar a felicidade moveu dois jovens rivais em caminhos desafiadores. E os libertou dos males da intolerância entre os povos. A obra mostra que as diferenças entre as nações servem para revelar a pluralidade das culturas e podem unir, em vez de afastar. Nas aventuras da vida real de Ferran e Aznar, que nem mesmo são rivais, o cenário é o de uma Espanha que tenta se recuperar da crise econômica iniciada em 2008. Com uma taxa de desemprego na casa dos 23% (entre os jovens, mais de 40%), o país vive uma crise política deflagrada pelo furor separatista da Catalunha. A despeito da efervescente campanha pela independência catalã, Ferran não faz barulho, mas se mostra simpático ao status quo. Aznar ataca a ameaça da harmonia entre espanhóis. Donos de estilos inconfundíveis, ambos acreditam na paz entre as diferenças. Outro ponto em comum entre eles é a certeza de que o Brasil precisa mudar mais rapidamente. Na tarde da sexta-feira 28, em momentos diferentes no hotel W, em Barcelona, eles falaram exatamente disso. No auditório do prédio em formato de vela às margens do Mar Mediterrâneo, transmitiram conselhos semelhantes aos líderes brasileiros durante o 19º Meeting Internacional do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Recados, talvez, de quem tenha sentido na pele o baque da crise. Eis o de Ferran: â€œÉ preciso saber a duríssima hora de tomar decisões drásticasâ€. Eis o de Aznar: “Minha experiàªncia me diz que o Brasil se encontra numa encruzilhada histórica, semelhante à Espanha de 2004. Me permitam dizer: o Brasil não deveria cometer o erro de mal-interpretar os resutados eleitorais. O País necessita de um segundo impulso reformista que permita forrar as melhorias do passado.†Doria, Aznar, Moreira Franco e empresários brasileiros Mesmo num intrincado catalol – misto de espanhol e catalão –, Ferran Adrià encantou em sua breve fala durante o almoço com 86 empresários, artistas e senadores como Marta Suplicy (PT-SP) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), além do ministro da Aviação Civil, Moreira Franco. Ferran explicou o que o levou a fechar no auge o seu mítico restaurante em Roses, na Espanha. O chef hoje exercita seu espírito empreendedor dando aulas em Harvard. Partiu para sociedades em vários outros restaurantes na Espanha. E dá prosseguimento ao projeto da Fundação El Bulli, um complexo de inovação voltado à gastronomia, que está sendo construído na mesma região do restaurante que foi fechado. “Fechei o El Bulli para não fechar o El Bulliâ€, disse. “Foi uma decisão pela mudançaâ€, disse. Uma hora depois, era a vez de Aznar dar o seu contundente recado. Durante sua análise sobre o Brasil e a América Latina, ex-primeiro-ministro abordou também a crise do separatismo em seu país, alertando para os movimentos populistas. Acusou os separatistas de “colocar em perigo os fundamentos da convivência entre os espanhóisâ€. Classificou de grave erro a proposta de independência da Catalunha. “Não há meio-termo entre a ruptura de um país e a continuidade histórica.†Aznar elogiou as gestões prósperas dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, mas não citou a presidente Dilma Rousseff. Mais tarde, durante o jantar no hotel, ele foi colocado em contato por telefone com FHC. “Somos muito amigosâ€, resumiu à IstoÉ, sem querer dar entrevistas. O ex-premiê apenas riu quando indagado por que não citou Dilma em seu discurso. Aznar e FHC aceitaram o convite para um encontro no Brasil, em abril, no Fórum de Comandatuba (BA). A expectativa é de que Mario Vargas Llosa também participe. “Cada um tem as próprias convicções, mas ouvi um estadista que conhece os valores da democracia e de um mundo sem fronteiras que valoriza os princípios que regem o intercâmbio cultural e econômicoâ€, disse o anfitrião João Doria Jr., presidente do Lide. “Foi uma lição de democracia contemporânea.†A ORDEM É INOVAR - "É preciso saber a hora de tomar decisões drásticas", recomendou o chef catalão Ferran Adrià, que fechou no auge o El Bulli, por cinco vezes eleito o melhor restaurante do mundo O ex-primeiro-ministro defendeu medidas para o Brasil, como a independàªncia do Banco Central. “São necessárias reformas mais profundas que completem as reformas macroeconômicas e garantam uma economia competitivaâ€, disse. “Lula prolongou o projeto de prosperidade que começou com FHC, que liberou as contas públicas e atacou a inflação.†Aznar lembrou que o Brasil é o principal destino de empresas espanholas que querem investir. Para ele, foi uma decisão acertada das empresas, que somam 64 bilhões de euros em investimentos no País desde o fim dos anos 1990. Quanto ao futuro do Brasil, Aznar vê dúvidas. “O momento precisa ser enfrentadosâ€, diz. “Todo processo eleitoral gera incertezas e divisão social.†Ele citou a onda de protestos como manifestações de uma classe média urbana beneficiada em duas décadas de crescimento e, agora, mais consciente e exigente. “Essa classe média deve ser escutada e atendidaâ€, disse. “Um dos objetivos de uma nação é formar uma classe média ampla, sólida e capaz de resistir aos ventos de uma crise. É a coluna vertebral de uma sociedade.†O ex-premiê criticou ainda a inflação superior a 6% e a corrupção. “A percepção de que a corrupção e a impunidade estão na classe política ameaça a democracia. E deve ser atacadaâ€, observou. Os recados que não pouparam também a Espanha ganharam um vigor contagiante no auditório de 100 pessoas, a maioria empresários brasileiros e alguns espanhóis. E, como se dividisse o receituário que busca prescrever para o seu próprio país, o ex-premiê despediu-se e partiu de volta às suas aventuras desafiadoras. A realidade é dura na Espanha de Ferran e Aznar. __________________________________________ 8# MUNDO 10.12.14 A VITÓRIA DA ESQUERDA LIBERAL Tabaré Vázquez, o candidato de Pepe Mujica, vence as eleições presidenciais no Uruguai e consagra um modelo de governo que alia políticas sociais avançadas com liberalismo econômico Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) José “Pepe†Mujica, o primeiro ex-guerrilheiro a chegar à Presidência do Uruguai, colocou o país no centro das atenções globais nos últimos cinco anos. Em seu governo, o Uruguai aprovou as políticas sociais mais progressistas da América do Sul, como a descriminalização do aborto, a aprovação do casamento gay e a inédita legalização do cultivo e venda de maconha. Mujica, conservando sempre seu jeito de camponês, levou à  Assembleia Geral da ONU, em Nova York, um discurso crítico ao capitalismo, ao “deus mercado†e ao consumismo desenfreado. Mas, ao mesmo tempo, o presidente uruguaio tratou de pôr em prática o que poderia parecer o oposto de seu discurso: cultivou o liberalismo na economia e foi muito ativo em procurar investidores estrangeiros durante o mandato. Em setembro, numa reunião com 200 empresários europeus na sede do grupo Santander, em Madri, Mujica resumiu seu estilo ao questionar: “Que país no mundo tem um velho guerrilheiro como presidente que diz aos investidores estrangeiros: invistam, tenham confiança?â€. FACE DUPLA - Mais à esquerda, com a bandeira uruguaia, Tabaré Vázquez e José Mujica durante a votação: dez anos de Frente Ampla no poder consolidaram o Uruguai como o "queridinho" do mercado e da esquerda No domingo 30, os eleitores uruguaios escolheram pela continuidade desse modelo que, ao unir a abertura econômica a um forte discurso social, fará a economia crescer, em 2014, pelo 11º ano consecutivo. A previsão da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe é que o avanço seja de 3,5% neste ano. Tabaré Vázquez, o presidente eleito, antecedeu Mujica no cargo e faz parte da mesma Frente Ampla, coalizão de esquerda que reúne socialistas, antigos guerrilheiros e democratas-cristãos. Num país de 3,4 milhões de habitantes, os economistas concordam que o Uruguai precisa se expor ao capital internacional, principalmente na infraestrutura, para manter a expansão da economia impulsionada pela valorização das commodities na década passada. “Nossa necessidade de investimentos excede a capacidade dos agentes privados nacionaisâ€, afirma Gabriela Mordecki, coordenadora do Grupo de Análise Macroeconômica do Instituto de Economia de Montevidéu. O interesse é tanto que, do ponto de vista jurídico e fiscal, os investidores estrangeiros não sofrem restrições para a transferência de lucros para seus paà­ses, como é praxe no mercado internacional. â€œÉ um consenso que a economia tem de ser aberta e integrada ao mundo porque esse país não tem tamanho para se fecharâ€, diz Álvaro Forteza, professor de macroeconomia da Universidade da República. “A discussão é como abrir.†Vázquez é crítico ao Mercosul e ao protecionismo praticado, sobretudo, pela Argentina. Em seu primeiro mandato presidencial, em 2006, ele ameaçou assinar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos e deixar o bloco sul-americano. Ainda que o tema tenha pontos delicados dentro do próprio governo, o Uruguai tem se aproximado da Alianà§a do Pacífico, composta por Chile, Colômbia, México e Peru, e da União Europeia. Em busca de uma social-democracia ao estilo europeu, Vázquez disse que triplicará os gastos em tecnologia e inovação e colocou o atual vice-presidente, Danilo Astori, na Fazenda logo em seu primeiro anúncio ministerial. Considerado um moderado, Astori coordenou uma reforma tributária e fiscal a partir de 2005 e direcionou os gastos para a saúde e a educação. Os resultados sociais, como a redução do desemprego (hoje em 6,5%), da pobreza e da desigualdade, foram significativos, mas vieram acompanhados de doses do receituário ortodoxo. As reservas do Banco Central cresceram e agora somam mais de US$ 18 bilhões, o que corresponde a mais de 30% do PIB. A título de comparação, as reservas brasileiras são proporcionais a 16% do PIB. POPULAR - O povo elegeu Vázquez com 56,6% dos votos e foi às ruas de Montevidéu comemorar o resultado do pleito no domingo Como a figura do presidente no Uruguai tem menos importância que a de seu partido político, o novo governo deve manter as boas relaçàµes com o mercado e a esquerda. A razão talvez esteja na origem da Frente Ampla. O cientista político Adolfo Garcé explica que, embora acolha grupos mais radicais, como o Movimento de Participação Popular, ao qual Mujica pertence, a Frente Ampla nunca foi anticapitalista. “A coalizão nasceu na década de 70 para ser uma social-democracia contemporânea; não havia uma proposta socialistaâ€, disse à ISTOÉ. “Seu propósito sempre foi o de conciliar crescimento econômico dentro do capitalismo com justiça social e distribuição de riqueza.†________________________________________ 9# CULTURA 10.12.14 9#1 TEATRO - NA ALEGRIA E NA TRISTEZA 9#2 LIVRO - O DIÁRIO DE ANNE FRANK EM NOVA EMBALAGEM 9#3 CD - O NOVO DO PINK FLOYD 9#4 MÚSICA - DE PAI PRA FILHA 9#5 VISUAIS - CONSTRUTIVISMO MILENAR 9#6 AGENDA - FESTIVAL/PALAVRA/FELPO 9#1 TEATRO - NA ALEGRIA E NA TRISTEZA por Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) Meio século de casamento em menos de duas horas - essa é a proposta do musical “‘Sim, Eu Aceito!â€, em cartaz no Teatro das Artes, Rio de Janeiro. Diogo Vilela e Sylvia Massari vivem desde a noite de núpcias até o envelhecimento a dois, passando por casos extraconjugais, filhos e crises. “O maior desafio é transmitir em um movimento sutil o transcender de tantas décadasâ€, revela Vilela, que nunca viveu um casamento como o retratado, mas teve como referência seus pais, já falecidos, a quem dedica este trabalho: “Todo mundo deveria ter uma experiência de amor assim na vida, de tanta cumplicidadeâ€. +5 espetáculos sobre casamento Vestido de noiva Na peça de Nelson Rodrigues, lançada em 1942, ronda uma figura misteriosa de véu e grinalda. O Casamento Suspeitoso Obra de Ariano Suassuna, de 1957, sobre a noiva Lúcia e o golpe do baú que pretende aplicar O casamento Texto de Nelson Rodrigues, lançado em 1966, foi censurado por atentar contra a “organização da famíliaâ€. A peça do Casamento O dramaturgo americano Edward Albee explora o fim de um casamento de 30 anos e a guerra entre os cônjuges. Meu passado me condena Um casal decide trocar alianças sem mal se conhecer e já comeà§a a discutir a relação na noite núpcias. 9#2 LIVRO - O DIÁRIO DE ANNE FRANK EM NOVA EMBALAGEM por Paula Rocha (paularocha@istoe.com.br) Na esteira do sucesso do filme “A Culpa É das Estrelasâ€, que faz uma referência à obra “O Diário de Anne Frankâ€, a editora Record lança uma edição especial desse precioso documento da Segunda Guerra Mundial. Sem alterações no texto, a edição, em capa dura, tem a padronagem xadrez do diário original da garota judia, além de trazer imagens inéditas, posfácio com informações atualizadas e uma carta da Unicef, que receberá parte dos recursos obtidos com a venda dessa edià§ão. Publicado originalmente em 1947, o diário da vítima do Holocausto é um dos livros mais lidos do mundo. 9#3 CD - O NOVO DO PINK FLOYD Por Amauri Segalla É bom que se diga: não existe trabalho ruim do Pink Floyd. “The Endless Riverâ€, o 15º álbum da banda, está longe do turbilhão criativo que fez nascer alguns dos maiores clássicos da história do rock, mas é um disco bonito. Concebido como uma homenagem a Rick Wright, o tecladista morto em 2008, o CD traz sobras de gravações da década de 90 e apenas uma de suas 18 músicas não é instrumental. Se os fãs sentirem falta das letras poderosas de Roger Waters, pelo menos desfrutarão da guitarra sensà­vel e enigmática de David Gilmour. Sozinho, Gilmour já valeria por todo o álbum. E tem mais: a faixa “The Lost Art of Conversation†é uma pequena obra-prima. 9#4 MÚSICA - DE PAI PRA FILHA por Eliane Lobato (elianelobato@istoe.com.br) É para quem gosta de samba bom: o CD e DVD “Mart’nà¡lia em Sambaâ€, da Biscoito Fino, passeia entre obras consagradas de Cartola, Noel Rosa, Chico Buarque, Martinho da Vila e outros até chegar ao rapper Emicida, na bela “Quero Ver Quarta-Feira†ou na inédita “Sinto lhe Dizerâ€, de Paulinho Moska. São 22 músicas, algumas em duo com o pai, Martinho. 9#5 VISUAIS - CONSTRUTIVISMO MILENAR por Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) Nascida em 1947 em Hiroshima, no Japão, dois anos depois da explosà£o da bomba atômica, a ceramista e escultora Kimi Nii é tema de mostra individual no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro. Em “Nas Nuvensâ€, a artista radicada no Brasil desde os 9 anos, fortemente influenciada pela escultura de Amilcar de Castro e Sérgio Camargo, exibe 100 obras, algumas delas inéditas e outras desde o início de seu trabalho em cerâmica, em 1978, com curadoria do historiador holandês Pieter Tjabbes. 9#6 AGENDA - FESTIVAL/PALAVRA/FELPO Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Festival Sesc de Música de Câmara (unidades do Sesc, em São Paulo, Santo André, São Carlos, Araraquara, Sorocaba e Santos, até 7 de dezembro) O festival apresenta 44 concertos de 12 grupos de artistas eruditos Palavra em Movimento (Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, até 21 de dezembro) Mostra com filmes de Jorge Furtado como diretor e roteirista, incluindo trabalhos para cinema e programas de televisão Felpo Filva (Sesc Bom Retiro, em São Paulo, até 7 de dezembro) Peça infantil baseada em livro de Eva Furnari, sobre um coelho poeta solitário que tem sua vida transformada _________________________________________ 10# A SEMANA 10.12.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz O GRITO DE NOVA YORK A frase “I can’t breathe†(eu não consigo respirar) foi repetida oito vezes numa rua de Staten Island pelo vendedor ambulante negro Eric Garner, enquanto o policial branco Daniel Pantaleo lhe aplicava uma gravata. Após o oitavo apelo desesperado do homem que agonizava, fez-se silêncio e ele morreu executado pelo agente. Um grande jàºri decidiu não indiciar Pantaleo pelo assassinato, apesar de imagens e áudio como provas. Com a mesma velocidade com que semanas atrà¡s a absolvição de outro policial branco que matara um jovem negro incendiou Ferguson numa onda de protestos, Nova York e mais de uma dezena de cidades americanas gritam agora contra a nova decisão racista da Justiça – e, dessa vez, os protestos unem negros e brancos. Uma grande marcha está convocada para o sábado 13 para exigir o fim da truculência da polícia branca contra o pobre e o marginal negro, e na busca de uma resposta rápida a Prefeitura de Nova York anunciou que 22 mil policiais passarão por novos treinamentos. "EU ME INSPIRAVA NO ESTADO ISLÂMICO" Com uma machadinha na mão direita e uma faca na esquerda, um delírio na cabeça e uma voz imaginária nos ouvidos, o segurança Jonathan Lopes de Santana matou seis pessoas em seis dias, segundo a polà­cia. O que há de estarrecedor no caso é que Jonathan decapitou pelo menos quatro de suas vítimas, a maioria delas moradora de rua. Ele foi preso na quarta-feira 3 em São Paulo, não fala coisa com coisa e projetou sua responsabilidade nos mortos como se eles fossem os culpados. Suas principais racionalizações: decapitava-os porque “eles não se integravam à sociedade†e também por “influência do Estado Islâmico que me inspiravaâ€. Jonathan possui autorização da Polícia Federal para trabalhar armado. "ESTAMOS VIVENDO MAIS" O IBGE divulgou os novos números sobre a expectativa de vida no Paà­s. A elevação da renda, o acesso a práticas esportivas como, por exemplo, a hidroginástica e o desenvolvimento na área de medicamentos contra infecções estão fazendo com que o brasileiro, que em 2012 tinha a expectativa de vida de 74,6 anos, a tenha agora, em média, em 74,9 anos. Há no entanto dois contrapesos à alegria. O primeiro diz respeito aos serviços públicos de saúde extremamente sucateados – e quanto mais envelhecemos são maiores as probabilidades de acometimento por enfermidades. O segundo é o impacto no bolso: quem se aposentar por tempo de contribuição terá agora o benefício do INSS reduzido em cerca de 0,65%. Nada muda para quem for se aposentar por idade (60 anos as mulheres, 65 os homens). "NOVAS REGRAS BENEFICIAM O USUÁRIO DE CELULAR" Telefonia Novas metas obrigatórias para as empresas de telefonia celular serà£o impostas pela Anatel nos próximos dias. Tenta-se assim melhorar no País a qualidade dos serviços de voz e internet. Exemplos: - 95% das chamadas terão de ser completadas. O não cumprimento desse índice acarretará multas às empresas; - 2% é o percentual máximo de ligações que poderão “cair†enquanto o usuário fala; - 98% das tentativas de acesso à internet terão de ser realizadas com sucesso. "BRASILEIRAS COM SUTIÃS DE R$ 5 MILHÕES" Na terça-feira 2 as modelos brasileiras Adriana Lima e Alessandra Ambrósio brilharam em Londres na passarela do Victoria’s Secret Fashion Show desfi lando com sutiãs avaliados em cerca de R$ 5 milhàµes – são cravejados com rubis, diamantes e safi ras. Em um traje menos valioso, mas com a classe e o glamour das grandes modelos, outra brasileira pisou pela primeira vez a passarela do Victoria’s Secret: Daniela Braga, 22 anos, ex-caixa de farmácia na perifeira de Sà£o Paulo. "58 MILHÕES" 58 milhões de visualizações no YouTube em apenas uma semana teve o trailer do filme "Star Wars: the force awakens". Trata-se de um recorde no ano. O novo filme da franquia é dirigido por J.J. Abrams e está previsto para chegar aos cinemas somente em dezembro de 2015. "ROSEANA SARNEY DEIXA O GOVERNO NA TERÇA-FEIRA" Política Faltando apenas 20 dias para o fim de seu mandato, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), anunciou oficialmente na quinta-feira 4 que abandonará o cargo. Fixou a data: terça-feira 9. Assume o governo interinamente o presidente da Assembleia Legislativa, Arnaldo Melo (PMDB). No primeiro dia de 2015 toma posse o governador eleito, Flávio Dino (PCdoB). "AS VIÚVAS DE NELSON RODRIGUES" Na quinta-feira 4 foi divulgado que o governo federal estuda reduzir o valor de pensões pagas a viúvas – somente em 2014 as pensàµes somaram cerca de R$ 90 bilhões. Por enquanto o estudo traz algumas inconstitucionalidades. A mais gritante delas é a proposta de fixação de um tempo mínimo de união do casal, criando-se assim graus e categorias diferentes de viuvez – o que está mais para as geniais tragédias de Nelson Rodrigues do que para o princà­pio pétreo de isonomia do Estado de Direito constitucional. A EXUMAÇÃO DE JANGO FOI MAIS IDEOLÓGICA DO QUE CIENTÍFICA" A análise científica existe “para incluir certezas e excluir hipótesesâ€. Fez-se o contrário no Brasil com a exumação do ex-presidente João Goulart deposto pelo golpe militar de 1964. Jango morreu no exílio na Argentina em 1976 e em seu atestado de óbito consta a palavra “enfermedad†(doença, em castelhano). Ele era cardiopata, mas seu corpo não foi submetido à necropsia, abrindo a suspeita de envenenamento. Trinta e oito anos se passaram, e seu corpo foi agora exumado. Os peritos da Polícia Federal haviam avisado que o trabalho poderia ser em vão – e nisso agiram como verdadeiros cientistas. Na semana passada, concluídos os exames, declararam que não encontraram nada que sugira envenenamento, mas que tal hipótese não pode ser descartada – como um médico que diga ao paciente “você não está com o braço fraturado, mas talvez haja fraturaâ€. Os peritos relativizaram a certeza do que viram e incluíram novamente a hipótese do que não viram. Aí abandonaram a ciência e produziram ideologia. "A MORTE DO CRIADOR, NÃO DA CRIATURA" Setenta e duas horas já se passavam da morte do humorista e comediante mexicano Roberto Bolaños, e ainda 50 mil pessoas permaneciam na segunda-feira 1º em seu velório realizado no estádio Azteca, na cidade do México. A maioria dos presentes (e não só crianà§as, mas também adultos) acompanhou o cortejo fantasiada de Chaves ou Chapolin, os imortais personagens criados por ele, falecido aos 85 anos. "R$ 1,5 MILHÃO" R$ 1,5 milhão é o novo valor máximo da multa aplicada, desde a quarta-feira 3, em caso de descumprimento da lei antifumo. Agora passa a ser proibido fumar em locais fechados, públicos ou privados, em todo o País. Nas vias públicas, residências e tabacarias o fumo é permitido. "O SAX PERFEITO DE BOBBY KEYS" Morreu na Inglaterra na terça-feira 2, aos 70 anos, o músico Bobby Keys, saxofonista dos The Rolling Stones desde 1970. Apresentou-se também ao longo de sua carreira com John Lennon, George Harrison, Eric Clapton. A causa de sua morte não foi revelada, mas sabe-se que Keys sofria de cirrose hepática. Entram para a história da música os seus solos em “Casino Boogie†e “Brown Sugarâ€. "R$ 600 MILHÕES CONTRA O CRIME NO RIO DE JANEIRO" “Quero que a sociedade saiba que cada policial militar morto implicará o aumento do efetivo nas ruas.†A frase é do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que após o assassinato pelo crime organizado de cinco PMs em sete dias investirá R$ 600 milhões na corporação – incluindo aumento do piso dos soldos e a admissão de seis mil novos policiais. O orçamento da PM para o ano que vem é de R$ 4,2 bilhões. "FRANCISCO QUEBRA TRADIÇÃO DA GUARDA SUÍÇA" Criada há cerca de meio milênio e composta por 100 soldados, a tradicional Guarda Suíça responde pela segurança do papa e do Vaticano – lenda ou fato, conta-se a história de que o seu uniforme foi desenhado por Michelangelo Buonarroti. A Guarda sempre se norteou pelo comando com mão de ferro, e assim a conduzia atualmente o coronel Daniel Rudolf Anrig. Na quarta-feira 3 ele foi demitido pelo papa Francisco. Motivo: o papa, segundo o Vaticano, quer alguém “não autoritário†e “afávelâ€. -- Você está participando do grupo "DV-Escola", dos grupos do Google. Sua inscrição é de sua inteira responsabilidade. Atenção! Para descadastrar-se deste grupo, envie um e-mail totalmente em branco, sem nada no corpo e/ou no assunto para o seguinte endereço: dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com Favor observar um sinal de hífen (-) entre a palavra DV e a palavra escola. Se for o caso, copie e cole em seu cliente de e-mail o endereço acima para que não haja dúvidas de seu conteúdo. Ezequiel Silva - Angela Lima - Luís Campos --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "DV-Escola" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com. Para obter mais opções, acesse https://groups.google.com/d/optout. -- O espaço da leitura foi criado com o objetivo de proporcionar uma boa leitura a todos para um bom entretenimento e um ótimo conhecimento, No entanto, não é permitido neste espaço a postagem de qualquer e-mail com palavras de baixo calão. contamos com a colaboração de todos boa leitura! Conheça nosso grupo no facebook: http://www.facebook.com/groups/163124077178980/ --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "espaço da leitura" dos Grupos do Google. 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