0# CAPA 7.5.14 ISTOÉ edição 2319 | 07.Mai.2014 [descrição da imagem: foto dos candidatos a presidência do Brasil, Aécio Neves, Eduardo Campos e Dilma Rousseff] EXCLUSIVO PESQUISA ISTOÉ/SENSUS ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DEVE TER SEGUNDO TURNO _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 7.5.14 "A ELEIÇÃO NÃO É UM PASSEIO" Carlos José Marques, diretor editorial Já há um senso comum de que não será um passeio, como se pensava inicialmente, a tentativa da presidenta Dilma Rousseff de emplacar um segundo mandato. Não faz muito tempo, a impressão de que Dilma levaria facilmente a eleição, até no primeiro turno, tomava conta não só de partidários e aliados como também de críticos e adversários políticos. O clima mudou, e rápido, na esteira de escândalos, descontrole administrativo e apatia econômica. Dilma perdeu apoio entre governadores, entre legendas que compõem a aliança e mesmo diretamente nas hostes petistas. A tal ponto que a grita pelo “Volta, Lula” ganhou proporções inesperadas. Passou a ser exibida abertamente por parlamentares de siglas da base, como o PR. E até nos meios digitais um movimento autodenominado “Lula 2014” tomou corpo. A avaliação do governo vem experimentando consecutivas quedas. A Pesquisa ISTOÉ/Sensus mostra, por exemplo, que pela primeira vez o índice de entrevistados que desaprovam o desempenho pessoal de Dilma é maior (49,1%) do que o daqueles que aprovam (40,2%). Da mesma maneira, mais de 50% dos que responderam disseram que o País não está no rumo certo. Apenas 20,1% acreditam que sim, que o caminho adotado é o correto. E as razões para a descrença estão também descritas na pesquisa. Lá aparece com um destaque inusual entre os assuntos que mais preocupam os brasileiros o tema da corrupção, posicionado em quarto lugar numa lista de inúmeras prioridades. Nada desprezível. O clima de rejeição nacional “contra tudo que está aí” parece ser a tônica na maioria da população. Isolada e pressionada, Dilma teve que sair em contraofensiva nos últimos dias bradando a lealdade entre ela e Lula. “Ninguém vai me separar de Lula, nem ele vai se separar de mim”, disse. Soou mais como um apelo. Em resposta aos rebelados da base e à rejeição crescente disse que será candidata com ou sem o apoio dos aliados. O momento delicado e decisivo pelo qual passa a sua candidatura reforça uma vez mais a velha máxima de que a política é como uma nuvem, em constante mutação. E as tempestades que ali se formaram e hoje se abatem sobre o Planalto, ao que tudo indica, não deixarão espaço para meros passeios na corrida presidencial. 2# ENTREVISTA 7.5.14 WALMIR COUTINHO - "PODEMOS NOS TORNAR A NAÇÃO MAIS OBESA DO MUNDO" No momento em que o Ministério da Saúde divulga que a obesidade se estabilizou no Brasil, o presidente da Federação Mundial de Obesidade diz que, se nada for feito, em 15 anos o Brasil terá a maior população com excesso de peso do planeta por Wilson Aquino AMEAÇA - Para o médico, o desafio de combater a obesidade exige esforços como os realizados contra o aquecimento global O endocrinologista carioca Walmir Coutinho, 55 anos, acaba de assumir a presidência da Federação Mundial de Obesidade, instituição que congrega 30 mil especialistas, de 53 países, empenhados no combate à obesidade, doença tratada como epidemia pela comunidade científica. Ele fica no cargo até 2016. Na semana passada, Coutinho dedicou atenção à análise de dois novos dados divulgados a respeito da evolução e da consequência da obesidade no Brasil. Na segunda-feira 28, uma pesquisa feita pelo Estadão Dados com base em informações do Datasus (sistema de registro de informações oriundas do Sistema Único de Saúde, o SUS) revelou que o número de mortes em razão do excesso de peso triplicou no País entre 2001 e 2011. Na quarta-feira 30, o Ministério da Saúde apresentou os resultados de um levantamento mostrando que, pela primeira vez em oito anos, o percentual de excesso de peso e de obesidade no País se manteve estável. De acordo com o governo, 50,8% dos brasileiros estão acima do peso, sendo 17,5% deles obesos. "É preciso que se dê acesso aos medicamentos também. Temos dois aprovados aqui. O SUS poderia disponibilizá-los" Para Coutinho, os dados dão uma dimensão do problema. O primeiro, sobre a mortalidade, está inclusive subdimensionado. E o segundo, embora positivo, esconde algo sério: o crescimento da epidemia entre os mais pobres. Por isso, na opinião do endocrinologista, o desafio contra a obesidade é tão grande que exige o envolvimento de governos e sociedade. “De que adianta informar uma pessoa de renda mais baixa da necessidade de comer mais frutas, verduras e legumes se isso não cabe no orçamento dela?, questiona. Ele defende a criação de impostos sobre as comidas gordurosas e que o dinheiro seja usado para subsidiar os alimentos saudáveis, iniciativa adotada recentemente no México. “Se nada for feito, podemos nos tornar a nação mais obesa do mundo”, afirma. "A maioria das dietas, como a das proteínas, não funciona. Esse tipo de estratégia leva o indivíduo a ganhar mais peso" Istoé - Como analisa o fato de o número de óbitos relacionados à obesidade ter triplicado em dez anos no Brasil, saltando de 808 em 2001 para 2.390 em 2011? Walmir Coutinho - Infelizmente, esses dados são subdimensionados, já que o levantamento toma por base as causas de morte registradas em atestados de óbito. Mas, quando chega a aparecer obesidade como causa da morte, é porque o caso era muito grave, saltava muito aos olhos. Ninguém morre de obesidade. Morre-se porque a obesidade levou a diabetes, ao infarto, ao acidente vascular cerebral, etc. Ela está associada inclusive a doenças como o câncer de mama. Há uma estimativa nos EUA de ocorrência de 300 mil mortes por ano em consequência do excesso de peso. Em uma comparação para a América Latina, chegou-se a 200 mil mortes anualmente, sendo cerca de 80 mil óbitos no Brasil. Istoé - Deve-se esperar um futuro melhor, a contar pela pesquisa do Ministério da Saúde garantindo que houve estabilização no número de casos de obesidade no Brasil? Walmir Coutinho - É algo a ser comemorado, até mesmo porque a obesidade cresce mais no mundo em desenvolvimento. O México acabou de ultrapassar os EUA em prevalência. Nos EUA e na Europa começa a haver estabilização. O maior desafio é que, quando você olha para países como Brasil, México, Peru e Chile, vê que a população que mais engorda é a de renda mais baixa, porque está mais desprotegida, sem muito acesso aos alimentos saudáveis. A pesquisa tem um lado bom porque vem acompanhada de indicadores de melhora de comportamento do brasileiro, como aumento de consumo de alimentos saudáveis e de atividades físicas. Istoé - Por que o mais pobre tem mais risco de ficar obeso? Walmir Coutinho - É muito mais caro sair do mercado com uma bolsa cheia de frutas do que lotada de biscoitos recheados e de batata frita, refrigerantes. Além de ter pouco acesso à alimentação mais saudável, a população de baixa renda tem menos tempo de lazer e menos chances de fazer atividades físicas. Istoé - Como mudar esse quadro? Walmir Coutinho - A educação é muito importante, mas há muito tempo percebemos que ela sozinha não levará à mudança de comportamento. De que adianta informar uma pessoa mais pobre da necessidade de comer mais frutas, verduras e legumes se isso não cabe no orçamento dela? Ela compra o que consegue pagar. Deve-se oferecer educação e os meios para que a pessoa mude seu comportamento. Istoé - De que forma? Walmir Coutinho - Aumentar imposto de alimentos é uma coisa que provavelmente funciona. No México acabou de ser criado um imposto novo para taxar os alimentos que mais engordam, como doces e refrigerantes. A ideia é que se criem taxas desse tipo não para gerar mais receita para o governo, mas para que com a arrecadação possa subsidiar os alimentos mais saudáveis. Istoé - O governo brasileiro aumentou a taxa sobre bebidas, como refrigerantes. Walmir Coutinho - E vai passar a arrecadar cerca de R$ 1 bilhão a mais com isso. Mas para onde vai esse dinheiro novo? Por que não usá-lo para subsidiar os alimentos mais saudáveis? Istoé - Quais as outras deficiências no combate a obesidade no Brasil? Walmir Coutinho - Uma das fragilidades é o direcionamento do transporte para o automóvel. Isso é péssimo. Na hora em que o governo reduz imposto para compra de automóvel, gera impacto negativo na saúde, uma vez que incentiva o sedentarismo. Istoé - E com relação aos tratamentos disponíveis no Brasil? Walmir Coutinho - Há uma série de incoerências. Por exemplo, o Sistema Único de Saúde oferece cirurgia bariátrica (procedimento de redução de estômago). Isso é bom porque tem obeso grave que só conseguirá sucesso se for operado. Mas não fornece nenhum remédio para ajudar a pessoa a emagrecer. Não faz sentido. Se há o entendimento de que a obesidade é um problema de saúde, por que o SUS dá assistência somente quando o indivíduo está gravíssimo e precisa de cirurgia? É preciso que se dê acesso aos medicamentos também. Temos dois remédios aprovados aqui e já há genéricos deles. São opções baratas que o SUS poderia disponibilizar. Istoé - O México levou cerca de 20 anos para tomar dos EUA o título de nação mais obesa do mundo. O Brasil caminha na mesma direção? Walmir Coutinho - Acho que estamos no caminho para que o Brasil seja o recordista. Poucas ações efetivas estão sendo tomadas. Se continuarmos nesse ritmo e nada for feito, podemos nos tornar a nação mais obesa do mundo. Em 15 anos devemos ser o país com maior prevalência de obesidade. Istoé - Não há uma banalização da cirurgia bariátrica no Brasil? Walmir Coutinho - Não vejo isso, uma vez que há mais obesos graves do que o número de cirurgias que têm sido feitas (são 60 mil por ano no Brasil). O que preocupa é que existe uma superoferta dessa operação para quem pode pagar, seja por plano de saúde ou particular.Pelo SUS a dificuldade é muito maior. Os obesos muito graves têm mais risco de morrer na fila de espera. Istoé - Mas há médicos que orientam o paciente a engordar para atingir um nível tal que possa ser submetido à cirurgia. Walmir Coutinho - Isso é um absurdo. Hoje o que mais se discute na comunidade científica é a questão de usar somente o peso como critério para a bariátrica. Não se consegue prever quem vai se beneficiar mais olhando apenas o Índice de Massa Corporal (IMC). É preciso olhar principalmente o impacto que o excesso de peso tem na saúde daquela pessoa. Por exemplo, paciente com 40 de IMC e diabético tipo 2 provavelmente vai se beneficiar mais do procedimento do que aquele com IMC 45 e que não tem diabetes. Daí o absurdo de alguém engordar mais só para atingir o critério de IMC suficiente para ser submetido à cirurgia (acima de 40). Istoé - O que é preciso fazer para que os obesos parem de sofrer preconceito por parte dos médicos, como pesquisas já atestaram? Walmir Coutinho - Isso acontece até dentro da minha especialidade, a endocrinologia. Eu via, com muita frequência, há 20 ou 30 anos, endocrinologistas dizerem: “Eu não gosto de tratar obeso, não gosto de obeso.” Mas o preconceito, que está diminuindo, é da sociedade como um todo, não apenas dos médicos. Em grande parte ele vem da visão de que o obeso não é um doente. É uma pessoa com falha de caráter, que não tem força de vontade, não tem vergonha na cara e por isso não consegue fechar a boca e emagrecer. Istoé - Qual é o peso da genética na obesidade? Walmir Coutinho - Na média da população, 70% da causalidade vem de fatores ambientais e 30%, genéticos. Nossos genes são iguais aos das pessoas que viveram no início do século XX, quando a obesidade era rara. A epidemia de obesidade está exclusivamente ligada a fatores ambientais. Istoé - É possível dizer se há algum benefício em seguir dietas como a do carboidrato ou a da proteína? Walmir Coutinho - A maioria não funciona. E fórmulas mirabolantes para emagrecer muitas vezes contêm substâncias perigosas, colocando mais em risco a saúde da pessoa do que a própria obesidade. Além disso, esse tipo de estratégia leva o indivíduo a ganhar cada vez mais peso. Quem emagrece de forma errada vai ter mais tendência a engordar depois que terminar o regime. Istoé - Por quê? Walmir Coutinho - Porque o emagrecimento rápido sem exercícios físicos leva à perda de músculos também. E, perdendo músculos, o indivíduo terá diminuição do metabolismo basal. Consequentemente, terá uma tendência maior a engordar. É o efeito rebote ou ioiô. Istoé - Qual é o desafio que a epidemia de obesidade impõe à humanidade de uma maneira geral? Walmir Coutinho - Podemos comparar com o desafio enfrentado hoje para controlar o aquecimento global. O problema chegou a um ponto tal que só será possível resolvê-lo com o envolvimento da sociedade como um todo, incluindo aí os governos de cada país e a comunidade científica. 3# COLUNISTAS 7.5.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - NÃO APOSTEM CONTRA DILMA 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL 3#5 RICARDO ARNT - SÃO PEDRO NOS AJUDE 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Brasil Perfil do ex O portal da Presidência da República mantém uma descrição do governo Collor que colide com o “atestado de bons antecedentes” que ele recebeu do STF na quinta-feira 24. Dez dias após o Supremo livrá-lo das acusações de peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica (os dois últimos crimes já prescritos), o site oficial diz que o ex-presidente está vinculado a um governo com “escândalos de corrupção” e que ele deixou o cargo sob o clima do impeachment. Eleição Olhos abertos A ONG “Voto Consciente”, que se notabilizou por fiscalizar os parlamentos municipais e estadual de São Paulo e pregar a transparência nos atos públicos, amplia horizontes e está sob nova direção. A diretora-geral, Ivone Rocha, professora e pesquisadora em políticas públicas, revela que a entidade buscará, nos próximos dois anos, atuar em prol de um diálogo melhor entre parlamentares e a juventude. “Essa comunicação ajudará os cidadãos na hora de votar.” Política Com limite Presidente do Conselho de Ética da Câmara, o deputado Ricardo Izar (PSD-SP) defende que a Corregedoria Parlamentar obedeça a prazos para emitir pareceres. “Temos 90 dias, mas eles não. Sem tempo a cumprir, hibernam no órgão denúncias como as que foram feitas contra os deputados Marco Feliciano e Gabriel Chalita, irritando a sociedade.” Tudo no Legislativo, para Izar, deveria seguir prazos, inclusive as votações de projetos de lei e de acordos internacionais. Igreja Na pauta A questão da terra em debate na 52ª Assembleia-Geral da CNBB, que começou na quarta-feira 30 em Aparecida (SP), não é nova entre bispos católicos. Em 1980, o tema também foi analisado. À época, nem uma palavra sobre os quilombolas. Agora será diferente. No governo federal há cerca de três mil pedidos de reconhecimento de área para afrodescendentes. Arte Rio no braço Ganhador do “Watchmaking Grand Prix”, em 2013, o Oscar dos criadores de relógio, pelo Logical One (primeiro relógio do mundo em que se dá corda só apertando um botão), Romain Gauthier vai lançar uma coleção colorida inspirada em motivos tropicais criada pelas mãos da artista plástica carioca Kakau Hofke. Aliás, o empresário tem ligações afetivas com o nosso país: é casado com a advogada brasileira Ana Gauthier Barreto Vianna. RJ Quatro décadas Francisco Dornelles volta de Paris na segunda-feira 5 com plano de não disputar mandato legislativo em outubro (já avisou Sérgio Cabral que não concorrerá ao Senado). Materializado o desejo, como tudo faz crer, o presidente de honra do PP, 79 anos, encerrará uma atividade pública iniciada em 1970 como assessor de Delfim Netto. Esteve por 28 anos no Legislativo – 20 como deputado e oito como senador. Brasília E o prazo? Relator do caso André ­Vargas (sem partido – PR) no Conselho de Ética da Câmara, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) não acredita em veredito rápido para o enrolado colega paranaense envolvido com o doleiro Alberto Youssef. Segundo ele, no plenário, a decisão ocorrerá “pouco antes das eleições de outubro”. Entre os entraves, o recesso branco na Copa do Mundo, as férias parlamentares de julho e a ­demora na votação do ­parecer feito no início das investigações, no ­Conselho de Ética. STJ 1 Rocha X Benjamin Nas câmeras da TV Justiça, brasileiros já viram várias togas do STF se estranharem. Fora do ar, brigas também existem. Na posse do ministro Humberto Martins no Conselho da Justiça Federal, o ex-presidente do STJ Cesar Asfor Rocha, indignado com o tititi de que o seu filho (o advogado Caio Rocha) fez campanha por um candidato a integrar o STJ, foi direto ao ministro Herman Benjamin: “Lave a boca quando falar de meu nome por aí.” O acusado negou o que lhe foi atribuído e estendeu a mão para um cumprimento. Rocha retrucou: “Nunca mais fale comigo.” STJ 2 Seu passaporte Em determinado momento do ríspido diálogo, Cesar Asfor lembrou a Benjamin que o ajudara a virar ministro, em 2006. O entrevero ocorreu diante de perplexa plateia. Meio Ambiente 1 Olho na estrada Batizado de “urubu mobile”, um aplicativo criado na Universidade de Lavras (MG) permitirá o monitoramento da fauna atropelada no Brasil. Disponível inicialmente para aparelhos com Android, a ideia é simples: ao ver um animal atropelado, o usuário clica a cena e manda a imagem pelo celular. O registro será analisado por cinco especialistas, que montarão um banco de dados útil mapeando os locais mais perigosos e sugerindo medidas de conservação para as espécies. Meio Ambiente 2 Efeito imediato Para se ter ideia do problema, por ano, 450 milhões de animais silvestres são mortos, em 1,7 milhão de quilômetros de estradas brasileiras – principalmente a onça-pintada e o tamanduá-bandeira. Com o aplicativo financiado pela Fundação Grupo Boticário espera-se salvar uns 30 milhões de animais, a cada 12 meses. Religião Pelas barbas do profeta Fim do mistério em torno da crescente barba de Edir Macedo. Os seus fios brancos permanecerão no rosto até a inauguração do megassantuário da Igreja Universal, com capacidade para dez mil pessoas. A obra no Brás, São Paulo, tem previsão de abertura em junho. O bispo quis ficar à semelhança do Rei Davi, por ter sido o profeta quem edificou o Templo de Salomão, aliás, o nome com que a denominação batizará sua nova sede no Brasil. SUS Pente-fino Tal como fez em relação ao ensino médio, o TCU vai auditar políticas públicas na área da saúde, em parceria com 30 cortes de Contas de Estados e Municípios. Em reunião com membros do Ministério Público Federal, do Congresso Nacional e ministros do tribunal, ficou acordado que um foco da auditoria é descobrir por que o SUS demora a tratar pacientes com câncer, já que é obrigado por lei a atender os doentes em até 60 dias contados do diagnóstico da doença. MPB De filho para pai Entre as comemorações do centenário de Dorival Caymmi, uma será bem especial. No dia 22 de maio, na Miranda, casa de shows localizada às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul carioca, haverá apresentação única do show “Mar de Algodão”. Do primeiro ao último acorde, canções praieiras do compositor baiano, com Danilo Caymmi, Olívia & Francis Hime, sob a direção de Flávio Marinho. Em tempo: “Algodão” foi o apelido que o filho Danilo deu ao pai, numa referência à sua histórica cabeleira branca... 3#2 LEONARDO ATTUCH - NÃO APOSTEM CONTRA DILMA Em mais de uma ocasião, ela já provou que não entrega os pontos com facilidade. A banca de apostas está montada. Às vésperas de cada pesquisa eleitoral, especuladores compram ações de empresas estatais, especialmente da Petrobras, ao primeiro sinal de queda da aprovação de Dilma Rousseff, de alta dos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos ou mesmo de volta do ex-presidente Lula, percebido pelos agentes financeiros como um nome mais pró-mercado e menos intervencionista do que sua sucessora. Simples assim: Dilma cai, as ações sobem. Mas será que os especuladores vão mesmo ganhar a aposta? Ou será que já se pode dar como favas contadas a substituição de Dilma por Lula, chamado por Marina Silva de “bala de prata do PT”, depois que um deputado da base aliada, o mineiro Bernardo Santana (PR-MG), lançou oficialmente o “volta, Lula” e pendurou o quadro do “velhinho” na parede de seu gabinete? Essa, sim, é uma aposta de risco de altíssimo risco. Só quem não conhece Dilma Rousseff acredita que ela poderá entregar os pontos com facilidade. Aliás, é nas situações de crise, que ela se mostra mais confortável, como se estivesse até se divertindo com o fuzuê que enxerga das janelas do Palácio do Planalto. As mensagens de que ela pretende continuar por mais quatro anos falam por si. Num encontro com jornalistas esportivos, Dilma afirmou com todas as letras: “Sei da lealdade de Lula por mim, e ele sabe da minha por ele”. Ou seja: se alguns ainda a enxergam como criatura, ou “poste”, ela se colocou em pé de igualdade com o criador – e não como sua devedora. Um dia depois, numa entrevista a rádios da Bahia, ela afirmou que será candidata “com ou sem apoio de sua base”. E disse que se não tiver esse apoio, “paciência”. Dilma é uma mulher de combate – ou, se preferirem, com alma de guerrilheira. Já foi presa, torturada e não serão a cara feia de um ou outro deputado e a vontade de trair de tantos outros que a farão desistir no meio do caminho. Ela não se vê numa posição subalterna dentro do PT e da base aliada e acredita estar fazendo um governo que merece mais quatro anos. Vai lutar para seguir em frente. O que não se pode medir, ainda, é o impacto que divisões internas terão nessa disputa e em que grau favorecerão os adversários Aécio e Eduardo. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ “Nunca me apaixonei por mulher” Quem vê Tainá Müller em cena, na pele da fotógrafa Marina da novela “Em Família”, até leva um susto com o jeito incisivo da personagem homossexual para seduzir Giovanna Antonelli, no papel de Clara. Na vida real, Tainá garante: “Não sou ‘matadora’ como a Marina, não parto para cima. Ao contrário, posso parecer tímida num primeiro encontro. Sou sutil. A Marina é explícita”, conta. Com esse temperamento, e em época de beijos gay, Tainá torce para a cena acontecer. “Por que não? Ela é tão apaixonada pela alma feminina, que quer consumir fisicamente essas mulheres também”, empolga-se. “Como estou vivendo o papel intensamente, acho que o meu olhar está mais apurado. Só que eu nunca me apaixonei por uma mulher”, completa. A atriz posou para a revista “Top Magazine”, sob as lentes de Maurício Nahas. À la Grace Kelly A blogueira Lala Rudge, fenômeno na moda com 545 mil seguidores no Instagram, tem levado vida de princesa. A ponto de ter seu vestido de noiva em exposição no Wedding Awards, evento da empresária Fernanda Suplicy em São Paulo. No mês das noivas, o modelo que Lala usou para trocar alianças com o empresário Luigi Cardoso em 2012 ficará exposto no Shopping Iguatemi, nos dias 15 a 28, no mesmo andar que a blogueira tem sua loja de lingerie, a La Rouge Belle. Criado por Sandro Barros, o vestido de Lala é inspirado em Grace Kelly e no modelo usado por sua avó Maricy Trussardi há mais de 50 anos. Tem camadas de organza e é bordado à mão. Bala Larga desse supremo! Enquanto fazia sua defesa à liberdade de expressão em seminário no Ibmec, no Rio, a ministra do STF, Carmen Lúcia, contou causos de sua terra. Nascida em Montes Claros, norte de Minas, ela mencionou que nas “Gerais” as pessoas são muito francas e já chegaram a lhe dizer: “Larga desse Supremo. Está muito magra”. A história arrancou risos, mas é só franqueza maldosa: a ministra está elegante. Mais açaí do que tapioca? Tinha aratu, biju e lasquinhas de tapioca. No jantar em torno do pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, na casa do empresário João Doria Jr, a vice da chapa, Marina Silva, pouco comeu. Beliscou arroz integral, aspargos e abobrinha. Mal tocou no palmito, que não digere bem. Na saída, Marina tentou explicar quem é quem no casamento da “tapioca” com o “açaí”. Assim definiu há um mês sua aliança com Campos: “O açaí é mais moreninho”, disse ela, apontando para si. O prato típico do Norte, porém, é uma tigela de creme de açaí salpicado de tapioca. Ou seja, há muito mais açaí do prato. “Mas eu quis dizer a sementinha do açaí”, desconversou. Marina não foi convidada a falar no púlpito, após Eduardo Campos. O governador Geraldo Alckmin, de olho na aliança com o PSB no Estado, falou e cobriu Campos e Marina de elogios. Aécio não foi mencionado em seu discurso. Um Itaú de diferença No jantar, Campos e Marina ficaram separados em duas mesas paralelas. Foi inevitável a comparação com o jantar anterior, de Aécio Neves, promovido por Doria há um mês. “Este tem um Itaú de diferença”, brincou um convidado. Na mesa com o ex-governador de Pernambuco, estavam os banqueiros Roberto Setubal, do Itaú, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, além de Jorge Gerdau e Constantino Junior, da Gol. Setubal não estava no jantar para Aécio. “‘Volta Lula’ é mais tática do que estratégia” Ao deixar a mansão, por volta da meia-noite, o ex-governador de Pernambuco disse que não acredita no “Volta Lula”. “Mas saberemos em 60 dias se ele será candidato. Acho que isso é mais tática do que estratégia.” Por definição, tática vem do grego taktiké ou téchne. Quer dizer arte de manobrar (tropas) como parte de uma estratégia. O tempo dirá. (mais no site www.istoe.com.br) Luiza Brunet termina com Parisotto Luiza Brunet terminou o relacionamento de dois anos com o empresário Lírio Parisotto. A musa brasileira, que faz 53 anos no dia 24 de maio, quer se dedicar ao trabalho e à família. O casal esteve no baile da amfAR, há cerca de um mês, acompanhado da filha de Luiza, Yasmin Brunet. Lírio e Luiza tinham viagem marcada para a Itália, em maio, e para a Croácia, em julho. Fariam um tour de barco. No fim de 2013, Lírio, investidor considerado um dos homens mais ricos do Brasil, comemorou seus 60 anos, com uma grande festa em São Paulo organizada por Luiza. Avril Lavigne e a Sabrina de calças Na passagem pelo Brasil, a cantora canadense Avril Lavigne aprendeu a dançar a música “Beijinho no Ombro”, de Valesca Popozuda. Quem ensinou: o stylist Matheus Mazzafera, a nova Sabrina de calças do “Pânico na Band”. Avril quis aprender uma música brasileira. “Sugeri ‘Beijinho no Ombro’ e ensinei a dançar”, conta Matheus. O quadro vai ao ar no domingo 4. Durante a entrevista, Gisele Bündchen foi citada pela cantora como uma das mulheres mais bonitas do mundo. Matheus, que há três meses é repórter do programa, tem substituído a musa Japa no livre acesso às festas bacanas e às entrevistas internacionais. Paris Hilton, Candice Swanepoel e Irina Shayk, namorada de Cristiano Ronaldo, foram entrevistadas por ele. Herdeiro de família abastada em Minas Gerais, Matheus é queridinho das tops, entre elas Alessandra Ambrosio. Já trabalhou com Luciana Gimenez na Rede TV!. Com Sabrina, fez as primeiras participações no “Pânico”. Ainda não foi contratado, mas, a julgar pelas divertidas entrevistas, não deve demorar. Na Record, ele tinha um salário na faixa de R$ 30 mil. “O povo me ama e a sociedade também”, comemora Matheus. 3#4 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite Pé de ouvido Foi o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), o responsável por fazer o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desistir de barrar a CPI da Petrobras. Durante viagem a Roma na semana passada, onde assistiram à missa de canonização dos papas João XXIII e João Paulo II, Temer disse que o partido gostaria de ficar distante da guerra em torno da estatal. Coisa que não seria possível se o presidente do Senado chamasse a briga do governo para si. Diferenças antigas Quem participou de reuniões do PAC presididas por Dilma ainda ministra da Casa Civil lembra-se de que ela gostava de se referir ironicamente ao então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, pelo singelo apelido de “xeique”, como são conhecidos os bilionários nascidos nos países árabes produtores de petróleo. Fora do tempo Os ministros do TSE ainda não sabem como agir diante da extinção do recurso contra Expedição de Mandatos, decidida em setembro do ano passado pelo próprio tribunal. Uma denúncia contra o governador do Acre, Tião Viana (PT), foi feita pelo MP estadual usando esse recurso, que não existe mais. Mesmo assim, em março deste ano o ministro Gilmar Mendes decidiu que o recurso do MP deve tramitar na Corte. Tecnologia para a emergência A partir do dia 2, o governo abre consulta pública para discutir o leilão da faixa de 700 Mhz, para ampliar a oferta de internet 4G. Além de melhorar a qualidade de conexões, o leilão pode trazer outro benefício tecnológico imediato. O Ministério da Defesa estuda a utilização da faixa para montar serviço de Estado semelhante ao utilizado na Europa e nos Estados Unidos. Ali é possível a qualquer pessoa entrar em contato com centrais de atendimento pelos números 112 e 911, que repassam informações em tempo real para diferentes serviços de segurança. Assim, quem estiver mais perto da ocorrência presta o atendimento Abastecendo a Conab Eraí Maggi Scheffer e Fernando Maggi Scheffer, primos do senador Blairo Maggi (PMDB-MT), estão no topo da lista das pessoas físicas que mais receberam recursos diretos da União este ano. Juntos, eles ganharam R$ 33 milhões do Ministério da Agricultura, vendendo para o governo milhares de toneladas de milho. Os primos de Maggi venceram leilão do programa de estoques da Conab de Mato Grosso do Sul e concentraram o fornecimento de grãos da companhia, comandada pelo PMDB. Contradições da Corte Independentemente de ter sido apresentado fora do prazo, o processo contra Tião Viana continua no TSE e outros casos semelhantes com denúncias contra cinco governadores foram enviados aos tribunais regionais dos Estados. Ministros defendem que os recursos contra expedições de mandatos que permanecerem na Corte devem ser extintos por falta de objeto. O problema é que cada relator tem agido de uma forma. A guerra do mínimo O Planalto reuniu parlamentares especialistas em orçamento e pediu um relatório realista sobre o mapa de adversários e aliados de um projeto para modificar a lei que reajusta o salário mínimo. A lei atual, que garante aumento real, expira em 2015. No Congresso, a briga política já começou. Numa medida que atrapalha quem pretendia discutir uma mudança longe dos olhos do eleitor, o deputado Paulinho da Força (SDD) apresentou projeto para dar continuidade à Lei 12.382 e manter a progressão do aumento do salário mínimo. Prerrogativas extrapoladas Advogados de vários Estados têm uma nova queixa contra a atuação de Joaquim Barbosa no comando do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Eles reclamam que Barbosa decidiu impor um sistema unificado para os tribunais regionais receberem petições eletrônicas. A questão é que os custos desse sistema são altos e os tribunais de vários Estados, até agora, tinham toda liberdade para escolher a opção que julgassem mais adequada. Resultado: a OAB vai recorrer ao plenário do STF. Toma lá dá cá Deputado estadual Jailson Lima da Silva (PT-SC), criador da CPI que investigará o MP de Santa Catarina ISTOÉ – Como apareceram as denúncias? Lima da Silva – Recebi denúncia anônima sobre um terreno avaliado em R$ 10 milhões que estava sendo adquirido por R$ 38 milhões. Depois soubemos que o Ministério Público contratou, sem licitação, uma empresa de telefonia por R$ 40 milhões. ISTOÉ – A Assembleia vai investigar também os supersalários do MP? Lima da Silva – Não houve acordo para investigar os salários. Mas isso vai acontecer cedo ou tarde. Alguns procuradores recebem mais de R$ 1 milhão por ano, excedendo o teto constitucional com benefícios extras. ISTOÉ – O sr. teme represálias? Lima da Silva – Já estou sofrendo retaliações. Desarquivaram até uma ação antiga. Quando eu era prefeito de Rio do Sul, a empresa que venceu uma licitação de uma obra não conseguiu terminar o serviço e fui obrigado a nomear a segunda colocada. Estão fazendo ações em tempo recorde para me condenar. Rápidas Como era previsível, a aliança com o PSB levou a Rede a consumar alianças políticas surpreendentes. No Amazonas, Marina Silva divide sorrisos com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM), depois que tucanos e socialistas iniciaram um ensaio para disputar o governo em chapa comum. O ministro Valmir Campelo decidiu antecipar sua aposentadoria do Tribunal de Contas da União para assumir uma vice-presidência do Banco do Brasil. Na avaliação de ex-colegas, Campelo deveria cumprir quarentena. Fernando Collor vai para a reeleição como senador na chapa ao governo de Renan Filho, por decisão da presidenta Dilma Rousseff. Renan pai contrariou vontade do filho e atendeu ao Planalto. Desintegração Há menos de seis meses no cargo, o ministro da Integração, Francisco Teixeira, deve deixar a pasta nos próximos dias. Ele será indicado coordenador da campanha do senador Benedito de Lyra (PP) ao governo de Alagoas, com apoio de Givaldo Carimbão (Pros). Retrato falado A bancada evangélica iniciou o ano com uma grande vitória: conseguiu inaugurar comissão especial para votar projeto que cria o Estatuto da Família. O grupo vai debater temas polêmicos, como o conceito de família e casamento entre pessoas do mesmo sexo. O projeto que cria o Estatuto da Família não precisa passar pelo plenário para ser aprovado; tramita em caráter conclusivo em comissões com maioria de religiosos. Somente um documento assinado por 51 deputados pode levar o projeto da bancada evangélica para o plenário e ampliar o debate. O relator do estatuto, deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), já sinalizou que seu relatório será contrário à adoção de crianças por casais homossexuais. “Esse tipo de adoção foi criado pelos tribunais, não pela legislação” A redenção de Lewandovski A soma de todos os votos envolvendo 113 questões da Ação Penal 470 mostra que a liderança de Ricardo Lewandovski foi maior do que se pensa. Embora tenha sido derrotado na condenação de José Dirceu e João Paulo Cunha, a matemática informa que o plenário acompanhou Lewandovski em 90 decisões, seguindo Joaquim Barbosa em 80, diz levantamento do site Consultor Jurídico. Se esse resultado tivesse sido alcançado na primeira fase do julgamento, Lewandovski teria direito a escrever o acórdão, síntese das decisões. Silvio Santos vem aí... O presidente da Câmara, Henrique Eduardo ­Alves, está apreensivo com a candidatura de Robinson Faria (PSD-RN) para o governo do Estado. Além da aliança com o PT, Faria terá agora o apoio do dono do SBT, Silvio Santos. O filho de Robinson, deputado Fabio Faria, se casará em breve com a empresária Patrícia Abravanel, filha do apresentador de tevê, que está grávida. 3#5 RICARDO ARNT - SÃO PEDRO NOS AJUDE O trânsito de São Paulo e a multiplicação de viadutos e túneis oferecem um paralelo sugestivo para a atual crise de abastecimento de água na cidade: o problema é a gestão da demanda, não da oferta. São Pedro avaro com as chuvas em São Paulo arma o cenário de uma crise anunciada de abastecimento de água, premente desde 2004, quando a recuperação dos reservatórios da capital tornou-se problemática. Desde 1930 não havia uma seca nem uma demanda tão grandes. O sistema Cantareira, que garante 61% do abastecimento da região metropolitana, está com 10,7% da capacidade. Parte dos especialistas considera que o racionamento é inevitável e deveria ser assumido imediatamente (um dia sem abastecimento para cada dois dias com), juntamente com a deflagração de campanhas pela economia da água (que já começaram) e a taxação do aumento de consumo. Outros temem os efeitos políticos da medida em um ano eleitoral e estimam que o acesso ao “volume morto” (o fundo dos reservatórios) pode suportar o consumo até outubro, depois da eleição. Teme-se que o racionamento induza a população a estocar o recurso, o que estressaria ainda mais o sistema. Mas e se o volume morto for consumido e continuar a não chover no Sudeste? E os reflexos na produção de energia? A crise de São Paulo não é de oferta, e sim de demanda. Os paulistas consomem 140 litros de água por dia (contra 110 litros recomendados pela ONU), mas os 21 milhões que vivem na região metropolitana serão 35 milhões em 2030. A lógica do aumento permanente da oferta induziu à criação de uma rede sofisticada, com oito sistemas de reservatórios interligados, ampliada por meio da “importação” da água das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A construção do nono sistema já começou, o São Lourenço, que captará águas do rio Ribeira de Iguape em 2018. Também se pretende agregar o rio Paraíba do Sul à base, apesar do conflito inevitável com o abastecimento do Rio de Janeiro. Tudo isso porque a bacia do rio Tietê está poluída demais para ser usada e o custo do tratamento é exorbitante. A situação do trânsito na cidade e a multiplicação de viadutos e túneis oferecem um paralelo sugestivo com a crise de abastecimento de água. Muitos países investem na gestão da demanda, mas o Brasil sempre corre atrás da gestão da oferta. Toda vez que o problema do abastecimento de água aflora, novas obras são encomendadas. Nunca se investe em racionalização do consumo e educação, soluções pouco atrativas em termos políticos porque abalam o conforto “espaçoso” do consumidor. Mas a pressão da demanda transformou a metrópole numa das regiões de maior escassez de água do País, tão ou mais grave do que a do Semiárido nordestino. Se a população aumenta, a atividade econômica cresce e os rios não são revitalizados na mesma proporção, o desequilíbrio é fatal, independentemente das mudanças climáticas, que podem agravar o cenário ainda mais. Em janeiro, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, identificou três grandes riscos de alto impacto e probabilidade para as economias globais: crise fiscal, crise de desemprego e falta de água. Já o Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos, publicado pela Agência Nacional de Águas em 2013, revela que a retirada total de água no Brasil aumentou 29% entre 2006 e 2010 (o gasto em irrigação praticamente triplicou em algumas regiões). Está mais do que na hora de mudar de foco. Ricardo Arnt é diretor da revista Planeta 4# BRASIL 7.5.14 4#1 A CAMINHO DO SEGUNDO TURNO 4#2 O DESENCANTO COM O BRASIL 4#3 O PACOTE DE BONDADES NO DIA DO TRABALHO 4#4 A VOZ DO COMPARSA 4#1 A CAMINHO DO SEGUNDO TURNO Pesquisa ISTOÉ/Sensus mostra pela primeira vez que eleição presidencial não deve ser revolvida em uma só votação, como apontavam enquetes até agora divulgadas. A oposição ganha votos e, se fosse hoje, a disputa seria entre Dilma Rousseff e Aécio Neves Pesquisa ISTOÉ/Sensus mostra pela primeira vez, desde que começaram a ser divulgadas as enquetes eleitorais de 2014, que a sucessão da presidenta Dilma Rousseff deverá ser decidida apenas no segundo turno. No levantamento realizado com dois mil eleitores entre os dias 22 e 25 de abril, Dilma (PT) soma 35% das intenções de voto. É seguida pelo senador mineiro Aécio Neves (PSDB), com 23,7%, e pelo ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com 11%. Juntos, Aécio e Campos têm 34,7% dos votos, praticamente a mesma votação de Dilma (diferença de 0,3%). Como a pesquisa tem uma margem de erro de 2,2%, se a eleição fosse hoje o futuro presidente seria escolhido no segundo turno numa disputa entre Dilma e o tucano Aécio Neves. A mesma situação ocorre quando, diante do eleitor, é colocada uma lista mais ampla, incluindo os nomes de pré-candidatos nanicos como Levy Fidelix (PRTB) e Randolfe Rodrigues (Psol), por exemplo. Nesse caso, a presidenta fica com 34% das intenções de votos e os demais candidatos, 32,4%. Diferença de 1,6%. Um cenário que também permite concluir pela realização de segundo turno entre Dilma e Aécio. “A leitura completa da pesquisa indica que a presidenta terá muita dificuldade para reverter o quadro atual”, afirma Ricardo Guedes Ferreira Pinto, diretor do Sensus. O resultado da primeira pesquisa da série que será feita por ISTOÉ em parceria com o Sensus explica a tensão que passou a dominar o Palácio do Planalto e a cúpula do PT nas últimas semanas. Desde que assumiu o governo, em janeiro de 2011, todas as enquetes apontavam para uma confortável reeleição da presidenta ainda no primeiro turno. Agora, mais do que a concreta hipótese dos dois escrutínios, há uma ameaça à própria reeleição. A distância que separa Dilma de seus opositores nunca foi tão pequena. No levantamento ISTOÉ/Sensus realizado em 136 municípios de 24 Estados, menos de 7% dos votos distanciam Dilma de Aécio em um eventual segundo turno. Se a eleição fosse hoje, a presidenta teria 38,6% e o senador mineiro 31,9%, uma diferença de 6,7%. Se a disputa fosse com o ex-governador Eduardo Campos a situação de Dilma seria mais confortável: teria 39,1% contra 24,8%. “O que se percebe é que no último mês passou a ocorrer uma migração de votos da presidenta para candidatos da oposição. Antes, as pequenas quedas de Dilma aumentavam o índice de indecisos”, diz Guedes. Mais do que o crescimento das candidaturas de PSDB e PSB, dois outros fatores revelados na pesquisa ISTOÉ/Sensus têm tirado o sono dos aliados da presidenta. O primeiro é a alta taxa de rejeição. Hoje 42% dos eleitores afirmam que não votariam em Dilma de jeito nenhum. Eduardo Campos é rejeitado por 35,1% e Aécio Neves por 31,1%. “Como a presidenta é a mais conhecida dos eleitores, não é surpresa que tenha também um índice maior de rejeição, mas 42% é muita coisa”, analisa Guedes. “Não me recordo de nenhum caso de alguém que tenha conseguido se eleger chegando ao segundo turno com mais de 40% de rejeição. E o quadro atual não é favorável para a presidenta reverter esses números”, conclui. O outro elemento que assombra as lideranças do PT e a cúpula do governo refere-se à fidelidade partidária. Historicamente, o PT costuma assegurar, nas eleições majoritárias, uma média mínima entre 16% e 18% dos votos para seus candidatos, o que tem invariavelmente levado o partido ao segundo turno nas principais disputas. São os chamados votos petistas. Este ano, o levantamento ISTOÉ/Sensus aponta para sinais de fadiga no partido. De acordo com a pesquisa, apenas 9,6% do eleitorado declarou identificação com a legenda da estrela vermelha. Ainda é a legenda com maior empatia (o PSDB tem 5,1% e o PMDB, 2,3%), mas está longe das marcas que exibia em disputas anteriores. “Certamente a prisão dos envolvidos com o mensalão e principalmente as denúncias que pesam sobre a Petrobras são fatores determinantes para isso”, explica Guedes. Analistas políticos são unânimes ao afirmar que o bom desempenho eleitoral do PT em 2006 (quando o ex-presidente Lula foi reeleito) e em 2010 (quando Dilma venceu) pode ser atribuído, em boa parte, a uma arma poderosa: a melhora do poder aquisitivo do brasileiro desde que Lula e seus aliados chegaram ao Palácio do Planalto em 2003. Programas como o Bolsa Família, aliado a um momento de praticamente pleno emprego e ventos econômicos favoráveis, foram suficientes para se sobrepor à denúncia do mensalão, por exemplo. Agora, a pesquisa ISTOÉ/Sensus constata que a inflação vem implodindo esse capital político e gerando desconfiança entre os eleitores. Dos entrevistados, 65,9% disseram que hoje têm menos poder de compra do que há um ano e apenas 15% afirmam que podem consumir mais. Guedes explica que os anos seguidos de índices inflacionários superiores ao crescimento do PIB levam a uma corrosão no poder de compra. “Na prática, a diminuição do poder aquisitivo fez com que pessoas que deixaram a linha da pobreza acabassem voltando para ela, embora os números absolutos não revelem isso”, diz Guedes. Certa de que se não conseguir mudar esses números corre sério risco de não se reeleger, a presidenta Dilma aproveitou o pronunciamento feito em razão do Dia do Trabalho para anunciar um pacote de bondades que visa principalmente repor o poder aquisitivo perdido pelos brasileiros nos últimos anos (leia reportagem na pág. 48). A pesquisa ISTOÉ/Sensus também mostra uma inédita reprovação do governo e da forma como a presidenta Dilma conduz a administração federal. Dos eleitores, 66,1% avaliam o governo como regular ou negativo e 49,1% desaprovam o desempenho pessoal da presidenta. Metade dos eleitores (50,2%) acredita que o Brasil não está no rumo certo. Números como esses fazem com que o fisiologismo que norteia a política brasiliense se aflore de forma perversa e partidos aliados passem a flertar com a traição sem o menor constrangimento. Na segunda-feira 28, por exemplo, 20 dos 32 deputados do PR assinaram um documento pedindo a volta do ex-presidente Lula como candidato. Acreditam que Dilma não dará conta de virar o jogo e fazem esse movimento sem segredo. O líder do partido na Câmara, Bernardo Santana, pendurou em seu gabinete a foto oficial de Lula quando assumiu o governo em 2003. Os números negativos e a falta de perspectiva de dias melhores fazem com que também no PT o movimento Volta, Lula ganhe apoio. Na semana passada, a presidenta se pronunciou publicamente tentando conter a debandada: “Ninguém vai me separar de Lula, nem ele vai se separar de mim”, disse. “Sei da lealdade dele a mim e ele da minha lealdade a ele.” Na oposição, a expectativa é de que as próximas pesquisas confirmem a tendência de queda da presidenta. “O eleitor está cansado disso tudo que está aí e é natural que esses votos comecem a migrar para os candidatos que representam a mudança”, disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O ex-governador Eduardo Campos (PSB) faz a mesma aposta. Segundo ele, “a migração de votos será ainda maior quando os candidatos da oposição se tornarem mais conhecidos”. De acordo com o diretor do Sensus, Ricardo Guedes, a pesquisa agora apresentada por ISTOÉ mostra que o eleitor ainda não assimilou a presença da ex-senadora Marina Silva (Rede) na chapa liderada por Campos. “Até agora, Marina transferiu para a aliança mais rejeição (ela tem 35,6%) do que votos”, afirma Guedes. 4#2 O DESENCANTO COM O BRASIL Um estudo inédito revela o que os brasileiros pensam do País: um lugar desonesto, violento e ruim para se viver Amauri Segalla (asegalla@istoe.com.br) e Paula Rocha Se o Brasil fosse uma pessoa, como ela seria? Alegre? Confiável? Distinta? Para uma parcela considerável da população, nenhum desses atributos traduz a verdadeira alma brasileira. Se o Brasil fosse alguém de carne e osso, a principal característica, aquela que se vê logo de cara, seria a desonestidade. Um estudo inédito realizado pela consultoria BrandAnalytics, empresa ligada à Millward Brown Optimor, um dos maiores grupos de pesquisa do mundo, revela o que os brasileiros pensam do País. Obtidos com exclusividade por ISTOÉ, os resultados são espantosos. Os entrevistados receberam uma lista com 24 palavras e tiveram que apontar quatro delas que definissem com exatidão a nação onde vivem. Metade das pessoas declarou que a palavra “desonesto” descreve a personalidade nacional. E mais: apenas 18% das pessoas afirmaram que o Brasil é o lugar ideal para viver, praticamente o mesmo percentual (17%) que apontou o Japão como o país preferido. Trata-se do índice mais baixo entre quatro nações pesquisadas. Segundo o estudo, 52% dos americanos, 30% dos ingleses – pessimistas por natureza, lembre-se – e 26% dos chineses escolheram seu próprio país como o lugar perfeito para viver. Não é preciso muito esforço para entender o que a pesquisa evidencia. Os brasileiros estão, afinal, desencantados. “O levantamento mostra um índice de insatisfação surpreendente”, diz Isa Telles, associada da BrandAnalytics e coordenadora do estudo. A mesma descrença é confirmada pela pesquisa ISTOÉ/Sensus, tema da reportagem de capa desta edição. Neste caso, 50,2% dos brasileiros não consideram que o País está no rumo certo. O que explica tanta desilusão? Basta dar uma espiada no noticiário para conhecer a incivilidade que permeia a vida de cada um de nós. Em São Paulo, alguém esquarteja o corpo de um motorista de ônibus e espalha partes dele pela cidade. No Rio, amarram um negro num poste e o espancam. Em Brasília, presos graúdos passam o tempo vendo jogos de futebol em tevês de plasma, enquanto no resto do País os cárceres são depósitos humanos degradantes. Em Belo Horizonte, hospitais públicos recusam atendimento a uma criança à beira da morte. No Nordeste, faltam professores. Em quase todo o Brasil há escassez de água, e os governos, sejam eles de qualquer cor partidária, atribuem a culpa sempre aos outros, sem jamais assumir responsabilidades. Por onde se anda as pessoas reclamam do preço de tudo o que se consome, do tomate na feira, do iPhone na loja da Apple, da passagem de ônibus, do carro esportivo. A economia não anda. As obras da Copa não saíram como o prometido. Os políticos querem o poder apenas pelo poder. O trânsito é horrível. A violência bate à nossa porta. Como ser feliz em um lugar assim? “Os resultados da pesquisa demonstram que grande parte da população não confia nem no País nem no seu semelhante”, diz Dulce Critelli, professora de filosofia da PUC de São Paulo. “É a representação concreta da ideia de que é preciso se defender não só dos outros, mas também de seus governantes.” Talvez isso explique por que cada vez mais brasileiros achem que a melhor saída é o aeroporto internacional. Moradores do Rio de Janeiro, o publicitário Pedro Henrique Ramos, 31 anos, e a produtora cultural Liana Saldanha, também 31, estão aprontando as malas para mudar para Portugal, em julho. Na terra dos antepassados, acreditam, terão melhores condições para criar os futuros filhos. “Comparo a vida de meus amigos que moram em Portugal com a dos que vivem no Brasil e vejo que lá fora há mais perspectivas”, diz o publicitário. “Aqui não temos serviços públicos decentes nem escola e hospitais.” O que impressiona é que, profissionais de certo sucesso no Brasil, eles vão largar tudo para se aventurar mundo afora. Mesmo diante das incertezas de lá, acham que vale a pena fugir das certezas desagradáveis daqui. Se você nunca foi enganado, pergunte a um parente ou amigo se já sofreu algum golpe e a resposta provavelmente será sim. As mazelas nacionais estão aí, em qualquer área ou atividade, tão visíveis quanto um assalto à luz do dia. A secretária Daiane Alves de Lima, 20 anos, foi convencida a pagar R$ 80 – sim, apenas isso – por mês para comprar a casa própria. Era uma mentira, um golpe deslavado. “Não desconfiei de nada”, diz. “Só quando compareci a uma reunião do projeto é que passei a questionar a validade dele.” Daiane perdeu dinheiro e pediu a ajuda do Instituto Nacional de Defesa do Consumidor do Sistema Financeiro para checar se deveria continuar no projeto. Na saúde, os golpes se sucedem. A securitária Luciane de Paula e Silva, 41 anos, decidiu fazer, em abril de 2013, uma cirurgia para colocação de um balão intragástrico em uma clínica particular. Pagou R$ 12.712 pelo serviço. Um dia antes da operação, foi informada que ela havia sido cancelada. “Naquele momento, decidi desistir da cirurgia, pois perdi a confiança na clínica”, diz ela. O que Luciane não sabia é que ali começaria uma batalha que se arrasta até hoje. “Fiz um acordo com a clínica em que eles me devolveriam parte do dinheiro da cirurgia”, conta. “Para o meu espanto, os cheques da clínica voltaram, pois não tinham fundos.” A pesquisa da BrandAnalytics confirma o que outros estudos já sugeriram: o descrédito profundo nas instituições, quaisquer que sejam elas. Segundo o levantamento, 81% dos entrevistados disseram que, para realizar seus sonhos, dependem essencialmente de esforços individuais. Só 13% responderam que precisam do suporte do governo. João Bico de Souza, 47 anos, é dono da Tecnolamp, uma empresa de iluminação com 40 funcionários diretos e 400 colaboradores temporários. “Abrir a empresa foi uma dificuldade”, diz. “Foram pelo menos dois meses de protocolos e burocracias.” João é o que se pode chamar de empreendedor nato. Filho de operário e de dona de casa, começou a trabalhar aos 15 anos, como balconista. Aos 22, já era empresário. O que o Brasil ofereceu para que seguisse em frente? Pouca coisa. “Falta apoio ou retorno do governo”, afirma. Tudo o que conseguiu, assegura ele, foi graças ao seu brutal esforço. No clássico “Raízes do Brasil”, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, ao falar do homem cordial como uma marca indestrutível do caráter brasileiro (cordial não quer dizer para ele bondoso, mas retrata principalmente os que agem movidos pela emoção e não pela razão), desdobra-se também sobre o que chama de “personalismo” do cidadão brasileiro. No Brasil, diz Holanda, as pessoas cultuam o mérito pessoal (é o popular “cada um por si”), em vez do trabalho coletivo. O individualismo exacerbado se reflete, na análise do historiador, em organizações sociais e governos frágeis. “A nossa pesquisa revela que o brasileiro não tem uma visão de País”, diz Isa Telles, da BrandAnalytics. Seria isso resultado da conjuntura ou de um processo histórico? Provavelmente, as duas coisas. Se o individualismo contribuiu para a formação do que se pode chamar de psique brasileira, nos dias atuais ganhou alento graças ao desgosto com os rumos do País. O grau de insatisfação dos brasileiros começou a ser escancarado em julho do ano passado, quando milhares de pessoas foram às ruas gritar contra as coisas erradas do País. Mas é um equívoco dizer que tudo ficou ruim de repente. De certo modo, o desencanto tem a ver com o próprio despertar dos brasileiros. É inegável que o Brasil avançou em muitas áreas nos últimos anos. A miséria diminuiu, a classe C teve acesso a bens como jamais tivera, a renda dos trabalhadores aumentou. Mas será apenas isso que buscamos? Com o avanço da economia, os brasileiros passaram a conhecer outras realidades. Viajaram, foram morar fora e com a internet tiveram maior acesso à informação. Descobriram, enfim, que há muitos mundos por aí – e realidades mais amigáveis que a nossa. O economista alemão Albert Hirschman desenvolveu uma teoria psicológica que explica a baixa tolerância das pessoas com o seu próprio destino quando se deparam com outro melhor. Ele chamou isso de “efeito túnel.” Se você está num congestionamento e a pista ao lado começa a andar, logo se enche de esperança e imagina que seu carro vai se movimentar também. Se a expectativa é frustrada, você fica furioso: “Por que eu não estou na outra pista?” Falar mal do Brasil é um dos esportes preferidos da nação. Sempre foi assim. Sobre o País, o jurista, político e escritor Ruy Barbosa disse o seguinte lá no século XIX: “De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar diante da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.” O que Barbosa disse não é muito diferente do sentimento de desencanto revelado pelos brasileiros na pesquisa da BrandAnalytics. “Se para a corrupção não há punição, a sociedade acaba se acostumando com as transgressões diárias das leis”, diz o economista Gil Castello Brasil, da Ong Contas Abertas. “Mudar essa cultura depende de um longo processo de educação. Nesse sentido, mostrar-se insatisfeito e indignado é bastante positivo.” O cientista político Fernando Weltman, da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, acha que o resultado do estudo expõe a baixa autoestima do brasileiro, consagrada por Nelson Rodrigues na expressão “complexo de vira-latas.” “As características apontadas na pesquisa reforçam o estereótipo de que os brasileiros são simpáticos e charmosos, mas podem te passar a perna”, diz Weltman. Isso realmente corresponde à realidade? Olhe para o lado e pense bem: a maioria das pessoas de seu convívio é desonesta? Elas querem levar vantagem sobre você? Não teria sido a impressão generalizada de desonestidade apontada na pesquisa um reflexo da má imagem que temos de nossos governantes? Não seria resultado dos índices chocantes de violência? Segundo a BrandAnalytics, hoje a maior preocupação dos brasileiros diz respeito justamente à segurança – segundo a ONU, 11 das 30 cidades mais violentas do mundo são brasileiras. É desnecessário dizer que, por mais que o Brasil tenha alimentado uma lamentável escola do crime nos últimos anos, as pessoas de bem, claro, representam larga maioria. O interessante da pesquisa é que os brasileiros julgam o Brasil um país desonesto, mas avaliam a si mesmos de maneira positiva. “É natural atribuir a si qualidades, mas achar que os outros não as têm”, diz Weltman, da FGV. Se metade dos entrevistados acredita que a principal característica do País é a desonestidade, 58% se dizem dignos de confiança. Ou seja, o meu vizinho é mau, mas eu sou bacana. No fundo, o que a pesquisa revela é que o Brasil tem um milhão de problemas para resolver e é só com a indignação – e o desencanto – que dá para sonhar com um país verdadeiramente melhor. 4#3 O PACOTE DE BONDADES NO DIA DO TRABALHO Em seu pior momento no governo, às vésperas da eleição, a presidenta anuncia medidas para tentar estancar a perda de popularidade Paulo Moreira Leite As sucessivas quedas da presidenta Dilma Rousseff nas pesquisas encerraram os tempos de conforto e otimismo no Planalto e levaram o QG da campanha do PT a definir, em reuniões reservadas, um conjunto de medidas para tentar estancar a hemorragia de votos. A prioridade, hoje, é recuperar a unidade do partido. Com uma agenda de momentos difíceis até o 5 de outubro – inflação nos alimentos, protestos na Copa do Mundo, denúncias sobre a Petrobras –, o governo tentará cortar pela raiz o movimento Volta, Lula – articulação de empresários, militantes de base, prefeitos e parlamentares que sonham substituir a candidatura de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais pela de Luiz Inácio Lula da Silva. TRABALHADORES REUNIDOS - Evento pelo Dia do Trabalho reuniu milhares de pessoas em São Paulo, na quinta-feira 1º Convencido de que o Volta, Lula só contribui para dispersar o partido e derrubar as intenções de voto da presidenta, Lula acertou com Dilma uma participação no Encontro Nacional do PT, na noite da sexta-feira 2, em São Paulo, para repetir com ênfase aquilo que não para de dizer nas últimas semanas: não é nem pretende ser candidato ao Planalto e vai trabalhar pela reeleição de Dilma. “O Volta, Lula, hoje, só beneficia nossos adversários,” afirma a deputada Fátima Bezerra (PT-RN). Numa cena sob medida para constranger o governo, na semana passada 20 parlamentares do PR, partido da base de Dilma, que já abrigou o vice de Lula, José Alencar, assinaram um manifesto a favor do Volta, Lula. Em outro esforço de pacificação, o Planalto tenta enquadrar a cúpula da Petrobras. A atual presidente, Graça Foster, e o ex-presidente Sérgio Gabrielli têm divergido publicamente, o que, para o governo, pode produzir escândalos fatais até a eleição. Governo tenta cortar pela raiz o coro do Volta, Lula que na avaliação do Planalto tira votos de Dilma Como parte da reação, na véspera do 1º de maio Dilma fez um pronunciamento de 12 minutos em rede nacional. Num tom militante e com sorrisos quase permanentes, anunciou um conjunto de medidas favoráveis – chamado de “pacote de bondades” pela oposição – ao eleitorado tradicional do PT, formado por famílias de trabalhadores e cidadãos mais pobres. Começou com um reajuste de 10% no programa Bolsa Família – o valor do benefício médio passará de R$ 216 para R$ 242 – e a correção na tabela do Imposto de Renda. Também assumiu o compromisso de manter a política de valorização do salário mínimo, alvo de um debate difícil entre empresários e sindicatos. “Nosso governo nunca será o governo do arrocho salarial nem o governo da mão dura contra o trabalhador,” disse Dilma. OLHO NA CLASSE MÉDIA - Em pronunciamento na tevê, Dilma prometeu corrigir a tabela do Imposto de Renda Os próximos meses permitirão avaliar acertos e erros dessa intervenção. O problema é que Dilma enfrenta uma dificuldade essencial em 2014. Pela primeira vez desde que Lula chegou ao Planalto, em 2003, a economia deixou de ser um vento a favor das campanhas do PT. O emprego continua no melhor patamar da história e a renda continua subindo, mesmo lentamente. Isso ajuda Dilma. Mas a inflação tornou-se o maior obstáculo à reeleição. Em média, a alta de preços não sofreu alterações substanciais. O problema é que atingiu os alimentos e, mesmo que não se possa culpar o governo pelos efeitos nocivos da seca prolongada, também não é possível convencer o eleitor a ficar menos irritado por causa disso. As medidas anunciadas na semana passada pretendem responder a essa situação – a dúvida é saber como serão recebidas pela população.  4#4 A VOZ DO COMPARSA A pedido da Comissão da Verdade, Polícia Federal tenta encontrar Wilson Machado, o coronel reformado presente no interior do Puma que explodiu no estacionamento do Riocentro em 1981. Depoimento pode finalmente elucidar o caso depois de mais de 30 anos Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) O coronel reformado Wilson Machado viveu os últimos 33 anos como um típico carioca na Barra da Tijuca, onde mora, e na Praia Vermelha, seu local de trabalho até 2012. As cicatrizes de seu abdome – marca que carrega pela participação no atentado do Riocentro – o impedem de circular sem camisa no calor do Rio de Janeiro, mas nunca limitou seus compromissos sociais na cidade. O silêncio do militar lhe garantiu uma vida tranquila e, graças à proteção de seus pares, o passado não o incomodava. Nos últimos dois meses, porém, Machado alterou sua rotina pacata e desapareceu. Ele tomou essa iniciativa depois de saber que agentes da Polícia Federal o procuram para que ele preste depoimento à Comissão da Verdade em Brasília. A Comissão quer saber dele detalhes sobre o transporte clandestino de bombas em seu carro, no dia 30 de abril de 1981, para promover o atentado em evento organizado pelo Partido Comunista Brasileiro nos pavilhões do Riocentro. Quando Machado for encontrado, ele terá de comparecer à audiência. Isso porque a comissão tem amparo legal para solicitar à PF a condução coercitiva do coronel reformado, que passou a vida se esquivando de dizer a verdade sobre o crime que colocou a vida de 20 mil pessoas em risco. A ideia da Comissão da Verdade é confrontar o ex-capitão com o homem que o socorreu logo após a explosão e testemunhou a ação criminosa: o corretor de imóveis Mauro César Pimentel. Ouvido na semana passada, Pimentel revelou detalhes que derrubam os argumentos apresentados nos inquéritos militares até então: os de que Machado estava no local “em missão de fiscalização, como um agente à paisana”. Pimentel rebateu essa versão. Ele disse que viu o sargento Guilherme Pereira Rosário e o capitão Wilson Machado armando a bomba que minutos depois explodiu com eles dentro do carro. Ele afirma que tentou socorrer o capitão, que ficou gravemente ferido. O sargento, que estava com o explosivo no colo, morreu na hora. “Se ele quiser negar isso o resto da vida, que negue. As provas mostram que as mentiras deles vêm à tona. O carro não estava em movimento, estava parado. E não teve granada. Eu o socorri, e o tirei de dentro do carro, com os olhos esbugalhados, o braço chamuscado e o abdome sangrando muito”, afirmou Pimentel. Outra testemunha ouvida pela Comissão da Verdade, na última semana, o almirante Júlio de Sá Bierrenbach disse que os militares tinham bombas no carro para um atentado com muito mais vítimas e que o primeiro inquérito foi manipulado desde o início para colocar os dois autores como vítimas. O fracassado atentado do Riocentro sempre foi motivo de constrangimento entre os militares. O plano de explodir bombas na festa do 1º de maio e colocar a culpa nos militantes de esquerda foi arquitetado durante um ano, mas na desastrosa execução o sargento Guilherme do Rosário foi a única vítima. Wilson Machado estava do lado. Usou um Puma, seu carro particular, no crime. Ele era o líder da “equipe 1” dos quatro grupos que planejaram o atentado. As bombas que transportava no carro seriam usadas para explodir o palco de shows, o que fatalmente mataria artistas e parte do público. Os militares do chamado “Grupo Secreto” acreditavam que uma série de atentados falsamente atribuídos à esquerda poderia frear o processo de redemocratização que se iniciava. Como se sabe, a armação deu errado. Embora tenha sido denunciado pelo Ministério Público Federal, uma vez que o crime de 1981 não está coberto pela Lei da Anistia, de 1979, o ex-capitão só havia se pronunciado em investigações comandadas pelos próprios colegas, mas ele nunca foi confrontado ao repetir que estava em “missão de fiscalização”. Ao MP, Machado insistiu na versão de que, no dia do atentado, era um agente “disfarçado de civil”, apesar de as investigações terem identificado que seu colega usava coturnos quando morreu. “A versão apresentada não é crível, não sustenta padrões mínimos de plausibilidade, além de ser dissonante de toda prova produzida nos autos”, traz relatório produzido pelo Ministério Público. Se a PF conseguir encontrá-lo e o depoimento for confirmado, será a chance histórica de elucidar o caso, três décadas depois. O atentado do Riocentro foi o maior da série de outras 46 explosões que ocorreram no País de 1980 a 1981. Os delitos cometidos com a anuência do Estado brasileiro, após a promulgação da Anistia, permaneceram sem nenhum tipo de condenação. Os militares envolvidos na série de atentados ocorridos durante o governo de João Figueiredo nunca foram identificados. O avanço nas investigações do atentado do Riocentro tem o efeito de desencadear apurações regionais sobre outros crimes. Apesar de os delitos terem ocorrido há mais de 30 anos, eles são considerados imprescritíveis, pois não são enquadrados como tentativa de homicídio, mas atentado do Estado contra cidadãos. 5# COMPORTAMENTO 7.5.14 4#1 RACISMO NÃO 4#2 EXISTE ÉTICA NO FUTEBOL? 4#3 ECOLOGISTAS SOB ATAQUE 4#4 ESSE CARA SOU EU 4#5 DESPREPARO FATAL 5#1 RACISMO NÃO Ao comer uma banana jogada por um torcedor espanhol, o jogador brasileiro Daniel Alves desencadeou uma campanha global contra o preconceito racial, mas esse movimento antirracista não pode se restringir ao esporte Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Estádio El Madrigal, 35ª. rodada do Campeonato Espanhol, domingo 27 de abril. Trinta minutos do segundo tempo de Villareal e Barcelona. De repente, cai uma banana na área de escanteio, em direção ao lateral do time catalão, Daniel Alves. Infelizmente, uma cena corriqueira nos estádios europeus. Mas o jogador brasileiro resolve mudar o curso da história e, de vítima, passa a protagonista. Prestes a chutar a bola, ele para, olha, corre para a frente, pega a fruta, descasca e a enfia na boca, de uma vez só. A cena dura apenas seis segundos, mas foi o suficiente. Com esse ato simbólico, o atleta conseguiu criar uma rede de mobilização contra o racismo, iniciada no próprio domingo com Neymar, seu colega de clube, que postou uma foto reproduzindo o gesto no Instagram. A partir daí, pulularam nas redes sociais imagens de personalidades do Brasil e do mundo segurando ou comendo uma banana acompanhadas da hashtag “somos todos macacos”, mais tarde revelada uma campanha de uma agência de publicidade – detalhe que pouco importa, uma vez que o que deve ser combatido é o gesto de intolerância, não uma ideia original e oportuna. Agora, os esforços antirracistas já estão concentrados na Copa do Mundo. A pouco mais de um mês do campeonato, o governo federal anunciou que pretende criar uma campanha contra o preconceito e aproveitar os holofotes do campeonato para discutir o problema. A presidenta Dilma Rousseff também pediu ao papa Francisco que escreva uma carta contra o racismo, a ser lida na abertura do evento. E o chefão da Fifa, Joseph Blatter, declarou que, nas partidas do Mundial, a ordem é tolerância zero contra o menor sinal de preconceito. Mas essa mobilização não pode ficar restrita às arenas esportivas, até porque o ódio racial, velado ou não, está assentado nas mais diferentes camadas da sociedade. É uma ótima oportunidade de se iniciar um movimento global contra a intolerância. Na Europa, onde jogadores negros brasileiros, como Daniel Alves e Neymar, relatam ser alvo de racismo há muitos anos, é comum acontecer manifestações racistas e xenófobas. Na França, há grupos de extrema direita que frequentemente realizam manifestações contra imigrantes. O mesmo ocorre na Itália. A ilha de Lampedusa é considerada porta de entrada para estrangeiros entrarem ilegalmente na Europa, e no local já há denúncias de violações contra os direitos humanos. Com o crescimento da imigração também na Espanha, o País está hoje entre os mais racistas e xenófobos do continente. Todas essas ações de intolerância precisam ser banidas. O racismo se escancara no universo dos esportes porque é um ambiente onde os negros brilham e se sobressaem, em diferentes modalidades – caso do futebol, do atletismo e do basquete, por exemplo. Motivados pela competição, torcidas adversárias usam a cor da pele como ofensa, fruto de um discurso de intolerância que estão acostumados a ouvir fora de campo. “Futebol é representação da cultura coletiva. Nos estádios estão os mesmos desejos e valores compartilhados socialmente. Entre eles, o preconceito”, afirma o sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para Entender: A Violência no Futebol” (Ed. Saraiva). A diferença é que, no meio da torcida, o indivíduo se liberta de algumas amarras e resolve extrapolar as regras sociais. “A multidão propicia esses excessos porque as pessoas se sentem escondidas, o que suscita o lado mais bárbaro e não civilizado.” Isso não significa que o comportamento é generalizado. Atos racistas costumam provocar espanto em parte dos brasileiros, vide a repercussão do que aconteceu com Daniel Alves. Para o historiador Joel Rufino dos Santos, autor de “A Escravidão no Brasil” (Ed. Melhoramentos), as reações contrárias mostram um desejo genuíno em favor da democracia racial. “Mas ela não existe. Enquanto esta reportagem estiver sendo lida, provavelmente um negro estará sofrendo algum tipo de preconceito”, diz. Apesar de a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), órgão ligado à Presidência da República, registrar um aumento no número de denúncias no Brasil ano após ano (em 2011 foram 219, em 2013, 425), é certo que os casos de intolerância são muito mais numerosos do que as estatísticas reproduzem. Vivemos uma situação de preconceito naturalizado, onde tudo vira piada ou brincadeira. “Se alguém chama um negro de ‘picolé de asfalto’, soa engraçado, não? Mas não só não tem graça nenhuma, como mostra que a cor da pele é motivo de subordinação. É humilhante”, afirma Giovanni Harvey, secretário-executivo da Seppir. Segundo ele, no Brasil, todos convivem aparentemente bem por causa do que ele chama de racismo cordial. “Um negro pode ser seu vizinho, você cumprimenta, conversa. Mas o jovem com cor de pele mais escura não vai poder namorar sua filha branca.” Num país em que a população negra é maioria, representando 51% dos habitantes e com projeção de chegar a 60% nos próximos anos, o termo certo para caracterizar a situação dos pretos e pardos no País é: desvantagem. Ações como as cotas para negros, por exemplo, louváveis, visam a compensar a desigualdade, não a diminuir o preconceito. O processo histórico de formação do País tem o componente étnico como elemento estruturante. Palco da mais longa escravidão das Américas, 350 anos, o Brasil “se fez” durante esse período, nas palavras de Joaquim Nabuco (1849-1910): “...Consumiu os lucros na compra de escravos e no luxo da cidade; não edificou escolas, nem igrejas, não construiu pontes... o que fez foi esterilizar o solo pela sua cultura extenuativa, embrutecer os escravos, impedir o desenvolvimento dos municípios...” Continua o político abolicionista: “...essa fábrica de espoliação não podia realizar bem algum, e foi, com efeito, um flagelo que imprimiu na face da sociedade e da terra todos os sinais da decadência prematura...” Com base nessa perspectiva, não é à toa o baixíssimo número de negros e pardos que atingem cargos de grande representatividade até os dias de hoje. E no futebol não é diferente. Mesmo com muitos jogadores negros, cargos de presidentes de confederações, dirigentes de clubes e técnicos continuam sendo ocupados, na maioria das vezes, por brancos. E quando conseguem atingir posições mais altas, acabam sendo humilhados por causa da cor da pele. “Tenho relatos de treinadores negros que ouviam dos presidentes dos clubes que seriam demitidos por sua cor”, afirma o historiador da Universidade de São Paulo Marcel Diego Tonini, autor de pesquisa sobre a presença do negro no futebol. O mesmo acontece em outras posições de visibilidade. Um dos relatos mais recentes é o do árbitro Márcio Chagas, 37 anos, que foi chamado de macaco enquanto apitava um jogo entre Esportivo e Veranópolis, no Campeonato Gaúcho, em março deste ano. “Teu lugar é na selva” e “volta para o circo” foram outras ofensas que Chagas ouviu na partida. Não bastasse isso, torcedores do Esportivo deixaram bananas no carro do árbitro. “Em 15 anos de trabalho, já passei por situações parecidas, mas essa foi a mais violenta”, diz ele. O baque foi tão grande que a primeira decisão foi abandonar a profissão. Mas Chagas decidiu apitar até o fim do campeonato e pelo quarto ano consecutivo foi eleito o melhor árbitro. “Senti muita aflição em relação à carreira. Poderia seguir por mais oito anos na minha função, mas decidi antecipar minha aposentadoria”, diz ele, que deixou os campos. EM PAUTA - A atriz Lupita Nyong'o, eleita a mais bonita do mundo pela revista "People" e Oscar de melhor atriz coadjuvante por "12 Anos de Escravidão": a intolerância em discussão no cinema Para Chagas, a punição contra o Esportivo foi muito branda. O clube perdeu cinco mandos de campo e teve multa de R$ 30 mil. Depois, ainda perdeu nove pontos e foi rebaixado. “Os dirigentes poderiam ter localizado os torcedores que colocaram as bananas no meu carro, mas foram omissos”, afirma. Para os especialistas, é preciso estabelecer sanções mais duras e padronizadas. “Falta atitude. Fifa, Uefa e CBF podem fazer muito mais do que levar uma faixa para o campo onde se lê ‘diga não ao racismo’”, afirma o pesquisador Marcel Tonini. Talvez seguir o exemplo da NBA, a liga de basquete americana, que aplicou uma multa de US$ 2,5 milhões (R$ 5,6 milhões) ao dono do time Los Angeles Clippers, Donald Sterling, e o baniu do esporte após o vazamento de uma conversa com a namorada em que ele pede para não divulgar fotos ao lado de negros. Uma situação tão grave que o negro Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, se manifestou. “Quando um ignorante fala para demonstrar a sua ignorância, não devemos fazemos nada, só deixá-lo falar”, afirmou o líder do governo norte-americano. O responsável por atirar a banana em Daniel Alves foi identificado e preso. Ele se chama David Campayo Lleo e tem 26 anos. Foi banido do estádio do Villarreal, detido, e, se for condenado pela Justiça, ficará preso por até três anos. Caso um ato como o de Campayo Lleo se repita no Mundial do Brasil, a Fifa não tem nada especificado em relação às punições. Afirma somente que sua postura segue o que está escrito no Artigo 3 do estatuto da organização, que fala somente em “suspensão ou expulsão”, sem estipular períodos nem valores de multa. Além disso, afirma que “as quartas de final da Copa serão novamente dedicadas à luta contra a discriminação”. Soma-se a isso o texto do papa Francisco. “Mas isso é só discurso. Não acho que terá impacto real”, afirma o historiador Joel Rufino dos Santos. “Precisamos ter ações práticas. Acredito mais no poder do professor do que no do papa.” De fato, a educação tem um papel essencial para caminharmos rumo ao fim do racismo. A mudança de mentalidade fora de campo naturalmente vai se manifestar durante os jogos, e quem sabe esportistas ou não, os negros passarão por menos situações humilhantes. “Desde que nasce, a criança convive com ideologias racistas e práticas discriminatórias. Estabelecer o diálogo cedo permitirá que ela desenvolva um olhar que valoriza a diversidade”, afirma a educadora Eliane Cavalleiro, autora do livro “Racismo e Antirracismo na Educação (Ed. Selo Negro)”. O Ministério da Educação disponibiliza desde 2005 material didático voltado para o combate ao preconceito racial em sala de aula. Mas, segundo Eliane, o primeiro passo é o professor pensar em suas próprias atitudes: “Não adianta ter o discurso contra o preconceito só dentro da classe.” Para o professor de direito da Universidade de Washington Jeremi Duru, que está no Brasil levantando dados para a pesquisa “A Inclusão Social de Negros pelo Esporte”, o esforço de tentar solucionar a chaga do racismo também pode ser pensado de dentro para fora. Segundo ele, se as manifestações de intolerância diminuírem nas arenas esportivas, as boas práticas de respeito podem se repetir além das quatro linhas. “Muitas vezes, a sociedade segue para onde o esporte aponta. Portanto, se pudermos erradicar o racismo no esporte, nós estaremos mais bem equipados para resolvê-lo na sociedade.” A Copa do Mundo é uma ótima oportunidade para esse bom combate. 5#2 EXISTE ÉTICA NO FUTEBOL? Compra do atacante Alan Kardec pelo São Paulo, interrompendo negociação do Palmeiras com seu jogador, mostra a falta de princípios morais nas transações de atletas Dois dos maiores clubes brasileiros, Palmeiras e São Paulo romperam relações na semana passada. O racha, com direito a bate-boca público entre seus presidentes, se deu pela disputa por Alan Kardec, um jogador nada extraordinário que, aos 25 anos, virou água cristalina no deserto atual do nível técnico dos atletas que atuam no Brasil. O Palmeiras, como afirmou seu presidente, Paulo Nobre, tomou um “passa-moleque” do tricolor paulista, que convenceu o atacante a trocar de clube ao oferecer um salário de R$ 350 mil – 175% superior ao que o alviverde queria pagar para o seu camisa 14 renovar o contrato que ainda está em vigor. O São Paulo, de Carlos Miguel Aidar, não esperou as negociações entre o jogador e o Palmeiras terminarem e atravessou a transação sem sequer consultar o clube de Kardec. “Dois presidentes de clubes se interessaram pelo Kardec, me ligaram e disseram que iam aguardar o fim da nossa negociação para tentar contratá-lo”, disse Nobre à ISTOÉ na quinta-feira 1º. “Essa é a postura ética e não a populista, imediatista, feita pelo presidente do São Paulo, para ficar bem com a torcida, que acha o máximo o ‘roubo’.” RACHA - Queda de braço entre Palmeiras, do presidente Nobre (abaixo), e São Paulo (última) pelo atacante Kardec: relações cortadas e prejuízo para o futebol Para Eduardo Tega, diretor da Universidade do Futebol, instituição que capacita gestores, a ausência de um mercado regulado favorece um ambiente antiético no esporte. É nesse cenário que jogadas marotas, como a do presidente do São Paulo, conseguem prosperar. “A queda de braço enfraquece a união dos clubes por melhores condições para o futebol”, diz Tega. Comentarista dos canais ESPN, o jornalista Mauro Cezar Pereira vai na mesma direção: “Apesar de a ética não existir no futebol, e o São Paulo estar amparado pela lei, o comportamento dele não foi adequado, inteligente. Às vezes, é melhor não assediar jogador pelo bem comum.” A existência de um código de ética entre os clubes de futebol é uma utopia. Em 2012, Flamengo e Fluminense travaram uma disputa pelo meio-campista Thiago Neves, então atleta do árabe Al Hilal. Emprestado ao Flamengo, o jogador acertou salários com o Fluminense enquanto estava no rubro-negro e para lá se transferiu. Thiago deu chapéu até em seu empresário, que negociava com o Flamengo enquanto o jogador já havia acertado com o time rival. Se não há santo nesse mercado, atualmente, o diabo veste tricolor: o São Paulo ostenta a fama de aliciador de jogadores. No ano passado, cansados de episódios de assédio, sete clubes ameaçaram não disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, caso o time não fosse excluído. A situação foi contornada – ninguém foi afastado ou abandonou o torneio. Enquanto os presidentes não se sentarem para elaborar um código de princípios, casos como o de Kardec vão se repetir. Fica difícil, para quem age dessa forma, pedir ética, respeito e civilidade para as torcidas organizadas. 5#3 ECOLOGISTAS SOB ATAQUE Relatório internacional aponta o Brasil como o mais violento do mundo para quem defende a preservação dos recursos naturais. Foram 448 assassinatos em 11 anos Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) Uma grave crise, que parecia se esconder da sociedade, apresentou-se em números nas últimas semanas. Um relatório da ONG britânica Global Witness, recém-divulgado, revelou que na última década foram assassinados 908 ativistas em 35 países. E, segundo a instituição, o Brasil é a nação mais mortal do mundo para pessoas que defendem recursos naturais e direitos pela terra, com 448 homicídios registrados entre 2002 e 2013. “Percebemos um aumento acentuado nos últimos anos nos países da América Latina e da Ásia”, afirmou à ISTOÉ Alice Harrison, porta-voz da Global Witness. “Esses números, no entanto, são apenas a ponta do iceberg, uma vez que, com a falta de informação e da atenção dos órgãos responsáveis, é impossível saber a real escala do problema.” O estudo alertou, ainda, que nesse período apenas dez casos foram julgados no mundo todo. “Os governos devem monitorar abusos e assassinatos e levar os responsáveis à Justiça, pois faltam políticas de proteção”, diz Harrison. As maiores vítimas, de acordo com o documento, são pessoas que lutam contra a exploração mineira e o comércio da madeira. VÍTIMAS - Da esq. para a dir., Gonzalo Hernandez, Paulo César Ferreira, Ivan Tenharim e Oziel Gabriel: ativistas assassinados no Brasil no último ano Na terça-feira 29, outro levantamento, realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, apontou que no ano passado foram registrados 1.266 conflitos no campo em todo o País. O que chama a atenção nos dados, segundo a instituição, é o envolvimento das populações indígenas nos conflitos. Das 1.266 ocorrências, 205 estão relacionadas aos índios. De acordo com o secretário da coordenação nacional da CPT, Antônio Canuto, a impunidade ainda é um dos fatores que alimentam a violência. “Como raramente um mandante de crime é condenado, quando um pistoleiro ou fazendeiro quer se ver livre de alguém, ele simplesmente o faz”, diz. Além das ameaças diretas, Robson Formica, membro da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, afirma que os ativistas brasileiros enfrentam a criminalização, a coação e a intimidação. Um recurso que vem sendo comumente utilizado é o chamado interdito proibitório. Ocorre quando um ativista é condenado a pagar multas – que podem chegar ao valor de R$ 100 mil por dia – quando é considerado uma ameaça. “É mais uma forma de amedrontar os manifestantes”, afirma Formica. O bispo Irineu Andreassa, da Diocese de Lajes, em Santa Catarina, afirma ter sido impedido de ajudar as famílias que se manifestavam contra a construção da Usina Hidrelétrica Garibaldi em 2013. “Tive de manter distância do canteiro de obras da usina”, diz. “Se me aproximasse, poderia ser preso ou pagar uma multa de R$ 10 mil.” O advogado da Comissão Pastoral da Terra, José Batista Afonso, convive com intimidações no campo há pelo menos três décadas. Formado em teologia e direito, Afonso passou a atuar na defesa das famílias que participavam da ocupação de terras em 1996, ano do massacre em Eldorado dos Carajás. “Já vi muita injustiça, mas não penso em parar porque levo esse trabalho como uma missão.” 5#4 ESSE CARA SOU EU Edição de luxo com a trajetória de Roberto Carlos em imagens traz fotografias raras e documentos desconhecidos do cantor, que nunca autorizou um livro a seu respeito Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Foram cinco anos de trabalho e 15 impressões desmarcadas na porta da gráfica, mas desta vez Roberto Carlos aprovou. Depois de três livros tirados de circulação e incontáveis tentativas de frustradas de biógrafos e historiadores com projetos biográficos, o primeiro livro sobre a trajetória do Rei chega ao mercado por nada módicos R$ 4.500 e a tiragem quase esgotada na primeira semana. O cantor, avesso a todo tipo de comentário sobre sua vida, disse sim com uma primeira condição de muitas: que o livro não tivesse nenhuma palavra. Assim, o volume não traz nenhuma menção sobre a volta ao consumo de carne depois de fechar campanha publicitária para um frigorífico, da paixão não consumada pela cantora Wanderléa ou sobre a prótese mecânica que substitui a metade da perna direita amputada na infância. Mas tem muitas fotos dele com a Ternurinha, acompanhado de cada uma das três mulheres (Cleonice Rossi, Myriam Rios e Maria Rita), com o amigo, parceiro e, durante algum tempo, desafeto Erasmo Carlos e muitas celebridades da cena musical da época da Jovem Guarda até os dias atuais. VAIDADE - O Rei participou da escolha das fotos, aprovou as montagens (abaixo) e palpitou sobre o tratamento de imagens, pedindo para não exagerar no Photoshop, "para não ficar com cara de artificial" “Está tudo lá”, garante Carlos Ribeiro, coordenador do projeto mais demorado da Toriba, editora da fotobiografia de Pelé, “1283”. “O Dody Sirena (empresário do astro) disse que se tivesse texto, nem em dez anos conseguiríamos terminar o livro”, diz o editor. “E concordo. Nunca conheci ninguém tão perfeccionista.” O excesso de revisões, trocas, mudanças de ordem e observações técnicas nos tratamentos das fotos, conta Ribeiro, se devem principalmente ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) que Roberto Carlos trata há alguns anos. “Ele olhou e reolhou detalhes até um ponto de se tornar insuportável até para ele”, lembra o editor. O cantor, uma das cabeças do movimento Procure Saber, que defende a submissão de biografias a seus biografados, esteve em São Paulo para um lançamento reservado do primeiro lote – o contrato prevê até seis lotes de 500 exemplares, num total de 3 mil volumes. O livro teria o tamanho da edição com fotos do Pelé, 47 por 34 centímetros. Mas o Rei achou que a peça seria grande demais para ser manipulada pela parcela mais importante de seu público, as mulheres. E assim, a edição de luxo, impressa numa das mais sofisticadas gráficas italianas – a Graphicom, de Verona –, foi reduzida para 44 por 32 centímetros, com 300 imagens selecionadas entre mais de quatro mil fotografias vindas principalmente em arquivos de jornais e revistas. “Ele não se lembrava da maior parte delas. Alguns momentos de revisão do passado foram comoventes. Roberto Carlos é emocional, como suas músicas. E suas letras quase sempre contam o que ele viveu ou sentiu.”, diz Ribeiro. Essa constatação resolveu parcialmente um dos problemas do projeto, o veto ao texto, o que exclui legendas e informações que dariam contexto importante às imagens. Trechos de canções de Roberto Carlos acompanham as fotos, sugerindo situações do momento da vida do compositor. O Rei autorizou a reprodução de documentos, como roteiros de shows e páginas de uma agenda “Colibri” do cantor com o que talvez seja a primeira escrita da letra de “Namoradinha de um Amigo Meu”, anotada à mão numa sexta-feira de fevereiro de 1966, pouco antes de a música ser lançada. “Tudo foi aprovado em conjunto. Cuidado que todo mundo deveria ter”, disse Roberto Carlos durante o lançamento na capital paulista, reafirmando sua posição a respeito da legislação sobre as biografias no Brasil. 5#5 DESPREPARO FATAL Incompetência e falta de treinamento da corporação explicam morte de médico por tiro de policial dentro de delegacia Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Eram 18h30 do sábado 26, numa rua pouco movimentada de Santo André (SP). O médico Ricardo Assanome, 27 anos, escolheu esse horário para evitar tumultos no momento de lavrar um boletim de ocorrência por causa de um pequeno acidente que arranhou seu carro. Junto, levou a namorada, Cintia Akemi, com quem planejava se casar no fim do ano. Enquanto ele aguardava o registro, um policial militar à paisana entrou correndo na delegacia para escapar de um assalto. Em meio ao caos que se seguiu, o policial civil André Bordwell da Silva, 38 anos, pensando se tratar de uma tentativa de invasão, atirou contra inocentes, atingindo na cabeça Assanome, que morreu no dia seguinte. Na confusão, o próprio Bordwell recebeu um disparo no peito feito pelo colega Akiyoshi Honda e um terceiro homem foi baleado, mas passa bem. Houve pelo menos dez tiros no distrito. CAOS - Delegacia de Santo André, no sábado 26, onde policiais assustados dispararam dez tiros após um PM à paisana entrar correndo no local, fugindo de um assalto Bordwell, que se recupera na UTI, foi indiciado por homicídio com intenção de matar e será preso quando sair do hospital. “Essa tragédia sintetiza todos os dramas da segurança pública no País. O da população, que não tem proteção do Estado nem dentro do distrito; o dos policiais, que trabalham sob enorme tensão; e o dos procedimentos da polícia, que precisam ser revistos”, afirma o sociólogo Renato Sérgio de Lima, pesquisador da Fundação Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O policial se juntou à corporação há oito anos e é descrito por colegas como um funcionário dedicado. Casado e pai de dois filhos pequenos, encontra-se abalado psicologicamente, segundo familiares. Apesar de possuir um cargo técnico, de agente de telecomunicações, realizava eventualmente trabalhos na rua – o que é revelador da falta de efetivo da corporação. Para especialistas, o treinamento falho ajudou a consolidar o desastre. “Algumas pessoas saem da academia sem dar um tiro”, diz João Batista da Silva Neto, presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia de São Paulo. Policiais contam ainda que é possível passar anos sem novos cursos, uma vez que eles não são obrigatórios. As requalificações são importantes para manter a pontaria e controlar os ânimos numa situação de estresse. Esse fator pode ter sido decisivo, pois circula no meio a informação de que a facção criminosa PCC planejava um ataque à delegacia – o que não foi confirmado pela Secretaria de Segurança Pública. O órgão rebate as críticas informando que, apesar de a reciclagem só ser mandatória em caso de promoções, 23 mil homens já atuantes foram treinados este ano, 1,2 mil deles em armamento e tiro. TRAGÉDIA - O enterro de Ricardo Assanome (abaixo), morto por um policial que tinha função técnica, mas ficava armado na delegacia e, às vezes, ia para a rua Para José Vicente da Silva, coronel da reserva da PM, Bordwell não deveria estar armado. “Auxiliares técnicos são considerados policiais, mas não têm preparo para isso”, diz. Rosely Guido, secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Telemática Policial de São Paulo, discorda: “Nossa categoria passa pelo mesmo curso das demais.” Todos concordam num ponto: é preciso capacitar melhor os policiais. 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7.5.14 6#1 PLÁSTICA RADICAL 6#2 A CATÁSTROFE DAS SUPERBACTÉRIAS 6#3 BANHO QUENTE CONTRA A HIPERTENSÃO 6#1 PLÁSTICA RADICAL Hospitais da Coreia do Sul começam a fornecer documentos de identidade a pacientes submetidos a cirurgias estéticas para ganhar traços ocidentais Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Dispostos a submeter o próprio rosto a uma transformação radical, jovens asiáticos estão viajando para Seul, na Coreia do Sul, onde o número de clínicas de cirurgia plástica é impressionante. Apenas no Distrito de Gangnam, bairro chique da capital coreana, são mais de 500. A região ficou conhecida como cinturão da beleza. A maioria das garotas e rapazes, alguns com 20 anos incompletos, procura uma intervenção que abrande os traços orientais, o que é conseguido com uma associação de cirurgia da pálpebra, aumento do nariz, lifting e cirurgias de redução de mandíbula. O resultado, em grande parte dos casos, é uma espécie de metamorfose que deixa a pessoa irreconhecível. PADRÃO - Uma das críticas dos médicos ocidentais é a de que a cirurgia acaba deixando as aparências muito parecidas. O formato do rosto torna-se oval e os olhos ficam maiores e arredondados Por isso mesmo, um dos efeitos colaterais desses procedimentos ousados são as dificuldades enfrentadas por clientes estrangeiros para voltar ao País de origem. Na imigração chinesa, por exemplo, muita gente começou a ser barrada porque o portador do passaporte não apresentava mais nenhuma semelhança com a foto colada no documento. A solução encontrada pelos plásticos coreanos foi ainda mais inusitada: centros como o Hospital Dental ID – Eye, Nose & Petit Surgery Center agora fornecem aos clientes um documento de comprovação da identidade. O atestado reúne o número do passaporte, o nome do hospital, quando a pessoa foi operada e a duração da visita à Coreia do Sul. E a recomendação aos recém-operados é para que tirem outro passaporte assim que possível. Apesar da perícia dos plásticos coreanos, o desfecho dessas mudanças drásticas de imagem nem sempre é bom. O cirurgião plástico gaúcho Marco Faria-Corrêa, desde 2005 radicado em Cingapura, na Ásia, diz que a dificuldade de se reconhecer pode levar a uma crise psiquiátrica. “Vi casos em que a mandíbula ficou torta e conheci uma mulher que precisou ser internada porque gritava incessantemente ao perceber que não se identificava com o novo rosto”, disse Faria-Corrêa à ISTOÉ. Outro aspecto que impressiona o especialista é que o resultado deixa as meninas com aparência semelhante. O fenômeno cultural da cirurgia coreana está fazendo os especialistas se perguntarem como definir o limite para as intervenções na face. “Nos Estados Unidos, nós não realizamos procedimentos tão dramáticos que possam mudar tanto a aparência. Nunca encontrei esse tipo de pedido em 24 anos de cirurgia plástica”, observa o cirurgião plástico Renato Saltz, radicado em Salt Lake City e ex-presidente da American Society of Aesthetic Plastic Surgery. DIFERENÇA - As alterações são tão intensas que os pacientes começaram a ter problemas para provar quem eram No dia a dia, ele diz que pediria uma avaliação psicológica de alguém que busca uma mudança tão intensa. Saltz lembra que os cirurgiões asiáticos trabalham com conceitos diferentes. “Na América, o alvo de uma cirurgia estética é passar quase despercebida.” Para José Carlos Ronche, de São Paulo, os limites devem ser combinados entre o médico e a paciente para não produzir faces bizarras. “A busca deve ser da beleza com harmonia. Quem procura uma cirurgia plástica não quer ficar diferente, quer ficar igual às pessoas consideradas belas, se possível”, diz. 6#2 A CATÁSTROFE DAS SUPERBACTÉRIAS A Organização Mundial de Saúde faz um alerta global para avisar que a resistência aos antibióticos já se espalhou por todo o mundo e que o problema terá implicações devastadoras para a humanidade Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) A proliferação de bactérias resistentes a todos ou quase todos os antibióticos deixou de ser uma ameaça para se tornar uma realidade. O alerta foi feito na quarta-feira 30 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a entidade, esse tipo de micro-organismo já pode ser encontrado no mundo inteiro, o que configura um quadro de grave preocupação. “A resistência a antibióticos tem potencial para afetar qualquer um, em qualquer idade, em qualquer país”, alerta a OMS em seu relatório. O texto é claro:“É hoje uma das maiores ameaças à saúde pública e suas implicações serão devastadoras.” É a primeira vez que a OMS se posiciona com tamanha contundência em relação à questão – tema que já preocupa a comunidade médica há tempos. A entidade realizou um levantamento em 114 países e concluiu que até mesmo superbactérias capazes de sobreviver aos mais modernos antibióticos da atualidade – os carbapenêmicos – são encontradas em todas as regiões. Em alguns países, esses medicamentos não funcionam mais em metade dos pacientes internados em hospitais e infectados pela bactéria K. pneumoniae. Entre outras doenças, ela causa pneumonia e infecções em recém-nascidos e em doentes internados em unidades de terapia intensiva. RISCO - Fukuda, da OMS, diz que infecções comuns podem voltar a matar Esse tipo de ocorrência sustenta previsões sombrias. “O mundo está entrando na era pós-antibiótico, em que infecções comuns tratadas há décadas podem voltar a matar”, afirmou Keiji Fukuda, diretor-geral assistente para Segurança em Saúde da OMS. De fato, pelo menos dez países – entre eles o Japão, a Noruega e a França – registram casos de gonorreia resistentes aos remédios atuais. Nos Estados Unidos, uma das superbactérias mais conhecidas, a MRSA, é responsável pela morte de 19 mil pessoas por ano. É mais do que mata a Aids naquele país. Na opinião do infectologista Jacyr Pasternack, da Comissão de Infecção Hospital do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, chegou-se ao limite na criação de novos antibióticos. “A indústria farmacêutica está fugindo desse campo. Uma das razões é que investir em remédios para para doenças crônicas, por exemplo, dá mais dinheiro”, afirma. O médico acredita que o problema só será controlado com o uso racional dos antibióticos. “Para isso, é preciso educar pacientes e médicos.” 6#3 BANHO QUENTE CONTRA A HIPERTENSÃO Pesquisa brasileira revela, pela primeira vez, os benefícios do exercício em piscina aquecida para vencer a hipertensão resistente Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br) Existe um grupo de pessoas hipertensas que não consegue manter a sua pressão dentro dos limites seguros nem mesmo sob a ação conjunta de três medicamentos diferentes. Dados de um estudo em andamento em 25 hospitais universitários do País indicam que o problema afeta pelo menos 16% dos pacientes hipertensos em tratamento. DESCOBERTA - Na piscina, os vasos sanguíneos se dilatam, facilitando a circulação Estima-se que a hipertensão resistente eleve em três vezes o risco de se ter um acidente vascular cerebral, infarto ou insuficiência cardíaca e renal em relação a quem consegue controlar a pressão. Ela é também um desafio para os médicos, pois a literatura científica ainda carece de dados para definir a conduta mais adequada para domá-la. Não há certeza, por exemplo, sobre o remédio que seria mais eficiente ao ser adicionado aos outros já em uso ou quanto ao exercício mais adequado a esse contexto. Mas as primeiras respostas estão começando a surgir. Numa pesquisa pioneira, um grupo de pesquisadores liderados pelo fisiologista do exercício Guilherme Veiga Guimarães, do Laboratório de Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, comprovou os poderes da hidroginástica associada à água quente. É a primeira vez que isso foi constatado. O trabalho foi publicado recentemente no “International Journal of Cardiology”, um dos mais importantes da área da cardiologia. O estudo foi realizado com 32 pacientes de hipertensão resistente com idade entre 40 e 65 anos, em tratamento há mais de cinco anos e que tomavam os mesmos medicamentos nos últimos seis meses. Por 12 semanas, 16 pessoas fizeram exercícios – incluindo caminhada – dentro de uma piscina aquecida a 32°C. O outro grupo permaneceu sedentário. “Esse programa de exercícios levou a uma diminuição significativa da pressão”, disse Guimarães. No teste, os pacientes continuaram tomando remédios. A pesquisa chamou a atenção da comunidade científica. Antes dela, o que se sabia era que os exercícios em solo conseguiam reduzir a hipertensão resistente, em média, em 4 mmHg ou 5 mmHg (medida da pressão). Na água, o resultado foi melhor. “Conseguimos uma redução de 20 mmHg. Isso é relevante para melhorar o tratamento”, diz o pesquisador. A explicação para o maior impacto da atividade na água aquecida é a soma da dilatação dos vasos promovida pelo calor com o efeito da pressão hidrostática (exercida pela água sobre o corpo). A adesão à terapia também surpreendeu. Um ano depois de iniciada a prática, nenhum paciente tinha desistido. 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 7.5.14 7#1 BARBADAS PARA A COPA 7#2 COMO COMPRAR INGRESSOS ONLINE 7#1 BARBADAS PARA A COPA Expectativa de alta demanda durante os jogos não se confirma e agências de turismo barateiam viagens das férias Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) Os preços das passagens aéreas e dos pacotes de viagem praticados em períodos de alta temporada no País, como o mês de julho, normalmente são os mais altos. A expectativa, neste ano, era de que, com a Copa do Mundo no Brasil, esses valores subissem ainda mais. Ocorreu o inverso: o torneio diminuiu a demanda e jogou para baixo os preços de pacotes turísticos no Brasil e no Exterior no meio do ano. Para as férias de julho os valores estão, em média, 20% menores em comparação com o mesmo período do ano passado. Quem souber pesquisar, consegue encontrar descontos ainda maiores. Em julho do ano passado, um pacote de seis noites em Paris, com hospedagem, traslado e passeio, custava € 1 mil por pessoa. Hoje o mesmo destino pode ser encontrado por € 638 – um abatimento de mais de 30%. OPORTUNIDADE - Enquanto os amigos Rubens Pecoraro e Gabriela Hazin aproveitaram os descontos para realizar o sonho de viajar para Machu Picchu, o advogado Alexandre Ventura valeu-se dos preços baixos para passar as férias de julho do filho Guilherme na Europa Um dos motivos para os descontos é que o mercado aguardava cerca de 600 mil turistas no País durante a Copa, mas até agora esperam-se apenas 150 mil. E, como o consumidor não pagou os altos preços que estavam sendo praticados até o início deste ano, agora hotéis e companhias aéreas estão fazendo promoções para não correrem o risco de ficar com quartos e assentos vazios. A Match, por exemplo, única agência autorizada pela Fifa a vender ingressos, devolveu 55% dos quartos de hotéis que tinha reservado em Porto Alegre, cidade que recebe cinco jogos da Copa. Já as companhias aéreas contabilizaram cerca de nove milhões de assentos livres a menos de 50 dias do Mundial. Apenas 18,9% das passagens de voos domésticos para as cidades-sede da Copa foram vendidas. Segundo Marco Ferraz, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), o fato de as operadoras de turismo não conseguirem autorização para vender ingressos “prejudicou muito a venda de pacotes para estrangeiros”. Outro fator que inibiu a compra de passagens, de acordo com Aldo Leone Filho, presidente da agência de turismo Agaxtur, foi que os preços das passagens aéreas demoraram muito para cair, devido ao que chamou de “bloqueio” feito nos trechos para o Exterior. “Só agora as companhias internacionais perceberam que os voos estavam todos vazios”, lamentou. Agora, uma viagem da Delta Airlines para Orlando, por exemplo, que estava em torno de US$ 2.800, caiu para US$ 890. Com a redução, Aldo espera que os resultados para junho e julho deste ano superem os de 2013. Para quem está querendo viajar no período da Copa trata-se de uma inesperada, mas excelente notícia. É o caso de Rubens Pecoraro Junior, que aproveitou as promoções para realizar com a amiga Gabriela Hazin a tão sonhada viagem para Machu Picchu. “Ficamos monitorando os preços e, de repente, surgiu no meio da Copa uma oportunidade bem mais barata”, comemora. Pela passagem de São Paulo para Lima, eles pagaram R$ 840. Os preços pesquisados antes ficavam em torno de R$ 1,6 mil. Além dos baixos valores, mais um motivo faz com que os brasileiros busquem outros destinos que não os das cidades-sede da Copa: a tranquilidade. “Quero fugir da bagunça que vai acontecer durante os jogos”, diz o advogado Alexandre Ventura. Ele vai aproveitar as férias do filho Guilherme, de 11 anos, para ir à Europa em julho. No mesmo período do ano passado, Ventura também realizou uma viagem para a Europa, mas as passagens custaram 20% mais. Com a volta da procura, o resultado financeiro esperado pelas agências de viagens para junho e julho de 2014 está próximo ao do ano passado. Isso significa que os baixos preços podem não durar muito tempo, e as pessoas que querem pagar menos para viajar durante a Copa, devem se apressar. 7#2 COMO COMPRAR INGRESSOS ONLINE Práticas e rápidas, as compras de bilhetes pela internet são cada vez mais comuns. Porém, as taxas cobradas pelas empresas ainda são consideradas altas por Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) As compras de ingresso online atraem cada vez mais os consumidores. Aos poucos, as pessoas se habituam a trocar as longas filas nas bilheterias por apenas alguns cliques. Para os clientes aderirem de vez a essa prática, porém, o valor das “taxas de conveniência” precisa diminuir. Essas taxas, muitas vezes, são somadas aos valores de entrega dos ingressos, o que torna o preço final do bilhete bem salgado. Por esse motivo e por causa de vendas irregulares de meia-entrada em 2013, três das maiores empresas de vendas de ingresso online foram autuadas pelo Procon-SP. “Cobrar 20% sobre o valor do ingresso é abusivo. Os consumidores não concordam com essa porcentagem. Muitos pagam porque não têm opção”, diz Márcio Marcucci, diretor de fiscalização do Procon-SP. Algumas startups estão surgindo no mercado com taxas mais baixas e serviços inovadores. É o caso da Ingresse, que lançou em abril as vendas também por aplicativos e permite que qualquer pessoa crie um evento e venda ingressos com taxas mais em conta. “Nossas vendas estão crescendo cerca de 50% ao mês. O mercado de eventos é muito grande, mas o investimento em tecnologia é pequeno”, diz Gabriel Benarrós, sócio-fundador da Ingresse. 8# MUNDO 7.5.14 BRASILEIROS NA AL QAEDA? Ofensiva do Exército do Iêmen mata 12 pessoas da organização terrorista. Presidente do país árabe diz que havia cidadãos nascidos no Brasil entre as vítimas, mas itamaraty suspeita de uso de passaportes falsos Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) País árabe mais pobre do mundo, onde cerca de 60% da população precisa de assistência humanitária para sobreviver, o Iêmen é conhecido hoje como base do braço agressivo da Al Qaeda. Na semana passada, o governo do país deu início a uma nova ofensiva contra a rede terrorista, a maior desde 2012. Realizada na terça-feira 29, a ação do Exército contra a Al Qaeda resultou na morte de 18 soldados e 12 terroristas. De acordo com o presidente Abdu Rabbu Mansur Hadi, entre os 12 integrantes da Al Qaeda mortos estariam cidadãos “do Brasil, da Holanda, da Austrália, da França e de outros países.” Na esteira das declarações de Mansur Hadi, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e das demais nações citadas iniciaram uma investigação em conjunto para confirmar a informação de que os ataques teriam vitimado cidadãos naturais de seus respectivos países, mas até a quinta-feira 1º o governo iemenita não havia identificado os mortos. O Itamaraty não descarta que os passaportes sejam falsos. Integrantes do Itamaraty ponderam que, embora o modelo novo do passaporte brasileiro – de capa azul, com registros biométricos e outros itens de segurança similares aos existentes em cédulas – seja difícil de fraudar, já foram encontrados vários casos de falsificações recentemente. Por não ter uma representação diplomática no Iêmen, o Ministério das Relações Exteriores deslocou um funcionário locado em Riad para acompanhar o caso. Se a tese da falsificação dos passaportes for derrubada e a nacionalidade dos terroristas confirmada, será o primeiro caso da existência de jihadistas brasileiros. ATAQUE - A ação do Exército do Iêmen contra a Al Qaeda, na terça-feira 29, foi a maior desde 2012 Hadi é um presidente ainda em busca de legitimidade. Ele foi vice-presidente por 20 anos de Ali Abdullah Saleh, que deixou o poder pressionado por protestos em massa em 2011. Ao assumir o cargo, depois de uma eleição de candidato único e baixo engajamento, Hadi enfrentou dezenas de rebeliões do Exército, que estava politicamente dividido. Tornou-se aliado próximo dos Estados Unidos – Washington transfere anualmente milhões de dólares ao país – e colocou como prioridade o desmantelamento da célula da Al Qaeda na Península Arábica (AQPA, na sigla em português). O enfraquecimento da sede da Al Qaeda no Paquistão, seguido do assassinato de Osama bin Laden, em 2011, coincidiu com o avanço dos redutos da organização islâmica no Iêmen. Se em 2009 as estimativas davam conta de que a AQPA, então recém-formada, tinha entre 200 e 300 membros, hoje o número está em cerca de mil, segundo o Departamento de Estado americano. No ano passado, a suspeita de uma conspiração terrorista da AQPA levou os EUA a fecharem dezenas de escritórios diplomáticos no Oriente Médio, na África e no Sul da Ásia por duas semanas. Em dezembro, membros da AQPA atacaram um hospital dentro do Ministério da Defesa, matando mais de 50 e deixando mais de 100 feridos. "Esses estrangeiros não se importam com a situação do Iêmen nem se nos destruírem" - Abdu Rabbu Mansur Hadi, presidente do Iêmen A resposta americana está centrada em drones (aviões não tripulados), iniciativa polêmica apoiada pelo presidente iemenita. As estatísticas oficiais mostram que a CIA (serviço secreto americano) e o comando de operações especiais do Exército coordenaram 92 ataques de drones no Iêmen durante o governo de Barack Obama. Eles mataram quase mil pessoas, inclusive civis inocentes, mas os números podem ser ainda maiores, dada a falta de transparência da Casa Branca neste tópico. No Brasil, atividades extremistas ligadas a grupos internacionais são investigadas há quase dez anos. O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Alexandre Camanho, acompanha as atividades de inteligência relacionadas a esse monitoramento desde o início e diz que não se surpreenderia se de fato houvesse brasileiros envolvidos com a Al Qaeda no Iêmen. “O terrorismo é um fenômeno globalizado”, afirma. “Há uma nova geração de pessoas nascidas no Brasil a serviço da causa jihadista e um permanente recrutamento de brasileiros para a participação em cursos de religião, que na verdade são cursos de extremismo.” A cooptação seria maior nas regiões rurais do Sul e do Nordeste. Embora não ocorram ações jihadistas no País, o procurador sustenta que há atividades de financiamento, conspiração, propaganda, ciberterrorismo e radicalismo virtual. Ainda assim, seria ingênuo interpretar a denúncia do presidente do Iêmen sem ressalvas. 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 7.5.14 9#1 OS CAÇADORES DO LIXO MARÍTIMO 9#2 MAIS UMA PEÇA NO QUEBRA-CABEÇA DA ORIGEM DA VIDA 9#1 OS CAÇADORES DO LIXO MARÍTIMO Por que cientistas querem estudar as "ilhas de plástico", grandes concentrações de detritos no oceano que expõem o grave problema da destinação incorreta de resíduos Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) No dia 7 de junho, um navio partirá das Bermudas para estudar uma das paisagens mais feias da Terra: um enorme amontoado de lixo flutuante. O grupo de pesquisadores, bancado pelo instituto americano 5 Gyres, vai coletar, registrar e analisar durante três semanas partes de uma extensa massa plástica que boia no Atlântico Norte. Resultado da poluição e do encontro de diferentes correntes marítimas (confira quadro), os chamados “giros” se formam também no Índico, Atlântico Sul, Pacífico Sul e Pacífico Norte. Nesses pontos, a concentração de lixo é tão alta que ganhou o apelido de “ilhas de plástico”. Estima-se que os cinco giros reúnam 37 mil toneladas de detritos. MERGULHO NO PROBLEMA - Pesquisador nada entre lixo. Ao menos 10% do plástico produzido no mundo vai parar no mar Marcus Eriksen, diretor-executivo do 5 Gyres, diz que o objetivo da expedição é entender o problema em detalhes para propor soluções. Em primeira instância, ele defende que as empresas produtoras de embalagens assumam a responsabilidade pelos resíduos, já que limpar os mares é caro e, em último caso, tecnicamente inviável. “Se uma empresa não é capaz de recolher seus resíduos de volta do consumidor, ela deveria começar a usar outros materiais, e não o plástico”, afirma. Essas manchas de sujeira sólida são o símbolo de um problema que tem o plástico como grande vilão. “Se colhermos amostras em qualquer ponto do mar, vamos encontrar vestígios plásticos”, afirma Alexandre Turra, oceanógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP). O problema é ainda pior porque garrafas e sacolas se fragmentam e se espalham pela água, formando os chamados microplásticos. O material funciona também como vetor de pesticidas e óleos. Os pesquisadores querem saber como essas substâncias contaminam tecidos e sangue dos animais marinhos e se essa contaminação pode atingir quem os consome – incluindo os seres humanos. Segundo o 5 Gyres, em torno de 44% de todas as aves marinhas e 22% dos cetáceos, tartarugas e peixes possuem plástico ao redor ou dentro do corpo. “Quando um animal confunde plástico com alimento, ele pode sofrer bloqueios internos, desidratação, inanição e morrer”, explica Eriksen. AMPLAS CONSEQUÊNCIAS - Detritos no mar prejudicam as buscas pelo avião da Malaysia Airlines desaparecido no Índico Aproximadamente 10% dos mais de 200 milhões de toneladas de plástico produzidos por ano no mundo são descartados no ambiente marinho. Cerca de 80% do lixo chega às águas levado por ventos, chuvas e rios. Outros 20% vêm de navios ou plataformas, inclusive da indústria pesqueira. Recentemente, o lixo resultante da pesca dificultou a procura pelo voo da Malaysia Airlines que desapareceu no Oceano Índico. Madeira, isopor, redes de náilon e sinalizadores foram confundidos com destroços e resultaram em dias de buscas infrutíferas. O problema não está restrito ao alto-mar. Pesquisadores do Instituto Oceanográfico Woods Hole, de Massachusetts, nos Estados Unidos, revelaram o surgimento de um novo tipo de biodiversidade marinha batizado de “plastisfera”. São micro-organismos, moluscos e até peixes que se associam ao plástico e transformam o material em um veículo de migração e invasão de espécies, da mesma forma que ocorria no passado com cascos de navios. 9#2 MAIS UMA PEÇA NO QUEBRA-CABEÇA DA ORIGEM DA VIDA Cientistas recriam em laboratório processo que pode ter sido a faísca para o surgimento da vida na Terra Ana Carolina Nunes (acarol@istoe.com.br) O mundo científico ainda não tem a resposta definitiva para uma das perguntas mais importantes da humanidade: como a vida surgiu e, mais tarde, quais caminhos tomou para evoluir na Terra. Na última semana, porém, um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, deu mais um passo para decifrar a origem de tudo que é vivo. Liderado pelo doutor Mark­us Ralser, o estudo apontou que o processo metabólico, uma sequência de reações que possibilita a sobrevivência de qualquer ser vivo conhecido, pode ter ocorrido espontaneamente fora das células, antes mesmo do surgimento da vida propriamente dita. BUSCA - O grupo liderado pelo doutor Markus Ralser, de Cambridge, estuda há uma década os mecanismos que permitiram o surgimento da vida na Terra Após reproduzir o ambiente aquático de cerca de 3,8 bilhões de anos atrás – um oceano primordial composto por água, ferro, fosfato e outros metais –, o grupo adicionou moléculas, como o açúcar-fosfato, e aqueceu a mistura, a fim de simular a presença de uma fonte hidrotermal (ver quadro). O resultado foi o surgimento de uma sequência de 29 reações espontâneas até então registradas apenas em seres vivos. Entre elas a produção de ribose-5-fosfato, molécula considerada precursora do RNA, que, como o nosso DNA, é capaz de carregar informação genética e se replicar. O fenômeno, ocorrido em condições tão simples, oferece novas ideias sobre como a primeira vida foi formada. “Foi uma grande surpresa, nós não esperávamos essas reações”, disse o doutor Ralser à Isto­É. “Diziam que esses processos eram tão complexos que não poderiam ser desencadeados pelo ambiente químico sozinho.” Para o cientista, o experimento mostra um cenário de como o metabolismo poderia ter começado no processo de evolução. A experiência sugere que muitas dessas reações podem ter ocorrido espontaneamente na Terra, no oceano primordial, catalisadas pelos íons metálicos, e não por enzimas, como ocorre atualmente. O pesquisador explica que há quase dez anos o seu grupo vem desenvolvendo os métodos que possibilitaram medir esse tipo de metabolismo em laboratório. “Até então, nós só havíamos empregado os métodos para estudar o metabolismo em leveduras e células humanas”, conta Ralser. “A aplicação para estudar o processo de metabolismo dentro da evolução começou há apenas dois anos.” A experiência de Ralser reforça ainda o papel essencial da água na origem da vida. É por isso que boa parte dos estudos do espaço atualmente busca encontrar água líquida, ou vestígios dela, em outros planetas ou satélites, já que ela seria um elemento básico para todas as formas de vida conhecidas. A próxima etapa da pesquisa, segundo Ralser, será focada em estudar vias metabólicas adicionais, para então reconstruir cenários em que as primeiras enzimas poderiam ter evoluído. 10# CULTURA 7.5 14 10#1 LIVROS - O ROMANCE INACABADO DE GARCÍA MÁRQUEZ 10#2 LIVROS - A VOZ DE HITLER 10#3 TELEVISÃO - OS TRUNFOS DO CARTOON NETWORK 10#4 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - OUTRAS PRAIAS 10#5 EM CARTAZ – CINEMA - WOODY ALLEN COADJUVANTE 10#6 EM CARTAZ – SHOWS - BLUES & COMPANHIA 10#7 EM CARTAZ – LIVROS - LABIRINTO EM BRASÍLIA 10#8 EM CARTAZ – HUMOR - RISO À PAULISTA 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - CULTURA INGLESA FESTIVAL/EDDIE VEDDER/FIT 10#10 ARTES VISUAIS - PALETA BRASILEIRA 10#11 ARTES VISUAIS - A IRRUPÇÃO DA RUA, EM DOIS TEMPOS 10#1 LIVROS - O ROMANCE INACABADO DE GARCÍA MÁRQUEZ O escritor colombiano deixou um livro inédito cujo capítulo inicial acaba de ser revelado. Sua publicação é tida como quase certa, mesmo com seis finais diferentes Ivan Claudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Da mesma linhagem de um gigante literário como Ernest Hemingway, o escritor colombiano Gabriel García Márquez não ombreava o colega apenas na qualidade da escrita. No plano mais corriqueiro, costumava ter o autor americano como modelo para uma de suas muitas idiossincrasias, a de não se decidir pelo desfecho de uma história. Não cansava de dizer aos amigos – e falava isso entre o orgulho de dividir uma mania ou para se desculpar do propalado perfeccionismo – que o autor de “Adeus às Armas” ficara indeciso entre os 21 finais que esboçara para a narrativa inspirada em suas experiências no front italiano durante a Primeira Guerra Mundial. Foi justamente a multiplicidade de caminhos abertos aos personagens da novela “Em Agosto nos Vemos” que adiou a publicação dessa suposta última obra, iniciada em 1999. Gabo não gostava do epílogo e morreu sem dar nele o ponto final. Na semana passada, a editora Penguin Ramdon House, dona dos direitos da obra do autor, declarou que o romance inacabado pode vir a ser lançado e que isso só depende da anuência dos herdeiros do escritor colombiano. No caso, a sua mulher, Mercedes Barcha, e os filhos cineastas Rodrigo e Gonzalo. O mundo literário ficou eufórico. NAS MÃOS DA MULHER - Gabo com a sua mulher, Marcedes Barcha, na cidade natal de Aracataca (2007): só ela pode dizer sim à publicação do novo livro A declaração oficial da editora foi divulgada justamente quando o jornal espanhol “La Vanguardia” publicava o primeiro capítulo do livro (com créditos atribuídos aos herdeiros de Gabo), cuja história passada no exótico ambiente de uma ilha caribenha já dava pistas de um enredo envolvente. Segundo o editor espanhol de García Márquez, Claudio López, o manuscrito esteve em suas mãos e só não foi para a gráfica porque o autor não teve tempo de finalizá-lo: “O desfecho é demasiado aberto. Acredito que mais cedo ou mais tarde verá a luz do dia”, diz. A opinião é compartilhada por uma série de escritores, a favor da edição do romance mesmo sem o final definido. Ou, quem sabe, com os seis finais, o que não deixa de ser uma experiência curiosa, colocando a nu o processo criativo do autor. Se o último capítulo não satisfazia ao seu criador, o início cativa já no primeiro parágrafo. “Voltou à ilha na sexta-feira 16 de agosto, no barco das duas da tarde. Levava uma camisa xadrez escocês, jeans, sapatos simples de salto baixo e sem meias, uma sombrinha de cetim e, como única bagagem, uma mala de praia. Na fila de táxi da doca, foi direto a um modelo antigo, carcomido pelo sal” – assim começa Gabo, com objetividade jornalística, outra ponta de seu estilo consagrado. A fabulação, claro, logo se faz presente na viagem de Ana Magdalena Bach (mesmo nome da mulher do compositor alemão Johann Sebastian Bach), uma mulher casada de 52 anos, que há 28 visita a ensolarada ilha para depositar gladíolos na tumba de sua mãe. CENÁRIO COMUM - Javier Bardem em "O Amor nos Tempos do Cólera", filmado em Cartagena: ambiência exótica repetida na história de "Em Agosto nos Vemos" Ana não é uma mulher comum: usa relógio masculino, camisa com as iniciais bordadas e aprecia gim-tônica. Numa noite no bar do hotel (o mesmo de sempre, o mesmo quarto de sempre), ela nota a presença de um homem na mesa à frente. A música, executada por um pianista de dedos preguiçosos e entoada por uma mulata de voz boa, era “Claire de Lune”, de Claude Debussy – mas em ritmo de bolero. “Vestia linho branco, como nos tempos de seu pai, com o cabelo metálico e o bigode de mosqueteiro terminado em pontas. Tinha na mesa uma garrafa de aguardente e um copo pela metade, e parecia estar sozinho no mundo”, continua o narrador, a essa altura assumindo o olhar da personagem. Como as mulheres fortes de Gabo, Ana toma a atitude, vai à mesa, vasculha a identidade do homem, convida-o para seu quarto. Acorda sem o amante do lado e com a consciência de ter traído pela primeira vez o marido, com quem se casara virgem. “Até então não se tinha dado conta de que não sabia nada dele, nem sequer o nome, e a única coisa que restava de sua noite era um tênue odor de lavanda no ar, purificado pela tempestade.” Na cabeceira, dentro do volume de “Drácula” que lhe fazia companhia na viagem, uma nota de US$ 20. As notícias sobre a existência de “Em Agosto nos Vemos”, antes concebido como um livro de contos, começaram a ser confirmadas em 2008, pela língua solta de alguns amigos. Um deles foi o jornalista colombiano Darío Arizmendi, dono da Radio Caracol, que já falava dos muitos rascunhos. Também amigo de Gabo e tradutor de “Cem Anos de Solidão”, o escritor brasileiro Eric Nepomuceno aconselha a ficar reticente em relação ao manuscrito. “Ele mudava seus livros frequentemente, dizia uma coisa e, quando o livro saía, era outra coisa”, afirma. Segundo Nepomuceno, o escritor tinha outra mania: gostava de convidar pessoas estranhas para conhecer os rascunhos, deixava-as enfurnadas em sua casa por três dias e não permitia que fizessem nenhum comentário do que leram. “Esses encontros tinham um código de máfia”, diz ele. Havia também os eleitos intelectuais, caso do conterrâneo Álvaro Mutis e do crítico uruguaio Ángel Rama, ambos mortos. Não faltam os que veem semelhanças entre o enredo de amor, morte e redenção pelo sexo de“Em Agosto nos Vemos” com o das três últimas obras do escritor, apontando para uma tetralogia, hipótese refutada por Nepomuceno. “Ele nunca escreveu séries”, diz. De qualquer forma, serve para o inédito a frase do último livro publicado: “O coração tem mais quartos que uma pensão de putas.” 10#2 LIVROS - A VOZ DE HITLER Usado e pouco respeitado pelo líder nazista, Joseph Goebbels fez carreira no Reich inventando sucessos, escondendo fracassos e bajulando seu chefe Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Joseph Goebbels queria entrar para a história como um dos mais importantes aliados de Adolf Hitler. Ministro da Propaganda e um dos mais irascíveis articuladores do extermínio em massa dos inimigos do Reich, foi, segundo a nova e mais alentada biografia a seu respeito, um dos funcionários mais desprestigiados e atrapalhados da alta cúpula hitlerista, tendo errado mais do que acertado nos projetos de divulgação do nazismo. Com a manipulação dos resultados dessas operações, se tornou modelo de articulação das massas nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial. BRAÇO DIREITO - Goebbels é mostrado como narcisista e megalômano Segundo Peter Longerich, professor de história alemã moderna na Royal Holloway University de Londres e autor do livro, o maior legado publicitário do principal (e praticamente único) cronista da ascensão e queda do Partido Nazista foi um auto-retrato de competência e reconhecimento profissional que não existiu. A principal fonte de consulta de “Joseph Goebbels – Uma Biografia” (Objetiva) foram os 32 volumes que compõem o diário do ministro. As histórias contidas nessas anotações são pela primeira vez cotejadas com documentos da época, como jornais e relatórios de opositores. A conclusão é de que o funcionário sofria de megalomania, e que sua necessidade de aprovação o levou a se tornar um dos mais devotados puxa-sacos de Adolf Hitler, a quem considerava um enviado de Deus. Apesar de toda a sua dedicação ao ditador, Longerich mostra que a vida do Gauletier (líder da Gau, subdivisão territorial da Alemanha Nazista) se arrastava entre erros e humilhações. Hitler abusava de sua devoção abertamente. Procrastinou a sua nomeação para a direção-geral de Propaganda, em 1929, e quebrou as promessas dos plenos poderes a seu ministério. Magda Goebbels, sua mulher, se tornou amiga pessoal e hóspede recorrente de Hitler, com quem passava semanas sozinha. Foi no chamado esforço de guerra total, nos últimos meses do conflito e com a dissolução da estrutura hitlerista, que Goebbels se fortaleceu. Vendo a queda de seu ídolo máximo, se sentiu mais útil e importante. A nota sobre o assassinato dos filhos e o suicídio do casal, os últimos do bunker nazista depois da ocupação, foi redigida com a aura de heroísmo de quem talvez até acreditasse que entraria para a história como herói. 10#3 TELEVISÃO - OS TRUNFOS DO CARTOON NETWORK Como o canal se tornou o quarto mais visto do País - atrás apenas de Globo, Record e SBT - e conquistou espaço, inclusive, entre os adultos Wilson Aquino (waquino@istoe.com.br) O canal infantil Cartoon Network fechou o primeiro trimestre de 2014 como o quarto mais visto da televisão brasileira, entre os telespectadores das tevês aberta e fechada, de acordo com pesquisa do Ibope. O Cartoon só perdeu em audiência para Rede Globo, Record e SBT, deixando para trás emissoras tradicionais como a Bandeirantes, a Cultura e a Rede TV. Propriedade da Turner Broadcasting System, Inc., do milionário americano Ted Turner, o canal de desenhos já era líder de audiência entre crianças de 4 a 11 anos. Agora, cresceu entre os adultos, aumentando seus “ratings” em 28% entre pessoas com mais de 18 anos. Considerado apenas o universo das tevês por assinatura, o Cartoon está na liderança entre todos os canais exibidos no Brasil, incluindo os adultos e de esportes. Esses resultados foram aferidos durante as 24 horas de programação e inclui toda a base nacional de assinantes: 18,4 milhões (de cada 100 domicílios, 28 têm o serviço), segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A diretora de conteúdo do Cartoon Network no Brasil, Daniela Vieira, diz que a colocação no Ibope é resultado do trabalho de cinco anos no mapeamento do gosto infantil. “A gente dedicou tempo e recursos para entender as necessidades dessa audiência”, diz Daniela, salientando que a liderança e a ampliação da faixa etária do público não foram conquistadas apenas pela programação em si, mas por um conjunto de ações que inclui até atividades esportivas ao ar livre. “Somente na última corrida Cartoon, em São Paulo, tivemos 12 mil pessoas”, diz. A presença em múltiplas plataformas também influenciou. No primeiro trimestre de 2014, o website do canal registrou 41,3 milhões de visualizações. O desempenho de conteúdos nacionais exibidos pelo Cartoon também pesa nessa ascensão, como a “Turma da Mônica” e o “Sítio do Picapau Amarelo”, entre os dez programas mais vistos no País em março. Segundo a diretora de conteúdo, a redução da programação infantil por parte das emissoras abertas não contribuiu tanto para levar o Cartoon à liderança. “A Rede Globo diminuiu a oferta infantil, mas investiu em um canal a cabo voltado para esse público (o Gloob). Foi apenas um deslocamento”, diz Daniela. No caso do SBT, isso nem aconteceu. Pelo contrário: a emissora vem reforçando o bloco infantil no período da manhã. Onde estaria a mudança? Para o professor e pesquisador de cultura da ESPM do Rio de Janeiro, Pedro Curi, a tevê não é chamada de babá eletrônica à toa. “Desde a década de 1960 é assim: os pais deixam os filhos diante do aparelho e vão fazer suas coisas. A diferença hoje é que muito do público de tevê trocou o aparelho pelo computador. Menos as crianças, que continuam assistindo à televisão no televisor”, afirma. 10#4 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - OUTRAS PRAIAS por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) O romance “A Invenção de Morel”, de Adolfo Bioy Casares, trata de realidades concomitantes vividas numa ilha. Ele serviu de ponto de partida para a mostra “A Invenção da Praia”, em cartaz no Paço das Artes, em São Paulo, até 22 de junho. Com curadoria de Paula Alzugaray, a exposição reúne em diferentes suportes as “realidades concomitantes” de 16 artistas que tiveram como tema ou inspiração os espaços litorâneos. São apropriações que vão da leitura mais idílica à mais política. No primeiro caso se enquadra a obra da pintora chilena Christiane Pooley (foto). A série de fotografias “Land Mark (Foot Prints)”, da dupla porto-riquenha Allora y Calzadilla, registra pegadas com mensagens contra testes de bombas feitos pela Marinha americana na Ilha de Vieques, em Porto Rico. + 5 artistas da mostra LINA BO BARDI Da arquiteta italiana, a exposição mostra imagens do projeto de um museu sobre o mar, de 1951. LUCIA KOCH Instalação da brasileira simula luminosidades da praia em estúdio fotográfico hipotético. HÜSEYIN BAHRI ALPTEKIN A obra do artista turco aproxima as praias de Ipanema e de Bombain, na Índia. FRANCIS AlÿS No vídeo do artista belga, o Mar Negro é misturado visualmente ao Mar Vermelho. JANAINA TSCHAPE Em “Ballgame”, de 2012, ela perturba a visão do horizonte ao justapor duas esferas e as ondas do mar. 10#5 EM CARTAZ – CINEMA - WOODY ALLEN COADJUVANTE por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Enredos sobre judeus nova-iorquinos sempre trazem à mente a figura de Woody Allen e foi por isso que o ator e diretor John Turturro o convidou para atuar em “Amante a Domicilio”, seu quinto trabalho. Allen faz um dono de livraria à beira da falência que decide ganhar dinheiro empresariando o seu empregado como gigolô de mulheres em busca de fantasias. Tudo corre às mil maravilhas até que aparece uma cliente judia ortodoxa (Vanessa Paradis), cujos passos são seguidos por um policial de sua comunidade, que cuida da zona do Brooklyn. Para que Allen não roubasse o filme, Turturro interpreta o don-juan e o sempre ótimo Liev Schreiber, o tira de trancinhas e kipá. 10#6 EM CARTAZ – SHOWS - BLUES & COMPANHIA por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Mais um festival briga para entrar no calendário cultural de São Paulo: o Samsung Galaxy Best of Blues, que acontece no WTC Golden Hall, nos dias 9, 10 e 11/5. Tendo o blues como raiz e ritmos que beberam nele como ramificações, a programação avança pelo rock, soul, jazz e até hip-hop. Difícil escolher o melhor dia da festa. Na abertura, o mestre Buddy Guy divide o palco com os jovens talentos da guitarra Jonny Lang e Ana Popovic. A segunda noite reúne a lenda do rock Jeff Beck, secundado pelas cantoras Joss Stone e Céu. Mais pop, o encerramento une o hip-hop de Marcelo D2 e Aloe Blacc ao balanço de Trombony Short e sua banda Orleans Avenue. 10#7 EM CARTAZ – LIVROS - LABIRINTO EM BRASÍLIA por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Ao sair do elevador no andar errado, o narrador de “Antes Que Eu Morra” (Record) acaba mudando o curso de sua vida. Ele tenta ajudar uma jovem japonesa, vítima de uma rede de exploração sexual, mas ao seguir a quadrilha acaba descobrindo um esquema de corrupção em Brasília. Em sua primeira obra de ficção, o jornalista Luis Erlanger, diretor de análise e controle de qualidade da programação da Rede Globo, faz o leitor percorrer um labirinto numa história narrada a partir de conversas com um psicanalista e com referências a personagens e fatos reais. 10#8 EM CARTAZ – HUMOR - RISO À PAULISTA por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) Há 30 anos, quando Toninho Mendes começou a publicar a série de revistas que agora o Sesi reúne em um único livro, causou furor entre os leitores de tirinhas. Mas foi bem pouco levado a sério pelo mundo editorial. Hoje, não se pode pensar no humor feito em São Paulo sem alinhar Angeli, Laerte, Glauco, Chico Caruso e seus personagens. “Humor Paulistano – A Experiência da Circo Editorial” reúne a história da editora, que nasceu no dia da votação pelas eleições diretas e ilustrou com irreverência a redemocratização do País e a cena cultural do período. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - CULTURA INGLESA FESTIVAL/EDDIE VEDDER/FIT Confira os destaques da semana por Ivan Cláudio (ivanclaudio@istoe.com.br) CULTURA INGLESA FESTIVAL (São Paulo, a partir de 9/5) – A banda Jesus and Mary Chain é o destaque do evento, que reúne teatro, dança, cinema, artes visuais e gastronomia. EDDIE VEDDER (Citibank Hall, São Paulo, dias 7 e 9/5; Rio de Janeiro, 11/5) – Em fase intimista, o vocalista da banda Pearl Jam traz ao Brasil seu show solo em que tem apresentado músicas de Beatles, Bob Dylan e Neil Young. FIT (Belo Horizonte, a partir de 6/5) – Entre os 55 espetáculos do festival está a montagem de “Hamlet”, de William Shakespeare, feita pela companhia alemã Berliner Ensemble. 10#10 ARTES VISUAIS - PALETA BRASILEIRA Adriana Varejão e Lilia Schwarcz contam a história do Brasil pelo viés da diversidade étnica por Paula Alzugaray Pérola Imperfeita: A história e as histórias na obra de Adriana Varejão/ Editora Cobogó e Companhia das Letras/ 360 págs/ R$ 90 Em 1997, a pintora Adriana Varejão realizou um trabalho que expressava seu interesse pela história das raças brasileiras. A instalação “Testemunhas Oculares X,Y,Z” é composta por três retratos em que a artista é representada como uma índia, uma chinesa e uma moura. Mesmo que a Adriana negra e a Adriana branca estivessem ausentes do trabalho, de certa forma ele evocava o censo oficial brasileiro, segundo o qual o povo brasileiro divide-se em cinco cores: branco, preto, vermelho, amarelo e pardo. Dezessete anos depois, o tema da cor da pele volta à obra da artista e as três raças se multiplicam em 33. Nas séries de pinturas “Polvo Portraits” (2013) e “Polvo” (2014) – a segunda exposta no Galpão Fortes Vilaça, em São Paulo, até 27/5 –, a artista é representada em 33 tons de pele, realizados com uma paleta de tintas fabricadas pela própria Adriana, a partir de uma pesquisa de como os brasileiros descrevem a sua cor. QUESTÃO DE PELE - Acima, "Polvo", Adriana Varejão retratada em diferentes cores. Abaixo, tela da instalação "Testemunhas Oculares X,Y,Z" “Branquinha”, “Burro quando foge”, “Queimada de sol”, “Fogoió”, “Café com leite”, etc., são alguns dos 136 termos com que os brasileiros se autodefiniram para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Essa liberdade de interpretação e de definição da própria identidade é o mote das pinturas recentes e também do livro que a artista acaba de lançar em parceria com a historiadora Lilia Moritz Schwarcz. Em “Pérola Imperfeita: A História e as Histórias na Obra de Adriana Varejão”, a história do Brasil é contada em uma narrativa personalizada, filtrada pelos olhos da artista. Por isso, é sintomático que “Testemunhas Oculares X,Y,Z”, em que um dos olhos da retratada é extraído da tela e disposto sobre uma badeja de vidro, em frente à obra, seja o ponto de partida da narrativa histórica de Lilia. “Adriana Varejão poetiza o que lê e faz dos textos instrumentos para outras histórias”, escreve Lilia, que, para reescrever a história do Brasil colonial a partir das pinturas de Adriana, se afasta das visões oficiais e reconhece que, afinal, toda história é uma sucessão de “autonarrativas” baseadas em leituras, releituras e na relativização do olhar. 10#11 ARTES VISUAIS - A IRRUPÇÃO DA RUA, EM DOIS TEMPOS Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado/ Galeria Vermelho, SP/ até 24/5 por Paula Alzugaray Há dez anos, a maior e melhor parte da instigante obra audiovisual de Cinthia Marcelle é composta por coreografias de ações coletivas em espaços públicos. A artista posiciona sua câmera fixa desde um ângulo alto e opera performances e atuações – de pessoas ou veículos. Em seus quadros vivos, a artista orquestra situações que funcionam como alegorias das relações humanas. A harmonia social pode ser representada por 16 músicos de uma banda que se encontram em uma encruzilhada (“Cruzada”, 2010); e a tensão urbana é desenhada em “Confronto” (2005), com oito acrobatas que ocupam a faixa de pedestre impedindo o avanço dos carros. Os dois trabalhos audiovisuais atualmente apresentados por Cinthia e Tiago Mata Machado na Galeria Vermelho sugerem situações de conflitos sociais e se inserem na linhagem de “Confronto”. “O Século”, vídeo de 2011, já foi apresentado, entre outras exposições internacionais, na mostra “The Ungovernables”, a trienal do nova-iorquino New Museum (2012). Foi realizado no calor de dois grandes movimentos políticos – a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street –, mas anos antes do “despertar do gigante” – imagem figurada para as irrupções massivas da insatisfação da população brasileira contra as representações políticas da atualidade. Em “O Século”, a revolta não tem cara: é praticada por agentes que estão fora da visão da câmera. Eles começam atirando pedras, paus, vidros e, num crescendo, lançam capacetes, cadeiras, galões, pneus, até preencher completamente o quadro com caos, poeira e fumaça. Em “Rua de Mão Única” (2013), o segundo vídeo apresentado, a artista dá corpo físico ao conflito e coloca em cena o manifestante brasileiro. O mesmo cenário – a rua de uma cidade qualquer –, atingido por paus e pedras, é cruzado por manifestantes, que montam uma barricada e ateiam fogo. Aos poucos, o quadro é esvaziado e dominado pela fumaça. Nesse caso, onde há fumaça, há fogo. IS - 11# A SEMANA 7.5.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "OS EUA SOB TEMPORAIS E TORNADOS" Em meio a uma transmissão ao vivo de tevê no Mississippi, sobre a previsão das fortes tempestades e enchentes que seguirão a castigar os EUA nos próximos dias, o apresentador repentinamente olha para a janela à sua esquerda e manda todos que estão no estúdio correrem para o porão. Era quarta-feira 30, e mais um tornado entre os tantos que varreram o país girava perto da emissora. Nesse dia os americanos já tinham a triste contagem de seis Estados fortemente abalados, pelo menos 40 mortos e cerca de 75 milhões de pessoas afetadas pelos ventos e temporais que começaram uma semana antes. Não bastasse isso, na quinta-feira os EUA já tinham certeza da correção das previsões do “homem do tempo” da tevê do Mississippi e das registradas pelos avançados sistemas tecnológicos do serviço meteorológico Nacional Corey Mead: as tempestades se tornarão ainda mais intensas e, com elas, haverá mais inundações e novos tornados. "A INJEÇÃO DO DIABO" A Associação Federal de Medicina dos EUA já bateu à porta da Suprema Corte para explicar que mentem aqueles que defendem a injeção letal como método “mais humano” de execução. A injeção paralisa o condenado por fora e explode o seu coração por dentro, impedindo que exteriorize a sua dor – assim, ela é cinicamente “mais humana” somente para aqueles que têm de testemunhar a execução. Na terça-feira 29 mais um exemplo da “humanidade” da injeção foi dado em Oklahoma. Na maca para morrer na semana passada estava Clayton ­Lockett (assassinou uma mulher em 1999). Como está em falta a substância tradicional da “inconsciência” (o laboratório parou de vendê-la ao governo americano justamente por ser usada na pena de morte), foi substituída por “midazolam” (indutor de sono, também utilizado como pré-anestésico). Lockett agonizou por 47 minutos (a média é dez). O fato impediu que fosse executado outro condenado, Charles Warner, que tinha encontro com a morte assim que a maca de Lockett esfriasse. "BABÁS ELETRÔNICAS HACKEADAS" Com um assustador, perverso e repetido grito de “Acorda Neném” é que uma bebê de 10 meses despertou em meio à madrugada. Seus pais também acordaram em sobressalto e se assustaram ainda mais ao perceberem que a ordem saía da babá eletrônica que monitorava o sono da criança e que a câmera do aparelho se movia como se estivesse acompanhando os movimentos do quarto. A família estava sendo vítima de um hacker, que interceptou a comunicação da babá eletrônica. O caso aconteceu em Ohio, nos EUA. “4,15%" e não mais que 4,15% das 150 mil escolas públicas do País, preenchem todos os requisitos exigidos pelo Plano Nacional de Educação, como água filtrada e energia elétrica. 35,78% estão em regiões sem saneamento básico. Dados do PNE. "MALHÃES MORREU EM ASSALTO DE BANDIDO RASTAQUERA" Representantes de diversas Comissões da Verdade suspeitaram de imediato que a morte do coronel da reserva Paulo Malhães, durante um assalto à sua casa na Baixada Fluminense, estivesse ligada ao fato de ele ter assumido recentemente que brutalizou e assassinou oponentes da ditadura militar. Na semana passada ficou claro, porém, que o carrasco dos porões morreu num roubo feito por bandidos rastaqueras. Rogério Pires, caseiro do sítio em que ele morava com sua mulher, Cristina Batista Malhães, está preso e admitiu que participou do assalto com seus dois irmãos. Cristina voltará a ser ouvida pela polícia. O único elo entre o depoimento de Malhães à Comissão da Verdade e sua morte é o fato de que, no mesmo depoimento em que confessou ter torturado e matado, gabou-se em dizer que tinha uma coleção de boas armas em casa. Eram justamente as armas o que os assaltantes queriam. Segundo a polícia, ele morreu de infarto durante o assalto. "DOMINIQUE STRAUSS-KAHN INSPIRA NOME DE BOATE" Não é porque o ex-diretor-gerente do FMI Dominique Strauss-Kahn já se envolveu em escândalos sexuais que seu nome pode estar ligado a uma boate. Ele vai processar a “DSKlub” pela utilização inadequada de suas iniciais na fachada do empreendimento – na quarta-feira 30 mais uma unidade da casa noturna foi inaugurada na Bélgica. Seu proprietário, Dominique Alderweireld, disse que o nome não tem nada a ver com o ex-homem forte do FMI, uma vez que ele mesmo é conhecido como “Dodo La Saumure” – e por isso a sigla é DS, somada ao K para formar a palavra Klub. Detalhe: no interior da boate fotos de Strauss-Kahn decoram o ambiente, indicando que ele não vestiu a carapuça sem razão. "AVRIL LAVIGNE, "HELLO KITTY" E ÁGUA DE VULCÃO" Foi tímido e um pouco frio, mas musicalmente perfeito, o show da canadense Avril Lavigne em São Paulo, na semana passada. Ponto alto da apresentação: o lançamento da música “Hello Kitty”. Destaque para a água especial que ela pediu em seu camarim: a fonte é a cratera de um vulcão na ilha de Viti Levu, no Oceano Pacífico. "JOSÉ GENOINO VOLTA À PAPUDA" Por determinação do presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, voltou ao presídio da Papuda na quinta-feira 1º o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, condenado no processo do mensalão a quatro anos e oito meses de prisão no regime semiaberto. Genoíno cumpria pena provisória de prisão domiciliar devido a problemas cardíacos. O último exame médico ao qual se submeteu apontou, no entanto, que seu quadro de saúde não guarda nenhuma excepcionalidade em relação a outros tantos presidiários do Brasil – essa conclusão, na verdade, deveria levar a uma prática inversa no Estado de Direito: presos cardiopatas como Genoino também deveriam estar em prisão domiciliar como ele estava, e não Genoino voltar para trás das grades porque os outros doentes condenados no Brasil estão na cadeia – e se passarem mal à noite, não há médico que os socorra. "A MÃE QUE MORREU PARA O FILHO NASCER" Foi prematura a morte da jovem da cidade paulista de Araraquara, Patrícia Alves Cabrera, diagnosticada com câncer de mama aos 25 anos. Prematuro também foi o nascimento de seu filho, Arthur, gestado somente seis meses. Se Patrícia desse sequência ao seu tratamento quimioterápico, o bebê morreria. Se ela interrompesse a terapia, sua morte era certa, mas a criança teria um fio de esperança de sobrevivência. Nesse fio o instinto materno se agarrou. Patrícia abriu mão de si mesma. Arthur nasceu, ela o viu uma única vez e morreu. O menino continua internado. "JESSICA RABBIT PERDEU SEU PARCEIRO DE TELA " Morreu aos 71 anos na terça-feira 29, em decorrência de pneumonia, o ator britânico Bob Hoskins. Começou a sua carreira no teatro, mas jamais se destacou nos palcos. O contrário se deu na tevê, onde se tornou famoso pela minissérie “Pennies from Heaven”. No cinema fez grande sucesso nos inesquecíveis “Uma Cilada para Roger Rabbit” (no qual contracena com a personagem de animação Jessica Rabbit), “Minha Mãe É uma Sereia” e “Brazil: O Filme”. Ganhou o Globo de Ouro em “MonaLisa”. Hoskins anunciou a sua aposentadoria em 2012 sob o diagnóstico de mal de Parkinson. "EM VEZ DE PEIXE, FOGUETE" Não é história de pescador o que ocorreu na semana passada com o paraense Manoel dos Santos. Ele estava tentando pegar peixes no rio Uriandeua, em Salinópolis (220 quilômetros de Belém). O que retirou da água, no entanto, foi um pedaço de foguete da Agência Espacial do Reino Unido (UK Space Agency). “Pensei que fosse baleia”, disse Santos. A agência informou que a peça é do veículo espacial Ariana 5 ECA, que levou ao espaço, em julho de 2013, o satélite Alphasat, o mais sofisticado equipamento de telecomunicações da Europa. "A AMA DE LEITE DE SIMÓN BOLÍVAR" Está explicada a consanguinidade política que a democracia de fachada do governo da Venezuela sente pela desabrida ditadura de Cuba. Nos livros escolares venezuelanos agora circula a informação de que o herói da independência do país, Simón Bolívar (1783-1830), foi amamentado por uma cubana. Ela teria se chamado Inês Mancebo. "A OBESIDADE NO PAÍS PAROU DE CRESCER, MAS ESTÁ MATANDO MAIS " Divulgado na semana passada: nos últimos anos triplicou no Brasil o número de mortes relacionadas a enfermidades decorrentes da obesidade. Entre 2001 e 2008 o número de óbitos cresceu de 808 para 2.390 (aumento de 196%). Os dados são do instituto Datasus. Segundo o Ministério da Saúde, a situação da obesidade no País é diferente – e promissora, uma vez que teria parado de crescer. Pesquisa aponta que 50,8% da população brasileira estava com sobrepeso em 2013 – na prática, nada diferente dos 51% de 2012. 16.511 mortes se deram devido à obesidade entre 2001 e 2011, das quais 64% vitimaram mulheres. 63,6% dos mortos eram brancos, 7,1% eram negros e 22,3% pardos. 51,4% das mortes se deram na região Sudeste. "NUNCA SERÁ DEMAIS UMA FOTO INÉDITA DE AUDREY HEPBURN" Audrey Hepburn encantou o mundo, tanto com sua beleza quanto com seu talento, em filmes como “Bonequinha de Luxo” e “A Princesa e o Plebeu”. Até hoje Hollywood alimenta a discussão sobre quem foi a mais bonita atriz de sua história: Audrey ou Ava Gardner? A disputa é covardia; impossível eleger apenas uma delas. As imagens de Audrey ganharam um reforço na semana passada quando centenas de fotografias e negativos foram descobertos na Inglaterra, na casa do fotógrafo George Douglas. A coleção de imagens feitas entre 1940 e 1960 inclui também os atores Roger Moore e Peter Sellers.