O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Naasom A. Sousa nasceu no dia 7 de janeiro de 1978 na capital cearense, Fortaleza. Aos 13 anos mudou-se para Belém do Pará e logo após para Ananindeua, no mesmo estado. Foi ali que se encontrou verdadeiramente com o Cristo Salvador e se interessou pela leitura depois de ler "Este Mundo Tenebroso II" de Frank E. Peretti. Daí então passou a escrever romances. Também se tornou cantor e compositor, e se apresenta apenas em templos evangélicos (por enquanto). Atualmente, Naasom A. Sousa está casado com Ivone Sousa e mora em Paragominas, município à 300km da capital paraense. Seu e-mail para contato é letrassantas@ieg.com.br / naasom@bol.com.br e seu site na rede é: www.letrassantas.hpg.com.br Outras obras publicadas: "Do Deserto ao Oásis" é uma novela que foi inspirada nas tantas dificuldades e tribulações que enfrentamos no dia-a-dia e que muitas vezes pensamos que vamos perecer. Porém, por mais que pensemos que estamos desamparados pelo Criador, Ele sempre tem um jeito de provar-nos o contrário. "O Amor da Minha Vida" é uma nova roupagem de sua novela romântica escrita em meados de 1996, e este também é seu primeiro trabalho integral distribuído pela Internet. O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Dedico ao meu Senhor Jesus e à minha esposa, Ivone Sousa, os amores da minha vida 2 Capítulo 1 Alexander ERA UMA TARDE BELA E AGRADÁVEL. O por do sol embelezava ainda mais as calçadas da praça Célio Miranda por onde alguns transeuntes da pequena cidade de Paragominas passeavam. Não era um rapaz bonito, atlético ou gabola, apesar de acharem que eu era tudo isso. O que eu era mesmo era um bom cristão. E naquela tarde tomei a decisão de relaxar lendo um bom livro deitado no gramado da praça, onde vários habitantes do município onde morava faziam o mesmo. Eu gostava de ir à praça para ver o movimento do fim de tarde, passear pelo gramado, ver os pequenos pássaros voarem de lá para cá, até cessarem e entoarem louvores ao criador e recepcionarem a noite que se aproximava. Sempre reconhecia os amigos que por ali também passavam e paravam para descansar nos vários bancos e conversar sobre o dia que se findava. Adorava aquilo. Sentia que fazia parte daquele lugar, mais ainda pelo sentimento que trazia comigo: o de que Deus me faria que eu conhecesse a minha "princesa" naquela bendita praça. E não sei porquê, mas naquela tarde eu estava um tanto inquieto, com um pressentimento (apesar de não acreditar nisso) estranho, mas não que me fizesse temer algo, mas sim fazia com que meu coração esperasse por alguma coisa boa e por uma coisa que naquela hora não conseguia conciliar: esperança. Mas esperança de quê? Depois de ler um pouco, passeei pelas calçadas, gramados e por fim me detive debaixo da caixa d'água que fica no centro da praça. Comecei a observar tudo ao meu redor, estudando tudo e todos, varrendo os lugares com os olhos de lá para cá. Depois disso, sentei-me num banco e tornei a abrir meu livro me concentrado novamente na leitura. Meia hora após isso, eu estava dentro da estória da obra em minhas mãos. Eu era o personagem principal do enredo, tentando decifrar o enigma de um crime que se mostrava macabro e ilógico. O assassinato se dera nas dependências de um castelo em paris e todas as pistas apontavam para uma única pessoa, a bela Selena Delpièr. Eu ostentava a opinião de que o crime não havia sido cometido por ela e sim pelo... -- Olá? Tentando desvendar o mistério nas entrelinhas do livro, ouvi uma voz aguda chamando-me a atenção, mas não dei atenção. 3 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa -- Olá? -- tentou outra vez a voz com um pouco de insegurança. Agora tinha escutado melhor e me desliguei por um momento do livro e me concentrei no chamado. Era uma voz feminina, linda e suave. Como uma voz poderia ser tão meiga e tão doce ao pronunciar uma única palavra? Fechei os olhos por um breve instante tentando imaginar a fisionomia da dona da belíssima voz, então os abri e virei em sua direção. Sem que eu percebesse, meu sobrolho suspendeu um pouco diante do que pude contemplar. -- Olá -- respondi eu. -- Oi... O semblante dela se tornou em espanto. -- Oh! Perdoe-me, eu... você me pareceu tão parecido com um amigo meu de longe que ao chegar perto eu nem me dei conta de que era outra pessoa... Diante do enrubescer dela eu me derreti de forma incontestável. Ela falou novamente: -- Acho que acabei tirando você da sua leitura. -- Oh, não! Não se preocupe, estou numa parte não muito importante -- menti, pois estava quase descobrindo quem era o verdadeiro assassino da trama. Ela olhou curiosa para o volume em minhas mãos e percebi que estava tentando visualizar a capa. Adiantei-me: -- Não é nenhuma obra conhecida, muito menos de um escritor famoso. Para falar a verdade acho que eu fui quem descobriu este autor -- ri, mas sabia que aquilo não tinha a menor graça. Resolvi passar rapidamente por cima daquilo e perguntei: -- Você gosta de literatura? -- Gosto muito. Principalmente de romances. Daqueles que fazem a gente sonhar com príncipes e princesas, com amores impossíveis, com dramas dos dias atuais, mas principalmente daqueles que tenham finais felizes. Agora foi a vez dela sorrir e eu a acompanhei abrindo meus lábios e fazendo meus dentes aparecerem. Confesso que fiquei um tanto impressionado, pois não eram todas as jovens daquela pequena cidade que se interessavam por literatura. Ainda com um leve sorriso nos lábios ela estendeu sua mão na minha direção. -- Sou Elizabeth, com "th" no final. Elizabeth Toledo -- apresentou-se. -- Alexander Prates -- cumprimentei-a apertando sua mão macia. -- Mas... eu nunca a vi por aqui antes, e olha que venho aqui quase todos os dias aproveitar a sombra e... 4 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa -- Ler um pouco? -- interrompeu ela com outro sorriso. -- Isso mesmo. -- Vim de Belém há poucos dias. Você parece muito com um amigo meu de lá, por isso me enganei. Estou hospedada na casa da minha tia por enquanto. Passei num concurso aqui e a partir da semana que vem começarei a trabalhar, então mudarei para um lugarzinho só meu. Não quero ficar incomodando a minha tia por muito tempo. -- Já fez alguns amigos nesses poucos dias? -- Só a filha da vizinha da minha tia, o nome dela é Gisele. Estou dando uma voltinha por aqui vendo se encontro alguém conhecido de Belém, mas até agora... Você tem muitos amigos? -- Alguns. -- E no que você trabalha? Aquilo foi um pretexto para que eu falasse não somente o que eu fazia para me sustentar, mas também contasse sobre minhas predileções e minhas rejeições. Conversamos muito sobre muitas coisas e sobre nada naquele começo de noite e nem vimos que as horas "voaram". Assim como ela soube várias coisas sobre minha vida, de igual modo fiquei inteirado sobre sua existência e suas ideologias. O que mais me alegrou foi a frase que ela tirou das Escrituras: " `Eu sou o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai se não for por mim', disse Jesus, por isso eu sou dependente dEle." No final descobri que ela era cristã, assim como eu. Foi então que ela olhou para o relógio em seu pulso e tomou um grande susto. -- Meu Deus! Já é bem tarde e minha tia deve estar arrancando os cabelos. Disse a ela que eu só iria dar um pequeno passeio para conhecer um pouco a cidade e voltaria em uma hora. -- Posso ver que já é muito mais que isso -- disse. Ela se ergueu e me levantei juntamente. -- Bem, foi um prazer conhece-lo, Alexander. Nesse momento, algo cresceu em mim, que não pude discernir ou compreender. Meus olhos estudaram-na uma vez mais. Vasculhei seus cabelos negros, seus olhos castanhos, seu nariz empinado e queixo fino. Senti então que meus lábios não queriam se abrir para me despedir e achei que faltava ainda uma pergunta 5 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa para ser feita, mas não me lembrei de qual seria. Por fim sorri meio sem jeito. -- Então até mais -- estendi minha mão, que ela pegou suavemente. Com um aceno de cabeça deu meia volta e caminhou para longe de onde eu estava. Respirei fundo, peguei meu livro e fui para casa aquela coisa estranha dentro do peito. Elizabeth Ao chegar à porta da casa de minha tia olhei para trás com uma sensação estranha, mas não era outra coisa senão minha imaginação. Balancei minha cabeça e com um sorriso torto bati na porta. Minha tia, preocupada perguntou por que eu havia demorado tanto, e então comecei a contar sobre Alexander, o rapaz da praça. -- Já encontrou um namorado, hein? -- disparou minha tia. Dei uma risada e perguntei: "O que é isso, tia? A senhora já gosta de me dar namorados!" Ela falou que eu iria precisar de um naquela cidadela, já que eu agora estava longe da minha família. Pensei um pouco sobre aquilo; sobre minha família que ficara em Belém do Pará. Já sentia saudades, principalmente do meu pai, pois éramos muito apegados um ao outro. Fui tomar um banho para amenizar o aperto no peito e ver se a água fria fazia com que a falta deles fosse embora -- pelo menos naquela noite -- para que eu pudesse dormir bem. Alexander Cheguei em casa, liguei o som e fui direto para o chuveiro como fazia todos os dias quando chegava do trabalho. Então reparei algo: todas as vezes que estou no banho, dou aquela suspirada de puro cansaço. Mas hoje estou me sentindo diferente dos outros dias. Talvez pela bela relaxada na praça com Elizabeth. Lembrei que havia muito tempo que não conversava daquele jeito com alguém, de modo tão... interessante? Envolvente? Bem, o que importava era que eu estava me sentindo maravilhosamente bem. Acabei o banho e fui à cozinha dar um beijo na testa da minha mãe. Era mais uma parte da rotina, mas disso eu gostava. Eu amo demais a minha mãe. Meu pai infelizmente morreu e minha mãe agora só tem a meu irmão, mais velho que eu e a mim. Nós sustentamos a casa. Acho que somos a família mais unida do 6 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa mundo. Quem sabe não somos mesmo? Meu irmão Wander chegou de viagem e nos abraçamos, caminhamos juntos para seu quarto e fiquei sentado em sua cama enquanto colocava algumas roupas de volta ao guarda-roupa. -- Então como foi de viagem? -- perguntei. -- Foi ótima. Fechei um contrato muito bom com uma grande loja que está para inaugurar em Belém. Vamos fazer todo o material de divulgação. Agora a gráfica não vai parar por um bom tempo. -- Que bom, meu irmão. Temos que agradecer bastante a Deus por isso. Wander parou o que estava fazendo e olhou para mim. -- Claro que sim -- disse com um sorriso estampado no rosto. -- Vamos dar uma festa. -- Festa? Está falando sério? Wander balançou a cabeça afirmativamente. Disse que convidaríamos todos os funcionários da gráfica e os amigos. Agradeceríamos a Deus todos juntos. 7 Capítulo 2 Elizabeth ESTAVA DIFÍCIL DORMIR. O incômodo no peito ainda me inquietava. Tinha que superar aquilo, deixar rolar. Resolvi ajoelhar-me ao pé da cama e falar com Deus pela segunda vez naquela noite. Quando terminei a oração senti-me melhor, mas ainda com algo incompreensível a alertar meus sentidos. Deitei-me novamente e fechei os olhos. Tentei não pensar em nada e deixar que o sono viesse me alçar para o mundo dos sonhos. Entretanto, ao invés disso, a imagem de Alexander, estatura mediana, rosto redondo de pele clara, olhos verdes, sobrancelhas grossas, cabelo ondulado, apareceu diante de mim, e como se estivesse ali ao meu lado ouvi sua voz. Era como se estivéssemos de volta à praça Célio Miranda. Falando tudo o que já conversamos outra vez. Abri os olhos de repente. Foi então que percebi que tinha acabado de sonhar... com Alexander. Porém, minha preocupação seria a que horas eu tornaria a dormir e sonhar tão depressa daquela forma. Alexander A Lua suspensa lá no céu me encantava naquela noite em que eu não conseguia dormir. Qual a causa da insônia? Toda a vez que eu fechava meus olhos Elizabeth aparecia diante de mim em meio a penumbra. Decidi então olhar um pouco para a Lua as estrelas, talvez olhando para os astros, criação de Deus, eu acabasse por dormir ali na janela confortado pela brisa suave do vento que de vez em quando teimava em passar pela janela. Mas infelizmente isso não aconteceu e a Lua se tornou no rosto de Elizabeth também. Diante daquela metamorfose decidi que no dia seguinte iria procurá-la na praça no mesmo horário que haviam se encontrado casualmente. Quem sabe não tivesse sorte? Decidi também retornar à cama e tentar dormir um pouco, sim, um pouco, pois faltavam poucas horas para o Sol mostrar novamente seu rosto brilhante. Elizabeth 8 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Meus olhos ardiam e quando me olhei no espelho, vi-me com a cara inchada. Tomei café e me "enfiei" nos livros de informática novamente. Havia passado no concurso de uma nova empresa da cidade, dissera que sua especialidade era a informática, mas a verdade era que fazia muito tempo que eu não colocava as mãos em um computador. Agora era diferente. Era um novo começo em minha vida profissional, já que fazia tempo que eu deixara de dar aulas particulares de computação. "Orava e vigiava" para que o meu primeiro dia de trabalho, dentro de poucos dias, fosse um sucesso, visto que a entrevista depois do concurso fora satisfatória para mim e para meu (agora) patrão. Minha tia bateu na porta do quarto antes de entrar. -- Estudando? -- É, estou tentando me atualizar. Daqui a pouco vou estar em frente a um computador novamente e sei que a informática hoje não será a mesma de amanhã, então aqui estou eu afundada nesse livrinho. -- minha tia riu ao ver o volume em minhas mãos, mais parecia duas Bíblias juntas em um só "livro". Ela olhou bem o meu rosto antes de especular: -- Pelo seu rosto parece que não dormiu bem esta noite, estou errada? -- ela meneou a cabeça em reprovação. -- Ficou pensando na sua família de novo? -- Um pouco. -- falei assim, já passara a noite quase toda com a imagem de Alexander e nosso casual povoando minha mente, mas a saudade da minha família também contribuiu para que as horas noturnas não tivessem sido tão boas para mim. Minha tia passou a mão carinhosamente pelos meus cabelos. -- Não se preocupe tanto, minha filha -- disse ela -- se der tudo certo sei que eles virão para cá também e então seremos uma grande família. Meu pai estava desempregado em Belém, mantendo-se apenas com bicos. Ele estava agora esperando um chamado de uma empresa antiga de Paragominas, onde meu tio era empregado. Estávamos todos ansiosos para que ele fosse aceito e que minha família viesse ao meu encontro. Subitamente uma lágrima quente escorregou pelo meu rosto e minha querida tia me abraçou. 9 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Alexander O trabalho na serigrafia era sacrificante, mas da mesma forma era-me gratificante, pois eu gostava de mexer com os programas de montagem gráfica no computador e desenvolver os trabalhos da empresa. Gostava de pensar que sem meu esforço e trabalho a empresa não seria a mesma. Meu irmão um dia me falou exatamente isso, o que me deixou ainda mais disposto para colocar a mão na "massa". Entretanto, naquele dia minha concentração estava longe de ser a mesma dos outros dias. Tudo por causa da noite mal dormida. Meus olhos ardiam, e mais ainda enquanto eu fitava o monitor de quinze polegadas. -- Vamos, mano, temos muito que fazer -- comentou meu irmão passando por trás da cadeira onde eu estava sentado. -- estou quase fechando com uma outra empresa, aqui mesmo na cidade, e se Deus quiser vamos começar a fazer outdoors! -- Você está falando da empresa Satélite, aqui... de Paragominas? -- Sim ,é ela mesmo! Eu não falei que esse ano iria ser o ano mais feliz de nossas vidas? -- indagou ele, pois na sua igreja o pastor falava sobre aquilo quase todos os dias nas reuniões dos membros. Eu sorri e abracei-o. O respeito que havia da minha parte para com ele era muito grande. Ele sabia como tratar dos negócios da família, e depois que nosso pai morrera ele se dedicara ainda mais. Quando ele afrouxou o abraço viu que eu não o larguei. Eu havia dado o cochilo mais rápido do mundo. 10 Capítulo 3 Alexander DOIS DIAS HAVIAM SE PASSADO DESDE o meu encontro com Elizabeth. Eu continuava não conseguindo dormir, mas felizmente eu já começava a me acostumar. Mas havia ainda meus olhos que continuavam a inchar e arder. Um dia atrás, Wander fechara o negócio com a Satélite Outdoors Ltda. foi uma festa só em toda a gráfica, contudo, ele falara que aquilo só seria uma prévia da grande festa que seria dada dali a dois dias. Elizabeth! O nome surgiu como um raio na mente. Por que não convidá-la para essa bendita festa? Iria ser ótimo, uma vez que ela não me saía da cabeça. Mas... espremi meus olhos e levei as mãos à cabeça. Eu não sabia onde ela morava e nem mesmo o número do seu telefone. "Maravilha!!" Murmurei instantaneamente. Passei a manhã quase toda me lamentando e culpando por ser tão displicente. Foi então que tive a idéia de voltar à praça Célio Miranda para passar a tarde como eu não fazia há dias atrás. Elizabeth Aqui estou eu na minha mesa, um tanto nervosa, tentando fazer o que Mara Fontenele me instruía. Mara era uma mulher de trinta e poucos anos, olhos profundos e cabelos tingidos de loiros que já trabalhava na empresa já havia algum tempo. Eu fora chamada para trabalhar no dia anterior, o que estava programado para quatro dias à frente. Eu não reclamei, é claro, já que eu estava louca para começar e logo ganhar meu primeiro contra-cheque. -- Está se saindo bem, Eliza -- disse ela, que simpatizou com essa abreviação do meu nome. Eu achei esquisito já que ninguém nunca me chamou assim, mas de toda forma eu gostei, assim eu poderia me tornar (quem sabe) mais íntimas. Ela completou: -- pelo que vi aqui você é muito capa de realizar um bom trabalho. 11 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Foi assim que começou a simpatia mútua entre nós duas. Contamos um pouco sobre nossas vidas e nossos sonhos e pretensões. Mara -- que era totalmente diferente do que significava seu nome, águas amargas, não era nada parecido com isso. Pelo contrário, era uma ótima pessoa. Casada e mãe de três filhos de sete, quatro e dois anos. Ela me mostrou a foto de cada um deles e todos eram umas gracinhas. Conclui que, apesar de ela já estar na casa dos trinta, era uma pessoa de espírito jovem. Sorrimos o expediente quase todo, até que ela perguntou: -- E enquanto esse tempo em que você está aqui, já arrumou algum namorado? Aquilo me deixou intrigada. Por que as pessoas se preocupam tanto com a nossa vida emocional? Acho que essa vida é bastante particular para se indagar de uma hora para outra. Entretanto, resolvi dar uma carta de crédito à Mara. -- O que é isso, Mara, faz pouco tempo desde que cheguei aqui em Paragominas. Preocupei-me mais em conseguir esse emprego do que qualquer outra coisa, e também não consigo ser uma pessoa que queira estar o tempo todo com alguém de braço em volta da minha cintura. Mara assentiu positivamente com a cabeça. -- É isso mesmo, menina. Os homens de hoje já não são os mesmos de antigamente, por isso temos que ter muito cuidado com eles. Eu sorri, mas discordava um pouco daquilo. É certo que há homens totalmente desligados das "verdades" corretas da vida, mas também é certo que ainda há muito deles que são sérios, basta apenas saber diferenciá-los e saber onde encontrá-los e eu sabia onde. O sorriso de Alexander iluminou ocultamente o meu olhar, ainda que eu estivesse para a tela luminosa do computador da empresa, e conjecturei que ele seria a segunda classe de homens, já que ele tinha me parecido ser inteligente e sincero no que dizia, e o mais importante: era cristão. Pensei instantaneamente nessa palavra "cristão" e me dei conta que a maioria, tanto de homens como de mulheres, dizem ser exatamente isso. Mas então rapidamente me detive em imaginar como a maioria deles estão enganando a si mesmo a esse respeito. Tinha certeza (e ainda tenho) de que ser cristão não é apenas crer em Jesus Cristo, saber que ele está à direita de Deus Pai olhando para a humanidade sendo nosso advogado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Ser cristão é estar em "sintonia" com o Pai, o Filho e o Espírito Santo; é ser fiel às Escrituras Sagradas e assim andar como Cristo andou, ser imitador dEle; amar mais a Cristo e seus desígnios do que a nós mesmos e os nossos propósitos; ser 12 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa verdadeiramente filho de Deus e ser um canal de bênçãos para o próximo. Mas isso é tão difícil para as pessoas quanto admitirem o seu verdadeiro lado espiritual. E com tudo isso, eu pensava mais em Alexander, de tal forma que resolvi dar uma passada à tarde pela praça e ver então se o encontrava. Alexander Cheguei na praça às seis e dez da noite, e a primeira coisa que fiz foi dar uma volta completa por ela. Meus olhos varreram-na de um lado para o outro a procura de Elizabeth. Para minha surpresa, senti que um aperto no peito parecia sufocar-me e meus lábios pareciam secos. Concluí então que estava nervoso. Não podia ser! Contestei meio ressentido comigo mesmo. Pois como poderia estar naquela situação por causa de uma pessoa que nem mesmo conhecia direito. Foi quando a resposta pegou-me desprevenido, vinda não sei da onde: Afinal de contas, você não está nessa praça para conseguir conhecê-la melhor? Depois disso vi-me ainda mais surpreso. Procurei-a pela praça inteira duas vezes. Olhei para o livro debaixo do meu braço e resolvi sentar no mesmo banco que havia sentado quando nos encontramos e lê-lo um pouco para o tempo passar mais rápido. Li mais de dez capítulos, e a cada página lida eu dava uma olhada em volta. Quando me dei conta das horas em meu relógio e do tempo que eu havia ficado ali, resolvi que já era hora de ir embora, pois já passavam das dez. Elizabeth não apareceu e com certeza não apareceria por ali naquele dia. Seria muita coincidência. Elizabeth Digitei tão rápido quanto pude para acabar o trabalho que me deram às cinco e quarenta. Eram diversas folhas e tive que resgatar as minhas aulas de datilografia para começar a digitar a toda velocidade. Quando terminei, peguei minha bolsa a "corri" para praça, e quando cheguei perguntei as horas para um casal que ali se encontrava. Disseram que já passava das dez e meia. Era meio de semana e a praça não costumava estar repleta de pessoas, por isso olhei em volta e logo vi que Alexander não estava por ali. Suspirei profundamente e caminhei para a casa da minha tia para uma nova noite mal-dormida. 13 Capítulo 4 Alexander EU ESTAVA FRUSTRADO PELA NOITE passada e eu transmitia isso no meu olhar. Todos perguntavam qual era o motivo, mas eu dizia que estavam enganados. Eu jamais poderia aceitar que o meu "baixo astral" era resultado de uma espera infantil por alguém que eu nem mesmo sabia se estava ainda na cidade. Por que eu me preocupava com aquilo? Por que não esquecê-la e Concentrar-me nos meus amigos e no agradecimento a Deus? Aquelas e outras questões faziam meu estômago embrulhar. Estava com a cabeça entre as mãos e os olhos fechados tentando afastar qualquer lembrança de Elizabeth (o que parecia mais improvável a cada dia) para até mesmo me concentrar mais nos projetos da gráfica. Até o momento em que José "Mineiro", um amigo que fazia o nosso marketing, entrou no escritório e reparou na minha frustração. -- O que "ela" fez pra te deixar assim, Alex? -- O quê? -- de imediato não tinha entendido. -- O que ela fez de tão ruim assim pra te deixar tão pra baixo? -- repetiu ele. -- porque quando um homem está nesse estado é porque tem garota metida nessa. Estou certo, não é? -- Mais ou menos -- fitei-o nos olhos tentando imaginar o que ele pensava exatamente. Continuei: -- Estou frustrado por causa de uma garota, mas ela não culpa alguma... Contei toda a estória para José, desde meu encontro com Elizabeth até a noite anterior quando fiquei esperando que ela aparecesse para convidá-la à nossa festa que seria no dia seguinte. -- Mas agora -- conclui, -- estou achando impossível encontrá-la para fazer esse convite. -- Tenho que dizer que é algo muito delicado, Alex. Ainda mais quando essa garota é alguém que você nem conhece direito. E se ela for uma aventureira que um dia está aqui e noutro dia está a quilômetros de distancia sem se quer dar satisfações? 14 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa -- Acho que ela não é desse tipo, José -- fiz sem querer uma cara de reprovação ao que ele disse mesmo sem ter certeza de que ele estava errado. -- pelo que conversamos ela parecia ser uma jovem tão cristã quanto bonita, e olha que você iria se encantar com sua beleza. Por isso estou assim tão pra baixo. Ficamos silenciosos por um momento, e então José cortou o silêncio: -- Acho que eu tenho uma idéia pra te tirar dessa depressão. E já que a festa vai ser amanhã, pô-la-emos em prática ainda hoje. Elizabeth Acordei chateada e fui ao trabalho com uma não muito amiga. Mara percebeu isso no momento em que me viu. Tentei disfarçar, mas ela contestou solenemente: -- O que há com você, menina? Não venha me dizer que não é nada, porque apesar de ter lhe conhecido ontem, já deu pra "sentir" como você é nas horas em que estivemos juntas. Acho que tenho esse dom. Apesar de eu não acreditar naquele tal dom de sentir as coisas, dei crédito à Mara, já que ela estava certa. Mesmo assim não disse nada a ela, pois poderia se sentir culpada (ou poderia achar que eu a estaria culpando) por ter-me dado tantas páginas de relatórios escritos à mão para passar para o computador. Resolvi abafar o caso resmungando do tempo quente que estava fazendo naquele mês de Novembro. Mara concordou, mas não caiu na minha rede. -- Sim, mas você não vai me contar o que está te afligindo, menina? Acha que não pode confiar em mim? Entendi então que ela não me deixaria em paz até que lhe dissesse a verdade. Contei, por fim. Quando acabei ela levantou o sobrolho e mordeu o lábio inferior. -- Não sei lhe dizer se isso é bom ou ruim, Eliza -- ponderou ela. -- Pode ser que você esteja iludida por alguém que não te mereça... talvez ele nem esteja pensando em você assim como você pensa nele. Talvez ele tenha várias namoradas... Mara deu-me vários motivos para eu não pensar em Alexander e fazê-lo parecer um homem como todos os "outros" -- um asno egoísta. 15 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Dei-me de conta que talvez Mara fosse infeliz no se casamento. Uma vida amorosa "amarga". As suas palavras denunciavam isso, por ela falar tão mal do sexo oposto. Achei que não era a hora certa de falar sobre aquilo. Elizabeth Voltei para casa do final do dia pensando mais em Mara do que em mim mesma. Refleti no que ela falou sobre Alexander e me perguntei se ela estaria certa ou não em me dar tantas razões para achar que ele não se lembrava mais no nosso casual encontro. Casual! A palavra já soava estranha. Era algo que talvez nem era pra ter acontecido. Tomei banho troquei de roupa e assisti um pouco de TV, mas nem mesmo prestava atenção no que as pessoas na tela do aparelho falavam. Estava pensando se não seria melhor esquecer de uma vez aquele encontro. E por que eu tinha pensado tanto naquilo? Surgiu a indagação como uma explosão dentro do meu cérebro. Conjecturei por um longo tempo até que achei a resposta. Encontrei em Alexander -- ainda que inconscientemente -- alguém que ansiava encontrar. Havia me relacionado apenas com dois jovens, os quais não me trouxeram muitas alegrias. O primeiro me traiu e o segundo não era o que eu esperava em se tratando de ser cristão. Alexander me pareceu bem firme no propósito de ser verdadeiramente cristão. O brilho nos seus olhos me revelara isso de uma forma inexplicável. Até no timbre da sua voz, no modo como falava e o seu olhar me transmitiu algo radiante, sincero, verdadeiro, promissor. Aparentava-me que aquele encontro se comparara com uma semente, que fora lançada em mim e brotou aos poucos sem que eu percebesse. Agora eu sentia isso. Voltei a mim, mudei de canal de canal e passei a assistir às notícias do Jornal Nacional. Como sempre não eram muito animadoras para o mundo. Parecem que estão cegos, pensei. Por que não olham ao redor e descobrem o que está realmente acontecendo e de onde pode vir a solução dos problemas? Após o noticiário começou a novela. Eu desliguei a TV e fui para a cama ler um pouco. Após uma hora e meia, exatamente, a campainha tocou e um minuto depois minha tia bateu no meu quarto e entrou. -- Eliza, Gisele está lá fora querendo falar com você -- avisou ela. -- Ela está um tanto eufórica, é melhor ver o que ela tem logo. Achei aquilo estranho e caminhei ao encontro de Gisele, minha amiga filha da vizinha. Ela nem me enxergou direito e desabou a falar: 16 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa -- Elizabeth, tenho que lhe fazer uma pergunta... Pergunta? Que pergunta poderia ser para Gisele fazê-la a mim numa hora como aquela? -- Pode perguntar... Ela não perdeu tempo e indagou secamente: -- Você conheceu alguém com o nome de Alexander? Meus olhos se estreitaram diante da confusão que se tornou a minha mente naquele exato momento. Como ela poderia saber? Diante do meu silêncio ela insistiu: -- Elisa, responda! -- S-sim... sim, eu conheci, mas nos vimos apenas uma vez e... e nunca mais nos vimos... Gisele pegou meu braço e disse: -- Então é você mesmo! Venha comigo, vamos até a praça, rápido! Elizabeth Chegamos à praça quase meia-noite. Demos a volta na praça até ficamos em frente à grande estrutura da igreja católica. Gisele apontou na direção onde eu deveria olhar. O mundo girou ao meu redor e quase cai ali mesmo na praça. Diante dos meus olhos estava uma grande e colorida faixa de pano presa à dois poste por finos barbantes. As letras chamavam atenção de quem passava por ali perto. Estava escrito: Elizabeth, desde o nosso casual encontro aqui nesta praça percebi que voce mexeu comigo como nunca ninguém mexera. Por isso estou te convidando para uma festa em minha casa amanhã. Por favor, venha me encontrar novamente. 17 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Ass: Alexander. Mais abaixo, em letras menores estava o endereço da casa de Alexander e o horário da festa: às vinte horas. Senti subitamente minha respiração alterada e a boca seca. Estava cética do que via, não conseguia colocar meus pensamentos em ordem. Gisele, vendo pura desordem em meu semblante, cutucou-me e perguntou com um sorriso curioso: -- Você vai, não vai? Diante de mais aquela pergunta eu permaneci muda como se eu tivesse comido minha própria língua. 18 Capítulo 5 Alexander A ANSIEDADE ME CORROÍA POR DENTRO de tal maneira que me deixava inquieto. A idéia de Jose fora uma boa forma de convidar Elizabeth sem ao menos saber onde ela morava. Depois do expediente permaneci na gráfica e confeccionei a faixa com algumas tintas que ainda tinham no depósito. Tive sorte também de haver uma grande faixa branca que Wander comprara para fazer a propaganda da gráfica. Sabia que ele não ficaria irritado com isso, pois, se preciso fosse, eu compraria outra. O caso era que eu precisava daquela faixa urgentemente. Após ter terminado, telefonei para José e ele veio me ajudar a levar à praça. Abrimos a faixa em frente à Igreja Católica, perto de onde havíamos nos encontrado. Depois daquele trabalho, era hora apenas de esperar que ela visse a faixa e aparecesse na festa que seria logo mais tarde. Pensei por alguns instantes nos comentários que surgiriam sobre minha atitude, mas concluí que valeria a pena fazer qualquer esforço para ser feliz com Cristo e com a pessoa que achássemos ser a ideal para um relacionamento mais sério. Estava novamente na gráfica. José veio ao meu encontro sorridente e curioso. -- E aí, ela já apareceu? -- Não, nem sinal dela. Espero que sua idéia dê certo, José. José fez cara de ofendido. -- Cara, se ela não enxergar aquela faixa eu troco o meu nome para Epifanásio "Mineiro". -- Espero que essa confiança toda não seja em vão, meu amigo. -- Você vai ver que ela vai aparecer na festa, então poderá me agradecer à vontade. José sai da sala cantarolando uma música romântica pra me "encarnar". Sorri, olhei o meu relógio de pulso: meio-dia. Hora de ir pra casa; hora do rango! 19 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Elizabeth Oh, meu Deus! Ainda era difícil acreditar no que eu tinha visto na noite anterior. Parecia que tudo não passara de um sonho, mas ao invés disso era bem real, pois comprovei mais uma vez quando passei pela Célio Miranda e vi a faixa mais uma vez. Não resisti e sorri mais uma vez. Ninguém fizera aquilo para mim antes, e aquilo me deixava feliz e de certo modo envaidecida. Ao chegar na empresa a primeira pessoa que vi foi com Mara. Ela estava chorando. Ao perguntar qual o motivo do choro, obtive a confirmação da minha suspeita: o marido a traía. Mara contou-me que há alguns meses ele começara a se comportar friamente com ela e maltratá-la. Muitas vezes, segundo ela, humilhou-a em público. Relatou-me ainda que na noite passada seu marido chegara bêbado em casa com a camisa cheia de batom e falando que iria deixá-la. Ela estava uma pinha de nervos e isso me encheu de pena. Aconselhei-a chegar-se mais a Deus e buscá-lo. Essa era a melhor coisa a se fazer e a melhor coisa que eu poderia aconselhar já que eu não tinha nenhuma experiência naquele assunto. A tarde chagou e Mara aparentou estar mais calma e consolada. Disse-me que havia falado com Deus e estava se sentindo melhor. Agradeceu-me e apertou-me num abraço. Sorri feliz. Mara afrouxou o abraço e fitou-me com olhar de quem está curioso. -- Eu vi uma faixa na praça Célio Miranda agora meio-dia quando voltava do almoço -- comentou ela. -- por fim indagou: -- Estava destinada à Elizabeth. Por acaso é pra você? Abri jogo e contei tudo o que acontecera antes daquela faixa aparecer dependura no meio da praça. No final do relato Mara estava com os olhos brilhando de agitação, e disse: -- Oh, Eliza, você tem que ir! -- disse com relação à festa que Alexander iria dar logo mais à noite. -- Não deixe que a oportunidade de conhecer alguém que talvez seja o par perfeito para toda uma vida escapar-lhe por entre os dedos. Mais uma vez sorri e agora foi minha vez de abraça-la. A ansiedade tomava conta de mim cada vez que eu olhava para o relógio na parede da minha sala. Os ponteiros pareciam rodar mais rápidos e, na mesma proporção, meu coração batia cada vez mais descompassado. 20 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Alexander O relógio na parede no ponto mais rápido da sala, encostado no forro marcava 19h e 30mim. Em pensar que a tarde foi-me angustiante. A cada tique-taque que o ponteiro do dos segundos do relógio da gráfica emitia eram movimentos que as minhas pernas faziam ao tremerem. Nunca me senti tão nervoso na vida, e me perguntei por quê daquilo acontecer. Enquanto tentava descobrir, os primeiros convidados começaram a chegar. O nervosismo reiniciou. Comecei a cumprimentar um a um à medida que a sala começava a encher. Em menos de uma hora minha casa estava tomada pelos convidados. Eram amigos da família, empregados da gráfica, alguns pequenos empresários da cidade, e... nada de Elizabeth aparecer. Passou-se o tempo. Andei para cima e para baixo da casa depois de recepcionar quase todos os convivas. Saí algumas vezes da porta e por isso achei que talvez ela pudesse ter entrado se quem eu a tivesse visto. Havia muitas pessoas, mais mulheres do que homens, e a cada uma que eu achava parecida com Elizabeth eu as tocava nos ombros chamando sua atenção, e quando se viravam via-se que não era ela, sua beleza não se comparava a dela. Varri por várias vezes os quatro cantos da sala e dos outros cômodos. Não a vi em parte alguma da casa e constatei que: ou ela não viu a faixa ou não quis vir porque aquele encontro não foi tão significativo para ela quanto para mim. Então a tristeza começou a tomar conta pouco a pouco do meu coração. Wander estava feliz com todos os amigos e pessoas que ali se encontravam. Ele cantava junto com sua noiva, Alice Coelho, as músicas que tocavam no som da sala. Pelo menos me sentia feliz por ele. Ao final da festa, quando todos começaram a deixar-nos e voltar para suas próprias casas, pude sentir uma leve dor no meu peito. Ela realmente não veio, balbuciei dentro de mim. Cumprimentei novamente um a um dos convidados que agora se despediam. Por último, José veio a mim e apertou-me fortemente a mão. -- Sinto muitíssimo, Alex -- ele lamentou. -- Mas ela não sabe o que perdeu não vindo aqui te conhecer melhor. Dei um sorriso torto, de quem demonstrava estar consolado. -- Acho que foi uma infantilidade minha ter pensado que ela fosse a pessoa certa... mas é uma pessoa que nem mesmo conheço direito. Não poderia me apegar tanto a um fantasma. 21 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa -- O importante é ter bom ânimo, como disse o Mestre -- aconselhou-me ele assentindo com a cabeça. E então se retirou. Quando por fim todos se retiraram e Wander foi deixar Alice em casa, senti-me só. Minha mãe tinha ido deitar-se depois de comer quase todos os salgadinhos da festa. Ela comia àbeça. Eu a amo muito. Fui à cozinha e preparei um café bem quente. Era o mínimo que eu poderia fazer por mim mesmo depois daquela festa. Festa... para quem? Festa significa uma confraternização, felicidade. Eu não estava feliz. Não fora uma festa para mim. Levei minha xícara de café em direção à sala na penumbra onde apenas um pequeno abajur iluminava escassamente o recinto. Ao chegar lá vi um vulto parado à porta. SUSTO!!! Quase deixei a xícara cair. Dirigi-me ao vulto com a indagação: -- Quem está aí? Por alguns segundos permaneceu em silêncio, mas então falou: -- É Elizabeth, Alexander. Elizabeth Eu estava ali à sua frente. Eu estava quase sem ar e nervosíssima. Notei que ele estava nas mesmas condições. Foi ali que tive a certeza de que ele era a pessoa certa. A silhueta do seu rosto mostrava-me isso. Aproximei-me. Ele falou: -- Eu pensei que você não viria... na verdade eu já tinha perdido as esperanças. Fiz algo de errado que me reprovou aos seus olhos ou algo assim? Você não viu a tempo a faixa... Afinal, por que não veio na hora marcada? Respirei fundo e respondi lentamente para não gaguejar. -- Não foi nada disso. Você não fez nada de errado. Pelo contrário, e vi a faixa desde ontem à noite. A verdade é que cheguei aqui na hora certa. -- E então, por que não entrou? -- interrompeu ele. -- Vi muita gente bonita e importante entrando e outras já dentro da casa, fiquei envergonhada de entrar e participar da festa onde eu nem mesmo era conhecida. 22 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa Preferi ficar a uma distância segura e prestigiar tudo de longe. Alexander caminhou em minha direção, pegou-me pelo braço e conduziu-me até a varanda na frente da casa. A brisa passou suavemente por nós e me fez arrepiar. Ele falou-me com voz grave, mas doce: -- Você sabe quem era meu convidado especial esta noite? -- O prefeito? Ele sorriu. Não imaginou que eu estava falando sério. -- Essa passou longe -- sentenciou. -- o convidado, ou melhor, a convidada especial desta noite era você. Ele me ofereceu um pouco do chá que estava na sua xícara. Sem saber muito o que fazer, eu, enrubescida, tomei. -- Escute, Alexander, pode até ser que sou essa convidada, mas saiba que lutei contra mim mesma e contra meus próprios conceitos para vir até aqui, porque não sou do tipo de garota que sai no meio da noite para encontrar alguém que nem mesmo conhece direito, e... Ele interrompeu-me novamente: -- Eu sei disso, Elizabeth. De algum modo senti isso ao conhece-la na praça, aliás, senti várias outras coisas como, por exemplo: sua sinceridade, singeleza, firmeza na convicção da sua fé, integridade moral... quer que eu continue? Eu estava embasbacada. Nunca poderia imaginar que um simples e casual encontro pudesse causar tantas impressões a ambos, e nesse caso impressões positivas. -- Se você está tentando me impressionar... está conseguindo. -- eu abri novamente um sorriso. -- Estou brincando. Devo admitir que você também me passou uma aparência confiável. -- Confiável? Você não sabe como está enganada. -- Acho que não, estou certa disso. Ele fitou meus olhos de modo diferente. Aproximou-se e pegou minha mão. -- Elizabeth, eu queria dizer que... -- Ele cerrou os olhos, meneou a cabeça e suspirou profundamente. Continuou, inseguro: -- é tão comum, como dizem: "manjado" dizer isso que vou dizer, mas essa é a verdade: desde aquela noite 23 O Amor da Minha Vida - Naasom A. Sousa em que nos encontramos na praça não consegui mais dormir direito. No início eu não sabia o por quê, mas aos poucos fui descobrindo que sua imagem... seu sorriso, seu olhar, sua voz ficaram gravados na minha mente. Cada vez que me lembrava de você meu coração ficava apertado, e foi então que eu percebi que precisava te conhecer melhor, saber mais sobre você -- essa pessoa por quem meu coração descompassava. Você me fez ficar desorientado e acho que só você pode fazer com que eu me encontre novamente. Por isso fiz a faixa, por isso convidei-a para vir à festa. Precisava falar com você outra vez e desvendar o mistério da inquietação em que meu coração vem sofrendo nesse tempo em que não a vi novamente. Quase sem voz indaguei: -- E... você já conseguiu desvendar, agora que já falou comigo outra vez? -- Ainda não. Por isso que quero lhe pedir algo. -- Pedir? O quê? Meus olhos se estreitaram sem saber do que ele estava falando. Ele prosseguiu: -- Quero lhe pedir que me ajude. Ajude-me a desvendar o por quê disto estar acontecendo comigo. Não quero mais permanecer desse jeito. Preciso de uma resposta para isso. -- Ele fez uma pausa e disse sucintamente: -- Quero também lhe perguntar algo: você sentiu alguma coisa diferente desde aquele encontro? E mais breve ainda eu respondi, surpreendentemente espontânea: -- Senti. Desde aquela noite não consegui esquecê-lo. Dito aquilo, aproximamo-nos e demos as mãos. Ele beijou meus dedos e falou quase num sussurro: -- Houve algumas noites em que sonhei beijando suas mãos e seus dedos, acredita? Eu sorri. Nunca havia escutado que alguém tivera tal sonho. Aproximamo-nos ainda mais. Nossos lábios se tocaram lentamente num curto beijo e depois em outro mais demorado. Sentamos em um banco que havia num canto da varanda e ficamos olhando o céu estrelado. Subitamente lembrei do nosso encontro na praça e senti dentro de mim que aquela noite e aquele tempo limpo e céu cheio estrelas foram preparados especialmente para nós por Deus assim como também o casual encontro na Célio Miranda. A felicidade nos cercava por todos os lados. Graças a Deus. 24 Epílogo Elizabeth ALEXANDER E EU NOIVAMOS no ano seguinte e nos casamos. Meus pais chegaram em Paragominas cinco meses antes do meu casamento. Não somente o meu pai, mas também minha mãe foram empregados na cidade. O marido de Mara deixou-a com os dois filhos e viajou para fora do país. Dois anos depois ela se casou com o membro da igreja de Alexander. No mesmo período do casamento de Mara, dei a luz a gêmeos; uma menina e um menino. Demos aos dois os nomes: Evelin e Álef. Alexander Wander também se casou e mudou-se para Belém, onde transferiu a matriz da gráfica para lá e assinou contrato com grandes empresas como: Y. Yamada, Big Bem e Visão. José foi para São Paulo e ficou famoso ao trabalhar no SBT. Elizabeth e eu continuamos cuidando dos negócios em Paragominas, prosperamos grandemente e VIVIMOS TODOS UNIDOS E FELIZES. *********** 25