Fuga para o Amor Tom Green Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destina- se unicamente à leitura de pessoas portadoras de deficiência visual. Por força da lei de direitos de autor, este ficheiro não pode ser distribuído para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente. a magia do prazer Fuga para o Amor é a hstória de dois amantes que desafiam a sociedade para poderem continuar juntos. Aline, a rica herdeira dos Shepperd, apaixona-se por Frank, um rapaz de famílias humildes, temporariamente desempregado. Perseguidos pela família de Aline, os dois adolescentes fogem de terra em terra, mas a sua paixão não esmorece perante todos os obstáculos que têm de transpor. 2002 Abril Control jornal Editora, Lda. por acordo com Desejava já ter feito amor antes de chegar àquilo. Pensou que se uma rapariga dormiu com um rapaz já adquiriu experiência suficiente para resolver todas as situações que se lhe pudessem apresentar diante de um par de calças. Mas, agora, o homem não deixava de olhar para os seus seios. Falava de Vivaldi e Mozart, mas não parava de mirar os seus seios. Não negava que se sentia bem com o seu corpo de adolescente, mas que demónio, não era uma Sofia Loren. Por que razão aquele homem não mostrava consideração por ela e fixava os olhos nos seus seios? Tudo correra mal desde o início. Demorou semanas a encontrar o número de telefone do senhor Lansky Depois, ele disse-lhe que não recebia novos alunos. Com muita paciência, ela conseguiu arrancar-lhe o endereço e, agora, ali estava, no gabinete do velho edificio da 8. a Avenida, suportando o interminável monólogo do senhor Lanslcy, que lhe falava dos sacrificios que a execução do violino impunha, enquanto mantinha o olhar cravado nos seus seios. Lansky criticou os adolescentes que, por terem estudado no Conservatório, pensavam que se tornariam músicos exímios. levantou o olhar e viu que os olhos da jovem anunciavam lágrimas. Então marcou uma audição para a semana seguinte, em sua casa. E foi assim que Aline Shepperd, de dezasseis anos, obteve uma das coisas por que mais ansiara na vida. Quando fechou a porta do gabinete do maestro Lanslcy, Aline suspirou de alívio. Dirigiu-se ao elevador, carregou no botão de chamada e aguardou. Aline era virgem. Acedera a ir ao cinema com um rapaz pela primeira vez aos dez anos, e fora beijada nos lábios aos onze. Aos doze anos, numa festa, B. B. Randall, que tinha dezoito, ensinou-a a beijar. A partir dos treze, os admiradores começaram a aparecer em bandos. Com o cabelo castanho pelos ombros, o nariz direito e boca generosa, Aline era uma bela rapariga em que se adivinhava inteligência e sensibilidade. Aos treze anos, teve o seu primeiro grande amor. Entre os catorze e os dezasseis, viveu o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto amores da sua vida. Os Shepperd viviam com os olhos postos na sua única filha. Eram ricos, e a virgindade de Aline era o passaporte seguro para um bom casamento. A mãe de Aline pertencia a uma família tradicional de Boston, de princípios rígidos. Apesar de há anos viver em Nova Iorque, regia-se pelas normas da sua cidade natal, considerando-se uma requintada bostoniana. Aline estava inquieta com as expectativas que os seus pais tinham a respeito da sua virgindade. Suspeitava que, um dia, acabaria por os decepcionar. Às vezes, no colégio, falava deste tema com a sua maior amiga. A sua virgindade era uma circunstância fortuita, o facto de não ter havido ainda o rapaz que tivesse despertado nela um prazer tão grande como o que experimentava cada vez que tocava violino. Foi então que ouviu os gritos. Pareciam vir dos pisos inferiores. Aline não conseguia entender o que se passava, mas havia correria nos corredores, ameaças e gritos. Os sons estavam cada vez mais próximos. Se bem que não fosse assustadiça, sentiu-se inquieta. A porta da escada abriu-se de repente e ela viu um homem correr na sua direcção. Nesse momento, ouviu-se a campainha do elevador e a porta abriu-se. A jovem entrou e soltou um suspiro de alívio, enquanto o homem que corria cruzava o corredor quase junto a ela. Alyne estendeu o braço para carregar no botão do rés-do-chão, mas outra mão se adiantou. Voltando-se, a rapariga viu um rapaz moreno que lhe deitou um olhar divertido. - O que eu digo é que quando fui ao décimo primeiro andar percebi logo o que se passava - dizia uma ruiva. - Dizem que quis assaltar um dos joalheiros do quarto andar e que a Polícia chegou antes. Nesse instante, o elevador deteve- se. Aline olhou para o rapaz, que se pôs a observá-la com frieza. Todos se aproximaram da porta, mas esta não se abriu. O rapaz olhou para o painel indicador, ao mesmo tempo que carregava em todos os botões: a luz situava-se entre o sétimo e o sexto andares. - Parece que as portas ficaram bloqueadas - disse a rapariga, ao mesmo tempo que percebia que o rapaz lhe lançava um olhar de ódio. Aline fitou-o estupefacta. Que fizera ela para provocar o seu desdém? Nunca se sentira tão impressionada por um desconhecido como por este rapaz tãoantipático. Perguntou a si mesma que aconteceria se, por exemplo, ao chegarem à rua, o rapaz se decidisse a abordá-la. Alline nunca respondia aos rapazes que lhe falavam na rua, mas neste caso. bem, talvez não fosse tão antipático, afinal. se bem que. como iria explicar a Caroline e a todas as outras como se tinham conhecido? Talvez não fosse boa pessoa. mas se havia algo de mal nele, o seu rosto não o deixava ver. Pelo contrário, pertencia a esse tipo de rapazes com quem apetece sair. Mas ali estava ele, quase sem a olhar. Com certeza jamais partilhariam nada na vida. Quando a viagem terminasse, cada um seguiria o seu caminho. Lamentou que a vida escrevesse o destino das pessoas de forma tão complicada. E lamentou também que o rapaz a olhasse de forma tão malévola. De repente, uma voz de mulher chamou-a à realidade. - Porque não se abre? - angustiava-se a ruiva. - Acalme- se - ordenou o rapaz, numa voz grave. A uma ordem da ruiva, todos começaram a fazer força na junção das portas, procurando afastá-las. - É inútil. Estamos presos - desanimou a ruiva. - Não há muito oxigénio - disse um ancião. - A indicação deste painel é visível no rés-do-chão. Daqui a pouco verão o que sucedeu - disse o rapaz. Aline observou que, enquanto cada um dava voz aos seus temores, o rapaz estudava a estrutura do aparelho. Passou as mãos pela junção das portas. Depois, tirou um canivete do bolso e começou a tirar os parafusos do painel indicador. - És electricista ou algo assim? - perguntou Aline. - Não, e tu? A rapariga desviou o olhar, incomodada. Porque se mostrava tão desagradável? A medida que o rapaz mexia nos cabos do painel, a ruiva mostrava-se cada vez mais nervosa. Aline lembrou-se de que quando saíra do gabinete do maestro Lansky os empregados já se tinham retirado. Onde estaria o maestro? Teriam sido eles os últimos a sair? E os polícias que perseguiam os ladrões? A rapariga voltou-se para o jovem. Tinha de lhe falar. O seu pensamento foi interrompido ao descobrir que o jovem a olhava. - Não há nada a fazer - disse ele. - Vamos morrer? - perguntou a ruiva. - Não, senhora - respondeu Aline. - Eu, pelo menos, não estou disposta a morrer tão nova. Meia hora depois, os ânimos tinham acalmado. Estavam agora sentados no chão. O rapaz disse que, enquanto o interior do elevador estivesse iluminado, era sinal que havia gente no edificio. Aline percebeu que o jovem perdera a animosidade contra ela e a olhava e tratava como aos demais. - Que vieste aqui fazer? - perguntou-lhe Aline. -Vim fazer um recado ao meu pai. Somos de família italiana, e há aqui um departamento onde legalizam documentos que são necessários para tratar de uns assuntos em Itália - respondeu ele. - E tu? A rapariga disse como se chamava e contou a sua estranha entrevista com o maestro Lansky. Foi então que o rapaz exclamou, enquanto se punha de pé: - Claro, já sei! Todos o olharam admirados. - Icem-me - ordenou o rapaz. Improvisando degraus com as mãos, os outros foram-no elevando até ao tecto. Ali, com o canivete, começou a tirar os parafusos da placa. - Vou tirar esta placa e subir pelos cabos do elevador até à porta do sétimo andar. Abro-a, salto para o corredor e vou pedir ajuda. - Mas os cabos estão muito distantes da porta. balbuciou Aline. - Talvez consiga provocar o contacto - retorquiu o jovem. - Ou alguém tem uma ideia melhor? Quando tirou todos os parafusos, o rapaz fez pressão sobre a placa, que se soltou e caiu no abismo com estrondo. O rapaz conseguiu elevar-se até à abertura. - Tem cuidado - sussurrou a jovem. - Não consigo ver quase nada. Já estou junto aos cabos. Vou ter de trepar três ou quatro metros. De súbito, o elevador pôs-se em movimento. Os gritos de todos confundiram-se com os do rapaz no exterior. Desesperadamente, puseram-se a bater com os punhos nas portas do elevador. Um estrépito revelou que o rapaz caíra. Angustiada, Aline ergueu o olhar, mas não conseguiu vê-lo. Em baixo, eram aguardados pelo porteiro, por técnicos e bombeiros. Aos gritos, os ocupantes do elevador explicaram que estava um rapaz em cima dacaixa. O porteiro correu a chamar uma ambulância enquanto os bombeiros se precipitavam para dentro do elevador e tratavam de subir para a parte superior. Minutos depois ouviu-se a ambulância. Todos procuraram chegar junto do ascensor no momento em que colocavam o corpo do jovem na maca. Quando abriram as portas da ambulância, Aline correu para a maca e tocou no ombro do jovem. - Escuta, por favor - disse. - Sou Aline, a rapariga que estava contigo no elevador. Diz qualquer coisa. - Frank. As minhas pernas. - sussurrou o rapaz. Disse que se chamava Frank. Será que quis dizer isso? Aline pensou em ligar para todos os hospitais e tratar de saber como se encontrava. Mas sem saber o seu nome. Também pensou que bastava perguntar pelo jovem que sofrera um acidente num elevador. Talvez os bombeiros ou a Polícia. Não devia pensar nele. E, no entanto, não conseguia deixar de o fazer. Apagou a luz e dirigiu-se para a sala de música, fazendo um esforço para se concentrar nos exercícios de violino. Ao longe, podia ouvir a mãe a discutir com a criada. Fechou bem a porta, pegou no instrumento e decidiu que era tempo de se pôr a trabalhar. Aline tratava de apagar da sua mente a imagem do jovem quando a sua amiga Caroline entrou na sala. - Sonhas com De Niro ou com Andy Gibb? - zombou a jovem, deixando-se cair num sofá. - Que fazes aqui? - perguntou Aline, sobressaltada. - Céus, que recepção! Chego num mau momento? - Não, não, desculpa - sorriu Aline. - Estava distraída, não ouvi a campainha. - A tua mãe deixou-me entrar. Daqui a pouco tenho de estar na Escola de Desenho, mas subi para fumarmos um charro juntas. Apetece-te? - Não gosto de charros, Caroline, bem sabes. - Que acontecia se a tua mãe entrasse de repente? - Desmaiava nesse mesmo instante. Se bem que ela toma tantos calmantes que... - Por falar em calmantes, acabei de ver o Harold. Esse miúdo está cada vez pior. - Que te disse ele? - quis saber Aline. - Que fôssemos fazer amor no esconderijo dele. Já sabes que não pensa noutra coisa - suspirou Caroline. - Eu disse-lhe: "Harold, será possível que te tenhas esquecido de que ainda sou virgem?" Desde que toma coca, está impossível. Caroline acendeu um cigarro, aspirou duas vezes e exalou uma lenta baforada. - Estou num dia mau - anunciou Aline. - Em que estavas a pensar quando cheguei? - No Tabby. - Taby Newman? - surpreendeu-se Caroline. Julguei que estivesse no Museu de Antiguidades. - Voltou a ligar-me. Ficámos de ir patinar juntos. - Menina, estás a desperdiçar a tua vida. Que panorama deprimente. Tens de renovar a tua agenda - disse Caroline. - Até eu tenho de o fazer. Não há ninguém que me interesse. - E o Ken? - Não me fales do Ken. Sabes o que acho? Sou a favor de um mundo em que rapazes e raparigas sejam amigos sem necessidade de se meterem em romances. Não suporto que todos os tipos queiram envolver-se comigo na base do namoro - queixou-se Caroline. - Acho que somos mais maduras do que os rapazes e conseguimos ver tudo com mais clareza. Enquanto a amiga falava, Aline compreendeu que os seus esforços para manter a conversa eram inúteis. Estava noutro local. E, então, voltou de novo à sua mente a imagem de Frank. Porquê continuar a negar que não podia deixar de pensar nele? Em silêncio, saiu da sala e dirigiu-se para o escritório do pai para ir buscar a lista telefónica. Começou a procurar os hospitais. Ao entrar no quarto 502 do hospital, Aline percebeu em si um turbilhão de sentimentos contraditórios. Mas, ao identificar Frank, que dormia com uma perna engessada levantada, invadiu-a uma profunda ternura. Aproximou-se timidamente. Junto à cama sentava-se uma mulher. Aline pensou que se tratasse da mãe do rapaz, mas logo soube que era a tia Assunta. A mulher, muito loquaz, explicou que o pai de Frank estava a trabalhar e a mãe se encontrava em casa, a cuidar dos outros filhos. A jovem quis saber do estado de Frank. A tia explicou que não se tratava de nada grave e que o rapaz poderia regressar a casa dentro de alguns dias. Aline suspirou aliviada. Nesse instante, a cabeça do rapaz agitou-se na almofada e ele abriu os olhos. - Sou Aline. Lembras-te? - Frank. Frank Ferri. Vieste ver-me? - Sim. - Vens também amanhã? - perguntou o rapaz. - Amanhã? - Com certeza pensa que amanhã já estará bem e poderá falar contigo normalmente - interveio a tia. Aline contara a todos a sua aventura no elevador. Mas com Caroline foi mais longe, explicando como era Frank, a sua preocupação pelo seu estado de saúde e a cena vivida no hospital. Ao regressar do clube de ténis, Aline comentou que iria ao hospital, tal como o jovem lhe pedira na tarde anterior. Caroline não pareceu dar atenção às palavras da amiga, mas quando chegaram a casa de Aline, voltou ao tema. - Acho isso estúpido - disse, dirigindo-se à cozinha. - Já cumpriste a tua obrigação e não vejo razão para que voltes a esse hospital deprimente. - Ele pediu-me que voltasse. - Se te tivesse pedido que dançasses, também o farias? Ora, Aline, que tens tu com ele? - Que estás a insinuar? - insurgiu-se Aline. - Acho que o menos que posso fazer é preocupar-me com ele. Afinal de contas, arriscou a vida para nos salvar. - Estou a ver que esse italiano já está no mundo das tuas fantasias românticas. - Só me pediu que lá fosse hoje. E não vejo razão nenhuma para não o fazer - protestou Aline. - Bem, vou-me embora. Esta casa está cheia de romantismo. Telefono-te logo. Adeus, Julieta, saudades ao teu Romeu. Minutos depois, a mãe de Aline entrou na cozinha. - Estavam a falar do rapaz do elevador? - perguntou. - Estava a ouvir a nossa conversa? - replicou Aline. - Não se escutam as conversas alheias. - Não sejas impertinente. Então, vais visitá-lo hoje! Já sabes que não costumo meter-me na tua vida. - A sério? - Não te armes em engraçada. Não me parece prudente que voltes àquele hospital. Já cumpriste a tua obrigação. Os pais do rapaz podem pensar que... - Que podem pensar? Que quero caçar o filho? - Só me preocupo com o teu bem. - Talvez demasiado, se bem que possa soar a ingratidão da minha parte. - Aline - insistiu a mãe -, não sou tão velha que não me lembre da minha adolescência. Tento compreender-te, mas não me ajudas. Se queres um amigo novo, sugiro que conheças Darryl, o filho dos Lunt. Acaba de voltar da Índia, sabes? - Fascinante! - Se fosses uma criança, esta noite merecias ficar sem sobremesa. - Mas não sou uma criança e talvez seja tempo de aceitares isso - concluiu Aline, saindo da cozinha. Quando Aline entrou no quarto 502, viu Frank sentado na cama, olhando pela janela. Depois de balbuciar umas palavras, a jovem sentou-se numa cadeira e os dois ficaram em silêncio. Aline sorriu. - Parece que escapas desta - brincou. - Desculpa a cena de ontem. Estava tonto. - Estava preocupada: queixavas-te das pernas quando entraste na ambulância. - Sabes do que mais gosto na vida? De basquetebol. E todos dizem que sou bastante bom. Daqui a dias, tenho um jogo muito importante para a minha equipa. Julgava que tinha acontecido algo de grave às minhas pernas e que não podia jogar. Desculpa ter-te causado preocupações. Pensei muito em ti. Sei que fui muito desagradável contigo no elevador... - É uma verdade inegável. - É que entraste no elevador tão segura de ti... - Eu, segura de mim? - cortou Aline, estupefacta. - Pelo menos, parecias. Olhei para ti e gostei de ti, e isso deu-me raiva; pensei que eras o arquétipo da presumida menina rica filha do papá que... - Sou uma menina rica filha de papá - ironizou Aline. - Sim, mas quando falaste da tua paixão pelo violino e depois, quando correste para mim antes de eu entrar na ambulância e puseste a mão no meu ombro... - Também pensei que eras um convencido - admitiu a jovem. - Já sabes quando podes voltar para casa? - Saio amanhã... Posso ver-te fora daqui? - Acho que não - disse Aline, e deixou de o olhar. - Estou a ver - murmurou ele com ternura. - A menina rica filha do papá pode visitar um doente no hospital, mas não pode misturar-se com um rapaz de origem italiana que vive em Brooklyn Heights. - Não é nada disso, Frank - replicou a rapariga. É que não te conheço, nem sequer sei se. - Se queres conhecer? - Escuta, não vamos comportar-nos como crianças, não compliques as coisas. - Está bem, ganhaste. Frank ligou-lhe logo que chegou a casa, para lhe contar como tudo se passara. Parecia tão entusiasmado por recuperar o contacto com a jovem que deixara de se preocupar com a saúde. Falaram sobre as respectivas famílias e as actividades a que se dedicavam nos fins-de- semana. Frank ficou a conhecer que colégio Aline hequentava e esta soube que ele não tinha enprego. No dia seguinte, Frank voltou a ligar para dizer que em breve poderia sair. Queria vê-la e combinaram encontrar-se numa cafetaria. Frank recebeu-a com um sorriso exultante. - Vejo que não trouxeste o violino. Queres beber alguma coisa? - Contento-me com uma cerveja - disse Aline. O rapaz pediu a cerveja e quis saber tudo sobre a jovem e os seus estudos de violino. Depois, falaram dos seus amigos. Frank descreveu Sammy e qualificou-o como o seu melhor amigo. Aline falou da sua amiga Ginnie, que não tinha muita sorte com os rapazes por ser muito alta. A jovem explicou que Caroline, Ginnie e Márcia eram as suas amigas mais íntimas. - Há quantos séculos não te digo que gosto de ti?cortou Frank, subitamente. - Escuta, lamento, não sou daqueles que sabem dizer palavras bonitas. Isso não posso prometer-te. - És. um pouco estranho - sorriu Aline. - Porque no elevador te achava horrível e desde que te aproximaste de mim na maca não faço outra coisa senão pensar em ti? Achas mal que goste de ti? - Acho mal que formes uma ideia errada sobre mim. Há outras coisas que também contam. Quando saíram da cafetaria, Aline reparou que o companheiro ainda caminhava com dificuldade. Os dois jovens deixaram-se arrastar pela multidão que inundava a Broadway. Olhavam-se constantemente como que a descobrir-se, contavam detalhes das suas vidas, ansiosos por se dar a conhecer. Pouco depois, Aline disse que tinha de voltar para casa, e o jovem mostrou-se surpreendido. - Os pais não me obrigam a voltar - explicou a jovem -, mas pedem-me que os avise se chego tarde. - Controlam-te muito? - Bem. sou filha única, e eles são bastante mais velhos. Não pertencem à mesma geração dos outros pais, são quase da geração anterior. - Há muitas filhas únicas que têm mais liberdade. - Frank. é algo especial - insistiu Aline. - Os meus pais queriam ter filhos e não conseguiam. Tentaram durante muitos anos e recorreram a todos os médicos sem encontrar solução. Um dia, quando começavam a resignar-se, a minha mãe ficou grávida. Tinha trinta e seis anos, de forrna que a gravidez foi difícil e os médicos não lhe davam muitas possibilidades de sucesso. Quando nasci, ficaram radiantes. - Não me espanta - disse o jovem. - Ter-te deve ser como tocar no céu com as mãos. Aline sorriu, embaraçada. Começava a formar-se nela uma imagem de Frank como se fosse um furacão que não se detém perante nada enquanto não chegar ao seu destino. A jovem estava habituada a que a sedução fosse um jogo de inteligência, subtil e divertido, mas Frank parecia ignorar toda a dissimulação. Não se importava que ela se apercebesse da intensidade do entusiasmo que lhe despertava. - Ficaste muda? Estavas a contar-me o teu nascimento. - lembrou o rapaz. - Bem, não, era isso. Tentava explicar-te que por essa razão sempre fui muito protegida e mimada. - Isso não te incomoda? - Umas vezes sim, outras não. Mas não os critico. É a sua maneira de me fazerem sentir como gostam de mim. - Há amores que matam - comentou Frank. Quando chegaram diante de casa de Alline, Frank pegou num braço da jovem e disse: - Eh, vem, vamos sair daqui - e retrocedeu com ela para o jardim, fora do círculo de luz do alpendre. E então beijou-a. Aline pensou que era agradável conhecer o sabor dos lábios de um rapaz de quem se gosta. Mas os de Frank pareciam ter algo especial. O beijo prolongava-se, e também o abraço do rapaz, estreitando o seu corpo contra o dela, e a jovem só desejava que ele durasse mais e mais, porque sentia uma ânsia incontrolável de tocar Frank e de lhe acariciar o corpo. De repente, afastou-se. - Gosto de ti. - disse o rapaz. - Escuta. tenho de ir. Aline separou-se dele, sorriu e dirigiu-se para casa. - Posso telefonar-te amanhã? - perguntou Frank. A jovem sorriu e correu para casa. Quando Frank Ferri telefonou, Aline estava a praticar violino na sala de música. Foi a senhora Shepperd que atendeu a chamada e foi avisá-la. Aline ficou a falar no seu quarto. - Olá - disse -, estás a ligar de casa? - Não tenho telefone em casa. Vim à cabina da esquina. Que estavas a fazer? - A estudar violino. - Vamos tomar uma cerveja? Apetece-me ver-te. - Amanhã. - Sim, amanhã também. Estava a dizer agora. - Não, é melhor não. Tenho de estudar. - Então o violino é mais importante do que eu? - Tudo é mais importante do que tu. - Era o que eu temia. - Pois, agora já sabes. - Então, nunca casaremos nem teremos filhos? - Não. É melhor que tentes com a Bo Derek. - Detesto a Bo Derek - exclamou o rapaz. - Também eu. - Mais uma coisa que temos em comum - alegrou-se Frank. - A que horas nos vemos amanhã? Depois, Aline ligou para Tabby Newman para lhe lembrar o que haviam combinado. Como o dia coincidia com o que marcara com Frank, disse a Tabby que tinham de mudar o encontro. O jovem propôs que se encontrassem naquela mesma noite, e Aline não teve coragem de recusar, embora o achasse demasiado formal. Tabby pouco mudara desde a última vez, embora já não enchesse a conversa com os temas eternos, como as motas, os cavalos e os concertos de rock. Parecia mais calmo e até se interessou pela sua vida. Durante o jantar, porém, Aline decidiu que logo que a sobremesa chegasse anunciaria que tinha de regressar cedo. Enquanto ele falava, a jovem ão conseguia deixar de pensar no imprevisto telefonema da irmã do senhor Lansky; no dia anterior, enquanto ela estava com Frank. Foi a mãe que lhe disse que o professor estava doente e que a prova tinha sido adiada para a quarta-feira seguinte. No entanto, o pior veio depois, no carro estacionado diante da casa, no momento da despedida. Tabby, naturalmente, reclamou um beijo, que ela concedeu como quem cumpre um inevitável dever social. Mas o rapaz viu as coisas de forma diferente, de modo que a sua língua fez pressão sobre os lábios de Aline até os entreabrir. A jovem surpreendeu-se ao descobrir que o beijo não lhe desagradava e que não fazia nada para afastar Tabby. Na verdade, ele não beijava nada mal. Tabby deslizou uma mão por debaixo do casaco da sua companheira e acariciou-lhe os seios. A mão subiu devagar até ao decote, penetrou nele e desceu novamente até encontrar um dos seus mamilos que acariciou com força. E, então, Aline descobriu que, se fechasse os olhos, o que desejava era que o seu companheiro fosse Frank. De modo que se afastou, agradeceu a Tabby, desceu do carro e correu para casa. Encontrar-se-iam às oito da noite numa cafetaria próxima do Museu de Arte Moderna. Quando desligou o telefone, Aline perguntou a si mesma o que sentia por Frank. Se se deixasse influenciar pela recordação, tinha de admitir que se sentira comovida quando o levaram na ambulância e, depois, ao vêlo no hospital. Também é verdade que sabia ser um companheiro simpático e divertido, e que a tarde que passara com ele fora das mais agradáveis que recordava. Mas. isso era estar apaixonada? Aline sentia-se confusa. Talvez o encontro dessa noite servisse para esclarecer as suas dúvidas. Instintivamente, sentiu um impulso para se pôr bonita, para deslumbrar Frank. O telefone tocou e a mãe entrou para lhe dizer que Ginnie Maddox perguntava por ela. - Por favor, vem a casa da Márcia. É urgente, estou desesperada, apanha um táxi agora mesmo. - Ginnie, que se passa? Para casa da Márcia? - Sim, o apartamento que ela alugou. Não posso falar mais. Vem depressa, por favor. Já avisei a Caroline. Oh, Aline, não demores! Márcia, Caroline, Ginnié e Aline formavam um quarteto inseparável no colégio. Márcia era filha de um dos proprietários do jornal Washington Post, e os pais tinham- lhe dado dinheiro para alugar um apartamento onde pudesse viver mais independente. Quando chegou, Caroline abriu-lhe a porta com olhos chorosos. Sem dizer nada, voltou para o quarto, e Aline seguiu-a. Todo o apartamento mostrava sinais de desordem e abandono. Ginnie estava sentada na borda da cama junto ao corpo estendido de Márcia, que emitia um estranho som. - Olha para isto - disse Ginnie, apontando para uma seringa hipodérmica sobre a mesa-de-cabeceira. - Uma má viagem. - Overdose? - inquiriu Aline. - Heroína. Disse-me a Ginnie - explicou Caroline. - Sei desde o Verão - admitiu Ginnie. - Márcia contou-me que um dia chegou a dormir com um fulano para conseguir uma dose. Mas fez-me jurar que nunca vos contaria. Receava que deixassem de ser amigas dela. - Céus! Como pôde ela pensar isso? Chamaram um médico? - perguntou Aline. - Se a apanham, vai presa. Tem de ser um médico amigo. Caroline conhece um e já lhe ligámos, mas está fora. Que achas que podemos fazer? - Aline, não sei, diz alguma coisa, estamos aqui como tontas e talvez ela. - Talvez?! Não percebem que pode estar a morrer? - cortou a jovem. - Onde está o telefone? - indagou. Aline ligou para o escritório do pai. Quando ouviu a sua voz, carregada de surpresa, a jovem explicou o que se passava, com uma certa timidez, de início, mas pouco a pouco a sua voz foi-se normalizando, apesar do olhar perplexo de Ginnie e Caroline. As amigas observavam-na como se fosse uma traidora. - Oh, papá, que achas que devemos fazer? Eu sei que não tens de intervir nisto e que não é justo reclamar que não te metas na minha vida, por um lado, e envolver-te nela quando tenho problemas, mas é que. nestas circunstâncias eu. quero dizer, nós. - Espera um instante - disse o pai. John Shepperd deu à filha o número de telefone de um médico. Antes de desligar, pediu o endereço do apartamento de Márcia e disse que ia para lá. Vinte minutos depois, dois enfermeiros colocavam o corpo de Márcia numa maca e transportavam-na para uma ambulância. John Shepperd chegou nesse momento, deu um abraço ao médico e ordenou às raparigas que saíssem dali. Podiam ir com ele à clínica para onde Márcia estava a ser levada. Enquanto aguardavam na luxuosa sala de espera, Ginnie e Caroline concordaram que a atitude tomada por Aline fora a mais correcta. Instantes depois apareceu o pai de Aline para lhes dizer que tudo estava a ser feito para salvar Márcia. Depois de ele sair, Aline pensou que aquela era uma dívida de gratidão que tinha para com o seu pai. - Vou-me embora - anunciou, olhando para as amigas, que dormitavam num sofá. - Tenho um encontro com Frank. - Frank? Ah, o italiano. Mas não podes ir-te embora agora. Telefona-lhe e diz-lhe o que sucedeu. - Tenho de vê-lo dentro de vinte minutos. E não tenho forma de o avisar. - A Aline de sempre, egoísta e pouco comunicativa Suponho que neste momento te interessa mais o teu jogador de basquetebol do que saber se a Márcia sobrevive ou não - disse Ginnie. - Não sejas cruel. - É que às vezes não consigo entender-te. - As vezes, nem eu consigo entender-me. Frank tinha fome, de forma que comeram uns hambúrgueres na cafetaria onde haviam marcado encontro. Mas algo estranho, como uma presença intangível, encontrava-se entre eles. O rapaz pressentiu-o e perguntou o que se passava. Então, Aline contou-lhe o sucedido. Sentiu-se agonhada ao confiar-lhe que a sua amiga Márcia era viciada em heroína. Mas Frank não se surpreendeu. falou de amigos que preferiam heroína e de outros que tomavam LSD. Depois quis saber detalhes, e Aline achou que as suas opiniões eram inteligentes. já na rwa, o rapaz fez-lhe ver que era importante telefonar para casa para saber se o pai já chegara. John Shepperd informou a filha de que Márcia " sobreviveria, que a convalescença seria longa mas " que o pior já passara. A jovem agradeceù-lhe e anunciou que chegaria tarde a casa. Voltou-se para Frank e, num gesto instintiv o, beijou- o na face com o maior dos sorrisos e contou-lhe as novidades. A partir desse momento, a tristeza pareceu ficar para trás. Pareciam crianças a festejar a sua alegria. Aline queria ir dançar ou ouvir música, de modo que acabaram por ir a um concerto de rock. Mais tarde, caminharam pelo parque junto ao rio, e Frank falou dos seus sonhos, da sua intenção de ser engenheiro aeronáutico e da sua consciência de que esse sonho jamais poderia realizar-se porque a sua família não tinha dinheiro para lhe pagar a universidade. - Mas tu podes fazer o que quiseres. Até podes decidir não estudar, ou estudar na melhor universidade do mundo e ir viver onde queiras. - Não andas a ver muitos filmes? - riu a jovem. Nos dias que correm, não acho que as diferenças entre pessoas ricas e pobres sejam muito importantes numa cidade como esta. O rapaz deteve-se, tomou a cabeça de Aline entre as mãos e beijou-lhe os lábios. Foi um beijo apaixonado, intenso, que o levou a abraçar a rapariga e a estreitar o corpo dela contra o seu. Chegados diante do portão, Frank abraçou-a de novo e levou- a para o jardim lateral. Na obscuridade, retomaram os beijos e as carícias. - Desejo-te tanto. - murmurou Frank. - Quero estar contigo. a sós. Nesse momento, a luz do hall acendeu-se. Assustada, a jovem desprendeu-se e regressou ao caminho, com Frank atrás. - Escuta, preciso de estar contigo. Já não somos crianças e eu. desejo-te muito. - Frank. eu, bem. nunca estive. - Nunca estiveste com um homem? - Não. Sou virgem - confessou Aline. - Tens medo? - Não, não é isso. - Não queres que estejamos juntos? - Não sei. Mal nos conhecemos. - Os nossos corpos conhecem-se e desejam-se. O sexo não é um mistério. - Frank, tu és um homem. - Qual é a diferença? - Bem, talvez eu não esteja ainda preparada. - O sexo não é apenas uma decisão do cérebro. É um impulso, um desejo, um modo de estar a favor da própria liberdade. Fazes o que sentes e é tudo. - Tenho de ir - anunciou Aline. Soou a meia-noite para a Cinderela, melhor dizendo, para o Cinderelo - riu Frank. Que achas de voltarmos a sair um dia desta semana? Uma noite destas, podíamos. - Frank. que se passa? Então, o rapaz aproximou-se dela, abraçou-a com força e, cheio de ardor, beijou-a na boca. Depois, quando os seus lábios se separaram, Frank manteve-a nos seus braços e murmurou: - Acho que estou apaixonado por ti. - O rapaz que teve aquele acidente no ascensor e que foste visitar ao hospital já recuperou? - perguntou a senhora Shepperd. Estavam as duas na cozinha. Aline remexeu a sua chávena de leite achocolatado antes de responder: - Está a fazer-se tarde. - Não disseste que entravas uma hora mais tarde - surpreendeu-se a mãe. - É verdade. já me tinha esquecido. - Ouviste o que te perguntei antes? - Sim, mamã, e a resposta é sim. Felizmente não foi nada de grave. - Voltaste a vê-lo fora do hospital, não é assim? - Sim, tornámo-nos amigos. - É aquele que te liga todos os dias? O que atend quase sempre, um tal Frank? - Sim, mamã. - A que se dedica ele? Em que universidade estuda? - Em nenhuma. Os pais não podem pagar-lhe estudos. Ele gostava de ser engenheiro de aviões. - E trabalha nisso, em aeronáutica? - Não, mamã, de momento não trabalha. Parece que vai conseguir um emprego em que terá de usar mota. Tem uma mota muito gira - explicou Aline. E à tua pergunta seguinte, a resposta é não. - Que queres dizer? - Ias perguntar-me se ele já me pediu que dormisse com ele. Por isso te digo que a resposta é não. - És uma grosseira - disse a senhora Shepperd. Chegara o grande dia. Tremiam-lhe as pernas quando se encaminhava para casa de Lansky Diante do maestro, a jovem anunciou, numa voz quase inaudível, o que ia interpretar, apoiou o violino debaixo do queixo e aguardou. Naquele apartamento, era possível ouvir os sons que chegavam da rua. Da sala chegava uma modesta luz e Aline pensou que iria sair-se màl, que perderia a sua oportunidade diante daquele homem desagradável que a perscrutava de forma interrogativa e não parecia disposto a conceder-lhe nem um átomo da sua consideração. Mas, pouco a pouco, a música transportou-a. Lentamente afirmou-se e esqueceu tudo, transformando-se na verdadeira Aline, livre e realizada ao exprimir-se através da música. O maestro não falou enquanto Aline não terminou o seu recital. Depois, criticou diversos aspectos da sua imterpretação. Mas não havia ferocidade nas suas palavras, antes um vivo interesse. Finalmente, informou-a dos seus honorários e do tempo que tinha livre para as aulas. Aline fora aceite. Ginnie Maddox olhou o relógio com enfado. - Sabes o que mais me desespera? - queixou-se. Aturar a Straight a falar de Dante e Beatriz. Se não for Dante, será Petrarca ou um desses. - Sabes o que disse o meu irmão? - comentou Caroline para Aline. - Que mais de metade das relações sexuais praticadas diariamente nos Estados Unidos não são as chamadas "tradicionais" São orais. - Todos os tipos gostam disso - opinou Ginzúe. - Não percebo. Queres dizer que aqui se pratica mais do que noutras partes do mundo? - disse Alini intrigada. E logo acrescentou, olhando o relógio: Caramba, temos de voltar para a aula. - Não sei se se faz mais do que noutros países, mas passei a manhã a perguntar-me o que farei quand chegar o momento - confessou Caroline. - Suponho que depende do que sentires pelo teu companheiro. Quero dizer, se o amares, julgo que não terás problemas - replicou Aline. - Não me parece uma conversa muito edificante para virgens adolescentes - brincou Ginnie. - Não me incluas a mim - protest ou Carolin e. - É verdade! Esquecemo-nos de que ela já passou a barreira do som. - És uma invejosa. - Invejosa, não. Podes acusar-me de ser romântica, se quiseres. Não sei, isso faz-me medo. Não posso conceber perder a virgindade como algo premeditado. - Se estás à espera do príncipe encantado, talvez cheguem as bodas de ouro sem o teres encontrado zombou Caroline. - Não se trata de príncipe encantado. Um dia apaixonas-te por alguém e então tudo será diferente (como se a vida tivesse um antes e um depois - entusiasmou-se Ginnie. - Vais para a cama com ele e a virgindade não interessa. Só interessa o prazer. - É verdade, Aline - disse Caroline -, e esse rapaz com que sais não te pediu para dormires com ele? - Se algum dia fizer amor com Frank Ferri, não serás a única a saber - respondeu Alline, enigmática. Dois dias depois, quando Frank lhe telefonou para se encontrarem, Márcia tinha já superado a fase mais perigosa, embora a esperasse ainda uma prolongada convalescença. Entusiasmada, a jovem comentou o caso com Frank. Tinham combinado encontrar- se no Central Park, onde um grupo de amigos de Ginnie faria uma representação de mímica ao ar livre. À chegada, Aline cruzou-se com algumas colegas de escola que a cumprimentaram ao mesmo tempo que observavam com atenção o seu acompanhante. Enquanto falava com Frank, Aline percebia de vez em quando um rosto que se virava para os observar. O jovem parecia não notar. Permanecendo junto dele durante toda a representação, disse a si mesma que não devia deixar-se influenciar, que já era suficientemente adulta para saber o que desejava, sem ter em conta o que pensavam os amigos e conhecidos. No final, Aline e Frank aproximaram-se para cumprimentarem os actores. Caroline e Ginnie já lá estavam. Quando lhes apresentou Frank, Aline notou que as amigas o cumprimentavam com frieza. - Como está a vossa amiga Márcia? - começou Frank, amistoso. - Aline contou-me o que sucedeu. - Está bem - respondeu Ginnie secamente. Um rapaz desconhecido aproximou-se do grupo e deu uma palmada nas costas de Frank, que se desculpou e afastou para conversar com o amigo. - Parece que as Filhas de Maria desceram ao parque para zelar pelos bons costumes da população -, sussurrou Aline com sarcasmo, quando se viu a sós com as amigas. - Acho que andas hipersensível ultimamente. Não serão as tuas novas amizades? - respondeu Ginnie. - Não esperava isso de vocês. Se não estão de acordo, posso não compreender, mas respeito. Mas não têm o direito de ser desagradáveis com ele. - Parece-me que não tens vergonha - explodiu Caroline. - Mostrares-te num lugar onde sabes que somos conhecidas. Até onde pretendes ir? - Não te fica mal. É engraçado - ironizou Ginnie. - Engraçado ou não, nota-se que é de baixo nívelripostou Caroline. - Enlouqueceste, Caroline? - exclamou Aline. - Olha, podemos estar todas a favor da legalização do aborto e da marijuana, das relações pré-matrimoniais e da esterilização masculina, mas uma coisa é o que se faz em público, sabendo que os outros estão a ver-te e a julgar- te. - Estás a portar-te como uma puritana - queixou-se Aline. - E tu como uma prostituta - replicou Caroline. E não deves parecer o que não és. Ao cair da noite, regressaram em silêncio pelos caminhos do parque, agora sombrios. Frank passou o braço pelos ombros da jovem e perguntou-lhe várias vezes o que se passava. Aline não respondeu. - Tenho de saber o que se passa, Aline. Diz-me por favor - sussurrou o rapaz, acariciando-lhe a face. - Gosto de ti - respondeu Aline, abraçando-o. - O que aconteceu no parque? É a primeira vez que te vejo triste. Não consigo suportar isso. - Caroline e Ginnie são minhas amigas íntimas. Se não posso esperar compreensão delas e se se comportam de uma forma tão idiota, que poderei esperar dos outros? - Nota-se que sou tão diferente de ti? - perguntou o jovem com ingenuidade. Aline deu uma gargalhada e abraçou-o. Sim, talvez ele tivesse razão, afinal. Se Caroline, Ginnie e todo o mundo não gostassem que ela saísse com Frank, o problema era deles. O jovem atraiu-a a si e beijou-a. As carícias dele excitavam-na. Frank levantou a saia da jovem e deixou que a sua mão se perdesse debaixo dela. Aline apertou-o com mais força e beijou-o. Mas, de súbito o som de um automóvel fê-la voltar à realidade. sentiu a tensão do seu corpo. Relaxa, calma... vais ver que será um prazer para ti também - murmurou Frank. - Não, por favor... O rapaz prolongou as carícias até aos tornozelos e percorreu de novo o seu corpo em sentido contrário para voltar a deter-se nos seios. - Frank, não. - Desejo- te tanto. - sussurrou o rapaz. - Frank! - exclamou Aline e afastou o rosto do dele. Como se tivesse sido esbofeteado, o rosto do jovem contraiu-se por um instante. Mas logo abraçou Aline e sorriu. Separou-se dela lentamente e, quando ambos se arranjaram e se colocaram de pé, passou o braço pela cintura da companhei ra. - Bem - anunciou alegremente -, sei como aliviar as tuas penas. Vou levar-te a um lugar onde nenhum de nós se sentirá rejeitado. A casa não era o que tinha imaginado. Tratava-se de um apartamento antigo e confortável, com anplas janelas que davam para a avenida Clinton, perto da ponte de Brooklyn. Foi a tia Assunta que abriu a porta, e rapidamente apareceram o casal Ferri, Tony, Marco Sandra, e irmãos de Frank. Enquanto os adultos recebiam com entusiasmo os recém- chegados, convidando Aline a sentar-se e oferecendo-lhe gasosa, bolo, gelado, um copo de licor, até pizza tudo ao mesmo tempo, os três jovens esttudaram-na com interesse durante alguns minutos antes de desaparecerem em direcção ao televisor. Entretanto, os adultos sentaram-se em torno da jovem, procurando tema de conversa. - Moras próximo de Central Park? - quis saber o senhor Ferri. - Sim. entre a Madison e a Rua 86. - Uma zona fantásti ca! - exclamou a senhora Ferry. - Tens irmãos? - continuou o senhor Ferri. - Não, senhor, Sou filha única. Quando a senhora Ferri convidou Aline para jantar, esta hesitou. Mas ela insistiu e pediu à jovem que telefonasse aos pais para os tranqilizar, dizendo-lhes onde estava. Aline desceu à cabina mais próxima e ligou para casa. Quando voltou para casa de Frank, encontrou a porta entreaberta. Entrou na sala mas não estava ninguém. - Gostas? - perguntou a senhora Ferri atrás de si. - De Nova Iorque? Sim, claro, muito - respondeu Aline, voltando-se para ela. - Não te perguntava pela cidade, mas sim por Frank - disse a mulher. - Gostas de Frank? - Sim, senhora - respondeu Aline. - Não quero que vejas em mim a típica mãe intrometida. - Suponho que tem curiosidade, como todo o mundo. E tratando-se do seu filho. é natural - sou jovem. - Se Frank soubesse que falo disto contigo ficaria. , - Frank não está em casa? - Não, foi ao supermercado com o pai comprar as coisas para o jantar. Parece que és muito importante para ele. - São muito amáveis. E tu pareces uma boa pequena. Nós adoramos Frank, como podes imaginar. Estamos muito orgulhossos dele. - É um rapaz excelente. - Tenho de te dizer algo especial, Aline. É com certeza algo que já sabes e que eu descobri há pouco. Frank está apaixonado por ti. - Frank disse-lhe? - perguntou a jovem, fascinada. - Conheço bem o meu filho. Sei o que sente ainda que não mo diga. Mas. basta ver-te para perceber que não és como nós. Compreende-se por que está fascinado. És muito bonita e tens muita classe. Não te conheço ainda, mas. - Eu. - começou Aline, incomodada. - Filha, espero que compreendas. Sei que gostam um do outro, que lutarão para levar adiante o vosso amor, mas também sei que não vai ser fácil. Se algo de mau acontecer. Frank ficará com a pior parte. será ele quem sofrerá mais. - Eu. eu gosto de Frank. - Então, por favor, filha - disse a mulher, pegando-lhe na mão -, não deixes que nada o faça sofrer. Quando Aline chegou a casa era uma da madrugada. Sentia-se feliz, com vontade de dizer a Frank que sua famlia era maravilhosa e a tinha feito sentir que não estavam sós e que, afinal, não era tão importante que os outros estivessem contra ou a favor, que o q importava era o que se passava entre eles. Ao atravessar o corredor, viu luz no escritório do pai. Entrou e deteve-se de imediato. O pai estava de costas voltadas para a mesa e a sua cabeça estava como que fundida entre os ombros, em atitude pensativa. Aline aproximou-se dele, passou os braços em torno dos seus ombros e deu-lhe um beijo. - A que devo esta honra? - sorriu o pai, comovido. Parece-te tão estranho que te dê um beijo, papá? Andamos assim tão afastados? - perguntou a jovem. Nos últimos dias não nos temos visto muito e quero agradecer- te outra vez o que fizeste pela Márcia. Estás a trabalhar em algo importante agora? Sim, mas posso parar um momento para gozar a companhia da minha filha. Ainda bem, porque queria falar contigo. - Surpreendo-me como cresces. Isso lembra-me como estou a envelhecer. Mas diz, tens problemas? - Não... apenas queria dizer-te que aprecio imenso o que fizeste por mim. Entre ela e o pai existiam fronteiras que nenhum dos dois conseguia cruzar. Disse a si mesma que não podia desanimar, que talvez um diálogo sincero com o pai pudesse aproximar alguns pontos de vista. - Márcia está a recompor-se. Suponho que o teu amigo médico te terá dito. - Sim. Quero fazer-te uma pergunta. Alguma vez tomaste dessas coisas? Pergunto-te porque sempre comfiei em ti e... - Não, papá. Nunca tomei nada disso. Nem levo um tipo de vida que vocês não possam conhecer. - Eu sei, eu sei - admitiu o homem. - Há uns dias que a tua mãe não faz outra coisa que não seja falar-me de um rapaz com que tens saído e ela... bem, suponho que não está de acordo. - Já devia ter percebido - respondeu Aline, aborrecida. - A mãe disse-te que esse rapaz não lhe agrada? - Bem. pela descrição dela, trata-se de um selvagem Um homem das cavernas que come com as mãos, arrota em público e enganou a nossa pobre filha. Aline soltou uma gargalhada. O pai pareceu distender- se com a reacção da filha. - Gostamos muito de ti, Aline. E preocupamo-nos muito contigo. Gostaria de fazer um acordo contigo. - Sou toda ouvidos - disse. - É verdade que tens saído com um rapaz que não é do nosso círculo, que é, digamos, diferente de nós? - Papá, estamos em Nova Iorque, uma das cidades mais evoluídas do mundo. Não te parece ridículo que alguém se importe que eu saia com um rapaz que não é da nossa classe social? Gosto dele, papá, é tudo. - A tua mãe diz que ele não estuda nem trabalha. - Não é um delinquente nem um toxicodependente, papá. Apenas um rapaz vulgar que está momen taneamente sem trabalho. - Aline, proponho-te um pacto. Dizes que estás em dívida para comigo pelo que fiz pela tua amiga Már cia. Pois bem, paga-me um favor com outro. A tua mãe está obcecada que conheças Darryl, o filho do Lunt, e não descansará enquanto não conseguir. Não te vou impor nenhuma condição, apenas te peço que aceites a possibilidade de sair pelo menos uma vez com ele. Depois, podes fazer o que achares melhor. Aline sentiu-se ferida. O pai continuava a tratá-la como se ela fosse uma criança caprichosa e pensava absurdamente, que se ela saísse com esse tal Lunt logo esqueceria Frank. Por uma estranha razão, a sua relação com Frank encrespava os ânimos de todos. Mas, afinal, que podia perder? Se, com isso, os pais ficavam felizes e deixavam de levantar obstáculos à sua relação com Frank, estava disposta a aceitar. Mas se pensavam que a relação entre ela e Frank não resistiria a esta prova; estavam enganados. Combinaria com Frank a saída. não, era melhor que ele não soubesse. Para mais, envergonhava-a que soubesse que os seus pais lutavam duramente contra ele. Olhou o pai com ar desafiador. Aceitou e disse que estava disposta a sair com Darryl Lunt. Darryl ligou dois dias depois e combinaram jantar juntos. Pela primeira vez mentiu a Frank para poder ter a noite livre e, cheia de curiosidade para ver como correria o jantar com o famoso Darryl que entusiasmava a mãe, vestiu- se com esmero. Quando ele a foi buscar, Aline compreendeu tudo: Darryl Lunt era o rapaz mais atraente que vira na sua vida. eria sido absurdo não o admitir. De modo que notou que sentira um violento embate ao ver Darryl pela primeira vez, uma impressão tão forte como a que experimentara ao ver Frank Ferri no ascensor. No entamto, algo não encaixava: se Darryl era tão atraente e divertido, porque conspirava a sua mãe para conseguir que as raparigas saíssem com ele? O jovem levou-a a um restaurante italiano com música suave e comida deliciosa à luz das velas. Darryl comportou-se como um rapaz gentil e fez gala do seu sentido de humor. ' - Tenho de te dizer que algo me intriga - disse o jovem quando tomavam o café. - Podes não acreditar, mas vou dizer- te de qualquer forma. - Vindo de ti, com certeza não acreditarei mesmo - brincou Aline. - Mas podes sempre tentar. - Receio bem que sejamos parte de uma conspiração familiar. Descobri isso esta noite, aqui contigo. Acho que pregaram a mesma rasteira aos dois. - Não posso crer que tu. que elas. - Aline desatou a rir às gargalhadas. - De início, pensei a mesma coisa de ti - sorriu o rapaz. - A minha mãe torturou-me para que te ligasse e fez-me prometer em troca de um favor. - É espantoso - cortou Aline. - Também aceitei sair contigo em troca de um favor. - Estás a ver - continuou Darryl -, pensava que tu eras estúpida e feia, como essas típicas herdeiras idiotas que não têm com quem sair. Quando te vi, não percebi nada. Supus, por isso, que não devias saber da conspiração e que também não eras cúmplice. E se assim era, como havia de te convencer que também eu não era? - Darryl, é um alívio que me contes isso - disse Aline, rindo. - Eu pensei o mesmo. Desde que te vi não deixei de pensar por que razão as nossas mães tinham tanto interesse em que nos conhecêssemos. - Bem, talvez as nossas mães sejam mais inteligentes do que pensamos e tenham descoberto que é uma pena que não nos conhecêssemos. Que achas? Embora Darryl quisesse continuar a noite numa discoteca, a jovem convenceu-o a ir a um bar. - Escuta, entre ti e mim há qualquer coisa - explicou o jovem, pegando-lhe na mão. - Há uma vibração eléctrica muito positiva, mas não é exactamente o que. quero dizer, eu gosto de ti, mas não exactamente da forma que se supõe. É como se fôssemos grandes amigos, embora mal nos conheçamos. - Sim. eu senti algo semelhante. - Podemos ser hipócritas e fazer de conta que eu vou cortejar-te e demonstrar-te como sou maravilhoso, e tu vais deixar-te admirar e fazer-te dificil até à nossa próxima saída, com o objectivo de me apanhares ou algo parecido. É o que fazem as outras. Mas também podemos ser nós mesmos e comportar-nos com sinceridade e sem fazer cenas. - Muito bem. Eu voto pela sinceridade. - Posso fazer-te uma pergunta, então? - volveu ele. - A troco de quê aceitaste sair comigo? Aline falou-lhe então de Márcia Edwards, do favor que devia ao pai e da conversa em que ficara combinado o encontro dessa noite. Mas Frank nem sequer foi mencionado na resposta. Darryl foi muito mais sincero, contando que saía com uma actriz da Broadway, vinte anos mais velha dO que ele. Ela estivera um mês em Hollywood e ele livrara-se de a acompanhar graças a um estratagema da mãe, que o salvou no último momento. Na verdade, Darryl não sabia se queria continuar com a actriz ou não, mas de uma coisa estava certo: não o entusiasmava passar um mês com ela em Hollywood, tanto mais que tinha planos para a universidade. Por isso, também esta noite fazia parte do pagamento do favor que devia à sua mãe. - Agora é a minha vez de te fazer a segunda pergunta. Para te pressionar para saíres comigo, os teus pais pretendiam dissuadir-te de outra coisa? - Acertaste em cheio. És muito intuitivo - espantou-se Aline. - Quem é ele? - Porque teria de haver um "ele"? - Porque não deixaste de pensar nele toda a noite. Colocaste-o entre nós, como para te proteger de mim e evitar que eu te violasse no meio da lasanha naquele restaurante italiano. - Isso é falso - riu Aline. - Não é, não. Por acaso sentes-te culpada porque não lhe falaste desta noite, enganaste-me a mim e enganaste-o a ele. - Não tive medo de ti nem o usei contra ti. Simplesmente, parecias-me muito simpático e esperava que te decidisses a não te comportares como um rapaz qualquer nesta situação - explicou a jovem. - Por que razão não querem os teus pais que saias com ele? - insistiu Darryl. - Oh. é uma longa história. Digamos que ele vem de uma família de emigrantes sem dinheiro. E não são apenas os meus pais que não gostam dele. Darryl mostrou-se indignado quando a jovem lhe contou a cena com as amigas em Central Park e concordou com o ponto de vista de Aline. Continuaram a conversar até de madrugada, quando a jovem consultou o relógio e lhe pediu que a levasse a casa. - Escuta, és uma miúda muito especial. Penso que talvez. se achares bem. e se o teu amigo Frank não levar a mal. talvez possamos ser amigos. A declaração comoveu a jovem. Abraçou- se a ele e beijou-o na face. Logo, porém, se afastou, confusa. - Desculpa. É que pareces ser bom rapaz. - Nos bons momentos, somos todos maravilhosos. Mas se quiseres saber se sou realmente um bom rapaz, procura-me quando precisares de mim. Os amigos de verdade estão junto de nós nos momentos difíceis - concluiu Darryl. A mãe de Aline teve de reprimir a sua curiosidade até à manhã seguinte para saber como correra o encontro. Aline comentou que Darryl lhe parecera simpático e logo se despediu dela para ir para a escola. Não podia dizer-lhe que, na verdade, contava as oras que faltavam até receber o telefonema de Frank. Isso aconteceu a meio da tárde, e os dois combinaram encontrar-se uma hora depois. Quando se viram, abraçaram-se e beijaram-se como se se tivesse passado uma década desde a última vez em que se haviam visto. Caminharam abraçados durante longas horas o jovem contou em pormenor tudo o que fizera desde a última vez que tinham estado juntos. Contou-lhe também que a sua família a achara encantadora e queriam voltar a convidá-la. Por qualquer obscura razão, Aline coibiu-se de lhe contar o seu encontro com Darryl Lunt; Frank parecia tão entusiasmado de a voltar a ver que a jovem temeu que uma nuvem de inquietação toldasse a felicidade daquele momento. Mais tarde, foram dançar numa discoteca. A obscuridade e a música foram aproximando os seus corpos. Frank beijava-lhe o pescoço, primeiro com ternura e depois com um ardor crescente que o levou a acariciá-la e a procurar a sua boca. Aline afastou o rosto para trás. - Que se passa, amor? - sussurrou Frank. - Acabaram-se os beijos? - Oh, aqui há tanta gente. - Ninguém repara. Não te preocupes. Voltou a beijá-la e percebeu a tensão no corpo da rapariga. Pediu-lhe desculpa e levou-a da pista de dança. Ambos procuraram um lugar mais reservado. Encontraram-no num banco de um parque, num recanto escuro. O céu estava coberto de estrelas. Aline aproximou o seu corpo do do rapaz e acariciou-lhe a nuca, enquanto lhe beijava o pescoço e uma das suas mãos descia até à camisa, deslizando para dentro dela, acariciando os seus músculos suavemente. Frank procurava a sua boca, murmurava palavras de amor e inventava nomes para exprimir á sua ternura. Por fim, chegou ao seu ventre, e os seus dedos procuraram insinuar-se sob as calcinhas. - Não, Frank. - suspirou a jovem. Mas ele não parecia ouvi-la. Os dedos roçaram o velo púbico, enredaram-se nele e logo desceram àquela parte tão íntima à qual ele ainda não tivera acesso antes. Anelante, Aline descobriu-se a si mesma estendendo a mão e apoiando-a sobre o fecho das calças do rapaz, fazendo uma leve pressão sobre o tecido, na mais sincera expressão dos seus desejos. Sem deixar de a beijar, Frank desabotoou as calças e suavemente guiou a mão de Aline até a colocar sobre o seu membro. A jovem procurou retirá-la, mas ele insistiu. Ela cedeu e começou a acariciá-lo. - Quero-te. desejo-te tanto. - sussurrou Frank. - Eu. eu também. Subitamente, o rapaz deixou de a beijar. Abraçou-a e permaneceu em silêncio. Aline podia perceber o fogoso bater do seu coração através da camisa. - Vou dizer-te o que vamos fazer, amor - murmurou Frank. - Procurar um local para estarmos juntos. - Queres dizer. - Sim, sabes o que quero dizer. A rapariga endireitou-se, compondo a roupa. Frank apertou as calças. - Não, Frank. Assim não. - Não queres ser minha e que eu seja teu? - Não sei. - retorquiu Aline, envergonhada. - Eu ensino-te. e aprenderemos tudo juntos. Iremos descobrindo os dois. - Não, agora não, Frank. Ainda não. - Meu amor, somos livres, somos donos dos nossos corpos. Sobre isso ninguém pode mandar nem ordenar nada, não compreendes? Deixou-se guiar por ele no caminho de regresso. Aprendera a confiar em Frank. Foi abrindo o seu coração enquanto caminhavam, expondo as suas dúvidas, os seus temores, enquanto o rapaz, abraçando-a, respondia às suas palavras com outras cheias de ternura, tentando fazer-lhe compreender que o importante era que apostassem no seu amor. Detiveram-se junto a uma cabina para que Frank telefonasse ao amigo Sammy e lhe pedisse emprestado o apartamento. Mas Sammy disse que não, inventando uma desculpa. Ao ver o desânimo reflectido no rosto de Frank, Alline pensou que deveria ser solidária com ele, visto que se tratava de algo dos dois. Lembrou-se então de uma possibilidade. Do mesmo telefone ligou para Ginnie, que guardava as chaves do apartamento de Márcia enquanto esta estava no hospital. Ginnie mostrou-se curiosa por saber a razão do pedido. Perguntou bruscamente se era para ir com Frank. Perante a resposta afirmativa de Aline, Ginnie recusou-se a emprestar-lhe as chaves. Os dois jovens afastaram-se da cabina, cabisbaixos. Maldiziam ser adolescentes e não poderem dispor das suas vidas como entendiam. Ainda assim, Aline telefonou aos pais dizendo-llhes que chegaria tarde. A mãe disse-lhe que iriam deitar-se cedo. Foi então que uma ideia cruzou a sua mente. Era uma ideia louca, perigosa e terrível. Quando a partilhou com Frank, pareceu-lhes uma loucura. Depois, pareceu-lhes uma subtil vingança contra todos os que se permitiam julgar o que eles faziam. Aguardaram até depois da meia-noite. Ao aproximarem-se do edificio, sentaram-se no jardim. -Vamos combinar - disse o jovem. - Se nos descobrirem, a culpa é minha. Ameacei-te, forcei-te. - Não sejas tolo - riu ela. - Vamos rezar para que não nos descubram. - Subimos juntos? - Sim. Esperas perto da porta, sem fazer barulho, e aí vou até ao meu quarto como habitualmente. Se os meus pais estiverem a dormir, não há problema. Se me ouvirem, ficam descansados, sabendo que já cheguei, e adormecem. - E se estiverem acordados? - Dizemos adeus e ligas-me amanhã. Depois de se certificar de que os pais dormiam, Aline apagou a luz do corredor e avançou até ao local onde Frank a esperava. Pegando-lhe na mão, guiou-o através da sala. Aline ajoelhou-se no tapete, junto à lareira apagada. Surpreendido, o rapaz agachou-se e aproximou a sua cabeça da de Alline. - Queres fazê-lo aqui? - sussurrou-lhe ao ouvido. - Tens uma ideia melhor? - respondeu ela. Cada um afundou o rosto no ombro do outro para que as gargalhadas não se ouvissem. Depois, voltaram aos beijos. Frank estendeu a jovem sobre o tapete e começou a acariciá-la. Tirou-lhe a blusa e beijoulhe os seios, mordiscando os mamilos. Aline colocou a sua mão sobre a de Frank quando este procurou tlrar- Ihe as calcinhas, mas cedeu ao impulso e abraçou-se a ele. Não fazia frio naquela sala escura em que Aline se entregou a um rapaz pela primeira vez, ou pelo menos eles não o notaram. Quando tudo terminou, ficaram abraçados em silêncio durante unsminutos. - Amo-te - disse Frank. - Também te amo. - Doeu muito? - Não, não muito - respondeu ela, com timidez. Foi bom? - Foi maravilhoso. E também será para ti no futuro, vais ver. Frank pôs-se de lado e ela endireitou-se. Quando ia levantar-se, ele impediu-a. Apertou-a contra si e sussurrou no seu ouvido: - Escuta, quando te digo que te amo. quero que saibas que é para toda a vida. Márcia Edwards droga-se. A frase estava escrita na parede, junto a um dos lavabos. Caroline olhou Aline e, com lágrimas nos olhos, perguntou: - Quem pode ter feito isto? - Uma porca delatora. - Não consigo entender. Como pôde alguém fazer isto? Quem sabe da Márcia, além de Ginnie e de nós? - Alguém abriu o bico. Devem ter visto a Márcia. Deixa de chorar e ajuda-me a apagar esta porcaria. Í Quando as palavras ficaram feitas numa mancha ilgível, saíram dos lavabos e cruzaram-se com Ginnie, que se dirigia para lá. A jovem saudou-as. - Estou atrasada para a minha aula - disse Aline, sem se deter. - Vemo-nos logo. -Aline! - chamou Ginnie. - Preciso de falar contigo. - Agora tenho aula de Ciências e. - Podemos encontrar-nos no átrio quando acabares? - insistiu Ginnie, com timidez. - Está bem, no átrio, à saída - retorquiu Aline. Quando se encontraram, Ginnie contou-lhe que chorara sem parar depois de ter desligado o telefone na noite anterior e que não conseguira pregar olho. -Apenas quero que saibas como me sinto. Chama-me hipócrita, acusa-me de estar demasiado presa ao modo de pensar dos meus pais, mas realmente não posso ajudar-te no teu romance com esse rapaz. - Acho que não tens o direito de me julgar. Então Ginnie começou a chorar. Queria ser compreendida e perdoada pela amiga, mas também queria conservar o seu direito de não estar de acordo com ela. Aline compreendeu que era inútil continuar a discussão e deixou-se comover pelo afecto que sentia por aquela figura desajeitada com quem partilhara tantos segredos. Assim, decidiu tranquilizar a amiga. Saíram juntas do colégio e Aline descobriu, com surpresa, que Darryl Lunt a esperava. Depois das apresentações, o rapaz convidou-a para um concerto naquela noite, mas Aline declinou o convite. Preferia ver Frank. Quanto a Ginnie, deixaram-na em casa, a caminho da de Aline. Nessa tarde, quando ensaiava com o seu violino, Aline sentiu uma viva ansiedade: por que razão Frank não telefonava? Que poderia ter acontecido? Estaria aborrecido? Não lhe telefonava, precisamente depois de ela se lhe ter entregue? A despedida da noite anterior incluíra uma promessa de amor eterno. Poderia algo ter mudado em tão poucas horas? Disse a si mesma que não tinha o direito de duvidar do rapaz e, interrompendo a sua sessão de violino, tratou de analisar a situação. Não fazia sentido. Nos tempos em que uma rapariga e um rapaz fazem amor sempre que lhes apetece... para quê enganá-la? A mãe bateu à porta da sala e entrou. - Entrei porque percebi que não estavas a estudar - disse, sentando-se a seu lado. - Queria falar contigo. - Sim, mamã. Que se passa? - Quero fazer-te uma pergunta directa e quero que me respondas de forma directa. - Depende do que perguntares. - Vais voltar a sair com Darryl Lunt? - Porquê? - Preciso de saber - retorquiu a mãe. - Certamente sim, mas não como tu queres. - Falei com a mãe de Darryl e... - Mamã, deixa de te intrometeres, sim? - O que quero é que não continues a ver esse rapaz italiano - disse a mãe, em tom cortante. - Não achas que há coisas que devo ser eu a decidir por mim mesma? - És demasiado jovem para decidir estas coisas. - Há algo que não entendo - disse Aline, conciliadora. - Porque dás tanta importância a este assunto? - Porque queremos o melhor para ti e temos grandes projectos para ti. E não estou disposta a que um rapaz de baixo nível se intrometa na tua vida. Isto tem de acabar de uma vez. Sei que continuas a vê-lo. - Sim, mamã. - E que com certeza foste reticente com Darryl e o afastaste porque te obstinas em sair com esse italiano. - Correcto. Sempre foste uma mulher inteligente. - Aline, confia em mim. Eu sei o que te convém - argumentou a mãe, suavizando a voz. - Promete-meque não vais voltar a vê-lo. Por favor. é pela minha saúde que to peço. Fá-lo ainda que seja só por mim. Não consigo resistir, não consigo. - Mamã, não sejas melodramática. Tenho dezasseis anos e saio com um rapaz da minha idade. É só isso. Não gosto que se metam neste assunto. Se a história tiver de acabar, eu e ele é que decidiremos. - Sine, quero que deixes de ver esse italiano. E quero que o faças a bem. - Estás a ameaçar-me? - contrapôs a jovem. - Estou a advertir-te. És menor e temos meios para te obrigar a aceitar a nossa visão das coisas. Não nos forces a fazê-lo. Já falei com o teu pai sobre isto. E estamos dispostos a fazer o que for necessário para impedir que continues a ver esse caça-fortunas. Furiosa, Aline abandonou a sala de música. Subiu ao quarto a buscar a mala e saiu para a rua. Pensou ir ao clube onde Frank se encontrava, mas pareceu-lhe uma ideia absurda; e Caroline, a quem telefonou, não estava em casa. Lembrou-se de ir ao concerto para que Darryl a convidara. A sua companhia iria fazer-lhe bem. O rapaz ficou surpreendido por vê-la. Propôs-lhe ir a uma cafetaria para conversarem, mas Aline preferiu assistir ao concerto. Darryl deixou-a em casa. Aline estava disposta a falar com o pai e queria chegar cedo. Pelo caminho falaram de Frank e da discussão que Aline tivera com a mãe. Mas essa sensação de equilíbrio reencontrado desfez-se em estilhaços quando Aline falou com o pai. John Shepperd aliara-se à esposa nesta causa. - Papá, estás a trair-me - disse Aline, magoada. - A traição foi tua. Quando te pedi que saísses com o filho dos Lunt, pensei que o fizesses sem reservas, mas tu obstinaste-te em lhe negar todas as possibilidades - replicou o homem, amargamente. - É tão dificil aceitar que os sentimentos dos outros não podem ser manipulados? - Não sejas grosseira. - Papá, porque não falas com Darryl Lunt? Ele também não quer saber de mim. Darryl e eu estamos a tornar-nos amigos, mas o que sentimos não vai mudar por ti, pela mamã ou pela senhora Lunt. - És teimosa. Antes, quando eras criança, a tua mãe e eu orgulhávamo-nos de como eras razoável. - E tu, papá, não te envergonha perder tempo a guerrear por um romance de adolescentes? - Acontece que és minha filha. - Disseste-me que se eu saísse com Darryl tentarias convencer a mamã de que não valia a pena martirizar-se com esse assunto - lembrou-lhe Aline. - Sim, mas agora vejo que ela tem razão. Não há outra possibilidade. Ou deixas de sair com esse rapaz, ou começamos a controlar-te as entradas e saídas. Na manhã seguinte, havia dois polícias no colégio. Pertenciam à Brigada de Narcóticos e queriam falar com as alunas, pois investigavam o tráfico de estupfacientes entre a população escolar. Algumas raparigas foram chamadas a prestar declarações na presença da directora e do conselheiro escolar. Caroline e Jine encontravam-se entre elas. As perguntas foram feitas com delicadeza e os polícias fizeram perguntas sobre os sistemas de introdução das drogas na escola, se as colegas, ou elas próprias, já tinham consumido drogas. Finalmente, explicaram que leriam uma lista de nomes suspeitos, pedindo às raparigas que confirmassem ou negassem em cada caso. As duas amigas perceberam que, de forma velada, estavam a pedir-lhes que denunciassem outras alunas, de modo que negaram em todos os casos. Na lista figurava o nome de Márcia. Logo que Aline regressou a casa, o telefone tocou: era Frank e parecia aborrecido. Combinaram encontrar-se uma hora depois no Museu Metropolitano. Frank ligara no dia anterior e a mãe de Aline atendera, informando-o de que a filha não estava em casa e que só regressaria tarde. Estupefacta com o que o rapaz lhe contava, Aline relatou a zanga com a mãe e a posterior discussão com o pai. Questionado quanto à razão do seu aborrecimento, Frank confessou que voltara a telefonar à noite e que a senhora Shepperd lhe comunicara que a filha saíra para jantar fora com um amigo. Foi então que Aline compreendeu que chegara o momento de falar de Darryl. Aline explicou tudo a Frank, sem omitir detalhes e sem ocultar tão-pouco os motivos que antes a haviam impedido de falar. Ainda assim, Frank mostrava-se distante enquanto a jovem relatava os factos. - Para que me contas isso tudo? - gritou o jovem. - Como, para quê? - surpreendeu-se Aline. - Sim... que pretendes de mim? - insistiu Frank. - Que compreendas o que sucedeu. Estava muito preocupada contigo, por não ter notícias tuas e... - E decidiste consolar-te com esse tal... - Frank, que dizes? Não é nada disso! - Não é nada disso?! Ando como um louco pela cidade a tentar falar contigo e estás a divertir-te com outro! Julgava que eras diferente! Que queres que faça? Que te diga que acho a tua história divertida? - Admito que não fiz bem. Mas agora não importa. Há algo mais grave que temos de enfrentar juntos. Os meus pais estão dispostos a colocar barreiras e... - Quando dizes "juntos" pensas em mim ou no outro? - lançou o jovem, com sarcasmo. - Falei de ti a Darryl. Ele quer conhecer-te. - Muito bem! Só que eu não quero conhecê-lo! - Quer que sejamos amigos... eu acho bem... - A resposta é não. Não quero que voltes a vê-lo. Então sucedeu algo de inesperado, algo que Aline ão pôde controlar, como se um vulcão apagado que truxesse no seu interior irrompesse de repente, lançando a lava da sua cólera por todos os lados. A jovem deteve-se e olhou Frank apenas por um instante. Depois, disse amargamente: - Não consigo aguentar mais que todos me digam quem devo ou não devo ver. Estou a enfrentar os meus pais por essa razão. Se és como eles e pensas da mesma maneira. enfrentar-te-ei também a ti! - balbuciou, afastando-se na direcção oposta. As lágrimas corriam, incontroláveis. Há mais de uma hora que estava sentada no apartamento de Darryl e contava mais uma vez a discussão tida com Frank, com soluços que lhe afogavam a voz. O amigo ouvia-a com paciência. - Posso falar? - perguntou com um sorriso. Temos aqui um problema grave que é a atitude dos teus pais. Mas disso falaremos mais tarde. Quanto à vossa discussão, acho que o Frank tem razão. - Claro - soluçou Aline. - Já devia esperar. és homem e tens de te solidarizar com outro homem. - Não sejas infantil, Aline - riu Darryl. - És tão machista como Frank! - Deixa de chorar e vamos falar a sério. - continuou Darryl, estendendo-lhe um lenço. - Eu sei que fiz mal em esconder que saí contigo - reconheceu Aline -, mas depois do que sucedeu em casa e do que me fez a Ginnie, acho que precisava de apoio e queria que nos sentíssemos unidos. - Que te fez a Ginnie? Aline contou a busca de um lugar para estarem juntos, a fracassada tentativa com Sammy e a conversa com Ginnie na noite anterior. - Pensa por um momento em Frank, Aline. Imagina-o a falar com a tua mãe duas vezes. Ele também estava desconcertado por não conseguir encontrar-te. Com certeza esperava que, ao ver-te, acalmasses a sua insegurança. Em vez disso, ouve a história absurda de que, enquanto ele sofria por ti, tu estavas com outro. - Ele feriu-me, Darryl. Que farias no meu lugar? - Telefonava-lhe imediatamente. - Não tem telefone. - Ia ter com ele onde ele pudesse estar. - No clube! Mas só lá vai estar amanhã à tarde. - Não podes ir a casa dele? - Não me atrevo. - Bem, então amanhã vai ter com ele ao clube - sugeriu o rapaz. - E quanto à falta de um lugar para estarem a sós, podem aproveitar este apartamento. Eu não estou cá muito tempo, por isso. - Darryl, não. - Não sejas tonta. Aline abraçou-o e agradeceu. Confortava-a saber que pelo menos podia contar com alguém leal. - Vou tomar um copo de leite. Também queres?perguntou. - Já agora, falando de outra coisa, a tua amiga Ginnie pareceu- me muito interessante. Importas-te de me dar o seu número de telefone? De regresso a casa, Aline viu que os pais a esperavam. Sabia que não podia voltar a perguntar-lhes se Frank telefonara. Eles receberam-na com olhar severo e quiseram saber se voltara a sair com Frank. Ela respondeu que estivera com Darryl. A atitude dos pais modificou-se de imediato, mas Aline pretextou uma dor de cabeça para não jantar. Não queria estar com os pais. Quando o telefone tocou, apressou-se a atender ansiando que fosse Frank. Mas a voz de Caroline chegou-lhe carregada de preocupação, em virtude da visita matinal da Polícia. Aline contou-lhe as discussões com os pais e com Frank devido ao encontro com Darryl. Quando Aline lhe relatou o interesse que este manifestara em Ginnie, a conversa terminou com risos e conjecturas. Na tarde seguinte, quando Aline entrou no clube onde Frank treinava com os amigos, estavam alguns rapazes em campo, mas Frank não se encontrava entre eles. Aline sentou-se na primeira fila, e alguns minutos depois surgiu o rapaz, acompanhado por um grupo de amigos. Ao vê-la, aproximou-se com desdém. Enquanto se faziam as apresentações, Aline percebeu que a atitude deles para com ela era exactamente igual à de Caroline e Ginnie para com Frank. Os amigos invocaram diversas desculpas para se afastarem, e Frank disse que ainda tinha uma hora de treino e pediu-lhe que aguardasse na cafetaria. Quando saíram do clube, caminharam sem rumo durante alguns minutos. Aline não sabia como começar a conversa, e ele também não sabia que dizer naquela situação. O silêncio prolongou-se. - Voltei a ver Darryl - disse, por fim, Aline. - Que bom. Quando é o casamento? - Frank, por favor. Quero pedir desculpa pela minha atitude de ontem. Lamento o que fiz, mas não pude controlar- me. - Esquece. - Darryl fez-me entender que devia vir ter contigo, que era a única forma de podermos falar. - Agradece-lhe da próxima vez que o vires. - Queres que continuemos zangados? - Não sei o que quero. Estou confuso. - Não é o que pensas. Sei que procedi mal em não te dizer, compreendo que estejas zangado, mas não tive intenção nenhuma, de te enganar. Por favor, vamos falar como pessoas sensatas. Foi ele que me fez ver que tinhas razão nesta história. - Ele fez isso? - perguntou Frank, surpreendido. - Sim, e sabes que mais fez? Ofereceu-nos o seu apartamento para estarmos juntos quando quisermos. E também me pediu o número de telefone da Ginnie. Acho que gosta dela. - A Ginnie é feia - disse o jovem, rudemente. - Eu sei que sim, e esse é o seu grande problema. E Darryl é muito atraente. É a lei das compensações. - Nunca iremos para casa dele. Não aceito esmolas. E também não admitirei que Sammy se porte contigo como fez hoje. Estou a cansar-me da intransigência dos outros. Respeito os teus pais. - Os meus pais são um problema que temos de resolver. Temos de arranjar uma forma de nos falarmos que nos permita combinar encontros, porque não podes continuar a ligar-me para casa. - Farei o que for preciso, mas não admitirei que se metam entre nós. Nem eles nem ninguém. - Frank. O rapaz deteve-se de imediato e abraçou-a. Quando voltou a falar, já não havia ira na sua voz: - Depois de amanhã vamos jogar contra os Shakers. É um jogo muito importante para nós, entendes? Se ganharmos, podemos subir de divisão. Quero estar totalmente concentrado no jogo. - A possibilidade de perder deixa-te nervoso? - Sim, mas ficarei calmo quando te vir sentada no estádio - disse Frank. - Quero que estejas lá, quero disputar o melhor jogo da minha vida para ti. A multidão enchia o estádio. Pouco a pouco, o marcador foi reflectindo a superioridade da equipa visitante, os Shakers. Atenta, Aline sentia-se orgulhosa de Frank: deslocava-se com agilidade, era inteligente na desmarcação e mostrava-se imparável na posse da bola. Ainda que os Shakers fossem bons no meio-campo, os contraXaques da equipa de Frank eram arrasadores. Aline estava na primeira fila. Ainda que visse o jogo sozinha, não se sentia verdadeiramente só. Em cada descanso, Frank sorria-lhe ou acenava-lhe, de forma que, ainda que à distância, estavam unidos naquela noite tão importante. O entusiasmo da jovem terminou quando viu os seus pais, atentos ao jogo. Aline olhou-os com espanto. Que faziam ali? Quem lhes dera as indicações para chegar àquele clube? Apenas ela, Frank e Caroline sabiam o endereço, mas Aline não podia imaginar a amiga a traí-la. Abandonou o seu lugar e dirigiu-se aos pais. Quando estes a viram aproximar-se, não esboçaram sequer um gesto de cumprimento. - Que estão a fazer aqui? - vociferou a jovem. - Viemos buscar-te - respondeu o pai, impassível. - Mentiste-nos - afirmou a senhora Shepperd. Acordámos que não voltarias a ver este rapaz. Quisemos verificar a mentira com os nossos olhos. - Não menti, porque nunca disse que deixaria de o ver - insistiu Aline. - Vamos embora daqui - ordenou o pai. - Só quando o jogo tiver acabado - replicou Aline. O resto do desafio não teve para ela o sabor excitante da primeira parte. Embora a equipa de Frank tivesse empatado e Aline seguisse com interesse o que se passava na pista, não conseguia deixar de fazer mil conjecturas quanto à presença dos pais ali. Alegrou-se quando a equipa local ganhou e Frank foi, mais uma vez, a estrela do jogo. Aline pôs-se de pé e apercebeu-se de que os pais haviam já saído. Quando chegou à zona dos vestiários e perguntou por Frank, disseram-lhe que estava na zona de gabinetes no andar de baixo. Desceu as escadas a correr e, ao chegar, viu Frank, ainda equipado, a falar com os seus pais. Aturdida, a jovem entrou precipitadamente. - Que é isto, por amor de Deus? - gritou. - Olá - cumprimentou timidamente o rapaz. - Viemos pôr fim a este desagradável assunto - declarou a senhora Shepperd. - Como se atrevem? - Calma, Aline - disse Frank suavemente. - Avisei-os aos dois - continuou o senhor Sheperd -, a nossa paciência esgotou-se. Fomos pacienetes, tolerantes, avisámos-te, Aline. - Não podes impor-me o teu estilo de vida, papá. - És menor de idade e posso fazê-lo. - Senhor, não fizemos nada de mal. - Não estou a falar consigo, meu rapaz! - Não acredito que te atrevas a humilhar-me. Não consentirei! - Não levantes a voz ao teu pai! - ordenou a senhora. - Estou envergonhada - disse Aline. - Que culpa tem ele? Como se atrevem? - Aline, por favor - disse Frank, olhando os pais da rapariga. - Acho que estamos a levar as coisas demasiado longe. Nunca pensámos que isto vos podia irritar tanto, não foi nossa intenção. Mas, por outro lado, há o que eu e Aline sentimos. - Tu! Tu o que não vês é que cuidamos da nossa filha mais do que de nós mesmos! - exclamou a senhora Shepperd, indignada. - Velamos por ela, vivemos por ela. E não a criámos e educámos para que um caça-fortunas qualquer a leve! - Mamã! Saiam daqui! Eu fico com Frank! Não podem impedir que nos continuemos a ver! - Vamos, mas tu vens connosco! - ordenou o pai. - Não - gritou a jovem. Num gesto impulsivo, a mãe deu-lhe uma bofetada. Frank abraçou a jovem, como para a proteger. - Solta-a! - disse o senhor Shepperd. - Não voltes a pôr-lhe as mãos em cima, senão será pior para ti. Durante a viagem de regresso, ninguém falou. A jovem chorava em silêncio. Ao chegar, fechou-se no quarto e deu largas à sua dor. À medida que analisava a situação, compreendia que era demasiado grave para tentar resolvê-la sem ajuda. Entretanto, o sono foi chegando, reparador. De manhã estaria em melhores condições para travar a batalha, para proteger a sua ligação com Frank. Quando a campainha tocou, Aline, confusa, estendeu o braço para desligar o despertador, e só depois percebeu que era o telefone. Atendeu e ouviu a voz da senhora Ferri, dizendo-lhe que há uma hora a Polícia fora a sua casa para prender Frank, acusado de molestar uma menor. A senhora Ferri não conseguira ainda falar com o comissário, mas Frank dera-lhe o número de Aline pedindo-lhe que a avisasse. A voz da mulher soava dura e ferida. A jovem teve de despertar rapidamente para compreender que não estava já no mundo do sonho, mas que se tratava de um pesadelo delirante mas real. Desculpe. desculpe, senhora Ferri - balbuciou. Molestar uma menor? Que significa isso? Também não sei. Apenas sei que Frank nunca molestou ninguém e que me pediu para te ligar quanto antes. Penso que deves ter algo a ver com tudo isto - acrescentou a mulher, com dureza. aline saltou da cama. Saiu do quarto, atravessou o corredor e entrou no quarto dos pais. Aline! Que. Nunca vos perdoarei isto. Mas de mim e de vocês falaremos depois: - Aproximou-se do pai e disse: - Pega no telefone e manda soltá-lo imediatamente. Como te atreves a falar-me assim? Nunca na vida te falei assim. Mas ou pegas no telefone agora mesmo e dás a ordem para que o deixem voltar para casa ou vou-me embora. Se fugires de casa, denuncio-te e mando-te internar num reformatório de menores - ameaçou o senhor Shepperd. Atreve-te. E eu garanto-te que toda Nova Iorque saberá que a filha dos Shepperd foi mandada prender pelos próprios pais. Ingrata! É a forma como pagas os nossos cuidados. - Cala-te, mamã! - cortou a jovem, e olhou de novo para o pai. - Estou à espera que faças a chamada. Ou a fazes ou vou-me embora. Sim ou não? Bem, agora vai para a escola. Quando regressares, Farei que o teu amigo seja solto e volte para casa sem ser incriminado. - Não me mexo daqui enquanto não o fizeres. - Vai levar umas horas. - Não tenho pressa. Posso faltar às aulas. - Vamos fazer um acordo. - Não faço mais acordos contigo. Telefona a quem tiveres de telefonar. - Já telefonarei. Mas se fizer isto por ti, tu fazes algo por mim. - Que queres dizer? - inquietou-se Aline. - Deixa-me pensar. Agora, por favor, vai para a escola e não te preocupes. Logo à noite falaremos - concluiu o pai, e estendeu o braço para o telefone. Aline Shepperd não foi à escola. Não conseguiu resistir: encaminhou-se para casa de Frank. Mas ninguém atendeu quando tocou a campainha. Os minutos corriam lentamente, enervantes. Mas passada uma hora viu-o chegar acompanhado pelos pais. A jovem suspirou de alívio: John Shepperd cumprira a palavra dada. Quando Frank lhe abriu a porta, Aline lançou-se nos seus braços, sem se importar que o senhor e a senhora Ferri os observassem. Mais tarde, sentados à volta da mesa, Frank contou a prisão e tudo o que sucedera até à sua libertação. O senhor Ferri consultou o relógio e explicou que tinha de voltar ao trabalho. Frank ergueu-se e disse que acompanharia o pai até ao fim da rua. Quando as duas mulheres ficaram sozinhas, era evidente a tensão que reinava na sala. Aline aproximou-se da mãe de Frank: - Está aborrecida comigo, não é verdade? - sorriu com modos de desculpa. - Lamento o que aconteceu. Infelizmente, o meu pai é um homem poderoso. - Pedi-te que não fizesses sofrer o meu filho, lembras-te? - acusou a mulher, ao mesmo tempo que as lágrimas lhe afloravam os olhos. - Sabia que ele não podia misturar-se contigo, que seria prejudicado. - Senhora Ferri, estou a sofrer tanto como a senhora com tudo isto - disse Aline, comovida. - O melhor que podes fazer é afastar-te dele. Ele nunca poderá ser feliz a teu lado. O teu mundo não é o dele, e tenho medo que. por Deus, promete-me que não voltarás a vê-lo. - implorou a mulher. Não podes continuar a vê-lo. promete-me. - Senhora Ferri. não me peça isso. por favor. Aline levantou-se e saiu de casa. Nas escadas cruzou-se com Frank, que regressava, e abraçou-se a ele. - Onde ias? Buscar-me? - perguntou o rapaz. Que se passa? Porque estás a chorar? Amo-te - soluçou a jovem. - Hei-de procurar-te. Deixa-me ir. Hei-de voltar - prometeu. Obrigou-se a si mesma a continuar com a prática de violino. Ao cair da tarde, telefonou a Caroline. Esta sentia-se culpada. Confessou a Aline que o casal Sheperd se apresentara em sua casa e que a haviam forçado a dizer onde Aline se encontrava. Caroline chorava, pedindo à amiga que lhe perdoasse. Aline escutava a amiga sem animosidade. Nas últimas horas tinham-se acumulado acontecimentos tão dramáticos que as palavras de Caroline pareciam referir-se a um passado distante. Mais tarde, Darryl ligou. O jovem contou-lhe que falara com Ginnie, com quem marcara um encontro, mas nem a aproximação de duas pessoas de quem gostava lhe interessou. Inventou um pretexto e despediu-se de Darryl. Na verdade, cada vez que atendia o telefone esperava que fosse Frank. Depois do jantar, Aline e o pai fecharam-se no escritório. Aline pretendia saber se o pai já havia pensado sobre o que exigiria em troca da liberdade de Frank, mas advertiu que no acordo dos dois jamais figuraria deixar de ver o rapaz, pois estava disposta a continuar o romance. O senhor Shepperd não necessitou de muitas palavras para lhe explicar a compensação exigida: logo que Aline acabasse o colégio, ela e a mãe fariam uma viagem pela Europa. Assim, toda a complicada história seria sepultada e esquecida. Correu pelo jardim, saltou a vedação e lançou-se numa correria até ao telefone mais próximo. Darryl respondeu à chamada e, logo que Aline começou a explicar a situação, o rapaz propôs-lhe que fosse a sua casa. Quando a jovem concluiu o seu relato, Darryl parecia abatido. Parecia-lhe irreal que os Shepperd tivessem adoptado uma atitude tão extrema. Perguntou à amiga o que desejava fazer. Aline respondeu que apenas queria ver Frank e contar-lhe o sucedido; Darryl decidiu conduzir a rapariga a casa dos Ferri. Em vez de subir, Aline pediu ao senhor Ferri que Frank descesse. Quando este chegou ao automóvel, mostrou desagrado ao saber que o condutor era Darryl, mas à medida que os três se embrenhavam o diálogo, a desconfiança de Frank foi desaparecendo. Quando chegaram ao apartamento, Darryl desapareceu na cozinha para preparar café. - Também discuti com a minha mãe - disse Frank. Não foi justa e não quer admiti-lo. Perguntei-lhe por que saíste a chorar e ela contou-me a conversa. - Não sejas duro com ela. Está assustada por ti. - Estamos todos assustados - respondeu o jovem. - Aqui está o café - disse Darryl. - A questão é esta: ou tomam uma atitude ou Aline vai para a Europa. - Não vou para a Europa! - Não vejo que possibilidades concretas temos, pois somos menores. Se os Shepperd estão decididos a fazê-lo. - Frank hesitou -, a única coisa que Aline pode fazer é fugir de casa. - Se for preciso, fujo de casa, mas não aceito que me imponham a viagem. - Se fugires de casa, os teus pais denunciam-te. Como sabemos, são muito dados a chamar a Polícia - retorquiu Frank. - Se eu não fugir, obrigam-me a ir para a Europa. - Claro que não aceito a ideia de que te afastem de mim. E se Aline e eu tentássemos passar a fronteira? - Estão dispostos a ficar juntos a qualquer preço? - Sim - respondeu Frank, olhando a rapariga. - Sim - concordou Aline. - Muito bem. Então, não há outra saída: têm de fugir. Tu, Aline, tens de arranjar um pretexto, e eu posso ajudar-vos. Assim, ganharão algum tempo com os teus pais. Depois ficam entregues a Deus. Mas os Estados Unidos são grandes e estou convencido de que será dificil seguir-vos o rasto... - Obrigado, és um bom amigo - disse Frank. - Se conseguirem resistir algum tempo, eles acabarão por ceder. Os pais acabam sempre por ceder comentou Darryl. - Posso emprestar-vos dinheiro. - Eu posso trabalhar - anunciou Frank. Decidiram fugir nessa noite depois de escreverem uma carta aos pais, inventando uma viagem com Darryl e um grupo de amigos. Quando os preparativos ficaram completos, Aline balbuciou: - Tenho... tenho medo. - Medo? - surpreendeu-se Darryl. - Não deves ter medo. Amanhã começas uma nova vida. Os pais de Aline dormiam quando esta voltou a casa para buscar roupa e dinheiro. Procurou papel e caneta e escreveu aos pais, apresentando o motivo da sua ausência e despedindo-se deles com carinho. A pintura metalizada do autocarro brilhava ao sol matinal. Frank e Aline viajavam de mãos dadas, Agora tudo ficava para trás, família, preconceit os e até a solidaried ade de Darryl. Ambos sabiam que, mediante o estratagema da carta de Aline, dispunham de um fim- de-semana sem preocupações. Mas que aconteceria depois? Por mútuo acordo, decidiram dirigir-se para oeste, evitando as grandes cidades. - Quando era pequeno - disse Frank -, sonhava com os índios, Forte Morgan, com todos esses sítios onde há vaqueiros como nos filmes. Em Laramie. - E se fôssemos para Laramie? - propôs Aline. - Estás a falar a sério? - Porque não? Seguimos pela auto-estrada 90 até Chicago e apanhamos outro autocarro para Laratie. Vai perguntar ao motorista se é possível. Quando chegaram a Laramie, estavam cansados mas felizes. Aline sentiu-se desapontada ao perceber que tudo ali era feito em função dos turistas que vinham reviver as glórias do tempo do Faroeste. Na cafetaria recomendaram-lhes um albergue de preços módicos. Quando lá chegaram, porém, Aline sentiu-se desmoralizada, vendo as casas de banho pouco limpas e uma enorme barraca em que as filas de camas se prolongavam quase até ao infinito. Não era assim que imaginara a sua primeira noite com Frank, a sós e livres. Depois do jantar, regressaram ao albergue. O ambiente era de camaradagem, conversa e risos. Aline começou a despir-se pouco à vontade, mas percebeu que ninguém lhe prestava atenção. Frank regressou do lavabo e, ao passar a seu lado, apenas lhe sorriu. Enquanto a jovem se metia na cama, beijou-a nos lábios e desejou-lhe boa noite. - Que se passa? - Era assim que imaginavas Laramie? - perguntou. - Esquece Laramie. Se quiseres, vamos embora agora mesmo. - Frank pegou numa mão de Alline entre as suas e disse: - Olha para mim. Alguma coisa há que não corre bem, não é? Queres voltar para casa? - Não. - Desde que aqui chegámos estamos como que atordoados. Mas há Algo que para mim é claro. O que sucedeu na noite passada. nunca mais. Sabes o que quero dizer, dormir afastados, em camas separadas. - Oh, Frank. - balbuciou a rapariga, e desatou a chorar. - Parecias tão calado, tão conformado. - Era isso? Pensavas que para mim estava bem? Não, estava envergonhado, amor. A ideia foi minha e fui eu que te convenci a aceitar. A jovem secou as lágrimas enquanto Frank lhe beijava a mão com ternura. - Posso dizer-te que te desejo muito e que morro de vontade de estar contigo? Já sei o que vamos fazer. Esta noite iremos para um hotel. Mas antes vamos falar com Darryl para saber como estão as coisas em Nova Iorque. Depois podemos passear por La haramie. Darryl disse que há cerca de uma hora ligara para casa de Aline. Falara com John Shepperd, a quem contara a história que haviam acordado, confirmando que tudo corria conforme o plano, de forma que nem Frank nem ela deviam preocupar- se. Ele, por seu lado, tinha combinado ir patinar com Ginnie e Caroline. Antes de desligar, Darryl sugeriu a Aline que telefonasse aos pais no dia seguinte para lhes contar a verdade. A jovem prometeu falar a Frank nisso. Laramie foi uma decepção. A meio da tarde, decidiram que seria melhor continuar caminho no dia seguinte, pelo que deviam procurar um lugar para passar a noite. Enquanto Aline aguardava com a bagagem, Frank dirigiu-se ao empregado de um posto de gasolina para que lhe indicasse um hotel. Ao saber que os jovens pensavam seguir para Rawling no dia seguinte, ofereceu-se para os levar. - Fantástico - entusiasmou-se Frank - Obrigado. Diga-nos a que horas quer que estejamos aqui e... - As dez - disse o homem. - Vocês são menores? - Porquê? - Filho, eu não denuncío ninguém. Perguntava por simpatia. - Somos menores. Não nos aceitam num hotel. - Bem, então vão ao Old Town e digam que foi rover que vos mandou. Vão ver que vos dão um belo quarto. Chamo-me Tom Shriver - disse o omem, estendendo a mão. - Prazer, senhor Shriver - respondeu o rapaz, correspondendo ao cumprimento. - Eu sou Frank Ferri. Depois de deixarem as malas no Old Town, saíram para comer. Frank encontrou um café com máquinas de jogos. Aline, aborrecida, saiu para ver as pessoas que passavam pela rua. Dois homens, vestidos como vaqueiros, aproximaram-se. Um deles colocou-se a seu lado e, olhando o outro, sorriu: - Bela montaria para cavalgar - murmurou. - E parece que está mortinha por saber como somos homens, aqui no Oeste - riu o outro. - Gostarias de experimentar, hem, minha linda? Aline voltou-se com a intenção de entrar no café; mas um dos homens barrou-lhe o caminho. - Deixe-me passar - ordenou a jovem. - Escuta, vês aquela carrinha vermelha? É nossa! Porque não vens dar uma voltinha connosco? - Deixa-a passar, Tim, deixa-a passar - disse o outro, acariciando suavemente o braço da rapariga. - Não me toque! - gritou Aline, retirando o braço. Nesse momento, Frank surgiu na porta do café. - Passa-se alguma coisa, Aline? - perguntou. Os homens mudaram imediatamente de atitude. Tocaram na aba do chapéu, em cumprimento, e conitinuaram caminho. Frank abraçou a namorada. - Aqueles imbecis incomodaram-te? - Não, não. Apareceste mesmo a tempo. - Parece que não sou o único a achar que és linda - comentou Frank, apertando Aline contra o peito. Sentiam-se felizes. Quando chegaram ao quarto do hotel, Frank beijou Aline. Foram-se despindo lentamente. Primeiro, Frank tirou-lhe a blusa; Aline descalçou os sapatos e ele ajudou-a a libertar-se das calças e das meias. Depois, entre beijos, aflorou o fecho do soutien e lançou-o para o outro lado do quarto. Finalmente, tirou-lhe as calcinhas. Frank colocou uma das mãos entre as pernas da rapariga, que o cingiu com força e sentiu o pénis erecto do rapaz comprimido pelas calças. Frank acariciou e beijou Aline na boca, ao mesmo tempo que desapertava a camisa e a despia. Depois, abriu o fecho das calças, e a mão de Aline penetrou no seu interior. Frank tirou as calças e as cuecas, aproximou-se dela para a abraçar, e os seus corpos uniram-se apaixonadamente. Então, Frank deitou-se na cama, com Aline sobre ele, beijando-o com paixão, descobrindo pela primeira vez que os seus gestos pareciam escapar ao seu controlo e exprimir-se sozinhos e livres, para além dos ditames da razão. O rapaz deu meia volta de forma a colocar-se sobre Aline, beijando-lhe o pescoço e os seios. Percorreu o corpo da jovem com a boca e desceu pelo ventre até alcançar a púbis. Aline mordia os lábios para calar os gemidos de prazer. Quando ele a penetrou, a dor do instante cedeu ao êxtase que a invadiu totalmente. Permaneceram longamente abraçados. O rapaz beijou-a nas pálpebras, tirando-lhe o cabelo da cara, repetindo que Aline era maravilhosa. Depois, fumaram um cigarro e conversaram. Frank voltou a cingi-la contra si. - Amo-te - disse. - Também te amo - respondeu Aline, pensando que aquela noite fora a mais feliz da sua vida e que sempre a recordaria. Sempre. Frank colocou as malas na camioneta e ajudou a jovem a subir para a cabina: Shriver perguntou: - Sabes conduzir? - Claro que sei. - Pois, então, chegou a hora de o demonstrares. - Senhor Shriver - disse Aline -, se a Polícia nos apanha, teremos problemas. Não se esqueça de que somos menores. - Não há um polícia num raio de muitas milhas que não seja amigo de Tom Shriver - afirmou o homem. - No pior dos casos, se encontrarmos um agente, posso dizer que és meu sobrinho. Vamos. - Diabo, não me lembro quando foi a última vez que me levaram a passear - brincou o Shriver. Estou a pensar em contratar um motorista. - Antes, tem de pensar em comprar um automóvel novo - riu Frank. - Que tem o meu carro de mal? - Muitos anos em cima. - Quero ajudar-vos na vossa aventura. Perto de Jackson, há uma aldeia que se chama Yattah, onde mora o meu meio-irmão com a mulher. Se se virem em apuros, vão a essa aldeia e perguntem por ele. - Obrigada - murmurou Aline, comovida. - Digam-lhes que são amigos de Tom Shriver i concluiu o homem. - Isso será suficiente. Quando chegaram a Rawling, Shriver insistiu que almoçassem com ele, mas os jovens não quiseram importunar mais o seu amigo e recusaram o convite. Depois de duas horas de caminhada, Aline sugeriu que parassem. A distância, ouvia-se o rumor de água a cair e pouco depois os dois chegaram a uma clareira com um lago. Extasiados, despiram-se e lançaram-se à água. Brincaram, beijando-se e abraçando-se. Quando Aline sentiu frio, decidiram estender-se na erva para se secar ao sol. Estavam fatigados, mas o brilho dos seus corpos molhados, nus sob o sol, fez surgir o desejo. Fizeram amor sobre a erva. Quando terminaram, permaneceram abraçados. - Frank - sussurrou a jovem. - Estamos a comportar-nos como crianças. Temos de ter cuidado. - Queres dizer. - Devia tomar a pílula, ou algo assim. - Que queres fazer? - Pois. não sei. Talvez devêssemos comprar contraceptivos e rezar para que não haja nenhuma consequência. Quando nos instalarmos, vou ao médico. Não podemos passar a vida de um lado para o outro. - Não, suponho que não - admitiu o rapaz. - Frank, não devias telefonar aos teus pais? Devem estar muito preocupados por. - Não quero falar disso - cortou ele, e pôs-se de pé. - Não podemos ocultar nada um do outro. Se sofres por eles, ninguém pode recriminar-te. - Sim, sofro por eles - admitiu ele, olhando-a. Mas é o preço que tenho de pagar para não te perder. Caminharam várias horas até que se encontraram diante de um casario. Sentiam-se esfomeados, mas, ao percorrerem a única rua da aldeia, foram invadidos pelo desânimo. Não havia cafetarias, apenas casas que pareciam desertas. Uma mulher magra assomou a uma janela, para logo depois desaparecer, voltando a surgir à porta da casa. Aproximou-se deles. De repente, voltou a cabeça e, dirigindo a alguém no interior da casa, exclamou: - Lucas! Levanta-te, Lucas! Dolly e Bob voltaram! A pequena Dolly voltou para casa! Os jovens olharam-se, intrigados. Frank observou o resto da casa, procurando vislumbrar movimento que indicasse a existência de outras pessoas além da estranha mulher. Esta chegara junto deles e sorria: - Meus meninos! Entrem! - disse, mostrando a casa. - Estamos à vossa espera há tanto tempo. - Acho que a senhora está enganada... - começou Aline, incomodada. - Estávamos a passear no bosque e, como temos fome, chegámos aqui procurando algo para comer... - Comer? Meus meninos! Claro que vos darei de comer... Venham para casa... vou preparar um banquete - riu a mulher, dirigindo-se para casa. A casa apresentava um estado de total abandono. Aline aproximou-se da mulher. - Posso ajudá-la em alguma coisa? - ofereceu-se. - Oh, olha a pequena Dolly, Lucas, sempre tão atenciosa e prestável. Não, sentem-se à mesa que a vossa mãe vai preparar-vos uma refeição deliciosa. Enquanto cozinhava, a mulher falava sem cessar. Comeram em silêncio. A mulher insistiu em voltar a encher os pratos, tratando-os como seus filhos e dirigindo-se a um Lucas inexistente, falando de um tempo em que vivera feliz noutra casa. Quando se despediram, a mulher não parecia ouvi-los. Então, voltaram ao bosque. Quando começou a anoitecer, retomaram a estrada, à procura de uma povoação onde pudessem pernoitar. Ouviram um ruído que os assustou. Parecia que alguém os perseguia. De súbito, ouviu-se uma voz vinda do bosque: - Alto! Parem onde estão! Assustada, Aline cravou as unhas no braço do seu companheiro. Atrás deles surgiu um homem que lhes apontava uma espingarda. - Que deseja? - perguntou Frank. - Quem são vocês? Que fazem aqui? - Vamos para a povoação. - Não há nenhuma povoação perto. Não vos avisaram que estas paragens são perigosas quando cai anoite? Mostrem-me os documentos de identificação! - Quem é o senhor? Que deseja? - Aqui quem faz as perguntas sou eu - resmungou o homem. - Chamo-me Conally e sou guarda-florestal. Esta área é uma reserva florestal e sou eu quem a protege. Os vossos documentos! Os jovens apresentaram a sua identificação. - Bem. - balbuciou -, vejo que estão longe de casa: Não me parece que sejam caçadores furtivos. Venham, vamos sair daqui antes que a noite caia. Apesar de perguntarem, os jovens não conseguiram saber para onde estavam a ser levados, só parando quando chegaram a uma clareira. Frank olhou em redor, inquieto. Aquela parte do bosque não se diferenciava das outras. Por que razão o homem os conduzira ali? Seria um assassino maníaco que procurava um local para chacinar as suas vítimas? - Se seguirem por esse caminho, daqui a uma hora chegarão à auto- estrada - explicou o homem -, mas não vai servir de muito porque a única povoação fica a três horas de caminho e não há nenhuma pensão. Só se alguém se apiedar de vocês. - Quer assustar- nos? - zangou-se Aline. - Nada disso - respondeu o homem. - Venham comigo. Acho que posso ajudar-vos. Os jovens sabiam que não tinham outra saída, de forma que começaram a caminhar atrás do homem. Em breve chegaram a casa de Conally, que se mostrou um silencioso mas eficaz anfitrião. Convidou Frank e Aline a descansar enquanto ele tratava da refeição. Mais tarde, Conally trancou a porta e, lançando um olhar ao único quarto, anunciou que a rapariga devia dormir na cama. - Tu dormes no chão ao lado dela - ordenou. - Eu tratarei de dormir no cadeirão. Quando o homem apagou a luz, Frank procurou os lábios de Aline na escuridão para os beijar. Na manhã seguinte, o homem preparava o pequeno-almoço quando os jovens acordaram. Depois de comerem, o guarda- florestal limitou-se a indicar-lhes o caminho para a auto- estrada. Ali, aguardaram por uma boleia. Um camião levou-os até Casper, onde pararam para comer e decidir o que fazer. Era segunda-feira e, nas suas mentes, pesava a necessidade de Aline telefonar aos pais. - Suponho que chegou a hora de fazer a chamada - murmurou Aline. - Ficarás mais descansada depois de falares com eles. Se não o fizeres, vais sofrer todo o dia. - Bem, vamos procurar uma cabina. - Estou. mamã? - Aline? És tu? - Sim, mamã. ouve. - Por amor de Deus! Onde te meteste? Ficámos tão preocupados! Esperei por ti até de madrugada. Como pudeste fazer isso? Passei uma noite terrível. - Desculpa, mamã, mas é que. e esta manhã, quando fomos ao teu quarto e não te vimos, pensámos que íamos enlouquecer! - Mamã, queres ouvir-me? - Não me fales nesse tom, menina! Não sabíamos que fazer! Até pensámos em chamar a Polícia, com medo do que pudesse ter acontecido! Mas onde estás? Ficaste em casa de uma amiga? Assim, sem nos avisar? Queres matar-nos de aflição? - O papá ainda está em casa? Tenho de falar com ele. - Mas onde estás, filha? - Em Casper, mamã. Deixa-me falar com o papá. - Casper? Onde é Casper? - Quero falar com o papá. - Sim, sim, o teu pai está aqui, vou-to passar. - Estou. papá? Papá? - Bom dia, Aline. - Bom dia, papá! - Que estás a fazer em Casper? - Papá, eu não vou para a Europa com a mamã. - Enlouqueceste, Aline? É melhor voltares já para casa. Não vamos discutir isso por telefone. - Não vou voltar já. Papá, deixa-me ser livre... - Livre? Achas que não tens liberdade suficiente? Se não voltares já para casa, mando buscar-te. Não estou disposto a admitir um escândalo na família. - Lamento que neste momento te interesse mais o que possam pensar os outros. Apenas te peço que não faças nada que possa prejudicar-me, por favor! - Aline, dou-te até esta noite para voltares para casa. Se isso não acontecer, correrei os Estados Unidos até te encontrar. E se aquele rapaz italiano estiver contigo, juro-te que o mandarei para a prisão... Percebeste? A tua brincadeira de menina caprichosa vai acabar e o teu amigo italiano é que pagará o preço! Quando Aline desligou, o seu coração estava destroçado. Sabia que o carácter dominador do pai aniquilava qualquer diálogo. Três dias depois, a conversa telefónica transformara-se numa ferida que começava a cicatrizar. Os dois jovens deixaram Casper para se dirigir a uma povoação, onde o dono de um rancho acolheu a oferta de trabalho de Frank, em troca de comida e alojamento. Aline ajudava a dona da casa nas tarefas domésticas. Aline nunca hesitou em ficar com Frank, apesar das ameaças do pai. Ambos decidiram que, enquanto estivessem juntos, podiam desafiar o mundo. Sabiam que quando a sementeira terminasse teriam de partir, mas naquele período de paz sentiram-se mais felizes. Alguns dias depois, o proprietário do rancho pediu a Frank que fosse à cidade de carro tratar-lhe de uns assuntos. Entusiasmada, Aline foi com ele, ficando a passear pelas ruas enquanto o rapaz tratava dos recados. Marcara com Frank encontrarem-se num café, mas não esperou pela hora acordada. - Frank! Frank! - Que se passa, amor? -Vemver... Aline apontou para um jornal: na primeira página apareciam os rostos de ambos e sobre as fotos a manchete anunciava que eram procurados pela Polícia. - Tenho medo - disse Aline. - Era uma possibilidade que tínhamos considerado. - Como pode ele fazer-me isto? Chamam-me fugitiva. Com o podem os adultos ser tão impiedosos? - Suponho que o desespero os cegue. - Desespero? Isto não pode ser um acto de amor. É o orgulho que os faz agir assim - exclamou Aline. - Acalma-te, por favor - pediu Frank. - Há uma coisa que não entendo. Todos os dias fogem jovens de casa e não aparecem na primeira página de um jornal. Que temos nós de diferente? - Não somos nós. É o meu pai. Deve ter usado todas as influências para divulgar o caso. O que temos de fazer é ir-nos embora daqui antes que nos reconheçam. Anda, vamos embora. No regresso planearam o que diriam ao dono do rancho para justificar a sua partida precipitada. Depois, voltariam ao bosque, com a esperança de que na povoação seguinte não houvesse jornais com as suas fotografias. Aline olhou com nostalgia a casa onde, ingenuamente, sonhou passar um periodo de paz. A partir de então, a fuga seria a razão principal das suas vidas. O carro que se deteve ao seu sinal levou-os até Rochester, onde se instalaram numa pensão modesta e saíram para procurar trabalho. Não tiveram muita sorte: apenas numa florista se interessaram pela ajuda de Aline no atendimento aos clientes. Mas mesmo assim, havia um problema: o dono só regressaria à loja no dia seguinte e era ele quem dava a aprovação final, pelo que pediram a Aline que voltasse na manhã seguinte. Embora não tivesse chegado a hora de voltarem à florista, Frank propôs à companheira afastarem-se da praça central, onde se preparava uma manifestação. Tantos polícias despertavam a sua desconfiança. Puseram-se a caminho, mas logo descobriram que não sabiam em que direcção se encontrava a loja. Depois de algum tempo às voltas, os jovens viram, com horror, um polícia que se aproximava deles. - Posso ajudar-vos? Já vos vi passar aqui três vezes. Não pertencem à manifestação, pois não? - Não, não... Procurávamos uma florista. - Bem, há várias por aqui. Sabem como se chama? - Não sabemos. Mas não se preocupe que já daremos com ela. - Vocês são forasteiros, estou a ver. Se vos pedisse os vossos documentos. - Teríamos de ir até ao hotel. Deixámo-los com a bagagem. - disse Frank. - Podemos ir lá agora. - Não, não - aceitou o homem. - Deixem lá. O agente afastou-se para junto do carro-patrulha. Ainda assustados, os jovens começaram a caminhar na direcção oposta, com a sensação que o perigo não desapareceria enquanto não virassem a esquina. - Eh, vocês aí! Aline e Frank voltaram-se ao mesmo tempo. O policia avançava resolutamente para eles. - Não sei como vos dizer - disse o agente. - Não quero incomodar-vos, mas as vossas caras são familiares e não sei de onde. Acho que é melhor virem comigo à central, para verificarmos. Se estiver enganado, peço-vos desculpa e levo-vos à florista. O polícia regressou ao carro. Uma ideia cruzou a mente de Frank. Pegou na mão da rapariga e lançaram-se numa correria em direcção à praça central, perdendo-se na multidão. O agente ainda levou a mão à arma, mas conteve-se. Ao chegar ao carro, procurou as fotos. Quando as encontrou, não lhe restaram dúvidas. Logo alertou os demais agentes da presença na cidade de Aline Shepperd e Frank Ferri, de Nova Iorque, fugitivos da Polícia. Avançaram com dificuldade entre a multidão. Decidiram que deviam ficar no hotel até à noite, quando fugiriam da cidade. Aline lembrou que, se a Polícia procurava um casal, o melhor que tinham a fazer era separar-se. Voltariàm a encontrar-se no hotel. Quando Aline abriu a porta do quarto, Frank fazia as malas. Ao ver a jovem, correu para ela e abraçou-a. - Agora a Polícia já sabe onde estamos. Com certeza, vão pôr barricadas nas auto-estradas... - Amor, achas que vão dar-se a todo esse trabalho por dois miúdos que fugiram de casa? - Tenho a certeza de que em breve o meu pai vai ficar a saber que nos localizaram aqui. - E então? Enquanto não nos apanharem, podemos continuar juntos - disse Frank, beijando-a. Apesar do optimismo de Frank, não conseguiram apanhar um autocarro para sair da cidade. Atravessaram várias ruas até chegar ao terminal, mas ao verem um carro-patrulha à porta afastaram-se. Nos arredores depararam com uma pensão. Aline propôs comerem algo antes de seguirem viagem mas, como gostaram do ambiente, acabaram por passar ali a noite. Escolheram duas camas contíguas. Uma figura proximou-se. - Posso saber porque, de todas as camas vazias, escolheram precisamente a que eu escolhi há pouco? - perguntou, sem hostilidade. - Oh, desculpe -, disseram os dois, pondo-se de pé: - Não faz mal - disse o rapaz. - Olá, chamo-me Nico. Andam fugidos, não andam? - Não, não - apressou-se a responder a jovem -, estamos cansados e era de noite... E tu? - Eu sou ladrão. Aline e Frank emudeceram de espanto. - Roubas casas. e assim? - perguntou a rapariga. - Acho que ele está a brincar - disse Frank. - Gostavam de conhecer a história do Nico? Pois bem, vamos fumar um cigarrinho e conto-vos a minha história para verem se estou a brincar ou não. Enquanto fumavam, Nico falou da mãe que fugira com um homem e do pai alcoólico morto num acidente de viação, deixando-o com uma tia severa, com quem se dava mal. Acabou por ser posto num reformatório, onde ficou uns anos até conseguir fugir. - Foi aí que me ensinaram um oficio, o de ladrão. É disso que vivo. Digam-me, têm um plano para arranjar ajuda? Têm dinheiro suficiente? - Não. - Hum. amanhã as auto-estradas devem estar cheias de chuis. Os polícias destas cidades pequenas adoram fazer controlos como os da televisão. - Céus, Frank! Eu bem disse! - Calma. calma. - continuou Nico, serenamente. - Agora não se pode fazer nada, e o melhor é dormirmos para retemperar forças. Amanhã espera-nos um dia dificil. Nico nunca abandona os amigos. Atravessaram o cemitério de automóveis. Atrás dele estendia- se um campo ocupado por camiões e outtros veículos rodeados de gente que trabalhava com afã. Eram os elementos de um circo que estavam a desmontá- lo, para continuar caminho. Aline intuiu o que iria suceder e rogou para que a sua fantasia se tornasse realidade. Nico cumprimentou os artistas do circo e mais efusivamente um homem de rosto pintado. Era Taxter, o palhaço. O rapaz contou-lhe que estavam em dificuldades e precisavam de sair da cidade. E foi assim que Aline, Frank e Nico tiveram de cobrir o rosto de maquilhagem e vestir roupa de palhaço. Quando chegaram aos controlos da estrada, a fila de camiões do circo não levantou suspeitas e, após breve inspecção, puderam seguir, chegando finalmente a Billings, onde tinham actuações marcadas. Ao chegarem ao destino, os jovens pareciam formar parte da equipa. Aline estava fascinada. Mas a alegria daquela jornada não podia continuar. Quando preparavam as malas, dispostos a partir, Taxter aproximou-se deles, oferecendo-lhes um lugar na troupe em troca de trabalho. Os jovens aceitaram sem hesitar. As duas semanas seguintes foram as mais felizes que Aline e Frank passaram desde que se conheceram. A jovem tornou-se ajudante do malabarista. Frank aprendeu a montar a tenda e executava outras tarefas complementares. Todos se divertiam com as anedotas de Nico, encarregue de tratar dos animais. Aline e Frank dispunham de metade de uma roulotte e, ao chegar a noite, extenuados mas felizes, corriam um biombo e ficavam sós, no seu mundo privado de carícias e paixão. A medida que os dias passavam, o sentimento que os unia tornava-se mais intenso. Por fim, o medo do futuro começava a dissipar-se. Frank escreveu uma carta emocionada aos pais, assegurando-lhes que se encontravam bem. Mas uma noite, quando Frank começava a despir-se, ouviram-se pancadas na porta. Assustada, Aline foi abrir. Era Taxter. - Nico! Têm de ir-se embora. A Polícia anda a inspeccionar os carros. - Não é possível! - exclamou a rapariga, angustiada, abraçando-se a Frank. - Oh, não, outra vez, não! - Aquele maldito tinha-me prometido que não voltaria à vida de criminoso! Mas não. Tinha de tentar roubar uma espectadora, no final. A Polícia viu-o e identificou-o. Agora revistam todo o circo porque dizem que podemos albergar outros criminosos. Vão-embora. Tomem - acrescentou, estendendo, -lhes o dinheiro que tinha consigo. - Os jovens abraçaram o velho palhaço, emocionados. Enquanto preparavam as malas, Taxter tratou de atrasar ao máximo a chegada dos agentes à roulotte. Pouco depois, o jovem casal retomou o seu caminho pelas ruas da cidade até chegar aos arredores. onde poderiam ir àquela hora? Para fugir aos carros-patrulha, embrenharam-se no bosque. A noite estava clara e, à medida que avançavam, Frank procurava animar Aline. Por fim, perceberam uma claridade entre as árvores e aproximaram-se. Encoberto por uns arbustos, um homem, sentado numa pedra, assava um animal à fogueira. - Podem aproximar-se - gritou ele. - Tenho aqui bom café. E a comida também chega para todos. O homem não lhes inspirava confiança. Mas tinham fome. Frank pegou na mão de Aline. - Ah, boas noites - riu o homem ao vê-los. Venham para junto da fogueira que a noite está fresca. Pelos passos, percebi que eram seres humanos. - Desculpe. Não queríamos incomodá-lo, mas ficamos-lhe muito agradecidos se nos der um pouco de café - começou o rapaz. - Café e comida. o que quiserem! Enquanto os três partilhavam o animal assado, o homem contou episódios da sua vida de caçador. Ao ver o desalento dos jovens, ofereceu-se para partilhar o seu abrigo. Estes aceitaram. Não conseguiam deixar de pensar em Nico, na possibilidade de este ficar preso. Depois de o caçador se ter retirado para dormir, ficaram a conversar junto da fogueira, tentando decidir o que fariam no dia seguinte. Quando entraram no abrigo, o homem dormia profundamente. Em silêncio, deitaram-se, abraçados. Horas depois, a luz do dia fê-los abrir os olhos. Acordaram e beijaram-se. O caçador tinha partido. Frank levantou-se. O homem levara todas as coisas do casal. Em desespero, o jovem gritou: - Fomos roubados, Aline! Fomos roubados! Aquela foi a primeira vez que Aline viu Frank Ferry chorar. Atravessavam o bosque em silêncio. Nada nem ninguém os faria desistir. Recolheram os seus pertences e retomaram a marcha em direcção à estrada. Embora passasse pela mente de Aline a ideia de voltar e pedir perdão aos pais, não conseguia resignar-se: telefonaria a Darryl pedindo que enviasse dinheiro para as primeiras necessidades. Parecia que tinham chegado a um beco sem saida. Haviam decidido enfrentar juntos o mundo e o mundo retribuira a ousadia ensinando-lhes com dureza que qualquer rebeldia era inútil. - Tom Shriver. - murmurou Frank. Aline levantou a cabeça, surpreendida. - Acabo de me lembrar de algo maravilhoso - continuou o rapaz, emocionado. - Temos um lugar onde podemos esperar que Darryl nos envie dinheiro. Ou, pelo menos, podemos tentar. Não te lembras de Tom Shriver, o velhote do posto de gasolina? Não disse que tinha um meio-irmão numa aldeia desta região? Conseguiram chegar à aldeia e não tiveram dificuldade em encontrar a quinta de Shortie Shriver, o qual os convidou a entrar e partilhar a refeição. Indicou- lhes duas camas onde poderiam passar a noite. Shortie não era falador, mas a mulher mostrou-se mais loquaz, oferecendo-lhes mais comida, explicando-lhes onde encontrariam uma cabina telefónica e onde se situava o posto de correios. Nos dias que se seguiram, foi a única a falar com os jovens. Darryl emocionou-se ao ouvir a voz de Aline. Ao saber do roubo, concordou em enviar-lhe dinheiro. Contou-lhe que John Shepperd contrara detectives para os procurar e que as famílias dos dois jovens haviam estabelecido contacto. Disse que não tinha feito mais perguntas para não levantar suspeitas. Surpreendida, Aline ficou intrigada com esta afirmação: por acaso Darryl ficara implicado ao telefonar aos Shepperd no primeiro fim-de-semana da fuga e afirmado que se encontravam jùntos? O jovem negou a suspeita, afirmando que os pais de Aline acreditavam que a rapariga fugira após o fim-de-semana. Quando desligou, Aline sentiu um mal-estar. Não sabia porquê, mas alguma peça parecia não encaixar naquele fatídico quebra-cabeças. O dinheiro chegou três dias depois. Os jovens ajudavam os Shriver nas tarefas de casa, e à noite, quando as luzes se apagavam, os seus corpos nus encontravam-se nos catres dispostos junto à cozinha. Na despedida, Shriver levou-os à estação de autocarros. Enquanto esperava que Frank comprasse os bilhetes, Aline aguardava na sala de espera com as malas. Uma jovem pediu-lhe lume. Kathleen, assim se chamava a jovem, fazia parte de um grupo de rock e viajava pelo país dando concertos. Dois outros elementos da banda juntaram-se-lhes. Aline contou-lhes a sua fuga de casa e as vicissitudes que ela e Frank haviam vivido até então. Chegaram os demais elementos do grupo e decidiram ir tomar uma bebida à cafetaria. As raparigas desapareceram para ir aos lavabos. Aline ficou a saber que a sua nova amiga estava grávida de Tab, um dos membros da banda, e que se dirigiam para Los ângeles. Quando regressaram à mesa, os rapazes discutiam motas. - Bem - disse o mais alto do grupo dirigindo-se a Frank e Aline. - Se quiserem, podem vir connosco. - Fantástico! - entusiasmou-se Kathleen. - Obrigado, mas temos de seguir o nosso caminho - contrapôs Frank. - Não tocam um instrumento? - disse Kathleen. - Eu toco violino - disse Aline, ruborizando-se. - Ena, não ficava nada mal incluir um violino num conjunto de rock - admitiu Ben. - Era um estouro! - E tu, Frank, podes ajudar com o equipamento de som! - propôs outro. - Johnny tem razão - disse Tim. E foi assim que Aline e Frank deram por si num autocarro a caminho de Los Angeles. Naquela noite, quando adormeceram abraçados na estreita cama do apartamento de Los Angeles, um sorriso iluminava os rostos dos dois jovens. Frank e Aline já não estavam sozinhos, tinham amigos, podiam contar com alguém mais para além deles mesmos. Durante três semanas, a vida de ambos sofreu uma viravolta a tal ponto que começou a parecer-lhes remoto o tempo em que eram adolescentes em fuga. Aline ensaiava com os outros jovens, enquanto Frank se encarregava do equipamento de som. Aline falou com Darryl por telefone, contando-lhe as novidades. Depois, visitou a avó, com muitos pedidos de segredo sobre o paradeiro dos dois. A senhora pôs à disposição da neta um apartamento que possuía em Malibu. Aline despediu-se com um abraço. A mudança realizou-se dias depois. Os elementos da banda entristeceram-se ao saber que Aline e Frank os iam abandonar, mas quando o rapaz ofereceu a cada um uma cópia da chave do apartamento de Malibu, todos sentiram que estavam unidos por autênticos laços de amizade. Uma noite, Tab propôs-se levar Aline e Frank de carro a casa. Estes declinaram: a noite convidava a um passeio como os que davam em tempos, quando ambos deambulavam pelas ruas de Nova Iorque, de mãos dadas. Após percorrerem umas centenas de metros pelas ruas solitárias, perceberam que não estavam sozinhos. Mas era tarde demais. Tudo se passou repentinamente. Dois matulões surgiram por detrás deles, e outro apareceu pela frente. Os jovens detiveram-se, assustados, e os agressores lançaram-se sobre eles. Aline começou a gritar, mas um deles tapou-lhe a boca com a mão. Os outros atacavam Frank. Quando este gritou, um dos bandidos deu-lhe um murro na boca. Outro puxou de uma navalha e encostou-a ao pescoço do jovem. - Este está filado! - murmurou. O outro dirigiu-se à parede oposta e aproximou-se de Aline. Tentou desabotoar-lhe a blusa, mas, como ela se torcia sem cessar, acabou por rasgar o tecido. - Primeiro, o dinheiro - disse o que prendia Aline. O bandido que rasgara a blusa da jovem parecia extasiado com o que tinha diante dos olhos. - Eh, Gus, ela é muito boa. - sussurrou. - Canalhas! Bandidos! - vociferou Frank. - O dinheiro, já disse! - ordenou o que segurava Aline. - Vem ajudar-me. Vamos divertir-nos com ela. O rapaz resistiu quando o outro lhe revistou os bolsos e logo apanhou um soco no estômago. Entretanto, um dos bandidos aproximou-se de Aline e acariciou-lhe os seios. A jovem procurou escapar, mas deram-lhe duas bofetadas. - Se gritares, cortamos as goelas ao teu amigo... disse o homem. - É melhor que sejas simpática... Enquanto os bandidos lhe tocavam no corpo, Aline fechou os olhos. As lágrimas corriam pelas suas faces. Os seus sonhos iriam acabar naquele beco, às mãos daqueles bandidos que começavam já a desabotoar as calças, perante o horror de Frank, que apenas pensava como salvar Aline. O homem que o prendia contra a parede voltou-se para olhar os companheiros. - O primeiro que acabar vem substituir-me - disse. - Também quero entrar na festa. Frank deu-lhe um encontrão e desatou a correr pela rua. O outro ainda começou a persegui-lo, mas decidiu regressar onde os outros se encontravam para desfrutar da jovem. Frank correu desesperado, em busca de auxílio. Não suportava a ideia de ter deixado Aline sozinha com aqueles canalhas, mas também não sabia que fazer. Ao virar uma esquina, viu à distância a luz de um carro da Polícia, que fazia a ronda. Era a última coisa que Frank esperava encontrar. Ocultou-se numa porta, pensando, desesperado, que, se se dirigisse a eles, os dois seriam detidos. Mas, o que era pior? De que servia estarem juntos se ele não podia salvar Aline daqueles canalhas? Sem pensar, lançou-se a correr em direcção ao carro da Polícia. Aline esteve pouco tempo no hospital. Os agentes do carro patrulha chegaram a tempo de evitar o abuso dos bandidos, que haviam sido detidos. Além de ter recebido pontos de sutura na boca, Frank apresentava cortes e hematomas na cara. Mas quando os jovens abandonaram o hospital no carro da Polícia era claro que os agentes haviam chamado os seus progenitores e nenhum dos dois recuperaria a liberdade. A aventura chegara ao fim. Os pais de Aline chegaram de avião de Nova Iorque na manhã seguinte. John Shepperd olhou a filha de forma imperscrutável enquanto a senhora Shepperd a abraçava. A jovem percebeu, então, que estavam a acontecer coisas estranhas. Em primeiro lugar, o senhor Shepperd retirou a queixa, de forma que puderam regressar de imediato a casa. Mas, e isto era o mais curioso, retiraram a queixa contra Frank. Pouco depois, apresentou-se na esquadra o senhor Ferri, que acabava de chegar do aeroporto e viera buscar o filho. Quando viu as ligaduras na sua cara, abraçou-o. A rapariga não podia deixar de se perguntar: quem avisara o senhor Ferri? Em Nova Iorque, os amigos de Aline ligaram para saber como ela se encontrava. A conversa com Darryl foi comovente. A sua interpretação dos acontecimentos era que os Ferri e os Shepperd tinham mantido comunicação, pela qual os primeiros haviam descoberto que os Shepperd não eram hienas sanguinárias, e estes compreenderam que os Ferri não eram menos honrados do que eles. Aline ouviu o amigo com espanto. Se o que Darryl dizia era verdade, havia alguma esperança. Desde a saída da esquadra, a rapariga não dirigira a palavra aos pais e linitara-se a responder às perguntas com monossílabos. Mas ainda ficavam muitas dúvidas por esclarecer: quem avisara os Ferri? A resposta de Darryl foi contundente: o próprio John Shepperd fora a casa dos outros comunicar que os filhos haviam sido descobertos em Los Angeles, sãos e salvos. Ao chegar a casa, Aline reencontrou o violino e o prazer que a música lhe dava. Estava a tocar quando Caroline entrou na sala de música. As tentativas da amiga, que procurava restabelecer os laços quebrados; a jovem respondia com monossílabos. - Não podes perdoar-me, pois não? Não conseguiste esquecer. - disse Caroline, angustiada. - Esquecer. sim, Caroline, esqueci tudo excepto uma coisa. Que quando Frank e eu precisávamos de ajuda, encontrámo-la em desconhecidos ou em amigos novos que fomos fazendo pelo caminho. - Eu gosto de ti - disse a amiga. - Que posso fazer? Também aprendi alguma coisa durante a tua ausência. Aprendi que a traição revela o limite da nossa própria capacidade de amar os outros. E eu quero lutar pela nossa amizade e conhecer Frank. Se gosto de ti como amiga e se tu o amas, então eu... O importante é que ele e eú nos descubramos, pois temos em comum o facto de gostarmos de ti, cada um à sua maneira. Percebes o que quero dizer? - Sim - admitiu Aline. - Percebo, sim. Talvez seja suficiente para começarmos de novo. Naquela noite, John Shepperd disse à filha que precisava de falar com ela e levou-a para o seu gabinete. - Temos de falar - começou o pai. - Presumo que terás compreendido a minha vontade de negociar. Retirei a queixa e não quero prejudicar aquele rapaz. - Um pouco tarde, não achas? - Sim - admitiu o pai. - Nunca me perdoarás? - Não sei - respondeu a jovem. - Filha, nunca quis magoar-te. Quando vi o rosto do rapaz deformado pelos golpes que sofreu para tentar defender-te... Sinto-me culpado, nunca quis magoar-te. Mas tínhamos grandes planos para ti. - Pena que não me tenham consultado. - Não sejas cruel. A minha atitude é conciliadora. Conheci a família Ferri e parece-me excelente. - Ainda bem. - Filha, não queremos perder-te outra vez, se bem que esperemos que tu mesma reconsideres a tua história impossível com esse rapaz. - Papá, estou apaixonada por Frank e disposta a continuar a seu lado. Uma vez, proibiste-me e fugi de casa. Se voltares a fazê-lo, fugirei de novo. E assim até ser maior e então não terás maneira de me fazer voltar para casa. Por isso, nunca mais tentem nada contra Frank ou contra mim. Nunca mais. No dia seguinte, quando se encontraram, Frank e Aline voltaram a perder-se pelas ruas, abraçando-se e beijando-se. Aline falou da festa de fim de curso e do emprego que o pai lhe arranjara. Eufórica, a jovem abraçou-o. Ambos se sentiam confiantes de que as coisas seriam mais fáceis agora, se bem que se mantivesse o problema de onde se poderiam encontrara sós. Pensaram em Darryl e concordaram ir visitá-lo. Frank afirmou que a única solução para os seus problemas seria casarem o mais depressa possível. Há dias que Aline andava numa azáfama, trocando opiniões com Caroline, como nos velhos tempos. A entrega de diplomas foi emocionante. Quando chegou o momento de se dirigir à sala onde ela decorreria, Aline entrou pelo braço do pai. Sentia os olhos dos amigos em si. Era a heroina da noite, a ousada adolescente que se atrevera a fugir com o seu apaixonado. Aline lamentou que Frank não pudesse partilhar aqele momento. No dia seguinte, contar- lhe-ia os pormenores da festa. Casar com Frank. Como reagiriam os seus pais e os do jovem? Aline olhou em volta, buscando rostos conhecidos e... mas... aquela não era a senhora Ferri? Que fazia ali? Era ela, sim. E conversava com a sua própria mãe! Aline sentiu-se desconcertada. Voltou-se para o pai e percebeu que este a observava com ternura. O senhor Ferri aproximou-se para lhe dar os parabéns. E foi então que viu Frank. O rapaz sorria, divertido. Também devia ser cunplice daquela surpresa, por isso se calara quando ela falara na festa. A jovem dirigiu-se-lhe e, quando ia cumprimentá-lo, a música começou a soar. Aline olhou o pai, a mãe, o senhor e a senhora . Ferri, e depois Frank. Estendeu-lhe a mão. Frank pegou nela e começaram a dançar. Um murmúrio de reprovação sacudiu a sala. Alguns pares abandonaram a pista, e a seguir outros, de forma que, de súbito, Aline e Frank dançavam sozinhos. Então, sucedeu algo imprevisível: o senhor Shepperd tomou a cintura da mulher e começou a dançar junto deles. Imediatamente, foram imitados pelo senhor e pela senhora Ferri, seguidos de Darryl e Ginnie. Caroline pegou na mão do seu companheiro e juntou-se-lhes, e depois Márcia e o seu par. Todos foram regressando à pista. Aline abraçou-se a Frank e apenas conseguiu sussurrar: - Para sempre, para sempre... 96 fim