ISTOÉ edição 2294 | 06.Nov.2013 [descrição da imagem: no centro da capa aparece parte do braço e o punho cerrado da mão direita, demonstrando muito força, e esmurrando (e quebrando) várias barras, me parece de cimento, onde em cada uma tem uma das seguintes palavras: dificuldades, rejeição, fracasso, frustração, insegurança, derrota.] OS SEGREDOS DOS MAIS FORTES Cientistas decifram o que leva uma pessoa a se recuperar melhor e mais rápido do sofrimento. [canto superior esquerdo: imagem do procurador Rodrigo de Grandis] COMO O MP PROTEGEU OS TUCANOS Procurador Rodrigo de Grandis engaveta ofícios que pediam apuração do escândalo do metrô de São Paulo e prejudica as investigações. [canto superior direito: imagem de Allan Kardec] O PAPA DOS ESPÍRITAS Como o cientista francês Hippolyte Rivail se tornou Allan Kardec, criador da doutrina espírita e fonte de inspiração de Chico Xavier. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 10# CULTURA 11# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 6.11.13 "O BRASIL DE CONTRASTES" Carlos José Marques, diretor editorial A sistemática desigualdade social e de renda, que por décadas castigou a população, foi uma das maiores chagas brasileiras, a colocar o País na rabeira das nações em desenvolvimento. O fosso só aumentou, dado o descaso de governantes omissos. Mas no decorrer de lentas transformações, a duras penas, eis que as estatísticas começam a mostrar uma nova e promissora realidade. Menos contrastante, talvez mais justa. Um levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) apontou que, pela primeira vez em duas décadas, o número de brasileiros na camada mais alta de renda superou o da faixa mais pobre. A pesquisa toma por base o ano de 2012 e registra que mais de dez milhões de pessoas (o equivalente a 5,2% da população) já se encontram na chamada classe alta, com renda per capita mensal superior a R$ 2.555,50. Enquanto isso, os menos favorecidos, com renda de até R$ 83,20 por mês, somam perto de oito milhões de pessoas (4% da população total). O panorama é referendado por técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo eles, a desigualdade vem caindo aceleradamente e, a manter essa velocidade, poderemos chegar a uma taxa semelhante à dos EUA em pouco mais de oito anos. Seria por assim dizer a consagração do Brasil como país de Primeiro Mundo. O programa Bolsa Família, que na semana passada comemorou dez anos de existência, foi indiscutivelmente uma alavanca vital nesse processo de inclusão e valorização da cidadania. Com ele, estima-se que os 10% mais pobres da população tiveram, no período, ganho real de renda superior a 120%. É bem verdade que ainda há muitos desafios a superar. O jornal “Folha de S.Paulo” mostrou na semana passada que, com base em dados do IBGE, é possível verificar que boa parte dos 595 novos municípios brasileiros, criados a partir de 1997, continua a manter os mesmos padrões de baixa qualidade de vida, segundo critérios do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em outras palavras, o Estado provedor continua a falhar na sua missão essencial de bem-estar da população. Eis uma agenda concreta, apartidária e altamente relevante a ser abraçada pelos futuros presidenciáveis: as reformas necessárias para mudar de uma vez por todas esse quadro de carências. _______________________________ 2# ENTREVISTA 6.11.13 CLAUDIO LOTTENBERG - "O PROGRAMA MAIS MÉDICOS TRARÁ BENEFÍCIOS INEGÁVEIS" O presidente do Hospital Israelita Albert Einstein afirma que a iniciativa do governo federal ajudará uma população que sofre, sem saber, de males como diabetes e hipertensão. por Mônica Tarantino EVIDÊNCIAS - Para aumentar a qualidade do atendimento, Lottenberg defende a adoção de modelos de tratamentos certificados por diversos estudos científicos O desperdício de recursos, seja tempo, seja dinheiro ou tecnologia, está entre as poucas coisas que realmente irritam o oftalmologista Claudio Lottenberg, 53 anos. Há 11 anos à frente do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo – considerado o melhor da América Latina –, ele é responsável por sua expansão e pelas parcerias firmadas com o setor público. Desde 2008, por exemplo, a instituição assumiu a gestão do hospital municipal Moysés Deutsch, na zona sul paulistana. Lottenberg une a experiência de gestor privado e público com a de médico para fazer diagnósticos da saúde brasileira. A princípio crítico do Programa Mais Médicos, ele agora combate o radicalismo contra a iniciativa. “O programa trará benefícios inegáveis em locais onde não havia ninguém. Mas é uma medida compensatória”, afirma. “Precisamos agora de medidas que estruturem o sistema de saúde para conter a elevação dos custos e qualificar o capital humano.” Lottenberg concedeu esta entrevista logo após sua chegada de uma viagem a Israel. Enquanto respondia às perguntas, fez a barba, tomou chá, pediu uma pausa para trocar a camiseta branca por uma camisa azul-clara, bem passada e ligeiramente folgada, checou o celular e ajustou a gravata para a foto, tudo isso sem perder o fio da meada nem sequer por um segundo. "Os profissionais do Exterior não vão competir em São Paulo. Eles estarão no interior do País, como no Acre, Estado onde o governador não consegue intensivistas nem por R$ 25 mil” “Uma nova tecnologia ou medicamento sempre agregam custo, mas não trazem necessariamente valor" Istoé - O que acha do Programa Mais Médicos? Claudio Lottenberg - É um programa que nasce como uma iniciativa de curto prazo, voltado para suprir carências. A presença dos médicos em localidades onde não havia ninguém para atender a população trará bons resultados. Eles irão dar assistência a pessoas que sofrem, sem saber, de males como pressão alta e diabetes. Isso não demanda alta tecnologia, mas um médico bem preparado. Outro acerto é o fato de a sociedade se mobilizar em torno do reconhecimento de que a falta de médicos e sua má distribuição são um problema. Istoé - Como considera a reação negativa de boa parte dos médicos brasileiros? Claudio Lottenberg - Questiono-me se nós médicos não temos sido excessivamente reativos ao programa. Os profissionais do Exterior não vão competir em São Paulo. Eles estarão no interior do País, como no Acre, Estado onde o governador Tião Viana disse não conseguir médicos intensivistas nem por R$ 25 mil. Não se pode lidar com um problema dessa magnitude na base do contra ou do a favor. É uma questão de saúde pública que tem inúmeros desdobramentos sociais. Istoé - Um dos argumentos contrários é o de que o programa não apresenta uma solução definitiva para a saúde. Claudio Lottenberg - Realmente, o que não pode acontecer é que o problema se torne perene, sem mudanças, sem que haja uma maior sinergia com as lideranças médicas do País, sem criatividade na formação do capital humano, incentivos para a mobilidade e nem um plano de carreira. Fundamentalmente, o programa é uma política compensatória, que não terá efeito de estruturação do sistema de saúde. Mas ele trará benefícios inegáveis onde antes não havia ninguém para atender a população. Istoé - Os médicos também reclamaram que, da forma como a iniciativa foi divulgada, pareceu que a culpa pelas deficiências no atendimento era somente da classe. Claudio Lottenberg - O assunto propiciou entendimentos equivocados que precisam ser administrados. Não se pode responsabilizar os médicos pela carência da assistência em localidades mais distantes ou pelo fracasso de um sistema de saúde. Boa parte da população está com essa impressão, que não é real. É preciso entender que o médico é um ser humano a quem está sendo ofertada uma oportunidade profissional que tem prós e contras, e que ele tem necessidades que transcendem a atividade de trabalho, como todos. O médico tem filhos na escola, família. Istoé - Pode dar exemplos do que considera políticas capazes de estruturar a saúde brasileira? Claudio Lottenberg - Diante do fato de que saúde não tem preço, mas tem custo, é necessário adotar ferramentas de gestão para administrar corretamente. Se isso não for feito, ele se tornará insustentável. A área da saúde registra índices inflacionários muito maiores do que os da economia em geral. Istoé - Quais fatores influenciam a inflação no setor? Claudio Lottenberg - Os mais importantes estão ligados à incorporação de novas tecnologias. Não se pode fazer isso sem a perspectiva da economia em saúde. Essa avaliação precisa ser feita, uma vez que uma nova tecnologia ou medicamento sempre agregam custo, mas não trazem necessariamente valor. Muitas vezes, vale incorporar novos métodos pela resolutividade que eles possuem, mas isso tem que ser cuidadosamente ponderado. Nesse sentido, a comunidade médica está diante do desafio de refletir sobre a sua realidade. Será que não estamos concordando e nos submetendo às regras da indústria farmacêutica e de equipamentos, sem perceber a extensão de seu impacto? Nos Estados Unidos, cada vez que a agência reguladora FDA aprova um procedimento, produto ou aparelho, está implícito que as fontes pagadoras deverão pagar por ele. Isso gerou um déficit imenso. Istoé - Quais critérios devem ser usados para medir a eficiência de um serviço de saúde? Claudio Lottenberg - Sem protocolos de tratamentos baseados em inúmeros estudos – o que gera evidências clínicas de eficácia – e a padronização de medicamentos, não há como medir resultados e, portanto, não há como melhorar. Parte disso pode acontecer com o incentivo à participação mais direta do setor privado no atendimento à saúde pública. Istoé - Por quê? Claudio Lottenberg - A área privada já está mais adaptada ao uso desses parâmetros. Istoé - O sr. acaba de se filiar ao Partido Republicano. Por que deseja trocar o sucesso à frente do hospital pelos solavancos da vida política? Claudio Lottenberg - O fato de me filiar a um partido não significa fazer trocas ou mudanças. Apenas me habilitei a participar de um processo. Sou um gestor público e privado na área da saúde e estou pronto para enfrentar desafios. Istoé - Foi o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que encorajou sua filiação? Claudio Lottenberg - O ministro Padilha me incentivou, mas não foi só ele. Tenho apoio da família, da minha comunidade, do segmento da saúde, de líderes empresariais e do campo político brasileiro. Esse sentimento de solidariedade tem sido muito estimulante. Istoé - O ex-vice-presidente José Alencar foi do PR. O lugar dele está vago na política brasileira? Claudio Lottenberg - Não me sinto confortável em dizer se existe um vazio, mas Alencar marcou nossa história. Gostava muito dele e o atendi como médico algumas vezes. Era um político habilidoso que tinha a virtude de ouvir todos os lados e de aproximar as pessoas para que chegassem a acordos sobre questões delicadas. Foi um edificador de aproximação de alas que até então pouco conversavam. Até que fosse eleito, o País havia se esquecido da importância de um vice-presidente. Istoé - Que marcas da sua gestão à frente do Einstein podem ser úteis para a saúde pública? Claudio Lottenberg - Foi na minha administração que o hospital aumentou sua participação na saúde pública, no compartilhamento de seus avanços em gestão e na criação de protocolos de saúde. Tornei a instituição pelo menos duas vezes maior do que o nosso principal concorrente sem perder o foco da qualidade. Criamos uma estrutura diversificada de laboratórios e ambulatórios que agilizam o atendimento e temos o maior e melhor serviço de transplante de fígado acessível aos usuários do SUS. Fazemos em média 250 transplantes por ano e mantemos um amplo programa filantrópico. Istoé - Que mudanças terá o currículo da faculdade de medicina a ser lançada pelo Einstein em 2015? Claudio Lottenberg - O papel do médico está mudando e é necessário formar líderes. Quero uma escola de onde saiam profissionais com noções de gestão em saúde e governança corporativa para tomar decisões. Eles serão formados para o trabalho em equipe, operação de estruturas e processos e para enxergar a necessidade dos pacientes com a consciência de que o indivíduo à sua frente está inserido em um contexto maior. Quero que o médico entenda que a saúde depende de financiamento, acesso e humanismo. Medicina não consiste apenas em tecnologia, mas é, antes disso, envolvimento e confiança. Investiremos R$ 50 milhões na construção de um novo prédio. Istoé - Já sabe quanto custará a mensalidade? Claudio Lottenberg - Sei que elas serão competitivas em comparação com as instituições privadas e adequadas para a qualidade de ensino que desejamos. Haverá, porém, um sistema de bolsas e incentivos para atrair os melhores alunos. Eu mesmo pude estudar com bolsas de estudo. Istoé - O que o levou a Israel? Claudio Lottenberg - Sou presidente da Confederação Israelita do Brasil e vice-presidente do Congresso Mundial Judaico. Fui a um encontro dessa entidade. Ir a Israel me remete às grandes questões humanistas e contemporâneas, como as negociações de paz, e aos valores que me formaram. Estudei lá por um período e sempre me impressiono com o sistema de saúde israelense, que é também universalizante, proporcionalmente maior do que o brasileiro, dotado de muitos centros de alta tecnologia com as portas abertas ao público, como o hospital de Hadassa, criado antes mesmo do Estado de Israel. Istoé - E o que trouxe para o Brasil desta vez? Claudio Lottenberg - Desta viagem, trouxe novas iniciativas para estudos em neurologia e pesquisas em câncer e também o apoio do governo israelense para orientar ações em saúde na Guiné-Bissau. O convite foi feito pelo jurista e político timorense José Manuel Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, por causa dos serviços prestados pelo Einstein durante as catástrofes do Haiti e da tragédia de Santa Maria, por exemplo. ___________________________ 3# COLUNISTAS 6.11.13 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - HADDAD NO FIO DA NAVALHA 3#3 PAULO LIMA - VIDA AO LEO 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANA PAULA PADRÃO - AS DELÍCIAS DO ÓCIO 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Medicina Gancho na equipe Comum em ações criminais, a delação premiada terá novas regras na Justiça desportiva. Em seu congresso anual, em novembro, a Agência Mundial Antidoping (Wada) quer aprovar o dobro de punição para quem, flagrado no uso de substância proibida, negue-se a informar os envolvidos na ilegalidade. O silêncio reina hoje. Com a mudança, a pena aplicada ao atleta, em média de dois anos, será estendida para seu preparador físico, médico, treinador e fisioterapeuta. Trabalho Menos ao “Leão” Uma campanha nacional por reajuste na tabela do Imposto de Renda vai ser lançada pela Força Sindical nos próximos dias. O Dieese aponta uma defasagem de 62,77% entre 1996 e 2012. A entidade quer ainda a correção das deduções em educação e saúde. Haverá atos em diversos Estados e em Brasília. Com os dissídios salariais, os trabalhadores pagam cada vez mais IR. Igreja Fé a bordo Começa no dia 1º de dezembro pela cidade de Aurá, no Pará, a campanha “Natal dos Ribeirinhos”. Durante três semanas, no período crítico da entressafra do açaí, cestas básicas, brinquedos, kits escolares e literatura bíblica serão entregues a seis mil pessoas em 14 comunidades carentes do Estado. A ação da Sociedade Bíblica do Brasil acaba no dia 22 e faz parte do programa Luz na Amazônia, que completa 50 anos em 2013. STJ Togas na briga O STJ definirá no dia 20 de novembro quem da Justiça Federal estará na lista tríplice para o preenchimento da última vaga de ministro da Corte em 2013. A luta é intensa. Por ordem, hoje, as maiores chances estão com os desembargadores Luiz Gurgel (PE), Messod Azulay (RJ), Ítalo Fioravante (DF), Néfi Cordeiro (RS) e Maria do Carmo Cardoso (DF). No ano que vem, Dilma Rousseff nomeará mais cinco ministros para o tribunal. Magistratura Juiz X juiz Confusão na disputa pelo comando da Associação dos Magistrados do Estado do Rio. A juíza da 40ª Vara Criminal, Renata Gil, não inscreveu sua chapa de oposição ao chegar 45 minutos após o horário fixado (17h) pela Comissão Eleitoral. A situação está sozinha. No dia 21 de outubro, último para o registro de candidaturas, ela se atrasou porque julgava a prisão de “Black blocs” em manifestações de rua. “Formalidade de horário. Não de dia. Querem obstaculizar a democracia na magistratura fluminense. Levarei o caso aos tribunais, negado o meu direito à disputa.” A eleição no dia 25 de novembro pode ficar sub judice. História Cinquentenário Considerado um filme perfeito para marcar os 50 anos do golpe de 1964, “Setenta” terá lançamento oficial entre março e abril de 2014. A emoção da ideologia da revolta presente no documentário mostra os destinos dos presos políticos libertados em troca do embaixador da Suíça, Giovanni Busher, durante a ditadura militar. Tem direção de Emília Silveira e coprodução de Jom Tob Azulay. A avant-première de “Setenta” foi na Mostra Internacional de Cinema de SP, nos dias 23 e 24. Comportamento Ponto de vista “Exagerada”. Foi como o desembargador José Cogan, do Tribunal de Justiça de SP, definiu a legislação brasileira para a regulamentação de armas. A Escola Paulista de Magistratura iniciou um curso sobre o Estatuto do Desarmamento na terça-feira 29. Cogan diz que todas as iniciativas de outros países em proibir a venda de armamentos causaram aumento de criminalidade. Educação Terceiro grau Dirigentes de duas mil instituições de ensino esperam que o ministro Aloizio Mercadante divulgue logo a nota dos cursos superiores no Enade, edição 2013. O Conceito Preliminar de Curso considera o desempenho dos alunos no exame, a infraestrutura e o perfil dos profissionais da instituição. O CPC assegura em alguns casos a renovação automática dos cursos e até valoriza as ações das universidades que têm capital aberto na bolsa. Saúde Cor da luta Para lembrar o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infanto-Juvenil, prédios e monumentos públicos ganharão iluminação especial em 23 de novembro. O amarelo dourado, que cobrirá o Palácio do Planalto e o Hospital da Criança em Brasília, também será visto em outros Estados. futebol Rumo ao milhão Reaberto em maio, o estádio Mané Garrincha recebeu 600 mil espectadores em 16 eventos, entre jogos de futebol e shows. Inaugurado em 1974, o local foi frequentado por 360 mil pessoas até entrar em obras para o Mundial da Fifa. A arena está pronta, mas perto da Copa haverá recuperação do gramado e ajustes em alguns serviços internos. Política Ele & ela “A maior tendência da união de Eduardo Campos com Marina Silva em médio prazo é somarem mais as rejeições do que os votos”, diz Ricardo Guedes, analisando a pesquisa da Sensus feita para o PSDB. Parte dos eleitores do governador de Pernambuco não quer a ex-ministra, e vice-versa. O ganho agora seria pouco e devido à novidade. “Considerando os cenários para aqueles que conhecem todos os candidatos ao mesmo tempo, Aécio Neves fica em segundo lugar, com tendência de 2º turno entre ele e Dilma.” economia Desaceleração Apesar de ter se voltado para setores de menor risco de inadimplência este ano, o Banco Santander apresentará em suas operações consolidadas de crédito prejuízo da ordem de R$ 1,3 bilhão em 2013. O valor negativo será compensado pelos bons resultados da Tesouraria (operações de compra e venda de títulos) e das coligadas (seguradora, leasing, cartão de crédito etc.). Brasil Tchau, governo! Depois de 30 anos no serviço público federal, onde entrou como agente administrativo e chegou a ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto trocará de campo – e de Estado. O secretário de Orçamento e Planejamento de Brasília assumirá nos próximos dias o cargo de diretor institucional da CSN, em São Paulo. Política 1 O olhar do eleitor Os maiores problemas apontados pela pesquisa foram saúde (47,7%), educação (14,1%) e corrupção (13,4%). Para 47,1%, é melhor o crescimento do País do que a distribuição de renda (30,9%). Para 27,8%, o Brasil segue no rumo certo – outros 38,8% acham que não. “Teremos eleições cheias de incertezas, que dependerão muito das campanhas e propostas dos candidatos. Quem vota está mais crítico e exigente”, conclui Guedes. Cultura Atores atletas Em cartaz no Rio de Janeiro, a “Academia do Coração” terá o elenco mais malhado do País. É que a 20ª peça de Flávio Marinho se passa num palco onde os artistas se exercitam o tempo todo. Ao fim da temporada de seis meses, só haverá beldades em cena. Dia 25, noite de estreia, uma espectadora virou-se para o autor e fez uma ameaça: “Você vai ter que pagar a minha plástica. Desloquei o maxilar de tanto rir...”. 3#2 LEONARDO ATTUCH - HADDAD NO FIO DA NAVALHA O imposto é alto porque há muita roubalheira ou há corrupção porque o imposto é alto?. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, protagonizou dois dos principais fatos políticos da semana: o aumento do IPTU, que afeta negativamente sua popularidade, e a descoberta de uma quadrilha infiltrada nos altos escalões da Prefeitura de São Paulo, que aliviava a cobrança de tributos municipais para grandes empresas – mérito da sua gestão, que implantou uma controladoria interna e passou a cruzar dados patrimoniais de servidores com seus ganhos salariais. Assim, foi possível descobrir que alguns fiscais acumularam patrimônios milionários atuando à margem da lei. No primeiro caso, com alíquotas maiores no IPTU, o ganho de arrecadação da cidade de São Paulo em 2014 poderá superar R$ 1 bilhão. No segundo, escorreram pelos cofres da prefeitura cerca de R$ 500 milhões, que deixaram de ser pagos por algumas construtoras. São duas situações intimamente ligadas, que revelam a lógica perversa da corrupção. Enquanto uns pagam demais, outros escapam das garras da Receita municipal graças a esquemas espúrios, que conectam empresários a fiscais altamente graduados. Ainda é cedo para dizer se a ação contra a quadrilha trará ganhos de aprovação capazes de compensar o desgaste com o aumento dos impostos. Mas é um caso didático. Com os R$ 500 milhões desviados, por exemplo, seria possível congelar as tarifas de ônibus em São Paulo – e foi justamente o aumento de 20 centavos que deflagrou os protestos do Movimento Passe Livre, em junho. Sem a roubalheira, naturalmente, o aumento do IPTU também poderia ter sido menor. Aliás, o imposto é pesado porque há muita corrupção ou são os desvios que encarecem os tributos? Qual é a causa e qual é o efeito? Numa cidade rica e historicamente marcada pela corrupção de fiscais, Haddad pretende garantir total autonomia à Controladoria-Geral do Município, criando, inclusive, uma carreira própria para os servidores. Se essa iniciativa for capaz de inibir desvios, o prefeito conseguirá sair da situação delicada em que se encontra. Segundo pesquisas internas do PT, sua aprovação caiu e, hoje, é um fator que não contribui para a disputa de 2014, em que os petistas depositam grandes esperanças em Alexandre Padilha. Não foi por outro motivo que Haddad conseguiu renegociar sua dívida com a União e também lutou pelo aumento do IPTU. Por mais que haja uma tendência moderna à valorização do transporte público, o eleitor de São Paulo sempre cobrou de seus prefeitos grandes realizações urbanas. E é justamente o papel de tocador de obras que Haddad terá que exercer a partir de 2014 não apenas para ajudar Padilha, mas também para cimentar sua própria reeleição. 3#3 PAULO LIMA - VIDA AO LEO Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip A pessoa da foto já foi baterista de banda punk, dono de boate, traficante, presidiário e uma mulher casada por dez anos. O que sua história pode ensinar sobre preconceitos, medo e ignorância?. Estudiosos da existência costumam evitar a comparação entre sofrimentos humanos. Para psicólogos, filósofos, psiquiatras e outros cientistas, a dor pode assumir gradientes e amplitudes muito desproporcionais aos fatos geradores conhecidos. Mesmo assim, não é difícil encontrar depoimentos de pensadores sérios defendendo que não existe angústia maior do que a que experimenta o indivíduo que se sente aprisionado num corpo “errado”. São as pessoas que se entendem e percebem como homens nascidos por equívoco em corpos femininos ou vice-versa. Em geral, a capacidade para enfrentar a enormidade de preconceitos, desajustes e dramas internos que a situação acarreta costuma ser inversamente proporcional ao tamanho do desconforto existencial. Leo Moreira, independentemente do nome ou do gênero, uma pessoa construindo sua identidade A pessoa na imagem ao lado nasceu Lourdes Moreira Sá, num corpo delgado de mulher. Em seus 55 anosde vida, experimentou intensidade e complexidade de sentimentos e situações que pouquíssimos indivíduos teriam condições de viver, ainda que pudessem durar dois séculos sem desencarnar. Desde os 7 anos, na cidade de São Simão, interior de São Paulo, onde viveu sua infância, a menina caçula de sete irmãos já relatavaseu sentimento confuso diante da imagem de seu corpo refletida no espelho e daquilo que sentia. Leo, como se chama hoje, foi baterista de uma banda de respeitado papel na cena do punk rock nacional nos anos 80. Em As Mercenárias, ainda como Lourdes e sem grandes conhecimentos musicais, tocava uma bateria pesada e sentida na banda que ficou conhecida, entre outras coisas, pela formação só de mulheres. Numa década em que boa parte da juventude das grandes cidades mergulhou na cocaína, Leo seguiu a carreira nos dois sentidos. Já na década seguinte conheceu,se apaixonou e casou com o grande amor de sua vida. Gabi era um travesti e até a comunidade GLBT achava a união bizarra na época. Conseguiram se casar no civil, mas para isso Leo, ainda Lourdes, precisou se vestir de mulher. Vendendo drogas para se sustentar, Leo acabou preso. Cumpriu seis anos em diferentes presídios. Apanhou muito e quase morreu num entrevero com uma líder de xadrez que atendia pelo sugestivo nome de “tia Carioca”. Depois de pagar cadeia, encontrou um novo caminho para sua vida. Estudou e tornou-se um técnico iluminador de teatro requisitado, tendo merecido, juntamente com um colega, o Prêmio Shell 2012 de iluminação pelo espetáculo “Cabaret Stravaganza”. A arte foi fundamental na reconstrução de sua vida. Com o dinheiro do prêmio, realizou a mastectomia que removeu os seios que pertenciam a Lou. Sua história gerou o enredo de uma peça que está em cartaz em São Paulo: “Lou & Leo”, com Leo em boa atuação no palco, conta não só sua inacreditável história, mas a de milhares de indivíduos que ainda sofrem com a nossa abissal ignorância em relação a tudo aquilo que não nos pareça óbvio. Hoje diretor-fundador da Associação Brasileira de Homens Trans, é ele mesmo quem melhor se define num perfil ainda inédito para a revista “TPM” de outubro: “Eu não precisava marcar que sou um homem trans, poderia passar despercebido tranquilamente, como muitos fazem. Mas minha consciência política não deixa. A minha busca de identidade hoje não é para me encaixar, como eu achava que deveria, mas para desconstruir tudo que eu tinha para buscar alguma coisa que eu possa dizer: sou eu. Não sou homem, não sou mulher, sou um ser humano que está em processo de construção de sua própria identidade.” Reportagem de Camila Alam 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Alegria Fashion O corpo perfeito e o famoso cabelão não bastam. Izabel Goulart confessa ter ainda um truque para o bronzeado na preparação para os desfiles. “Não dá tempo de tomar sol. Apelo para a maquiagem. Uso óleo corporal com pigmento dourado e hidratante”, entrega. Assim ela arrasou no Risqué Dream Fashion Show, em São Paulo. O evento reuniu tops como Isabeli Fontana, Ana Beatriz Barros, Renata Kurten, Cintia Dicker e Emanuela de Paula e teve consultoria de Paulo Borges. O rapper britânico Taio Cruz completou o show. Izabel também está confirmada para o desfile anual da Victoria’s Secret, em 13 de novembro, em Nova York. Após a maratona de trabalhos, ela vira o ano na Tailândia com o namorado, Marcelo Costa, e amigos. “É um lugar que eu nunca fui. É meu sonho conhecer os templos e as mulheres-girafa!”. O show de Pedro Entre a volta de Gisele Bündchen e a entrada de grifes como Melissa e Lilica Ripilica, a presença de Pedro Lourenço no line-up do São Paulo Fashion Week foi aplaudida pelos fashionistas. Seu desfile de inverno 2014 misturou técnicas de alta-costura e tecnologia. Trouxe uma coleção sofisticada, com referências a uma Carmem Miranda contemporânea. “Ela era uma stylist. Usava artifícios para alongar sua silhueta com saltos altíssimos. Nessa coleção também utilizo formas para alongar a silhueta, mas em uma linguagem contemporânea”, disse. A polêmica da Lei Rouanet, (pela qual acabou não captando R$ 2,8 milhões para desfilar em Paris), ficou no passado: “Prefiro falar sobre o meu trabalho. Sobre outras questões, procurem a Soninha (Gonçalves, RP)”. Balas Vai ou não vai A boa audiência da última temporada do programa “Amor &Sexo”, com Fernanda Lima, pode fazer a Globo voltar atrás na decisão de encerrar a atração. O diretor Ricardo Waddington deu pistas. Perguntado se Fernanda apresentará o “Video Show”, ele soltou: “E se ‘Amor & Sexo’ não acabar?”. Hollywood, lá vai ele O diretor do filme “Faroeste Caboclo”, René Sampaio, fechou contrato com a CAA, uma das maiores agências de atores e diretores de Hollywood. Finalmente... Demi Moore e Ashton Kutcher assinaram o divórcio. Segundo o jornal americano “The New York Post”, o ex-casal finalmente chegou a um acordo, e após dois anos separados puseram um ponto final na disputa judicial. Estariam brigando por US$ 10 milhões. A atriz julgava ter direitos sobre os 20% de Kutcher na empresa Grade-A, avaliada em U$$ 100 milhões. Entre Anthony Hopkins e Manoel Carlos Em fevereiro, ela estreia na próxima novela das nove, “Em Família”, de Manoel Carlos. E em junho passado debutou em Hollywood ao lado de ninguém menos que Anthony Hopkins no filme “Solace”, do diretor brasileiro Afonso Poyart. Luisa Moraes é a promessa de 2014. “Anthony é engraçado e generoso. Conversamos muito e rolou uma supervibe sobre música e temas da América Latina, já que a esposa dele é colombiana”, conta. Dirigida por Giovanni Bianco, Luisa posou para a nova campanha da Arezzo. Festa na Oca Uma Thurman se irritou (com sua acomodação no hotel ou com um torcicolo) e foi embora. A editora de moda francesa Carine Roitfeld disse à coluna ao sair à meia-noite: “Fiquei doente (pôs a mão no pescoço) e por isso não circulei por São Paulo. Passei meu tempo dentro do hotel.” Isabeli Fontana e Ana Beatriz Barros tiveram que confirmar seus nomes na recepção e uma agente precisou interceder lembrando que as tops chegaram no carro da Chanel e foram vestidas pela marca. Houve quem postasse no Instagram que a festa da Chanel na Oca (a de Oscar Niemeyer) virara programa de índio. Houve ainda quem dissesse que era intriga da oposição. Mas o alvoroço em torno da passagem do genial Karl Lagerfeld por São Paulo, para o lançamento da exposição “The Little Black Jacket”, não mudou o semblante impassível do Kaiser de raro sorriso. A atriz Diane Kruger esteve em sua companhia e beldades brasileiras se desdobraram para estar em seu cercadinho vip dentro da Oca, no Parque do Ibirapuera. Camaleão do rock... e da moda Mais do que nunca, David Bowie está na mira dos holofotes... e da moda. É ele a estrela da nova campanha da Louis Vuitton (foto). Intitulada L’Invitation au Voyage, Bowie aparece no filme feito em Veneza, cantando uma versão da música “I’d Rather be High”, de seu último disco, ao lado da top Arizona Muse. O Camaleão do Rock ainda colhe os louros do sucesso da fantástica exposição “David Bowie is”, inaugurada no museu Victoria & Albert, em Londres, e que chega ao Brasil no fim de janeiro de 2014, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. fotos: Rodrigo Trevisan (Izabel Goulart e desfile); Divulgação (Ashton kutcher e karl Lagerfield); Ricardo Prates (Carine, Diane, Isabelli e Ana Beatriz); Maurizio Barutti (Luiza Moraes); DivulgaçãoLlouis Vuitton (David Bowie) por Gisele Vitória com Simone Blanes, Bianca Zaramella e Luciane Ângelo 3#5 ANA PAULA PADRÃO - AS DELÍCIAS DO ÓCIO Ana Paula Padrão é jornalista e apresentadora Como o significado do tempo muda quando se inverte a demanda. Se ele sobra, aquilo que se faz dele é o que nos faz feliz.. Se alguém me perguntasse hoje qual o bem mais escasso e, definitivamente, não renovável do planeta, minha resposta estaria na ponta da língua: tempo! Chego à conclusão de maneira tristemente pouco convencional. Precisei ficar em casa durante duas semanas para me recuperar de uma cirurgia. Um amigo me ligou para saber como andava minha reclusão forçada. Encontrou-me mal-humorada. Ansiosa. Quem já viu uma leoa enjaulada? Fica andando de um lado para o outro, sem paz, com o olhar perdido. Era eu a leoa. Não tinha dor alguma e parte da recuperação incluía caminhar. Devagar. Ou ficar deitada. De lado. A cirurgia foi na coluna. Abriram minhas vértebras para liberar o canal medular. De um dia para o outro, a dor que me atormentava sumiu. Mas ganhei toda a limitação de movimentos do pós-operatório. Nada de escritório. Nada de trepidação. Portanto, nada de deslocamentos de automóvel. Nada de viagens de avião. Portanto, nada de visitas a clientes. E nada de passar muito tempo sentada, pressionando a coluna. O amigo ouviu meu desabafo de workaholic inveterada e soltou a frase que abriu as portas da verdade. “Não seja tola. Aproveite a fase! Tomara que você não tenha outra chance como essa na vida para deitar e ler um livro sem culpa!” De fato. O excesso é uma prisão. Excesso de informação, excesso de coisas na agenda, excesso de projetos. Eu ganhei excesso de ócio! E querem saber? A gente se acostuma… Li aquele livro de 1.168 páginas. “Atlas Shrugged”, filosofia e ficção da sensacional Ayn Rand. Recomendo. Tirei cochilos no meio da tarde. E passei a sair da cama às 9 da manhã. As olheiras sumiram. Recomendo. Atormentei as gatas, que estranharam minha presença em casa. Descobri que elas usam o dia todo para dormir descaradamente. E que só saem do cesto quando a temperatura cai. Espertas, as gatas. Passei a observar o céu da minha varanda, como elas fazem. Colhi as pitangas do pé e fiz risoto de pitanga fresca. A bem da verdade, supervisionei a preparação do prato. O marido cozinhou para mim na convalescença. Altamente recomendável! Não estava minimamente preparada para gostar da sensação de dependência que vem com a limitação de movimentos. Pega isso para mim? Alcança aquilo para mim? Busca tal coisa, por favor? Gente, recomendo muito, mas muito mesmo! E aqueles projetos urgentes ganharam outro carimbo. Sub judice. Tipo, quando eu estiver pronta para realizá-los, eles acontecerão. Fulano precisa falar comigo? Desculpa, hoje não dá. Amanhã também não. Estou muito ocupada planejando a viagem de fim de ano. Pode ser semana que vem? É quando terei tempo. Para ele. Como o significado do tempo muda quando se inverte a demanda. Se ele sobra, aquilo que se faz dele é o que nos faz feliz. E ser feliz dá trabalho. Demora o tempo do livro, do risoto, do cochilo. Seu tempo deixa de ser alheio. Ele é seu. Estou aqui para recomendar essa sensação, inteiramente nova para mim. E espero que você não precise abrir sua coluna para saborear essa delícia que tanto nos falta: tempo. Ana Paula Padrão é jornalista e empresária 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL Por Paulo Moreira Leite Planalto preocupado com PT O governo não tem a menor dúvida sobre a reeleição de Rui Falcão para a presidência do PT. A dúvida é saber se ele será capaz de apaziguar o partido em 2014, quando Dilma irá necessitar da lealdade integral da legenda para enfrentar uma campanha que ninguém encara como um passeio de carruagem. Mesmo os aliados de Rui têm engrossado o coro geral de críticas ao governo que, além de questões pontuais, envolvem um aspecto principal – um clamor por uma maior participação nas decisões do Executivo. Os petistas estão de olho inclusive na nomeação de ministros, que Dilma considera sua prerrogativa pessoal. Fator K em Brasília O otimismo inicial sobre a recuperação de Cristina Kirchner após a cirurgia no cérebro está diminuindo em Brasília. O Planalto já trabalha com a possibilidade de a presidente argentina não conseguir retornar às funções presidenciais, privando o Planalto de um aliado problemático no varejo, mas sempre fiel no atacado das articulações regionais. Palavras que incomodam O debate sobre a regulamentação do trabalho escravo está amarrado em dois adjetivos. Trabalho “exaustivo” e “estafante”. Em busca de termos precisos, um senador teme que, com expressões vagas, aplicáveis a casos muito diferentes, “até um parlamentar aplicado possa processar o Congresso como escravo.” Esperança renascida Vai durar até esta semana a esperança de que a reforma do ICMS possa ser votada neste ano. Há duas possibilidades. O Confaz, Conselho de Secretários da Fazenda, representante dos 27 Estados, pode fechar uma proposta de consenso, que seria apoiada por senadores e deputados. Outra hipótese, dramática, é aprovar o consenso e disputar as diferenças no voto. Se nada acontecer, o debate ficará para 2015 na melhor das hipóteses. CPI é pesadelo para 2014 O Planalto está mobilizado para impedir a coleta de assinaturas para a formação de uma CPI sobre a Copa do Mundo. Os motivos de preocupação do governo são os mesmos que animam a oposição. Os dois lados estão convencidos de que uma chuva de denúncias pode animar protestos às vésperas da eleição. Meu plano será tua herança Com Alexandre Padilha pronto para entrar na duríssima luta pelo governo paulista, o Ministério da Saúde virou a noiva procurada da reforma ministerial. O herdeiro de Padilha implantará o Mais Médicos, processo que deve atravessar 2014. Apoiado por Fernando Pimentel, o mineiro Helvécio Magalhães disputa o cargo. Contra a parede Há menos de um trimestre no cargo, a nova presidente da Fundação Nacional do índio (Funai), Maria Augusta Assirati, enfrenta alta temperatura em Mato Grosso do Sul e Alagoas. Enquanto comunidades indígenas resistem à determinação para deixar uma área, os fazendeiros se armam. Um cenário muito parecido derrubou Marta Azevedo, a antecessora. Diálogo impossível com black block A equipe do ministro Gilberto Carvalho que costuma procurar contato com movimentos sociais do País inteiro chegou à conclusão de que não há campo possível para conversar com o anaquismo baderneiro do black block. Às vésperas do leilão de Libra, emissários do governo fizeram várias ofertas conciliatórias, inclusive de promover encontros de integrantes do grupo com autoridades. Os blacks contatados responderam que não tinham o menor interesse. Afirmaram, a sério, que sua única preocupação era impedir o leilão. Renan e o neoliberalismo A súbita conversão de Renan Calheiros ao neoliberalismo financeiro, definida pela promessa de votar um projeto de autonomia do Banco Central, tem duas explicações que não se excluem. A caseira é que pressiona para emplacar um protegido no ministério Dilma. A institucional é que articula acordo nos bastidores com lideranças do setor financeiro, que pressiona pela autonomia na esperança de baixar o limite do depósito compulsório. Toma lá dá cá Entre vários hackers, Bruno Neyra, conhecido como Capi Etheriel na rede, esteve em Brasília para testar a transparência da Câmara de Deputados: ISTOÉ – Por que invadir bancos de dados das três áreas do governo, em vez de usar páginas de transparência? Bruno Neyra – A verdade é que os portais oficiais dificultam o acesso. Obrigar a preencher um formulário é criar uma barreira. Não é preciso autorizar o que é público. ISTOÉ – Por que a Câmara convocou vocês? Bruno Neyra – Os funcionários e diretores querem a transparência. Os políticos não querem. ISTOÉ – Existe hacker do bem? Bruno Neyra – Se eu fizer um programa para mostrar que legalizar o aborto protege a vida de mulheres, a Igreja Católica não vai achar que eu sou um hacker do bem. A rede é monitorável. E é mais barato monitorar um país pela internet do que adquirir um caça. Rápidas * A capacidade de o PMDB produzir atritos com o governo já fez surgir o comentário no Congresso de que o partido parece sofrer de um complexo de PSB – adora dar a impressão de que pode brigar de verdade, esquecendo de que não tem o cacife de um candidato presidencial para ser levado a sério. * O Supremo Tribunal Federal abriu licitação para comprar 16 sofás, a um custo de R$ 10 mil cada um. Nos detalhes da compra, o órgão deixa claro que não quer economia. Pede modelos de “excelente qualidade” e fazem referência explícita a um certo padrão “La Novitá”, loja AAA de São Paulo. *Num esforço para evitar calouros, o Fundo da Previdência Complementar do Funcionalismo só aceitará executivos com um mínimo de cinco anos de carreira em aposentadoria privada. Retrato falado “Orçamento impositivo é uma aberração. Nosso papel é defender a população e fiscalizar o governo e não definir onde se fazem obras.” O senador Humberto Costa (PT-PE) aguarda pela votação do orçamento impositivo para subir à tribuna e enfrentar uma das piores derrotas de sua vida parlamentar. “Vou receber entre dez ou, no máximo, 11 votos”, afirma, referindo-se a uma proposta que garantirá a cada parlamentar o direito de distribuir uma bolada de R$ 10,4 milhões em emendas que ele próprio escolher, sem prestar maiores satisfações. Médico, Humberto acha que se amenizou o mal ao assegurar que 50% desses recursos irão para a área de saúde. Eles querem ouvir Lula O vice-presidente Michel Temer tem trabalhado para manter em boa temperatura as relações do PMDB com o governo. Sua mensagem é que os principais pleitos serão atendidos e que o partido deve “ficar frio.” Reconfortados por uma posição de mando nas duas casas do Congresso, regalia pouco vista na história da República, os caciques do PMDB já enviaram uma mensagem de volta. Querem se encontrar com Lula. Falta de equipamento Acusado de vazar boa parte das informações confidenciais sobre o propinoduto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) enfrenta dificuldades técnicas para compartilhar, legitimamente, dados com órgãos competentes. O Cade nem sequer possui DVDs virgens para gravação de mídias. por Paulo Moreira Leite Colaboraram: Izabelle Torres e Josie Jerônimo ____________________________ 4# BRASIL 6.11.13 4#1 COMO O MINISTÉRIO PÚBLICO PROTEGEU TUCANOS 4#2 BLACK BLOCS INCENDEIAM A CAMPANHA 4#3 UMA PROVA DE R$ 4 MILHÕES 4#4 DILMA MAIS PROTEGIDA 4#5 HERANÇA MALDITA 4#1 COMO O MINISTÉRIO PÚBLICO PROTEGEU TUCANOS Procurador Rodrigo de Grandis engaveta oito ofícios do Ministério da Justiça que pediam apuração do escândalo do metrô de São Paulo e prejudica o andamento das investigações Claudio Dantas Sequeira e Alan Rodrigues Apareceu um escândalo dentro do escândalo de corrupção em contratos de energia e transporte sobre trilhos de São Paulo que atinge em cheio os governos do PSDB. ISTOÉ descobriu que o procurador Rodrigo de Grandis engavetou desde 2010 não apenas um, como se divulgou inicialmente, mas oito ofícios do Ministério da Justiça com seguidos pedidos de cooperação feitos por autoridades suíças interessadas na apuração do caso Siemens-Alstom. Ao longo de três anos, De Grandis também foi contatado por e-mail, teve longas conversas telefônicas com autoridades em Brasília e solicitou remessas de documentos. Na semana passada, soube-se que, devido à falta de cooperação brasileira, o Ministério Público suíço decidiu arquivar a investigação contra três dos acusados de distribuir propina a políticos tucanos e funcionários públicos. Em sua única manifestação sobre o caso, De Grandis alegou que sempre cooperou e só teria deixado de responder a um pedido feito em 2011, que teria sido arquivado numa “pasta errada”. Mas sua versão parece difícil de ser sustentada em fatos. PEDIDO - Informado da falta de cooperação, o ministro Cardozo determinou novo contato com o procurador Conhecido pelo vigor demonstrado em investigações sobre o ex-governador Paulo Maluf e também no caso Satiagraha, que colocou o banqueiro Daniel Dantas na prisão, desta vez o procurador federal, de 37 anos, não demonstrou a mesma energia. Para usar uma expressão que costuma definir a postura de autoridades que só contribuem para a impunidade de atos criminosos: ele sentou em cima do processo. No mês passado, um integrante do Ministério Público Federal de São Paulo chegou a denunciar a seus superiores que a conduta de De Grandis “paralisou” por dois anos e meio a apuração contra os caciques tucanos. As razões que o levaram a engavetar o caso agora serão alvo do procurador-geral, Rodrigo Janot, e da Corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público, que abriu uma queixa disciplinar contra De Grandis. Até o momento, as explicações do procurador carecem de consistência. Com boa vontade, sua teoria de “falha administrativa” poderia até caber para explicar um ofício perdido. Mas não faz sentido quando se sabe que foram oito os ofícios encaminhados, sem falar nas conversas por telefone e e-mails. O último dos ofícios, que chegou à mesa de Rodrigo De Grandis há apenas duas semanas, acusa o procurador de “nunca” ter dado retorno às comunicações feitas pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça, responsável pela interface em matéria judicial com outros países. A primeira solicitação oficial do MP suíço chegou ao Brasil em 15 de março de 2010 e, em 16 de abril, foi encaminhada à PGR e ao procurador federal pelo ofício nº 3365. As autoridades suíças queriam a quebra de sigilo bancário, o interrogatório, além de busca e apreensão nos escritórios de Romeu Pinto Júnior, Sabino Indelicato e outros suspeitos. Nada se fez. Em 18 de novembro, a Suíça fez o primeiro aditamento ao pedido de cooperação e novo ofício foi encaminhado ao MPF, em 1º de dezembro. Desta vez, o MP suíço pedia informações que poderiam alimentar sete processos em curso naquele país. Nada. Em 21 de fevereiro de 2011, os procuradores estrangeiros tentaram pela terceira vez. Queriam que fossem ouvidos, entre outros, o lobista Arthur Gomes Teixeira e João Roberto Zaniboni, ex-diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Em março, as autoridades suíças cobraram retorno das demandas. De Grandis foi novamente acionado, mas não deu resposta. Em julho e novembro, foram encaminhados novos ofícios sobre os pedidos de cooperação da Suíça. Mais uma vez, o silêncio. Depois de dois anos e meio, em 7 de agosto deste ano, já com o escândalo das propinas batendo à porta do Palácio dos Bandeirantes, o ministro José Eduardo Cardozo foi informado da falta de cooperação e determinou que se fizesse novo contato com o procurador. Tudo em vão. Sem obter resposta, o MJ encaminhou outro ofício (6020/2013) ao MPF em 10 de outubro. E novamente outro (6280/2013) no dia 21, reiterando “extrema urgência e a importância do tema” e pedindo retorno em cinco dias. De Grandis solicitou novas remessas de documentos e finalmente respondeu na última quarta-feira 30. A resposta, porém, foi incompleta – apenas algumas oitivas. O silêncio obsequioso do procurador inviabilizou diligências que poderiam ser essenciais para alimentar as investigações do propinoduto, tanto na Suíça como no Brasil, causando um prejuízo incalculável ao esclarecimento de um esquema de corrupção cuja dimensão total ainda não se conhece. Feitas no tempo certo, poderiam ter ajudado as autoridades a estabelecer, antecipadamente, a relação entre o esquema usado pela Alstom e o da Siemens para subornar políticos. ARQUIVADOS? - Teixeira, Zaniboni e Matarazzo (da esq. para a dir.): personagens centrais do escândalo do PSDB Em agosto de 2012, após quatro anos de investigação, a Polícia Federal concluiu o primeiro inquérito sobre o caso Alstom. Sem acesso a dados bancários e fiscais da Suíça, conseguiu apenas reunir provas parciais para indiciar por corrupção passiva o vereador Andrea Matarazzo, que, em 1998, era secretário estadual de Energia no governo Mário Covas. O inquérito foi para as mãos de De Grandis, que, passado mais de um ano, ainda não apresentou sua denúncia. Nos bastidores, o procurador reclamava a assessores que a peça policial era pouco fundamentada. Sob pressão, solicitou à Justiça Federal a quebra do sigilo de 11 acusados. O promotor Silvio Marques, do MP estadual, e outros procuradores federais em São Paulo pediram em julho o compartilhamento das provas para aprofundarem a apuração. Os procuradores suíços, longe de arquivar os processos, também estão interessadíssimos em conseguir a cooperação brasileira. PARADO - Fachada do prédio do Ministério Público em São Paulo: investigações emperradas Na semana passada, ISTOÉ enviou ao gabinete de De Grandis uma lista com 20 perguntas. Nenhuma foi respondida. Por meio da assessoria de imprensa, o MPF alegou “sigilo das investigações” e disse que o procurador está de licença até 5 de dezembro para concluir um mestrado. Especialista em direito penal e professor da Escola Superior do MP de São Paulo, De Grandis é considerado pelos colegas um sujeito de temperamento difícil e de poucos amigos. Entre eles, o ex-delegado Protógenes e o neoativista Pedro Abramovay, hoje antipetista de carteirinha após ser banido do governo. Para o advogado Píer Paolo Bottini, ex-secretário da gestão Márcio Thomaz Bastos e professor de Rodrigo de Grandis num curso de pós-graduação, o procurador nunca usaria o cargo para fins políticos. “Conheço ele e não acredito que tenha qualquer direcionamento em sua atuação”, diz. O ex-ministro José Dirceu pensa diferente. Na semana passada, ele voltou a acusar De Grandis de agir politicamente ao quebrar seu sigilo telefônico para tentar envolvê-lo no caso MSI, o esquema de cartolagem do futebol paulista. Na Satiagraha, De Grandis e Protógenes se uniram contra Daniel Dantas, um velho aliado do PSDB e de Marcos Valério, que se aproximou do PT depois que Lula chegou ao poder em 2002. A partir de 2008 o deputado estadual Roberto Felício (PT) encaminhou seis representações ao procurador. O deputado ainda alertou De Grandis sobre indícios de que Alstom e Siemens usavam as mesmas consultorias internacionais para lavagem de dinheiro e pagamentos de propinas e subornos a diversas autoridades no Brasil. Nenhuma foi concluída. 4#2 BLACK BLOCS INCENDEIAM A CAMPANHA Baderna e vandalismo entram no debate político e obrigam autoridades a discutir novas formas de combate à violência Paulo Moreira Leite e Josie Jeronimo CINZAS - Caminhão-cegonha e carros incendiados em protesto, em São Paulo A 11 meses da eleição presidencial e para governadores de Estado, os brasileiros estão diante de um problema tão difícil de definir quanto de resolver – a “baderna,” também chamada de “vandalismo”, praticada pelo grupo que se define como “ Black Blocs.” Os protestos de junho e todas as mobilizações posteriores comprovaram que os métodos tradicionais do Estado brasileiro para garantir a liberdade política dos cidadãos sem comprometer a defesa da ordem e da lei necessitam de uma reforma urgente e ampla. O recurso automático de convocar soldados da Tropa de Choque para assegurar a paz das ruas com base na pura violência revelou-se um fracasso já nos primeiros dias, levando a diversos atos de repúdio por parte da sociedade. A atitude seguinte, de baixar a guarda e aceitar o que parecia um nível tolerável de baderna, só estimulou novos atos de violência civil e desmoralização da polícia. Depois de quebrar vidraças, automóveis e estações de metrô, a agressividade de civis mascarados atingiu o ponto culminante há duas semanas, quando um coronel da PM foi espancado no centro de São Paulo. Na cena seguinte, um estudante da periferia foi executado com um tiro no peito por um soldado da mesma PM. Em reação, integrantes do PCC – por que perderiam a oportunidade? – incendiaram caminhões e ônibus, além de bloquear uma rodovia federal, a Fernão Dias. Vinte e quatro horas depois, mais uma morte e novos bloqueios. Repetindo uma postura que já assumira na primeira semana de protestos, a presidenta Dilma Rousseff elevou o tom na semana passada: “Defendo qualquer manifestação democrática. Agora, acredito que a violência dos mascarados não é democrática, é antidemocrática, é uma barbárie, e tem de ser impedida.” Os black blocs entraram de vez na campanha. Por determinação da presidenta, na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, encontrou-se com Fernando Grella, secretário de Segurança de São Paulo, e Mariano Beltrame, titular do mesmo posto no Rio de Janeiro. Num reflexo das dificuldades para se travar uma discussão dessa natureza, ainda mais com uma eleição no horizonte – quando ninguém quer se arriscar com medidas capazes de dificultar a busca de votos – no final foram anunciadas medidas razoáveis, previsíveis e triviais. Cardozo disse que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tentará rastrear responsáveis pela baderna. Grella pediu um agravamento na pena de prisão de manifestantes violentos. Beltrame lembrou que é preciso oferecer uma resposta equilibrada ao assunto. “Nosso foco é a ordem, sem a ordem não há democracia. Mas esse problema não vai se resumir a um policial fardado, precisa ser enfrentado também por outros atores”, afirmou. Para Carlos Ranulfo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), “as manifestações violentas não têm legitimidade, porque agridem o Estado de Direito, e os governadores irão se desgastar se não souberem reagir”, afirma o professor, lembrando que, para a maioria dos brasileiros, a violência é um problema de responsabilidade dos governos estaduais e não do governo federal. Em Pernambuco, Estado de Eduardo Campos, o secretário de Defesa Social Wilson Damázio transformou-se num ídolo local ao fazer a violência recuar. Damázio alterou o protocolo de atuação da polícia para impedir mascarados de protestarem nas ruas e garantiu que, antes de cada manifestação, a tropa de choque revistasse mochilas. “A polícia foi orientada a proteger os transeuntes e manifestantes pacíficos e a deter quem danifica patrimônio público e privado,” afirma Damázio. Naturalmente, não se trata da única mudança possível. A violência da PM contra a população civil é uma tragédia conhecida, que alimenta uma roda sem-fim de agressões. O Congresso começou a discutir dois projetos sobre o assunto. No Senado, debate-se uma emenda constitucional para desmilitarizar as PMs, medida que, conforme a imensa maioria dos estudiosos, poderia contribuir para que abandonem as práticas herdadas do regime militar para submeter-se às regras da democracia. Outro projeto, número 4.471/12, exige uma investigação formal e rigorosa diante de toda morte ocorrida em confrontos com a PM, eliminando os tristemente célebres “autos de resistência seguida de morte” que costumam acobertar execuções sumárias. O eleitor terá a chance de saber quem, em ano eleitoral, irá fazer este debate. 4#3 UMA PROVA DE R$ 4 MILHÕES Documento obtido por ISTOÉ comprova que assessor do Ministério do Trabalho investiu pequena fortuna em uma empresa suspeita de lavar dinheiro desviado da União Izabelle Torres O advogado João Graça é apresentado pela cúpula do PDT como uma espécie de faz-tudo. Especializado em causas eleitorais e auxiliar durante anos do presidente da legenda, Carlos Lupi, o atual assessor especial do ministro do Trabalho, Manoel Dias, inegavelmente teve uma trajetória ascendente, que lhe deu direito a desfrutar de imenso prestígio nos bastidores do ministério, longe de holofotes e sem maiores tropeços. O anonimato, porém, acabou. Na semana passada, denúncia publicada por ISTOÉ revelou que Graça é sócio da AGX Log, uma transportadora de Betim, em Minas Gerais. Conforme investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, a empresa pode estar sendo usada para esquentar parte dos R$ 500 milhões desviados nos últimos anos do Ministério do Trabalho. Embora negasse, Graça foi sócio da AGX até agosto deste ano e suas relações com a família de Ana Cristina Aquino, uma emergente que oficialmente comanda a transportadora, vão além do que ele costuma admitir. Documentos da Junta Comercial e da Receita Federal mostram que o advogado não apenas se associou ao filho de Ana Aquino, Ednaldo da Silva, como também adquiriu quotas da empresa no valor de R$ 4 milhões. O documento que comprova a transação está na página ao lado. EMERGENTE - Ana Cristina, da AG Log: ela afirma que sua empresa não tem ligação com dinheiro público As operações do grupo estão sendo investigadas desde que a polícia descobriu que pelo menos R$ 52 milhões chegaram por fontes desconhecidas à conta bancária da AG Log (segundo o site da empresa, “coligada” ao grupo AGX) mantida no Banco do Brasil na cidade de Betim. Além disso, cheques ao portador que ultrapassam R$ 1 milhão foram emitidos pelo filho de Ana Cristina com uma frequência que chamou a atenção das autoridades. Os bens da emergente também são um capítulo à parte nas investigações. Conforme documentação obtida por ISTOÉ, a AG Log pagou duas parcelas de R$ 1,5 milhão pela compra de um jato de luxo. Na garagem da mansão onde a empresária vive, há pelo menos seis carros com preço médio de R$ 150 mil cada um. Quase tudo está em nome das empresas do grupo AG, que misturam siglas e confundem suas operações bancárias e fiscais. PROVA - Documento da Junta Comercial mostra que João Graça colocou R$ 4 milhões na AGX A proximidade do grupo com o PDT não se limita a João Graça. O contador da empresa, Marcelo Ramos, que assina as declarações de faturamento que superam os R$ 112 milhões anuais e que provocaram desconfiança nos órgãos de fiscalização, foi candidato a vereador em 2008 pelo partido. Além disso, a própria Ana Cristina de Aquino realiza reuniões para discutir as decisões partidárias em Betim, cujo diretório é comandado por seu amigo Geraldo Antunes, que também atua no transporte de veículos. “Eu não sabia de nada disso”, diz João Graça. “Fui sócio do filho dela, por um período curto de tempo na AGX, nunca na AG Log. Mas não deu certo, não tivemos lucro e a sociedade acabou. Não me dou bem com essas pessoas.” As relações entre Ana Cristina Aquino e o advogado do PDT ficaram claras numa troca de e-mails obtida por ISTOÉ, na qual os dois discutem a abertura de uma filial da empresa no Paraná. “No passado, ele foi sócio de um dos meus filhos, em uma empresa separada. Pouco tempo depois, as atividades comerciais da empresa deles não se viabilizaram no mercado e ela foi então encerrada”, diz Ana Cristina Aquino. Contrariando os principais indícios e documentos reunidos até aqui, a empresária afirma que sua empresa não tem ligação alguma com dinheiro público, com esquemas de lavagem ou pagamento de propina. DEFESA - João Graça: "Eu não sabia de nada disso" 4#4 O PAPA DOS ESPÍRITAS Como o cientista francês Hippolyte Rivail se tornou, aos 53 anos, Allan Kardec, criador da doutrina espírita e fonte de inspiração do médium brasileiro Chico Xavier Andres Vera TRANSFORMAÇÃO - Autor de cerca de 20 livros e membro de nove sociedades científicas, o professor Rivail era um descrente. Até que passou a frequentar reuniões de “mesas girantes” na França e adotou o nome que o tornou célebre como o criador do espiritismo "A pessoa que estudar a fundo as ciências rirá dos ignorantes. Não mais crerá em fantasmas ou almas do outro mundo.” Era assim que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, membro de nove sociedades científicas e autor de cerca de 20 livros sobre pedagogia na França do século XIX, resumia seu ceticismo. Intelectual respeitado, ele vivia em um universo no qual a ciência estava em ebulição, em meio a discussões sobre eletromagnetismo, motor a vapor e lâmpada incandescente. Apesar disso, tornou-se o criador da doutrina espírita tal qual ela está sistematizada hoje, que crê, entre outras coisas, na reencarnação e na comunicação entre vivos e mortos. É a história dessa transformação que está sendo contada no recém-lançado “Kardec, a Biografia” (ed. Record), do jornalista brasileiro Marcel Souto Maior. “Kardec precisou ir além da religião para criar uma doutrina inteira em apenas 13 anos”, diz o autor. De 1857, ano de sua conversão, aos 53 anos, a 1869, quando morreu de aneurisma cerebral, o francês já havia arrebatado sete milhões de seguidores no mundo. Um número impressionante para um planeta com então 1,3 bilhão de habitantes e comunicação precária. Os créditos da velocidade recaem sobre o próprio. “Ele alcançou isso porque dava tratamento científico aos estudos e sabia divulgá-los”, afirma Souto Maior. PASSE - Sessão num centro espírita brasileiro: religião baseada nos livros de Kardec A aproximação do cientista com o espiritismo começou em 1855, quando um fenômeno agitava a França: as mesas “girantes”. Em reuniões fechadas ou salões públicos, participantes ditavam perguntas a mesas que se moviam, no que era identificado como um sinal de resposta, de mortos ilustres ou anônimos. Curioso, Rivail passou a frequentá-las em Paris. Procurava, antes, por cabos, roldanas e fios. “Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da natureza”, escreveu. Convencido da boa-fé de alguns grupos, ele passou a crer. Tempos depois, um espírito contou que o conhecera na época do imperador romano Júlio César, em 58 a.C. Na época, Rivail chamava-se Allan Kardec – daí a mudança de nome. Os primeiros registros do professor sobre o espiritismo viraram “O Livro dos Espíritos” (1857). Ele assinaria também outras quatro obras básicas, a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e a publicação mensal, ao longo de 12 anos, de uma revista – tornando-se, assim, o grande codificador da doutrina. Mas Kardec também presidia sessões espíritas e nelas presenciou, por exemplo, uma jovem de 12 anos receber, de lápis em punho, as palavras de Luís IX, rei da França morto seis séculos antes. Em outra concorrida reunião, o missionário e uma plateia embasbacada testemunharam um médium receber – e executar – uma partitura atribuída a Mozart. Para confeccionar sua obra, Souto Maior percorreu as bibliotecas de Paris em busca de material sobre o “papa dos espíritas”. Jornais de época mostram, por exemplo, a briga entre o criador do espiritismo e a Igreja Católica. Em 1861, em um episódio conhecido como “Auto de Fé de Barcelona”, foram queimados 300 livros espíritas na cidade espanhola. Entre eles estavam “O Livro dos Espíritos” e a tal sonata de Mozart. “Kardec era político”, diz Souto Maior. “Depois das brigas, ele media as palavras com a Igreja e sabia que isso traria publicidade.” A perseguição ao espiritismo não poupava o francês, médiuns admirados por ele ou mesmo seguidores novatos. Em 1865, dois jovens de Nova York voaram a Paris para mostrar “toques espontâneos de instrumentos musicais e transporte de objetos no ar.” Durante a exibição, um espectador invadiu o palco e revelou à plateia o truque: tábuas soltas e uma passagem secreta. A imprensa transformou o episódio em piada. Kardec se defendeu. Disse que o embuste não atingia a verdadeira ciência espírita, devota à evolução do ser humano. “Fora da caridade não há salvação”, escreveu. Insistentemente perseguido, começou a demonstrar sinais de exaustão e teve um problema cardíaco. “Daí em diante foi uma contagem regressiva até sua morte”, diz Souto Maior. Em seu túmulo, no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, há hoje mais mensagens em português do que em francês. Por quê? A resposta está tanto no espiritismo como no povo brasileiro. Entre 2000 e 2010, o número de espíritas no País cresceu 65%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O espiritismo tem 3,8 milhões de fiéis autodeclarados, segundo o IBGE, e 30 milhões de simpatizantes, segundo a Federação Espírita Brasileira. “Nossa população aceita muito bem a ideia de vida após a morte”, diz Geraldo Campetti, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. Há um consenso entre biógrafos céticos, estudiosos da religião ou espíritas devotos: o kardecismo é praticamente uma criação brasileira. Três fatores ajudaram a disseminação da doutrina: o sincretismo brasileiro, que facilita a convivência entre crenças, a proximidade entre espiritismo e cristianismo e, por último, um certo médium de Uberaba, em Minas Gerais. “A repercussão alcançada por Chico Xavier é o maior fator da expansão dos espíritas no País”, diz o sociólogo Reginaldo Prandi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Os mortos e os vivos”. O espiritismo chegou ao Brasil em 1860 e ganhou relevância com Bezerra de Menezes, médico e político que, além de expoente da doutrina, traduziu obras de Kardec para o português. Mas coube a Chico Xavier, falecido em 2002, o fenômeno da explosão da doutrina a partir da década de 1970. O mineiro ostenta mais de 450 livros publicados. Sua biografia “As Vidas de Chico Xavier”, escrita pelo mesmo Marcel Souto Maior, vendeu mais de um milhão de exemplares e chegou ao cinema com direção de Daniel Filho. Fez 3,4 milhões de espectadores. MESTRE - O médium Chico Xavier, morto em 2002, grande difusor do espiritismo no País Souto Maior diz que o roteiro cinematográfico da história de Rivail-Kardec já foi finalizado. “O filme deve ficar pronto no ano que vem.” Discípulo fiel do kardecismo, Chico Xavier costumava recomendar a todos as palavras de Kardec. Se o conselho valer para a nova biografia e o futuro filme, a história de Hippolite Rivail deve manter o fenômeno de público. foto: Arquivo/ag. O Globo Fontes: IBGE e Federação Espírita Brasileira fotos: ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ 4#4 DILMA MAIS PROTEGIDA Como será o novo distema de segurança do Palácio do Planalto Josie Jeronimo Um recente relatório do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República trouxe dados alarmantes. O Palácio do Planalto, local de trabalho da presidenta Dilma Rousseff, é um edifício vulnerável. Segundo documento ao qual ISTOÉ teve acesso, as câmeras que monitoram os quatro pisos do edifício apresentam imagens "brancas, com reflexo e fora de foco, mal posicionadas, sem sinal e resolução". Ainda de acordo com o documento, a má qualidade dos equipamentos está contribuindo para "falhas humanas". As deficiências de segurança tornam-se potencialmente mais perigosas em um período marcado por protestos violentos – em junho, vândalos tentaram até invadir o Palácio do Planalto. Para deixar o edifício mais seguro, a presidenta Dilma autorizou um investimento de R$ 13,6 milhões na aquisição de novos aparatos tecnológicos. O sistema, que deve começar a funcionar no ano que vem, vai monitorar, em tempo real, toda a movimentação de pessoas e documentos no edifício. 4#5 HERANÇA MALDITA Investigação iniciada pela Prefeitura de São Paulo descobre que esquema de corrupção criado há seis anos pode ter desviado mais de R$ 500 milhões dos cofres públicos Alan Rodrigues Há oito meses, o prefeito Fernando Haddad implementou um programa anticorrupção em São Paulo. De tão simples a ideia parecia ingênua: os cerca de 140 mil funcionários do município, incluindo os de cargo comissionado, foram obrigados a declarar os próprios bens. A partir daí seria feito um cruzamento das informações com os salários recebidos pelos servidores. Foi graças a essa iniciativa que se descobriu um golpe espantoso que pode ter desviado, nos últimos seis anos, R$ 500 milhões dos cofres públicos. As investigações feitas em conjunto pela Controladoria-Geral do Município (CGM), departamento criado especialmente para investigar as possíveis irregularidades, pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Civil concluíram que funcionários graúdos da prefeitura paulistana desviavam recursos do Imposto sobre Serviços (ISS) cobrado de empreendedores imobiliários de grande porte. Na quinta-feira 31, quatro integrantes da quadrilha foram presos, mas novas detenções devem ser feitas nos próximos dias. “Sempre achei que pegaríamos apenas bagrinhos, mas chegamos na alta cúpula”, diz o promotor de Justiça Roberto Bodini, do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Econômico (Gedec), do Ministério Público Estadual. ACERTO DE CONTAS - O atual prefeito Fernando Haddad e seu antecessor, Gilberto Kassab, (da esq. para a dir.): subsecretário de Kassab é um dos servidores presos Os corruptos foram flagrados porque não sabiam que todas as informações declaradas seriam também cruzadas com cartórios de imóveis, movimentações bancárias e o Imposto de Renda. Apuradas as contradições, os investigadores fizeram interceptações telefônicas e, com o apoio do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, rastrearam o dinheiro. Com os dados em mãos, foi possível reunir as provas da fraude financeira. Os quatro servidores presos são auditores. Um deles, com salário médio de R$ 18 mil, tem patrimônio estimado em R$ 20 milhões – portanto, incompatível com sua renda. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, os auditores emitiam guias de ISS com valores muito acima do real para a liberação do “Habite-se” – documento que atesta que o imóvel foi construído respeitando-se as leis municipais – e negociavam a redução da cobrança do tributo em proveito próprio. Os depósitos eram feitos diretamente nas contas dos criminosos, que assim liberavam a certidão de quitação do ISS rapidamente. “Cada um deles retirava em média R$ 80 mil por semana de propina”, calcula o promotor Bondini. A fraude começou na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab. Um dos detidos foi seu subsecretário de Finanças, Ronilson Bezerra Rodrigues, que investiu o dinheiro roubado em imóveis de alto padrão, gado, carros de luxo, obras de arte e até em casas lotéricas usadas para lavar o dinheiro. NO NINHO - Ministério Público e Polícia Civil no escritório da quadrilha ______________________ 5# COMPORTAMENTO 6.11.13 5#1 ALLAN KARDEC: O PAPA DOS ESPÍRITAS 5#2 PROFISSIONAL OU TRAIDOR? 5#3 ABUSO NAS ESCOLAS 5#4 OS REIS DA AVENTURA NO RIO 5#1 ALLAN KARDEC: O PAPA DOS ESPÍRITAS Como o cientista francês Hippolyte Rivail se tornou, aos 53 anos, Allan Kardec, criador da doutrina espírita e fonte de inspiração do médium brasileiro Chico Xavier Andres Vera "A pessoa que estudar a fundo as ciências rirá dos ignorantes. Não mais crerá em fantasmas ou almas do outro mundo.” Era assim que o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, membro de nove sociedades científicas e autor de cerca de 20 livros sobre pedagogia na França do século XIX, resumia seu ceticismo. Intelectual respeitado, ele vivia em um universo no qual a ciência estava em ebulição, em meio a discussões sobre eletromagnetismo, motor a vapor e lâmpada incandescente. Apesar disso, tornou-se o criador da doutrina espírita tal qual ela está sistematizada hoje, que crê, entre outras coisas, na reencarnação e na comunicação entre vivos e mortos. É a história dessa transformação que está sendo contada no recém-lançado “Kardec, a Biografia” (ed. Record), do jornalista brasileiro Marcel Souto Maior. “Kardec precisou ir além da religião para criar uma doutrina inteira em apenas 13 anos”, diz o autor. De 1857, ano de sua conversão, aos 53 anos, a 1869, quando morreu de aneurisma cerebral, o francês já havia arrebatado sete milhões de seguidores no mundo. Um número impressionante para um planeta com então 1,3 bilhão de habitantes e comunicação precária. Os créditos da velocidade recaem sobre o próprio. “Ele alcançou isso porque dava tratamento científico aos estudos e sabia divulgá-los”, afirma Souto Maior. TRANSFORMAÇÃO - Autor de cerca de 20 livros e membro de nove sociedades científicas, o professor Rivail era um descrente. Até que passou a frequentar reuniões de -mesas girantes- na França e adotou o nome que o tornou célebre como o criador do espiritismo A aproximação do cientista com o espiritismo começou em 1855, quando um fenômeno agitava a França: as mesas “girantes”. Em reuniões fechadas ou salões públicos, participantes ditavam perguntas a mesas que se moviam, no que era identificado como um sinal de resposta, de mortos ilustres ou anônimos. Curioso, Rivail passou a frequentá-las em Paris. Procurava, antes, por cabos, roldanas e fios. “Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da natureza”, escreveu. Convencido da boa-fé de alguns grupos, ele passou a crer. Tempos depois, um espírito contou que o conhecera na época do imperador romano Júlio César, em 58 a.C. Na época, Rivail chamava-se Allan Kardec – daí a mudança de nome. Os primeiros registros do professor sobre o espiritismo viraram “O Livro dos Espíritos” (1857). Ele assinaria também outras quatro obras básicas, a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e a publicação mensal, ao longo de 12 anos, de uma revista – tornando-se, assim, o grande codificador da doutrina. Mas Kardec também presidia sessões espíritas e nelas presenciou, por exemplo, uma jovem de 12 anos receber, de lápis em punho, as palavras de Luís IX, rei da França morto seis séculos antes. Em outra concorrida reunião, o missionário e uma plateia embasbacada testemunharam um médium receber – e executar – uma partitura atribuída a Mozart. PASSE - Sessão num centro espírita brasileiro: religião baseada nos livros de Kardec Para confeccionar sua obra, Souto Maior percorreu as bibliotecas de Paris em busca de material sobre o “papa dos espíritas”. Jornais de época mostram, por exemplo, a briga entre o criador do espiritismo e a Igreja Católica. Em 1861, em um episódio conhecido como “Auto de Fé de Barcelona”, foram queimados 300 livros espíritas na cidade espanhola. Entre eles estavam “O Livro dos Espíritos” e a tal sonata de Mozart. “Kardec era político”, diz Souto Maior. “Depois das brigas, ele media as palavras com a Igreja e sabia que isso traria publicidade.” A perseguição ao espiritismo não poupava o francês, médiuns admirados por ele ou mesmo seguidores novatos. Em 1865, dois jovens de Nova York voaram a Paris para mostrar “toques espontâneos de instrumentos musicais e transporte de objetos no ar.” Durante a exibição, um espectador invadiu o palco e revelou à plateia o truque: tábuas soltas e uma passagem secreta. A imprensa transformou o episódio em piada. Kardec se defendeu. Disse que o embuste não atingia a verdadeira ciência espírita, devota à evolução do ser humano. “Fora da caridade não há salvação”, escreveu. Insistentemente perseguido, começou a demonstrar sinais de exaustão e teve um problema cardíaco. “Daí em diante foi uma contagem regressiva até sua morte”, diz Souto Maior. Em seu túmulo, no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, há hoje mais mensagens em português do que em francês. Por quê? A resposta está tanto no espiritismo como no povo brasileiro. Entre 2000 e 2010, o número de espíritas no País cresceu 65%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O espiritismo tem 3,8 milhões de fiéis autodeclarados, segundo o IBGE, e 30 milhões de simpatizantes, segundo a Federação Espírita Brasileira. “Nossa população aceita muito bem a ideia de vida após a morte”, diz Geraldo Campetti, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira. Há um consenso entre biógrafos céticos, estudiosos da religião ou espíritas devotos: o kardecismo é praticamente uma criação brasileira. Três fatores ajudaram a disseminação da doutrina: o sincretismo brasileiro, que facilita a convivência entre crenças, a proximidade entre espiritismo e cristianismo e, por último, um certo médium de Uberaba, em Minas Gerais. “A repercussão alcançada por Chico Xavier é o maior fator da expansão dos espíritas no País”, diz o sociólogo Reginaldo Prandi, professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Os mortos e os vivos”. O espiritismo chegou ao Brasil em 1860 e ganhou relevância com Bezerra de Menezes, médico e político que, além de expoente da doutrina, traduziu obras de Kardec para o português. Mas coube a Chico Xavier, falecido em 2002, o fenômeno da explosão da doutrina a partir da década de 1970. O mineiro ostenta mais de 450 livros publicados. Sua biografia “As Vidas de Chico Xavier”, escrita pelo mesmo Marcel Souto Maior, vendeu mais de um milhão de exemplares e chegou ao cinema com direção de Daniel Filho. Fez 3,4 milhões de espectadores. MESTRE - O médium Chico Xavier, morto em 2002, grande difusor do espiritismo no País Souto Maior diz que o roteiro cinematográfico da história de Rivail-Kardec já foi finalizado. “O filme deve ficar pronto no ano que vem.” Discípulo fiel do kardecismo, Chico Xavier costumava recomendar a todos as palavras de Kardec. Se o conselho valer para a nova biografia e o futuro filme, a história de Hippolite Rivail deve manter o fenômeno de público. 5#2 PROFISSIONAL OU TRAIDOR? Ao preferir a Espanha, país onde construiu sua carreira, e abrir mão de defender o Brasil na Copa, o artilheiro Diego Costa divide a torcida brasileira Rodrigo Cardoso Na terça-feira 29, o brasileiro com cidadania espanhola Diego Costa protocolou em um cartório o desejo de defender a seleção da Espanha. Ao tomar essa decisão, ele recusou, automaticamente, a convocação feita uma semana antes pelo técnico Luiz Felipe Scolari, que o queria em campo nos dois amistosos que o Brasil fará em novembro. E abriu mão de vestir a camisa da Seleção na Copa, no ano que vem. Ser disputado pela atual campeã do mundo e pela recordista de títulos mundiais deveria ser somente motivo de orgulho para esse jogador de 25 anos, que deixou a pequena cidade de Lagarto, no interior do Sergipe, aos 16. Atacante do Atlético de Madrid e atual artilheiro do campeonato espanhol, Diego, porém, frustrou parte da torcida brasileira. E tornou-se protagonista dos debates esportivos no País, embora pouco tenha atuado nos gramados brasileiros. NA FÚRIA - Por não ter disputado um torneio oficial pelo Brasil – ele participou de dois amistosos, em março deste ano (abaixo) –, o atacante brasileiro que defende o Atlético de Madrid e lidera a artilharia do campeonato espanhol está apto para defender a seleção da Espanha O assunto poderia ter se encerrado com a desconvocação do atacante, após o anúncio de sua decisão. Mas acabou saindo da esfera esportiva. Familiares do atacante, em Lagarto, preferiram manter o silêncio num primeiro momento, acuados com a perseguição patrocinada pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin. Representada por seu diretor jurídico, Carlos Eugênio Lopes, a entidade veio a público dizer que estuda cassar a cidadania brasileira do atleta. “O presidente me autorizou a instaurar um procedimento no Ministério da Justiça, pedindo a perda da cidadania brasileira, que Diego repudiou”, disse Lopes. Além de questionar a legalidade da opção do sergipano, o cartola tentou manchar a sua reputação. “É óbvio que a razão da escolha foi financeira”, afirmou Lopes. O Ministério da Justiça, por meio de sua assessoria, apressou-se em dizer que os processos de perda de cidadania só são admitidos com uma declaração da pessoa interessada em deixar de tê-la. Independentemente disso, o estrago já foi feito. “É injusto o que tentam fazer com meu filho”, disse a mãe de Diego, Josileide Silva. “Ele ama o país onde nasceu. Não acredito que irá perder a cidadania.” O irmão, Jair Costa, 27 anos, teme que o jogador brasileiro seja vaiado se jogar pela Espanha no Brasil. “Mas ele foi corajoso, como demonstrou toda a vida”, afirmou Costa, que também já virou a camisa. “Se a Espanha fizer a final da Copa com o Brasil, vou torcer pelo meu irmão.” Antes de sair de Lagarto para peregrinar pelos campos do mundo, Diego ajudava o pai, um agricultor, plantando mandioca e feijão. Já no futebol, jogou no Estado de São Paulo e em Portugal, mas foi na Espanha que começou a construir uma carreira sólida e criar uma nova identidade social. Sua ideia de pertencimento, portanto, está vinculada a esse país. Na cabeça dele, há mais dívidas com a Espanha do que com o Brasil, pelo qual disputou duas partidas não oficiais em março deste ano, o que lhe dá carta branca para servir à equipe espanhola. “Em momento nenhum eu renunciei ao Brasil. Simplesmente me sinto valorizado aqui (Espanha). Tudo o que eu sou devo a esse país”, afirmou. Para o sociólogo Túlio Velho Barreto, vice-coordenador do núcleo de sociologia do futebol da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade Federal de Pernambuco, outro fator importante é que Diego tem mais chances de ser titular no time espanhol. “Na hora de uma decisão como essa prevalecem mais os interesses imediatos do negócio futebol do que a ligação de Diego ao país onde nasceu”, diz. A história do atacante do Atlético de Madrid está longe de ser incomum. O Brasil é tido como o maior exportador dos chamados “pés de obras”, jogadores que deixam o País sem ter feito carreira por aqui. E, no curso das andanças dessa turma, muitos criam interesses e identidade nos locais onde se desenvolvem. E esse processo só tende a crescer se a maneira de administrar o negócio futebol no País não mudar – a começar pela falta de atenção com os praticantes da modalidade em regiões distantes dos grandes centros. “Uma coisa é certa: a turma da patriotada sai ganhando com o episódio Diego Costa, pois o sentimento ufanista fica ainda mais aflorado”, diz Barreto. De fato, o brasileiro encara a Seleção de futebol como um símbolo da nacionalidade – de forma muito mais intensa que os outros países. 5#3 ABUSO NAS ESCOLAS Com fila de espera, colégios particulares do Rio de Janeiro e de São Paulo cobram taxa de até R$ 30 mil para admitirem novos alunos, prática que não é permitida por lei Wilson Aquino e Camila Brandalise Não bastassem as mensalidades altíssimas, entre R$ 3 e R$ 5 mil, algumas das instituições de ensino mais cobiçadas do eixo Rio–São Paulo estão cobrando luvas por uma vaga. Segundo levantamento feito por ISTOÉ, escolas internacionais e/ou bilíngues dessas capitais exigem dos pais que tentam matricular seus filhos o pagamento de valores que variam entre R$ 9 mil e R$ 30 mil para que o estudante seja aceito. Em uma delas, inclusive, há também a exigência de cartas de recomendação. O nome varia de acordo com a instituição – luvas, joia, taxa, contribuição ou doação –, mas a prática de cobrar pela admissão de um aluno, além dos valores anuais previstos na legislação, é abusiva e ilegal. “A Lei 9870/99 é clara: não pode ter taxa de matrícula e nem outro penduricalho qualquer”, afirma o advogado Luís Cláudio Megiorin, assessor jurídico da Confederação Nacional de Pais de Alunos (Confenapa) e presidente da Associação de Pais e Alunos do Distrito Federal. “O valor pago deve ser o total anual. Caso haja cobrança além disso, precisa ser descontada da anuidade”, afirma Selma do Amaral, diretora de atendimento do Procon-SP. PEDÁGIO - Entrada da St. Paul's School (acima), em São Paulo, e da Escola Britânica, do Rio (abaixo), instituições de ensino que exigem luvas dos novos estudantes Questionadas sobre a prática, as instituições se justificam. “O valor de entrada é uma doação, que vai para o fundo de desenvolvimento da escola e retorna para os alunos em benfeitorias”, afirma a assistente de matrícula e marketing da Escola Britânica do Rio, Adriana Andrade, explicando que, o que chama de doação, faz parte do processo de entrada na escola e é cobrado apenas uma vez. Na também britânica St. Paul’s School, em São Paulo, a taxa de admissão é considerada uma contribuição de todo novo aluno e, segundo a instituição, o valor faz parte do contrato entre os pais e a escola – não é considerado uma matrícula. “Não tem como a instituição obrigar os pais a fazerem doação. Isso é uma forma de onerar o serviço educacional”, diz o presidente da Confenapa, professor Pedro Trindade Barreto, que vai consultar as associações de pais de todo o País para verificar se a prática está disseminada. “Se isso está ocorrendo no Rio e em São Paulo, pode estar acontecendo em outros Estados e teremos que entrar com uma ação para beneficiar nossos filiados.” Ao tomar conhecimento da situação, o presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Rio (Sinepe), Victor Notrica, se disse surpreso com a doação compulsória. “Nunca tinha ouvido falar nisso. Toda cobrança é feita de acordo com a planilha de custos que está incluída na anuidade da instituição, conforme o projeto pedagógico”, afirmou. Na escola Britânica do Rio, cujas mensalidades variam entre R$ 2.530 e R$ 4.341, o valor das luvas é reajustado todos os anos e varia de acordo com o número de crianças matriculadas da mesma família. A primeira tem que doar R$ 21.590, a segunda R$ 13.880 e, da terceira em diante, a taxa cai para R$ 10.797. Na Escola Americana, onde a mensalidade vai de R$ 3.747 a R$ 5.716, a cobrança é feita em dólares: US$ 6,5 mil (cerca de R$ 13 mil). Já na Escola Alemã Corcovado, o ingresso vale R$ 9,1 mil. “A gente cobra apenas uma vez na entrada e o aluno não paga matrícula nos anos seguintes. Mas, se a criança deixar a escola, não devolvemos o dinheiro”, afirma Christel Manthey, da Corcovado, onde também são exigidas cartas de recomendação sobre a família, como contou a mãe de uma candidata de apenas 3 anos, que não foi aceita. Questionada sobre a prática, a escola não se manifestou até o fechamento desta edição. Em São Paulo, a americana Graduada cobra hoje um valor de R­$­ 3­0 mil, que pode ser parcelado em quatro vezes. As mensalidades variam de R$ 3.246 a R$ 5.732. Segundo a escola, a taxa é paga somente uma vez e não é feita cobrança anual de matrícula. Já na britânica St. Paul’s, também na capital paulista, o montante é de R$ 21,7 mil. Nos dois casos, o valor depende de quanto tempo o aluno ficará na instituição – quanto mais velho o estudante, menor a doação. Na Graduada, por exemplo, quem entra no último ano paga 25% do total. As doações, de acordo com as instituições, são destinadas a projetos e melhorias nas escolas. Na Americana, onde a cobrança é chamada de “taxa de capital”, o dinheiro é usado para apoiar investimentos em tecnologia, reformas e projetos especiais. Na Britânica, o nome usado é “contribuição para o Fundo de Desenvolvimento”. Questionada sobre a legalidade da cobrança, Adriana Andrade, da Britânica, disse que “a escola não faz nada fora dos parâmetros legais brasileiros”. Na St. Paul’s School, em São Paulo, a taxa de admissão é uma “contribuição para o Fundo de Desenvolvimento, principal fonte de recursos para investimentos na melhoria das instalações da escola”. Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), José Augusto de Mattos Lourenço, esses investimentos precisam constar nas mensalidades – já bastante altas. “Se a escola está submetida ao sistema de ensino brasileiro, tem que obedecer às regras nacionais”, diz o advogado Megiorin, que está disposto a discutir com o Ministério Público Federal a questão. 5#4 OS REIS DA AVENTURA NO RIO Da escalada à canoa polinésia, do surfe à mountain bike, 20 equipes formadas por feras em suas modalidades disputam sete provas na segunda edição do Rocky Man Michel Alecrim Homem de rocha é a tradução literal do inglês para a competição esportiva que vai reunir alguns dos melhores atletas de sete modalidades esportivas no Rio de Janeiro, na sexta-feira 8 e no sábado 9. No Rocky Man 2013 estarão 20 equipes de homens e mulheres que terão de demonstrar firmeza de pedra para enfrentar os desafios propostos. Na prova de corrida, por exemplo, será preciso sair do asfalto e subir as montanhas para realizar o percurso, que totaliza 23 quilômetros (feminino) e 28 quilômetros (masculino). O mesmo tipo de circuito será feito pelos atletas do mountain bike. Os times também terão que mostrar seu talento no surfe, na escalada e no stand-up paddle, além de correr dez quilômetros e remar nas águas da Praia Vermelha. Verdadeiros reis da aventura estarão presentes na competição, que está em sua segunda edição. Caso da alemã radicada nos Estados Unidos Stevie Kremer, campeã mundial da Sky Series em outubro, do surfista carioca de grandes ondas Pedro Scooby, do ciclista catarinense Ricardo Pscheidt, tricampeão brasileiro de mountain bike, e do corredor americano Mike Kloser. A premiação soma US$ 31 mil ou R$ 68 mil. Atletas disputam a primeira edição, em 2012, Acima e abaixo: é a única competição do País que concilia provas individuais e coletivas “O Rocky Man é uma prova multiesportiva, diferente de qualquer outra que exista. Nela, reunimos os melhores atletas de esportes outdoor do Brasil e do mundo, competindo em etapas duríssimas de suas modalidades específicas e também experimentando outros esportes nas etapas coletivas. Com isso, mostramos que o esporte de aventura e a natureza têm sempre algo novo a nos oferecer”, diz Caco Alzugaray, publisher da Editora Rocky Mountain. A prova também promove uma interação muito positiva entre esses atletas, que passam os dois dias de Rocky Man competindo divertindo-se e trocando experiências. “Também é uma ocasião única em que alinharemos os maiores nomes de cada modalidade. Raramente, eles estão todos reunidos numa linha de largada. Será emocionante!”, afirmou Alzugaray. Debora Liotti, diretora-executiva da Editora Rocky Mountain, que organiza o Rocky Man, ressaltou que o evento “é uma competição única no Brasil, por conciliar provas individuais e coletivas, mas se destaca também no circuito mundial de esportes ao ar livre por ser realizado numa cidade grande.” Este ano, participarão das provas cinco equipes estrangeiras – americana, espanhola, argentina, francesa e neozelandesa – que vão disputar com atletas de seis Estados brasileiros. “É um evento inacreditável. Meu sonho é ajudar a levar algo parecido para a América do Norte. Estamos indo para vencer”, diz o americano Paul Romero, vencedor no ano passado. Ele quer “repetir a dose” e conta com Kremer e o campeão mundial do Adventure Race, Mike Kloser, na equipe. O francês Laurent Garnier, radicado no Brasil há sete anos, diz que seus conterrâneos que estarão nas competições estão encarando o desafio como uma Copa do Mundo. “Nossos atletas já têm boa experiência na Europa, mas ainda não tinham viajado para a América do Sul. Aqui estarão os melhores de cada modalidade”, diz. A brasiliense Bárbara Bomfim, que lidera a equipe espanhola, espera que, mais do que prêmios, o Rocky Man proporcione maior estímulo para a prática esportiva. “Esse evento vem para provar que, mesmo em uma cidade grande como o Rio, é possível praticar esportes de aventura ao ar livre com muita qualidade. Assim, não há desculpa para não treinar e competir”, afirma Bárbara, que vive na Espanha desde 2012 com o namorado, o corredor Urtzi Iglesias. “Muitas provas de aventura acontecem em lugares belíssimos, mas muito longe dos olhos do público. No Rio, é possível ter toda a beleza e a exuberância natural brasileiras, e ainda permitir que o público testemunhe a performance, o esforço e a superação de alguns dos melhores atletas do mundo. Isso é inspirador”, diz Alzugaray. O surfista carioca de grandes ondas Pedro Scooby, acima, e a alemã radicada nos Estados Unidos Stevie Kremer, campeã mundial da Sky Series, abaixo: os melhores no Rio para o Rocky Man O ápice da competição está previsto para a disputa com a canoa polinésia, cuja estrutura conta com um segundo casco paralelo para dar apoio. Será uma prova coletiva em que os atletas precisarão demonstrar entrosamento e também equilíbrio, fundamental diante do mar agitado da entrada da Baía de Guanabara. Diante do Pão de Açúcar só não vale afundar a embarcação, pois mesmo quem virar na água poderá retomar a prova. As equipes poderão fazer um treinamento na sexta-feira 8, à tarde, mas algumas pretendem chegar antes justamente para se preparar para esse desafio. “Na quinta-feira vamos passar o dia em Niterói, treinando”, afirma Garnier. Outro que aposta nas competições coletivas para fazer a diferença é o paulista Rafael Campos, líder da Quasar Lontra.“Como nossos atletas são de cidades diferentes, estamos treinando de dois a dois, mas na véspera vamos testar nossa coordenação.” O mais difícil, explica o capitão da equipe Brasília Multisport, Alexandre Carrijo, é montar uma estratégia para as provas coletivas, para que as feras da aventura trabalhem em sintonia. _________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 6.11.13 6#1 AS LIÇÕES DOS MAIS FORTES 6#2 A QUINTA AMEAÇA DA DENGUE 6#3 NOVA FRENTE CONTRA A AIDS 6#1 AS LIÇÕES DOS MAIS FORTES Estudos científicos decifram mecanismos psicológicos e cerebrais que levam uma pessoa a se recuperar melhor e mais rapidamente do sofrimento. E apontam os caminhos para desenvolver essa capacidade Mônica Tarantino Alvo de interesse da psicologia e, mais recentemente, da neurociência, a capacidade de superar as adversidades da vida (dos conflitos e guerras às chateações domésticas e profissionais) com o mínimo de desgaste é um campo de estudo em expansão. O que se quer saber é por que alguns indivíduos se recuperam mais rapidamente do que outros e parecem ter uma habilidade natural de superar traumas e obstáculos com maior facilidade e menos sofrimento. E é exatamente isso o que começam a revelar as novas pesquisas, apontando finalmente quais são os segredos dos mais fortes. O conjunto de descobertas está trazendo à tona desde caminhos da mente humana a serem explorados para fortalecer o potencial de cada um de vencer problemas até a presença de proteínas no sistema nervoso que interferem nas nossas reações diante das ameaças. A primeira evidência obtida pela investigação científica é a de que os mais fortes não formam uma população muito numerosa. Um estudo inédito conduzido pela seccional brasileira da Associação Internacional para o Gerenciamento do Stress, a ISMA-BR, mostrou que apenas 23% de um total de 1.050 executivos testados quanto à sua capacidade de manter o foco, a clareza de raciocínio e equilíbrio emocional em situações extremas pertencia realmente ao time dos mais resistentes. A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR, que coordenou o trabalho, quis saber mais sobre características dos que se saíram melhor. “A maioria tem elevada autoestima (93%), autocontrole (86%), maior flexibilidade para lidar com as mudanças (81%) e objetivos definidos (72%)”, disse a psicóloga. Os membros desse seleto grupo são chamados de resilientes. Na definição científica, resiliência é a capacidade de se adaptar às situações para superar as adversidades com menor nível possível de estresse. Um dos trabalhos mais recentes e sólidos para desvendar o que se passa na mente desses indivíduos foi feito pelos psiquiatras Steven Southwick, da Universidade de Yale, e Dennis Charney, do Hospital Monte Sinai, ambos nos Estados Unidos. Eles entrevistaram sobreviventes de situações de intensa tensão, como mulheres expostas à violência e abuso sexual, membros das forças especiais da Marinha (os SEALs, treinados para agir em circunstâncias muito perigosas), combatentes que foram prisioneiros na guerra do Vietnã, vítimas de terremoto e a população pobre de um subúrbio de Washington. Todos tinham traços comuns de personalidade que os fortaleciam diante do inesperado. A primeira habilidade verificada pelos pesquisadores é a de identificar claramente os desafios e vislumbrar sucesso na tarefa. Pesquisadores da Universidade de Taiwan, na Ásia, definem essa característica como otimismo realista, uma associação bem balanceada da visão positiva do mundo com boas doses de realismo. “Em combate, por exemplo, ter um otimismo irreal pode te matar”, diz Charney. Ser fiel às próprias convicções foi outro achado dos psiquiatras. Eles ficaram impressionados com a importância desse arcabouço moral para os prisioneiros de guerra. “Mesmo sob tortura, eles permaneciam ligados a algo maior, que os mantinha unidos”, observou Southwick. Os americanos concluíram ainda que o altruísmo, a religião e a coragem para enfrentar os medos também compõem a matéria-prima dos mais fortes. Tão importante quanto a identificação dessas particularidades foi a conclusão dos cientistas de que é possível aumentar a resiliência. Segundo Charney, isso pode ser feito, por exemplo, com a terapia cognitivo-comportamental. O método procura transformar a maneira como a pessoa pensa e se sente diante de situações que provocam comportamentos indesejados ou mal-estar para mudar suas reações a elas. Mas os pesquisadores acreditam que a força para vencer as dificuldades começa a ser semeada na infância, quando a criança precisa lidar com desafios proporcionais à sua idade. “Na verdade, você está moldando a forma como os hormônios do estresse e o sistema nervoso da criança responderão no futuro. Isso afetará a forma como ela se comportará perante situações duras na idade adulta”, diz Charney. O psiquiatra George Barbosa, presidente da Sociedade Brasileira de Resiliência, concorda. “É como ser alfabetizado, algo que se aprende. Na França, por exemplo, há debates em sala de aula para discutir como enfrentar adversidades na vida”, diz. Reforça a tese de que encarar algumas frustrações contribui para aprimorar as respostas aos problemas um trabalho conduzido por um time de universidades americanas e liderado por Mark Seery, da Universidade de Buffalo. Os cientistas acompanharam por três anos 2.398 indivíduos. Parte deles acabou exposta a um menu variado de fatalidades como catástrofes climáticas, acidentes, doenças e divórcio. No final, Seery concluiu que aqueles que passaram por algumas dessas circunstâncias, de forma esporádica, demonstravam mais saúde mental e bem-estar do que aqueles que tinham passado por muitos e fortes traumas e do que as pessoas que não haviam sofrido nada. “Usamos critérios como os sinais da angústia global, estresse pós-traumático e satisfação com a vida”, disse Seery à ISTOÉ. Engana-se quem acha que ele constatou o óbvio. “A exposição gradual e constante ao estresse pode levar ao desenvolvimento de uma resistência maior. Isso resulta em alterações psicológicas e fisiológicas que permitem aprender a lidar bem com as dificuldades”, explica Seery. De fato, o que a ciência já comprovou é que o cérebro é capaz de modificar seu funcionamento de acordo com os estímulos que recebe. Isso significa dizer que, dependendo das circunstâncias externas, o cérebro pode reforçar um circuito de neurônios que nos incentiva a reagir ou outro que, ao contrário, nos leva a nos entregar. Daí, por exemplo, a importância salientada pelos americanos Southwick e Charney de deixar as crianças se exporem a um pouco de frustração. É como se fosse uma terapia de exposição gradual a algo contra o qual seu organismo pouco a pouco fabricará anticorpos. A neuroplasticidade – essa habilidade de o cérebro se reconfigurar segundo os estímulos que recebe – também ajuda a explicar a eficácia da terapia cognitivo-comportamental. Ao treinar sistematicamente a adoção de um novo padrão de pensamento – como enxergar aspectos positivos e vislumbrar oportunidades de ação onde antes só se via o lado ruim e impossibilidades –, um novo circuito neuronal será formado, gravando esse raciocínio. No futuro, em situações semelhantes, esse caminho de neurônios será acionado, auxiliando o indivíduo a dar uma resposta mais assertiva ao problema. Esse tipo de análise está descortinando um universo de possibilidades para aumentar a resiliência de cada um a partir de intervenções na fisiologia cerebral. Além de estudar como usar a maleabilidade do órgão a nosso favor, a ciência está começando a identificar substâncias em sua química que influenciam o quanto uma pessoa resistirá melhor ou pior ao sofrimento. Um dos estudiosos do assunto é o psiquiatra Olivier Berton, da Universidade da Pensilvânia (EUA). Partindo do reconhecimento de que alguns indivíduos recuperam mais rapidamente suas habilidades sociais e de raciocínio após um trauma, ele decidiu investigar as bases moleculares dessa diferença. Ao estudar o cérebro de ratos que se mostravam naturalmente mais resistentes a estímulos estressantes, verificou que apesar de terem grandes quantidades da proteína HDAC6 no cérebro, ela atuava com menos intensidade sobre um grupo de neurônios relacionados ao humor e às emoções em comparação ao que ocorria com outros animais do experimento. “Essas cobaias parecem ter desenvolvido uma forma de reduzir o efeito dessa proteína, protegendo seletivamente algumas células nervosas de sua ação indesejável”, disse Berton à ISTOÉ. Para testar a hipótese, ele reduziu, por meio de modificações genéticas, a quantidade da substância sobre certos neurônios de cobaias. “Elas se tornaram menos vulneráveis e mais resilientes”, diz o especialista. A constatação levou ao desenvolvimento de drogas, agora em teste, para bloquear a ação da HDAC6. “Algumas dessas moléculas poderão ser ministradas por via oral e oferecem uma proteção impressionante contra o estresse, além de potencializar o efeito de remédios antidepressivos clássicos”, diz o pesquisador. “Falta muito para confirmar o potencial terapêutico dessas novas drogas, mas são os primeiros estudos desse tipo e os resultados são emocionantes.” AUXÍLIO - Na empresa em que trabalha, Paulino treina profissionais para que lidem melhor com as mudanças Outra proteína na mira da ciência que pode ajudar a explicar o que torna uma pessoa mais equilibrada diante dos problemas é o fator de crescimento neural (SNGF, sigla em inglês). Trata-se de uma substância ligada à sobrevivência, ao desenvolvimento e à atividade das células nervosas. Maiores quantidades estão relacionadas a menores níveis de emoções negativas durante confrontos. “Ela está envolvida nas respostas imediatas ao estresse agudo. Ainda não estudamos seu papel sob o estresse prolongado”, disse à ISTOÉ a psicóloga Heidemarie Laurent, da Universidade de Oregon. A cientista avaliou a atividade da molécula em 40 adultos durante discussões com seus parceiros românticos. “É possível que a proteína seja uma parte importante do quebra-cabeça que é entender a resiliência”, disse à ISTOÉ Doug Granger, da Universidade do Arizona. Ele coordenou o estudo e criou um teste de saliva capaz de quantificar a substância. Os pesquisadores observaram também que jovens submetidos a treinamento militar que possuem maiores níveis de SNGF apresentam mais resistência e melhor saúde mental. “Uma das coisas que fazem a SNGF tão diferente é que ela está associada a atributos positivos. Em vez de ser um marcador de risco, SNGF tem potencial para ser um marcador do índice de resiliência”, explica Granger. CARACTERÍSTICAS - A psicóloga Ana Rossi estudou por que alguns são mais fortes do que outros. Entre outras coisas, descobriu que essas pessoas têm mais autocontrole e flexibilidade para administrar as dificuldades O conceito de resiliência também está passando por uma ampliação. “Ele deve levar em consideração as condições de vulnerabilidade em que a pessoa vive”, explica a psicóloga Sandra Baron, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Ela é uma das criadoras da Rede Resiliência, articulação que reúne diversos laboratórios de pesquisa para estudar o tema. Na faculdade, Sandra pesquisa o impacto da arte no resgate da capacidade de se tornar mais forte. “É um meio de colocar para fora marcas profundas que precisam ser trabalhadas de alguma maneira”, diz. Um dos projetos que contemplam essa visão é a Orquestra de Cordas da Grota do Surucucu, em Niterói, projeto social iniciado pela professora aposentada Octávia Selles em 1995. Por meio da música, dezenas de jovens conseguiram construir alicerces firmes para suplantar as circunstâncias difíceis em que cresceram. “Muitos hoje são professores de música em escolas e em outros projetos como o Afroreggae”, diz a musicista Lenora Mendes. Os novos conhecimentos sobre o tema começam a gerar aplicações no mundo dos negócios. Na empresa Ticket, por exemplo, a diretora de RH Edna Bedani criou cursos para melhorar a habilidade de pessoas que lideram grupos em lidar com imprevistos e mudanças. “São dinâmicas para aprimorar as respostas diante dos problemas”, diz. Na Whirlpool (reúne as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid), a percepção do executivo Paulino Hashimoto, 57 anos, formado em relações públicas, levou-o a se tornar um especialista em gerenciamento de mudanças, o que envolve a cultura e os valores da companhia. Em anos de trabalho, ele desenvolveu um método para auxiliar áreas inteiras da empresa a lidar com as constantes transformações na atividade e no modo de trabalhar. “As pessoas que optam por participar dos processos sugeridos percebem que algo se modifica no seu jeito de encarar o novo. Elas entendem pelo que irão passar, da resistência à aceitação”, conta Paulino. “Num mundo que muda cada vez mais rápido, é necessário estimular a capacidade de se adaptar sem sofrer”, conclui. 6#2 A QUINTA AMEAÇA DA DENGUE A descoberta do quinto tipo de vírus causador da doença preocupa os médicos e dificulta a criação de uma vacina Mônica Tarantino Na semana passada, o professor de patologia Nikolaos Vasilakis, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, alertou a comunidade científica mundial sobre o surgimento de um quinto tipo de vírus da dengue. Ele identificou o novo gênero após analisar o DNA de amostras de sangue de um paciente com sintomas intensos da doença tratado na Malásia em 2007. Vasilakis concluiu que o micro-organismo continha diferenças suficientes em relação aos quatro tipos já conhecidos a ponto de classificá-lo como uma nova cepa. DESAFIO - Na opinião do virologista Granato, agora será preciso rediscutir as estratégias para a criação de um imunizante As consequências do aparecimento do tipo 5 da dengue não estão claras. “Nossos estudos indicam que, por enquanto, o sorotipo 5 ainda não emergiu das florestas para a cidade e não há um ciclo estabelecido de transmissão entre humanos”, afirmou Vassilakis à ISTOÉ pouco antes de deixar seu hotel na ilha de Bornéu, na Malásia, para se embrenhar nas florestas regionais em busca de mais amostras. “No entanto, possivelmente ele já circule entre humanos, e isso pode elevar o risco de dengue hemorrágica”, disse o pesquisador. Essa versão, a mais grave da enfermidade, ocorre se a pessoa é infectada por um vírus muito agressivo ou por mais de um tipo. Portanto, quanto mais variações existentes, maiores as chances. A descoberta também interfere no rumo das pesquisas para a criação de uma vacina. “Elas não poderão mais imunizar apenas contra os quatro sorotipos porque isso elevaria as chances de uma grave epidemia pelo novo tipo”, explica o virologista Celso Granato, chefe do laboratório de virologia clínica da Universidade Federal de São Paulo e diretor clínico do laboratório Fleury. 6#3 NOVA FRENTE CONTRA A AIDS Cientistas testam com sucesso, em animais, um novo anticorpo que poderá ser capaz de conter o HIV em seres humanos Dois grupos de cientistas anunciaram na última semana a descoberta de uma nova possibilidade de tratamento contra a Aids. Eles infundiram anticorpos superpotentes contra o HIV em macacos infectados pelo SHIV, uma mistura de HIV e de SIV, vírus de características muito semelhantes ao HIV e que provoca nos animais enfermidade igualmente parecida com a Aids. Os anticorpos reduziram a carga viral das cobaias a concentrações indetectáveis em questão de dias. “O efeito foi profundo e em um nível jamais visto”, disse Dan Barouch, da Harvard University, instituição responsável por uma das pesquisas. A outra foi feita por cientistas do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas americano (Niaid). Na experiência de Harvard, a infusão de um tipo de anticorpo em quatro macacos derrubou a quantidade de vírus quatro a sete dias depois, mas ele ressurgiu em dois dos animais. Os que receberam uma combinação com dois anticorpos, porém, tiveram a carga viral reduzida sete a dez dias após a infusão e assim permaneceram por mais 36 dias. Resultados semelhantes foram obtidos pelo time do Niaid. E em três cobaias as concentrações mantiveram-se indetectáveis após 250 dias.  _______________________ 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 6.11.13 7#1 OS GIGANTES DA MODA RÁPIDA 7#2 PARA ESCOLHER O MELHOR MBA 7#1 OS GIGANTES DA MODA RÁPIDA As maiores grifes globais do setor chamado de fast-fashion chegam ao Brasil e obrigam a concorrência nacional a lançar novas estratégias. Em jogo, um mercado cada vez mais valioso Natália Mestre Na terça-feira 5, a grife americana GAP vai abrir no MorumbiShopping, em São Paulo, sua segunda loja no Brasil. Até o fim do ano, a também americana Forever 21 inaugura dois endereços no País: um na capital paulista e outro no Rio de Janeiro. Recentemente, a sueca H&M anunciou que estreará cinco butiques em território brasileiro, todas com previsão de abertura em 2014. Planos parecidos tem a espanhola Desigual, que vai desembarcar no Brasil, no ano que vem, com três lojas, mas sua meta prevê outras 50 até 2017. Além do interesse no mercado nacional, essas gigantes têm em comum uma característica que as tornaram referência no universo varejista: elas se enquadram na categoria fast -fashion, expressão usada para as lojas que produzem moda rápida e contínua – ou seja, os clientes sempre são surpreendidos por novidades expostas nas prateleiras. “Existe espaço no mercado fast-fashion brasileiro porque ainda não temos uma marca que entregue a tríade perfeita para o segmento, que é oferecer moda rápida com preço acessível e boa qualidade”, diz Letícia Abraham, diretora de pesquisa e planejamento da consultoria Mindset/WGSN. “Faz muito sentido as empresas de fora quererem entrar nesse filão, porque existe uma enorme oportunidade de mercado.” EM BREVE - Fachada da gigante americana Forever 21 em Tóquio. Até o fim do ano, a grife abrirá as suas duas primeiras lojas no Brasil A chegada de grandes grupos estrangeiros também pode ser atribuída ao crescimento da economia brasileira nos últimos anos, que fez emergir uma nova classe média sedenta por consumo. Mas, ao contrário do que acontece em outros setores, quando o aumento da concorrência faz os preços despencarem, no pulsante fast- fashion brasileiro o efeito poderá ser diferente. Os custos com importação e logística fazem os preços das grifes internacionais serem em média 30% mais caros no Brasil do que no Exterior. Resultado: como os estrangeiros recém-chegados cobram mais, as varejistas já estabelecidas no Brasil aproveitam para elevar seus preços. A holandesa C&A, durante muito tempo identificada como uma marca popular, passa por um processo de glamourização. Recentemente, contratou estilistas renomados como o italiano Roberto Cavalli para assinar novas coleções. Hoje, há peças na C&A brasileira que custam R$ 800 – muito acima do padrão que pode ser chamado de popular. “Com a ascensão da classe média, o consumidor brasileiro mudou os seus hábitos, passou a ter mais noção de moda e de design e se tornou mais exigente”, afirma Olívia Margarido, analista de varejo da consultoria Lafis. PRESTÍGIO - Acima, loja da GAP em São Paulo, no shopping JK Iguatemi, inaugurada em setembro. Abaixo, a fila de pessoas aguardando a abertura de mais uma H&M em Londres. A rede sueca chega ao Brasil no ano que vem Marca 100% nacional, a Riachuelo também se movimenta para enfrentar a nova concorrência. O presidente da empresa Flávio Rocha diz que sua meta é abrir, nos próximos quatro anos, um número de lojas maior do que em 70 anos de história no Brasil. Só em 2013 foram inauguradas 44 novas lojas no País. No dia 27 de novembro, será aberta uma butique na badalada rua Oscar Freire, uma das áreas mais nobres de São Paulo. “Estamos preparando o lançamento de uma coleção assinada por dez estilistas e celebridades fashion”, diz Rocha. “Vivemos um processo de expansão agressivo para brigar por esse mercado que cresce de forma impressionante.” Para explicar o que é o conceito fast-fashion, o executivo garante que, em apenas dez dias, é capaz de colocar nas prateleiras de todas as lojas uma peça que acabou de fazer sucesso nas passarelas. “Essa velocidade é essencial porque as pessoas buscam cada vez mais novidades.” Se grifes como C&A e Riachuelo buscam glamour, algumas recém-chegadas apostam na popularização. A H&M tem como estratégia iniciar as suas operações pela avenida Paulista, em São Paulo, em vez de investir em um shopping de luxo, como fizeram as suas concorrentes globais. A marca deseja se posicionar como popular e deve vir com preços inferiores aos da GAP, Zara e Topshop. A guerra, pelo visto, será intensa. 7#2 PARA ESCOLHER O MELHOR MBA Profissionais que se dedicam a um curso de negócios podem engordar os rendimentos. A seguir, um guia para ajudá-lo a escolher a instituição certa por Fabíola Perez O mercado de trabalho brasileiro está cada vez mais exigente. Há alguns anos, a melhor alternativa para quem queria dar uma guinada na carreira e conquistar altos cargos era fazer um curso de MBA fora do País. De uns tempos para cá, o cenário mudou. Agora, as instituições brasileiras oferecem cursos de boa qualidade. “Com o MBA, o salário do executivo pode até dobrar, dependendo da área de atuação”, diz José Luiz Trinta, diretor de negócios do Ibmec. O processo de escolha da instituição, porém, não é simples. O aluno deve seguir muitos critérios. Para o professor do MBA de finanças do Insper Ricardo Rocha, a avaliação do corpo docente é a etapa mais importante. “É preciso verificar se a maioria dos professores possui doutorado e se tem experiência acadêmica e de mercado.” _____________________________ 8# MUNDO 6.11.13 GOVERNO X IMPRENSA Argentina e Inglaterra aprovam leis que endurecem as regras do jogo para veículos de comunicação Mariana Queiroz Barboza A semana passada colocou ponto final em duas brigas que se arrastaram por mais de quatro anos e colocaram em lados opostos governo e imprensa. Na Argentina, a presidenta Cristina Kirchner, enfraquecida na saúde e na política, encontrou forças na Corte Suprema. Na terça-feira 29, os juízes declararam constitucional a Lei de Mídia, que limita a quantidade de licenças de rádio, tevê aberta e tevê paga para os grupos de comunicação do país. O Clarín, principal responsável pela veiculação de denúncias e críticas ao governo, possui, além de jornais e revistas, canais de rádio e tevês, de onde vem a maior parte do faturamento anual de cerca de US$ 2 bilhões, e terá que se desfazer de ativos para cumprir a nova lei. No dia seguinte, na Inglaterra, a rainha Elizabeth II sancionou a criação de um órgão estatal de regulação da imprensa britânica. A aprovação da carta real escrita pelo Parlamento ocorreu na mesma data em que o tribunal criminal de Old Bailey, em Londres, deu início ao julgamento dos editores do jornal “News of the World” acusados de envolvimento no escândalo de escutas telefônicas ilegais. ABUSOS - Rebekah Brooks (acima) era editora do jornal inglês“News of the World” na época do escândalo dos grampos ilegais. Já Cristina Kirchner (abaixo) quer enfraquecer um jornal opositor No caso argentino, o esforço pela desconcentração dos meios de comunicação e o estímulo para a concorrência significam, a priori, um sinal positivo. Pela nova legislação, um conglomerado só pode ter 35% de cada mercado em que atua. O problema é que a Lei de Mídia encobre, na verdade, a intenção de controlar a imprensa. Com ela, Cristina procura atingir precisamente seu maior rival, o “Clarín”, num momento em que o jornal e seus braços empresariais subiram o tom das denúncias de corrupção contra o governo. Só na tevê paga, o Clarín domina 59% do setor. “Os Kirchner têm uma incompatibilidade com a imprensa porque concebem os atores da sociedade como amigos ou inimigos e não permitem aos atores autônomos ter posições críticas”, disse Martín Etchevers, porta-voz do conglomerado, em entrevista exclusiva à ISTOÉ em maio. “A imprensa, que por sua própria natureza deve questionar tudo, sempre será uma inimiga para os Kirchner.” Nem sempre foi assim. Néstor Kirchner, marido de Cristina morto em 2010, considerava o Clarín um aliado e mantinha uma relação próxima com seus jornalistas até 2008, quando sua mulher já ocupava seu lugar na Casa Rosada. O governo acusou o Clarín de traição depois que o grupo ficou do lado dos ruralistas num confronto sobre aumento de impostos. Após a ruptura, o Clarín passou por uma blitz de agentes da Receita Federal, foi acusado de ter sido cúmplice da ditadura militar e de praticar concorrência desleal, sofreu cortes de publicidade pública e até a interferência do governo numa reunião de acionistas (leia quadro). Na Inglaterra, o jornalismo passou para a esfera criminal quando a Polícia Metropolitana de Londres começou a investigar, em janeiro de 2011, denúncias de grampos de telefones de pessoas citadas em reportagens do “News of the World”, tabloide do grupo News Corp, do magnata Rupert Murdoch. Entre as vítimas estavam celebridades, políticos, membros da família real, concorrentes e até vítimas de crimes, como uma garota de 13 anos desaparecida. O tabloide, então o mais vendido do país, foi fechado seis meses depois, e sua editora-chefe, Rebekah Brooks, foi presa. De acordo com a promotoria, o investigador particular Glenn Mulcaire recebeu o equivalente a mais de US$ 600 mil durante os seis anos em que contribuiu para as escutas do jornal. A promotoria revelou ainda que Rebekah e seu colega Andy Coulston, que a sucedeu na editoria do jornal, tinham um caso amoroso secreto e uma “profunda relação de confiança” durante o período em que teriam conduzido o esquema. Embora a imprensa britânica já tivesse um órgão responsável pela autorregulação da mídia, com representantes da própria indústria, os parlamentares concluíram que ele foi incapaz de prevenir e punir o escândalo do “News of the World”. De acordo com o jornal britânico “The Guardian”, que manteve posição neutra em relação ao novo aparato regulador, a maioria dos grupos de comunicação tem planos de boicotar a legislação porque a considera “uma ameaça de políticos a séculos de liberdade de imprensa”. No novo sistema, que não deve ser implantando antes de 2015, os veículos estarão sujeitos a multas de até US$ 1,6 milhão, caso desrespeitem a lei. ___________________________ 9# TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE 6.11.13 9#1 ELES SONHAM ALTO 9#2 O FIM DA NOITE 9#1 ELES SONHAM ALTO Empreendedores bilionários do mercado de tecnologia usam as fortunas acumuladas para colocar em prática seus projetos mais malucos, ambiciosos e grandiosos. As invenções vão de foguetes reutilizáveis a privadas que transformam dejetos em energia Juliana Tiraboschi Um foguete que será capaz de decolar, mover-se para os lados e pousar delicadamente em seu retorno à Terra é apenas um dos grandes projetos do sul-africano Elon Musk, empreendedor que ajudou a fundar o sistema de pagamentos online PayPal. A criação, que parece não ter nada a ver com o negócio original do empresário, só foi possível porque Musk usa a fortuna acumulada para dar asas à imaginação. Com os bolsos recheados após vender suas ações por US$ 1,5 bilhão, em 2000, ele teve condições de mergulhar em projetos ambiciosos e, muitas vezes, considerados malucos, como a ideia de montar uma colônia em Marte. Musk não está sozinho nesse tipo de empreitada. Diversos empreendedores do mundo da tecnologia resolveram se afastar de seu negócio principal para correr riscos em áreas mais desafiadoras e divertidas (confira quadro). Para Larry Page, cofundador do Google, esses projetos fora do comum são cruciais e deveriam receber mais investimentos das empresas. “Minha batalha é fazer com que as pessoas gastem mais em pesquisa e desenvolvimento no longo prazo”, afirmou durante a apresentação do balanço financeiro da companhia, no último dia 17. Segundo ele, a maioria das empresas gasta pouco em pesquisas experimentais. “Mesmo entre as que contam com orçamentos robustos, 99% dos investimentos são aplicados no que já existe.” Mas será que esses projetos “fora da caixa” dão certo? O exemplo do próprio Elon Musk prova que sim. Além de ter criado a Tesla Motors, fabricante de carros elétricos mais bem-sucedida do mundo, o sul-africano já conseguiu chegar ao espaço. Uma de suas companhias, a SpaceX, fechou acordos com a Nasa e desenvolveu a Dragon, a primeira nave privada a levar carga para a Estação Espacial Internacional. Agora, a empresa trabalha no Grasshopper, que pode se tornar o primeiro foguete reutilizável já criado. Em um teste realizado em outubro, a nave atingiu quase mil metros de altura e depois pousou com perfeição no local programado. Pela diversidade de atuação e capacidade de correr riscos, o ator e diretor Jon Favreau se inspirou em Musk para caracterizar o personagem Tony Stark, inventor e super-herói da franquia “Homem de Ferro”. No Google, os projetos inusitados sob a tutela de Larry Page incluem um carro autônomo, capaz de se dirigir sozinho, que está em testes desde 2010. A empresa também investe no Loon, uma rede de balões desenvolvida para levar conexão à internet para pessoas que vivem em áreas rurais e remotas do mundo. Ao flutuarem em elevadíssimas altitudes, as antenas são capazes de se comunicar entre si e enviar o sinal a grandes distâncias. O primeiro teste do sistema foi realizado em junho, na Nova Zelândia. Outra aposta da empresa é o Calico, projeto de pesquisas na área de saúde anunciado em setembro. Uma de suas iniciativas será estudar doenças relacionadas ao envelhecimento e maneiras de aumentar a expectativa de vida. Vencer a morte também é o propósito do alemão Peter Thiel. Cofundador do PayPal, um dos primeiros investidores do Facebook e hoje presidente do fundo multimercado Clarium Capital, ele investe pesado em pesquisas antienvelhecimento. “As pessoas dizem que a morte é natural e parte da vida, mas acho que nada pode estar mais longe da verdade”, diz. O empreendedor, que já doou US$ 3,5 milhões para a Fundação Matusalém, que distribui prêmios para pesquisadores que conseguem prolongar a longevidade de ratos de laboratório, também apoia a Fundação Sens, dirigida por Aubrey de Grey, cientista conhecido por suas pesquisas de reversão do envelhecimento. MALUQUICE - O "relógio de dez mil anos", idealizado pelo criador da Amazon, Jeff Bezos, ficará enterrado em uma montanha e jamais repetirá suas melodias Claro que nem todas as criações dos magnatas da tecnologia são fáceis de compreender. O americano Jeff Bezos, que criou a empresa de comércio online Amazon, hoje investe na fabricação do “relógio de dez mil anos”. O aparelho ficará enterrado em uma montanha no Texas e deverá “estimular a reflexão sobre a evolução da civilização humana e seu legado”, nas palavras do bilionário. O que seria das grandes invenções sem um pouco de maluquice? 9#2 O FIM DA NOITE A poluição luminosa afeta diretamente a vida de animais e pessoas e transforma a verdadeira escuridão em um recurso natural cada vez mais escasso Ana Carolina Nunes As lâmpadas que iluminam as cidades deixam na penumbra uma ameaça ambiental que aumenta a cada noite: a poluição luminosa. Apesar de concentrada nos grandes centros urbanos, a iluminação excessiva pode afetar ecossistemas distantes, interferindo no equilíbrio ecológico e na saúde humana. “A vida na Terra depende do ciclo natural de dia e noite”, explica Scott Kardel, diretor da International Dark-Sky Association (IDA), entidade americana que luta há 24 anos pela preservação da escuridão. “Quando clareamos a noite, perturbamos todo um ecossistema.” BELEZA PERIGOSA - O céu iluminado de Miami, nos EUA. Todos os anos, cinco milhões de pássaros morrem no país ao se chocar contra prédios altos, atraídos pelas luzes noturnas De acordo com a IDA, a poluição luminosa aumenta no ritmo de 4% ao ano, taxa bem maior que a do crescimento da população mundial, estimada em 1,14%. O pesquisador americano Paul Bogard, autor do livro “The End of Night” (“O Fim da Noite”, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), afirma que a escuridão é um recurso natural cada vez mais escasso. Segundo ele, 99% da população dos Estados Unidos e da Europa Ocidental já não experimenta o verdadeiro breu. Não há estatística similar no Brasil. A preocupação vai além do mero sumiço do céu estrelado. “Pelo menos 60% dos invertebrados e 30% dos vertebrados são espécies noturnas”, explica Bogard. “Iluminando seu ecossistema, estamos destruindo o habitat natural.” Mariposas desorientadas pela luz e pássaros migratórios que morrem ao se chocar contra edifícios brilhantes representam apenas alguns dos efeitos indesejáveis. Nos seres humanos, o excesso de luz durante a noite eleva o risco de depressão, estresse e até mesmo câncer (confira quadro). Com a sociedade estruturada de forma tão dependente da iluminação artificial, não é possível simplesmente apagar as luzes e considerar o problema resolvido. Mas ele pode ser minimizado. Nos Estados Unidos, um terço da energia utilizada para clarear as ruas, o equivalente a US$ 2,2 bilhões por ano, é desperdiçado por lâmpadas que não iluminam onde e como deveriam. Parte da solução está na troca de lâmpadas frias por luzes do tipo LED de tons quentes, que direcionam melhor o foco para baixo. Além disso, cidades como Tucson (Arizona) elaboraram uma legislação específica para estabelecer direção, limites, tipos e horários de iluminação. Sensores de movimento para carros e pedestres são outra aposta para que a natureza possa aproveitar todos os benefícios da verdadeira escuridão. ______________________ 10# CULTURA 6.11.13 10#1 TELEVISÃO - LOST NA TELENOVELA 10#2 CINEMA - DO NOTICIÁRIO PARA AS TELAS 10#3 LIVROS - LIVRO DE BOLSA 10#4 EM CARTAZ – LIVROS - MIAMI VISTA DE PERTO 10#5 EM CARTAZ – DVD - MADONNA A MIL 10#6 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - BELEZA INTOCADA 10#7 EM CARTAZ – TEATRO - ESPETÁCULO EM CONSTRUÇÃO 10#8 EM CARTAZ – SHOW - PARAÍSO DOS INDIES 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - RED HOT CHILI PEPPERS/MIX BRASIL/PANORAMA 10#1 TELEVISÃO - LOST NA TELENOVELA "Além do Horizonte", da Rede Globo, quer conquistar o público jovem no horário das sete com aventura, mistério e linguagem mais pop Wilson Aquino Com aposta na aventura e no mistério, a novela das sete “Além do Horizonte” (estreia na segunda-feira 4, na Rede Globo) está sendo associada à série “Lost”, que foi mania televisiva há oito anos. Como a produção cult americana, o enredo criado por Marcos Bernstein e Carlos Gregório investe na fórmula que envolve desaparecimentos e manifestações fantásticas passados no território mítico da floresta, recorrente nos contos de fadas. Os criadores aproveitaram o que os especialistas em marketing chamam de “buzz” (contágio) e adicionaram mais referências para o público. Segundo eles, a trama teria também algo de “Horizonte Perdido”, passado na cidade lendária de Shangri-lá, e do filme com Leonardo DiCaprio, “A Praia”, em que os habitantes de uma região remota vivem situações inexplicáveis. Consoante com o espírito pop reinante, o diretor de núcleo Ricardo Waddington assim resumiu a estreia global: “Trata-se de um projeto abusado.” PERDIDOS NA SELVA - Christiana Ubach (ao centro), com Ravel Cabral e Rodrigo Simas: personagens que desaparecem e são procuradas por parentes O risco, no caso, seria mais no sentido de romper com o habitual humor que vigora no horário, há mais de três décadas, que no formato. Contra possíveis acusações de pastiche, Bernstein aponta que a trama é original e que nada é copiado. “A lenda da Besta, em que as pessoas surgem mortas com a sua marca no rosto, é uma criação nossa”, diz ele. O tom jovem, que inclui até cenas de rafting, pede personagens correlatos. A história é narrada por três amigos, interpretados por Juliana Paiva, Thiago Rodrigues e Vinicius Tardio, pela primeira vez em papéis de protagonistas. O grupo tenta localizar parentes que estão há anos desaparecidos. Alguns são personagens de Antonio Calloni, Carolina Ferraz e Christiana Ubach, entre outros. Seguindo pistas, o trio chega a Tapiré, última cidade antes do local chamado “Comunidade”, no meio da mata, habitado por pessoas que abriram mão do estilo de vida urbano em favor de um ambiente natural. Lá, reina a harmonia e a felicidade, guardada pela tal Besta. Waddington admite que foi atraído pela proposta de aventura : “É uma nova perspectiva de história e gênero”, diz. O diretor-geral, Gustavo Fernandez, pretende dar um ritmo mais dinâmico às cenas de ação. “Para isso estamos trabalhando muito com câmera em movimento. Essa é a linguagem que a história pede”, afirmou, confirmando o investimento num estilo mais ousado e de acordo com o gosto contemporâneo. 10#2 CINEMA - DO NOTICIÁRIO PARA AS TELAS Os filmes baseados em fatos reais ganham novo impulso e, mais turbinados, descuidam da veracidade para garantir o espetáculo Ivan Claudio Produtores de cinema estão sempre de olho na lista de best sellers. Com enredo já aprovado, a chance de uma adaptação dar certo é grande. Agora andam muito ligados nas manchetes de revistas e jornais: se um fato jornalístico comove de forma massiva, a probabilidade de chegar às telas tem aumentado – e num espaço de tempo cada vez mais curto. Não existe melhor exemplo que “Capitão Phillips”, thriller estrelado por Tom Hanks, em cartaz na sexta-feira 8 – sim, a palavra certa é thriller, porque é embalado nesse ritmo alucinante que se assiste à adaptação do episódio, fartamente coberto pela imprensa, do sequestro do navio americano por piratas da Somália, há quatro anos. Outra produção que se mostra oportunista é “O Quinto Poder”, em exibição nos EUA, sobre os vazamentos de segredos de Estado e de empresas pelo site WikiLeaks, criado pelo australiano Julian Assange,papel de Benedict Cumberbatch. Não importa se o caso jornalístico é um atentado terrorista, uma chacina numa escola ou uma intervenção dos EUA em algum país do Eixo do Mal. Se o fato tirou o sono de estadistas e emocionou o público, vai emocionar ainda mais o espectador de cinema, essa é a lógica que não surpreende Hanks, também produtor: “Os estúdios gostam dessas histórias porque as conhecem, são familiares”, disse no lançamento de “Capitão Phillips”. VERDADE OU MENTIRA? - Tom Hanks (Capitão Phillips) e os piratas somalis: a tripulação real diz que o chefe não é herói e que a narrativa é falsa Diretor de “Carandiru”, sucesso baseado em fatos reais, Hector Babenco vê no filão mais um sintoma da crise criativa do cinema americano. “Eles repetem uma fórmula e essa parece ser a que está dando certo no momento”, afirma. Os chamados “real life dramas” (ficção sobre a vida real) sempre existiram, mas andavam distantes com o crescimento dos blockbusters repletos de efeitos especiais. Em 2010, só havia um filme do gênero entre os dez concorrentes ao Oscar. A virada se deu no ano seguinte com “A Rede Social”, que ganhou três estatuetas. Na mais recente edição, “A Hora Mais Escura” foi indicado a quatro categorias, inclusive a de melhor filme. O grande problema com o filão turbinado de hoje é que, se foge da realidade por necessidade narrativa, pode surtir efeito contrário e afastar o mesmo público que antes se interessou pelo assunto. O WikiLeaks detestou o “O Quinto Poder”, achou que o diretor Bill Condon endossou a visão dos governos sobre a liberdade de informação. A sorte não tem sido melhor para “Capitão Phillips”: a tripulação do navio acusa a obra de ser “uma grande mentira” e de ter transformado o imprudente chefe do navio em um herói (ele foi advertido dos riscos e, mesmo assim, viajou muito próximo da costa da Somália). “Phillips não era esse grande líder que se vê na tela”, disse um dos tripulantes ao jornal “The New York Post”, sem se identificar, já que vendeu os direitos para o estúdio Sony com a condição de não revelar nada sobre o episódio. Em defesa de sua adaptação, o diretor Paul Greengrass declarou: “Cinema não é jornalismo, muito menos história”. Escrevendo atualmente um roteiro do gênero, “Nêmesis” (direção de Fernando Meirelles), sobre a rivalidade entre a família Kennedy e Aristóteles Onassis, Bráulio Mantovani acha que o fiel da balança permanece sendo o talento. “Fatos reais são necessariamente filtrados pelo escritor em seu processo criativo. O resultado pode ser bom ou ruim, isso depende de quem escreve e da inteligência dos que estão à sua volta, que são o diretor e os produtores”, afirma. 10#3 LIVROS - LIVRO DE BOLSA Açucarados, leves, bem-humorados, os chik lit (ou romance de mulherzinha) são disputados em feiras literárias internacionais e estouram nas vendas tratando de questões como casamento, dieta e moda Ana Weiss As autoras não gostam do termo, as livrarias quase não o usam e as editoras mais chiques o evitam, mas o “chick lit”, subgênero da ficção voltado para o público feminino (carinhosamente apelidado de romance de mulherzinha), ganha cada vez mais espaço em corações e estantes e tem sido uma das grandes apostas das casas editoriais. Tanto que o último livro de uma das mais conhecidas heroínas dessa vertente literária, Bridget Jones, chega às livrarias com o subtítulo “Louca pelo Garoto” mantendo a marca de sexto colocado na lista dos mais vendidos do jornal “The New York Times”. Na frente, inclusive, de “50 Tons de Cinza”, maior fenômeno de vendas dos últimos tempos, mesmo sendo o menos divertido dos três da série escrita por Helen Fielding. A Companhia das Letras comprou o título, que era publicado desde os anos 1990 no Brasil pela Record. Agora cinquentona, a personagem inclui novos números em suas contas diárias. Além de calorias, passou a calcular os seguidores perdidos por tuitar bêbada e a quantidade de piolhos encontrada na cabeça dos filhos. A esperteza de Helen Fielding na apresentação dos pensamentos que se atropelam na cabeça de Bridget não perdeu a graça. Mas funcionava melhor quando a protagonista se debatia com a crise dos 30. Ainda assim, a Companhia das Letras, pouco afeita a subgêneros da moda, resolveu apostar no filão em que não tinha muitos títulos. E não foi só ela. Na Feira de Frankfurt, realizada em outubro na cidade alemã, “I Take You”, de Eliza Kennedy, foi alvo de disputa de três grandes editoras brasileiras. Quem arrematou os direitos de publicação foi a Rocco. “A autora discute as relações amorosas atuais e trata da relação/instituição chamada casamento, que resiste a tudo e vale a pena”, resume a gerente editorial Vivian Wyler, que apostou no romance, ainda sem título em português. A Rocco não costuma errar em suas tacadas. Em 2005, lançou “Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você”. A história de Greg Behrendt e Liz Tuccillo acabou quatro anos depois adaptada para o cinema com Jennifer Aniston e Drew Barrymore nos papéis principais – foram mais de dois milhões de livros vendidos. “A Companhia das Letras publica obras de qualidade, que nós mesmos gostaríamos de ler. É ainda melhor, claro, quando um bom livro tem também a possibilidade de atingir o grande contingente de novos leitores que há no Brasil. Por isso “Bridget Jones: Louca pelo Garoto” surgiu com um projeto privilegiado”, diz Rita Mattar, da Companhia. Ela lembra que “O Diário de Bridget Jones” foi um dos livros que inspiraram a criação do próprio termo “chick lit”. “Em muitos aspectos, Helen Fielding é pioneira no gênero e reconhecemos o valor da honestidade e da irreverência com que ela retrata o cotidiano da mulher contemporânea.” Lançado em 1996, o primeiro volume da série é considerado um dos dez romances que melhor definem o século XX segundo uma pesquisa realizada pelo jornal inglês “The Guardian”. Na época, vendeu 160 mil exemplares no Brasil, informa a editora Record, que há mais tempo aposta na chick lit em território nacional. O grupo é dono dos glamourosos “O Diabo Veste Prada” e “Sex and The City” e de suas continuações, como “A Vingança Veste Prada”, lançado em agosto no Brasil. E aposta em novos talentos, como a brasileira Carina Rissi, autora do sucesso instantâneo “Procura-se um Marido”, que esgotou em menos de um mês. Lançado pela Verus, do mesmo grupo Record, sua primeira leva teve 20 mil exemplares, pirateados a rodo. Ainda assim, foi preciso reimprimir. Helen Fielding explica a popularidade de Bridget pelo fato de suas atitudes carregarem o zeitgeist (espírito de época) de sua geração. Carina Rissi prestou atenção à dica. O próximo livro da autora, “Perdida”, deve chegar às prateleiras como dica de Natal – e já está vendido para o cinema. 10#4 EM CARTAZ – LIVROS - MIAMI VISTA DE PERTO por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss O maior defeito de “Sangue nas Veias” (Rocco), de Tom Wolfe, também é uma de suas grandes qualidades: o uso das técnicas do “new journalism”, gênero que ele ajudou a fundar. Wolfe reconstituiu cenas a partir de um trabalho de investigação jornalística e muitas entrevistas colhidas in loco e com um envolvimento próximo com as fontes. O lugar, nesse caso, é Miami e sua intrincada mistura étnica e cultural que torna essa cidade americana um colorido mundo de ilegalidade à parte do país. As revelações do circuito de prostituição e arte mostram um pouco da ideia de paraíso que deslumbra os diferentes tipos sanguíneos que convivem no principal centro turístico do Estado da Flórida. 10#5 EM CARTAZ – DVD - MADONNA A MIL por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss A extravagância visual do show “MDNA”, que Madonna emplacou como a turnê mais lucrativa de 2012, ganha registro à altura do espetáculo. A própria cantora e a dupla de diretores Danny B. Stull e Stephanne Sennour trabalharam seis meses com o material captado por 30 câmeras e optaram por uma edição que permite ver em detalhes o que era praticamente impossível de acompanhar nas apresentações. As projeções em gigantescos telões HD e o uso de cubos móveis no palco, funcionando como elevadores e escadas, casam perfeitamente com as coreografias de grande musical, protagonizadas pela trupe de 25 bailarinos. E o repertório é uma seleção do melhor de sua carreira. 10#6 EM CARTAZ – FOTOGRAFIA - BELEZA INTOCADA por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss Rogério Assis foi o primeiro fotógrafo a registrar o povo indígena zo’é, no Pará. Isso aconteceu em 1989, quando a etnia foi vítima de uma epidemia de gripe. Duas décadas depois, Assis visitou novamente a tribo e documentou o seu dia a dia. Com o olhar antropológico, classificou atividades como a preparação da farinha ou a produção de utensílios com folhas de palmeira. Mas não abriu mão da estética, captando a beleza dos adereços femininos, a exemplo de tiaras feitas de penas brancas de urubu-rei. Como escreve Rosely Nakagawa na apresentação do livro “Zo’é” (Terceiro Nome), ele adotou “uma postura sutil e delicada de se deixar desaparecer entre os outros para se tornar um deles”. 10#7 EM CARTAZ – TEATRO - ESPETÁCULO EM CONSTRUÇÃO por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss “Contrações” (CCBB, São Paulo, até 9/12), é resultado de um projeto menos conhecido da atriz Débora Falabella, o Grupo 3 de Teatro. A trupe fundada por ela em 2005 com Yara de Novaes e Gabriel Paiva leva aos palcos o texto do dramaturgo inglês Mike Bartlett depois de meses de ensaios abertos, testando e modificando o espetáculo até atingir o estágio atual. Dirigido por Grace Passô, a história da gerente que manipula a vida pessoal de sua funcionária tem música de Morris Picciotto e figurino de André Cortez. 10#8 EM CARTAZ – SHOW - PARAÍSO DOS INDIES por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss A banda de brit pop Blur e o cantor americano Beck encabeçam as atrações da sétima edição do Planeta Terra Festival, que acontece no sábado 9, em novo local: o Campo de Marte, em São Paulo. Eclipsado pelo sucesso do Gorillaz, projeto paralelo do vocalista Damon Albarn (à frente), o Blur lançou seu último disco de estúdio há uma década, mas provou que continua em forma na apresentação ao vivo no Hyde Park, de Londres, lançada em disco e DVD. Vai fechar a noite do palco principal, que terá antes a banda inglesa Travis e a cantora americana Lana Del Rey. No outro palco, a função está a cargo de Beck, que será aquecido pelos grupos Palma Violets e The Roots. 10#9 EM CARTAZ – AGENDA - RED HOT CHILI PEPPERS/MIX BRASIL/PANORAMA Conheça os destaques da semana por Ivan Claudio Colaborou Ana Weiss RED HOT CHILI PEPPERS (Belo Horizonte, 2/11; São Paulo, 7/11; Rio de Janeiro, 9/11) A banda de Anthony Kiedis e Flea apresenta a turnê do álbum “I’m With You” MIX BRASIL (São Paulo, a partir de 7/11; Rio de Janeiro, de 14/11 a 21/11) A 21a. Edição do festival apresentará 140 filmes. O destaque é “Um Estranho no Lago”, de Alain Guiraudie, premiado em Cannes. Na seleção brasileira, “Tatuagem”, de Hilton Lacerda PANORAMA (Rio de Janeiro, até 10/11) O evento de dança traz recriações do balé “ A Sagração da Primavera”, assinadas por Xavier Le Roy e Roger Bernat, que retoma a famosa coreografia de Pina Bausch _______________________ 11# A SEMANA 6.11.13 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "NICOLÁS MADURO E O ECTOPLASMA DE HUGO CHÁVEZ" O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não precisa de tratamento médico porque diz que vê por todos os lados o ectoplasma do falecido ex-presidente Hugo Chávez. Precisa, isso sim, de seriedade política porque até o mais declarado populismo tem limites. Na semana passada Maduro exibiu uma foto com a suposta imagem do rosto de Hugo Chávez, e disse à população que tal imagem aparecera e desaparecera misteriosamente aos operários que constroem o túnel do metrô em Caracas – um dos trabalhadores teria feito a foto. “Chávez está em todas as partes”, disse ele. Há sete meses Maduro jurou ter visto Hugo Chávez encarnado em um pássaro. O PRIMEIRO TÚNEL SUBAQUÁTICO DO MUNDO" A ideia é antiga, vem de 1860, quando o sultão otomano Abdul Medjid propôs a criação de um túnel subaquático que ligasse dois continentes. Séculos se passaram, e agora o seu sonho virou realidade. Acaba de ser inaugurado na Turquia o Marmaray, primeiro túnel ferroviário subaquático em todo o mundo. Ele tem 13,6 quilômetros de extensão (1,4 quilômetro submerso) e une a Ásia à Europa sob o Estreito de Bósforo. O custo da obra (parceria com o Japão e o Banco Europeu de Investimento) foi de US$ 4,5 bilhões. "EIKE BATISTA REQUER RECUPERAÇÃO JUDICIAL" O empresário Eike Batista, proprietário da petroleira OGX, protocolou na Justiça, na quarta-feira 30, o maior pedido de recuperação judicial já feito na América Latina – as dívidas da empresa chegaram a R$ 11,2 bilhões após a perfuração de 120 poços que se mostraram “comercialmente inviáveis”. Caso o pedido de recuperação seja aceito, será fixado um prazo para que a OGX pague as suas dívidas de forma parcelada – instrumento jurídico previsto em lei que demonstra a boa-fé do empresário em honrar compromissos. A empresa fica assim licitamente protegida da cobrança imediata dos credores. O estaleiro OSX, também de Eike, cogita igualmente de pedir recuperação judicial. "POR QUE DEPUTADO NÃO PRECISA DE COTA RACIAL" A CCJ da Câmara dos Deputados aprovou projeto que cria a cota racial nas eleições. Se virar lei, a cada pleito o eleitor votará em um candidato, como já vem fazendo, e no segundo seguinte votará em outro candidato que tenha se autodeclarado negro ou pardo. O percentual de vagas aos afrodescendentes terá de corresponder a dois terços do número de pessoas que tenham se declarado negras ou pardas no último censo demográfico. O projeto pode ser barrado porque ele é desnecessário: a Constituição já garante o direito de votar e de ser votado a todos os brasileiros (negros, pardos, brancos, índios). Como cada candidato só recebe um voto, todos concorrem em pé de igualdade. "O DIA DA BRUXA NAS ESTRELAS" A Nasa também comemorou na quinta-feira 31, por meio da astronomia, o dia do Halloween nos EUA: divulgou a mais recente imagem da nebulosa chamada pelos pesquisadores de “Cabeça da Bruxa”. Para exercitar a imaginação: concentre-se no lado direito da foto ou passe vagarosamente os olhos sobre ela. Vê-se algo que lembra queixo e nariz proeminentes e uma boca aberta – a feição clássica que se convencionou para as bruxas malvadas na literatura infantil. "CORREMOS O RISCO DE FICAR SEM ELE " Estudo do banco Morgan Stanley alerta que o mercado global de vinhos caminha rapidamente para a escassez. O motivo é elementar: há aumento de demanda e queda na produção – no ano passado, deixou-se de produzir cerca de 300 milhões de caixas. Respondem pela pesquisa os especialistas Tom Kierath e Crystal Wang. Eles apontam a instabilidade climática, a prática de “arrachage” (destruição de vinícolas para evitar achatamento de preços) e a entrada de novos países consumidores (sobretudo a China) como responsáveis pelo risco do negócio do vinho ir para o vinagre. "UM VAN GOGH, DOIS GIRASSÓIS " Era comum os pintores do século XIX fazerem diversas cópias de suas obras – achavam que na execução de cada réplica iam eliminando imperfeições. Um século mais tarde isso caiu em desuso e passou a ser visto como coisa de artista preguiçoso na criação. Vicent Van Gogh, por exemplo, copiava sem parar a si mesmo e tais réplicas foram até tidas como falsificações. Nada a ver. Hoje o mercado de artes disputa acirradamente essas obras. Prova disso é que a National Gallery de Londres, pela primeira vez em 65 anos, irá expor duas versões de “Os Girassóis”. As cópias revelam o temperamento obsessivo do artista. "SOBROU ATÉ PARA FRANCISCO" Nem o papa Francisco escapou da espionagem americana. Segundo a revista italiana “Panorama”, a Agência de Segurança Nacional dos EUA monitorou telefonemas dentro do Vaticano. A denúncia é baseada em documentos divulgados pelo ex-analista da CIA Edward Snowden – a NSA teria bisbilhotado na Itália 46 milhões de telefonemas e o papa Francisco pode ter sido alvo. "NAVIO DA MORTE" A Marinha dos EUA apresentou pela primeira vez, na semana passada, o seu mais novo, mais rápido e mais letal navio de guerra que entra na fase final de construção. Trata-se de um destróier com 186 metros de comprimento que elimina alvos a 96 quilômetros de distância. Tem a “capacidade” de se manter oculto na presença de radares inimigos. "BMW É CONDENADA PELA MORTE DO CANTOR JOÃO PAULO" Chegou ao fim a pendenga sobre a indenização que a família do cantor João Paulo pede à Justiça desde 1997 – foi nesse ano que ele morreu numa rodovia paulista, ao volante de seu BMW, quando o carro capotou. Os familiares da vítima (formava dupla com Daniel) alegaram que defeitos no compartimento de combustível causaram o acidente. A empresa sustentou que João Paulo dirigia de forma imprudente. Agora a BMW do Brasil e a da Alemanha foram condenadas a pagar R$ 500 milhões para a esposa e a filha do artista. Recorrerão da decisão judicial. "US$ 3,5 BILHÕES" é quanto o Brasil perde anualmente com a gravidez de adolescentes – nesse valor estão incluídos despesas com serviços da rede pública de saúde e desperdício de investimentos feitos na educação, uma vez que a maioria abandona a escola ao engravidar. A cada ano, somando-se diversos países em desenvolvimento, tem-se que cerca de 7,3 milhões de adolescentes dão à luz. Os dados são da ONU. "NÃO É SÓ O PEIXE QUE "MORRE PELA BOCA"" José Paulo Carvalho de Oliveira é vereador (PT do B) na cidade fluminense de Piraí. Tivesse ele gesticulado e esbravejado ao defender o projeto de lei que proíbe mendigo de votar, poderia se imaginar que tudo não passara de uma encenação para gerar mídia. Mas o tom sereno e baixo com que Oliveira falou mostra que ele acredita no que diz. E eis o que disse na sessão em que a Câmara homenageava a Constituição do País: “Mendigo não tem que votar. Mendigo não faz nada na vida (...) aliás, eu acho que mendigo deveria até virar ração para peixe.” Diante da repercussão negativa Oliveira percebeu que, assim como peixe, também vereador pode “morrer pela boca”. E correu a se desculpar: “Errei”. "O ROQUEIRO DO CARDEAL" Roqueiros católicos ou ateus deliraram, mas o ídolo nada mais podia ver: Lou Reed já estava morto na segunda-feira 28 quando o ministro da Cultura do Vaticano, Gianfranco Ravasi, postou no Twitter parte da canção “Perfect Day”. Aos 71 anos faleceu Lou Reed, um dos maiores “ídolos do rock transgressor”. Reed gostava mais de drogas, álcool, travestis e prostitutas do que gostava de padre, mas Ravasi sempre amou “Perfect Day” assim como os seguidores do guitarrista adoram a música “Kill your Sons” na qual ele denuncia os eletrochoques aos quais foi submetido por ordem da família que pretendia “curar a sua bissexualidade”. Reed, americano nascido no Brooklyn, mas que se tornou símbolo de Manhattan, brotou estridente para a glória em 1964 com a mítica banda The Velvet Underground. Oito anos depois, arrepiou o planeta com seu primeiro trabalho solo, o clássico “Transformer”. Há seis meses ele teve de passar por um transplante de fígado, e em decorrência disso morreu nos EUA no domingo 27. "NEM TÃO FAVELA" É claro que morador de favela ainda sonha com todo o conforto da “vida no asfalto que acaba aonde o morro principia”, como diz a letra de uma das mais famosas marchas carnavalescas imortalizada na voz da cantora Marlene. Mas hoje no Brasil as favelas localizadas nas regiões metropolitanas apresentam significativos indicadores socioeconômicos de que a vida melhorou. O acesso à internet por meio de computador ou celular e a utilização da rede bancária são exemplos de tais indicadores positivos. Cerca de 11,7 milhões de pessoas em todo o País vivem em favelas, e 65% dessa população está na classe média. Mais: 52% dos moradores acessam a internet (nesse universo 85% possuem Facebook) e pelo menos 53% têm conta corrente ou poupança em bancos. A pesquisa foi feita pelo instituto Data Favela/Data Popular em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Paraná, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.