Vestes de um amor escondido Voltaire Giavarina Marensi Vestes de um amor escondido Poemas PROJECTO EDITORIAL © Voltaire Giavarina Marensi Todos os direitos desta edição reservados PROJECTO EDITORIAL Telefone: (0xx61) 328-8010/327-6610 – CEP 70715-900 EDIT ORAÇÃO ELETRÔNICA Livraria Suspensa PREPARAÇÃO Loiany Secundo Vanderlei Veloso CAPA Tarcísio Ferreira REVISÃO Edelson Rodrigues MARENSI, Voltaire Giavarina. Vestes de um amor escondido. Brasília: Projecto Editorial/Projecto Autor, 2002. 64p. ISBN 85-88401-13-4 1. Poesia brasileira. I. Título. CDD 869.91 Aos meus amores. Um peão .......................................................................... 9 Distante e real .................................................................. 10 Pensamento ...................................................................... 11 Devaneios ........................................................................ 12 O novo reencontro............................................................ 13 Sem temor ........................................................................ 14 Além de muitos sonhos ...................................................... 15 Sensações e sensações ...................................................... 16 Minha impaciência ............................................................ 17 A certeza de te ver............................................................ 18 Acordar ............................................................................ 19 Prelúdio ........................................................................... 20 Com a paixão de todos os amantes .................................... 21 Teu corpo ......................................................................... 22 O romance...................................................................... 23 O sonho das emoções...................................................... 24 A amizade........................................................................ 25 A rainha e o menino-rei..................................................... 26 O amor e a distância........................................................ 27 Uma seqüência de versos .................................................. 28 Vigília .............................................................................. 29 A sereia do Reno............................................................... 30 Esses motes, esse âmago ................................................... 31 Vestes de um amor escondido ............................................ 32 Permanentemente grato ..................................................... 33 O amor imortal................................................................ 34 Fragmentos da minha cobiçosa paixão ............................... 35 O fruto daquela volúpia.................................................... 36 Amante-voador ................................................................. 37 Sexta-feira ........................................................................ 38 A sorte do eterno amante................................................... 39 Dedicação........................................................................ 40 A ilusão de um andarilho................................................... 41 No bronze da gratidão do amor ......................................... 42 O problema é saber se...................................................... 43 Jorge Amado .................................................................... 44 Seqüência ........................................................................ 45 A candura da velhice......................................................... 46 O tempo em fuga............................................................. 47 O coração....................................................................... 48 Tudo pode ser compreendido ............................................. 49 A imagem........................................................................ 50 Em oração ....................................................................... 51 Esta divagação ................................................................. 52 O jogo de aposta............................................................. 53 O que faz a esta hora o meu amor?................................... 54 Nos eflúvios dos pensamentos ............................................ 55 Ser imortal ........................................................................ 56 Como novos caçadores ..................................................... 57 Caminhos de acesso à vida ............................................... 58 Balança a minha alma ...................................................... 59 Uma bicicleta, uma jovem ................................................. 59 A existência real................................................................ 60 O clube........................................................................... 60 O maître e a deusa........................................................... 61 Um dia benfazejo .............................................................. 61 Escrever ........................................................................... 62 O fanfarrão...................................................................... 62 A morte............................................................................ 63 Futuro de cores ................................................................. 64 Acredito na força das palavras, das idéias, e nas ilusões também, perdidas, soltas, incontroláveis. Mas querem saber bem certo no que acredito? Na união, mesmo fugaz, de um amor ardente. Tão quente como a água que ferve e borbulha na cuia de um peão de estância, longe de qualquer sonho ou esperança, mas acalentado no amor do rincão. Agressão. Romance. Ficção ou pura paixão. Talvez tudo, talvez nada. Importante é a comunicação, a que, embora platônica, é o resultado de uma miragem distante mas real, longa no pensamento mas factual, desmembrada pelos minutos, porém sorvida, segundo a segundo, pela tua dedicada emoção. Vida. Sonho. Perfume. Roncos sonoros de veículos, tudo isso parece normal. O que penso, o que imagino é que a distância virtual fica pequena, diminuta, ao vislumbrar que a qualquer tempo terei você, minha candura, no meu ombro guerreiro, mas faceiro no retorno ao pampa, pois a primeira coisa que faço é te ver para não pensar que esqueci do que enlacei em meus braços depois, para logo te dizer enfaticamente: te amo, meu amor querido. Contemplo tua imagem que congelo e retenho na minha retina. O gelo que penso e falo é distinto daquele marmóreo, duro e frio. Bem o sabes. Aquele que penso é produto da contemplação e da veneração do amor, finito ou perene. Nunca saberei. O que sei é que devo te amar. Passo horas a fio te admirando, como um "menino­guri" que espera a hora do recreio para compartilhar a alegria de uma folga, embora fugaz, depois de uma dura lição. É que na vida presente visualizo o novo reencontro, que a qualquer momento, sem tardança nem relutação inexorável, fatalmente ocorrerá. Não tenhas medo. Propago aos quatro cantos que te quero ter. Não temas. Não te preocupes. A vida, mensageira do destino, timbrou esta oportunidade para que possamos viver, já que a morte, sorrateira, silente, inerte, não frustrará o momento que mais espero para eternizar-te, tal qual uma sereia adornada no seio da areia. Tenho mil e um pensamentos, além de muitos sonhos – viver sem preconceitos – vincados somente pela paixão, que consome, devora e tenta dizimar meu coração. Alimentado e nutrido por essa força, torno-me guerreiro impávido, e louco de emoção. Carícias. Afagos. Volúpias. Desejos. Vibrações. Todos são qualitativos, existenciais. Mas o maior deles é o que vê a tua nudez, envolta no idílio do meu viver. Viver só vivido para nunca mais ser esquecido. Mesmo que seja um existencial "malquerido". Começo a ficar impaciente. O avião aterrissa, mas não chega ao destino, quero sair logo, gritar, ensaiar as primeiras valsas que guardo no sótão da minha imaginação. Pois, ande lá! Assim depressa, consigo afagar a sofreguidão da eterna vigília que, prometo, terei sempre ao vê-la em meu retorno, mesmo que breve, e sempre na ilusão perene de um amor dividido. Consigo neste instante te mirar. Olho, mas não posso te pegar. Triste ilusão. Penso, viajo, e no escuro da noite que cai parece que a minha ilusão também se esvai. Tolo. Incontido. Pervertido. Amante. Todos estes adjetivos não são suficientes para que a minha ima­ginação fuja da perene contemplação. Do absoluto. Do relativo. Não sei mais. O que sei é que a certeza da possibilidade de tornar a te ver, enxergar a cor de teus olhos, espraiados nas madeixas negras, qual mosaico de cores, é a autêntica expressão da espe­rança. Viva o amor! Dormir. Acordar. Te olhar através de um espelho. A miragem de quem me persegue e no encalço realça a paixão, a ternura, sem qualquer ilusão do sonhador que procura a concatenação dos sentimentos, desprovidos de tormento. Aí, fatalmente, reside o coração de um modesto pensador. Estou em pleno vôo. Lá embaixo está sob meus pés a esperança que pressinto alcançar. Cá nas nuvens, porém, como mais um mortal, devoto o meu pensamento à imagem do Todo-Poderoso, que, aqui comigo, alimenta a possibilidade do ideal passageiro, qual tormenta que anuncia, episódica, o belo prelúdio deste firmamento. Sensação. Harmonia. Paz. Possibilidade de encontrar a razão de viver! Eis algumas questões que suscitam a imaginação de um homem voltado para o querer. Belos exemplos de alguém que só procura viver. Só ou juntos, com a paixão de todos os amantes. Vislumbro a tua tez envolta em negras roupas. Tenho a impressão de que posso enlouquecer. O tempo passa, mas a quimera permanece, como no ritmo alucinado deste querer te ver. Qual menino incansável nas tardes domingueiras, quando só tu sabes procurar a razão de meus atos, que no fundo não passam de retratos descobertos pelos teus eternos afetos. A lua hoje vai adornar a noite para que juntos possamos contemplá-la. Mas com ela também estão presentes todos os nossos sentimentos. A candura balbuciada pelos teus lábios, traduzida nos lençóis amarfanhados pelo peso dos nossos corpos. Descontraídos e destemidos, procuram saber deste encontro de mais um dia colorido de sensações vividas. Eu tenho um sonho. Quero conseguir a serenidade. A altivez de caráter e a coragem de quem a procura. Viver para fazer sempre que possível o bem, e assim encantar o palco que visualizo na emoção do amor. Desejo o reconhecimento dos amigos. A admiração da mulher amada. A paixão da companheira eternizada. E o deleite da mulher querida. Hoje, quando acordei, pensei logo que poderia ter tudo terminado. Os lençóis surrados, retorcidos, desalinhados, eram resultados de um pesadelo, longo, infinito, abissal. Sopesado na minha consciência, ainda um pouco inconsciente, soprou e varreu algo que não se passou no plano fático. Soberbo, e assim alegre e embevecido por tal realidade, logo meditei em breve prece. Expresso no recôndito do meu consciente o seguinte desabafo: “ Não pode nada disto ser real, pois a rainha ainda reina na glória indevassável de um menino-rei. O amor suporta a momentânea distância, insuportável por força da razão do irracionável. Porém, eterno e imortal ele é, enquanto vigiado e contido na força subjetiva do pensamento, pressentimento inesgotável, próprio do homem-ser. Loucura. Ternura. Ouço vozes, mas mesmo assim não escuto. Penso em ti que és a única coisa em que penso. Te abraçar, te beijar e quiçá passear contigo, qual criança embalada em seus sonhos... Só que os meus são de amor e de paixão. E pensar que embora na distância temporal existe alguma coisa ansiolítica esperando que o pulsar da vida, assim vivida, se transforme em uma seqüência de versos, de fantasias, de cores e de amores pervertidos às vezes, mas sorvidos em beijos de lascívia e de incontida paixão. Loucura. Realidade. Tudo é verdade. O tempo, a vida, o envolvimento com aquela mulher amada, mesmo que traído por uma quimera. Afinal, tudo não são ilusões? Talvez! O fragmento da vida é o momento que, embora célere, fugaz, aterrorizador, aconchega a minha alma no pensamento solitário de um lábio que tem um certo escárnio, e que no fundo é a minha eterna vigília. Modificar. Ser um ente diferente dos outros mortais. Por que? Pela fleugma? Por ser um homem resistente às invectivas do amor? Este é bom, visto que funciona como bálsamo, e é o equilíbrio aparente do desequilibrado aparelho em que viajo só, na incontida sensação de poder te ver, de novo, junto aos meus braços, qual Loreley, que um dia mirei em uma viagem sem destino. Lá, do alto, que belo espaço sideral! Nuvens cortadas que mais parecem um novelo de lã. Escondidas pelo alto, guardam segredos de todos os viajantes. Por diferentes motivos e motes, buscam a sensação de ter atingido o âmago, esse, que só nas alturas pode impregnar a consciência do homem tolo. Sensação de estar se aproximando do destino. Parece perquirir com outra indagação: que destino? Sei lá. Talvez o encontro com o imaginável, talvez o encontro com a beleza que colore as vestes de um amor escondido, transparente, quando se vê o primeiro sorriso de plena satisfação, visto que a vida foi feita para ser vivida, sem ortodoxia nem parâmetros de certeza matemática. Não deixe que as imagens da vida simplesmente passem. Não, não permita o meu enlevo em assuntos outros que não sobre você. Consinta em que o amor eternizado seja permanentemente grato. Me ajudem, por favor, a ser um operário velando junto ao ser intimorato. Não sei mais o que valorar. Se o amor sem laços, sem peias, ou o amor estilhaçado, sem amor. O que sei é exaltar a minha finita existência. Embora fugaz, procuro insistir em ser perene, a fim de que a morte não antecipe a minha dor. Ouço, te sinto e te desejo. Quisera sempre te dizer isto. Porém, impávida, demonstras a tua indiferença. Alertado, teimo em parecer sempre vivo, esperan­çoso, altaneiro, para que os meus sentimentos mais mesquinhos não tenham qualquer possibilidade de vingar. Quero chegar à constelação do teu colo, que mais parece um espaço sideral, enfeitado pelos de­sejos incontidos das minhas emoções, da minha doce ilusão: a de te ver sempre ao meu lado, nem que seja para te possuir por alguns momentos. Es­tes são fragmentos da minha cobiçosa paixão. Gostaria de passear contigo e gritar aos quatro cantos que vivo, imagino e tenho vontade de morrer. Morrer no teu regaço, qual moleque alquebrado, ressurgido de uma luta que para ele fora sangrenta, e para mim cheia de dengos, flores, êxtase e amores, noite sem solidão, onde a paixão foi o fruto daquela volúpia, incontida, adormecida, mas eternamente inesquecível. Quisera ser um pássaro, me deslocar aonde te encontras. Lá chegando, quieto, novamente transformado em meu ser, te abrigar em meus braços e juntos voarmos na imensidão do horizonte, até que possamos, cansados, exaustos, pousar em algum ninho, cada vez mais parecido com aquele vivido na esperança de ter reencontrado o amor eterno, infinito, refeito de uma noite adormecida, ancoradouro de alguma coisa inexistente... A não ser a paixão que desfrutei desde o instante em que me vi transformado em “amante-voador", adormecido em teus pensamentos e sonhos. O homem alado. Que dia é este? Já a noite anterior a define. Hoje quero viver sem compromissos, apenas absorvido no pressentimento de que algo anormal irá se delinear. Será que terei uma próxima quinta-feira para amar? Sorte. Aventura. Esperança. Ocasião. Talvez! Eis alguns valores espirituais, axiologias que tisnam a vida de um vivente planetário, cheio de desacertos, desconcertos, mas devotados a futuras realizações, esperança ainda precoce de encontrar a vida em uma pletora de acertos, marcados pelas horas certas, passadas, loteria de um homem verdadeiramente amado por uma plebéia que o desperta. E que seja ela a nobre condessa deste eterno amante! Talvez esteja ficando maluco, pois agora te controlo. Assim penso te aprisionar no recôndito do meu coração. Quimera. Ilusão. Pretensão logo deixada ao largo, sem qualquer ato de resistência. A força me diz que o teu desejo, mesmo inconsciente, é estar presa no idílio da minha impaciência, que implora, sem clemência, exclusiva dedicação, votada ao espírito de um eterno sonhador. Visualizo no colorido do reflexo de um espelho, à minha frente, em um shopping, idéias, imagens e talvez a distância de um futuro incerto, perto, longínquo, esperançoso, proveitoso, não sei. Sei apenas que vivencio a ilusão de um andarilho que fustiga a vida como se ela fosse imortal, desafiando o tempo, a ocasião e, sobretudo, os meus frágeis sentimentos de homem idealizado por alguém, por uma mulher, para ser verdadeiramente amado. Vivo e proclamo que trago ao mundo a inconseqüência muitas vezes contida da emoção. Arrostado pelo tempo, inexorável, inclemente, indelével, a meu juízo, só. Partilho com amigos e incentivadores, e reativo a chama de algo adormecido, esperado, curtido na paciência do minuto insólito, vincado pelo passado, longo e pleno de devaneios, todos incertos, mas, com certeza, cinzelados no bronze da gratidão do amor, espaço físico-temporal que hoje episodicamente teimo em ocupar. Afasto assim a dor da minha momentânea solidão. Ser pai, diz a sabença popular, é padecer para que, um dia, no paraíso repouse este ser na eternidade infinita. O problema é saber se este cansaço será recompensado na noite do eterno adormecer. Amado Jorge, diz o povo assim ao se expressar e pensar. Ler sua obra, embasada no fruto da igualdade, da fraternidade e da liberdade, tal qual a bandeira francesa, solo em que estava você, nosso poeta maior, nas horas de dedicação, descanso e mansidão de espírito, a desfrutar de momentos inolvidáveis, só acessíveis a escritores amados. Seqüência de fatos, pensamentos, idéias. A vida é uma continuidade de afazeres, tristes, alegres, fugazes, mas sempre presentes. Imagine se não houvesse esta sucessão de acontecimentos. Que enfado, tédio e dissabores! Ser jovem é a projeção de um futuro, de amores, de cores, de facetas multifárias. Porém, a experiência de um vivente maduro é a candura que chega ao colo prestes à loucura. Sem ela não teria graça existir, pois sem aprendizado não se oportuniza saber o que é viver. Tempus fugit, diziam os romanos. E ele corre! Talvez desejando a sorte de todos os mortais. Mas o que ele diz é que teus lábios estarão sempre à espera do meu amor eternizado. Dizia o poeta condoreiro que o coração é o colibri, azulado beija-flor que costuma se alimentar da seiva das flores. Eu me sinto este pássaro que se alimenta do teu corpo na enseada dos romances, das preces, dos odores que exalas em teus amores. Tudo pode ser compreendido, inclusive o amor. Ele é, indubitavelmente, o produto, a essência da rubente flor, germinada pela candura do olhar no qual só o amante consegue se retratar. A imagem dos seres humanos se reproduz em ges­tos, determinados, afetados, guardados nesta ple­na emoção que a sabedoria popular diz desconhe­cer, mas que, quando confessados, tornam-se os grandes sentimentos dos mais lídimos mortais. De coração aberto gostaria de dizer, de preconizar coisas: a igualdade dos homens, a realização dos ideais, a mansidão das ternuras, os apertos de mãos, os afetos. As distâncias, em síntese, são emoções vertidas em eternas oraçôes. Vivo sentindo o odor e as pétalas formatadas no amor traduzido na consciência de algo inanimado. Porém, abstraído, destaco as tuas qualidades, e qual musa vens a mim para deixar indelével o sopro de momentos vividos em mares ilusórios, onde só o amor pode compreender esta divagação. Talvez seja o vício da maioria dos homens, o jogo de apostas do poder, do dinheiro, da conquista. Sublime seria o jogo por uma eterna paixão que, às vezes, quase combalida, com entusiasmo torna-se uma imorredoura gratidão. Vejo através da minha janela homens esperando. Acredito que essa espera seja produto do tempo que corre. Imagino algo inolvidável: o que faz a esta hora o meu amor? Trabalha? Se diverte ou ri da própria sorte? A mansidão é a parcela dos adeptos da paz. Eles nada mais são do que a contemplação do amor, sem retoques, sem peias, mas sulcados nos eflúvios do pensamento votado à essência vivaz. Qual homem não gostaria de ser imortal? Talvez aqueles que vivem no ostracismo, com esperança de serem reconhecidos na eterna busca de uma vida ideal. Tudo é motivo de festa, de cores, de amores, de alegrias para batizar novos romances. Novéis casais arruaçam sintetizando o encontro de outros personagens. Espalhados no turbilhão da vida, são enfeitados e enfeitiçados como novos caçadores. Percorro os caminhos de acesso à vida. Passo e busco aquela trilha, mas sempre em minha frente aparece você, um vaga-lume no lusco-fusco de seu perfume de dama da noite que a lua engrandece, e se sente desperta ao acontecer um novo amor. Não só ela passa e balança a minha alma, o tempo também tem esse condão. Só mais injusto e inclemente. Aconselha a minha razão os dotes da imaginação, longe das tertúlias e dos devaneios que, logo naquele momento, penso ser a razão de existir. Uma bicicleta, uma jovem Hoje imagino que assim estou. De repente surge uma bicicleta, uma jovem com cabelos encaracolados. Num átimo, vejo a vida perpassar e com ela pulsar sentimentos que, às vezes, imagino guardados no registro de minha mente, vergastado no produto do pensamento: aqui sentado, a solidão se aproxima, e de esguelha deixo tudo ao sabor da ocasião. MORRER ou VIVER. OUVIR e escutar. Escutar o “chato”, o retórico, o eloqüente, o pensador. Nada disso impacta. O que vigora é a existência real, palpável, possível, a imaginação enfim. O amor é o sopro d’alma que insufla a paixão de um ente, que busca a existência do eterno querer, com frascos de essências aromáticas. O clube Nele vislumbro as mais variegadas imaginações. Do pensamento. Da vida. Da margarida e de outras flores, que adernadas pelo sopro do vento, pelo acalento do sol, parecem testemunhar o mundo finito, perene, que todos os dias penso repetir em minhas eternas, porém contínuas, realizações materiais e, quiçá, espirituais. Ele, com sua mímica, me provoca na forma de silhueta a contínua decisão de prosseguir degustando “aquela coisa gelada”. Absorto e entregue aos meus poemas, tento reiniciá-los com a dedicação monástica do compromisso assumido comigo, como se fora a última penada do meu viver. E neste mosaico que procuro colorir, visualizo tua imagem, como uma deusa que habita o íntimo deste ser. Um dia benfazejo Há de chegar um dia em que tudo seja poesia, mas acalentado em desejo expresso torna-se logo, de pronto, uma ocasião benfazeja. Parece que ao escrever vou lembrando de coisas acontecidas e fatos futuros, talvez quimeras, ilusões, loucuras, afetos e uma vontade inconsciente de não mais querer respirar. Mas, como que num passe de mágica, quero retornar para assinalar a minha presença, nem que seja para atormentar o idílio do meu refúgio, o qual construo no papel, com a máquina e a minha própria imagem que idealizei.. O fanfarrão Diga, ó homem do povo, qual seria teu desejo: possuir um dote ou ser objeto de mote? Não importa, pois a sorte diz que és um bazófio. Hoje, ao passar pelo cemitério, presenciei um aglomerado de pessoas rendendo homenagens ao finado. Logo me perguntei: será que ele era dos bons, dos boêmios, dos incultos, dos recatados ou, quem sabe, daqueles que até perderam sua individualidade. Mas que isto interessa? Balzac já dizia: “A morte é como a cortesã em seus desdéns; porém, mais fiel, não engana ninguém”. Não temas, não fujas, morra de amores, pois o futuro é de cores. Vida, amado e cruento desejo de te ver em meus braços acolitando em teu seio os meus sonhos, qual menino infante no meio da tentação. A vida, quimera de ilusões mil, parece ser a existência do amante que, alquebrado pelo desejo pervetido, sorve em teus lábios a lascívia dividida no torpor de uma acalentada solidão.