0# CAPA 4.2.15 ISTOÉ edição 2357 | 04.Fev.2015 [descrição da imagem: rapaz e uma moça, aparecem de perfil, ele com mão esquerda segurando o rosto da moça. Ela com os braços para cima, parecendo presos nesta posição. As posições indicam que irão se beijar.] A EXPLOSÃO DO EROTISMO Filme “Cinquenta Tons de Cinza” deve impulsionar o debate sobre a liberação sexual e apimentar a vida de muitos casais. [outros títulos na parte superior da capa] AS DIGITAIS DO TESOUREIRO Investigações se aproximam de João Vaccari Neto a partir da inclusão da empreiteira Schahim no inquérito da Lava Jato. VIVENDO EM CLIMA EXTREMO Como o aquecimento global explica o pior verão da história em São Paulo e a ameaça de nevasca que paralisou Nova York. _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 7# ECONOMIA E NEGÓCIOS 8# MUNDO 9# CULTURA 10# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 4.2.15 "DO SILÊNCIO AO DISCURSO OCO" Carlos José Marques, diretor editorial A presidente Dilma não assumiu a culpa pela paralisia econômica. Muito menos admitiu erros nos gastos correntes do Tesouro que estão a exigir agora um “reequilíbrio fiscal”. Deixou de lado a maquiagem forçada que promoveu nas contas públicas para esconder rombos. E até os cortes aplicados na educação e em benefícios sociais como o seguro-desemprego, pensões, abono salarial e auxílio-doença foram calculadamente esquecidos. Nem mesmo falou dos recentes apagões depois de ter dito em campanha que o Brasil era “uma potência energética”, que teria energia “cada vez melhor e mais barata”. Dilma passou ao largo de questões delicadas como os novos índices de aumento da pobreza e do desemprego. Dos três reajustes consecutivos na taxa de juros anunciados desde a sua reeleição, nenhum comentário. E o escândalo da Petrobras então, que sangrou a estatal nos últimos 12 anos de gestão petista? Foi simplesmente transformado em prova de eficiência nas apurações. Algo que, de mais a mais, não pode ser visto como mérito do Executivo. No primeiro e aguardado discurso da mandatária no ano, nada de novo além das tergiversações de sempre. Se existiram problemas que levaram o País a um “pibinho”, e às portas da recessão, foram alheios à sua vontade. Ao lado do surpreendente séquito de 39 ministros, o maior de toda a história republicana, montado para acomodar acordos políticos (a despeito do sobregasto desnecessário que gera na máquina, incompatível com o atual momento de dificuldades), a Dilma do segundo mandato contradizia a do primeiro. Em atos e fatos. Muitos estão enxergando só agora o estelionato eleitoral que ela promoveu e do qual foi a maior beneficiária. Dilma versão 2015 convocou seus ministros não para tratar de uma batalha santa contra a inflação, ou por incremento nas exportações, pela retomada do desenvolvimento. Seu foco era o “combate aos boatos”. Para ela, o importante no momento é a “batalha da comunicação”, dando sinais de que ainda não desceu do palanque para cuidar do que realmente interessa. A missão espinhosa continua a cargo de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que tem tomado acertadas decisões e conta, ao menos por enquanto, com o aval da chefe. _____________________________________ 2# ENTREVISTA 4.2.15 JUCA FERREIRA - "MARTA SUPLICY É UMA IRRESPONSÁVEL" Alvo de ataques da ex-ministra da Cultura, o sociólogo baiano reassume a pasta decidido a aumentar o seu orçamento, que considera esquálido, reformar as leis de direitos autorais e investir em arte popular e na geração digital por Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) RETOMADA - O ministro da Cultura, Juca Ferreira, volta ao cargo que ocupou no segundo mandato de Lula Juca Ferreira (PT), 65 anos, comandou o Ministério da Cultura por dois anos e meio, de 2008 a 2010, no segundo mandato de Lula. Cinco anos antes, atuou como secretário-executivo, no MinC, na gestão de Gilberto Gil. Convidado no fim do ano passado pela presidente Dilma Rousseff para retomar a função, cruzou a mira de Marta Suplicy. A senadora apresentou documentos à Controladoria-Geral da União que apontam irregularidades na Cinemateca Brasileira, órgão do MinC, na primeira gestão de Ferreira como ministro.“O processo nos acusa, por exemplo, de comprar a obra de Glauber Rocha sem licitação. Ela deveria saber que não existem dois ‘Glaubers’ para se fazer comparação de preço”, diz o sociólogo baiano. Para voltar ao ministério, Juca Ferreira deixou a Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, agora ocupada pelo arquiteto Nabil Bonduke, também do Partido dos Trabalhadores. "Sinto-me agredido. Ela (a senadora Marta Suplicy) tem todo o direito de desistir do partido no qual ela milita e sair para o debate, mas em sua desistência não pode bulir com a honra alheia" Conhecido por suas críticas às leis de incentivo fiscal no fomento à cultura e pela defesa da flexibilização da regulação de direitos autorais, Ferreira pretende ampliar a atuação do ministério nos municípios e incrementar o apoio às manifestações populares e socioeducativas em detrimento do cinema, que considera uma área provida de investimentos “robustos”. À ISTOÉ, ele afirma que, apesar dos ajustes orçamentários, conta com a ampliação da participação do Ministério da Cultura no orçamento da União para 2%. Em 2014, a parte do bolo foi de R$ 3,28 bilhões, o correspondente a 0,13%. Há duas semanas no cargo, tem em andamento o projeto que celebrará nos próximos sete anos o centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo e um novo nome no comando da Funarte, o filósofo Francisco Bosco, filho de João Bosco. "Vou solicitar ao Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires) a tela Abaporu, de Tarsila do Amaral, durante a programação nacional em torno da Semana de Arte Moderna de 22" Istoé - Nos documentos que a senadora Marta Suplicy enviou à Controladoria-Geral da União, apontam-se irregularidades em licitações da Cinemateca Brasileira durante a sua primeira passagem à frente do MinC. Qual é a sua defesa? Juca Ferreira - Não se ataca a honra de uma pessoa íntegra que tem 47 anos de vida pública sem um deslize sequer. Sinto-me agredido. Ela tem todo o direito de desistir do partido no qual ela milita e sair para o debate, mas em sua desistência não pode bulir com a honra alheia. Istoé - Mas em relação às acusações em si, o que o sr. diz? Juca Ferreira - O processo enviado À CGU nos acusa por exemplo de comprar a obra de Glauber Rocha sem licitação. Queria conhecer uma cinemateca no mundo que se furtasse a adquirir, para preservar e disponibilizar para o público, os filmes de seu maior cineasta. Gastamos R$ 3 milhões neste tesouro. É muito menos do que custa produzir muitas dessas comédias que estamos fazendo hoje no Brasil. Não existem outros Glaubers Rochas para que pudéssemos fazer essa licitação a que a senadora se refere. Proponho um exercício: experimentemos, só para que possamos ter dados de comparação, a venda da obra de Glauber para outras cinematecas do mundo para saber quanto pagariam. A CGU ainda está em processo de investigação e em breve ficará claro que não houve nem há nenhum dolo na gestão da Cinemateca. Coloco minha mão no fogo por todas as pessoas da equipe envolvidas nas acusações. Istoé - O sr. contesta mais algum ponto do documento enviado pela senadora à CGU? Juca Ferreira - O “Canal 100”, um marco do filme reportagem, que tem uma linguagem de cobertura do futebol de importância histórica reconhecida, é também questionado ali pela falta de licitação na sua aquisição pela Cinemateca. Que uma pessoa ligada a um órgão de proteção do Estado questione uma aquisição do tipo é kafkiano, mas compreende-se. Agora, que uma ministra da Cultura respalde isso para atacar outra pessoa, eu acho um escândalo. O resto a CGU vai mostrar que são ajustes de procedimento. Não se contribui para elevar o nível da política pública brasileira com acusações infundadas. Marta Suplicy é uma irresponsável. Istoé - Como o sr. pretente aprovar a PEC da Cultura, que elevaria para 2% a participação do MinC no Orçamento da União, em um momento em que o governo fala em enxugamentos? Juca Ferreira - A nossa proposta é uma redistribuição das verbas públicas. Ministérios mais frágeis e que têm um orçamento muito aquém da necessidade não podem sofrer o mesmo índice de corte de outros que são bem dotados de orçamentos e até têm gorduras que podem perder. O Ministério da Cultura, sob o ponto de vista orçamentário, é esquálido. A presidente sabe disso. Precisamos de condições para atender a toda a demanda. Istoé - O sr. acredita então que o MinC será poupado nos cortes? Juca Ferreira - Acredito e vou lutar por isso. Pouco mais de 0,1% do Orçamento é muito pouco para a Cultura. A PEC prevê 2% e vamos chegar a esse patamar. Acho que podemos pensar em um aumento progressivo em quatro ou até mais anos. Essa proporcionalidade que herdamos era fruto de outro conceito de governo. Um governo inovador tem de abolir as antigas proporcionalidades. No governo Lula fizemos uma reforma que agora precisa ser revista. Istoé - Na véspera da sua posse, corriam boatos de que o sr. estaria contratando integrantes do coletivo Fora do Eixo (rede independente de artistas e produtores que tem como principal plataforma as redes sociais) para sua equipe. Sua equipe está definida? Juca Ferreira - Pretendo anunciar minha equipe assim que terminar o Carnaval. Tendo dito isso, não tenho preconceito de trabalhar com redes e coletivos. Vivemos o fim de um ciclo da nossa democracia e essa juventude representa e é parte dessa renovação. Istoé - Algum convite que já tenha sido aceito? Juca Ferreira - Sim, para a presidência da Funarte. A Fundação Nacional de Artes será um dos focos mais fortes desta gestão. Sua presidência estará a cargo de um jovem intelectual chamado Francisco Bosco (filósofo e escritor, filho de João Bosco). Istoé - O que mudará na Funarte? Juca Ferreira - Vou me concentrar nas políticas para as artes em geral. E de maneira descentralizadora, para que uma região não concentre as atividades culturais e outra míngue. A Funarte pode ajudar nesse caminho. Pecisamos ter um órgão à altura da arte brasileira. O único setor da cultura que está hoje com as necessidades satisfeitas é o cinema. Políticas públicas para as linguagens artísticas não podem se resumir a fomento via repasse de verba pública. A cultura não pode ficar unicamente à mercê dos departamentos de marketing das empresas patrocinadoras em troca de descontos fiscais. Istoé - Então o cinema não é uma prioridade do ministério? Juca Ferreira - Não há necessidade. O cinema brasileiro hoje caminha bem. O MinC vai se envolver mais com a criação artística e as áreas do pensamento e da produção intelectual no Brasil. Em parceria com as universidades, pretendemos abrir processos de reflexão pública, como grandes seminários e programas de formação. Istoé - Algum projeto em andamento? Juca Ferreira - Pretendo criar uma comissão nacional junto com São Paulo para a celebração do centenário da Semana de Arte Moderna. Vai ser um grande movimento nacional de resgate e reflexão sobre a construção de identidade. A Prefeitura de São Paulo tem interesse em criar uma comissão com a finalidade de começar os preparativos para esse importante marco em breve. Vou me associar a essa comissão e abrir isso o máximo. Istoé - Como isso chegaria à população? Juca Ferreira - Será tudo um processo aberto, do ponto de vista urbano e também digital. Com o suporte digital envolveremos milhões de pessoas, dentro e fora do Brasil. Istoé - A Comissão de Constituição e Justiça do Senado adiou em dezembro a votação de projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas no País – a restrição é algo que só ocorre hoje em nações não democráticas. Qual a posição do ministério em relação a essa discussão em que se confrontam artistas como Roberto Carlos e Caetano Veloso e biógrafos? Juca Ferreira - Sou contra a necessidade de autorização prévia. A legislação já prevê punição para calúnia e difamação. Autorização prévia é algo muito próximo da censura. Acredito que em uma sociedade democrática essa exigência não deveria existir. Essa é minha opinião ­pessoal. Os biógrafos devem ter seus direitos de expressão garantidos como os autores de literatura. Istoé - Em seu discurso de posse o sr. disse que implementará a lei que prevê a supervisão do Estado sobre a gestão coletiva de direitos autorais. Como isso vai ocorrer? Juca Ferreira - É algo que já está em curso. Desenvolvemos um processo de quase seis anos, envolvendo diretamente mais de 60 mil pessoas, entre técnicos e especialistas, inclusive estrangeiros, e todos os setores interessados – o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), organizações de artistas, de fomentadores e de empresários da cultura. Foi uma discussão que visou valorizar a Cultura. Metade do que deixamos tramitando no Congresso já foi aprovada, a partir da CPI do Senado que investigou a questão da arrecadação e distribuição dos recursos. A outra metade é tão somente ligada à atualização ­tecnológica. Os avanços digitais enfraqueceram a indústria fonográfica. O trabalho agora é garantir que o direito autoral possa ser efetivo dentro do ambiente digital. A lei brasileira é de antes do videoteipe. Então, muitos criadores que têm as novas mídias como suporte têm sua criação desprotegida. Todos os autores no Brasil precisam ter sua remuneração por direito autoral garantida. Isso será feito. ____________________________________ 3# COLUNISTA 4.2.15 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - O BRASIL NO BANCO DOS RÉUS 3#3 GISELE VITÓRIA 3#4 ANTONIO CARLOS PRADO - SAIDEIRA DA SAÚDE 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Pura inadimplência Pelo terceiro ano consecutivo o Brasil deixou de pagar sua cota à OEA. A entidade não conta com um embaixador brasileiro desde 2011, por decisão da presidente Dilma Rousseff, em represália à decisão da Comissão de Direitos Humanos sobre a usina de Belo Monte. A dívida ao redor de R$ 65 milhões colabora para a asfixia da organização. O Brasil é o segundo maior contribuinte da OEA, depois dos EUA. Justiça Passou do ponto A Sadia tem até segunda-feira 2 para recorrer do pagamento de indenização de R$ 1 milhão, fixada pelo juiz da 3ª Vara do Trabalho de Brasília, Francisco Frota. Ele julgou na semana passada ação civil pública do MPT da 10ª Região, iniciada em 2005, sobre irregularidades na jornada de trabalho de três mil pessoas da unidade da empresa em Samambaia, cidade-satélite do DF. Entre as faltas, a não concessão de descanso semanal e desobediência ao limite de duras horas extras diárias. Gente Virou estrela A um mês de completar 99 anos, na terça-feira 27, em Ipanema, Rio de Janeiro, faleceu Maria Alzira Pontes Miranda Perestrello. Totalmente lúcida, a filha do nosso maior jurista era uma das mais respeitadas psicanalistas do Brasil. Agricultura Vapt-vupt O Ministério da Agricultura determinou na semana passada o afastamento dos ocupantes de cargos de confiança na Conab, cuja gratificação acabou incorporada ao salário. A pressão política foi tanta que a ordem durou tanto quanto a explosão de um palito de fósforo. Brasil Troca política É cara a conta do PP para seguir com Dilma Rousseff. Inclui a nomeação de Antonio Carlos Figueiredo para chefiar a Secretaria de Vigilância em Saúde. Dentista por formação, substituirá Jarbas Barbosa. O especialista em epidemiologia, doutor em saúde coletiva e ex- gerente de gigilância em saúde pública, prevenção e controle de doenças da Organização Pan-Americana de Saúde, em Washington, sai de sua área para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Eta, Brasil! Política Nível seleção Não haverá zero a zero no Senado, a julgar pelo time formado para atacar o Planalto a partir da segunda-feira 2. Entre as estrelas da “equipe” estão Lasier Martins (PDT-RS), líbero; José Serra (PSDB-SP), cabeça-de-área; Ronaldo Caiado (DEM-GO), ala direita; Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), ala esquerda; Tasso Jereissati (PSDB-CE), volante; Antônio Anastasia (PSDB-MG), meia de ligação; Aécio Neves (PSDB-MG), centro-atacante; e Aloysio Nunes (PSDB-SP), atacante. No PT, Marta Suplicy no mínimo atuará como olheira da turma. Energia Em mãos estatais Grande amigo de Dilma Rousseff e presidente do conselho de administração da Norte Energia, Valter Luiz Cardeal de Souza convocou reunião do colegiado para a segunda-feira 9. A mudança acionária na Hidrelétrica de Belo Monte que será tratada envolveria aumento na participação da Cemig/Light (hoje com 9,77%) no empreendimento, com a consequente diminuição ou até saída da Neoenergia (10%) do negócio. A hidrelétrica em construção tem cada vez menos a cara estatal. Minas e Energia Contra o prejuízo A diretoria da Petrobras cobrará de seus empregados e ex-empregados as perdas por más gestões. Isso inclui receber de Paulo Roberto Costa US$ 3,2 bilhões, valor do aumento de custos na construção da Abreu e Lima. A refinaria teve seu valor elevado de US$ 2,4 bilhões para US$ 18,5 bilhões, devido à antecipação de atividades e alterações nos projetos e na estratégia de contratação. O ressarcimento independe dos acertos que Costa fez e vier a fazer com a Justiça. Meio ambiente Dano geral A pior seca no Nordeste e Sudeste brasileiro em 84 anos não afeta apenas os reservatórios e matas dessas regiões. Direta e indiretamente, animais, plantas e insetos já estão sendo atingidos, seja na disponibilidade de alimentos, seja no comportamento reprodutivo, alertam especialistas. Em outras palavras, na relação entre os seres vivos, tudo está interligado de uma forma ou outra. Economia Outro cara Na ebulição de notícias sobre economia na semana passada, uma manchete provocou surpresa – e depois risos – no mercado financeiro: Roubini: Banco Central não deve elevar juros antes de setembro, possivelmente depois. Houve quem visse no título referência pejorativa ao presidente do BC, Alexandre Tombini. De verdade, era uma matéria com o economista americano Nouriel Roubini, que visitou São Paulo na quarta-feira 28. E o Banco Central em questão, o FED dos EUA. Internacional Pela paz Dois presidentes aproveitaram a III Cúpula de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, na Costa Rica, na semana passada, para fazer as pazes com a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Rafael Correa (Equador) e Otto Molina (Guatemala) foram ao tribunal assegurar que cumprirão ao pé da letra todas as determinações dos juízes, inclusive o pagamento de indenizações às famílias das vítimas, assassinadas por milícias paramilitares, defensoras de direitos humanos. Indústria Preço embaixo A quebra em abril da patente do Cialis resultará em nova e acirrada guerra no mercado de genéricos no Brasil. A Medley promete seu produto para disfunção erétil à base de Tadalafila 35% mais barato que o valor cobrado pela americana Eli Lilly, fabricante exclusiva do líder nesse segmento no País. O Cialis da Medley será o destaque dos dez novos remédios que a empresa colocará no mercado até junho. MG Será? Seguiu para as mãos do governador Fernando Pimentel dossiê sobre os salários da diretoria da Taesa. Trata-se de um dos maiores grupos privados do setor, mas sob gestão da Cemig. No documento são citados alguns gordos contracheques, gastos com cartões corporativos e consultorias não prioritárias. Pimentel pode acabar com os benefícios e exigir a devolução de despesas injustificáveis – ou, na linha pragmática do PT, deixar como está, apenas trocando os signatários que o governo mineiro tem o poder de indicar. Brasília “Mui amigos” Rodrigo Rollemberg enfrenta fogo amigo. As mais duras críticas aos cortes de gastos e aumento de impostos nas 21 ações anunciadas por ele, para recuperação econômica de Brasília, vêm de dois senadores de sua base aliada – Cristovam Buarque e José Reguffe, que inclusive deixou de concorrer nas eleições para apoiar Rollemberg. É a esquerda da esquerda em ação. Tênis Ele é carioca O espanhol Rafael Nadal, que quando esteve no Rio no ano passado fez questão de visitar o Cristo Redentor e o Maracanã, desta vez pediu à organização do Rio Open para conhecer o tradicional desfile das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí. Nove vezes campeão de Roland Garros, o tenista estará na cidade durante o Carnaval para defender de 16 a 22 de fevereiro o título do torneio carioca, o principal da América do Sul. Em 2014, venceu a final em cima do ucraniano Alexandr Dolgopolov. 3#2 LEONARDO ATTUCH - O BRASIL NO BANCO DOS RÉUS Se todas as empresas são suspeitas, não há cartel, mas sim uma falha sistêmica no capitalismo nacional. Nesta semana, em mais um dos capítulos da Operação Lava Jato, foram abertos inquéritos contra dez empreiteiras, que, a partir de agora, se somam às seis que já têm executivos presos no Paraná. Com isso, praticamente todos os grandes fornecedores da Petrobras foram colocados no bancos dos réus – o que demonstra como é frágil o rótulo de “cartel das empreiteiras”, colocado pelos investigadores que estão à frente da operação. Por definição, um cartel existe quando algumas empresas se unem para fixar preços e eliminar potenciais concorrentes. Isso ocorre, em geral, quando os mercados são dominados por oligopólios, ou seja, poucas empresas. Um “cartel de 16”, por uma questão de lógica, já não é mais um cartel, mas sim uma suruba institucionalizada, que atinge todas as empresas. Na prática, o reflexo de um capitalismo de estado, onde o público e o privado se misturam. Entre os 16 sócios desse suposto “clube” há, sim, quem seja vítima. Um dos erros da denúncia do Ministério Público é igualar todas as condutas, como se a empreiteira que paga propina quando é vítima de achaque fosse tão culpada quanto aquela que corrompe para não ser incomodada nos seus contratos superfaturados. Outro erro é conferir 100% de credibilidade a delações premiadas de empresários que se safam quando apontam o dedo para seus concorrentes – deduragens sobre as quais deveria haver um mínimo de pé atrás, por razões óbvias. Diante desse frenesi, são flagrantes os prejuízos para a economia nacional. Já há consultorias estimando que a Lava Jato poderá subtrair 1,5% do PIB brasileiro em 2015. Há também fornecedores demitindo, pedindo recuperação judicial e o quadro tende a se agravar agora que a Petrobras, carro-chefe da economia brasileira, anunciou um pouso forçado em todos os seus investimentos em exploração no ano de 2015. Num país carente de obras públicas como o Brasil, é também ultrajante a sugestão, que se ouve aqui e acolá, para que todas as empreiteiras atingidas sejam declaradas inidôneas, ficando, assim, impedidas de assinar novos contratos com a União. Como não sobraria nenhuma, isso significaria jogar por terra um dos maiores patrimônios do Brasil, que é a qualidade de sua engenharia, reconhecida internacionalmente, e abrir o mercado nacional a empresas estrangeiras, que também seriam corruptas num sistema corrupto por natureza. A única solução consistente para o problema revelado pela Lava Jato é proibir o financiamento privado de campanhas políticas, que é a raiz de todos esses escândalos. Mas como, numa democracia, a atividade dos partidos também precisa ser financiada, é ainda mais urgente votar a reforma política, com coragem para ampliar os recursos do fundo partidário. Sem isso, a Lava Jato servirá apenas para mais um auto-engano no combate à corrupção. 3#3 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Aos pés de Camila A próxima novela das nove, “Babilônia”, estreia em março, e logo o Brasil estará aos pés dela. Mas antes mesmo de Camila Pitanga surgir na telinha, a atriz já está literalmente com o pé no mercado publicitário. Por causa de sua personagem Regina, protagonista da trama de Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, Camila fechou contrato para estrelar a campanha de inverno 2015 da marca de sapatos Arezzo. Ao contrário de sua mocinha de ar simples, moradora de favela no Leme e vendedora de coco com pé na areia, Camila surge glamourosa e de salto alto pelas lentes do fotógrafo Gui Paganini. “Meu estilo é clássico. Mas sou geminiana e carioca. No dia a dia me visto num estilo hippie chic. Em festa é onde realizo meu fetiche por sapatos”, diz Camila. “Amo modelos arrojados e saltos de todos os tipos.” A direção criativa da campanha é de Giovanni Bianco, que, para seguir a estética anos 50 e 60 das imagens, propôs à Pitanga certas poses acrobáticas. O pedido foi atendido pela atriz, que até ficou dolorida após os cliques. “Camila é uma mulher charmosa, sexy, a cara do Brasil e a cara da marca”, disse Alexandre Birman, CEO do Grupo Arezzo. Lua de mel no Carnaval O casamento da ministra da Agricultura, Katia Abreu, é no domingo 1º, mas a lua de mel com o agrônomo Moisés Pinto Gomes só será no Carnaval, em local não divulgado. Diferentemente do polêmico look verde da posse da presidente Dilma Rous­seff, o vestido de noiva da ministra será discreto. “É simples, adequado, num tom off-white”, garante a estilista Wanda Borges. A ministra havia convidado Dilma para ser madrinha na cerimônia para 120 pessoas no Recanto das Águas, em Brasília. Mas acertaram depois que Dilma irá como convidada. A assessoria do ministério informou que não teria como a presidente estar no altar com seus nove seguranças. Bala Até o cacique São Paulo pode sofrer uma baixa esotérica na torcida pela chuva. A Fundação Cacique Cobra Coral, que afirma controlar as chuvas, deve ir embora do Brasil. A médium Adelaide Scritori está na Austrália e estuda ficar por lá após proposta de grupo mutinacional de agronegócios para segurar as tempestades na região. Mas e a crise da água no Cantareira? “Começamos uma operação no ano passado, mas o Alckmin nos dispensou dizendo que São Paulo não precisava da fundação. Só pedimos que ele não avançasse nas águas do rio Paraíba do Sul”, diz o porta-voz da entidade, Osmar Santos. Corpão de audiência Desde a estreia da minissérie “Felizes para Sempre?”, não se fala em outra coisa: a nudez e o corpão de Paolla Oliveira. Durante dois dias, as cenas quentes da atriz como Danny Bond, em especial aquela em que anda em direção a uma janela usando apenas uma calcinha fio dental, ficaram nos trending topics das redes sociais. Paolla declarou ter feito as cenas com naturalidade. “É da nossa vida a nudez, a sexualidade, a sensualidade”, resumiu. Se conselho fosse bom... Crises da Petrobras, OGX e Sabesp devem gerar fuga de notáveis dos conselhos de administração Com ações desabando, balanço omitindo corrupção, ­rating rebaixado, será difícil para a Petrobras voltar a ter nomes do cabedal de Jorge Gerdau em seu conselho de administração. Tampouco a Sabesp ou a OGX. Especialistas preveem uma fuga de notáveis dos conselhos. *** “O lado ruim é afastar gente muito boa que não quer se comprometer. O lado bom é que a responsabilidade e eficácia dos conselhos será mais cobrada. As pessoas vão pensar duas vezes antes de assumir um cargo assim”, acredita Leonardo Viegas, especialista em governança corporativa. *** A OGX, braço petroleiro de Eike Batista, tinha o ex-ministro da fazenda Pedro Malan e a ex-presidente do STF Ellen Gracie, em seus quadros, e não escapou do buraco. A Sabesp, protagonista da crise da água em São Paulo, tem no conselho o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. *** Para que servem, afinal, os conselhos? Como explicar o descalabro de empresas que em seus conselhos têm ou tiveram ministros, empresários top e até, como na Petrobras, a atual presidente da República Dilma Rousseff? Conselhos de administração são estruturas intermediárias, com membros escolhidos em assembleias de acionistas, com a função de direcionar e controlar o desempenho da diretoria executiva. Se a legislação for cumprida ao pé da letra, as responsabilidades dos conselheiros são iguais às da diretoria – inclusive sujeitos a bloqueio de bens. Na prática, diz Viegas, “há muitos conselhos pró-forma”. 3#4 ANTONIO CARLOS PRADO - SAIDEIRA DA SAÚDE A Justiça Federal faz a sua parte: aperta o cerco à propaganda na TV de bebidas com baixo teor alcoólico e com isso ajuda a combater doenças crônicas e a infecção pelo HIV. Duas monumentais e inéditas pesquisas no campo da saúde pública ligaram a sirene de emergência no País. A primeira veio do Programa Conjunto das Nações Unidas HIV/Aids. A segunda foi realizada pelo IBGE e Ministério da Saúde, é dotada de uma abrangência jamais vista no Brasil e teve a sua publicação efetivada em todo o território nacional. Em ambas o diagnóstico é aflitivo. Há, entretanto, uma excelente notícia que nos chegou ainda nos últimos dias do ano passado. Trata-se de um primeiro e eficaz passo que está sendo dado na área da profilaxia, e não por iniciativa da comunidade médica, mas, isso sim, a partir de providências do Ministério Público e do Tribunal Regional Federal da Quarta Região (compreende os Estados da região Sul). O remédio é amargo, mas faz bem aos indivíduos e à sociedade: tentar-se-á limitar em 2015, em todo o País, os horários em que emissoras de rádio e televisão poderão fazer propaganda de bebidas alcoólicas. Aquelas que contiverem mais de 0,5 grau de álcool (praticamente todas) só poderão ter seus anúncios veiculados entre nove horas da noite e seis horas da manhã. Mais: entre as nove e as 11 da noite só serão anunciadas em programas para maiores de 18 anos. Traz-se assim as bebidas de médio e baixo teor (vinho e cerveja, por exemplo) para o terreno das bebidas com pelo menos 13 graus Gay Lussac (todos os destilados). Por que tal medida é boa? Voltemos às duas pesquisas, e veremos. O estudo da ONU é terrificante: enquanto em todo o mundo o índice de novos casos de infecção pelo HIV retrocedeu 28%, aqui ele aumentou na casa dos 11%, colocando o Brasil como o país com a maior taxa de contaminação na América Latina. Com artigo de minha autoria intitulado “A dose a mais de HIV”, essa seção já mostrou que a causa prevalente da proliferação do HIV está na tibieza das campanhas que abordam a necessidade do sexo seguro sem veicular a informação de que a ingestão de bebida alcoólica é o principal fator de esquecimento do uso de preservativo – tal esquecimento é fruto do déficit na capacidade de crítica e julgamento provocado pelo álcool, que interfere na rede neural, sobretudo nos neurotransmissores Gaba A e glutamato. Relevante é informar que 0,1 miligrama de álcool por mililitro de sangue aumenta em 5% o riso de sexo não seguro. Na semana passada ao lançar a campanha preventiva para o Carnaval, o Ministério da Saúde admitiu que 45% dos brasileiros não usam camisinha nas relações casuais. A campanha, no entanto, é omissa quanto à bebida alcoólica. A segunda pesquisa impactante, feita pelo IBGE, vai direto ao ponto: quatro em cada dez brasileiros têm doença crônica, e entre elas estão diabetes, depressão, câncer e hipertensão, todas passíveis de serem causadas ou agravadas pela bebida. A cada quatro entrevistados, pelo menos um admite que dirige após ter bebido. E 50% começam a beber antes dos 17 anos. Em um país no qual a ocupação de leitos públicos psiquiátricos por alcoolistas chega a 80%, a Justiça fez o que o governo federal deveria ter feito há muito tempo – e ainda que a decisão seja reformada quando chegar à última instância de jurisdição, a largada dessa corrida pela vida é irreversível. O enrijecimento no horário de propaganda é intromissão na vida privada dos indivíduos? O argumento é anacrônico, e prova disso é que a quase tolerância zero ao tabagismo está funcionando: o número de fumantes despencou 25% entre 2008 e 2013, e ex-fumantes parabenizaram, na própria pesquisa, a legislação que os obrigou a apagar o cigarro. A lei seca no trânsito também é positiva e só irresponsáveis a ela se opõem. O Judiciário está fazendo a sua parte. Que em 2015 os legisladores tenham a coragem de seguir por esse caminho. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 3#5 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva Ainda faltam as provas contra os políticos Há uma grande expectativa nos meios políticos e jurídicos em relação às denúncias contra parlamentares e governadores atingidos pela Operação Lava Jato. Os delatores listaram mais de 30 autoridades como beneficiários de verbas desviadas da Petrobras. Até a semana passada, no entanto, nada se tornou público sobre o recebimento de dinheiro ilegal pelos acusados. No Congresso, predomina a avaliação de que doações eleitorais registradas no Tribunal Superior Eleitoral não serão consideradas crimes. Cem anos de perdão Nos bastidores do Congresso, parlamentares que acreditam na culpa dos políticos se surpreendem com os valores arrecadados por funcionários da Petrobras, caso do ex-gerente Pedro Barusco, que confessou ter recebido US$ 100 milhões. Os observadores avaliam que esses empregados enganaram quem os indicou e embolsaram mais do que o combinado. Ética, mas nem tanto Presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PSD-SP) quer ser reeleito. Mas suas chances são mínimas. No cargo ele fez três pedidos de cassação e um de suspensão. No momento em que o MP finaliza as denúncias, esse currículo atrapalha. Os parlamentares querem, na verdade, um engavetador. Eles querem espaço Deputados eleitos pela primeira vez reclamam do tamanho dos gabinetes. Para agradá-los, a direção da Câmara desativou um salão de beleza e um restaurante. Na semana passada, quando pediam votos, candidatos à presidência da Casa prometiam obras para ampliar os espaços. A fila parou de andar Na Controladoria-Geral da União (CGU), técnicos aguardam a liberação de 15 viagens para apurar processos em andamento. Também esperam autorização para duas novas auditorias em programas de governo. Para prosseguir, falta o aval do novo controlador, Valdir Simão. Atrás de dois empregos Indicado pelo PT do Pará e do Amapá, o ex-deputado Lourival de Freitas (AP) aguarda a nomeação para uma diretoria da Eletronorte. Ele é processado por improbidade administrativa e execução fiscal e, também, aciona a União na Justiça para obter um vínculo empregatício. Reunião tensa A conversa entre Renan Calheiros (AL) e Luiz Henrique (SC) sobre a eleição do presidente do Senado teve momentos de tensão. Renan sugeriu que o colega disputasse a candidatura na bancada. Henrique respondeu que não seguiria a orientação, pois disputaria em nome dos que o procuram “deprimidos” pela falta de alternância de poder para a vaga. Quinteto Dentro do PT, o grupo de ministros mais próximos de Dilma foi ironicamente apelidado de “quinteto”. São eles: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e José Eduardo Cardozo (Justiça). O mapa do lobby no BNDES O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contratou auditores externos para elaborar relatórios sobre pes­soas, empresas e consultorias que atuam junto aos diretores em busca de financiamento. Após o escândalo da Petrobras, o banco revisou seus mecanismos de controle interno e chegou à conclusão de que os relatórios de contabilidade não conseguem mapear o tráfico de influências, pois os lobbies ficam pulverizados entre os ocupantes de altos cargos. O objetivo do BNDES é monitorar a ação externa desses funcionários. Eles também passarão por análise da evolução patrimonial. O rombo do “puxadinho” O novo presidente da Câmara assume o cargo com uma dívida de R$ 21,2 milhões. Esse é o rombo deixado pelo antecessor, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), relativo à obra do Centro de Tecnologia Norte, um “puxadinho” planejado para abrigar o centro médico e a polícia. Problemas nos contratos com as empreiteiras impediram a conclusão do projeto, que já consumiu R$ 12 milhões. Toma lá, da cá Carlos Minc, deputado estadual pelo PT do Rio de Janeiro e ex-ministro do Meio Ambiente ISTOÉ – A que se devem as crises hídrica e energética? Minc – É uma combinação de fatores. Faltou planejamento, sem dúvida. Não estava no plano uma seca desse tamanho, mas não se pode atribuir a crise exclusivamente aos fenômenos da natureza. ISTOÉ – O que poderia ser feito? Minc – Falta educação ambiental agressiva. A irrigação gasta seis vezes mais água do que a população. A cobrança do uso da água também leva as empresas a mudarem o comportamento. ISTOÉ – E no setor da produção de energia? Minc – Na pasta de Minas e Energia é difícil o diálogo com o Meio Ambiente. Na minha gestão, projetamos a construção de um parque eólico, tiramos impostos dos equipamentos. Rápidas * O tesoureiro do PT, João Vaccari, quer impedir a eleição do metalúrgico Sérgio Nobre para a presidência da Central Única dos Trabalhadores. Nobre foi escolhido pelo sindicato de São Bernardo (SP), com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. * Se depender da vontade de João Vaccari, o atual presidente da CUT, Vagner Freitas, será reconduzido ao cargo. Assim como o tesoureiro petista, Freitas pertence à categoria dos bancários, adversários dos metalúrgicos nas disputas internas da central. * A crise na saúde do Distrito Federal, com atraso nos salários e falta de remédios nos hospitais, levou o governador Rodrigo Rollemberg a pedir ajuda à União. A falta de verbas para repor os estoques também atingiu o sistema prisional do DF. * Em outubro, os administradores solicitaram reposição do estoque de medicamentos para os presos, mas o dinheiro não chegou. Na semana passada, finalmente, o governo do Distrito Federal foi autorizado a comprar R$ 350 mil em remédios para as cadeias. Retrato falado Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu reagir contra as redes sociais. Ele anunciou na semana passada que vai processar Eduardo Jorge, candidato ao Planalto pelo PV no ano passado. Segundo Lulinha, Jorge afirmou no Tweeter que ele é um dos donos do Frigorífico Friboi. O político verde atribuiu a postagem ofensiva a um perfil falso. Aliados de Lula discordam e dizem que a mensagem existiu, mas foi apagada. “Estou chocado que alguém como Lula, que me conhece bem, possa ter me atribuído escrito brutal e vulgar” PMDB contra PRB O ministro da Pesca, Helder Barbalho, do PMDB, decidiu incomodar seu antecessor, Marcelo Crivella, do PRB. Primeiro, o novo titular exonerou dirigentes do PRB acomodados na pasta. Em outra ofensiva, Barbalho determinou que as superintendências apresentem o mapa de produção do setor e a lista dos beneficiários do seguro-defeso, benefício pago a pescadores durante o período de reprodução das espécies. Orientação da chefe Helder Barbalho tem na mesa denúncias de utilização política do seguro-defeso em dezenas de municípios. Ao passar o pente-fino nos cadastros, o ministro também agrada à chefe, a presidente Dilma Rousseff, que desde o ano passado aponta distorções na concessão do benefício. ________________________________________ 4# BRASIL 4.2.15 4#1 AS DIGITAIS DO TESOUREIRO 4#2 OBRAS PARADAS: O OUTRO LADO DA OPERAÇÃO LAVA JATO 4#3 O MUNDO MÁGICO DE DILMA 4#4 DNA TUCANO 4#5 GUERRA SANTA EM PARIS 4#1 AS DIGITAIS DO TESOUREIRO Investigações se aproximam de João Vaccari Neto a partir da inclusão da empreiteira Schahin no inquérito da Lava Jato. O petista seria o elo com a empresa suspeita de ter integrado o esquema de desvio de recursos da Petrobras para irrigar os cofres do PT Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) O CERCO SE FECHA - Ligação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com empreiteira investigada no esquema da Petrobras complica ainda mais sua situação Na terça-feira 27, a Polícia Federal abriu dez novos inquéritos contra empreiteiras citadas no Petrolão. São suspeitas de conluio em licitações e pagamento de propina a políticos e executivos. Dentre elas, atrai especialmente a atenção da força-tarefa da Operação Lava Jato o grupo Schahin. Fundado pelos imigrantes sírios Salim e Milton Taufic Schahin, o grupo se originou numa corretora de valores, evoluiu para empreendimentos imobiliários e hoje atua em todos os setores estratégicos da economia, como telecomunicações, produção e transmissão de energia, infraestrutura portuária e até exploração de petróleo do pré-sal. Uma das estrelas petistas mais próximas dos irmãos Schahin é o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que, agora, corre sério risco de virar réu na Justiça Federal do Paraná. Com base na recente delação do ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco e em depoimentos de outros investigados, como o ex-diretor internacional da estatal Nestor Cerveró, que foi preso no início do mês, a PF suspeita que o grupo Schahin tenha integrado o esquema de desvio de recursos da Petrobras e de outras obras públicas para encher os cofres do PT. Os contratos da Petrobras com o grupo empresarial preveem o arrrendamento de plataformas e navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. No total, a Schahin teria recebido US$ 15 bilhões pelos contratos. Indícios levantados pela PF sugerem que o dinheiro desviado percorreu uma rota internacional complexa, escoando por meio de mais de uma centena de contas bancárias distribuídas em quase 50 offshores em uma dezena de diferentes paraísos fiscais, como Panamá, Suíça, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Marshal, Cayman e Luxemburgo. “A engenharia financeira criada pelo grupo Schahin para os contratos com a Petrobras é uma espécie de cebola, com várias camadas até o seu núcleo. Para chegarmos aos verdadeiros controladores, precisamos descascá-la camada por camada”, afirma um dos delegados envolvidos na investigação. Só no Panamá, o grupo Schahin criou ao menos nove offshores. Uma delas é a Turasoria S.A., proprietária do navio-sonda SC Lancer, arrendado à Petrobras. No contrato social da Lancer, são indicados como sócios José Jannarelli, Lilian de Muschett e Kenji Otsuki. Em 2013, o nome de Muschett apareceu no escândalo envolvendo o premiê da Espanha, Mariano Rajoy. Ela figurava em empresas fantasmas criadas pelo ex-tesoureiro do PP espanhol Luis Bárcenas para lavar dinheiro de corrupção. Otsuki, por sua vez, já foi citado como “homem da propina do Banco Schahin” pelo corretor Lucio Bolonha Funaro, também citado no caso do mensalão. Em Dellaware, nos EUA, o grupo Schahin mantém outras duas offshores, a Soratu Drilling LLC e a Baerfield Drilling LLC, controladoras de outras sondas arrendadas à Petrobras. Extratos bancários, obtidos por ISTOÉ, revelam que essas empresas receberam recursos da conta nº 232222-04 que o Banco Schahin mantinha no Clariden, na Suíça. Em 2011, a entidade financeira foi vendida pelo grupo ao BMG. Posteriormente, uma investigação sigilosa do Banco Central apontou que a Schahin desviou US$ 110 milhões de contas dos clientes para o banco Clariden e que os recursos desapareceram. Agora, suspeita-se que o dinheiro foi usado para alavancar empréstimo de US$ 1 bilhão dos Schahin junto ao Deutsche Bank para o arrendamento dos navios-sonda para a Petrobras. ELES JÁ SABIAM Segundo o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco (acima), o tesoureiro do PT, João Vaccari, tinha uma boa relação com o grupo Schahin. Pivô do mensalão, Marcos Valério (abaixo) contou ao MP que um empréstimo de R$ 6 milhões Funaro, que possui uma antiga disputa judicial com o grupo Schahin, promete arrolar a Petrobras numa ação contra o grupo em Nova York. Na CPI que investigou a Petrobras em 2009, ele também denunciou a “relação umbilical” dos Schahin com Vaccari e os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef. A oposição tentou investigar o caso, mas não conseguiu. Na última Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar crimes contra a Petrobras, no ano passado, deputados do PPS e do PMDB mineiro apresentaram requerimentos para audiências sobre os contratos da Schahin com a estatal. Mas os requerimentos foram sumariamente engavetados pelos governistas. A blindagem sobre os negócios da Schahin também impediu que avançassem todas as tentativas de denúncias recentes, inclusive de gente ligada ao PT. No final de 2012, o publicitário Marcos Valério procurou um acordo tardio de delação premiada para tentar reduzir sua condenação no processo do mensalão. Ofereceu ao MPF denúncia-bomba de que a cúpula do PT teria recorrido a um empréstimo de R$ 6 milhões do Banco Schahin para comprar o silêncio de um empresário de Santo André que ameaçava envolver Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho na morte do ex-prefeito Celso Daniel. Segundo Valério, a ajuda de Schahin rendeu ao grupo os gordos contratos de arrendamento de sondas à Petrobras. Em abril do ano passado, para tentar preservar o mandato parlamentar e evitar a expulsão do PT, o então deputado federal André Vargas envolveu o nome da Schahin com o casal Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann em negociatas na hidrelétrica de Itaipu. Coincidência ou não, Gleisi foi tesoureira da usina e até dias atrás Vaccari tinha assento no conselho de administração. Além das sondas e plataformas, a Schahin também faturou com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras Mesmo execrado do partido e sem mandato, Vargas ainda guarda o que sabe para usar num eventual processo. Cerveró, por exemplo, entregou só uma ponta do iceberg de segredos da relação PT-Schahin-Petrobras. Contou que a estatal começou a negociar com a empresa a partir de 2006, para suprir a demanda por plataformas FPSOs e navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. Explicou que a primeira parceria foi firmada com a japonesa Mitsui e que a Schahin entrou como “investidora”. A PF e o MPF querem entender por que uma empresa líder mundial do setor precisaria se associar a um grupo brasileiro sem expertise e em situação financeira precária. A suspeita dos investigadores é de que a Schahin tenha entrado como intermediária para viabilizar o pagamento de propina ao PT. De 2006 até hoje, os contratos de arrendamento se multiplicaram. Em 2008, foram adquiridos dois navios-sonda, e outro no ano seguinte. Em 2011, a estatal arrendou mais duas plataformas e, em 2012, fechou negócio para mais três navios-sonda. A maioria desses contratos, obtidos por ISTOÉ, é remunerada por hora, mesmo quando os navios não estão em uso. Além das sondas e plataformas, a Schahin também faturou com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Esta obra foi citada pelo ex-gerente Pedro Barusco como exemplo da “boa relação” entre Vaccari e o grupo Schahin. Na delação premiada, Barusco revelou uma “troca de propinas” com o tesoureiro do PT. Disse que precisava receber um “crédito” dos Schahin pela obra do Cenpes e, como devia para Vaccari, resolveu fazer uma permuta, pela qual o tesoureiro herdaria a propina do ex-gerente. Procurada, a Schahin se limitou a responder que “desconhece os termos do noticiado inquérito”. 4#2 OBRAS PARADAS: O OUTRO LADO DA OPERAÇÃO LAVA JATO Investigações fragilizam empreiteiras e já provocam demissões em massa e paralisação de empreendimentos. Governo manifesta preocupação e reacende a discussão sobre a abertura de mercado às empresas estrangeiras Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br) PREJUÍZO - Obras da transposição do rio São Francisco estão paralisadas e tiveram o cronograma de entregas adiado As investigações da Operação Lava Jato chegaram a um ponto decisivo para o futuro das grandes obras e até para a economia brasileira. Na semana passada, tornou-se pública a divergência entre o governo federal e o juiz Sérgio Moro, de Curitiba, responsável pelo caso, em relação aos desdobramentos do escândalo da Petrobras. Estimulado pelo Palácio do Planalto, na quarta-feira 28, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu a preservação institucional das empreiteiras. “Que nós não criemos situações que atrapalhem a vida econômica dos brasileiros”, afirmou Cardozo, em entrevista coletiva, depois de fazer a ressalva de que as pessoas responsáveis pelos desvios bilionários da estatal devem ser punidas com o rigor da lei. No mesmo dia, Sérgio Moro demonstrou claro interesse em acabar com as relações entre as grandes empresas que tocam as obras e o poder público. “A única alternativa eficaz para afastar o risco de repetição dos crimes seria suspender os contratos”, afirmou o juiz em ofício enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). A medida pretendida pelo magistrado atingiria a União, Estados e Municípios. O governo tem razões para se preocupar com os efeitos da Lava Jato sobre as obras. Nos últimos dois meses, a Petrobras restringiu o pagamento dos aditivos dos contratos por suspeita de irregularidades e a consequência imediata foi a demissão de 12 mil trabalhadores de refinarias e estaleiros. Algumas obras da transposição do rio São Francisco estão paralisadas e tiveram o cronograma de entregas adiado. No total, a previsão de empresários do setor é que a Lava Jato traga um impacto negativo de pelo menos R$ 20 bilhões devido ao enfraquecimento das empresas. Nos últimos dez anos, as empreiteiras OAS, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, UTC e Odebrecht concentraram o domínio das grandes obras de infraestrutura. Essas gigantes funcionavam como uma espécie de apêndice dos ministérios de Integração Nacional, Cidades e Transportes. Calcula-se que empreguem mais de 300 mil pessoas. Agora, o esvaziamento de caixa das empresas atinge também os fornecedores. No estaleiro Paraguaçu, na Bahia, o número de empregados despencou de 4.200 para 840. “Mesmo assim, estão lá fazendo de conta, porque acabou a matéria-prima. Não pagaram os fornecedores. Nós percebemos que os consórcios estão querendo só provisionar recursos para as rescisões contratuais”, relata Irailson Warneaux, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada da Bahia. O setor do petróleo foi o primeiro a sentir os efeitos da Operação Lava Jato. Restrições nos pagamentos das obras da Refinaria Abreu e Lima (PE), do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e da indústria da Iesa em Charqueadas (RS) também levaram a milhares de demissões. De carona com a crise, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) reclama prejuízo de pelo menos R$ 200 milhões com a inadimplência gerada pela Lava Jato. No caso das PPPs, o problema mais urgente está em São Paulo, Estado que vive a pior crise hídrica dos últimos 80 anos. As obras do sistema São Lourenço estão a cargo da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez, ambas investigadas pela PF. O investimento previsto para o empreendimento é de R$ 2,1 bilhões. Com as maiores empreiteiras do País envolvidas na Lava Jato, governo e setor privado já enxergam como inevitável a chegada de concorrentes externos e começam a discutir internamente como se dará a abertura do mercado da construção civil. “O Brasil hoje cria obstáculos para o estrangeiro. É mais caro e burocrático. As grandes construtoras vão para o México ou a Colômbia. Mas há caminhos”, afirma um diretor de multinacional. Uma das estratégias do governo para abrir o mercado da construção civil seria aproximar as estrangeiras das empresas médias brasileiras. Assim, conferiria a elas mais musculatura financeira. Outras alternativas seriam facilitar o registro de engenheiros estrangeiros no País – hoje a dificuldade é grande – e reduzir os altos impostos para a importação de serviços e projetos. 4#3 O MUNDO MÁGICO DE DILMA Depois de 26 dias em silêncio, presidente faz malabarismos retóricos para camuflar as contradições entre as medidas adotadas nesse segundo mandato e o discurso de campanha e apresenta à população um Brasil da fantasia Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Passados 26 dias da posse, a presidente Dilma Rousseff interrompeu o silêncio na terça-feira 27. No discurso de 35 minutos proferido durante a abertura da primeira reunião ministerial do segundo mandato, na Granja do Torto, em Brasília, Dilma tentou construir a imagem de um Brasil próspero e cujos problemas são causados por fatores que, para ela, não guardam relação com os erros do seu governo. Mais uma vez, Dilma acabou mostrando um preocupante distanciamento da realidade – como se ela ainda estivesse encastelada no mundo mágico da campanha eleitoral, quando exibiu um país das maravilhas. A expectativa era a de encontrar uma Dilma mais pragmática, munida de argumentos técnicos capazes de tranquilizar uma população que assiste insegura à guinada empreendida pelo Planalto nos primeiros dias de governo, sobretudo na política macroeconômica, que implica cortes drásticos, inclusive nos gastos sociais. Mas, em vez de explicar os ajustes promovidos pela equipe econômica, entre os quais o aumento dos impostos, as decisões impopulares para tentar conter a inflação, a presidente manteve a toada da campanha ao apresentar um Brasil “de continuidade e mudanças” e atribuir o desequilíbrio nas contas do primeiro mandato ao efeito do que chamou de “dois choques”: queda no preço das commodities e alta dos alimentos, devido à seca. Ou seja, no País desenhado pela presidente, os problemas são poucos e decorrentes do cenário internacional. Dilma também fez uma ginástica verbal para negar o fosso profundo existente entre o governo que se inicia e o discurso da campanha. “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação sempre, permanentemente”, disse a presidente. “Vamos mostrar a cada cidadão que não alteramos um só milímetro o nosso compromisso com o projeto vencedor na eleição”, discursou. Dilma reconheceu a necessidade de resgatar a credibilidade da economia, mas atribuiu o desequilíbrio das contas do governo a fatores externos A despeito de ter finalmente reconhecido a necessidade da retomada da credibilidade da economia nacional, a indisfarçável irritação de Dilma com um funcionário que operava o monitor no qual lia o discurso deixou claro que as informações repassadas ali não lhe causavam qualquer conforto. “Podia passar mais rápido, por favor? ...”Bom, eu vou preferir ler, sabe?” Enquanto seguia à leitura do texto, a presidente dava declarações surpreendentes pela falta de senso crítico e versão distorcida apresentada, como quando garantiu ter combatido a inflação e jurou não ter mexido nos direitos trabalhistas, apesar da mudança já anunciada nas regras do seguro-desemprego. Sobre o escândalo da Petrobras, disse que a empresa “já vinha passando por um rigoroso processo de aprimoramento de gestão”. E completou: “Nunca um governo combateu com tamanha firmeza e obstinação a corrupção e a impunidade”. A realidade, no entanto, é cruel para a maior empresa do País. Um dia depois do discurso da presidente, a Petrobras contabilizou internamente que as perdas com corrupção, ineficiência, câmbio e petróleo causaram uma sobreavaliação de ativos de mais de R$ 88 bilhões na empresa. O valor equivale a 15% do patrimônio da estatal. INFANTARIA - A presidente Dilma Rousseff e sua equipe de ministros participaram, na Granja do Torto, em Brasília, da primeira reunião do segundo mandato. Ela quer que seus auxiliares rebatam as críticas das quais o governo é alvo neste início de ano A presidente também tentou vender uma versão rósea da realidade ao justificar o tarifaço, que vai aumentar o preço da gasolina, da energia e de impostos. Afirmou tratar-se de medidas de caráter “corretivo”, uma vez que, segundo ela, teve de segurar preços para proteger a população. Na verdade, seu discurso é uma tentativa de justificar as contas no vermelho acumuladas em seu primeiro mandato. O governo Dilma fechou 2014 com um rombo bilionário no caixa do Tesouro Nacional, com as despesas do governo com pessoal, programas sociais, despesas administrativas e investimentos superando as receitas de 2014 em R$ 17,2 bilhões. A proximidade da eleição subiu os gastos e a maior parte das despesas foi para manter a estrutura do próprio governo. No mundo de Dilma, seu governo controlou a inflação, adotou medidas para favorecer os negócios e o fez reduzindo a pobreza e garantindo empregos. Embora os fatos e os números a desmintam, ela pediu aos ministros para combater os boatos contrários. Para ela, os problemas residem nas notícias desfavoráveis e uma guerra de comunicação poderia abafar as falsas críticas à realidade do País. “Não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública”, conclamou. Terminado o encontro ministerial, ficou mesmo a certeza de que sorrisos e clima ameno ficaram restritos à foto oficial da reunião. O mundo mágico descrito por Dilma parece que não consegue convencer nem mesmo sua própria equipe.  4#4 DNA TUCANO Donos de grandes votações nos Estados, herdeiros de políticos tradicionais do PSDB assumem mandato na Câmara esta semana prometendo trilhar caminho próprio Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Irão debutar no tapete verde da Câmara, esta semana, quatro parlamentares que, além de cerrarem fileiras no mesmo partido, o PSDB, têm em comum o fato de carregarem sobrenomes tradicionais no tucanato. Para conquistarem uma cadeira no Parlamento, eles contaram na campanha eleitoral de 2014 com a portentosa estrutura partidária, nem sempre a serviço de todos os candidatos, e o fundamental apoio familiar. Como resultado, receberam uma grande votação em seus respectivos Estados. Agora, tentarão trilhar caminho próprio e dar continuidade ao legado político herdado. São eles, os deputados Arthur Virgílio Bisneto (AM), Bruno Covas (SP), Pedro Cunha Lima (PB) e Pedro Vilela (AL). Arthur Bisneto foi proporcionalmente o deputado federal mais bem votado do País. Para conquistar os mais de 250 mil votos, Bisneto recebeu a ajuda crucial de seu pai, Artur Virgílio Neto. Durante a campanha, o atual prefeito de Manaus e ex-líder da sigla no Senado tornou-se o principal cabo eleitoral do filho, marcando presença nos palanques e no horário eleitoral gratuito. “Meu maior professor é meu pai”, reconhece Bisneto. “O legado ajuda muito. Estou ciente da responsabilidade que carrego”, acrescentou. "Meu maior professor é meu pai. O legado é importante e estou ciente da responsabilidade que carrego” - Arthur Bisneto, filho de Arthur Virgílio, prefeito de Manaus Neto do ex-governador Mário Covas, Bruno Covas – dono de 350 mil votos – foi o deputado federal mais votado pelo PSDB em São Paulo. Apesar de não contar com a presença do avô, morto em 2001, na campanha, e já ter construído uma trajetória como parlamentar em São Paulo, Bruno admite que grande parte de seu eleitorado ainda é herança do ex-governador. “É evidente que Mário Covas é meu maior exemplo, portanto, ter o reconhecimento da população sobre o trabalho que realizamos, minha equipe e eu, é o jeito correto de reverenciar a memória dele”, disse Bruno à ISTOÉ. Seguindo a mesma toada dos herdeiros tucanos, Pedro Cunha Lima, 26 anos, filho do senador Cássio Cunha Lima e neto do falecido Ronaldo Cunha Lima, foi o candidato a deputado federal mais bem votado da Paraíba. Para eleger o filho com 180 mil votos, Cássio emprestou toda sua influência e força política. Durante a corrida eleitoral, pai e filho estiveram juntos, já que Cássio concorria ao governo mais uma vez. Apesar de derrotado no segundo turno, o senador aproveitou sua popularidade para alavancar a candidatura do filho. Em Alagoas, quem carregará a responsabilidade do sobrenome será o deputado Pedro Vilela. Neto de Teotônio Brandão Vilela e sobrinho de Teotônio Vilela Filho, ex-governador de Alagoas, Pedro foi eleito com quase 120 mil votos numa campanha em que não se furtou em sublinhar suas origens. Como os três colegas de partido, Vilela terá a missão de honrar o DNA tucano. PSDB NA VEIA - Os deputados Arthur Virgílio Bisneto, Bruno Covas, Pedro Cunha Lima e Pedro Vilela estreiam esta semana como deputados federais 4#5 GUERRA SANTA EM PARIS As lições da Noite de São Bartolomeu para o novo embate entre civilização e barbárie Por Delmo Moreira MACABRO - No quadro do pintor Vasari que enfeita a parede no Vaticano, líder religioso morto é jogado pela janela do prédio. Na verdade, o corpo já tinha sido decapitado quando isso aconteceu Em apenas um dia, cinco mil pessoas foram mortas em Paris. A tragédia começou depois de um líder religioso, conhecido como Coligny, ser alvejado por um atirador. Ele levou dois tiros quando voltava para casa após comparecer a uma repartição pública no dia 22 de agosto. As balas o atingiram num braço e em uma das mãos. Seus seguidores – minoritários na França, mas cada vez mais numerosos, influentes e vistos com suspeição pelos demais parisienses – atribuíram o atentado frustrado ao governo e organizaram manifestações clamando por justiça e jurando vingança. A administração francesa, representante da maioria religiosa do país, temeu uma rebelião e instigou a população “fiel” a reagir. O resultado foi um massacre sangrento jamais visto na cidade. Coligny tinha saído do Palácio do Louvre à tarde, tomando a movimentada rua de Poliens no rumo de casa. De uma esquina, surgiu o atirador que disparou e fugiu em meio à multidão. O líder religioso recusou atendimento nos hospitais de Paris e foi levado ferido à sua residência na rua de Berthisy, para onde logo acorreram seus mais eminentes irmãos de fé. Durante a noite, formou-se uma multidão que exigia a prisão do atirador, identificado como um agente oficial notório. Quando o dia raiou, os ânimos ainda estavam inflamados em torno da rua de Berthisy, e Paris havia sido contaminada pelo boato de que forças militares se colocavam em prontidão para reprimir os protestos da minoria religiosa. Perto de meia-noite, um grupo de policiais invadiu a casa de Coligny e o matou na cama. Centenas de parisienses seguidores da religião majoritária ocuparam a rua, pondo os manifestantes a correr. O corpo de Coligny, já sem cabeça, foi jogado pela janela, desabando no meio da turba. Queimado e arrastado pelas vielas do bairro, teve pedaços exibidos em diversos pontos da capital. Seguiu-se mais horror. Bandos enfurecidos apoderaram-se das ruas capturando e matando qualquer um que fosse identificado com a minoria religiosa. Na madrugada, casas foram invadidas e seus moradores, degolados. Corpos esquartejados eram jogados como lixo no rio Sena. As águas se avermelharam de sangue. Havia soldados misturados às hordas, mas a maioria das atrocidades, segundo testemunhas, veio pelas mãos de pessoas que normalmente se comportariam como cidadãos pacatos. Todos pareciam convencidos de participar de uma batalha decisiva entre Deus e o Diabo. Orléans, Lyon, Rouen, Toulouse, Bordeaux e outras cidades menores registraram cenas semelhantes, elevando para quase dez mil pessoas o número de mortos em todo o país. Foi uma guerra de cristãos contra protestantes. A jornada de barbáries, que entrou para a história como a Noite de São Bartolomeu, teve seu ápice em 24 de agosto de 1572, dia de homenagens ao santo católico. A cabeça de Gaspard de Coligny, chefe dos huguenotes, como eram chamados os protestantes franceses, foi embalsamada e despachada a Roma para admiração do papa. Gregório XIII demonstrou satisfação, encomendando ao célebre pintor Giorgio Vasari um afresco realista e macabro para adornar a Sala Régia do Vaticano. O rei católico Carlos IX participou de procissões de ação de graças por Paris e mandou cunhar duas medalhas comemorativas à Noite de São Bartolomeu. Numa, era representado como Hércules em combate contra a Hidra. Na outra, Carlos IX resplandecia em seu trono cercado de cadáveres despidos. Os conflitos entre católicos e protestantes na França se arrastariam por quase 30 anos. “Não há hostilidade que supere a hostilidade cristã”, escreveu o filósofo Michel de Montaigne (1533-1592). Este pensador cético, testemunha de tempos desesperançosos para qualquer idealismo humanitário, seria peça fundamental para desatar os nós do ódio religioso que dividia os franceses. “Para ele, a ideia de que a solução da crise política estivesse na oração e nos exercícios espirituais radicais não fazia sentido”, diz a escritora inglesa Sarah Bakewell, biógrafa do filósofo. Montaigne tornou-se companheiro de estrada dos politiques, designação pejorativa dada então aos pensadores que se distinguiam pela convicção de que as encrencas francesas não tinham nada a ver com as batalhas contra Satã ou a prepotência da correta interpretação da vontade divina. A raiva contra os politiques, preocupados exclusivamente com soluções políticas, “indiferentes à própria alma”, era a única coisa que aproximava católicos e huguenotes. Filósofo da vida que se leva, Montaigne lembrava aos contemporâneos, segundo Sarah Bakewell, a velha lição dos estoicos: “Evitar ser tragado por uma situação difícil, tentar imaginar o seu mundo de diferentes ângulos ou em diferentes escalas de significado”. Montaigne escrevia para os homens que, em épocas extremadas e sob intenso clima de paixões, colocam um pé atrás. Gente que, apesar do bruto cotidiano, precisa tocar a vida. Escrevia para a maior parte de nós, portanto. Sua receita para tempos conturbados era suspender juízos rápidos, buscar limites morais e afinar a desconfiança sobre a maldade praticada com ardor. Ao lado dos politiques, ele lutou para restabelecer a sensatez. Representou a França humanista em confronto com outra França que cultuava a escuridão. “Será de se espantar se daqui a 100 anos as pessoas lembrarem que em nossos dias houve guerras civis na França”, escreveu. Montaigne e seus parceiros acreditavam que o mundo poderia continuar avançando em ciclos de decadência e rejuvenescimento. Como se vê, não erraram. Mais de quatro séculos passados e superados outros tantos embates entre a barbárie e a civilização, as lembranças da Noite de São Bartolomeu ainda propiciam uma perspectiva que ajuda a dimensionar impasses. De novo, um atentado de motivações religiosas, sobre um fundo de tensão política, desigualdade social e preconceitos, faz ressurgir o lado obscurantista da velha Europa. A história mostra que nada é mais eficaz para liquidar direitos e acabar com ressalvas jurídicas tradicionais do que a dupla alegação de que um crime é inusitadamente ameaçador e que seus responsáveis têm excepcional poder de resistência. Os cartazes de “Je suis Charlie” foram carregados às praças tanto pelas mãos de libertários quanto de liberticidas. Eram erguidos pela turma do “Hebdo” que declarava querer vomitar em personalidades presentes às manifestações. Mas também estavam com os fascistas de Jean Marie Le Pen, que ainda aproveitam o medo para fomentar a xenofobia e o ódio. Hoje, se alguém levasse às ruas de Paris um cartaz com “Je suis politique” poderia acabar tomando uns safanões. Se carregasse outro com “Je suis Montaigne”, se arriscaria a fazer companhia a napoleões de sanatório. O mundo mudou em 400 anos, mas a esperança segue a mesma: que, mais uma vez, a França dos amigos de Montaigne nos salve da França que se enrosca nas trevas. ______________________________________ 5# COMPORTAMENTO 4.2.15 5#1 TODOS OS TONS DO EROTISMO 5#2 VIVENDO EM CLIMA EXTREMO 5#3 A GUERRA DA ÁGUA 5#4 BALAS PERDIDAS? 5#5 97 NOVAS DROGAS POR ANO 5#1 TODOS OS TONS DO EROTISMO Um dos filmes mais aguardados do ano, "Cinquenta Tons de Cinza", adaptação para o cinema do maior fenômeno literário recente, deve impulsionar o debate sobre a liberação sexual feminina e apimentar a vida de muitos casais Paula Rocha e Camila Brandalise Consultoras contam como a trilogia impulsionou o mercado erótico e mudou o comportamento sexual de muitas mulheres. SUPERPRODUÇÃO - Cena do filme "Cinquenta Tons de Cinza", que levará à tela grande a história do livro que seduziu milhões de mulheres em todo o mundo A enfermeira Lissandra Borba da Cunha, 43 anos, recebeu a indicação de uma amiga e ficou curiosa. Na época, só se falava naquele livro e ela resolveu conhecer a história que causava tanta polêmica. Inspirada pelas cenas quentes do romance, decidiu apimentar seu casamento de 21 anos com o advogado Aron Cunha, 48 anos, e começou uma dieta que a fez perder 20 quilos. “O livro despertou essa virada. Ao mesmo tempo que comecei a cuidar mais de mim, do meu corpo, passei a me sentir mais atraente e desejada”, diz. A obra que causou uma verdadeira revolução na vida dessa gaúcha, e de muitas outras mulheres pelo mundo, deve ganhar novo alcance e fôlego – desta vez nos cinemas. Com estreia mundial marcada para 12 de fevereiro, a adaptação para o cinema do maior fenômeno editorial recente, “Cinquenta Tons de Cinza” promete reacender o desejo de muitos casais, numa sociedade já superestimulada pela busca do prazer, impulsionar novamente o debate sobre a sexualidade feminina e movimentar a milionária indústria do sexo. ESTÍMULO - Para Lissandra, ao lado do marido, Aron, "Cinquenta Tons" a incitou a explorar a sexualidade, o que tornou o casal mais cúmplice “Cinquenta Tons de Cinza” já é um dos filmes mais comentados e aguardados dos últimos tempos. Cinquenta dias antes do lançamento do longa, fãs do livro faziam contagem regressiva nas redes sociais. Nos Estados Unidos, as vendas de bilhetes antecipados para a estreia bateram recordes históricos. Segundo o portal BoxOffice.com, que monitora a audiência dos cinemas americanos, US$ 60 milhões deve ser o faturamento do filme apenas no primeiro fim de semana de exibição nos Estados Unidos, valor superior aos US$ 40 milhões gastos nas filmagens. Especula-se que o estúdio Universal tenha desembolsado US$ 5 milhões pelos direitos cinematográficos da obra – maior valor registrado até hoje. Apesar de confirmarem o sucesso do livro, as cifras astronômicas em torno de “Cinquenta Tons” não devem gerar tanto debate quanto a mudança de comportamento impulsionada pela picante história de amor entre a jovem estudante Anastasia Steele e o alto, forte e bilionário Christian Grey, retratada nos três volumes da trilogia. “As mulheres que leram os livros agora vão levar os maridos e parceiros para assistir ao filme”, acredita a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello. “E isso deve abrir a possibilidade para que muitos casais experimentem e conversem mais sobre sexualidade”, diz. A explosão “Cinquenta Tons” começou a tomar as livrarias e a imaginação de muitas mulheres no começo de 2012. Até então, a britânica E.L. James, hoje com 51 anos, casada e mãe de dois filhos adolescentes, levava uma vida comum como produtora de uma estação de tevê. Foi sua paixão pela saga “Crepúsculo”, da americana Stephenie Meyer, que a fez começar a escrever “fan fictions” (histórias de ficção baseadas em personagens conhecidos). Uma dessas narrativas teve tanto sucesso que James foi convidada a publicá-la, desde que mudasse os nomes dos personagens. Nascia assim, despretensiosamente, um dos maiores fenômenos editoriais recentes. Em seis semanas, a obra vendeu 10 milhões de cópias – marca que “O Código da Vinci” levou um ano inteiro para conquistar. Hoje, a trilogia composta por “Cinquenta Tons de Cinza”, “Cinquenta Tons Mais Escuros” e “Cinquenta Tons de Liberdade” (todos publicados no Brasil pela Ed. Intrínseca) já contabiliza mais de 100 milhões de cópias, físicas e virtuais, vendidas em todo o mundo e traduzidas em mais de 51 idiomas. A razão para tão estrondoso êxito, segundo especialistas, é a mistura da história de amor clássica com passagens sexuais explícitas. “Trata-se de um conto de fadas com um tempero de submissão”, diz Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “É a história de uma mulher jovem, inexperiente e com baixa autoestima que desperta a paixão de um homem poderoso, bonito e seguro, mas que gosta de sadomasoquismo”, diz. As palmadas, chicotadas e provocações de Grey em Ana acenderam a libido feminina e fizeram florescer o filão de literatura erótica para mulheres. Desde o lançamento de “Cinquenta Tons”, pelo menos outros 20 títulos similares foram escritos. E essa onda não dá sinais de esgotamento, já que as leitoras continuam procurando esse tipo de romance. A estudante Isabella Sgobbi, 18 anos, começou a ler o primeiro livro da trilogia “Cinquenta Tons” escondida. E a paixão pela obra foi arrebatadora. “Em cerca de uma semana já tinha lido os três volumes, que depois reli quatro vezes”, diz. Para ela, a trilogia se aproxima das leitoras por não ser apenas mais um romance água com açúcar. “Tem, sim, uma história de amor, mas também relações sexuais, que é o que acontece em todos os relacionamentos. Acho mais real.” Além do meio literário, outro setor que se beneficia do sucesso acachapante de “Cinquenta Tons” é o mercado de produtos eróticos. Em várias cenas de sexo descritas nos livros, Grey e Ana usam uma série de brinquedos para adultos. São vibradores, bolas de pompoarismo, falos de vidro e, claro, chicotes e algemas, entre outros. Dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme) apontam que os itens de fetiche citados na série – caso das máscaras, algemas e chicotes, tiveram aumento de procura de 35% após o lançamento do primeiro livro. Tais acessórios, classificados como sadomasoquistas, pularam do nono lugar entre os dez mais vendidos no País em 2012 para o quinto lugar em 2014. A procura por fantasias e lingeries sensuais também subiu, pulando do quinto para o terceiro lugar. “Até o lançamento do livro, as vendas de artigos ‘sado’ estavam em baixa”, diz Paula Aguiar, presidente da Abeme. “Agora, com a estreia do filme, nossa expectativa é que a demanda aumente ainda mais.” A crescente busca por artigos eróticos demonstra uma mudança no comportamento sexual da brasileira, garantem especialistas. “Antes, não era hábito por aqui a mulher comprar esses produtos”, afirma a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo. “Liberar as fantasias através de filmes e brinquedos adultos era característica mais masculina”, afirma. A experiência da empresária Christiane Marcello, sócia-proprietária da butique sensual “Sophie”, em São Paulo, confirma essa tendência. “Até a década de 90, os homens eram os principais compradores em sex shops”, diz. “Agora, as mulheres são a maioria.” Segundo levantamento da Abeme, hoje as clientes do sexo feminino representam 65% dos consumidores das sex shops físicas e 60% das online. A agora consultora sexual Andissa Begiato, 30 anos, faz parte dessa nova leva de consumidoras de produtos eróticos. “Antes eu tinha pavor desses brinquedos”, diz. Casada há nove anos e grávida, ela sentia que a vida sexual não ia bem, mas também não tinha coragem de adotar práticas mais picantes na relação. Foi depois de ler “Cinquenta Tons” que decidiu comprar alguns apetrechos para esquentar o casamento. Géis de massagem, anel peniano e algemas foram as primeiras aquisições. A intimidade aumentou e o sexo foi ficando melhor. “Foi uma revolução no casamento”, reconhece. Impressionada com a transformação, ela decidiu se tornar uma consultora de produtos eróticos. “Hoje, meu objetivo é mostrar que sexo é bom, não precisamos ter vergonha, e o mundo das sex shops pode trazer vários benefícios”, diz. Esse fenômeno, no entanto, não é exclusivo das consumidoras brasileiras. Após o sucesso da trilogia, a corrida de mulheres a sex shops do mundo todo motivou a fabricante britânica Love Honey a criar, em parceria com E.L. James, a linha oficial de brinquedos eróticos de “Cinquenta Tons”. Todos os itens, em tons de preto e, claro, cinza, têm características iguais às dos usados por Ana sob o comando de Grey. Por aqui, a Loja do Prazer, maior sex shop do País, detém a exclusividade dos produtos. “Depois da divulgação do trailer, a procura pelos brinquedos oficiais cresceu muito”, diz Daniel Passos, presidente da Loja do Prazer. “E várias outras marcas entraram na onda, criando produtos similares.” O frenesi em torno do lançamento do filme também inspirou a grife de lingeries britânica Bluebella a lançar uma linha oficial, com peças que remetem ao universo BDSM (acrônimo para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). Até o famigerado “quarto vermelho da dor”, onde Grey realiza suas fantasias de dominação, motivou a criação de uma suíte especial no motel Classe A, em São Paulo. Decorado de forma fiel à descrição do livro, com paredes de veludo e um sofá de couro vermelho, o quarto é disputado por dois ou três casais por dia. “Tem gente que vem aqui só para usar essa suíte”, diz o empresário Robson Marinho. A maior liberdade para falar abertamente de sexo e de fantasia, e o acesso cada vez mais democrático à internet também estimularam muitas mulheres a acessar sites de conteúdo erótico. Segundo a pesquisa NetView, da Nielsen Ibope, do total de 15,5 milhões de brasileiros que navegaram em sites adultos em dezembro de 2014, 25% eram mulheres. A porcentagem é parecida com a da audiência do PornHub, maior portal de pornografia do mundo. Em um levantamento divulgado no dia 13 de janeiro a empresa afirmou que o Brasil é o país com a maior parcela de mulheres entre os visitantes do site. Aqui, 29% dos usuários do PornHub são do sexo feminino, enquanto nos Estados Unidos, país que detém o título de maior consumidor de pornografia do planeta, apenas 15% do público é composto por mulheres. A crescente procura feminina por filmes pornográficos fez surgir um novo filão, o pornô para mulheres. As diferenças para as produções tradicionais vão desde o elenco (nos filmes para elas, os atores e atrizes são mais bonitos) até os detalhes técnicos, como iluminação, cenografia e trilha sonora. As fantasias retratadas também são diferentes. “O convencional está cheio de clichês, como a enfermeira tarada ou a dona de casa desesperada, fetiches masculinos que não refletem os desejos das mulheres”, diz a premiada diretora sueca Erika Lust, que já dirigiu quatro longas do gênero. Erika não gosta da trilogia “50 Tons”, mas reconhece a relevância da obra para a conquista da liberdade sexual feminina. “A popularidade desse título tornou mais fácil para muitas mulheres descobrirem e aproveitarem o erotismo, os brinquedos eróticos e até a pornografia, o que é fantástico.” Para a psicanalista Regina Navarro Lins, autora de “O Livro do Amor Vol. 1 e 2” e “A Cama na Varanda”, a loucura de muitas mulheres pela trilogia “Cinquenta Tons” não significa que elas desejam ser submissas, pelo contrário. “O livro faz sucesso porque é excitante”, diz Regina. “E por conta do feminismo e da liberação sexual, as mulheres hoje podem escolher como querem viver o sexo, com muito prazer”, afirma. Já a sexóloga Carmita Abdo acredita que os homens também precisam responder às mudanças. E o filme pode intensificar essa necessidade. “Diante desse novo comportamento sexual feminino, eles podem ficar gratificados ou assustados”, diz. Aron, o marido da enfermeira Lissandra, do começo desta reportagem, reconhece com bom humor a nova rotina sexual do casal. “Certa vez, disse em tom de piada aos amigos que estava pensando em me esconder no banheiro para fugir das constantes investidas da minha mulher”, diz. Aguarde Lissandra depois do filme, Aron. 5#2 VIVENDO EM CLIMA EXTREMO Ameaça de nevasca histórica paralisa Nova York e o pior verão da história seca São Paulo. Em situações opostas, duas das maiores metrópoles do mundo sofrem as consequências do aquecimento global Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br) ALERTA - Trinta centímetros de neve em Nova York (abaixo) e reservatório totalmente seco em São Paulo Duas das maiores metrópoles do mundo têm vivido o efeito prático do aquecimento global. Em Nova York, pela primeira vez em 110 anos, as mais de 400 estações do metrô foram fechadas na noite da segunda-feira 26, e assim ficaram por todo o dia seguinte, sob a ameaça de uma tempestade de neve gigantesca. Naquele dia, a previsão era de que a maior cidade dos Estados Unidos enfrentaria a pior nevasca já registrada, o que não se concretizou. Enquanto no Hemisfério Norte foi montada uma operação de guerra para enfrentar neve e frio extremos, em São Paulo, a maior cidade do Hemisfério Sul, a população atravessa o mais tórrido verão da história, com uma sensação de calor nunca antes experimentada. Os extremos vividos por São Paulo e Nova York nos últimos dias são um bom exemplo das dificuldades que o mundo deve enfrentar nos próximos anos caso o avanço na emissão de gases estufa não seja contido e o planeta continue a ficar cada vez mais quente. Os cientistas ainda são reticentes em afirmar que fenômenos isolados, como a seca paulista, que anuncia o pior racionamento de água da história da cidade (leia reportagem na pág. 43), ou a ameaça de uma tempestade de neve histórica em Nova York, sejam resultado direto do aquecimento global. Mas o que nenhum climatologista tem dúvida é de que situações como as vividas por duas das maiores metrópoles do mundo se tornarão cada vez mais frequentes se o planeta continuar no processo de aquecimento em que se encontra. TRANSTORNO - A população de Nova York foi aconselhada a não sair às ruas: o transporte público não funcionou Em Nova York, as mudanças climáticas têm se manifestado por meio do aumento de tempestades, furacões e nevascas, tanto em quantidade quanto em força. Três das cinco maiores tempestades de neve da história da cidade aconteceram nos últimos 20 anos. A meganevasca acabou não acontecendo – a cidade foi atingida por menos de 30 centímetros de neve –, mas tanto estradas quanto comércio continuaram fechados durante toda a terça-feira 27, que não foi considerado um dia comercial pelos governantes. E a mítica Times Square, invariavelmente cheia de turistas, ficou praticamente vazia. “Eu prefiro estar em uma situação em que podemos dizer que demos sorte à outra em que não nos preparamos, não damos sorte e alguém morre”, declarou o governador Andrew Cuomo, que comandou a operação de emergência. Tanta preocupação teve um preço. Sem metrô e com as estradas fechadas, cerca de 3,9 milhões de pessoas que dependem do sistema de transporte público da cidade não puderam sair de suas casas, o que, segundo o jornal “The New York Times”, pode custar US$ 160 milhões (mais de R$ 410 milhões) em mão de obra. A brasileira Paula Bonfatti, que foi morar na cidade há seis meses para fazer mestrado em estudos urbanos na Universidade da Cidade de Nova York, conta que um dia antes da tempestade prevista as pessoas lotavam os supermercados, se preparando para os dias que ficariam presas em casa. “Recebi alertas de emergência quase de hora em hora pelo telefone, o que cria um sentimento de insegurança. As pessoas ficam mais atentas e estavam esperando pelo pior”, diz. Se os americanos enfrentam problemas pelo excesso de zelo dos governantes e pelo frio, São Paulo passa por uma crise oposta. No último dia 19, enquanto registrava a maior temperatura do verão e a sexta maior de sua história, 36,5ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a cidade era atingida por um apagão que afetou cerca de 11 Estados e o Distrito Federal durante a tarde, causado por um pico no consumo de energia que atingiu níveis recordes nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. O calor tem sido tão grande que os paulistanos buscam alívios em ventiladores e aparelhos de ar-condicionado, o que gera o aumento de consumo durante o dia. Uma pesquisa realizada pelo site de comparação de preços Zoom indica um aumento de 213% na procura por ventiladores e de 204% na busca por aparelhos de ar-condicionado nos primeiros 21 dias de janeiro, em comparação ao mesmo período de dezembro. E, em meio ao calor do asfalto, os moradores da capital paulista buscam se refrescar em parques e piscinas públicas. No começo de janeiro, a Nasa e a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (Noaa, da sigla em inglês), duas das maiores organizações de monitoramento climático do mundo, se juntaram à Agência Meteorológica Japonesa para determinar que 2014 foi o ano mais quente de que se tem notícia. Desde 1880, quando os registros começaram a ser feitos, a Terra apresentou um aumento de 0,8ºC em sua temperatura média. Parece pouco, mas não é. De acordo com os cientistas que estudam as mudanças climáticas, um aumento de 2°C na temperatura média do planeta seria uma catástrofe, com poucos precedentes para os seres humanos. Para o coordenador de mudanças climáticas e energia da ONG WWF no Brasil, André Nahur, o fenômeno tem a tendência global de aumento de temperatura, mas também favorece a formação de climas mais agudos. “Essas oscilações alteram como um todo a temperatura do planeta e causam fenômenos extremos, como nevascas mais fortes e tempestades perigosas”, afirma. Será necessário mais tempo e mais dados para estabelecer uma relação de causa e efeito entre o aquecimento global e as crises enfrentadas por duas das maiores cidades do mundo. Mas enquanto se discute as mudanças climáticas, o planeta esquenta. Tanto que Nasa e Noaa concordam que os dez anos mais quentes da história aconteceram desde 1998. 5#3 A GUERRA DA ÁGUA Falta de planejamento e má gestão dos governos estaduais empurram a região Sudeste para a maior crise hídrica da história, com risco de racionamentos severos Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br) CRISE - Moradores coletam água potável em caminhão-pipa: 46 milhões de pessoas no País são atingidas A luz vermelha se acendeu para o abastecimento de água na região Sudeste do País. São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais passam pela maior crise hídrica de sua história. A capital paulistana, em especial, está prestes a viver um cenário de escassez sem precedentes. O sistema Cantareira, um dos maiores produtores de água no mundo, responsável por abastecer a região da Grande São Paulo, opera com cerca de 5% de sua capacidade. Segundo especialistas, o nível das águas segue diminuindo 0,1% por dia. Com esses índices, a previsão é de que entre março e maio deste ano o sistema seque completamente, o que afetaria dramaticamente a rotina de mais de nove milhões de pessoas. A crise hídrica, no entanto, vem dando sinais de sua gravidade desde janeiro do ano passado, mas o governo de São Paulo não adotou medidas eficazes para melhorar a gestão do recurso no Estado. “Não há solução no curto prazo”, diz Antônio Carlos Zuffo, professor do departamento de recursos hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Campinas (Unicamp). “No início da crise, todos acreditaram que o volume de chuvas aumentaria e deixaram de pensar em alternativas para restringir o uso.” No pacote de medidas emergenciais, o diretor da Sabesp, Paulo Massato, afirmou que, se a situação piorar, um rodízio de cinco dias por semana sem água poderá ser adotado na maior cidade do País. O anúncio contrariou as declarações do governador do Estado, Geraldo Alckmin, de que não faltaria água em São Paulo. “O racionamento deveria ter sido feito gradualmente para atingir uma maior economia”, diz Zuffo. A falta de visão estratégica do governo estadual também se deu na elaboração das medidas paliativas, como o bônus criado para quem economizasse 20% ou mais de água em relação à média de consumo do ano anterior. “Um em cada quatro consumidores reduziu, mas um em cada quatro aumentou o consumo”, afirma Marussia Whately, coordenadora do projeto Água São Paulo, do Instituto Socioambiental. “Na verdade, a sobretaxa deveria ter sido adotada desde o início da campanha.” Somente em janeiro deste ano, a Sabesp foi autorizada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo a aplicar multa por excesso de consumo. Diante do agravamento da escassez, o governador paulista afirmou também que pretende usar a água da represa Billings para reduzir os impactos da seca. O problema, porém, é que ela está contaminada com grandes quantidades de lixo. Além disso, não há uma estação de tratamento com capacidade para tratar uma quantidade de água equivalente à vinda do Cantareira. “A água da Billings teria de ser mandada para a estação de tratamento do Alto do Tietê e seria fornecida no Estado não potável.” O recurso bruto poderia ser usado para lavar roupa, carros e calçadas. Para o consumo e para a higiene, a população teria de recorrer aos caminhões-pipa. “Em grandes metrópoles, seria uma dinâmica impraticável em função do trânsito e da frota insuficiente”, diz Zuffo. ESCASSEZ - Mulher recolhe água da rua em pleno centro de São Paulo: parte dos paulistanos já enfrenta dificuldades No Brasil, as perdas durante a distribuição agravam ainda mais o quadro de escassez e prejudicam 46 milhões de pessoas. Enquanto a média mundial de desperdício é de 15%, o País registrou em 2013 um índice de 37% em decorrência de registros defeituosos, vazamentos em hidrantes e ligações irregulares. No Rio de Janeiro, os reservatórios de Santa Branca e do Paraibuna que abastecem a bacia do rio Paraíba do Sul já atingiram o volume morto, quando a quantidade de água está abaixo da linha de captação do sistema. A previsão é de que os outros dois reservatórios no sistema do Rio, Jaguari e Funil, também diminuam nos próximos dias. Por enquanto, o governador Luiz Fernando Pezão minimizou a crise e descartou o racionamento. A realidade é a mesma em Minas Gerais, onde o governador Fernando Pimentel estuda medidas para adiar o rodízio. No Espírito Santo, a situação já afeta a indústria e a agricultura. Além do índice de chuvas abaixo da média, outros problemas influenciam a gestão dos recursos hídricos no País. Um relatório da Comissão Pastoral da Terra mostrou que, em 2013, o Brasil bateu recordes de conflitos por água. Foram 104 confrontos em decorrência de estiagens, da implantação de hidrelétricas, ação de mineradoras e de corrupção. “Não há preservação dos mananciais nem investimentos em mecanismos de preservação, o que resulta em um modelo de gestão falido”, diz Rubens Siqueira, coordenador do projeto de transposição de águas da Bacia do São Francisco. Uma das alternativas no longo prazo é a melhora no tratamento de água. “A falta de proteção nas áreas de captação gera a poluição e, com isso, as etapas do tratamento ficam mais caras”, afirma Jussara Cabral Cruz, presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos. 5#4 BALAS PERDIDAS? Depois da bem-sucedida implantação das UPPs, a violência volta a assustar o Rio de Janeiro, com a volta do crime organizado nas áreas onde o Estado não está presente Rogério Daflon (daflon@istoe.com.br) Não bastasse o aumento da criminalidade, e consequente insegurança, o primeiro mês do ano chega ao fim com uma estatística apavorante no Rio de Janeiro de uma vítima de bala perdida por dia. Até a sexta-feira 30, a região metropolitana contabilizou 31 pessoas atingidas – cinco delas morreram. O termo bala perdida foi criado pela imprensa carioca e adotado pela estatística oficial em 2007, a partir de um pedido do atual secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. Não à toa. O ano de 2007 se mantém com o pior índice, com 279 pessoas baleadas e 21 mortas. Em 2009, após a implementação da política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), o número de mortos foi quase três vezes menor, à semelhança do que ocorreu com outros crimes. Mas o aumento das balas perdidas em 2015, somado ao volume maior de crimes violentos e ações policias desastradas, põe em xeque a própria UPP, um projeto de sucesso na fase de implantação, e expõe a crise por que passa a segurança pública no Estado. O segundo passo das UPPs, que seria ocupar os morros com o Estado – escolas, espaços culturais, postos de saúde –, não veio e a criminalidade está se reorganizando. “A situação é delicada, porque melhorar os procedimentos da polícia comunitária é muito difícil numa situação tensa”, diz a antropóloga Alba Zaluar, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos. INSEGURANÇA - Acima, os pais do estudante Alex Schomaker, Andrei e Mausy - morto num assalto aos 23 anos - durante sua formatura póstuma na segunda-feira 26. Abaixo, cariocas se protegem de tiroteio Para Alba, a grande quantidade de balas perdidas tem relação direta com o recrudescimento dos confrontos armados entre traficantes e policiais, em áreas com UPPs como a Favela da Rocinha, na zona sul, e o Complexo do Alemão, na zona norte, e em outras partes da metrópole sem ocupação. Em entrevista à IstoÉ, o secretário José Mariano Beltrame disse que, numa crise aguda como essa, a pressão toda recai sobre a polícia, mas há outras ações a serem feitas. Dois anos após a primeira e bem-sucedida UPP do Morro Santa Marta, na zona sul, a chamada UPP social, administrada pela Prefeitura do Rio, anunciou que faria um trabalho com os jovens, a fim de evitar que eles fossem novamente cooptados pelo tráfico de drogas. “Se você perguntar para a UPP Social e até para o governo federal, eles vão dizer que fizeram um trabalho nesse sentido, mas nada que tivesse surtido o efeito desejado”, diz Beltrame. Segundo o secretário, governo do Estado e prefeitura não tiveram celeridade para implementar serviços públicos nas áreas ocupadas. “Falta velocidade dos outros setores do poder público no Rio. Quando se leva segurança para essas áreas, é para se garantir o ir e vir também do caminhão do lixo, do médico da família, da assistente social”, diz o secretário. "Falta velocidade dos outros setores do poder público no Rio" - José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Os pais do estudante Alex Schomaker, assassinado aos 23 anos com quatro tiros no dia 8 de janeiro, numa tentativa de assalto em Botafogo, na zona sul do Rio, consideram que o Estado está ausente. “O Estado matou meu filho. O lugar onde ele foi morto está sempre mal iluminado, sem poda de árvores, e isso tem sido reivindicado há muito tempo. A UPP criou uma falsa ilusão de segurança no Rio”, disse a mãe, Mausy Schomaker. O casal foi à formatura do filho na segunda-feira 26, que se formaria em ciências biológicas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fizeram questão de sentar nas fileiras reservadas aos formandos, pegar o certificado de conclusão de curso de Alex e ler uma carta para ele. A cerimônia, no Instituto de Biologia, se transformou em uma homenagem ao jovem, com um painel de fotos dele ao fundo. Num dos momentos mais emocionantes, todos cantaram e disseram: “Eu sou Alex”. A cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, diz que a indignação com a violência mostra que a indiferença da sociedade está diminuindo. Na visão do cientista político João Trajano, do Laboratório de Análise de Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o problema é que, nas UPPs, a lógica da política se sobrepõe à dos profissionais de segurança pública. “Em 2015, teremos 40 UPPs no Rio. Elas têm sido feitas de maneira intempestiva”, diz Trajano, ressaltando a hipótese de as UPPs promoverem a migração de bandidos para outras áreas da capital e da região metropolitana. 5#5 97 NOVAS DROGAS POR ANO Produção e uso de substâncias sintéticas crescem a números alarmantes. No Brasil, o usuário é do Sul e Sudeste, recém-saído da faculdade e de classe média alta Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) Apenas neste ano, uma droga sintética chamada PMA já levou três homens à morte na Inglaterra. A pílula com o símbolo do Super-Homem costuma ser vendida como ecstasy, mas é muito mais perigosa, pois pode elevar a temperatura do corpo até a morte. A facilidade do surgimento de novos laboratórios e do acesso às matérias-primas, na maioria dos casos, a anfetamina, tem feito a produção e o consumo dessas novas drogas sintéticas aumentarem drasticamente, como aponta estudo divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Em 2013, 97 substâncias novas foram identificadas. Mas o próprio órgão afirma que deve haver ainda mais drogas não catalogadas, bem como pequenos laboratórios onde são produzidas. “É dificil contar a produção mundialmente. Está fragmentada e os químicos estão muito disponíveis. É praticamente impossível erradicá-la”, afirma Nivio Nascimento, coordenador da Unidade de Estado de Direito do UNODC. Segundo a psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira para o Estudo do Álcool e outras Drogas (Abead), o Brasil já vem sendo alertado sobre a nova onda de drogas sintéticas há 15 anos, mas não se vê uma preocupação do governo em informar e pesquisar sobre essas substâncias. “Além de não se tocar no assunto como deveria, os anfetamínicos voltaram a ser liberados como controladores de apetite”, afirma. O perfil dos consumidores das sintéticas, segundo Ana Cecília, segue um padrão: são usadas no Sul e no Sudeste, por população com mais poder aquisitivo, pois, no geral, são mais caras que maconha, por exemplo. O consumo também é ligado à diversão, como festas e baladas, e os usuários, na maioria, são homens que saíram da universidade e estão começando a entrar no mercado de trabalho. Para Nivio Nascimento, do UNODC, o primeiro passo para controlar o avanço dessas drogas é, justamente, traçar o perfil dos produtores e usuários com mais precisão. “Sabemos que, depois da maconha, os estimulantes anfetamínicos são os mais conhecidos no mundo, até mais do que cocaína, mas é preciso mapear a demanda, saber quem consome e onde.” Há também a necessidade de conscientização sobre os efeitos dessas drogas. Levar informações aos usuários, bem como alertá-los de que há o risco de comprar uma droga por outra, é um começo para evitar tragédias. __________________________________________ 6# MEDICINA E BEM-ESTAR 4.2.15 A IDADE REAL DO SEU CORPO Pesquisadores noruegueses criam fórmula que calcula com precisão se o nível do condicionamento físico de cada um está adequado à idade cronológica - ou se está muito longe disso Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br) A editora de saúde Cilene Pereira mostra como calcular a idade real do corpo. RECEITA - Caroline alia exercícios e alimentos que aceleram o metabolismo para atrasar o desgaste do corpo Uma fórmula simples, rápida e disponível na internet (www.worldfitnesslevel.org) indica com precisão a idade real do corpo. Ela foi criada por pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e calcula o nível de condicionamento de cada um, revelando se ele está de acordo com o que se espera para a idade cronológica ou, ao contrário, se está bem distante disso. A informação é fundamental para que se possa ajustar o treino de forma que o indivíduo atinja o nível de Volume de Oxigênio Máximo (VO2max) adequado à sua idade e sexo. A taxa mostra a capacidade de absorção de mililitros de oxigênio por minuto em relação ao peso. Quanto melhor ela for, melhor o funcionamento metabólico do corpo e a força cardiovascular. No entanto, se o índice estiver abaixo da média, a idade biológica é maior do que a cronológica, evidenciando um grau de desgaste acima do esperado. Por essas razões, o VO2max hoje é considerado um dos mais importantes indicadores do risco para doenças cardiovasculares e de morte prematura. O teste dos noruegueses informa a taxa real de VO2 max e a recomendada para a faixa etária e aponta a diferença entre a idade cronológica e a biológica. Também indica quanto a VO2max deve subir para que seja reduzida a chance de morte por doenças cardíacas em 20 anos. A maneira mais eficaz de melhorar o índice é se exercitar. “É a forma mais adequada de mudar a idade biológica”, diz Ulrik Wisloff, líder da Universidade da Noruega. Outra forma de evitar o desgaste do corpo é cuidar para que o metabolismo funcione bem. “A partir da sua aceleração, é possível diminuir a idade biológica em dez a 15 anos”, explica o fisiologista Renato Alvarenga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A nutricionista carioca Fernanda Padovani indica o consumo de alimentos como canela e gengibre, conhecidos por sua atuação no metabolismo. A chef de cozinha Caroline Borges, 37 anos, alia exercício e alimentação para apresentar um ótimo nível de condicionamento físico. “Pratico esporte e tenho ajuda de uma nutricionista. Minha idade biológica é ótima.” ______________________________________ 7# ECONOMIA E NEGÓSIOS 4.2.15 SERÁ O FIM DA BARBIE? Concorrentes mais modernas e o aumento do interesse das crianças por produtos eletrônicos afetam as vendas da boneca que se tornou um símbolo universal Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) INOVADORA - A Barbie foi a primeira boneca com feições de mulher adulta e o primeiro brinquedo a fazer sucesso mundial A boneca Barbie sempre foi muito mais do que um brinquedo. Desde o seu lançamento, em 1959, ela coleciona uma série de marcos. Foi a primeira produzida em massa com feições de mulher adulta, o que escandalizou a sociedade conservadora da época. Na década de 60, em plena explosão do movimentou feminista, começou a ser vendida em diversas versões, como médica, executiva e até candidata à Presidência dos Estados Unidos. Assim, ajudou a forjar uma geração de meninas que, mais tarde, conquistariam espaço no mercado de trabalho. Depois, foi acusada de moldar um padrão de beleza (cabelos longos e loiros, seios grandes, cintura fina) que frustraria as expectativas das garotas. Do ponto de vista econômico, pode ser atribuída a ela a descoberta do mercado global de brinquedos, com a conquista de um público fiel em praticamente todos os países do mundo. Mais de 50 anos depois e com um saldo de quase um bilhão de bonecas vendidas desde então, a Barbie enfrenta a maior crise de sua história. Na semana passada, Bryan Stockton, o presidente da Mattel, a empresa que produz as bonecas, foi demitido graças ao pior resultado financeiro em muitos anos. As vendas da Barbie caíram 21% no quarto trimestre de 2014 e contribuíram para que a Mattel tivesse um lucro líquido 60% menor no ano passado. Será o começo do fim do brinquedo mais amado de todos os tempos? As dificuldades da Barbie começaram em 2001, quando outros produtos passaram a disputar a atenção das crianças. Naquele ano, a americana MGA lançou as bonecas Bratz, que tinham um visual mais descolado. Anos mais tarde a MGA voltou a ciscar no terreno da Mattel, quando apresentou as Moxie Girls. “O aumento da concorrência mudou o mercado de bonecas”, disse à ISTOÉ Chris Byrne, diretor de conteúdo para o TTPM, site americano especializado em análise do consumo de brinquedos. “Há uma necessidade constante de definir novos produtos para as crianças de 4 a 6 anos”, diz ele. Agora a maior ameaça é a princesa com superpoderes Elsa e sua irmã Anna, do filme “Frozen: uma Aventura Congelante”. O Natal de 2014 representou uma mudança história. Foi a primeira vez que a Barbie perdeu o posto de boneca mais vendida no período de festas. A ironia é que a licença de comercialização das bonecas do desenho “Frozen” pertence à própria Mattel. Além de prejudicar as vendas da Barbie, o sucesso de Elsa e Anna provou ser pouco rentável para a Mattel, que desembolsa royalties pesados para a Disney. Para especialistas, o futuro da Barbie é nebuloso. “As crianças brincaram com a Barbie durante uma geração inteira e agora não querem mais”, afirmou à ISTOÉ Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira das Fabricantes de Brinquedos. Batista, que na semana passada visitava a Spielwarenmesse, feira do setor que acontece em Nuremberg, na Alemanha, diz que por aqui a situação também é grave. “A empresa perde dinheiro no Brasil há mais de dez anos, principalmente por causa da sua não alteração de rota”, diz ele. Procurada pela reportagem, a Mattel não quis se pronunciar. CRISE - O presidente da Mattel Bryan Stockton caiu depois do anúncio do balanço financeiro: agora o Lego é o brinquedo mais vendido do mundo Outro empecilho para o sucesso do mercado de brinquedos é o aumento do interesse das crianças por eletrônicos. Dados da consultoria GFK Brasil mostram que a venda de brinquedos no País caiu 1,3% entre janeiro e novembro de 2014 em relação ao mesmo período do ano anterior. Enquanto isso, a de videogames avançou 13%. Tablets e smartphones, cada vez mais rotineiros na vida das crianças, também significam um perigo para o universo dos brinquedos. A Mattel vem investindo em novas frentes na tentativa de reparar os danos. Lançou filmes inspirados na boneca e curtas disponíveis na internet, como a série “Barbie: Life in the Dreamhouse”, exibida até hoje. As ações, no entanto, se revelaram insuficientes. No ano passado, a Mattel perdeu para a Lego o posto de maior empresa de brinquedos do mundo. O mérito da Lego é justamente a capacidade de conciliar brinquedos sólidos com plataformas digitais. Agora a aposta da Mattel é a Barbie super-heroína, que contará com um filme de animação a ser lançado ainda em 2015. Será que a loira cinquentona vai resistir? _________________________________________ 8# MUNDO 4.2.15 ESQUERDA À MODA GREGA Novo primeiro-ministro rejeita a política de austeridade imposta pela Comissão Europeia, se alia à direita acionalista e promete libertar o país do pesadelo econômico Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Passaram cinco anos desde que a dívida da Grécia saiu do controle e ameaçou contaminar boa parte da Europa com uma crise na zona do euro. O então primeiro-ministro ­George Papandreou pediu socorro aos agentes financeiros e fechou um resgate bilionário com a troika formada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e Comissão Europeia. Como contrapartida, Atenas deveria seguir com rigor as medidas de austeridade fiscal defendidas pela chanceler alemã, Angela Merkel. No auge da crise, em 2012, a Grécia quase abandonou a moeda única, mas o custo seria alto demais para o bloco europeu, sobretudo Berlim, e assim acabou seguindo com o plano. Até que, no domingo 25, os gregos foram às urnas e tiveram a chance de dar seu veredicto. O resultado foi claro: a receita que alia corte de gastos e benefícios e aumento de impostos fracassou. HISTÓRICO - O novo premiê, Alexis Tsipras (acima), e seus eleitores comemoram a vitória em Atenas, no domingo 25 (abaixo). Ele prometeu recuperar a soberania do país O grande vencedor das eleições foi o Syriza, partido que representa a esquerda radical e tem como principal bandeira a rejeição à austeridade. Sem gravata, como de costume, o novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, prometeu libertar o país da humilhação e recuperar sua soberania. Ele não diz isso por acaso. Nos últimos anos, a economia e o salário mínimo encolheram, enquanto o desemprego aumentou. A dívida pública também subiu. Para o economista Paul Krugman, o que aconteceu na Grécia desde 2010 foi um “pesadelo econômico e humano”. O Nobel afirma que, quando o acordo com a troika foi firmado, as projeções previam uma recessão passageira. Não foi. O Produto Interno Bruto (PIB) só voltou a crescer no fim do ano passado. “A extraordinária vitória do Syriza é uma rejeição às medidas impostas de fora do país”, afirma Vincenzo Scarpetta, analista político do instituto Open Europe, de Londres. “Nisso há um paradoxo. A maioria dos gregos quer continuar com o euro, mas eles discordam das regras atuais.” Além de aumentar o salário mínimo, oferecer acesso gratuito ao sistema de saúde e restabelecer a energia elétrica gratuita para 300 mil famílias, o que o Syriza propõe é renegociar os termos do resgate. Novo ministro das Finanças, o professor universitário Yanis Varoufakis quer relacionar o pagamento da dívida de 280 bilhões de euros ao crescimento nominal do PIB, baseado nas projeções do FMI e do BCE. “Em 2038, vencem os títulos dessa dívida e teremos pagado o que pudemos”, disse em entrevista ao jornal espanhol “El Mundo”. “O que não pudermos, não pagaremos.” Na primeira semana no poder, o novo governo suspendeu um programa de privatizações e recontratou funcionários públicos. Os bancos do país perderam um terço de seu valor. Ainda é uma incógnita saber até que ponto vai o radicalismo dessa esquerda à grega. “Tsipras envia mensagens contraditórias, que variam conforme a audiência”, disse à ISTOÉ Takis Pappas, professor da Universidade da Macedônia. Autor do livro “Populism and Crisis Politics in ­Greece” (“Populismo e Crise Política na Grécia”, numa tradução livre para o português), Pappas acredita que o novo primeiro-ministro será um pragmático. “Para ser radical, é preciso ter dinheiro no caixa ou a possibilidade de desvalorizar sua moeda”, afirma. “Na Grécia, nenhum dos dois caminhos existe.” As medidas defendidas pela chanceler alemã, Angela Merkel, não surtiram o efeito desejado. A economia encolheu e a dívida subiu Ainda que passageiro, o maior efeito da vitória do Syriza além das fronteiras da Grécia foi um impulso a legendas populares tão díspares quanto o Podemos, da esquerda espanhola, e a Frente Nacional, da direita francesa. “Estamos assistindo a uma grande aproximação das extremas na Europa inteira”, diz Elena Lazarou, professora da Fundação Getulio Vargas e pesquisadora da Fundação Helênica para Política Europeia e Externa, de Atenas. “Os opostos se atraem pela recusa à austeridade.” Foi exatamente o que aconteceu quando Tsipras anunciou que formaria uma coalizão com o partido de direita Gregos Independentes. Em outras questões, como a imigração e a separação entre Estado e Igreja, eles continuam em dissonância. Na cerimônia de posse, Tsipras, que é ateu, dispensou o juramento sobre a “Bíblia”. Se a esquerda pode empurrar a Grécia para fora do euro e eventualmente do bloco europeu, ninguém arrisca um palpite no momento. Mas o primeiro racha já ficou evidente – e não foi por causa dos empréstimos. Uma reunião de emergência com ministros da União Europeia definiria na quinta-feira 29, em Bruxelas, novas sanções econômicas à Rússia pelo conflito separatista no leste da Ucrânia. A favor de uma reaproximação com Moscou, a Grécia ameaçou quebrar o consenso entre os 28 Estados-membros, mas acabou voltando atrás. ______________________________________ 9# CULTURA 4.2.15 9#1 A ARTE IMITA A VIDA 9#2 EM CARTAZ – CINEMA - A NADA BREVE HISTÓRIA DE UM CIENTISTA 9#3 EM CARTAZ – CINEMA 2 - QUANDO O CINEMA FUGIU DE CASA 9#4 EM CARTAZ – LIVROS – O FANTÁSTICO J.J. VEIGA 9#5 EM CARTAZ – DVD - CHANCHADA ÀS AVESSAS 9#6 EM CARTAZ – CD - AC/DC GRAVADO E AO VIVO 9#7 EM CARTAZ – AGENDA - COMEDIANTE/ ATLÂNTICA/ PAPAGAIO 9#8 ARTES VISUAIS - NO PÃO DE AÇÚCAR DE CADA DIA 9#9 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - PAISAGEM ÚTIL 9#1 A ARTE IMITA A VIDA Personagem de Paulo Vilhena da novela "Império" empresta a experiência de pacientes com transtornos mentais que produzem pintura como tratamento e muitas vezes como única forma de se manter dentro da realidade Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) INSTÁVEL - Domingos Salvador, personagem de Paulo Vilhena da novela da Rede Globo Domingos Salvador é um esquizofrênico que em surto produz pinturas inacreditavelmente expressivas, que em muito lembram a força das telas de Vincent van Gogh. Fugitivo de uma instituição psiquiátrica, o personagem da novela das 21 horas da Rede Globo vivido por Paulo Vilhena tem sua pintura vendida por cifras altas em leilões, mas, como o pintor holandês, que morreu sem ser reconhecido, não tem a menor ideia do valor do seu talento. Domingos Salvador, o transtornado de “Império”, na verdade, está longe de ser um dos personagens que só existem na televisão. No mundo real, o casamento entre a expressão artística e os transtornos mentais não é algo tão excêntrico e raro como a ficção e os mitos da arte nos contam. Pintores com esquizofrenia e outros distúrbios mentais expõem e muitas vezes acabam vivendo de seus trabalhos, atividade que quase sempre entra em suas vidas como forma de tratamento de sintomas como surtos psicóticos, depressão e compulsões de toda natureza. ENTRE SURTOS - Badia de Araujo Mils (acima) que pinta quadros no estilo naif, e Ana Rute Gironda (abaixo) que cria abstrações quando não está em crise A aposentada Badia de Araujo Mils, 89 anos, sofre de depressão, ansiedade e compulsão e há 15 anos teve seu quadro agravado depois de uma queda que a deixou numa escuridão da qual só emergiu com a ajuda da pintura. “Pintar me ajuda muito, pois percebo que estou criando. Saio do mundo real, fica mais fácil aguentar o baque da vida. Ignoro a realidade e entro em uma fantasia que traz algo para o mundo”, diz ela, que adora Vincent van Gogh. “É o meu favorito.” Ana Rute Gironda, 66 anos, é outra paciente psiquiátrica que se apoia na pintura e usa suas telas como termômetros de seu estado mental. “Me preocupo muito com as escolhas das cores. Às vezes estou mal e pinto telas pretas. Preto e vermelho são sinais de que você não está com o espírito muito bom. Para mim cores pastel representam mais equilíbrio interior.” Ambas frequentam um grupo de apoio com orientação de médicos psiquiatras que acompanham o uso da pintura como tratamento. Em entrevista publicada no site de Aguinaldo Silva, autor da novela “O Império”, Vilhena conta ter se inspirado em figuras de destaque na cultura brasileira, como o artista Arthur Bispo do Rosário, que criou a maior parte de seu reconhecido trabalho entre muros de uma instituição manicomial. Para construir seu personagem, o ator visitou o Instituto Municipal Nise da Silveira, um dos mais antigos hospitais psiquiátricos do País, e lá conviveu com pacientes que o ajudaram a criar Domingos Salvador. Os quadros exibidos na novela foram pintados pela artista plástica Ana Durães. Ana emprestou as pinceladas de Van Gogh, o mais famoso dos transtornados da pintura, mas não só.“Me inspirei muito na arte bruta e no expressionismo, que têm carga material, velocidade e um peso na impressão que passa a tensão interna”, disse a pintora à Istoé. O ator estudou o gestual dos pacientes esquizofrênicos in loco, mas, de acordo com especialistas, está bem distante da realidade. “Como personagem de ficção funciona, mas o esquizofrênico na vida real não tem essa quantidade de tiques. Ao contrário, é mais comum que ele não tenha nenhuma expressão”, diz a psiquiatra Rita Cecília Reis Ferreira, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. “As pessoas tendem a achar que loucura produz arte, mas é a parte saudável da mente que cria. Ninguém consegue produzir durante um surto psicótico”, diz a especialista. A finalidade da arteterapia, segundo ela, não é a formação de artistas, mas às vezes isso acontece, o que ela só festeja. Para a médica, a pintura é mais eficiente que outras formas de expressão como ferramenta terapêutica. “A palavra passa pelo controle do pensamento, a imagem não. Isso favorece um acesso mais profundo dos seus conflitos interiores”, diz. Para a psiquiatra, a arte é uma forma de catarse, algo que proporciona a compreensão daquilo que o paciente sente. “Você possibilita que as pessoas tenham outra identidade além delas mesmas, uma identidade artística, além da pessoal”, diz. Esse sentido de algo exterior a si mesmo é o que permite uma ponte entre o esquizofrênico e o mundo externo e, portanto, uma possibilidade, ainda que remota, de recuperação. Pioneira Nascida em Maceió em 1905, a renomada psiquiatra Nise da Silveira foi discípula e amiga do psicanalista suíço Carl Jung, que chegou a visitar o Brasil para conhecer o trabalho de arteterapia pelo qual a colega trocou os choques elétricos e injeções de insulina, tratamentos correntes para transtornos mentais . Após passar um período na semiclandestinidade por sua afiliação ao comunismo, começou a trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II em 1944, onde estabeleceu ateliês de pintura e modelagem para os pacientes. O Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e pesquisa dedicado à preservação desses trabalhos, foi fundado por ela em 1952, e se tornou a primeira iniciativa desse tipo no País. Reconhecida internacionalmente por seu trabalho, Nise morreu em 1999, aos 94 anos. 9#2 EM CARTAZ – CINEMA - A NADA BREVE HISTÓRIA DE UM CIENTISTA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Físico mais popular do mundo desde Albert Einstein, o inglês Stephen Hawking tem a vida (e não a obra) exposta com vigor e delicadeza em “A Teoria de Tudo”. Com Eddie Redmayne no papel principal, o longa-metragem dirigido por James Marsh usa como base a autobiografia homônima escrita por Jane Wilde, primeira mulher de Hawking. O filme acompanha os altos e baixos da vida do casal desde 1963, quando eles se conheceram na universidade de Cambridge, pouco antes de o cientista ser diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica – doença que provoca a perda gradual dos movimentos –, até o lançamento de “Uma Breve História do Tempo”, livro de 1988 que o colocou no panteão da ciência moderna. Um dos favoritos entre os candidatos ao Oscar, concorre a cinco estatuetas: melhor filme, melhor ator para Redmayne e melhor atriz para Felicity Jones. + 5 filmes sobre grandes mentes da ciência Gênio Indomável Matt Damon vive o jovem servente que se descobre um gênio da matemática Mentes Que Brilham Jodie Foster dirige e atua no longa sobre menino com habilidades incríveis em arte e matemática Pi Matemático antissocial consegue prever os resultados da bolsa de valores Uma Mente Brilhante Longa de Ron Howard sobre a vida do matemático John Nash, esquizofrênico O Jogo da Imitação Filme de Morten Tyldum – indicado ao Oscar deste ano –, sobre cientista que quebrou códigos de guerra dos nazistas 9#3 EM CARTAZ – CINEMA 2 - QUANDO O CINEMA FUGIU DE CASA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O final da década de 1960 marcou um período transformador no cinema americano, quando a geração da contracultura passou a ocupar as telas, na lente de cineastas de peso como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. A mostra “Easy Riders – O Cinema da Nova Hollywood” traz um apanhado dos melhores filmes dessa época, como “Taxi Driver” e o próprio “Sem Destino”. A seleção fica em cartaz até 9 de fevereiro nas unidades do CCBB em São Paulo e Brasília e até 16 de fevereiro na do Rio de Janeiro. 9#4 EM CARTAZ – LIVROS – O FANTÁSTICO J.J. VEIGA Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Em comemoração aos 100 anos de nascimento de José J. Veiga, a Companhia das Letras está reeditando o catálogo do escritor goiano, considerado um dos principais autores do realismo fantástico no Brasil. Em edições com fotos, a primeira leva traz seu livro de estreia, o esgotado “Os Cavalinhos de Platiplanto”, coletânea de 12 contos publicada originalmente em 1959, e “A Hora dos Ruminantes”, de 1966, seu romance mais importante, no qual a rotina da pequena cidade de Manarairema é alterada quando um grupo de homens de origem desconhecida decide acampar no local. 9#5 EM CARTAZ – DVD - CHANCHADA ÀS AVESSAS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Dirigido por Rogério Sganzerla em 1970, logo após o sucesso nas bilheterias de “O Bandido da Luz Vermelha” e “A Mulher de Todos”, “Copacabana Mon Amour” nunca chegou a ser exibido nos cinemas. Espécie de homenagem às antigas chanchadas, mostra Helena Ignez como Sônia Silk, personagem que se prostitui com turistas no Rio de Janeiro, enquanto sonha em ser cantora da Rádio Nacional. O DVD da Versátil traz o filme em cópia restaurada e documentários e entrevistas entre os extras. 9#6 EM CARTAZ – CD - AC/DC GRAVADO E AO VIVO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Um bom AC/DC é aquele no mesmo estilo de sempre. Formada em 1973, a banda australiana mostra em “Rock or Bust”, o 15º álbum de inéditas, o arroz com feijão. É fazendo o simples, ou seja, só rock, que a trupe garante a festa. Como todo mortal uma vez na vida deveria viver a experiência de estar em um show do AC/DC, “Rock or Bust”, embora não atinja o patamar de clássico, merece ser sentido ao vivo. A turnê dele irá desembarcar no Brasil no final do ano. É um álbum com refrões contagiantes, com baixo pulsante e solos de Angus Young – seu irmão mais velho, o também guitarrista Malcolm, deixou o grupo no ano passado por problemas de saúde. É AC/DC, simples. 9#7 EM CARTAZ – AGENDA - COMEDIANTE/ ATLÂNTICA/ PAPAGAIO Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O Comediante (Teatro Raul Cortez – Fecomércio, em São Paulo, até 15 de março) Peça dirigida por Anderson Cunha, na qual o ator Ary Fontoura interpreta um ator que vive preso a lembranças do passado Atlântica Moderna: Purus e Negros – Ana Maria Tavares (Museu Vale, em Vila Velha, até 8 de março) Exposição que reúne esculturas, vídeos e peças sonoras da artista mineira, nas quais ela reverencia o trabalho de ícones da arquitetura modernista O Papagaio de Humboldt (Oi Futuro Flamengo, no Rio de Janeiro, até 29 de março) Instalação sonora em que 15 artistas latino-americanos recuperam línguas indígenas ameaçadas de extinção 9#8 ARTES VISUAIS - NO PÃO DE AÇÚCAR DE CADA DIA Museu de Arte do Rio abre com Marcos Chaves a primeira exposição comemorativa dos 450 anos da cidade por Paula Alzugaray Marcos Chaves – Paisagens não vistas/Museu de Arte do Rio (MAR), RJ/ até 31/5 PROBLEMA PICTÓRICO - Pão de Açúcar obstruído é tema frequente da obra de Marcos Chaves Em 1998, Marcos Chaves se apropriou do cartão-postal mais popular do Rio de Janeiro, a clássica vista do Pão de Açúcar e da enseada de Botafogo, e aplicou sobre ela a frase “Eu só vendo a vista”. Independentemente dos vários sentidos possíveis e agregados à frase inscrita na paisagem, com esse gesto o artista carioca evocava também a atitude que levou o francês Marcel Duchamp a, quase 100 anos atrás, pintar um bigode em uma reprodução da Mona Lisa. Tão pop quanto a obra-prima de Da Vinci, o Pão de Açúcar permeia e pontua toda a trajetória de Marcos Chaves. A versão em vídeo de “Eu só vendo a vista” funciona como um emblema da mostra “Marcos Chaves – Paisagens Não Vistas”, em cartaz no Museu de Arte do Rio (MAR) até 31 de maio. Posicionada na entrada da exposição, ela expõe a ironia e a perspicácia de uma obra tecida a partir da desconstrução de clichês. “Marcos Chaves mostra o lado B da paisagem”, diz a curadora Ligia Canongia. “Ele traz uma paisagem ferida pelos acidentes e permeada por um nonsense que está ao nosso lado todos os dias.” A exposição mostra um resumo da obra de Chaves, dos anos 1990 até hoje, por meio de seu olhar sobre a paisagem cotidiana carioca. Entre os trabalhos, há três séries já conhecidas do público que acompanha sua trajetória, “Buracos”, “Próteses” e “Sugar Loafer”. Os “acidentes” descritos por Ligia Canongia são evidentes na série fotográfica em que Chaves documenta a graça e a destreza de estruturas improvisadas pela população para sinalizar buracos abertos no meio da rua. Estão também nas “Próteses”, que atentam para uma cidade fraturada e remendada. Mas os acidentes podem ainda ser percebidos na forma como a vista do Pão de Açúcar, a “pedra fundamental” da cidade, é frequentemente obstruída por objetos, nas fotografias da série “Sugar Loafer”. “Desde Taunay e Timóteo da Costa, o Pão de Açúcar é um problema pictórico antigo do Rio de Janeiro”, diz Paulo Herkenhoff, diretor artístico do MAR. “Assim como acontece nas pinturas de Guignard, nas paisagens de Marcos Chaves nós estamos sempre vendo através de grades, anteparos”, diz ele. De fato, sob a ótica de Chaves, as pedras monumentais do Rio perdem um pouco de sua grandeza e emprestam protagonismo para a espontaneidade escultórica de pequenos empilhamentos e agrupamentos de objetos das ruas. A qualidade desse olhar é, segundo Herkenhoff, “tomar as coisas mais simples e dar a elas a dimensão de um mundo”. ACIDENTES - Acima, imagem da série "Buracos" mostra improvisos urbanos. Abaixo, fotografia da série "Próteses" mostra cidade fraturada 9#9 ARTES VISUAIS – ROTEIROS - PAISAGEM ÚTIL Horizonte Viajante/Casa Triângulo - São Paulo/ de 5/2 até 28/3 por Paula Alzugaray Muito comuns até o início dos anos 1990, fachadas de cinemas, teatros e salas de espetáculos costumavam trazer anúncios com imagens pintadas à mão. Produzidas individualmente, eram o oposto dos atuais cartazes padronizados – feitos em massa através de programas de design gráfico – e invariavelmente contavam com cores berrantes e eventuais erros de tamanho e proporção. Na exposição “Horizonte Viajante”, a artista paulista Vânia Mignone faz uma espécie de homenagem a essas antigas fachadas, mas isentando-as de qualquer nostalgia. Através do uso de cores primárias, ela trabalha com elementos de imagens publicitárias, letreiros e placas de sinalização, remetendo ao sentido de urgência presente em todos eles. O próprio nome da mostra vem da ideia de que não somos nós que passeamos pelas paisagens urbanas, mas o horizonte, sempre aberto e indefinido, que “viaja” através de anúncios em transformação e movimento. Formada em artes e publicidade, Vânia já travou outros diálogos com a poesia visual e a tradição concretista antes. Expostos na Casa Triângulo, em São Paulo, seus trabalhos incorporam recortes, colagens e dobraduras, e fazem referências a diferentes mídias, como cinema, fotografia e quadrinhos. Ao trabalhar com xilogravuras, ela usa tinta acrílica no lugar de material de impressão durante a produção. Como suporte, papel de livros de sebo, fazendo com que as pinturas mantenham as ondulações, resquícios do material de origem. Daniel Solyszko _______________________________________ 10# A SEMANA 4.2.15 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "AUSCHWITZ, NUNCA MAIS" Seis milhões de judeus morreram sob os chuveiros de gás dos campos de concentração nazistas nos seis anos que durou a Segunda Guerra Mundial. Para se ter ideia do que foi o campo de Auschwitz, somente nele um milhão e 100 mil pessoas foram assassinadas. Na terça-feira 27 comemoraram-se os 70 anos da libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas. Ao lado de diversos chefes de Estado, 300 sobreviventes estiveram no antigo campo com o idêntico temor: o recrudescimento do sentimento antissemita. “Estamos velhos. Talvez essa seja a última vez que nossas vozes são ouvidas no alerta ao antissemitismo”, disse um dos sobreviventes de 89 anos. Sua referência aos recentes atentados em Paris faz sentido porque é impossível a um sobrevivente de Auschwitz não tê-los em mente quando pisa hoje o chão de seu inferno do passado. "A CBF TEM MUITO A APRENDER COM A FABIANA DO VÔLEI" É lamentável que a CBF não pretenda denunciar o jogador uruguaio Facundo Castro, que na terça-feira 27 chamou de “macaco” o meio-campista brasileiro Marcos Guilherme (5 vezes) no jogo de abertura do Sul-Americano Sub-20. Na mesma terça-feira a jogadora de vôlei Fabiana Claudino, da equipe do Sesi paulista e da seleção brasileira, foi igualmente chamada de “macaca” por um torcedor na partida contra o Minas Tênis Clube. A manifestação de protesto de Fabiana é a mais lúcida e corajosa que se ouviu até hoje no País por parte de atleta ofendido por racismo. “A esse senhor que me ofendeu, lamento profundamente que ache que as chicotadas que nossos antepassados levaram há séculos não serviram hoje para que nunca mais se subjulgue à mão pesada de qualquer outra cor de pele. Basta de ódio. Chega de intolerância”. A CBF poderia seguir o exemplo dos diretores do Minas: os árbitros não ouviram as ofensas, mas isso não impediu que eles levassem o ofensor à delegacia. "DOIS TANQUES DE GUERRA SÃO ENCONTRADOS EM "DESMANCHE" DE CARROS " Aquilo que era para ser uma operação de rotina da polícia de São Paulo se tornou notícia em todo o País – afinal não é todo dia que se encontram dois tanques de guerra em meio a produtos roubados. Na zona sul da cidade, PMs foram a um galpão após a denúncia de que ali funcionava um “desmanche”. Encontraram 500 televisores LCD de 42 polegadas e dois contêineres com peças de carros. O grande detalhe (literalmente grande) é que se depararam também com dois tanques que pertenceram ao Exército, sem os mecanismos que permitem acioná-los belicamente. Um dos tanques teve a sua “lataria” vendida pelas Forças Armadas em 2001, e a venda está devidamente documentada. O segundo pertence à massa falida da empresa Engesa. Os nomes dos compradores foram mantidos em sigilo. "NADA DEFINITIVO SOBRE A MORTE DE EDUARDO CAMPOS" O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou ofi cialmente na semana passada o relatório parcial sobre a queda do avião que matou em agosto passado o então candidato à Presidência da República Eduardo Campos e outras seis pessoas. As investigações concluíram que o piloto fez um “trajeto diferente do determinado na carta de voo para a tentativa de pouso e arremetida na Base Aérea da cidade de Santos, no litoral paulista (o trajeto feito pelo piloto é a linha vermelha; a trajetória recomendada é a linha preta). O relatório não atribui o acidente, no entanto, a falhas do piloto. “Ainda é cedo para apontar as causas do acidente”, declararam militares envolvidos na investigação. "A DESASTRADA BALADA DE CRISTINA" É no mínimo caótica a situação da Argentina após a misteriosa morte do promotor Alberto Nisman que denunciou a presidente Cristina Kirchner – ela teria acobertado os autores do atentado à associação judaica Amia que matou 85 pessoas em 1994. Na semana passada a população foi às ruas de Buenos Aires. Houve comoção e revolta pela morte de Nisman, houve indignação porque o jornalista que primeiro noticiou o falecimento teve de deixar o País, já que estaria sendo ameaçado, houve perplexidade diante do gesto de Cristina de dissolver todo o serviço de inteligência criando um novo órgão para cuidar dessa atividade. É bastante viável a tese de que a presidente quer concentrar em seu gabinete todas as investigações para poupar aliados e punir desafetos. “42 MIL JOVENS MORRERÃO NO PAÍS ATÉ 2019" Estudo desenvolvido conjuntamente pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Unicef e Uerj traçam um futuro sombrio para a juventude do País. Estima-se que, até 2019, pelo menos 42 mil adolescentes e jovens entre 12 e 18 anos serão assassinados nas cidades com mais de cem mil habitantes. O homicídio responde por cerca de 40% entre as causas de morte de adolescentes. Risco Nordeste: a maior incidência de morte violenta entre adolescentes está na região nordeste: 5,97 a cada mil habitantes. No Sudeste esse índice cai para 2,25 jovens a cada mil habitantes. "GAROTO DE SERGIPE CURSA MEDICINA COM 14 ANOS" Os cerca de 94 mil habitantes da cidade sergipana de Itabaiana estão orgulhosos de um conterrâneo: José Victor Menezes Teles, que com apenas 14 anos de idade passou no vestibular para medicina na Universidade Federal de Sergipe. Como está ainda no primeiro ano do ensino médio (escola pública), José Victor teve de ir à Justiça para garantir o seu direito de iniciar já o curso superior. Foi determinado que ele realizasse um exame de proeficiência. Feito o teste, José Victor se viu aprovado e recebeu o certificado de conclusão do curso médio. Agora ele poderá fazer medicina em 2015. No ano passado o adolescente foi medalhista na Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas. "MULTA DE R$ 5 MILHÕES PARA MARTA SUPLICY" A ex-prefeita de São Paulo e senadora Marta Suplicy foi condenada pelo Tribunal de Justiça paulista a pagamento de multa no valor de R$ 5 milhões por uso de verba pública em propaganda irregular do Centro Educacional Unificado (CEU) – o programa foi implantado em sua gestão na prefeitura paulistana entre 2001 e 2004. O deputado José Américo, também do PT, foi igualmente condenado. Ambos recorrerão da sentença. "REUNIÃO FAMILIAR NA CASA DO DEPUTADO JOÃO LYRA TERIA ACABADO EM BRIGA - E NA DELEGACIA" Uma reunião de família na casa do deputado federal João Lyra, em Maceió, teria acabado na polícia. De acordo com a imprensa, eis os fatos ocorridos na semana passada: - Ao chegar à residência do parlamentar, João Toledo teria encontrado a sua mulher desacordada – ela é Lourdinha Lyra, ex-prefeita e filha do deputado; - Em seguida, chegou o filho do casal João Toledo e Lourdinha, e concluíram que Antonio Carlos Kotovicz, enteadodo deputado, é quem a teria agredido; - João Toledo, o filho e Lourdinha, já recuperada, teriam partido para cima de Kotovicz e o agredido também,chegando a ameaçá-lo de morte; - João Lyra e Kotovicz deram queixa à polícia. "PARA OPINAR SOBRE O MARCO CIVIL" Quem quiser participar da regulamentação do Marco Civil da Internet poderá fazê-lo pelos próximos 30 dias. O governo federal lançou uma plataforma digital que permite a discussão dos pontos mais polêmicos e ainda sem regulamentação do texto que entrou em vigor em junho de 2014. A consulta pública será dividida em três eixos: neutralidade da rede; guarda de registros de conexão à rede ou de acesso a serviços e aplicativos; e privacidade dos cidadãos. O site para discussão pública é www.marcocivil.mj.gov.br. Os comentários serão utilizados pelo governo para embasar o futuro decreto presidencial. "BRASIL TEM O QUARTO MAIOR MERCADO INTERNO" Apesar da retração de 6,9% no número de carros novos emplacados em 2014, o Brasil continua a ter o quarto maior mercado interno, se comparado a outros países, com cerca de 3,4 milhões de automóveis vendidos. Os dados são da consultoria Jato Dynamics e foram divulgados na quarta-feira 28. A China é líder mundial em merca do interno: 21 milhões de unidades vendidas Os EUA seguem na segunda posição: 16,5 milhões O Japão está em terceiro lugar: 5,5 milhões de carros comercializados. "A PRIMEIRA-DAMA (NÃO OFICIAL) DO TEATRO BRASILEIRO" Olhando-se dos dias de hoje torna-se tola a rivalidade que a crítica teatral estabelecera entre Maria Della Costa, a atriz gaúcha que viera da roça, e Cacilda Becker, legítima representante da elite paulista. A crítica, o público, o Brasil e o mundo dividiam-se naquele pós-guerra entre “engajados” e “alienados”. No Rio de Janeiro, Maria Della Costa tentava fazer o Brasil pensar com seu Teatro Popular de Arte, fundado em 1948. Seis anos depois, o grupo instalou-se em São Paulo e rivalizou por duas décadas com o Teatro Brasileiro de Comédia liderado por Cacilda. Quem fazia o melhor teatro era a “politizada” Maria Della Costa ou a “alienada” Cacilda Becker? A discussão hoje é sem sentido. Ambas foram primeiras-damas do teatro brasileiro, embora o título oficial tenha sido dado a Cacilda. Com Maria, que morreu aos 89 anos, no sábado 24, de edema pulmonar, o teatro brasileiro tornou-se moderno na dramaturgia. E colocou em cena a coragem de lutar por um mundo democrático. "22 CIDADES PAULISTAS" 22 cidades paulistas não registram há 14 anos nenhum homicídio. Como não são municípios que tenham policiamento ostensivo, e diversos deles acolhem turistas, procura-se ainda uma explicação para isso. Entre esses oásis no mapa de assassinatos estão, por exemplo, Águas de São Pedro, Bento de Abreu e Presidente Alves. O estado de São Paulo engloba 645 municípios. "E OS 252 JOVENS QUEIMADOS DA BOATE KISS?" Causou revolta a festa que a casa noturna Muzeo Pub deu na terça-feira 27, quando completou dois anos a tragédia que matou sufocados 252 jovens no incêndio da boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria. O dono da casa disse que ela se prestou a conscientizar as pessoas a só frequentarem locais em que as regras de segurança estejam dentro da lei. A intenção pode ter sido boa, mas foi de mau gosto. Em vez dos 50 frequentadores da festa, Santa Maria inteira teria lotado as ruas se tivesse sido chamada a protestar contra a morosidade das autoridades que cuidam do caso. Até agora apenas dois donos da Kiss e dois músicos da banda que naquela fatídica noite se apresentava foram indiciados por homicídio. Demais responsáveis pela segurança do local (prefeitura e Corpo de Bombeiros, por exemplo) seguem incólumes. "E BARACK OBAMA NÃO DESGRUDA DO CHICLETE" O presidente dos EUA, Barack Obama, tornou-se na semana passada o primeiro chefe de Estado estrangeiro a participar na Índia dos festejos do Dia da República. Ao lado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o presidente americano tornou-se também o primeiro a cometer a gafe de colocar um chiclete na boca. “Uma cena deselegante”, escreveu o jornal “Times of Índia”. Desde que deixou de fumar, Obama não desgruda do chiclete. "A FILHA DE QUEM O POETA MAIS "SOUBE"" Mais velha dos cinco filhos do poeta e compositor Vinicius de Moraes, e, portanto, fruto do primeiro dos nove casamentos de seu pai, a cineasta e atriz Suzana de Moraes morreu no Rio de Janeiro na terça-feira 27, de câncer no útero, aos 74 anos. Suzana orgulhava-se de seu trabalho, orgulhava-se de seu pai, orgulhava-se de seu casamento estável de 25 anos com a compositora e cantora Adriana Calcanhotto e orgulhava-se de um detalhe que com certeza foi privilégio de poucos: ela aprendera a nadar, ainda criança, na piscina da casa da “Pequena Notável” Carmen Miranda. Pouca gente sabe, mas Suzana contou um dia que ficou por demais aborrecida, triste mesmo e com raiva de seu pai, por saber, não por ele, mas sim no momento em que entrou em seu quarto uma mulher grávida (era então a segunda esposa de Vinícius), que ela teria um irmão pela parte paterna. Vinicius e Suzana distanciaram-se por um bom tempo. Mas com certeza foi ela a filha de quem o poeta mais “soube”. "VERMELHO RETRÔ DA NOVA MCLAREN" Não é somente a Ferrari que vai exibir o vermelho na temporada desse ano da Fórmula 1. A equipe inglesa McLaren apresentou na semana passada o primeiro carro de sua nova parceria com a Honda e nele destaca-se essa mesma cor. O novo tom remete ao sucesso dos tempos de Ayrton Senna e Alain Prost, quando a McLaren era vermelha e branca.