Índice: A bela e a era A sereia alice no pais das maravilhas Peter Pan O Rei Artur e os cavaleiros da távola redonda *** A_BELA_E_A_FERA Há muitos anos, em uma terra distante, viviam um mercador e suas três filhinhas . A mais jovem era, também, a mais carinhosa e isso, a havia feito merecer-se o apelido de "BELA". Um dia, o pai teve de viajar para longe à negócios. Reuniu as suas filhas e lhes disse: ¾ Adoradas meninas minhas, não ficarei fora por muito tempo. Na minha volta vos trarei presente. O que quereis? - As irmãs de Bela começaram logo a brigar entre si para receber o presente mais rico, enquanto ela permanecia à parte, para não sobrecarregar de pensamentos inúteis o velho homem. Enfim ele se voltou, dizendo : ¾ Tu não queres mesmo nada, Bela ? ¾ Se encontrares uma rosa, querido papai, a desejarei muito, porque neste país elas não crescem, respondeu Bela, abraçando-o forte. O homem partiu, conclui os seus negócios, pôs-se na estrada para a volta. Tanta era a vontade de abraçar as filhas, que viajou por muito tempo sem descansar. Estava muito cansado e faminto, quando, a pouca distância de casa, foi surpreendido, em uma mata, por furiosa trovoada, que lhe fez perder o caminho. Desesperado, começou a vagar em busca de uma pousada, quando, de repente, descobriu ao longe uma luz fraca. Com as forças que lhe restavam dirigiu-se para aquela última esperança. Chegou de fronte a um magnífico palácio, o qual tinha o portão aberto e acolhedor. Bateu várias vezes, mas sem resposta. Então, decidiu entrar para esquentar-se e esperar os donos da casa. O interior, realmente, era suntuoso, ricamente iluminado e mobiliado de maneira esquisita. O velho mercador defronte da lareira para enxugar-se , percebeu que havia uma mesa para uma pessoa, com comida quente e vinho delicioso. Extenuado, sentou-se e começou a devorar tudo. Atraído depois pela luz que saía de um quarto vizinho, foi para lá, encontrou uma grande sala com uma cama acolhedora, onde o homem se esticou, adormecendo logo. De manhã, acordando, encontrou vestimentas limpas e uma refeição muito farta. Repousado e satisfeito, o pai de Bela saiu do palácio, perguntando-se espantado por que não havia encontrado nenhuma pessoa. Perto do portão viu uma roseira com lindíssimas rosas e se lembrou da promessa feita `Bela. Parou e colheu a mais perfumada. Ouviu, então, atrás um rugido pavoroso e, voltando-se viu um ser monstruoso que disse: ¾ É assim que pagas a minha hospitalidade, roubando as minhas rosas ? Para castigar-te, sou obrigado a matar-te ! O mercador jogou-se de joelhos, suplicando-lhe para ao menos deixá-lo ir abraçar pela última vez as filhas. A fera lhe propôs, então, uma troca : dentro de uma semana devia voltar ou ele ou uma de suas filhas em seu lugar. Apavoradíssimo e infeliz, o homem retornou para casa, jogando-se aos pés das filhas e perguntando-lhes o que devia fazer. Bela aproximou-se dele e lhe disse: ¾ Foi por minha causa que incorreste na ira do monstro. É justo que eu vá .. - De nada valeram os protestos do pai, Bela estava decidida, e, por fim, passados os sete dias, partiu para o misterioso destino. Chegada à morada do monstro, encontrou tudo como lhe havia descrito o pai e, também, não conseguiu encontrar alma viva. Pôs-se então a visitar o palácio e, qual não foi a sua surpresa, quando, chegando a uma extraordinária porta, leu ali a inscrição com caracteres dourados: "Apartamento de Bela". Entrou e se encontrou em uma grande ala do palácio, luminosa e esplêndida. Das janelas tinha uma encantadora vista do jardim. Na hora do almoço, sentiu bater e se aproximou temerosa da porta. Abriu-a com cautela e se encontrou ante de Fera. Amedrontada, retornou e fugiu através da salas. Alcançada a última, percebeu que fora seguida pelo monstro. Sentiu-se perdida e já ia implorar piedade ao terrível ser, quando este, com um grunhido gentil e suplicante lhe disse: ¾ Sei que tenho um aspecto horrível e me desculpo ; mas não sou mau e espero que a minha companhia, um dia, possa ser-te agradável. Para o momento, queria pedir-te, se podes, honrar-me com tua presença no jantar. Ainda apavorada, mas um pouco menos temerosa, bela consentiu e ao fim da tarde compreendeu que a fera não era assim malvada. Passaram juntos muitas semanas e Bela, cada dia se sentia afeiçoada àquele estranho ser, que sabia revelar-se muito gentil, culto e educado. Uma tarde , a Fera levou Bela à parte e, timidamente, lhe disse: ¾ Desde quando estás aqui a minha vida mudou. Descobri que me apaixonei por ti. Bela, queres casar-te comigo? A moça, pega de surpresa, não soube o que responder, e assim para ganhar tempo, disse: ¾ Para tomar uma decisão tão importante, quero pedir conselhos a meu pai que não vejo há muito tempo ! A Fera pensou nisso um pouquinho, mas tanto era o amor que tinha por ela que, ao final, a deixou ir, fazendo-se prometer que após sete dias voltaria. Quando o pai viu Bela voltar, não acreditou nos próprios olhos, pois a imaginava já devorada pelo monstro. Pulou-lhe ao pescoço e a cobriu de beijos. Depois começaram a contar-se tudo que acontecera e os dias passaram tão velozes que Bela não percebeu que já haviam transcorridos bem mais de sete. Uma noite, em sonhos, pensou ver a Fera morta perto da roseira. Lembrou-se da promessa e correu desesperadamente ao palácio. Perto da roseira encontrou a Ferra que morria. Então, Bela a abraçou forte, dizendo: ¾ Oh! Eu te suplico : não morras ! Acreditava Ter por ti só uma grande estima, mas como sofro, percebo que te amo. Com aquelas palavras a Fera abriu os olhos e soltou um sorriso radioso e diante de grande espanto de Bela começou a transformar-se em um esplêndido jovem, o qual a olhou comovido e disse: ¾ Um malvado encantamento me havia preso naquele corpo monstruoso. Somente fazendo uma moça apaixonar-se podia vencê-lo e tu és a escolhida. Queres casar-te comigo agora ? Bela não fez repetir o pedido e a partir de então viveram felizes e apaixonados. A_PEQUENA_SEREIA No mais profundo dos abismos do mar, existia um país fabuloso, habitado pelo multicolorido povo marítimo. Entre as muitas casinhas de coral e madrepérola surgia o grandioso palácio do rei Triton, o poderoso soberano daqueles lugares distantes. Estava sempre muito ocupado, tomado por tantos afazeres de palácio e nos últimos dias estava mais ainda. Estava sendo organizada uma grande festa em honra de Ariel, a sua filha mais nova e predileta, que logo festejaria os dezesseis anos. Havia momentos intensos, sobretudo para o espetáculo mais esperado : a sereiazinha cantaria, enfim, algumas doces melodias com sua voz suave. No entanto, com a desculpa de fazer-se ajudar pelas irmãs para treinar o canto, Ariel estava nos jardins do palácio e perguntava com insistência a uma e a outra sobre o mundo dos homens, que veria pela primeira vez naquela tarde, como presente de aniversário, obtendo a permissão de subir à superfície. ¾ Mas, realmente, são assim belos os homens ? ¾ E com isto o que se faz? Dizia mostrando às irmãs um pente e outros objetos que havia encontrado no fundo do mar, resultado de algum naufrágio. ¾ E com isto ? E com aquilo ? Os poucos dias que faltavam ao grande acontecimento passaram velozes e logo veio a tarde tão esperada. Ariel apresentou-se ao povo do mar adornada com magníficas pérolas e lindíssimos colares que punham em destaque a sua fulgurante beleza, tanto que na sala se ouviu um forte "Oh, Oh..."de grande admiração. Triton estava orgulhosíssimo , fez um longo discurso e depois tomou à parte a sua doce filha e lhe disse: ¾ De agora em diante poderás ir ver o mundo dos homens, mas presta atenção: não te faças nunca ver por eles. Eles se assustariam por causa de teu aspecto estranho e te machucariam. Não tinha ainda acabado de pronunciar estas palavras e já a sereiazinha nadava para a superfície do mar. Qual não foi o seu espanto quando viu pela primeira vez o sol, o céu, os belíssimos pássaros que voavam alegres e no horizonte uma grande ilha. Ariel logo perdeu a noção do tempo e percebeu de repente que a luz do dia estava sumindo. Estava chegando um vento forte e grossas nuvens carregadas de chuva e trovões. A sereiazinha estava para mergulhar e voltar para casa, quando viu atrás de si um enorme navio, ao sabor das ondas, com o mastro principal quebrado, o leme descontrolado, e os marinheiros que corriam desesperados no convés. Aguçando a vista, a sereiazinha descobriu entre eles o príncipe que comandava o navio, o qual, exatamente naquele momento, surpreendido por uma onda altíssima, era jogado ao mar. Ariel nadou rápida para ele e o socorreu um instante antes de submergir. Levou-o, então, para longe do navio e rápida, o colocou sobre a praia mais próxima, a salvo. Logo lembrou as palavras do pai e se afastou velozmente, conseguindo esconder-se de uma moça que chegava para ajudar os náufragos. A sereiazinha se escondeu atrás de uns arbustos para admirar o príncipe com olhares sonhadores. Quando o príncipe abriu os olhos, viu a moça e acreditou que era a sua salvadora, por isso pediu para casar-se com ela em sinal de gratidão. Ariel estava desesperada. Em poucos minutos estava muito apaixonada pelo belíssimo príncipe e não era justo que ele não soubesse nada sobre sua existência! Nadou, certo, até a escura gruta da bruxa do mar e esta com sua voz grasnante lhe disse: ¾ Já sei que queres tornr-se humana e conquistar o coração do teu amado. Eu posso fazer essa mágica, mas em troca quero a tua voz suave. Aceitas? ¾ Sim respondeu prontamente Ariel. Logo depois viu a cauda transformar-se em duas formosas pernas torneadas. ¾ Mas, lembra, disse também a bruxa, se o príncipe se casar com outra mulher, tu te tornarás espuma branca do mar ! Depois, magicamente, enviou-a à praia do príncipe, onde devido à emoção caiu desmaiada. Na manhã seguinte, o jovem passeava como de costume pela praia, quando encontrou a sereiazinha ainda desmaiada. Recolheu-a e a levou para o seu castelo. Quando Ariel abriu os olhos e se viu ante o belo príncipe, quase desmaiou de novo de tanta emoção. Infelizmente, não tinha voz para lhe declarar o seu amor e devia contentar-se com expressões de mímicas para comunicar-se com ele. Ariel teve cuidados especiais e logo se refez. O príncipe lhe tinha grande simpatia e passeava com ela por longos períodos, levando-a aos lugares masi secretos do reino. Freqüentemente, paravam o barco à sombra das árvores, ele lhe lia doces poesias no silêncio de grutas marinhas. Haviam velejado sozinhos com o grande navio do reino. A felicidade de Ariel era completa, quando, um dia, o príncipe, com voz grave e triste lhe disse: ¾ Querida Ariel, dói muito mas devo interromper estes dias maravilhosos. Prometi há tempos a uma moça que me casaria com ela, pois me salvou a vida em uma tempestade e agora chegou o momento. A sereiazinha estava desesperada : não somente perdia o príncipe, mas sabia que era ela que devia casar-se com ele, porque era ela a sua salvadora verdadeira ! Uma noite, enquanto chorava desesperada na praia, uma de suas irmãs saiu da água e lhe trouxe um punhal, dizendo: ¾ Mata o príncipe com este punhal mágico : serás novamente a sereiazinha e poderás voltar a viver conosco. Ariel tomou o punhal e atirou longe, pois não poderia nunca fazer qualquer mal ao seu amado. Dali a poucos dias foram celebradas as núpcias e Ariel se transformou em branca espuma do mar. Desde então, cada manhã, quando o príncipe passeia na praia, um pouco de leve espuma chega sempre, docemente, a beijar-lhe os pés. ALICE_NO_PAÍS_DAS_MARAVILHAS Era uma vez uma menina chamada Alice. Numa tarde de verão, ela estava sob a sombra de uma árvore, ao lado de sua irmã mais velha que lia um livro sem nenhuma figura. Achando aquilo muito chato, Alice foi ficando cada vez mais sonolenta quando, de repente, apareceu um coelho apressado com um enorme relógio exclamando: - AHH!!! Nossa! É tarde, é tarde, é tarde, muito tarde! O coelho entrou numa toca e a menina foi atrás. De repente, ficou tudo muito escuro e Alice sentiu que estava caindo, caindo, caindo num poço que parecia não ter fim. Ai... de repente, plaft! Tinha caído sentada num monte de folhas secas. Olhando ao redor, ela viu uma pequena porta. Quis passar, mas não conseguiu, porque a porta era minúscula. Havia por ali uma lata em que estava escrito "Coma-me". Abriu a lata mais que depressa e, vendo que eram biscoitos, começou a comer. Pra surpresa de Alice, quanto mais ela comia, menor ficava em tamanho. Foi ficando pequenina, pequenina e assim conseguiu passar pela portinha. Saiu então num jardim onde viu flores falando e cantando. Isso a deixou super - admirada. Perguntou então às flores: - Como posso crescer novamente? - Siga em frente, responderam em coro. Alice obedeceu. Andou, andou, e encontrou em cima de um cogumelo um bichinho azul que lhe perguntou: - Que deseja, menina? Percebendo a tristeza de Alice, o bichinho azul disse: Coma do cogumelo, mas coma só do lado direito, senão você diminui. Minutos depois de comer, Alice voltou ao seu tamanho normal. Muito feliz, ela levou consigo mais dois pedacinhos do cogumelo. Sem rumo certo, Alice continuou a andar quando, inesperadamente, encontrou um gato risonho: - Pode me indicar o caminho que devo seguir? - Hum! Mas pra onde deseja ir? - perguntou o gato. Não sei!... - Hum! À direita, mora o Chapéu; à esquerda, mora a Lebre de Março. Haha! - Tanto faz, menina, os dois são malucos, disse o gato. - Mas, então, tenho eu que viver entre doidos? - Hum! Hum! Dê trinta passos pra frente, trinta passos pra direita e mais trinta pra esquerda. Ali existe uma árvore que orienta. Sem entender nada, mas levada pela intuição, Alice chegou na casa da Lebre de Março e viu a Lebre e o Chapéu tomando chá ao ar livre. Sentou-se à mesa com os dois. - Quer mais vinho, Chapéu? - perguntou a Lebre. - Oh! Oh! Oh! Sim, por favor, querida, um pouco mais de leite sem manteiga com casca de pão - respondeu ele. Aturdida, sem entender nada, Alice saiu dali em disparada. Mais à frente, ela viu os soldados da Rainha de Copas pintando de vermelho as flores brancas que ali existiam. - Mas por que estão pintando de vermelho as flores brancas? - Plantamos flores brancas por engano. - Como a Rainha só gosta de flores vermelhas, se não pintarmos as flores brancas de vermelho, ela manda cortar nossas cabeças, responderam eles. No Reino de Copas, tirando essa maluquice toda, tudo corria normalmente. Um dia, porém, um soldado roubou da Rainha um pedaço de bolo. Foi preso pra ser julgado e condenado. E Alice, mesmo sem saber do acontecido, foi convocada pra testemunhar. Estava pra se iniciar o julgamento, quando algo muito estranho aconteceu. Alice começou a crescer, a crescer... e ficou muito alta, com mais de um quilômetro de altura. Os soldados então começaram a correr atrás dela pra expulsá-la do Reino, porque assim mandava a lei. Nesse instante, Alice acordou e viu-se deitada no colo de sua irmã que lia um livro sem figuras. Ah, ah, ah! Felizmente, tudo tinha sido só um sonho!!!. PETER_PAN Em uma límpida tarde de verão, num quartinho de uma casa do centro de Londres, os pequenos Wendy, John e Michael mal se haviam deitado. A mãe os havia deixado um pouco antes, saudando-os com ternura e, também, a meiga cachorrinha Nanny havia terminado de distribuir afetuosos beijos. De repente, pela janela deixada aberta, entrou voando um rapazinho desconhecido, completamente vestido de verde. Com um grande sorriso enfeitiçante convidou Wendy a segui-lo à ilha que não existe. Nanny, farejando algo estranho, voltou sobre os seus passos e vendo o que acontecia, jogou-se sobre o meninote, o qual rápido voou com um grande pulo. Foi tão veloz, que a sua sombra se desprendeu e ficou no assoalho. Wendy a recolheu, dobrou-a e a pôs na sua gavetinha, para devolvê-la na primeira ocasião. Wendy havia reconhecido, enfim, na estranha figura Peter Pan, o menino que não queria crescer. Realmente, Peter, quando nascido, de poucos dias, voou acompanhado por uma fada à Ilha - que -- não - existe, a ilha onde se realizam os sonhos de todas as crianças e ali ele desejou não se tornar nunca grande. O desejo foi ouvido e agora Peter era um menininho com um pouco mais de 13 anos. Na tarde seguinte, Peter Pan em companhia de uma minúscula fadazinha luminosa, chamada Trilly, veio procurar a sombra e não a encontrando, pôs-se a chorar desconsolado. Wendy, então, se achegou dizendo-lhes : - Se não querem perder esta magnífica ocasião, venham comigo, Peter e Trilly ! e derramando sobre as costas um pouquinho de pó mágico das fadas , ergueu-se voando e atravessou a janela. John e Michael não deixaram que se repetisse uma Segunda vez o convite e, num jato, voaram todos para a Ilha - que - não - existe. Peter não queria Esquecer o endereço e por isso continuava a repetir em alta voz: - Segunda estrela à direita de depois reto até a Manhã. Na verdade, era muito fácil. Voar era agradabilíssimo e muito veloz. Antes que pudesse imaginar, já se viram diante da ilha, mas a acolhida não foi das melhores: em terra, logo, o Capitão Gancho e seu bando de piratas perceberam a presença deles e procuravam acertá-los com uma grande bala de canhão. Desviado do golpe, Peter desceu à terra em uma pequena clareira da mata e ali foi envolvido por um bando de crianças exultantes pela volta do seu chefe e dos hóspedes. Foi organizado um banquete cheio de iguarias e todos se divertiram muito. Mais tarde o alegre grupo se refugiou em uma casinha subterrânea, muito acolhedora e confortável. Já no dia seguinte começaram as aventura. Logo de manhã bem cedo chegou Trilly ofegante que disse logo: - Rápid, Peter, foi raptada a indiazinha Lis Tigrato, a filha do grande Chefe Urso Amigo. Com certeza foi o malvado pirata Capitão Gancho e deve tê-la levado para o seu navio. Rapidíssimos, todos os meninos pegaram suas espadas, inclusive Wendy e os irmãos, e se lançaram ao ataque em direção à baía, onde se encontrava ancorado o navio pirata. Gancho havia organizado o seqüestro justamente para atrair Peter e matá-lo de uma vez por todas. Apenas o viu chegar, gritou: - Peter Pan deve ser deixado para mim! Jogou-se com tudo contra ele a plena carga. Quando Peter viu que Gancho chegava, pediu aos seus fiéis aliados que o ocupassem, enquanto ele, sorrateiramente, se introduziria no navio para salvar a pequena pele-vermelha Lis Tigrato. Assim fez e em poucos instantes a indiazinha estava a salvo nos braços do Urso Amigo. Mas Trilly lá lhe dizia apavorada: - Rápido, Peter. Agora Gancho conseguiu capturar Wendy e ameaça jogá-la como comida para o crocodilo Triturador. Peter ainda ria quando se lembrava do susto do Capitão Gancho. Durante a batalha o crocodilo lhe havia devorado uma mão. Mas, percebeu o perigo que estava para lhe cair em cima. O crocodilo desde então o olhava com raiva e por isso fora chamado de Triturador. O nosso amigo partiu a toda e chegou um segundo antes que Wendy fosse jogada ao mar. Então se atirou com a espada desembainhada contra o Gancho, o qual, pego de surpresa, se apoiou com força na amurada do navio. O ímpeto foi tal que a madeira se rompeu e o pirata se precipitou bem no meio da boca escancarada do Triturador. Todos se colocaram em redor de Peter Pan para congratular-se e Wendy como reconhecimento lhe deu um grande e afetuoso beijo. Passaram alguns dias em alegres festas, mas logo aquela vida de fantasia cansou Wendy e seu irmãos. Um dia, a meninota se achegou a Peter Pan e lhe disse: - É muito bonito ficar aqui com vocês, mas o que dirá a mamãe devido a nossa ausência? Foi organizada a viagem de retorno na mesma tarde. Peter quis acompanhar pessoalmente as três crianças ao seu quartinho do centro de Londres. Também Trilly estava junto e as despedidas comoventes não acabavam mais. Finalmente, Wendy, John e Michael dormiram e Trilly e Peter Pan puderam voltar à ilha - que - não - existe, seguros de que não seriam nunca mais esquecidos. ------ #extPart_000_01BEB315.3C0B2100-- O Rei Artur e os cavaleiros da távola redonda Rosemary Sutcliff diz, na nota introdutória aos seus três livros sobre este ciclo, que o Rei Artur real deve ter sido um chefe guerreiro romano-bretão de algum momento da Idade Média. Especula-se que tenha vivido no século V, mas sua lenda contém elementos posteriores ao século XI. O conto aqui reproduzido veio de uma balada em inglês do século XV, e escolhi a versão que Heinrich Zimmer analisa em A conquista psicológica do mal. Sir Gawain e a Dama Abominável Em companhia de alguns de seus jovens cavaleiros, entre eles sir Gawain, o rei Artur estava um dia caçando na floresta. Todos conheciam bem a região e não esperavam nenhum acontecimento miraculoso. No que o rei esporeou seu cavalo e se adiantou, distanciando-se deles um pouco, apareceu-lhe à frente, de súbito, um grande cervo. O rei o seguiu e, mal havia cavalgado meia milha, o abateu. Desmontou, atou o cavalo a uma árvore, sacou a faca de caça e começou a preparar a presa. Enquanto estava debruçado sobre ela, num pequeno trecho coberto de musgo, percebeu que estava sendo observado; ao erguer os olhos viu diante de si um cavaleiro bem armado, de aspecto ameaçador, "cheio de força e grande em poder". "Sede bem-vindo, rei Artur!", disse o homenzarrão. "Afrontais-me há muitos anos, e por isso hei de vingar-me. Vossos dias de vida estão contados!". Assim ameaçado de morte imediata, o rei prontamente replicou, censurando, que pouca honra teria o cavaleiro com tal façanha. "Estais armado, e eu apenas vestido de verde, sem espada e sem lança". E indagou o nome de seu desafiante. "Meu nome", disse o homem, "é Gromer Somer Joure". O nome nada significava para o rei. O argumento do soberano, no entanto, tocara num delicado ponto de honra cavalheiresca e o homenzarrão, protegido por sua armadura, viu-se forçado a ceder um pouco - não totalmente, mas um pouco. A condição imposta ao rei para permitir que se fosse constitui o tema e a trama deste grotesco romance. Sir Gromer Somer Joure exigiu que sua indefesa vítima jurasse voltar àquele mesmo local no mesmo dia do ano seguinte, desarmado como agora, vestindo apenas seu traje verde de caçador, porém trazendo, para resgatar a vida, a resposta a este enigma: "O que é que uma mulher mais deseja no mundo?" O rei deu sua palavra e retornou, muito abatido, à companhia dos cavaleiros. Seu sobrinho, sir Gawain, notou-lhe a melancolia do rosto e, chamando-o à parte, indagou-lhe o que acontecera. O rei contou-lhe o segredo. Cavalgando ligeiramente afastados dos demais, ambos deliberaram, e finalmente Gawain deu uma excelente sugestão: "Deixai que preparem vosso cavalo para uma viagem por terras estranhas e a quem quer que encontreis, seja homem ou mulher, perguntai o que pensam do enigma. Cavalgarei em outra direção, inquirindo todos os homens e mulheres, a ver o que consigo; anotarei todas as respostas num livro." Por um caminho o rei, Gawain por outro, Perguntando a mulheres, a homens e a todos: As mulheres, que é que elas mais querem? Uns disseram: estar bem enfeitadas; Outros: juras galantes - gostam delas; Outros: que homem vigoroso As tome nos braços, beijando-as sem demora. Alguns disseram isso, alguns aquilo, Foram muitas as respostas a Gawain. E tantas delas sir Gawain ouviu Que, em extensão e engenho, deram livro; À corte, no regresso, De seu trazia o rei livro também, Um do outro olhou todo o escrito: "Isso não falhará", Gawain falou. "Por Deus", lhe disse o rei, "temo ser pouco, Um pouco mais quero buscar ainda". Só faltava um mês. O rei, inquieto, apesar da quantidade de respostas recolhidas, esporeou o cavalo e se aventurou na floresta de Inglewood, encontrando ali a bruxa mais feia já vista por olhos humanos: rosto vermelho, nariz destilando muco, grande boca, dentes amarelos pendendo-lhe sobre o lábio, pescoço comprido e grosso e pesados seios dependurados. Levava ás costas um alaúde e cavalgava um palafrém ricamente encilhado. Era uma visão inacreditável, a de tão horrenda criatura a cavalgar radiosa. Vindo diretamente ter com o rei, saudou-o e avisou, sem rodeios, que nenhuma das respostas que ele e Gawain haviam obtido serviriam para nada. "Não vos ajude eu, e estareis morto", disse ela. "Concedei-me apenas uma coisa, senhor rei, e garantirei vossa vida; caso contrário, perdereis a cabeça". "Que quereis dizer, senhora?" - perguntou o monarca. "A que vos referis, dizendo que minha vida está em vossas mãos? Falai, e prometo-vos o que desejardes". "Pois bem", replicou a horrenda anciã, "assegurai-me que dar-me-eis em casamento um de vossos cavaleiros. Seu nome é sir Gawain. Proponho-vos um acordo: se vossa vida não for salva por minha resposta, meu desejo será vão; porém, se ela vos salvar, havereis de conceder-me ser a esposa de Gawain. Decidi agora, e depressa, porque assim tem que ser, ou estareis morto". "Santa Maria!" exclamou o rei. "Não concederei autorização a sir Gawain para desposar-vos. Tal coisa diz respeito somente a ele". "Bem", replicou ela, "retornai agora ao castelo e tentai persuadir sir Gawain. Apesar de feia, sou alegre". "Oh, Deus!", exclamou ele, "que desgraça se abate sobre mim!". O rei Artur retornou ao castelo e seu sobrinho Gawain respondeu-lhe cortesmente: "Possa eu morrer em vosso lugar! Casar-me-ei com ela, ainda que seja um diabo tão feio como Belzebu - ou não serei vosso amigo". "Graças, Gawain", disse Artur, o rei, "de todos os cavaleiros que jamais encontrei, levais a palma". Dona Ragnell era o nome da bruxa. Quando o rei Artur, voltando, fez-lhe a promessa, em seu nome e do sobrinho, ela respondeu: "Senhor, sabereis agora o que as mulheres desejam acima de tudo. Uma coisa habita-nos todas as fantasias, e a conhecereis: acima de qualquer coisa, desejamos ter soberania sobre o homem". Disse ainda ao rei que o gigantesco cavaleiro seria tomado pela ira ao ouvi-lo. "Maldirá aquela que vos ensinou, porque terá perdido seu trabalho". O rei Artur galopou através de lama, pântano e charco para o encontro com sir Gromer Somer Joure; no momento em que chegou ao lugar combinado, deparou-se com o outro. "Adiantai-vos senhor rei", disse-lhe o desafiante armado, "vejamos qual será vossa resposta". O rei Artur estendeu-lhe os dois livros, na esperança de que alguma das respostas obtidas fosse suficiente, libertando-o e ao seu sobrinho do indesejável compromisso. Sir Gromer percorreu as respostas uma a uma. "Não, não, senhor rei", disse ele, "sois um homem morto". "Esperai, sir Gromer. Ainda tenho uma resposta". O outro se deteve para escutar. "Acima de tudo o mais", disse o rei, "as mulheres desejam a soberania - é o que lhes apraz, e o seu maior desejo". "E a ela, que tal vos contou, sir Artur, suplico a Deus que possa vê-la arder em uma fogueira. É minha irmã, dona Ragnell, aquela velha bruxa; cubra-a Deus de vergonha, pois se não fosse por ela, ter-vos-ia subjugado... Que tenhais um bom dia!" O peculiar cavaleiro há muito abrigava rancor contra o rei Artur, que outrora o despojara de suas terras, concedendo-as, "com grande injustiça", a sir Gawain. Perdera-se agora sua oportunidade de vingança e foi-se, enfurecido, pois jamais teria novamente a sorte de encontrar seu inimigo desarmado. O rei Artur voltou a cavalo para a planície, logo encontrando dona Ragnell. "Senhor rei", disse ela, "sinto-me feliz porque tudo correu bem, como vos disse que ocorreria. Agora, desde que vos salvei a vida, Gawain deve desposar-me. É um completo e gentil cavaleiro; casar-me-ei publicamente, antes de permitir-vos separá-lo de mim . Cavalgai à frente; seguir-vos-ei até a corte, rei Artur". Muita vergonha causava ela ao rei; mas ao chegarem à corte, e todos se indagarem atônitos de onde teria vindo tamanha monstruosidade, o cavaleiro Gawain adiantou-se sem qualquer sinal de relutância e virilmente honrou a promessa de desposá-la. "Deus seja louvado", dona Ragnell disse, "Por vós quisera ser mulher formosa, Por ser vossa vontade assim tão boa". Todas as damas e cavaleiros da corte apiedavam-se de sir Gawain, aquelas chorando em suas câmaras, porque ele teria que se casar com uma criatura tão pavorosa e horrível. Tinha dois dentes como presas de javali, um de cada lado, de um palmo do comprimento, um apontando para cima e outro para baixo; a boca era enorme, cercada de horríveis cerdas. Tampouco se contentara com um casamento discreto e tranqüilo (tal fora o desejo da rainha), mas insistira em uma missa solene e num banquete no grande salão, a que todos comparecessem. Durante a festa mastigou três capões, outras tantas aves e vários pratos de assados, estraçalhando-os com as longas presas e as unhas até só restarem os ossos. Sir Kai, companheiro de Gawain, rapaz impetuoso e descortês, sacudiu a cabeça e disse: "Quem quer que beije essa dama, terá medo dos próprios beijos". E a noiva continuou a mastigar até a carne se acabar. Nessa noite, no leito, a princípio sir Gawain não conseguiu se obrigar a voltar o rosto e encarar o focinho pouco apetitoso da noiva. Após algum tempo, no entanto, ela rogou: "Ah, sir Gawain, já que nos casamos, demonstrai-me vossa cortesia na cama. Por direito, isso não me pode ser negado. Se eu fosse bela, não vos comportaríeis assim; não fazeis a mínima conta dos laços matrimoniais. Em consideração a Artur, beijai-me, ao menos; peço que atendais ao meu pedido. Vamos, vejamos quão ardente podeis ser!" O cavaleiro e leal sobrinho do rei reuniu cada pedacinho de coragem e gentileza. "Farei mais", disse, muito amável, "farei mais do que apenas beijar, por Deus!". E, ao se voltar, deparou com a mais formosa criatura que jamais vira. Ela perguntou: "Qual é vosso desejo?" "Oh, Jesus!", exclamou ele, "quem sois?" "Senhor, sou vossa esposa, certamente, por que sois tão indelicado?" "Oh, senhora, mereço que me censureis; eu não sabia. Sois bela a meus olhos - apesar de terdes sido a mais feia criatura que meus olhos já viram. Ter-vos assim, senhora, muito me agrada!". Tomou-a nos braços, beijou-a, e sentiram-se muito felizes. "Senhor", avisou ela, "minha beleza não durará. Ter-me-eis assim, mas apenas durante metade do tempo. Esse é o problema: deveis escolher se me preferis bela à noite e horrenda durante o dia, diante dos olhos de todos, ou bela de dia e horrenda à noite". "Oh, Deus, a escolha é difícil", replicou Gawain. "Ter-vos bela apenas à noite entristeceria meu coração, mas se decidir ter-vos bela durante o dia, dormirei em leito de espinhos. Quisera escolher o melhor, mas não faço idéia do que dizer. Querida senhora, que seja como desejais; deixo a escolha em vossas mãos. Meu corpo, meus bens, meu coração e tudo o mais são vossos para que deles façais o que quiserdes; juro-o diante de Deus". "Ah, dou graças, cortês cavaleiro!", exclamou a dama. "Abençoado sejais, entre todos os cavaleiros do mundo! Agora estou livre de meu encantamento, e ter-me-eis bela e atraente tanto de dia como à noite". Então ela contou a seu deleitado esposo como sua madrasta (que Deus tenha piedade de sua alma!) a encantara com suas artes de magia negra, condenando-a a permanecer sob aquela forma até que o melhor cavaleiro da Inglaterra a desposasse e lhe concedesse a soberania sobre seu corpo e seus bens. "Assim fui deformada", disse ela. "E vós, cortês sir Gawain, concedestes-me, sem condições, a soberania. Beijai-me agora, senhor cavaleiro, eu vos suplico; alegrai-vos e regozijai-vos". E desfrutaram deleitosamente um do outro. Já se passara o meio dia. Disse o rei: "Senhores todos, vejamos Se sir Gawain ainda vive. Por sir Gawain ora temo Não vá tê-lo morto a bruxa!, Quisera sabê-lo já. Vamos", disse Arthoure, o rei. "Vejamos seu despertar E como se houve de noite." À câmara andaram juntos. "Sir Gawain, de longo sono Acordai!" - chamou o rei. E Gawain: "Santa Maria! Permitido, Sim, por certo, dormiria muito mais, Pois bem feliz eu me sinto. Aguardai, já abro a porta. Para que em meu bem creiais, Já quero, sim, levantar-me". Sir Gawain cumpriu o dito; tomou A dama que, bela, levou à porta: Em camisa, frente ao fogo, De ouro, os longos cabelos. "Vede! Eis meu prêmio, minha esposa", Disse a Arthoure sir Gawain. "Dona Ragnell, sir, é esta, Que vossa vida salvou".