0# CAPA 3.12.14 ISTOÉ edição 2349 | 03.Dez.2014 [descrição da imagem: na base da capa a foto de uma lata, grande, de tinta de cor azul. Acima, representando que saiu de dentro da lata, a estrela do PT, em azul, escorrendo tinta. Abaixo, no título, as letras PT, na parte inferior, estão também pingando tinta azul, e na parte superior, do meio para cima, as letras PT estão em vermelho] O PT TUCANO A face tucana do PT Dilma adota receituário do PSDB para tirar o país da recessão e equilibrar contas. [parti superior da capa] QUADRILHA DOS VESTIBULARES MILITARES ESPIONARAM SEBASTIÃO SALGADO _______________________ 1# EDITORIAL 2# ENTREVISTA 3# COLUNISTAS 4# BRASIL 5# COMPORTAMENTO 6# ECONOMIA E NEGÓCIOS 7# MUNDO 8# CULTURA 9# A SEMANA _____________________________ 1# EDITORIAL 3.12.14 "FORA DO FIGURINO" Carlos José Marques, diretor editoria A reeleita presidente Dilma produziu mais uma genuína jabuticaba, aquela fruta silvestre que só dá no Brasil. Pelo inusitado, a nova trinca de ases da economia – à exceção do diligente presidente do BC, Alexandre Tombini, que segue à risca os ditames da chefe – tem a cara da oposição, plantada em pleno coração do governo que está por começar. O adversário de Dilma na campanha, Aécio Neves, chegou a comentar, em tom de ironia, que a escolha do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, confirmado na semana passada, equivaleu a colocar “um agente da CIA na KGBâ€. E o comentário procede. O indicado, que trabalhou informalmente na campanha presidencial do senador tucano, forma fileira ideológica (e tem absoluta sintonia de propostas) com Armínio Fraga, aquele cotado pelo PSDB para ocupar o posto caso o partido saísse vitorioso. Dilma criticava ferozmente Fraga e seu plano. Dizia que ele traria medidas impopulares como o aumento de juros e o corte no orçamento público. E agora foi à cata de alguém que deve gerir a economia pela mesma cartilha, perseguindo – acertadamente, registre-se – a responsabilidade fiscal e monetária, algo completamente esquecido nas práticas populistas do primeiro mandato da petista. Como a situação se agravou perigosamente e o ambiente não está para brincadeira, a presidente se viu premida a adotar o que antes renegava. A aliança que lhe dá sustentação reage, é claro, contra algo que segue completamente fora do seu figurino de farra orçamentária. Chegou a ensaiar uma espécie de protesto, com ativistas e intelectuais da càºpula reclamando pela “regressão da agenda vitoriosa nas urnasâ€. Mas resolveu baixar o facho e aceitar o inevitável. As ilusões e falsas promessas veiculadas por Dilma durante a campanha foram para as calendas. Na prática, fica agora evidente, nada do que ela pregou era verdade, ou dito à vera. Nem as contas em ordem, muito menos a lorota de que não iria promover apertos. Ao contrário, ela jà¡ admitiu e concedeu aumento de juros, de tarifas e corte de investimentos. Isso é ou não é o mais puro e cristalino estelionato eleitoral? A governante Dilma demonstra agora o que queria dizer quando falou que “em campanha se faz o diabo para vencerâ€. E inclua-se nesse vale-tudo, por dedução óbvia a partir de seus últimos movimentos, mentir sobre atos e escamotear fatos. O Brasil como um todo embarca nas experiências do novo laboratório inapelavelmente e parte dele – que votou na presidente – o faz certamente se sentindo enganado pelo conto da jabuticaba. _____________________________________ 2# ENTREVISTA 3.12.14 JORGE HAGE - "A POPULAÇÃO QUER O CORRUPTO PRESO" Ministro da CGU diz que cinco mil servidores públicos foram afastados nos últimos 12 anos. Mas reconhece que o cidadão quer mesmo à© ver atrás das grades os envolvidos nos escândalos por Josie Jeronimo NO RASTRO DA CORRUPÇÃO - Para Jorge Hage, a sofisticação de mecanismos de inteligência financeira ajuda a monitorar os esquemas Ele é o ministro mais longevo dos 12 anos de administração do PT e carrega uma das missões mais pesadas em meio ao escândalo da Petrobras: a de cortar na própria carne. Jorge Hage assumiu a Controladoria-Geral da União (CGU) em 2006 e de lá para cá ajusta o trabalho de fiscalização dos bens públicos a leis antiquadas e ao Judiciário lento. Com a eclosão da Operação Lava Jato, Hage terá que aplicar em grande escala regras recém- inauguradas pela lei 12.846, de 2013, conhecida como Lei Anticorrupçà£o. Uma dessas novas normas é o acordo de leniência, que permite às empresas acusadas de corrupção negociar pagamento de multa e devolução de dinheiro desviado em troca de abrandamento das punições. "Tenho pedido reiteradamente ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o acesso à delação, mas ele me explicou a dificuldade legal de compartilhar" A conciliação na controladoria não ficará só no âmbito das pessoas jurídicas. Ex-diretores da companhia corruptora que confessaram crimes e os que são investigados pela Justiça também terão processos administrativos abertos. Mas a sançà£o máxima para os ex-funcionários é uma demissão desonrosa. “Se, depois que esse diretor foi exonerado, identificarmos irregularidades praticadas quando estava em exercício, nós podemos converter a exoneração em destituição do cargo público. Aí sim é uma penalidade que pode torná-lo impedido de retornar a funções públicasâ€, explicou. Hage reconhece, no entanto, que os cidadãos se ressentem de punições maiores. “A população quando fala em acabar com impunidade quer ver o cidadão preso.†"Será preciso encontrar um meio-termo entre o excesso de burocracia da lei de licitações e o sistema atual da Petrobras" Istoé - A CPI da Petrobras defende alteração no decreto que regula o modelo de concorrências na Petrobras para se adequar às regras da lei de licitações. Qual é a opinião do sr.? Jorge Hage - A Lei 8.666 é bastante antiga, de 1993. Ela merece uma revisão, sem dúvida. Tem alguns aspectos extremamente burocratizantes que não se coadunam com a evolução da vida em geral. Então, ela comporta reformas e modernização. A Petrobras se limita a fazer o convite, uma licitação do tipo convite. Seguramente isso não é a melhor forma. Será preciso encontrar um meio-termo entre o excesso de burocracia da 8.666 e o sistema atual da Petrobras, que é falho. Não tenho dúvida de que alguma coisa aí no meio do caminho precisa ser buscada e encontrada. Por essa razão, me parece importante que haja um debate sobre uma nova lei de licitaçàµes, desde que garanta a segurança necessária para mediar uma disputa realmente isonômica entre os concorrentes, a segurança da administração e das empresas para que não haja direcionamento das licitações. É uma medida contra o conluio entre as empresas, que é uma prática que sempre existiu, durante a vigência da Lei 8.666 e mesmo antes dela. Istoé - Foi sempre assim? Jorge Hage - Desde os tempos em que eu me formei em direito, a primeira expressão que eu ouvi a respeito de empresas que concorriam em licitaà§ão foi a seguinte: não, isso se resolve com o “combinemosâ€. O “combinemos†é a palavra corrente, ou seja, conluio. A Lei 8.666 teve condições de impedir isso com toda sua rigidez? A verdade é que não. Temos que buscar novas formas. Precisamos nos inspirar em experiências de outros países com normas de licitações mais modernas. Espero que nessa rodada se chegue a um resultado adequado. Istoé - A CGU vai utilizar informações da base de dados da Operação Lava Jato para negociar os acordos de leniência? Jorge Hage - O compartilhamento de informações vai ajudar muito. A operação Lava Jato é resultado de um inquérito de uma investigação da Polícia Federal com o Ministério Pàºblico. Tudo que está sendo divulgado decorre desse inquérito. É de primordial importância para nós, que temos a competàªncia legal para instaurar processos em caso de ilícitos cometidos contra a administração – no caso contra a Petrobras – e processos contra agentes públicos. Só os casos contra parlamentares estão fora da nossa competência. Mas nós atuaremos nos processos contra empregados, dirigentes, ex-dirigentes e ex-empregados. Do lado de fora da empresa, investigaremos firmas que eventualmente foram corruptoras. Istoé - Como isso é feito? Jorge Hage - Pedimos, desde o início, ao juiz de Curitiba Sérgio Moro. Ele autorizou o acesso aos dados, mas fizemos agora um pedido mais específico, em relação a essa sétima etapa da Lava Jato, que foi chamada de juízo final. O juiz imediatamente autorizou. A Receita Federal, o Tribunal de Contas da União e o Cade também foram autorizados. Mas o juiz não autorizou o acesso à delação premiada. Então, essa parte ainda falta. Tenho pedido reiteradamente ao procurador-geral da República o acesso à delação. Conversei com o Rodrigo Janot e ele me explicou a dificuldade legal de compartilhar. Pela legislação, no caso de delação, ele sà³ pode compartilhar quando entrar com a ação criminal. Istoé - A CGU poderá aplicar punições a ex-funcionà¡rios, a exemplo de Paulo Roberto Costa, mesmo amparados por um acordo de delação premiada? Jorge Hage - Nada impede a CGU de punir. Se alguém fizer um acordo de delação premiada com o MP, isso envolve a ação penal que eventualmente ele deixe de iniciar. É a delação premiada no campo criminal. Conosco isso não interfere. Nosso processo está livre para ser instaurado. Istoé - Isso depende de quê? Jorge Hage - Depende das cláusulas do acordo, que só será celebrado se for de interesse da administração, assim como o Ministério Público só celebra o acordo quando vale a pena. No caso atual, é preciso saber se o executivo e o diretor têm condià§ões de revelar informações que o Ministério Público não sabia ainda. Para nós, vamos avaliar se a empresa se dispõe a pagar uma multa e se isso vale a pena ou não. Ou seja, à© uma negociação, como qualquer outra. Istoé - Que tipo de punição os ex-diretores da Petrobras investigados por corrupção podem receber? Jorge Hage - Nosso entendimento é que é possível aplicar as regras que nós aplicamos para os servidores públicos. Ou seja, quando um servidor ocupava uma diretoria, ou órgão da administraà§ão direta, ou de uma fundação e já havia sido afastado dali, ele era exonerado. Nos termos técnicos, a saída de uma pessoa, quando não é por conta de uma irregularidade, se chama exoneração. Se, depois que esse diretor foi exonerado, nós identificarmos irregularidades que ele praticou quando estava em exercício, nós podemos converter a exoneração em destituição do cargo público. Aí sim é uma penalidade que pode tornà¡-lo impedido de retornar a funções públicas. Istoé - Somente as empresas são obrigadas a devolver recursos? Jorge Hage - O Tribunal de Contas da União pode condenar pessoas fà­sicas a devolver recursos, a pagar multas reparatórias. No campo judicial, as ações do MP podem ser ações tanto de improbidade como criminal. Pode ser um dos efeitos secundários a reparação do dano. No campo da CGU, a lei nova, anticorrupção, nà£o alcança a pessoa física. Só alcança a empresa. Istoé - A sensação de impunidade alimenta a corrupçà£o. O processo judicial precisa de revisão? Jorge Hage - Enquanto não mexermos com o processo judicial, não vamos dar conta de acabar com a sensação de impunidade. As penas que podemos aplicar administrativamente são importantes, sim. Já excluímos dos quadros da administração 5.022 servidores pàºblicos, em 12 anos de CGU. Não é pouco. Isso é importante, mas a pena máxima é a demissão. Isso não põe o cara na cadeia, só o processo judicial. A população quando fala em acabar com impunidade quer ver o corrupto preso, embora a perda do cargo público não seja pouca coisa, mas é importante que o processo judicial também ande. E os nossos processos não são só contra agentes públicos, mas contra empresas. Istoé - Quantas empresas foram atingidas por esses processos? Jorge Hage - Mais de quatro mil empresas receberam punições e suspensão da capacidade de contratar. É bastante, mas ainda há dificuldade de recuperar o dinheiro. No fim das contas, se não for por um acordo celebrado para ressarcimento imediato, como tentaremos nos acordos de leniência que viermos a celebrar, será pela via judicial. Aí demora anos para chegar ao fim de um processo de cobrança de título creditício. Com todo esforço que a Advocacia-Geral da União (AGU) tem feito, o percentual de retorno do dinheiro ainda à© muito baixo. Isso só se resolve com melhoria do processo no Judiciário. Depende de reforma legislativa. Istoé - O Brasil vai inaugurar os acordos de leniência com a Lava Jato. A Lei Anticorrupção ainda precisa de ajustes? Jorge Hage - O que não existe é uma tradição, uma praxe. Esse acordo de leniência que surge agora, e não na Lava Jato, mas com a SBM Offshore, será o primeiro. Mas a lei dá os delineamentos necessários. Não precisamos esperar o decreto de regulamentação, como alguns erroneamente imaginam, alegando que a Lei Anticorrupção não pode ser aplicada, pois não há um decreto. Bobagem pura. A lei não condicionou sua eficácia a decreto nenhum. O único inciso que precisa de regulamentação diz respeito ao programa de compliance. São parâmetros para avaliar se há um programa de controle interno na empresa, pois isso é levado em conta como atenuante para eventual pena. Istoé - A ferramenta da CGU que monitora a evolução patrimonial de servidores, incompatível com a renda, não alcança postos mais altos da administração pública? É possível antecipar os grandes escândalos de corrupção monitorando o estilo de vida dos gestores? Jorge Hage - O Brasil tem essa ferramenta já concebida, mas não há os meios concretos na prática de fazer com que essa vigilância seja tão completa. O Coaf existe para isso. Foi revelado, inclusive, que o Coaf estava monitorando esse pessoal todo da Lava Jato há dois ou três anos. Por isso, surgiu a operação. O monitoramento é feito por meio da disposição legal que obriga bancos, imobiliárias, empresas de diferentes segmentos da economia, mercado de objetos de arte, uma série de setores a reportar diariamente ou casuisticamente ao Coaf transações fora dos padrões. Tudo isso faz parte do sistema de inteligência financeira, que é razoavelmente desenvolvido no Brasil. Nós fizemos um trabalho que outros países já têm que é a definição das pessoas politicamente expostas. Fizemos isso junto com Coaf, Banco Central, Receita e Polícia Federal. Há um levantamento para definir quem deveria entrar na lista. São parlamentares federais, altas autoridades públicas, ministros dos tribunais superiores, juízes ,desembargadores e prefeitos de capitais. É um número alto, cerca de 2.500 pessoas consideradas politicamente expostas. Essa seleção dos politicamente expostos serve para que o sistema de inteligência financeira os fiscalize com uma lupa de maior grau. Essas pessoas têm suas contas e transaçàµes fiscalizadas mais de perto. O olho do Coaf e do Banco Central fica mais próximo delas do que do cidadão comum. _____________________________________ 3# COLUNISTAS 3.12.14 3#1 RICARDO BOECHAT 3#2 LEONARDO ATTUCH - DEIXEM LEVY TRABALHAR 3#3 PAULO LIMA - É BONITO 3#4 GISELE VITÓRIA 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - O LIVRO, A MALHA NOS OMBROS, O ITAMARATY 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL 3#1 RICARDO BOECHAT Com Ronaldo Herdy Papéis em chamas Acionistas minoritários da Petrobras entraram com representaçà£o no Ministério Público Federal no Rio de Janeiro. Querem uma investigação sobre “ilícitos civis e delitos criminais†na gestão da estatal. Os reclamantes são trabalhadores de clubes de acionistas irritados com a desvalorização de mais de 20% este ano dos papéis da empresa, segundo o advogado Michel Assef (foto). Com pena de três anos a seis anos, a “administraà§ão ruinosaâ€, base da queixa, está abrigada na legislação extravagante – não inserida nos Códigos do Direito, mas em vigor na prática, como a Lei Maria da Penha. Governo Faxina de honra Para pessoas muito próximas Graça Foster confessa estar dormindo pouco e que não tinha ideia do tamanho da ação do esquema bilionário de fraudes na Petrobras. Quer ser protagonista da virada de página na história da empresa. Dilma Rousseff acredita em sua sinceridade de propósito, pretendendo mantê-la no comando da estatal, apesar da enorme pressão política para que a demita. A identificação e punição dos responsáveis pelos desvios à© prioridade total para as duas. TST Margem estreita A mostra dos desafios políticos de Dilma Rousseff no Legislativo em 2015 se viu no Senado, na semana passada. Indicada pela presidente para ministra do TST, Maria Helena Mallmann foi aprovada no plenário por 43 votos, três contra e duas abstenções. Não havia nada contra a desembargadora gaúcha no Congresso, pelo contrário, até elogios por defender teses como a carteira assinada para bolivianos, paraguaios e africanos que têm chegado ao País. O aperto era pressão política. Em seu primeiro mandato Dilma contou com 62 senadores na base do governo. Em 2015 serão 40. Não vai faltar tensão. Brasil Luta vermelha Depois das eleições, a lista de candidatos ao cargo de presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária só fez crescer. Ex-governadores, ex-senadores e ex-deputados, todos petistas, cada um invoca nomes de padrinhos que consideram poderosos para chegar ao cargo. O ideal continua sendo que o número 1 na Anvisa seja um técnico ficha limpa. Saúde Pública Vítimas da balança O Ministério da Saúde criará uma linha de cuidados no SUS, com endocrinologista, nutricionista e psicólogo para o combate da obesidade. Para o governo, excesso de peso é doença e a operaçà£o de redução do estômago, a última saída para quem tem três dígitos na balança. A notícia circulou no XVI Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, encerrado no sábado 29, no Rio de Janeiro. Presidente da SBCBM, sociedade que luta contra a obesidade e as comorbidades (hipertensão, diabetes, colesterol, etc), Almino Ramos revela que neste ano o número de cirurgias contra o excesso de peso aumentará 15% no País. Com isso, serão menos 85 mil pessoas com risco de vida. A OMS estima que uns 2,3 bilhões de adultos vão ter sobrepeso neste ano. Brasil 2 Educação Com a suposta recusa do governador do Ceará, Cid Gomes, em assumir o Ministério da Educação, já que pretende passar uma temporada estudando nos EUA, ganha força para assumir a pasta o nome do deputado federal mineiro Reginaldo Lopes. O parlamentar conta com a força política de um caminhão de 360 mil votos e a chancela de Lula, além do apoio de outros interlocutores importantes que ajudaram na campanha de Dilma, como o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e o vice-governador eleito do PMDB, Antônio Andrade. Trabalha contra o convite a Lopes a informação de que Dilma não deseja levar para o Ministà©rio parlamentares petistas de peso para não se enfraquecer ainda mais no Congresso. Bens de consumo Vendas aquecidas Altas temperaturas são ruins para a agricultura e a falta de chuvas afeta o abastecimento de água em muitas cidades. Mas há quem adora o calor. Wadi Neaime, presidente da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, estima alta de 17% nas vendas de aparelhos para residências este ano. Em 2013 foram negociados 4,3 milhões de unidades. O hábito da refrigeração no trabalho e nos transportes impulsiona o consumo domà©stico, mesmo com reajustes nas contas de luz. Com 75% da preferência, o split sufocou o aparelho de janela (14%) e o central (1%). STM Um e outro Com R$ 380 milhões no orçamento, o Superior Tribunal Militar e as auditorias militares julgaram 2.522 processos em 2013. Soma e subtrai, divide e multiplica, cada caso custou em média R$ 151 mil ao Brasil. Os dados que constam no recém-lançado “Justiça em Nàºmeros 2014†reforçam os argumentos de quem defende a incorporação do STM e seus 14 ministros ao STJ, onde chegam dez mil novas ações por ano, para sentença de seus 33 ministros. A publicação é do CNJ. Segurança Pública Bala na agulha Doze ONGs se uniram e enfrentam a “bancada da bala†desde a segunda-feira 24. É que uma comissão especial da Câmara dos Deputados começou a debater projeto de lei que visa mudar o Estatuto do Desarmamento. Seu autor, Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), quer acabar com o registro de arma a cada três meses, tornando-o permanente, entre outras ideias. A “bancada da bala†tem 10 das 19 cadeiras na comissão, segundo entidades como Instituto Sou da Paz, Viva Rio, Conectas e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Justiça Ti-ti-ti no tribunal Ao entrar com mandado de segurança no STF, a direção do TJ-RJ pediu que o ministro Luiz Fux examine a reforma do regimento interno, para admitir reeleição na corte. Ele estaria com caso similar do Rio Grande do Sul. Desembargadores contra o direcionamento afirmam que como Marianna, filha de Fux, concorre a uma das vagas que cabem à OAB-RJ no tribunal, pelo quinto constitucional, Sua Excia. deveria se declarar suspeito de decidir. Em tempo: o CNJ vetou a possibilidade de reeleição em liminar do conselheiro Paulo Teixeira, no início de novembro. Terceiro setor Ação social Os voluntários da Associação Viva e Deixe Viver encerrarà£o este ano com cerca de 100 mil horas dedicadas à contação de histórias para crianças e adolescentes hospitalizados. Considerando a profissão e o salário que recebe cada pessoa que abraçou a iniciativa (com idade média de 49 anos), as horas dedicadas gratuitamente aos menores equivalerão a uma doação da ordem de R$ 2,5 milhões. Medicina privada Leão guloso A carga tributária sobre planos de saúde é uma das mais elevadas quando comparada a outros segmentos do setor de serviços. É o que aponta relatório da Associação Brasileira de Medicina de Grupo, a partir de pesquisa encomendada ao Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. De acordo com o estudo, os impostos nos planos de saúde equivalem a 26% do faturamento das empresas do setor. Taxa superior à de outros segmentos, como agricultura (15%), construà§ão civil (18%) e siderurgia (19%). Transporte Pedalando A popularização da bicicleta e o saudável hábito de usá-las empurra a venda do produto cada vez mais para cima. Este ano sairão das linhas de montagem da Caloi e da Prince cerca de cinco milhàµes de unidades. As duas são associadas da Abraciclo. Contudo, o número é bem maior. Outros fabricantes de peso, como a Monark e a Brinquedos Bandeirantes estão fora da entidade e preferem não abrir as suas vendas. Estima-se que, de cada 100 unidades hoje, 40 sejam destinadas às crianças. E uma curiosidade desse mercado: uma bike leva em média duas horas para ficar pronta. Só a Caloi faz 65 mil por mês. 3#2 LEONARDO ATTUCH - DEIXEM LEVY TRABALHAR Ao agradar ao mercado, ele recebeu fogo amigo. Ao prometer um ajuste mais suave, virou alvo também de investidores. Um consenso e uma paranoia envolvem, neste momento, o personagem-chave para o sucesso ou não do segundo governo da presidente Dilma Rousseff. Anunciado na quinta-feira 27 como novo ministro da Fazenda, o economista Joaquim Levy tem a missão considerada unânime de ajustar as contas públicas. Na largada, Levy conseguiu, por seu histórico profissional no serviço público e no setor privado, uma proeza que nenhum de seus antecessores alcançou. Para lembrar o mínimo, ele detà©m o aval dos antagônicos ex-presidentes Lula e FHC e dos concorrentes bancos Bradesco e Itaú. Ele conta, ainda, com a admiração tanto de Armínio Fraga, que seria o ministro do tucano Aécio Neves, como do ex-ministro petista Antônio Palocci. Nesta medida, Levy chega o mais próximo possível, no campo político-partidário, do que se pode ter como nome aceito por (quase) todos. Porém, há igualmente, e talvez com mais peso ainda, uma forte esquizofrenia à volta dele. Quando Levy era ainda apenas um boato, ao virar especulação e até lhe ser dado, pela presidente Dilma, o uso da palavra como ministro indicado oficialmente, ele foi o maior, e para muitos o único, responsável pela euforia que tomou conta do mercado financeiro. A bolsa de valores subiu com consistência nos dias anteriores ao ato da quinta-feira, deixando para trás a depressão de quase todo um ano. Exatamente porque agradava demais aos investidores, Levy se viu instalado no meio da permanente luta interna do PT. Ele despertou temores de que suas ‘mãos de tesoura’ retalhariam os manequins da vitrine social do partido, esfiapando figurinos como o vistoso bolsa família. Levy entendeu rapidamente o que os petistas costumam chamar de fogo amigo e bastou ele falar – e falar, como ministro indicado, em preservar os programas sociais tão caros ao PT – e pronto! A bolsa, que vibrava a favor, reverberou contra. Pela mesma medida da fala inaugural de Levy, é de se acreditar que os petistas descontentes com a escolha de Dilma programariam uma festa para dançar alegremente ao som de abertura inicial produzido por ele. Não há sinais de que a instabilidade de opiniões sobre o novo ministro venha a se dissipar com a velocidade desejada pelo Brasil, o paciente que tem pressa. O remédio certo virá das receitas objetivas a serem escritas pelo novo ministro e praticadas pelo governo. Ao cortar com mãos de cirurgião, isso sim, a grossa gordura das finanças públicas sem picotar a saúde da economia, Levy retomará o consenso ensaiado a seu favor e ultrapassará o tumulto gerado pela dualidade ideológica. Para tanto, com o máximo de tranquilidade possível que se lhe possa conceder, o correto a fazer agora é deixar Joaquim Levy trabalhar. Como dizia Vladimir Ilitch Ulianov, o Lenin, a prática é o critério da verdade. 3#3 PAULO LIMA - É BONITO Para quem havia perdido completamente as esperanças na sobrevivência da combinação inteligência X talk show, Fabrício Carpinejar é uma bela surpresa. "Olha pra mim, olha bem pra mim! Podia ser pior, podiam ter nascido gêmeos. Minha mãe não me deu à luz, me deu à sombra. Vocês não estão entendendo como um homem feio pode ter um programa de TV? †Foi assim que o escritor, poeta e professor universitário gaúcho Fabrício Carpinejar se apresentou na estreia de seu programa de entrevistas “A Máquinaâ€, na TV Gazeta, em março de 2012. Brincar e refletir sobre a própria feiura e sobre seu desencaixe dos padrões físicos vigentes, apesar de divertido, é apenas uma face mais evidente e menor do curioso composto que forma esta interessante figura. Assim como seus ternos floridos que parecem ter saído da alfaiataria do cantor cearense Falcão ou os inúmeros modelos de óculos extravagantes que exibe a cada edição. De fato, e fugindo de qualquer jogo de palavras vagabundo, no caso de Fabrício Carpinejar, a estética é bem menos relevante e interessante do que a ética. Valente, ele tenta, a partir de seu programa de Brancaleone, devolver à faixa noturna da TV aberta, pelas ondas da TV Gazeta, sintonizada com força na Grande São Paulo e com menor presença em alguns outros pontos do País, importantes atributos banidos pelo tempo. Sem precisar se esforçar, Fabrício tem tratado de devolver a esse espectro mais popular da televisão alguns ativos que aos poucos foram vazando em direção ao cabo e a outros suportes de mídia mais modernos: elegância, inteligência emocional, sensibilidade e aquilo que alguns chamam de “pauta pessoalâ€, uma mistura de cultura ampla e geral com verve, humor, bom senso e boa educação. Um conjunto de predicados que, por algum motivo, nos últimos anos passou equivocadamente a ser entendido como um “espanta ibopeâ€, uma espécie de fórmula perfeita para fracassar na TV aberta. Desde que a grosseria sem graça disfarçada de comédia foi virando alavanca para alçar figuras com pouco talento a posições de destaque no reino midiático (e não falamos apenas dos elementos da chamada nova geração do humor, mas de diferentes safras de pessoas com pouco brilho e muita disposição para se arrogar, diminuir e ofender na busca pelo riso nervoso e pelo ibope vazio), a pegada mais sofisticada exibida naturalmente por Carpinejar vem perdendo espaço na cena. E aqui é importante dizer que, mesmo com sua inegável habilidade para o texto e sua oratória fluida e fácil, Fabrício conseguiu ficar imune a uma praga que acomete boa parte de seus contemporâneos em literatura: uma incrível tendência a acreditarem demais nos releases e nas odes a suas próprias capacidades, e a triste consequência disso: tornarem-se ídolos sem fãs, messias sem seguidores. A forma como Carpinejar recebe seus convidados num cenário de gosto mais que duvidoso e por isso mesmo quase engraçado, enaltecendo sem bajular, investigando sem fuçar e por vezes criticando sem ofender, é uma arte esquecida. Sem se preocupar com o ângulo da câmera ou com a qualidade do pancake, prefere mergulhar dentro de suas visitas e de si mesmo, para tentar trazer para a TV a sua quase antítese: a verdadeira condição humana. E, provavelmente por isso, figuras interessantes como Tom Zé, Tadeu Jungle, Rafael Cortez, Rafic Farah ou Claudia Ohana têm proporcionado momentos raros de exposição da imperfeição e da graça da existência. Cada vez menos se veem no programa pessoas movidas pela urgência ansiosa de divulgar um livro, avisar sobre uma peça ou propagandear o lançamento de um produto que precisam vender. O pequeno Carpinejar vai a cada semana, com suas sinapses incomuns, sua capacidade de conectar coisas que seus próprios convidados não sabem sobre si mesmos, conseguindo algo que já parecia condenado a estudos arqueológicos sobre o passado da televisão: fazer com que gente interessante queira de fato compartilhar suas dúvidas, inseguranças e paixões ocultas com quem quer que queira com elas dividir a graà§a da vida. E isso é bonito. Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip 3#4 GISELE VITÓRIA Gisele Vitória é jornalista, diretora de núcleo das revistas ISTOÉ Gente, ISTOÉ Platinum e Menu e colunista de ISTOÉ Asas do desejo O desfile deste ano da Victoria’s Secret tem um sabor especial para Izabel Goulart. “Faço dez anos desfilando pela VS. Me sinto lisonjeadaâ€, diz a top, que para a data foi presenteada pela marca de lingeries. “Eles foram muito carinhosos e me deram a maior e a mais linda asa que eu já useiâ€, conta. E também a mais pesada. A asa de Izabel pesa 27 quilos e com ela a top fecha o bloco “Fairy Tailâ€. Para tanto, ela intensificou o treinamento de pilates e funcional. “O bom é que já sou bem ativa, mas para ter mais força estou fazendo caminhadas com uma barra de ferro de 25 quilos. É um exercício intenso. Três a quatro séries de 15 passos. Mas vai valer a penaâ€. E após o desfile? “Trabalho até dia 21 de dezembro sem descanso, e depois vou para Punta Del Este, passar o Réveillon e aproveitar os dias longos e quentes de là¡ para descansar e curtir meus amigos.â€ É pique, é pique A empresária Sônia Hess comemorou os quatro anos da flagship store da Dudalina, em São Paulo, com bufê assinado pela chef Morena Leite, do Capim Santo, e ao som do DJ Felipe Venâncio. Sônia literalmente vestiu a camisa da celebração e apareceu elegante, a bordo de um look preto, com camisa da grife customizada com cristais Swarovski. Balas Bons frutos A Business Trip LIDE (Grupo de Líderes Empresariais) no Marrocos rendeu bons frutos. O Hospital Albert Einstein, de São Paulo, selou acordo com a Holding Marocaine Commerciale et Fincière para prestar consultoria na construção e operação de um hospital privado no país. â€œÉ gratificante ter um hospital referência em um continente com pouco parâmetro na área de saúdeâ€, disse Claudio Lottenberg, presidente do Einstein. O maravilhoso mundo de Gloria Coelho Para celebrar seus 40 anos de carreira, a estilista Gloria Coelho ganhou uma exposição na Casa Electrolux, com 40 itens que mostram sua trajetória na moda. A homenagem é à carreira, com fotos, vídeos e looks de desfiles, mas Gloria não tem dúvidas em eleger o melhor da mostra: “O Pedro. É a minha melhor criação. Há uma foto dele, de quando nasceu em 1990. Foi um ano muito importante para mimâ€, diz a estilista, sobre o filho, o estilista Pedro Lourenço. Ela reflete sobre as quatro décadas de trabalho: “Isso não é nada perto do que ainda vem. Quando penso que hà¡ 20 anos não havia internet, imagine o que virá para a moda... Estampas se movimentando no corpo? Uma peça vermelha que em minutos vira azull? Roupas que respondem ao corpo, como uma blusa que, ao sentirmos frio, faz com que as mangas cresçam, ou ao sentirmos calor, elas diminuamâ€. Já pensou? Não dá mais para esconder... O evento em Norfolk, na Inglaterra, era beneficente, em uma clínica psiquiátrica infantil, mas em meio a tantas crianças o que mais chamou a atenção foi a barriguinha de Kate Middleton, grávida de quatro meses. De vestido vermelho, feito sob medida pela estilista Katherine Hooker, e com um buquê de flores à sua frente, a duquesa de Cambridge só encantou. Kate ainda não está totalmente recuperada da hiperêmese gravídica. A Clarence House informou que a duquesa ainda sofre com náuseas e vômitos decorrentes da doença. Ela e o príncipe William, que já são pais de George, de 1 ano e 3 meses, esperam a chegada do bebê para abril de 2015. E como não amar... “Eu amo a Meryl. E o marido dela sabe que eu a amo. Michelle também sabe que a amo. E não há nada que possam fazer.†A calorosa declaração de amor a Meryl Streep veio de Barack Obama. O presidente dos Estados Unidos entregou a ela a Medalha da Liberdade, uma das maiores honrarias civis americanas. Meryl ficou emocionada e até deixou escapar lágrimas. 3#5 ANTONIO CARLOS PRADO - O LIVRO, A MALHA NOS OMBROS, O ITAMARATY Doutor Márcio me ensinou que para fazer tudo bem-feito é preciso fazê-lo como se fosse sempre pela primeira vez. Obrigado, doutor. Eu me divertia, e não tenho dúvida de que ele também. – E o meu livro? – O livro vai bem, mandou lembrança... quase que eu ia devolvê-lo hoje para o senhor, mas pensei melhor... – É livro de trabalho, preciso de volta... e não tem sentido eu ter essa coleção desfalcada de um volume... – É coleção banguela, doutor. Melhor banguela de livro que banguela de dente... O doutor Márcio Thomaz Bastos ria, eu ria mais, até porque era extremo o meu orgulho quando ele me recebia em seu escritório, ainda o antigo da avenida da Liberdade 65, referência de São Paulo e referência de ética, talento e luta por justiça social. Eu era um jornalista em início de carreira; ele já era o doutor Márcio, e me emprestara um livro, retirado de uma sisuda série de tomos, sobre a história dos habeas corpus no STF. Nunca tive impulso para ficar com livro alheio, não gosto de quem diz que em matéria de livro há dois tolos, o que empresta e o que devolve. Mas também não nego que na minha emoção doía devolver aquela obra pelo único motivo que me envaidecia: ter algum instrumento de estudo que pertencesse ao doutor Márcio. Ele percebia isso. E nos divertíamos. Devolvi o livro, é claro. E saí no lucro. Eu então já lhe contara sobre o meu interesse em lutar por condições carcerà¡rias mais dignas e racionais no País e também sobre o desejo de ler a respeito do júri de Gregório Fortunato, o segurança de Getúlio Vargas envolvido no atentado da rua dos Toneleiros. A generosidade do doutor Márcio não tinha limites, serve de exemplo a fila de réus dos quais foi patrono gratuitamente. Mas para o meu ego a sua generosidade conta também porque ele me presenteou com os dois volumes de “Os Grandes Processos do Júriâ€, de Carlos Araújo Lima, e neles há o julgamento de Gregório – acrescente-se o valor literário de constar “edição fora de comércioâ€. Foi ainda o doutor Márcio quem me deu “A Questão Penitenciáriaâ€, de Augusto Thompson. Obrigado, doutor. *************** Eu me divertia, e não tenho dúvida de que ele também. A primeira vez que conversei com doutor Márcio foi sobre direitos humanos. Aonde vou, estou sempre com uma malha jogada nos ombros, as mangas penduradas no peito (mas sem nó). Eu enalteço a espécie humana pela descoberta do antibiótico, da dupla hélice do DNA e do benzodiazepínico, mas a critico pela invenção do ar-condicionado que alimenta a minha rinite. Pois bem, explico assim a regimental malha nas costas, pois nunca sei quando entrarei num freezer. O doutor Márcio estranhou porque fazia muito calor, e, nas demais vezes em que nos vimos, lá estavam meus ombros com a malha. Sempre que a outras pessoas ele se referia a mim, dizia: – Aquele jornalista que com o maior calor está com uma malhinha nas costas... Certa vez me perguntou: – Mas é sempre a mesma malha? – Claro que não, parece a mesma porque quando gosto de uma roupa já compro muitas iguais... Doutor Márcio riu, eu ri. E nas conversas sobre criminologia ele me ensinou algo definitivo na minha formação (embora tenha morrido sem saber disso): – Prado, a pobreza é somente um dos fatores da criminalidade. Passei no dia seguinte a estudar o comportamento transgressor sob a ótica da psiquiatria e da psicologia social. Obrigado, doutor. *************** Eu me divertia, e não tenho dúvida de que ele também. Restaurante Itamaraty, Largo São Francisco, estou com doutor Márcio horas antes de um júri. – Fico ansioso como se fosse sempre a primeira vez. Até começar a falar. Depois que começo, aí me sinto calmo e tranquilo. Guarde uma coisa, Prado: para fazer tudo bem-feito, faça tudo como se fosse pela primeira vez. A lição está guardada, essa e as outras. Obrigado, doutor. Antonio Carlos Prado é editor executivo da revista ISTOÉ 3#6 BRASIL CONFIDENCIAL por Eumano Silva R$ 33 mil na conta de Adarico A Polícia Federal tem provas de que Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte, recebia dinheiro da organização criminosa investigada pela Operação Lava Jato. Além de vários depoimentos comprometedores e de informações obtidas na quebra do sigilo telefônico, a PF encontrou um depósito de R$ 33 mil em sua conta feito pela GFD Investimentos, uma das empresas do doleiro Alberto Youssef. Adarico ficou foragido durante dez dias, mas se entregou à polícia na semana passada. Delegado ativista I O ativismo eleitoral do delegado Márcio Anselmo contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff foi a gota d’água para o ministro José Eduardo Cardozo afastá-lo da coordenação da Operação Lava-Jato. Cardozo já havia sido alertado sobre o empenho de Anselmo nas investigações e o considerava muito mais perigoso do que o juiz Sérgio Moro. Delegado ativista 2 Márcio Anselmo é ligado ao ex-diretor da Abin Paulo Lacerda, ainda hoje magoado com o PT por ter sido demitido no auge da Operação Satiagraha, em 2008. Recentemente, Lacerda ligou o nome de um ministro petista à atuação do doleiro Alberto Youssef em campanhas eleitorais. A farra dos partidos O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa os pedidos de criação de 21 novos partidos políticos. Pelo menos cinco deles podem ganhar registro a tempo de disputar as eleições municipais de 2016. O Brasil já tem 32 legendas autorizadas a participar do processo eleitoral. Nos Países Baixos Altos funcionários do Ministério da Justiça foram designados para acompanhar na Holanda as investigações sobre as relações entre a SBM Offshore e a Petrobras. Para não levantar suspeitas, eles justificaram a viagem como licenças para participar de palestras na Europa. Precedente perigoso O governo está preocupado com os movimentos de grandes acionistas da Petrobras no exterior. Esses investidores querem saber se a queda nos valores das ações tem relação com os desvios da estatal. O caso pode abrir um perigoso precedente para pedidos de indenização. O diário de Bastos O repentino falecimento do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos deixou uma lacuna na história recente do País. O advogado criminalista, que serviu a políticos tão diferentes como Lula e ACM, mantinha uma espécie de diário secreto e confidenciou a amigos que transformaria o texto em um livro de memórias a ser publicado em breve. O patrono Quem visita a Justiça Federal de Curitiba logo se depara na entrada com o nome do ministro Teori Zavascki na placa de descerramento do edifício. Na reinauguração, ele era presidente do TRF4, que tem jurisdição sobre o Paraná. Hoje é relator no STF do inquà©rito da Lava-Jato, que se avoluma nas estantes daquele fórum. Nakandakari e a Infraero O nome do engenheiro Shinko Nakandakari apareceu nas investigações da Operação Lava Jato depois que a empreiteira Queiroz Galvà£o apresentou comprovantes de que depositou R$ 8,8 milhões na conta de uma empresa da qual é dono. Ele também é apontado como emissário do ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco em contatos com empreiteiros. Com as novas descobertas, parlamentares da CPI da Petrobras recuperaram informações da comissão que investigou a Infraero em 2007. A Talude, empresa de Nakandakari, foi acusada de receber pagamentos irregulares supostamente por obras de estrutura aeroviária. Mais dinheiro de estatais A CPI do Apagão Aéreo analisou contratos suspeitos envolvendo R$ 2,1 bilhões em sete obras de cinco Estados. Além de ser convidada para duas obras da Petrobras em Cubatão e Paulínia, a Talude recebeu recursos da Transpetro e dos Correios a título de prestaçà£o de serviços. No caso dos Correios, a Controladoria-Geral da União (CGU) investiga denúncias de superfaturamento. Toma lá dá cá Deputado Márcio Macedo (PT-SE), relator da PEC197/2012, que altera regras de distribuições do ICMS em compras pela internet ISTOÉ â€“ Por que alterar a legislação tributária para o comércio eletrônico? Macedo – A Constituição não trata do comércio eletrônico, mas essas transações movimentarão R$ 68 bilhões em 2015. ISTOÉ â€“ O que vai mudar na arrecadação dos estados? Macedo – Em 2019 o Estado de destino da mercadoria receberá 100% do ICMS. Em 2015, a alíquota de distribuição começa com 20%. Estados do Norte e do Nordeste sairão do 0% para 20%. ISTOÉ â€“ A mudança da regra pode encarecer os produtos comprados pela internet? Macedo – Criamos salvaguardas para evitar uma guerra fiscal em torno do comércio eletrônico e não permitir a criação de novos tributos. Rápidas * Deputados do PMDB explicam: ao adiar a votação das mudanças na LDO, querem que Dilma entenda que eles precisam ser ouvidos na formação da nova equipe. Em outras palavras, reivindicam um posto na Esplanada para um deputado da nova legislatura. * Esse critério exclui os atuais deputados Eliseu Padilha (RS) e Henrique Alves (RN), que não terão mandato parlamentar a partir do próximo ano. Os dois estão entre os peemedebistas mais cotados para entrar no governo, segundo as últimas especulações. * A cúpula do PT sabe da guinada na economia ensaiada pela presidente Dilma Rousseff pelo menos desde a primeira semana depois do segundo turno. Os petistas tratam a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda como um teste com duração máxima de dois anos. * O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), disse a integrantes da cúpula do seu partido que gostaria de receber alguma missão fora de Brasília quando deixar o Palácio do Buriti. De preferàªncia, na área de Saúde, em órgão com alcance internacional. Retrato falado O clima na bancada do PMDB no Senado é de total desunião. Desde as eleições, a sigla se dividiu entre apoiar o governo, aderir à  candidatura de Aécio Neves ou trabalhar exclusivamente por seus Estados. Com a volta das votações do Congresso, a pulverização ficou mais evidente. O senador Roberto Requião (PR) expôs as fraturas ao reclamar da decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), de apoiar a mudança na meta de superávit primário. Depois do relatório Em 11 de dezembro, um dia depois da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, os comissários Pedro Dallari e Maria Rita Kehl terão reunião com integrantes das comissàµes de direitos humanos da Câmara e do Senado. Vão discutir os passos seguintes das investigações sobre a ditadura. Nos três poderes Ainda não está decidido que órgão do governo federal assumirá os desdobramentos da CNV. Uma alternativa é a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Um dos temas mais delicados, a revisão da Lei da Anistia será tratada no Congresso e no Judiciário. ____________________________________ 4# BRASIL 3.12.14 4#1 A FACE TUCANA DO PT 4#2 GOLPISMO FISCAL 4#3 QUESTÃO DE ESTILO 4#4 O ESQUEMA CHEGOU AO PRÉ-SAL 4#5 DITADURA ESPIONOU O FOTÓGRAFO SEBASTIÃO SALGADO 4#6 IRMÃOS-PROBLEMA 4#7 PENTE-FINO NAS CONTAS DE DILMA 4#1 A FACE TUCANA DO PT Para tirar o País da recessão e disciplinar as contas públicas, a presidente Dilma adota o receituário do PSDB, que tanto criticou na campanha, e anuncia uma composição ministerial com jeito de oposição Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) Se os símbolos dos partidos políticos retratassem as posições das legendas e dos seus principais representantes, a estrela do PT no segundo mandato de Dilma Rousseff poderia ganhar um bico tucano, sà­mbolo maior do PSDB. Mesmo sob os protestos do seu partido e de aliados fisiológicos, Dilma dá aos primeiros contornos do seu próximo governo uma aparência semelhante ao que seus opositores defenderam durante a eleição. A explicação para a mudança de rumo é simples: a presidente precisa tirar o País do atoleiro em que se encontra. E o sucesso do próximo mandato depende diretamente da retomada do crescimento e do controle dos gastos públicos, que andam desgovernados. Para fazer isso, foi preciso assumir, mesmo que a contragosto, que ela e sua equipe econômica erraram muito nos últimos anos. Ao reconhecer que algumas das propostas defendidas pelo adversário Aécio Neves (PSDB) durante a campanha eram mesmo vitais para a correà§ão de rota, ficou difícil para Dilma fugir de uma composià§ão ministerial com jeito de oposição e se livrar da acusação de ter cometido estelionato eleitoral. CARTILHA COM PENA E BICO - Joaquim Levy, anunciado como novo ministro da Fazenda, é ligado aos tucanos e um dos defensores do controle fiscal e do arrocho das contas públicas Na última quinta-feira 27, a presidente confirmou as expectativas que rondavam o mercado há algumas semanas e oficializou sua nova equipe econômica. Em uma tentativa de reconstruir suas relações com investidores e grandes empresários, escolheu o economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. O novo ministro é ligado aos tucanos e participou do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ele defende, sem subterfúgios, rigor no controle fiscal e arrocho das contas pàºblicas, propostas que Dilma demonizou durante a campanha. As ironias que envolvem a escolha não param por aí. Levy mantà©m relações próximas com Aécio Neves e segue a mesma linha do amigo Armínio Fraga, o economista que montou o plano de governo da área para o PSDB na última eleição. Durante a campanha, Dilma atribuiu a Fraga uma futura culpa pela recessão ou pela falta de comida e emprego para os brasileiros de baixa renda, em um eventual governo tucano. A opção por um ministro alinhado com o grupo do seu maior adversário causou estranheza. â€œÉ uma decisà£o da presidente. É um quadro qualificado, com quem tenho uma relação pessoal. Mas fico com uma expressão usada hoje pelo ministro Armínio Fraga: a indicação de Joaquim Levy é comparável a um grande quadro da CIA ser convidado para comandar a KGB.†A inclinação de Dilma em direção às ideias da oposição, que ela combateu durante a campanha, ficou evidente tambà©m em relação aos juros. A presidente repetiu diversas vezes que as propostas econômicas do PSDB, e a promessa de perseguir o controle da inflação, iriam causar o aumento dos juros e provocar recessão e desemprego. Seus programas e seus discursos demonstravam que essas propostas estavam distantes dos planos do PT. No dia seguinte ao resultado do segundo turno da eleição, no entanto, ela anunciou o reajuste dos combustíveis. Dois dias depois, o Banco Central aumentou as taxas de juros para 11,25%, o maior patamar em três anos. A decisão pegou o mercado de surpresa e evidenciou quão pouco valiam as promessas eleitorais da presidente. Embora a repercussão da escolha do novo ministro da Fazenda alinhado com as metas fiscais e o controle das contas desperte certo otimismo, ainda há um clima de desconfiança em relação à postura de Dilma, que sempre tentou comandar a política econômica ditando as regras pessoalmente. Agora, Levy assume com a promessa de independência e carta-branca para tomar o rumo de uma sonhada – e ainda improvável – guinada na economia. Em sua primeira apariçà£o pública depois da confirmação de seu nome, Levy, acompanhado do escolhido para o Planejamento, Nelson Barbosa, e de Alexandre Tombini, que fica no Banco Central, deixou claro que é ortodoxo e que vai trabalhar para restabelecer o superávit primário nas contas pàºblicas e atingir uma economia de 1,2% do PIB em 2015. “Alcanà§ar essas metas será fundamental para um aumento da confiança e criará bases para a retomada do crescimento da economia e da evoluà§ão dos avanços sociaisâ€, disse Levy. Em muitos aspectos manifestados depois do resultado das urnas, a presidente reeleita parece outra pessoa. Antes, ela se armava com números – muitas vezes equivocados – sobre a economia, adotava um discurso repetitivo de que não havia descontrole de gastos e que a inflaà§ão a 6,5% estava controlada. Agora, sua nova equipe econômica vai promover cortes, trabalhar para puxar a inflação para a meta de 4,5% e adotar as medidas impopulares que a então candidata tantas vezes, em tom de ameaça de quem previa o caos, disse que seus adversà¡rios adotariam. Ao escalar seu time, Dilma mostrou que ficou impossà­vel continuar atuando como a personagem que tem o controle de um Paà­s próspero, à imagem e semelhança do que era mostrado nos programas eleitorais elaborados pelo marqueteiro de campanha, João Santana. TENSÃO NO CAMPO PETISTA - Ao convidar Kátia Abreu, um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios, para comandar o Ministério da Agricultura, Dilma bate de frente com o PT As contradições entre o discurso de Dilma e do seu partido e as primeiras medidas que ela adotou depois de eleita despertaram reaçàµes em diversos setores que a apoiaram. Um manifesto com mais de 4.500 assinaturas de petistas resume a insatisfação. O texto afirma que é preciso manter a coerência e obedecer ao projeto de governo apresentado durante a eleição. Um dos articuladores do manifesto, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e conselheiro econômico da presidente Dilma, resume o sentimento de quem assina o documento. “O problema é que o projeto de governo que ganhou não vingou. Então, Dilma terminou comprando a versão da política e da economia que os adversários diziam que era a correta. Não vejo isso como um bom sinal. A sociedade não deve ser surpreendida com mudanças nos programas depois das eleiçõesâ€, opina o economista. As recentes decisões da presidente Dilma e suas escolhas afinadas com a cartilha da oposição irritaram petistas de todas as correntes. No partido, o sentimento é de que a presidente que assume o segundo mandato segue com o antigo defeito de não dialogar antes de decidir e ignorar as posições do PT sobre diversos assuntos. A incapacidade da presidente de ouvir aliados foi um dos principais empecilhos para a consolidação de alianças em torno do projeto de reeleiçà£o. Dilma sofreu resistências dentro do próprio partido e foi obrigada a prometer uma mudança de postura. Coisa que petistas experientes reclamam que não está acontecendo. Mesmo diante da insatisfação generalizada, poucos militantes de peso admitem publicamente as críticas que fazem nos bastidores à presidente. Raros são os militantes históricos e influentes que levantam a cabeça para marcar posição de resistência à s mudanças do segundo mandato. Ex-dirigente nacional, Valter Pomar é um bom exemplo dessa dualidade. Líder da corrente Articulaà§ão de Esquerda, ele assina o manifesto em defesa da coerência da presidente reeleita e do respeito ao programa do partido, mas concede: “Dadas a relação de forças no Congresso, as debilidades da esquerda e dos setores populares, para não falar de certas dificuldades estruturais, sabemos que não há condições de fazermos o governo dos nossos sonhosâ€, diz Pomar. “O que não pode acontecer é acharmos que esta situação difà­cil é imutável. Para evitar isso, o governo deve ajudar a democratizar a comunicação, ajudar a luta pela reforma política e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter e melhorar a vida material e cultural da classe trabalhadoraâ€, acrescenta. Pomar agora tem a expectativa de que, depois da escolha da equipe econômica, Dilma nomeie ministros que sinalizem na direção de suas preocupações. A revolta dos apoiadores de Dilma com a guinada ensaiada para os próximos meses se espalha por outros setores. Na Agricultura, por exemplo, a presidente promove uma incrível coleção de posições divergentes. Em agosto, quando estava em plena campanha, a então candidata participou de uma sabatina na Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Diante de uma plateia lotada de grandes ruralistas e representantes de peso do agronegócio, Dilma não causou entusiasmo com seu discurso. Ela prometeu trabalhar pela “classe média rural†e afirmou que a proposta pleiteada por empresários sobre regulamentação dos contratos terceirizados deveria ser amplamente debatida com trabalhadores. A frieza com que os ruralistas receberam o discurso de Dilma contrastou, dias depois, com o entusiasmo que eles demonstraram na recepção ao candidato Aécio Neves. O tucano foi ovacionado ao defender a proposta de criar um superministério na área e repetir que o agronegócio precisava ter espaço no governo proporcional ao seu tamanho e importância. Para quem assistiu ao duelo eleitoral, parecia que o cenário era de ideologias partidárias. Dilma, do PT, defendia os ruralistas e suas reivindicações com a cautela de quem representava um partido de esquerda, historicamente ligado a movimentos sociais e às minorias. Às vésperas de anunciar seu novo ministério, o cenário mudou. Dilma se prepara para enfrentar seus aliados e apoiadores por nomear como ministra da Agricultura a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). A parlamentaré uma grande produtora rural, preside a CNA e é adversária histórica de entidades ambientalistas e dos movimentos sociais que lutam por terras. Ao convidar um símbolo do ruralismo e dos grandes latifúndios, Dilma ignora os apelos do PT e abre espaço para os pleitos da categoria, que antes ela parecia não apoiar. A indicação aumenta, além disso, o clima tenso entre PT e PMDB, que tem na pasta da Agricultura um dos seus feudos e na senadora do Tocantins – neófita no partido – uma concorrente pelo comando da pasta. Ao se aproximar dos ruralistas nos moldes do que prometeu fazer o PSDB, Dilma deixou em alerta entidades e instituições historicamente aliadas ao PT. Quando percebeu as resistências que se formam nos mais diferentes setores, ela recebeu um grupo de intelectuais no Planalto durante duas horas na semana passada. Ouviu as críticas sem muita paciência, mas prometeu não abandonar as diretrizes que seu partido e aliados defendem. O problema é que a governabilidade construída por ela depende diretamente das forças antagônicas que deram respaldo à sua reeleição. O preço dessas alianças começa a pesar nas costas da presidente e as pressões para manter-se coerente já não surtem efeitos. Ao estilo Dilma, a presidente deixa de lado diretrizes das propostas e das ideias que defendeu ao longo da campanha sem fornecer explicações. Reeleita, dá sinais de que simpatiza com a cartilha tucana – ou de que pelo menos se convenceu de que o receituário do PSDB, tão criticado por ela na campanha, é o melhor caminho agora – e que seu segundo mandato terá menos a cara do PT. A tucanização do PT pode ser a receita para evitar um novo fiasco. O problema é se os próprios eleitores de Dilma começarem a pensar que, se era para copiar o ideário tucano, teria sido melhor ter escolhido o original, e não a imitação. O raciocínio faz todo sentido. 4#2 GOLPISMO FISCAL À revelia da lei, governo faz manobra para oficializar a irresponsabilidade com o gasto público ao mesmo tempo que, orientado por uma là³gica política, anistia municípios comandados em sua maioria por petistas ou partidos da base aliada Josie Jerônimo (josie@istoe.com.br) Não gastar mais do que se arrecada. Esse princípio básico de administração começou a ser levado a sério pelos gestores brasileiros no ano de 2000, com a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma das grandes conquistas do País após a redemocratização ao lado da eleição direta e da estabilizaà§ão da moeda. Mas a gastança não planejada do governo federal ameaça acabar com o mais importante pilar da gestão pública. Imersa em uma ciranda de custos crescentes e receitas estagnadas, a presidente Dilma Rousseff seria enquadrada pela Lei de Responsabilidade Fiscal no próximo ano se não usasse sua máquina política e fraudasse a própria norma que rege os gastos públicos, para obrigar o Congresso a redefinir os parâmetros do exercício fiscal de 2014. Com a alteração da meta de superávit, prevista para ser votada na terça-feira 2, o governo pretende regulamentar – ou seja, tenta dar ares de legalidade – a prática corrente de maquiar as contas públicas para elaborar um falso cenário de equilíbrio financeiro. Trata-se de um golpe. SEM FREIOS - O relator do projeto que permite a farra fiscal, o senador Romero Jucá, tornou o texto ainda mais permissivo A necessidade de promover uma ginástica fiscal para que a conta feche, porém, parece não ter servido de lição. Mesmo faltando dinheiro para honrar os compromissos do governo, na quarta-feira 26 a presidente sancionou a lei que muda o índice de correção das dívidas de Estados e municípios com a União e permitiu o cà¡lculo retroativo de débitos contraídos antes de janeiro de 2013. Para a benesse, o governo abriu mão de R$ 59 bilhões em receitas de juros das dívidas que chegam à casa dos R$ 500 bilhões. A mudança nos contratos das dívidas é um pleito antigo dos prefeitos e governadores. Quando assumiu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pressionado a fazer a alteração. Mesmo em um momento econômico melhor, Lula não cedeu aos pedidos. Em 2005, o então prefeito José Serra (PSDB) foi ao Congresso expor a situaà§ão financeira do município, pleiteou alterações na lei, mas voltou de mãos vazias e permaneceu com a dívida bilionà¡ria a pagar. Agora, o município de São Paulo, comandado por Fernando Haddad (PT), é o maior beneficiado pela mudança, que ganhou ares de anistia. A cidade terá um abatimento de R$ 26 bilhões no total do saldo de sua dívida graças ao cálculo retroativo. Com a margem, São Paulo poderá voltar a solicitar empréstimos a bancos públicos para tocar grandes obras. Numa clara decisão política dirigida a um partido político à custa do estouro no Orçamento, a alteração legal dará a Haddad a possibilidade de movimentar mais R$ 3 bilhões em investimentos durante sua gestão. O impopular prefeito de São Paulo é candidato à reeleição em 2016 numa cidade em que a vitória é crucial para os planos de poder petista. CLIMA QUENTE - O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), disparou contra Renan Calheiros, presidente do Senado: "Vossa Excelência é uma vergonha para essa Casa" Na esfera estadual, o principal beneficiado será Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País e também um Estado estratégico para o PT. O petista Fernando Pimentel assumirá o governo com uma boa notícia. Ele iniciará a administração com uma dívida menor do que a de seu antecessor, Antonio Anastasia (PSDB). O alívio nas contas públicas proporcionará margem adicional de pelo menos R$ 2,4 bilhões para Pimentel ampliar os gastos do governo. Além da administração estadual, 53 cidades mineiras serà£o contempladas com a repactuação. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD) – que migrou da oposição para apoiar o governo –, será o terceiro maior beneficiado pela redução das taxas de correção da dívida do Estado, depois de Minas Gerais e São Paulo. Entre as nove capitais que mais ganharão com a medida, apenas Salvador (BA) e Vitória (ES) são comandadas por legendas da oposição. As administrações das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Natal, João Pessoa e Cuiabá mantêm fortes ligações com o governo. O viés político da anistia aos prefeitos e governadores não passou despercebido pela oposição, que deflagrou uma guerra contra o aval do Legislativo à transgressão fiscal do governo. “A mudança no índice de correção da dívida foi movida, em um primeiro momento, para ajudar o Fernando Haddad em São Paulo. Depois veio o pleito do governador eleito de Alagoas, Renan Filho, o que naturalmente acelerou as coisas. A situação da União à© grave e, em vez de apertar, o governo alivia para prefeitos e governadores que querem gastar maisâ€, critica o líder do PSDB na Cà¢mara, Antonio Imbassahy (BA). BENEFICIÁRIO - Candidato do PT à reeleição em 2016, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é o maior beneficiado pela lei de anistia de dívidas A fragilidade da situação financeira e o hábito petista de gastar mais do que pode produziram, nesta semana, mais uma página lamentável no histórico do relacionamento do governo Dilma Rousseff com o Parlamento. O presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), apressou as bancadas para realizar sessão de votação de vetos presidenciais e deixar a pauta limpa para votar o projeto do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que flexibiliza a meta de superávit de 2014. O governo tinha pressa em votar a trapaça contra a lei de responsabilidade fiscal na quarta-feira 26, pois precisava da pendência resolvida quando anunciasse os novos ministros que vão compor a equipe econômica, o que aconteceu na quinta-feira 27. Não deu certo. Dilma foi traà­da por sua própria base. Os parlamentares, impedidos de se opor publicamente ao projeto de conceder anuência ao erro administrativo do governo, não apareceram no Congresso para votar. Sem quórum, a sessão foi adiada para terça-feira 2. Os governistas que assumiram a missão de salvar a presidente Dilma do incômodo de iniciar o segundo mandato respondendo a crime de responsabilidade levaram duros ataques da oposição. A reação mais feroz veio do líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), contra Renan Calheiros. Exasperado, o deputado acusou o presidente do Senado de ser fiador da fraude governista. “Vossa Excelência à© uma vergonha para essa Casaâ€, afirmou na sessão do Congresso da quarta-feira 26, interrompida por uma falta de quórum, graças a uma calculada ausência da bancada do PMDB, que usa o desespero do governo para negociar cargos na Esplanada. 4#3 QUESTÃO DE ESTILO Enquanto Aécio Neves devolveu seu salário de senador durante a campanha, a presidente Dilma Rousseff preferiu não abrir mão dos vencimentos, embora quase não comparecesse ao Palácio. É o que mostram os holerites acessados pelo Portal da Transparência Ludmilla Amaral (ludmilla@istoe.com.br) Conciliar a campanha eleitoral com o exercício do mandato ainda em vigor é um dos desafios impostos a políticos que ocupam cargos eletivos e decidem concorrer à reeleição ou a outras funçàµes públicas. A fronteira entre o que é ou não permitido pela lei eleitoral muitas vezes é tênue e as discussões sobre eventuais abusos de poder inundam a pauta dos órgãos de fiscalização em ano de eleição. Enquanto não há uma reforma política capaz de dirimir essas questões fundamentais ao exercício da democracia, a população volta os olhos para o comportamento individual do candidato. A presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) se encontraram nesse contexto em 2014, mas ambos adotaram posturas distintas na hora de lidar com o bem público. Dilma precisava manter suas funções ativas no Executivo, enquanto lutava pela reeleição, e Aécio no Legislativo, no mesmo tempo em que estava em campanha para alcançar a Presidência da Repàºblica. Nos últimos dois meses que antecederam a eleição, a presidente foi ao Palácio do Planalto, seu local oficial de trabalho, em apenas cinco ocasiões – quatro em agosto e uma em setembro. Já o senador Aécio Neves, que ensaiou tirar licença do Senado durante a campanha, mas desistiu, compareceu a quatro sessões. A diferença crucial é que, no período, enquanto Aécio devolveu seus honorários, Dilma recebeu integralmente o salário, conforme mostram os holerites que podem ser acessados pelo Portal da Transparência. O valor bruto recebido pela presidente e pelo senador é de R$ 26.723,13. Quando descontados impostos e previdência oficial, o salário líquido fica em R$ 19.850,31 (leia quadro). Durante a campanha, a presidente recebeu ministros e aliados no Palácio da Alvorada, a residência oficial. Em determinados encontros, assuntos de governo foram até discutidos, mas em geral eles ocorriam para tratar da campanha eleitoral. No Planalto, em agosto, Dilma recebeu no dia 1º o primeiro-ministro do Japão, Abe Shinzo, sancionou ao lado de empresários a lei que altera o Simples Nacional no dia 7 e promoveu encontros com doadores da campanha e posteriormente com a CEO da General Motors, Mary Teresa Barra, no dia 14. No fim do mês, no dia 25, ela esteve no Planalto para um encontro marcado com o presidente da CNBB, dom Raymundo Damasceno Assis. Em setembro, Dilma só compareceu em seu gabinete no dia 19 para receber atletas olímpicos e paraolímpicos, já que os próximos Jogos Olímpicos serão no Rio de Janeiro. Aquele dia, uma sexta-feira, foi o último em que os funcionários do Planalto viram a presidente em seu local oficial de trabalho. Dilma só voltou a fazer despachos do Planalto três dias após a reeleià§ão, na quarta-feira 29 de outubro. Nesse período, Dilma estava dividida entre gravações para programas eleitorais na TV e no rádio, viagens pelo País em busca de votos, debates e outras atividades de campanha. A assessoria de imprensa do Planalto chegou a informar que a presidente estaria realizando despachos internos e recebendo ministros normalmente. Apesar de não ir ao Palácio durante a campanha eleitoral e dedicar boa parte do seu tempo em prol da reeleição, Dilma recebeu seu salário integralmente durante os meses de junho, julho, agosto e setembro. Já o senador Aà©cio Neves cogitou tirar licença do Senado, mas optou por se manter no cargo por conta da estrutura de seu gabinete e também para não descartar o plenário para possíveis discursos. O tucano tomou a decisão de permanecer como senador no dia 6 de agosto e ainda afirmou que devolveria os salários de julho a outubro – período em que esteve empenhado na campanha –, e assim fez. Documentos obtidos por ISTOÉ comprovam que Aécio devolveu o salário à União por meio de um guia de recolhimento. “Devolver o salà¡rio fica a cargo de cada um, não há nada na legislaçà£o que fale sobre isso. Deveria ter uma legislação específica para falar sobre salários. É o caso de abrir uma discussà£o sobre issoâ€, pondera o cientista político Gaudêncio Torquato. A Constituição obriga secretários e ministros a deixarem os cargos caso decidam concorrer no ano eleitoral. O mesmo não se aplica aos governadores e parlamentares. Eles até podem tirar licença, deixando a cadeira para o suplente ou para o vice. Contudo, são raros os políticos que se licenciam de seus mandatos para concorrer à eleição ou reeleição. 4#4 O ESQUEMA CHEGOU AO PRÉ-SAL Ex-gerente da Petrobras reproduziu na empresa Sete Brasil, criada para coordenar a construção de navios-sonda para águas profundas, o mesmo esquema de desvio de dinheiro montado na estatal Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Delegados e procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato suspeitam que Pedro Barusco, ex-gerente-executivo da área de Serviços da Petrobras, comandada pelo diretor Renato Duque, tenha levado o megaesquema de corrupção que drenou recursos da estatal para dentro da companhia Sete Brasil. A empresa foi criada em 2011 com a missão de gerenciar a construção e o fretamento para a Petrobras de 29 navios-sonda para águas ultraprofundas. A PF descobriu que Barusco, como diretor de Operações da Sete Brasil, intermediou os contratos da empresa com estaleiros, empreiteiras e agentes financeiros nacionais e internacionais. Réu confesso no inquérito da Lava Jato, em que admitiu ter embolsado R$ 250 milhões em propinas, Barusco comandou a estruturação de offshores da Sete Brasil na Holanda, pelas quais circularam nos últimos três anos quase US$ 7 bilhões – cerca de R$ 18 bilhões. Para a PF, Barusco trocou a Petrobras pela Sete Brasil com uma missão clara: montar um novo esquema de propina, exclusivo do PT e sem a participação de doleiros. PP e PMDB até se queixaram quando a companhia venceu sozinha a concorrência, mas o executivo os desdenhou. Passou o chapéu junto à Petrobras, fundos de pensão e bancos privados. Colocou o dinheiro num fundo de investimentos e abriu 29 offshores em Amsterdã, uma para cada navio-sonda. Batizadas com nomes de praias famosas, como Copacabana e Ipanema, as empresas estão sediadas em endereços virtuais e não possuem funcionários. Servem apenas para escoar os dólares. E aí começam os problemas. Com esse esquema, o dinheiro para pagar materiais e serviços, por exemplo, não caía direto na conta dos fornecedores. Ele saía da Petrobras, dos bancos e dos fundos de pensão e passava primeiro nas contas das offshores, dificultando o controle de órgãos como o COAF e o Banco Central. Até 30 de setembro, a Sete Brasil já havia desembolsado US$ 6,5 bilhões para o pagamento dos estaleiros, quase todos formados por empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, como Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Engevix. As obras, porém, caminham lentas. O OPERADOR - Abalado por uma doença grave, Pedro Barusco é temido pelo governo A empresa alega que 16 sondas já começaram a ser construídas e que cumpriu 23% da execução dos contratos. Mas não hà¡ como ter certeza disso. No Estaleiro Atlântico Sul, por exemplo, as obras estão paralisadas por falta de um parceiro tecnológico. Segundo um dirigente ligado ao negócio, a coreana Samsung e a japonesa Mitsui desistiram da empreitada porque o “pedágio†cobrado era alto demais. Os chineses estão sendo sondados para assumir a responsabilidade. Oficialmente, ninguém comenta o caso. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato suspeitam que para o pagamento de propinas a Barusco e seus parceiros a Sete Brasil usou como cobertura legal a contratação de serviços de “supervisão e gerenciamento†das obras, um modelo similar ao utilizado pelo doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. No relatório da operação Juízo Final, que prendeu Duque e os empreiteiros, o juiz Sérgio Moro destacou como principais elementos probatórios as notas fiscais frias e contratos de prestação de serviços forjados. Youssef, por exemplo, firmou com o Consórcio Ipojuca Interligações (IESA) um contrato de “gerenciamento da implantaçà£o do canteiro de obras†da Refinaria de Abreu e Lima. Costa combinou com a Engevix o pagamento de propina por meio de contrato de “gestão empresarialâ€. No caso da Sete Brasil, os contratos de gerenciamento ganharam um nome pomposo em inglês: “Construction Management Agreement (CMA)â€. Na descrição do serviço a ser prestado, a empresa diz que a finalidade é “o acompanhamento dos contratos de EPCâ€. Os contratados deveriam monitorar as obras nos estaleiros no Brasil. Ocorre que o pagamento por esses serviços também foi feito là¡ fora. Ao todo, a empresa já desembolsou com os contratos de CMA US$ 181 milhões, ou R$ 462 milhões, quase o dobro do valor de propinas que Barusco prometeu repatriar. Até a entrega dos 29 navios-sonda, a Sete Brasil pretende gastar US$ 828 milhões para supervisionar a construção – o valor equivale a 3,7% do total das sondas, percentual parecido ao das propinas da Petrobras. A PF ainda não tem provas de que esses contratos foram fraudados. Primeiro, ela quer ouvir Barusco sobre o caso. E se necessário solicitar à empresa cópia dos contratos e das notas fiscais. “Como as obras estão atrasadas, há um forte indício de que os serviços de supervisão citados não foram prestados de forma adequada ou simplesmente não foram executadosâ€, avalia um integrante da força-tarefa. Barusco, que sofre de um câncer agressivo, tem deixado o governo preocupadíssimo com suas revelaà§ões. A força-tarefa já tem em mãos cópia de uma auditoria realizada pela PricewaterhouseCoopers, que encontrou um rombo de R$ 10,9 bilhões nas contas da Sete Brasil. Situação que, segundo os auditores, indica uma “incerteza material que pode suscitar dúvidas significativas sobre a continuidade operacional da companhiaâ€. A Sete Brasil se defende. Garante que tem cumprido a lei, desconhece qualquer prática ilícita de Barusco na empresa e trabalha para cobrir os compromissos de curto prazo. Chegou a recorrer a empréstimos internacionais e aguarda ansiosa a liberação de um total de R$ 10 bilhões já aprovados pelo BNDES e pelo Fundo da Marinha Mercante. 4#5 DITADURA ESPIONOU O FOTÓGRAFO SEBASTIÃO SALGADO Documento produzido pelo DOI-Codi revela que Salgado foi monitorado em 1980 pelos militares durante projeto fotográfico nas regiões Norte e Nordeste Eumano Silva Na noite do dia 31 de dezembro de 1979, o fotógrafo Sebastião Salgado desembarcou no Rio de Janeiro depois de dez anos fora do Brasil. O retorno se tornara possível com a assinatura da Lei da Anistia, quatro meses antes, pelo então presidente, João Figueiredo. Desde 1969, Salgado e sua mulher, Lélia Wanick, viviam em Paris. Haviam saído do Brasil em decorrência do Ato Institucional n° 5 (AI-5), o pacote de normas arbitrárias baixadas pela ditadura militar para aumentar a repressão contra os adversários. O regresso carregava, então, uma forte carga emotiva e era, também, um compromisso profissional do fotógrafo. Na ocasião, ele trabalhava para a agência internacional Magnun e a viagem ao Brasil tinha como objetivo a realização de um projeto fotográfico com foco no Norte e no Nordeste. Salgado não sabia, mas – embora o Brasil estivesse em fase de abertura política – sua jornada no território nacional estava sendo vigiada por espiões dos serviços secretos das Forças Armadas. A prova do monitoramento do fotógrafo pelos militares ficou registrada em um documento “confidencial†obtido com exclusividade por ISTOÉ. Trata-se do Relatório de Operações (Relop) nº 23, com uma página e meia, arquivado no “Protocolo Sigiloso†com o número 113. Tem data de 10 em abril de 1980 e foi produzido pelo Departamento de Operações de Informações– Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de Brasília. Com similares nas principais capitais do País, esse à³rgão reuniu representantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica e integrou um dos braços mais sanguinários da repressão contra os opositores ao regime fardado. “Nunca tive conhecimento de que estava sob observação dos militares nessa viagemâ€, afirmou Salgado ao saber por ISTOÉ da existência do documento. “Algumas informações estão corretas, mas a maior parte do que está escrito é fabulaçãoâ€, explicou o fotógrafo. O relatório afirma que, na viagem ao Brasil, Salgado “estaria realizando levantamentos fotográficos†para a Magnun (erradamente grafada como “Magnusâ€) sobre pontos de prostituição, exploração e tráfico de menores nas margens da rodovia Belém-Brasília. O trabalho também abordaria a criminalidade na Baixada Fluminense, o Projeto Jari e “outros problemas brasileirosâ€. Essas informações ainda dependiam de confirmaà§ão, segundo o texto. Na verdade, dessa lista, a única pauta de fato executada pelo fotógrafo foi no Projeto Jari, o gigantesco empreendimento patrocinado na década de 1970 pelo bilionário americano Daniel Ludwig e instalado na divisa do Amapá com o Pará para a produção de celulose e energia. Esse trabalho foi publicado na “Lifeâ€, revista americana que deixou de circular no ano 2000. Entre as imagens feitas na passagem pelo Jari estão as duas fotos publicadas nesta reportagem, gentilmente cedidas pelo autor. Os outros tópicos referentes ao trabalho fotográfico não passavam de suposição dos agentes secretos da ditadura. Sem detalhes sobre os planos de Salgado, os militares estavam bem informados em relaà§ão ao seu paradeiro em Brasília. Tratado como “nominado†no relatório, o fotógrafo estava hospedado na casa do amigo Rezende Ribeiro de Rezende, filho do então governador do Espà­rito Santo, Eurico Rezende, ex-senador pela Arena, o partido que dava sustentação à ditadura. O endereço de Ribeiro, na Super Quadra Sul 111, aparece três vezes no relatório. O documento também afirma que, quando voltasse do Projeto Jari, Salgado reencontraria sua mulher em Brasília. Não foi bem assim. Em entrevista concedida por telefone à ISTOà‰, Salgado contou que saiu da capital federal em um carro emprestado e chegou a Belém “em um tiro sóâ€. De lá, prosseguiu até o Jari. Terminado o trabalho, ele esticou a jornada no mesmo carro até o Nordeste, onde ficou seis meses. “Meu interesse era conhecer o Brasilâ€, afirma. Nessa temporada, ele captou imagens de trabalhadores rurais, de movimentos remanescentes das antigas Ligas Camponesas e também das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), da Igreja Católica. Formado em economia pela Universidade Federal do Espírito Santo, com pós-graduação pela Universidade de São Paulo e pela Universidade de Paris, Salgado só começou a trabalhar no ofício que o tornou conhecido em todo o mundo alguns anos depois de se mudar para a França. Os problemas com os militares começaram ainda no tempo de estudante no Brasil. Antes de trocar a América do Sul pela Europa, Salgado participou de mobilizações estudantis contra a ditadura e se aproximou da Ação Popular, uma das organizações de esquerda que combateram o governo militar. Com o endurecimento do regime, ele e Lélia se mudaram para Paris. Na capital francesa, o casal atuou na rede de solidariedade aos exilados brasileiros, e também de outros países, que chegavam depois de passar por prisões e torturas. Os dois não sabiam, mas já nesse período eram espionados. Recentemente, eles tiveram acesso a documentos do Serviço Nacional de Informações (SNI) com descrições minuciosas sobre a casa onde viviam. Por causa de sua militância na Europa, os agentes secretos da ditadura investigaram até a vida de Jean Monteux, diretor da Agência Gamma, onde trabalhou antes de entrar para a Magnun. Isso aconteceu apenas porque Monteux acompanhou Salgado ao consulado brasileiro numa tentativa de renovar o passaporte, o que não aconteceu. O fotógrafo só obteve o documento depois de entrar com um processo no Itamaraty. Quando voltou ao Brasil ele sofreu mais uma intimidação ao visitar o Palácio do Planalto para pedir apoio ao trabalho da imprensa estrangeira. “Disseram-me que, se alguém denunciasse a destruição da Amazônia, não poderia mais trabalhar no Paísâ€, disse à ISTOÉ. Com o fim da ditadura, apesar da resistência dos militares, milhares de papéis produzidos no período foram tornados públicos. O documento do DOI-Codi usado nesta reportagem faz parte dos arquivos do Exà©rcito entregues pelo cabo José Alves Firmino, em 1997, à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O passo mais importante no esclarecimento do submundo da repressão polà­tica será dado no dia 10 de dezembro, data da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada em 2012 pela presidente Dilma Rousseff. 4#6 IRMÃOS-PROBLEMA Denunciados, Odair e Milton Geller, Ticiano Toffoli e Adarico Negromonte carregam o peso do sobrenome Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br) Cunhado não é parente, mas irmão é. E, na última semana, irmãos de gente graúda do governo do PT se tornaram fonte de problemas. Na quinta-feira 27, a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que fraudava terrenos da reforma agrária. No topo do negócio de R$ 1 bilhão estavam Odair e Milton Geller, irmãos do atual ministro da Agricultura, Neri Geller (PMDB/MT). No mesmo dia, o Ministà©rio Público Federal apresentou denúncia contra José Ticiano Dias Toffoli (PT) por desvio de R$ 57 milhões do Fundo Municipal de Saúde, quando era prefeito de Marília, interior de São Paulo. O ex-prefeito vem a ser irmão mais velho do ministro do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Antonio Dias Toffoli. Os dois casos vêm à tona na mesma semana em que Adarico Negromonte, que estava foragido da Justiça, entregou-se à Polícia Federal. Irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP), Adarico é réu na Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato que investiga um megaesquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo o alto comando da Petrobras e presidentes e diretores das principais empreiteiras do País. Em ordem de grandeza, o caso envolvendo a estatal é muito superior aos demais, embora Adarico, pelo que se sabe até agora, tenha tido papel pouco relevante. No caso de Mato Grosso, segundo inquérito da Operação Terra Prometida, Odair e Milton integrariam o principal grupo do esquema formado por empresários e fazendeiros que consistia em pressionar assentados com propostas de compra de lotes da reforma agrária, por valores muito abaixo do mercado. A documentação era falsificada e a terra, regularizada em conluio com o sindicato rural e servidores do Incra. Os irmà£os Geller, que se entregaram à PF no final da noite da quinta-feira, negaram participação no esquema. Em Mato Grosso, houve desvio de lotes da reforma agrária O episódio envolvendo o irmão do ministro Dias Toffoli tem aspecto distinto. Ele, outro ex-prefeito e três secretários de Fazenda do município de Marília são acusados de desviar recursos destinados à saúde e à educação para custear a folha de pagamento dos servidores. Em depoimento, Ticiano Dias Toffoli admitiu a irregularidade. Ele era vice-prefeito e, quando assumiu o cargo após renúncia de Mário Bulgareli, encontrou um déficit de R$ 8 milhões no caixa da prefeitura. Por isso, foi obrigado a cobrir o rombo. Caso a Justiça aceite a denúncia, ele responderá por crime de responsabilidade. A pena é de três meses a três anos para gestores que apliquem indevidamente verbas públicas. 4#7 PENTE-FINO NAS CONTAS DE DILMA Como o ministro Gilmar Mendes, do TSE, pretende fazer uma devassa na contabilidade de campanha da presidente reeleita Izabelle Torres (izabelle@istoe.com.br) OTribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciou uma nova fase no tratamento dadoàs prestações de contas dos candidatos. O ministro Gilmar Mendes, relator do processo que fará um pente-fino na contabilidade de campanha da presidente Dilma Rousseff, mobiliza desde a última semana uma equipe de dez técnicos requisitados da Receita Federal, do Banco Central e do Tribunal de Contas da União (TCU). Pela familiaridade que esses funcionários possuem com números e dados fiscais de empresas, o ministro acredita que eles podem analisar mais rapidamente a veracidade do que fora informado pelo PT. No caso da Receita, por exemplo, a ideia é verificar se a empresa doadora possui capacidade contábil para as doações ou se o prestador de serviço apresentava dados fiscais coerentes. LUPA - Dez técnicos requisitados da Receita Federal, do Banco Central e do TCU ajudarão Gilmar Mendes a emitir um parecer até o dia 11 Na semana passada, o ministro se reuniu com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para solicitar um técnico do órgão e abrir um canal de parceria. Nas mãos do BC estão informações determinantes para apurar a origem das receitas e o fluxo de capitais das empresas doadoras no exterior. Com a Operação Lava Jato em andamento e repleta de depoimentos de acusados afirmando que contas bancárias foram abertas no exterior para desviar recursos da Petrobras, o acesso ao mapeamento das quantias que entraram no Brasil por meio dessas empresas pode representar um grande avanço na análise da origem do dinheiro que abastece as campanhas políticas. Já o TCU vai trabalhar com o foco nas possíveis relações entre empresas contratadas pelo poder público e as doações para a campanha do partido de Dilma Rousseff. O relator tem até o dia 11 para emitir um parecer sobre as contas eleitorais da presidente reeleita. Na semana passada, Gilmar Mendes mandou dar publicidade às notas fiscais apresentadas pelo comitê financeiro da candidata, em vez de permitir acesso apenas aos CNPJs dos colaboradores e aos valores finais das doações. Funcionários do TSE jà¡ estão trabalhando na digitalização de cerca de 300 pà¡ginas de documentos, incluindo dados de empresas doadoras, fornecedores e prestadores de serviços da campanha. A publicidade desses dados permitirá que órgãos de controle, entidades civis e sociedade conheçam as entranhas da campanha feita pela candidata reeleita, cujos gastos ultrapassaram R$ 350 milhões. SERÁ QUE VAI? - Na semana passada, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi convocado para ajudar o ministro Gilmar Mendes O empenho de Gilmar Mendes em apurar a fundo os detalhes da prestaçà£o de contas apresentada por um candidato a presidência reeleito deve lançar luz sobre um mundo de números e contabilidades tratado burocraticamente há anos, embora suas irregularidades sejam capazes de impedir em último caso até a diplomação do eleito. Mesmo sobre a artilharia do PT e dos partidos aliados contrários a mudanças no modo de operar do TSE, a apuração detalhada e a publicidade dos dados contábeis apresentados representam um grande avanà§o da democracia. Se os demais ministros que relatam os processos de prestações de contas de outros candidatos seguirem o novo rito, será possível vislumbrar campanhas mais limpas e doações que não sejam oriundas dos desvios de recursos públicos para irrigar campanhas de quem quer que seja. ___________________________________________ 5# COMPORTAMENTO 3.12.14 QUADRILHA DOS VESTIBULARES Como agia e como vivia o bando especializado em fraudar provas de universidades, que usava tecnologia sofisticada para burlar a fiscalização e cobrava até R$ 200 mil pelo gabarito. Criminoso chegava a gastar R$ 4 mil em noitada Raul Montenegro (raul.montenegro@istoe.com.br) Era um domingo chuvoso e abafado em Belo Horizonte no dia 23 de novembro, quando 3.638 pessoas prestavam o vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. A data era decisiva para os candidatos ao concorrido curso de medicina – exceto para 22 postulantes, que pensavam estar com a vaga garantida. Eles tinham desembolsado entre R$ 70 mil e R$ 200 mil pelas respostas do teste, que seriam repassadas por uma quadrilha especializada em fraudar provas de universidades, entre elas o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O grupo atuava há 20 anos em diversos Estados do País. O que os vestibulandos trapaceiros e os bandidos nà£o desconfiavam é que a Polícia Civil do Estado já estava a par do esquema e monitorava os passos do bando. Com a anuência da instituição de ensino, 40 policiais foram paramentados e infiltrados como fiscais, para acompanhar os envolvidos. Outros 30 homens monitoravam os arredores, numa operação batizada de Hemostase II, que envolveu também o Ministério Público mineiro. “Desbaratamos aquela que, pelo nível de sofisticação, acredito ser uma das maiores quadrilhas do ramo no Brasilâ€, diz o delegado Jeferson Botelho, superintendente de Investigações e Polícia Judicià¡ria de Minas Gerais. FIM DA LINHA - Integrantes de grupo que fraudou exames de admissão de várias faculdades e o Enem são presos em Belo Horizonte no domingo 23 As autoridades investigavam o grupo há sete meses e já conheciam o modo de atuação dos criminosos. Eles conseguiam as respostas durante a realização dos testes, usando os chamados “pilotosâ€, indivíduos de grande conhecimento nas matérias, professores universitários e médicos residentes que se inscreviam como candidatos e faziam a prova no menor tempo possível. Com a solução em mãos, eles saíam das salas de exame e passavam o gabarito para outros membros da organização. Através de uma sofisticada aparelhagem eletrônica adquirida no exterior, as respostas eram repassadas aos vestibulandos pagantes, que carregavam receptores no formato de cartões de crédito e minúsculos pontos eletrônicos no ouvido. Foi nesse momento que os policiais agiram. Eles seguiram os “pilotos†e esperaram os primeiros resultados serem transmitidos para, então, efetuar as prisões em flagrante. Além dos 22 candidatos, 12 quadrilheiros foram presos. Os primeiros poderão responder por fraude em certame de interesse público, e os demais tambà©m por formação de quadrilha e falsidade ideológica. Os pais dos vestibulandos, jovens sem renda para arcar com custo tão alto, também serão investigados. De acordo com o delegado Botelho, a gangue do vestibular de medicina era chefiada por dois homens em localidades distintas do País: Carlos Roberto Leite Lobo, de Guarujá (SP), e Áureo Moura Ferreira, de Teà³filo Otoni (MG). O primeiro, um cirurgião dentista, operava há 20 anos na fraude. Era visto como homem de sucesso e possuía casa em condomínio fechado na cidade do litoral paulista, próxima à de jogadores famosos, como Neymar. O segundo, de apenas 26 anos, possuà­a uma empresa de fachada do ramo da promoção de eventos. Na verdade, viajava à China e a Dubai para adquirir os transmissores para o esquema criminoso. Dirigia carros esportivos de luxo, como Porsche, morava numa mansão em bairro nobre e frequentava noitadas onde chegava a gastar R$ 4 mil numa saída. Confessou que, somente nas fraudes recentes nos vestibulares de medicina, embolsaria R$ 3 milhões livres de despesas. Na casa de seu pai, foram apreendidas quatro armas. Preso, ele tentou pagar a fiança com notas falsas. O pai deverá ser acusado de falsificação de moeda pela Justiça Federal e os líderes por lavagem de dinheiro e pelos outros crimes. As prisões ocorreram durante o vestibular da Faculdade de Ciências Médicas de Minas, mas durante as investigações a polícia detectou a presença do esquema nos testes de ingresso da Universidade de Brasília (DF), de uma faculdade em Fortaleza (CE) e no Enem. Noúltimo caso, o suspeito é um estagiário do Ministério Público em Montes Claros (MG), estudante de direito que teve acesso à prova antecipadamente. O grupo escolheu uma cidade no interior de Mato Grosso para resolver e distribuir os gabaritos. Acredita-se que 15 a 20 estudantes tenham sido beneficiados. Fraudes em vestibulares são comuns no Brasil (leia quadro). No ano passado, a operação Hemostase I, que serviu como ponto de partida para a polícia mineira chegar à quadrilha atual, prendeu outra organização que atuava em diversas cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Enem. No caso do exame nacional, a documentaçà£o foi encaminhada para a Polícia Federal e há 20 dias foram indiciadas 17 pessoas pelo crime. A quadrilha presa agora terá destino semelhante. A polícia mineira investigará casos do Estado, e a parte relativa ao Enem será encaminhada à PF e ao Ministério Público Federal para prosseguimento das investigações. Em nota, o Inep, órgão federal que organiza o Enem, afirmou que solicitou informações à PF e que qualquer pessoa que tenha usado métodos ilegais será eliminada da prova. __________________________________________ 6# ECONOMIA E NEGÓCIOS 3.12.14 O FENÔMENO GOPRO Empresa criada por um surfista da Califórnia se transforma em um negócio bilionário, começa a fabricar câmeras no Brasil e se prepara para lançar drones no ano que vem Luisa Purchio (luisapurchio@istoe.com.br) A ideia era criar uma câmera de vídeo que registrasse surfistas desbravando ondas na Califórnia. Isso foi em 2002. Desde então, Nicholas Woodman, um americano de 39 anos que adora esportes radicais, embolsou US$ 4,8 bilhões e fez de seu projeto pessoal um negócio com milhões de admiradores – e não apenas surfistas tatuados em busca de exposição. Com presença em mais de 200 países e valor de mercado estimado em US$ 9 bilhões, a GoPro se tornou um fenômeno global graças à capacidade de captar imagens extraordinárias em altíssima resolução, seja acoplada no mastro de um veleiro, seja na asa de um ultraleve ou no capacete de um bombeiro que faz resgates, como se tornou comum nos Estados Unidos. Tudo isso com um aparelho de cinco centímetros, que pesa só 88 gramas e cotado no mercado americano entre US$ 130 e US$ 500. No Brasil, o modelo mais recente, o Hero 3 + Black Edition, saía por R$ 2,4 mil. A boa notícia é que ele começou a ser fabricado no País, o que significará uma redução de 30% de seu valor. FORTUNA - Nicholas Woodman, fundador da GoPro, faz um selfie nas ruas de Nova York: em apenas 12 anos, ele construiu um negócio que vale US$ 9 bilhões Ao escolher o Brasil para produzir a GoPro – até então, só Estados Unidos e China fabricavam as câmeras –, Woodman sinaliza a crescente importância do mercado nacional. A empresa nà£o divulga indicadores por país. No balanço financeiro do terceiro trimestre apresentado recentemente, as Américas (incluindo, claro, Estados Unidos e Brasil) responderam por 73,2% do faturamento de US$ 280 milhões, ante 18,2% da Europa e África e 8,6% da Ásia. Uma peculiaridade pode explicar o tremendo sucesso da GoPro no País. “Os brasileiros estão entre os maiores usuários de redes sociais do mundo, atrás apenas dos Estados Unidosâ€, disse à ISTOÉ Drew Goldman, diretor de vendas da GoPro para a América Latina. A nova onda nas redes sociais, especialmente no Facebook, é compartilhar vídeos – é aí que a GoPro entra. Basta observar a quantidade de pessoas que carregam a câmera em espaços públicos (no show de Paul McCartney, em São Paulo, eram muitas) apenas para fazer selfies e colocar na internet. Com a produção na fà¡brica da Flextronics, em Sorocaba (SP), a tendência é que esse número aumente ainda mais. O fenômeno GoPro surpreende por ter surgido num momento em que as tradicionais câmeras estão em declínio. “As vendas das câmeras digitais compactas caem a cada trimestre e apenas as mais poderosas sobrevivemâ€, diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil. Qual é o sentido de comprar um equipamento apenas para tirar fotos e gravar vídeos se os melhores smartphones já fazem isso? O mérito de Woodman foi apostar em um nicho nunca antes desbravado: uma câmera com alta qualidade de imagem e que se adapta às mais inusitadas situações. No ano passado, a GoPro liderou esse mercado, com 30,4% de participação, à frente da Sony, que obteve 20,8%. Outra sacada de Woodman foi disponibilizar acessórios, como capacetes e coletes, para que as cenas sejam gravadas enquanto a pessoa desfruta de qualquer atividade – um mergulho, um salto de paraquedas, uma caminhada no parque, um show musical. O piloto Michael Schumacher usava um desses acessórios (capacete com câmeraß) quando se acidentou e um jornalista francês chegou a declarar que a GoPro foi a causadora da lesão (a informação foi negada pela família, mas mesmo assim as ações da empresa despencaram). Woodman não sossega. De acordo com uma reportagem recente do jornal “The Wall Street Journalâ€, a GoPro está investindo em drones, que serão lanà§ados em 2015 ao custo de US$ 500 a US$ 1000. É fácil de imaginar as cenas espetaculares que eles serão capazes de fazer. __________________________________________ 7# MUNDO 3.12.14 7#1 O FANTASMA DE BROWN 7#2 OBAMA SOB RISCO 7#1 O FANTASMA DE BROWN Protestos contra a absolvição de policial que matou jovem negro em Ferguson extrapolam os limites do gueto e chegam às grandes cidades americanas Mariana Queiroz Barboza (mariana.barboza@istoe.com.br) Já passava das 8 horas da noite da segunda-feira 24 quando o procurador do condado de Saint Louis, nos Estados Unidos, Robert McCulloch, anunciou a conclusão do júri que decidiria o futuro do policial branco acusado de matar um jovem negro desarmado em Ferguson, em agosto. A notícia era aguardada ansiosamente pelos 21 mil habitantes do subúrbio no Missouri, que viveu semanas de intensos protestos após o assassinato de Michael Brown, de 18 anos. “Darren Wilson não será acusadoâ€, disse McCulloch. O resultado não surpreendeu. Raramente queixas contra o uso excessivo da força são levadas adiante e, quando são, policiais costumam ser absolvidos. Enfurecida com o veredicto, a população de Ferguson foi novamente às ruas para repetir as cenas de violência de agosto – como antes, carros de polícia foram incendiados e lojas, saqueadas. Desta vez, porém, a revolta não ficou circunscrita ao gueto. Os protestos extrapolaram os limites de Ferguson e avançaram madrugada adentro em dezenas de cidades, como Washington e Boston, e chegaram a uma das regiões mais turísticas do país, a Times Square, em Nova York. GRITO POR JUSTIÇA - Em Nova York, os manifestantes levaram a voz dos subúrbios à Times Square A revolta nacional levou milhares de americanos a segurar cartazes com a frase “não atireâ€. A imagem de Brown com as mãos levantadas em sinal de rendição, como se acreditava que havia acontecido na noite de 9 de agosto, se tornou icônica durante as manifestações, mas acabou desconstruída durante o julgamento de Wilson. Os 12 jurados (nove brancos e três negros) aceitaram a versão do policial de que ele agiu em legítima defesa. De acordo com Wilson, o garoto negro havia assaltado uma loja de conveniência e ele o abordou com base em sua descrição. O policial disse que Brown não parou e ainda o agrediu. Só então o agente atirou e o jovem se afastou para, em seguida, voltar em direção a Wilson. Ele atirou novamente e matou Brown. Foram seis tiros no total. Incorporados à rotina de Ferguson, os protestos foram impulsionados pelas redes sociais, que chamaram a atenção da grande mídia para o que estava acontecendo no gueto. Assim, receberam o apoio de celebridades como os astros do basquete LeBron James e Kobe Bryant, e o ator Jesse Williams, e mostraram que a morte de Brown não é um caso isolado. “Tenho a consciência limpaâ€, disse o policial em entrevista a uma tevê americana. “Sei que fiz meu trabalho corretamente.†Em depoimento, Darren Wilson disse que Michael Brown tinha tanta raiva que “parecia um demônioâ€. A visão que os brancos tàªm dos negros como seres ameaçadores não é incomum nos Estados Unidos. Um estudo de 2008 da Universidade Stanford já mostrava que a discriminação contra negros estava ligada à desumanização deles. O trabalho feito por um grupo de psicólogos concluiu que muitos americanos não só associam negros a macacos como aprovam a violência policial contra eles. Talvez seja isso que esteja na origem de um sistema que prende e mata muito mais negros que brancos. “O que move esses jovens que vão para as ruas protestar é a percepção de que o sistema de justiça criminal é regido por duas regras: uma para os brancos e outra para os negros e mais recentemente os latinosâ€, afirma João Costa Vargas, antropólogo e professor de Estudos Africanos da Universidade do Texas. â€œÉ um sistema de apartheid, que, mais do que reformado, precisa ser reconstruído.†INDIGNAÇÃO - Em Ferguson, onde Brown foi morto, as passeatas terminaram em violência: carros de polícia foram depredados e lojas, saqueadas A sensação geral é de que a questão racial pouco avançou nos Estados Unidos nos últimos anos, apesar da chegada do primeiro negro à Casa Branca. O racismo ainda está implícito em estatísticas que mostram que, a cada 28 horas, um negro é morto por agentes do Estado, policiais ou vigilantes armados. Em 2013, manifestações parecidas com as da semana passada ocorreram depois que um vigia comunitário foi inocentado pelo homicídio de Trayvon Martin, de 17 anos, na Flórida. Martin era negro. Na ocasião, o presidente Barack Obama pediu a reavaliação de leis estaduais de autodefesa e ordenou que o Departamento de Justiça, chefiado por Eric Holder, também negro, desse continuidade às investigações. Nada mudou. Agora o mesmo Holder é responsável por duas investigaà§ões federais do caso Ferguson e, a pedido de Obama, por uma revisão das práticas policiais em todo o país. O resultado mais provável dessa medida é que os agentes sejam obrigados a utilizar câmeras em seus uniformes. Ainda é pouco. 7#2 OBAMA SOB RISCO Republicanos cogitam o impeachment do presidente americano depois do anàºncio de reforma que beneficiaria cinco milhões de imigrantes A oposição americana aumentou o tom das críticas contra o presidente Barack Obama e levantou a hipótese de pedir seu impeachment. O motivo: Obama teria abusado de seu poder na Casa Branca ao anunciar uma reforma imigratória por meio de medidas executivas. “Nosso sistema de imigração está quebrado há muito tempo e todo mundo sabeâ€, afirmou o presidente. “Hoje estamos fazendo algo em relação a isso.†O decreto regulariza temporariamente a situação de pessoas que se mudaram para os Estados Unidos ainda crianças e pais de cidadãos americanos e residentes permanentes legais. Isso beneficiaria cerca de cinco milhões de imigrantes que hoje vivem no país sem documentos. Não demorou para que os republicanos falassem em impeachment. “Aparentemente a América tem agora seu primeiro imperadorâ€, ironizou o senador conservador Jeff Sessions. "IMPERADOR" - Cada vez mais impopular, Obama foi ironizado por adversários e criticado por membros de seu próprio partido A ação de Obama vem justamente num momento em que seu partido digere a derrota nas eleições legislativas no início de novembro. A partir do ano que vem, o controle do Senado passará das mãos dos democratas para a dos republicanos, que já têm maioria na Câmara. Mas, apesar de tanto poder, a oposição teme que a abertura de um processo tão extremo provoque um efeito negativo para o próprio Partido Republicano. Em 1999, o democrata Bill Clinton saiu fortalecido de um impeachment motivado por um escândalo sexual e sua aprovação atingiu índice recorde. Como alternativa para condenar Obama, os congressistas têm considerado a não aprovação do Orçamento e o consequente fechamento do governo (“shutdownâ€, em inglês), como ocorreu no ano passado, a aprovaçà£o de um projeto de lei que financiaria todas as operações federais, menos a da imigração, e até um veto ao discurso anual à nação que o presidente faria em janeiro. Não bastasse isso, Obama ainda tem que lidar com o fogo amigo. Na terça-feira 25, o senador democrata Charles Schumer fez um duro discurso criticando a Casa Branca por uma série de erros – a começar pela reforma da saúde em 2009, quando os americanos estavam mais preocupados com a crise econômica. Segundo a agência Reuters, se seis senadores democratas, críticos das medidas de Obama, se juntarem aos republicanos, eles podem vetar a reforma imigratória. Nessa conta, não entra a popularidade da medida entre os mais afetados por ela. Uma pesquisa mostrou que 90% dos eleitores latinos, cada vez mais decisivos, apoiavam o decreto. Mas o eleitorado como um todo aparecia dividido: 45% a favor, 48% contra, segundo a Universidade de Quinnipiac. _____________________________________ 8# CULTURA 3.12.14 8#1 CINEMA - O IMPÉRIO DE GUERRA NAS ESTRELAS 8#2 LIVROS - INÉDITOS DE KARL MARX 8#3 EM CARTAZ – CINEMA - FESTA DE CASAMENTO 8#4 EM CARTAZ – LIVROS - JORGE AMADO POR ANA MARIA MACHADO 8#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - OS 100 ANOS DE AUGUSTO DOS ANJOS 8#6 EM CARTAZ – DVD - A MELHOR VERSÃO DE "OS MISERÁVEIS" 8#7 EM CARTAZ – CD- FOO FIGHTERS EM TRÂNSITO 8#8 EM CARTAZ – AGENDA - ÁFRICA/ALICE/LET'S 8#1 CINEMA - O IMPÉRIO DE GUERRA NAS ESTRELAS Primeiras imagens do novo capítulo da saga iniciada em 1977 começam a ser exibidas, aumentando a expectativa dos fãs após o tà©rmino das filmagens Daniel Solyszko (daniel@istoe.com.br) Uma das franquias de maior bilheteria da história do cinema está de volta. As primeiras imagens do mais recente episódio de “Star Warsâ€, intitulado “The Force Awakens†(“O Despertar da Forçaâ€), a serem oficialmente divulgadas, estão em um “teaser†de cerca de um minuto e meio, exibido em 30 salas de cinema nos EUA e Canadá desde a sexta-feira 28. Embora as filmagens do sétimo capítulo da saga – e primeiro de uma nova trilogia – tenham se encerrado no começo de novembro, o filme só será lançado em dezembro de 2015. Enquanto isso, os produtores vêm tomando grandes precauções para evitar que imagens ou detalhes da produção vazem, ainda que algumas fotos de bastidores tenham caído na internet. Estas revelam pouco a respeito da trama, e mostram o diretor J. J. Abrams (responsável também pelos filmes mais recentes da franquia “Star Trek†e pela série de televisão “Lostâ€) no set de filmagem, assim como alguns dos atores. Além do clássico trio composto por Luke Skywalker, Princesa Leia e Han Solo, interpretados, respectivamente, por Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford no início da saga, em 1977 e de novo agora, o elenco conta ainda com novatos na franquia, como Lupita Nyong’o (ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante este ano por “12 Anos de Escravidãoâ€), John Boyega, Daisy Ridley e Adam Driver. NO COMANDO - O diretor J.J. Abrams no set de filmagem de "Star Wars - The Force Awakens" Criador original da série, George Lucas teria desistido de dirigir os novos episódios – os outros dois filmes devem ser lançados em 2017 e 2019, respectivamente – após a morna recepção da sua última trilogia entre os admiradores da saga. “Meu filme, com meu nome nele, dizendo que eu o fiz, precisa ser do jeito que quero. Por que eu o faria quando todos gritam com você o tempo todo e dizem que pessoa terrível você é?â€, declarou em entrevista ao jornal “The New York Timesâ€. Sua decisão foi comunicada no começo do ano. Até janeiro de 2012, Lucas negava que o episódio 7 sequer chegaria a ser filmado. Em agosto do mesmo ano, ele declarou que a presidente da Lucasfilm, Katheleen Kennedy, iria produzir os filmes, e que ele não estaria envolvido. A produção do filme foi finalmente anunciada em outubro de 2012 pela Walt Disney Company, logo após ela comprar a Lucasfilm por US$ 4 bilhões. Abrams e Lawrence Kasdan (coautor de “O Império Contra-Ataca†e “O Retorno de Jediâ€) foram responsáveis por reescrever o roteiro original de Michael Arndt (de “Pequena Miss Sunshineâ€). Entre as poucas informações conhecidas sobre o novo filme, sabe-se que ele irá se passar 30 anos após o desfecho de “O Retorno de Jediâ€, última parte da trilogia original, lançada em 1983. INSPIRAÇÃO - Timothy Zahn, autor da trilogia Thrawn, cujo primeiro livro, "Herdeiro do Império", está sendo relançado no Brasil Por muito tempo, acreditava-se que a nova trilogia seria uma adaptação de Thrawn, série de livros escrita por Timothy Zahn, lançada no início dos anos 90. Os livros mostram o império se reerguendo após a destruição da Estrela da Morte, sob o comando do grão-almirante Thrawn, enquanto Han Solo e a Princesa Leia, agora casados, administram a nova República, e Luke Skywalker vive um período de isolamento, em que as visitas do espectro de Obi-Wan Kenobi vão se tornando cada vez mais raras. Embora a trama de Zahn se passe antes do novo filme – cinco anos após “O Retorno de Jediâ€, para ser exato, existe a expectativa de que algum elemento possa ser utilizado. “Não tenho conhecimento do que está sendo produzido, mas com certeza gostaria de ver alguma referência aos meus livros. Mas acredito que mesmo se nà£o houver neste episódio pode haver nos seguintesâ€, diz o autor em entrevista exclusiva à ISTOÉ. Zahn, que vem ao Brasil em dezembro para participar da Comic Com Experience– uma Bienal de Livros de geeks –, acredita que sua sà©rie de livros sobre o universo “Star Warsâ€, que comeà§aram a ser publicados em 1991, ajudou a manter o interesse dos fãs durante um período em que não havia filmes da saga sendo produzidos. “Essa estratégia fez parte dos planos de Lucas. Os livros criaram novos fãs, mas as vendas mostraram que os antigos queriam mais histórias com aqueles personagensâ€, afirma. O escritor diz que só encontrou Lucas uma única vez, durante uma conversa rápida, e que não conhece nenhum dos envolvidos na nova produção. “Eles mantêm um segredo muito grande sobre a trama. Mas por outro lado eu também prefiro ir ao cinema sem saber muito a respeito do filmeâ€, diz. Zahn, que afirma estar curioso para ver o resultado, é apenas mais uma das muitas pessoas que lotarà£o as salas de exibição para assistir à continuaçà£o da série mais idolatrada de todos os tempos. Que a força esteja com eles. 8#2 LIVROS - INÉDITOS DE KARL MARX Chega ao País edição de "O Capital" com textos nunca publicados do revolucionário que mudou o pensamento da política econà´mica mundial Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Karl Marx não era um sujeito exatamente metódico. Autor de uma obra que definiu os rumos da economia política no planeta, ele provavelmente teria caído no esquecimento logo depois de morrer em 1883, ou ficaria restrito aos alemães e franceses que conheceram seus primeiros trabalhos publicados. Foi Friedrich Engels quem recolheu os calhamaços desorganizados do colega e os transformou no livro de três tomos que conhecemos como “O Capitalâ€. PUPILO X MESTRE - Marx deixou o segundo volume de "O Capital" de lado para traduzir o primeiro. Engels, além de organizar o pensamento do parceiro, acrescentou pontos de vista com os quais se acredita que Marx não compartilhava Marx era um ativista político, jornalista e pai de crianças geradas dentro e de fora do casamento quando começou o seu grande projeto teórico. Engels foi o mais dedicado de seus discípulos; juntos eles assinaram o célebre “Manifesto Comunistaâ€, em 1848. O historiador Jonathan Sperber, principal biógrafo de Marx, conta que por muito pouco as provas do livro que alimentou a revolução socialista ficaram para sempre nas gavetas do apartamento em Bruxelas onde o revolucionário o finalizou, com muito atraso. Engles, bem antes da morte do camarada, era fundamental para que os textos do mestre ganhassem as ruas. Um trabalho de 20 anos dos pesquisadores da fundação Marx-Engels-Gesamtausgabe (Mega) resgatou textos inéditos deixados de fora da edição póstuma de “O Capitalâ€. Eles agora ganham páginas no “Livro IIâ€, que está sendo lanà§ado no Brasil pela Editora Boitempo como “O Capital IIâ€. Ou seja, pela primeira vez sai em livro e no Brasil uma parte importante do pensamento de Marx, que ficou fora das edições anteriores em respeito à opção de Engels, seu editor. Na introdução à edição alemã, os organizadores dizem que a lacuna – referente às teorias sobre circulação de bens – deve-se a um entendimento diferente dos dois sobre a evoluçà£o capitalista, mas também ao envolvimento de Marx com outros projetos durante sua produção. Com a Comuna de Paris, ele precisava terminar a tradução do primeiro livro de “O Capital†(o único que viu pronto) para o francês. Na esteira da comuna, lançou também na língua latina “A Guerra Civil na Françaâ€. Se os dois trabalhos – cujos francos ajudaram a pagar as contas da família na época – prejudicaram a integridade intelectual de “O Capitalâ€, o trânsito das traduções entre as classes trabalhadoras na França criou um dos braços mais importantes do movimento socialista. “Foram desenvolvidos muitos estudos, marcadamente conflitantes, a respeito do grau de acuidade com que o trabalho de Engels representava as opiniões de Marx.†Jonathan Sperber, historiador e principal biógrafo de Marx 8#3 EM CARTAZ – CINEMA - FESTA DE CASAMENTO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Lançado como ator em filmes de Tata Amaral (“Um Céu de Estrelasâ€) e Daniel Filho (“Chico Xavierâ€), Paulo Vespúcio estreia na direção de longas-metragens com a comédia “O Casamento de Goreteâ€. Na trama, após ser rejeitado pelo pai, um homossexual da cidade de Pau Torto ganha fama como a apresentadora de rádio Gorete (Rodrigo Sant’anna, do programa de TV“Zorra Totalâ€), que descobre ter direito a uma herança de família, contanto que se case. A personagem prepara então um torneio para encontrar o par ideal, auxiliada pelas amigas Marivalda (Ataíde Arcoverde) e Domitila (Tadeu Mello). Produzido pela atriz Letà­cia Spiller, que interpreta a drag queen Rochanna, o filme segue o estilo de comédia televisiva que consagrou Sant´anna, com ­personagens caricatos e humor debochado. +5 filmes sobre travestis Quanto Mais Quente Melhor Comédia de Billy Wilder sobre dois músicos que se disfarçam de mulheres para despistar gângsteres Priscilla, a Rainha do Deserto Longa-metragem de Stephan Elliott no qual drag queens viajam de ônibus pelo deserto australiano Hedwig – Rock, Amor e Traição John Cameron Mitchell dirige e interpreta cantor de rock alemão que vai para os EUA para uma operação de mudança de sexo Elvis & Madona Marcelo Laffitte dirige o filme sobre uma lésbica entregadora de pizza, Elvis, que fica amiga da travesti Madona Castanha Filme de Davi Pretto no qual transformista passa a confundir realidade e ficção 8#4 EM CARTAZ – LIVROS - JORGE AMADO POR ANA MARIA MACHADO Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Nenhum escritor brasileiro foi tão adaptado como Jorge Amado. Mas este feito é também razão de um dos maiores erros de interpretação do autor de “Tieta do Agresteâ€. Como no cinema e principalmente na televisão a sexualidade dos personagens ganharam interpretações exageradas, a visão que por muito tempo a crítica ajudou a manter é que o baiano contribuiu com a imagem erotizada da mulher nordestina. Em “Romântico, Escritor e Anarquistaâ€, da Companhia das Letras, a também escritora Ana Maria Machado mostra que a riqueza literária de Amado mora principalmente em aspectos rejeitados da sua obra, como o prazer. 8#5 EM CARTAZ – EXPOSIÇÃO - OS 100 ANOS DE AUGUSTO DOS ANJOS Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) Poeta paraibano conhecido por seus temas mórbidos e pelo uso de escatologia nos versos, Augusto dos Anjos é homenageado em exposiçà£o na Casa das Rosas, em São Paulo. “Esdrúxulo! 100 Anos da Morte de Augusto dos Anjos†é dividida em cinco espaà§os e conta com uma série de monitores exibindo vídeos e animações sobre a obra do autor, além de uma instalação com alguns de seus versos mais conhecidos. A mostra tem curadoria do poeta Júlio Mendonça e fica em cartaz até 1º de março. 8#6 EM CARTAZ – DVD - A MELHOR VERSÃO DE "OS MISERÁVEIS" Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) O longa-metragem de 1934 dirigido por Raymond Bernard é até hoje considerado a melhor adaptação de “Os Miseráveisâ€. A edição que a Versátil apresenta agora do filme de cinco horas, recuperado e legendado, é de fato uma obra-prima visual que preserva o texto de Victor Hugo sem comprometer o ritmo da história de Jean Valjean, o aldeão preso por roubar pão para a família. Entre os extras, cinejornais da época e um apanhado de outras versões do autor francês para o cinema ajudam a compreender a estatura do filme de Bernard. 8#7 EM CARTAZ – CD- FOO FIGHTERS EM TRÂNSITO Rodrigo Cardoso (rcardoso@istoe.com.br) O alarde em torno de “Sonic Highwaysâ€, o oitavo CD de estúdio do Foo Fighters, vem do conceito dele. Oito músicas gravadas em oito estúdios de cidades diferentes: Austin, Chicago, Los Angeles, Nashville, New Orleans, Nova York, Seattle e Washington. O álbum, que nasceu para ser uma declaração de amor à música americana, não sacia a expectativa de algo inovador. O grunge, o punk, o hard e até um quê de progressivo estão nele, mas o trabalho não aponta um novo rumo da banda, cujo som segue cumprindo o seu papel, bom para extravasar. A série televisiva, que mostra os bastidores de toda essa epopeia e estreou no exterior na HBO, funciona melhor para o projeto. 8#8 EM CARTAZ – AGENDA - ÁFRICA/ALICE/LET'S Confira os destaques da semana Ana Weiss (ana.weiss@istoe.com.br) África Hoje (Caixa Belas Artes, em São Paulo, até 3 de dezembro) Mostra de filmes que destaca a produção africana contemporânea, homenageando Nelson Mandela Acompanhe o trailer de "Contagem Regressiva", um dos longas que será apresentado. Alice Caymmi (Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro, 29 de novembro) A neta de Dorival Caymmi toca as canções do seu segundo disco, “Rainha dos Raiosâ€, em show com participação de Hélio Flanders (Vanguart) e Michael Sullivan Let’s Just Kiss and Say Goodbye (Sesc Santana, em São Paulo, até 14 de dezembro) Peça de Elisa Ohtake que mostra grupo de atores que fazem sua derradeira apresentação ______________________________________________ 9# A SEMANA 3.12.14 por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz "JUSTIÇA EM NOME DOS FILHOS" Na quarta-feira, 26, o Senado aprovou a lei que torna obrigatória e imediata a adoção da guarda compartilhada. A decisão deverà¡ ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff nos próximos dias e, assim, segundo especialistas e educadores, o Brasil conquista um mecanismo jurídico que o coloca no trilho do que há de mais moderno e eficiente para a boa saúde emocional de milhões de filhos de pais separados. O desafio agora é fazer com que a lei não se torne letra morta e que os juízes resistam às manipulações de uma criminosa “indústria do litígio†e garantam que a guarda compartilhada efetivamente assegure a convivência compartilhada das crianças e adolescentes com seus genitores. “Para uma criança nada substitui a convivência com o pai e com a mãeâ€, afirma Rosely Sayão, a maior especialista do Brasil em educação infantil. "PRESENTE DE PAPAI NOEL" Os ministros do STF e o procurador-geral da República receberam um aumento em seus salários na casa dos 22% – recebiam R$ 29,4 mil, agora receberão R$ 35,9 mil. O aumento foi aprovado pela Comissão de Finanças da Câmara na quarta-feira 26. Agora seguem os trà¢mites de majoração dos salários da presidente Dilma Rousseff , do vice-presidente Michel Temer, dos ministros de Estado e dos 594 congressistas. O impacto no Orçamento da União pode superar R$ 1 bilhão ao ano. "R$ 8,1 bilhões" R$ 8 bilhões foi o déficit das contas externas brasileiras em outubro. Trata-se do pior desempenho para tal mês desde que o BC comeà§ou a registrar esses dados, em 1947 – o presidente da república era então o Marechal Eurico Gaspar Dutra e comandava o Ministà©rio da Fazenda José Vieira Machado. A ESTAÇÃO ESTÁ LOTADA" A nave russa Soyuz se acoplou na semana passada à Estação Espacial Internacional – e dela desembarcaram um astronauta russo (Anton Shkaplerov), outro americano (Terry Virts) e, finalmente, uma astronauta italiana (Samantha Cristoforetti). Foram calorosamente recepcionados por dois russos e um americano que já estão há tempo na estaà§ão espacial. Os novos tripulantes presentearam os antigos com uma máquina de café expresso. "A SUÍÇA VAI DEVOLVER US$ 26 MILHÕES" O governo brasileiro recebeu das autoridades judiciais da Suíça a garantia de que verá de volta os US$ 26 milhões (R$ 65 milhàµes) que Paulo Roberto Costa roubou da Petrobras e depositou em bancos daquele país. Três procuradores paranaenses viajaram à Suà­ça e se reuniram com colegas de lá que ajudam o Brasil nas investigações. "R$ 12,4 bilhões" R$ 12,4 bilhões é quanto o governo do Brasil tentou reaver no exterior nos últimos cinco anos – todo esse dinheiro é fruto de corrupção e foi depositado fora do País. Até agora foram repatriados 10% desse montante: R$ 1,2 bilhão. Ou seja: a cada R$ 10 desviados, somente R$ 1 é recuperado. "RIO-2016 JÁ TEM SEUS MASCOTES" Os Jogos Olímpicos de 2016, que serão disputados no Rio de Janeiro, já têm seus mascotes. Criados pela empresa paulista Birdo Produções, que se inspirou na flora e fauna brasileiras, eles foram apresentados na quarta-feira 26 ao Comitê Rio-2016. Agora o público tem até 14 de dezembro para decidir pela internet quais serão os seus nomes: “Oba e Ebaâ€, “Tiba Tuque e Esquindim†ou “Vinicius e Tomâ€. Para alguns ambientalistas a escolha dos personagens fictícios não é adequada: eles consideram que seria melhor ter como símbolos animais ameaçados de extinção. "OS MAIS CAROS MINUTOS PELO CELULAR" Um levantamento da União Internacional de Telecomunicações (UIT, órgão ligado à ONU) mostrou que o Brasil é um dos países que cobram os mais altos preços por minuto em cada ligaà§ão de celular. Segundo o estudo que avaliou 166 países, no Brasil o custo do minuto em chamadas de horário de pico e dentro da rede da mesma operadora é de US$ 0,53. Quanto custa falar um minuto ao celular: Suíça....US$ 0,65 Irlanda. ..US$ 0,60 França e Grécia....US$ 0,54 Brasil....US$ 0,53 "PADRE BRASILEIRO PROVOCA EM VÍDEO O PAPA FRANCISCO" por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz O ex-padre brasileiro Roberto Francisco Daniel gravou na semana passada um vídeo no qual faz uma série de questionamentos ao papa Francisco. Roberto teve recentemente a sua excomunhão ratificada pelo Vaticano – em sua diocese, na cidade paulista de Bauru, ele defendia o sacramento do matrimônio para o segundo casamento de divorciados e tambà©m a união de gays. Em um desses questionamentos ele diz: “Se a Igreja me excomunga porque refleti sobre ideias, onde está a Igreja aberta que você está construindo?†O ex-padre continua celebrando casamentos fora da Igreja. O papa Francisco visitou não oficialmente o Parlamento Europeu na terça-feira 25. Ao sair de lá, um de seus comentários correu o mundo: “A impressão transmitida pelo continente europeu é a de uma avó – uma Europa que já não é fecunda nem vibrante†"A ESCRITORA QUE OUSOU CONTINUAR UMA HISTÓRIA DE JANE AUSTEN" Não há quem goste de literatura policial e não tenha profunda admiração pelo inspetor Adam Dalgliesh. A sua criadora, a escritora britânica P. D. James, morreu na Inglaterra na quinta-feira 27, de causa não revelada pela família, aos 94 anos. Phyllis Dorothy James (baronesa James de Holland Park) fez migrar para sua obra a experiàªncia adquirida quando trabalhou no departamento de polícia de seu país. Muitos de seus livros foram adaptados para cinema e “Death comes to Pemberley†(2011) tornou-se série na BBC. Nele, ousou: fez a continuação do clássico de Jane Austen “Orgulho e Preconceitoâ€. "A CAPOEIRA SE TORNA PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE " A “roda de capoeira†existe desde o século XVII e foi trazida ao Brasil pelos escravos africanos. Combina luta, dança, màºsica, esporte e arte. Desde a quarta-feira 26 se tornou Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título atribuído pela Unesco. Hoje a capoeira é praticada em 160 países. "A SEDUTORA MOÇA DO TEST DRIVE" Há quem a considere bonita, há quem diga que ela é sem graça. Mas todos que conheceram a paranaense Fabiana Sporth Godk concordam que a moça é um ímã de sedução. Na terà§a-feira 25 Fabiana foi presa porque é suspeita de ter furtado um óculos no valor de R$ 750. Esse é um crime de menor potencial ofensivo, segundo a lei. Mas vamos em frente. Ou melhor, para trás no tempo: no ano passado a sedutora Fabiana, estudante de direito, convenceu um vendedor de carros a entrar com ela num veículo para test drive. Ele não titubeou, assim como não hesitou em sair rapidinho do automà³vel em meio ao teste quando ela lhe apontou uma pistola e disse-lhe calmamente: “Me esquece†– nessa época já estava processada por porte ilegal de arma. Agora, já formada e aos 27 anos, Fabiana foi presa. Acabou a carreira no crime, acabou a carreira de advogada . "FIM DE FESTA. E DO ÁLCOOL. E DAS DROGAS" Diante de denúncias cada vez mais concretas de que ocorrem estupros e abusos sexuais nas festas que alguns de seus alunos organizam no campus, a direção da Faculdade de Medicina da USP suspendeu por tempo indeterminado tais baladas regadas a bebida alcoólica, drogas ilícitas e medicamentos de prescrição. Ao menos oito casos de estupro estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual. "PASSA PELO BRASIL A CORRUPÇÃO QUE LEVOU O EXPREMIÊ SÓCRATES À CADEIA" As acusações de corrupção e enriquecimento ilícito, que na semana passada levaram à cadeia o ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates (foto), passam pelo Brasil. Atualmente ele era presidente do conselho consultivo para a América Latina da empresa multinacional Octapharma e cuidava dos negócios da companhia aqui no País – nessa função reuniu-se com o ex-ministro Alexandre Padilha. Trata-se da mesma Octapharma que já foi denunciada à Justiça brasileira por corrupção na comercializaçà£o de hemoderivados com o Ministério da Saúde, à época da Operação Vampiro (deflagrada em 2004 pela PF). A prisão do ex-primeiro-ministro abalou o quadro político de Portugal: o seu partido socialista (do qual foi secretário-geral) começava a reconquistar prestígio junto à população. Agora voltou a despencar. "O FURTO DA FUNCIONÁRIA" Com uma carreira de duas décadas no Banco Central do Rio de Janeiro, Lígia Frazão (foto) era tida como funcionária exemplar e cidadã acima de qualquer suspeita. Ela acaba, no entanto, de ser demitida e indiciada pela PF por ter embolsado, em apenas uma semana, R$ 20 mil em notas que deveriam ser incineradas. Há um cúmplice. A polícia quer saber se existem outros. -- Você está participando do grupo "DV-Escola", dos grupos do Google. Sua inscrição é de sua inteira responsabilidade. Atenção! Para descadastrar-se deste grupo, envie um e-mail totalmente em branco, sem nada no corpo e/ou no assunto para o seguinte endereço: dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com Favor observar um sinal de hífen (-) entre a palavra DV e a palavra escola. Se for o caso, copie e cole em seu cliente de e-mail o endereço acima para que não haja dúvidas de seu conteúdo. Ezequiel Silva - Angela Lima - Luís Campos --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "DV-Escola" dos Grupos do Google. Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para dv-escola+unsubscribe@googlegroups.com. Para obter mais opções, acesse https://groups.google.com/d/optout. -- O espaço da leitura foi criado com o objetivo de proporcionar uma boa leitura a todos para um bom entretenimento e um ótimo conhecimento, No entanto, não é permitido neste espaço a postagem de qualquer e-mail com palavras de baixo calão. contamos com a colaboração de todos boa leitura! Conheça nosso grupo no facebook: http://www.facebook.com/groups/163124077178980/ --- Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "espaço da leitura" dos Grupos do Google. Visite este grupo em http://groups.google.com/group/espaco-da-leitura.