TRAMAS DA SEDUÇÃO Kim Lawrence Dormindo com o chefe? Ao conhecer Ben Arden, Rachel teve certeza de que era um conquistador barato, e tudo o que ele queria era levar para a cama todas as mulheres que cruzavam seu caminho. Sedutor e irresistível, ele sabia do poder que exercia sobre o sexo oposto... Mas Rachel não se deixaria seduzir... Principalmente porque Ben Arden era seu chefe! Ben não estava acostumado a ouvir "não" como resposta. E Rachel teria de ser muito forte para resistir ao seu assédio... Afinal, ela era mais uma que Ben queria pôr na sua lista (não no seu coração!). Título Original: The seduction scheme Disponibilização: Marisa Helena /Digitalização: Marina Revisão: Ingrid / Formatação: Edina CAPÍTULO I O garçom levantou a tampa prateada da caixa. E sorriu de satisfação, vendo a surpresa da atraente jovem. Rachel estava realmente surpresa. Ela sabia que Nigel ia pedi-la em casamento naquela noite, mas não imaginava um gesto tão teatral assim. Com a boca entreaberta, olhou para o diamante na pequena almofada de veludo, como se ele fosse pular dali e mordê-la a qualquer minuto. Nigel Latimer agitou-se na cadeira, satisfeito com a reação de Rachel, e acenou com a cabeça, dispensando o garçom. - Ele não vai te morder - afirmou, alcançando e segurando a mão dela. Então, pediu: - Coloque no dedo. Meu Deus, Rachel, você está trêmula! Ela era sempre tão controlada, que ele estava maravilhado com o efeito de seu romântico gesto. Rachel, então, desviou o olhar do anel reluzente para a mão que cobria a sua. - Essa foi uma grande surpresa - mentiu. Seria uma ofensa, se puxasse a mão, então não o fez. Ficara óbvio, durante semanas, que aquele momento ia chegar. Ela já havia pensado muito sobre isso, mas agora, que o momento tinha chegado, não fazia ideia do que dizer. Que hora para ficar indecisa! Olhou, então, para o rosto belo e confiante de Nigel, seus traços bem definidos e os cabelos prateados que lhe davam um ar distinto que fazia muito sucesso entre seus pacientes. Ele tinha realmente a aparência de um cirurgião bem-sucedido. Esperava que ela dissesse "sim", e aquele era um homem que qualquer mulher desejaria para marido: bonito, gentil, rico. Ela às vezes se perguntava como um homem como aquele pudera permanecer solteiro até a casa dos quarenta. Achara perturbador, quando ele dissera que ela era a mulher perfeita, por quem ele estivera esperando toda sua vida. Mulheres perfeitas sempre diziam a coisa certa na hora certa. Como Nigel reagiria, quando descobrisse que ela era menos perfeita do que ele imaginava? Ela o amava? Mas isso realmente importava? Coisas como companheirismo e compatibilidade não seriam mais importantes? Ela estava com trinta anos agora, já passara da idade de ter expectativas e fantasias de adolescente. Aqueles pensamentos passaram por sua cabeça num piscar de olhos. Ela sentiu gotículas de suor emergindo dos poros, enquanto pensava na coisa certa a dizer. Mas o que há de errado comigo? Perguntou a si mesma. Os primeiros sinais de preocupação apareceram no rosto de Nigel, quando o garçom reapareceu, anunciando um telefonema urgente para a srta. French. Não foi apenas o desejo de respirar que fez com que ela se levantasse rapidamente. A única pessoa que sabia onde ela estava era a babá de sua filha. Retornou alguns momentos depois, e era óbvio que as notícias não eram boas. - O que há de errado, querida? - Nigel levantou-se em um segundo. Rachel parecia apavorada. - Charlie desapareceu! - Ah, você está aí! - a criança disse a Benedict Arden, cruzando os braços. - Viram? Eu disse que não estava sozinha. O comentário foi endereçado ao casal de meia-idade parado na calçada e que olhava para Benedict com ar de desaprovação. Aparentando ter todos os seus quase trinta e quatro anos, Benedict exibia agora um sorriso irônico e perguntava a si mesmo quem era aquele garoto. - Esse é seu pai? - A pena se misturava com ceticismo na voz da mulher. - Meu Deus, não! - exclamou Benedict, dando um passo para trás. Usava uma jaqueta de couro da aeronáutica, herança de seu avô. A jaqueta combinava com o desleixo dos cabelos, compridos o bastante para ficarem alvoroçados. Olhando, então, para o delicado rosto da criança, descobriu que não era um garoto, mas uma garota, vestindo jeans andróginos e camiseta. Mas a descoberta não suavizou sua expressão. - Ele é meu irmão - ela continuou. - Meu meio-irmão na verdade. Meu pai casou-se com sua mãe, o pai dele morreu, provavelmente por causa da bebida. - Você acha responsável, deixar uma criança vaguear pelas ruas a esta hora da noite? - Os lábios da mulher se apertaram, enquanto ela o olhava de cima a baixo. - Não, eu não acho - Benedict respondeu honestamente. - Esses dois tentaram me obrigar a ir com eles, Steve. - A criança tinha uma voz muito clara e penetrante. - Mamãe disse que eu não devo falar com estranhos. - Nós só íamos levá-la ao posto policial. - Então, tudo bem - ele respondeu, simpatizando com o casal de samaritanos. - Tudo bem quando acaba bem - disse o outro homem, pegando firmemente o braço de sua relutante mulher, que continuou a lançar olhares suspeites para Benedict, enquanto era levada pelo marido. - Pensei que eles nunca iriam embora - disse a criança, soltando abruptamente a mão que estivera segurando. - Você foi muito útil. Benedict suspirou. Consciência, às vezes, era algo muito doloroso de se ter. - Eles queriam apenas ajudar, e isso foi muito gentil. - Eu não preciso de ajuda. - O posto policial me parece uma boa ideia. Não importava quão esperta aquela criança aparentasse ser, ele não podia deixá-la sozinha numa área como aquela. - A polícia até acreditaria neles - afirmou ela, apontando com a cabeça para o casal que se afastava. - Você não parece o tipo de pessoa em quem a polícia acreditaria. Eu só escolhi você por causa da sua aparência desprezível. Eu diria que tentou me sequestrar, e que eu gritei. Eles certamente acreditariam em mim. A lógica da criança era inegável, e sua autoconfiança, impressionante. - Se você não quer que eu a leve para o posto policial, que tal ir para a sua casa? - Benedict duvidava de que ela realmente quisesse ir. - O motorista do táxi disse que eu não tenho dinheiro suficiente para ir para casa, terei que andar uma parte a pé. Mas ficarei bem... - Eu pago o táxi. - Você? - Os jovens lábios retorceram-se com desprezo. - Acha que não posso fazer isso? - Eu não devo entrar em um carro com um estranho. - Me agrada ouvir isso. Não vou na mesma direção que você. Andar por um campo minado seria mais simples do que isso, ele pensou. - Por que você quer me ajudar? - Boa pergunta. - Aquela criança tinha a habilidade de enervar qualquer um. - Tanto cinismo, em alguém tão jovem! - De repente, ele se lembrou de que estava conversando com uma criança e acrescentou, educado: - Cinismo é... - Eu sei o que é cinismo, eu sou uma criança, não uma idiota. "Agora ela me pôs em meu lugar", ele pensou, sorrindo em resposta à interrupção da menina. - E eu sou seu anjo da guarda, então aceite minha oferta. - Eu acho que você é louco, mas aceito, pois estou com bolhas nos pés - disse ela, olhando para baixo. - Tênis novos. Pegou o dinheiro que Benedict entregou-lhe e entrou em um dos táxis parados junto à calçada. - Siga aquele táxi! - ordenou Benedict, entrando em outro. O motorista obedeceu prontamente, mediante o pagamento adiantado de Benedict. Ele pagaria muito mais para ter a oportunidade de dizer aos pais daquele monstrinho o que achava deles! A casa diante da qual o carro preto parou não ficava exatamente no tipo de vizinhança que ele havia imaginado. As casas com ar de riqueza e quietude, em estilo eduardiano, eram daquelas que haviam sido divididas em apartamentos. Ele olhou a criança sair do carro e dirigir-se para uma das portas. Desceu e foi atrás. Ela não o viu até o momento em que pôs a chave na fechadura. - O que está fazendo aqui? - Eu gostaria de ter uma conversinha com seu pai. Na verdade, ele queria esmurrar a cara do idiota irresponsável. - Eu não tenho pai. - Sua mãe, então. - Ela não está, e só irá voltar bem tarde. - A porta se abriu, e ela passou, fechando-a atrás de si - O namorado vai pedi-la em casamento esta noite. Foram essas as últimas palavras que Benedict ouviu através da porta. Imagens de uma mulher desalmada e egoísta vieram a sua mente, enchendo-o de indignação. Ele precisava dizer para essa mulher o que realmente achava dela, então, experimentou girar a maçaneta, e a porta abriu-se. A babá começou a chorar novamente ao ouvir a palavra "polícia" ser mencionada. - Polícia? Isso é mesmo necessário, Rachel? - perguntou Nigel. Rachel French andava em círculos, com os olhos cinzentos ardendo de raiva. - Obviamente! São onze e meia da noite, e minha filha de dez anos não está em sua cama, em lugar nenhum do apartamento, nem no prédio. Ela pode estar em qualquer lugar! Considerando a discussão que tivera com a filha anteriormente, Rachel podia imaginar para onde a criança estava indo. Olhou para a babá, prestes a ter um colapso no sofá. Suas unhas cravavam meias-luas na palma das mãos. - N-não foi m-minha culpa! - Eu não disse que era. Charlie é muito... Esperta. Você disse algo, Nigel? - "Esperta" é a palavra certa. - Ele estava aborrecido com o final frustrante de uma noite que havia tão meticulosamente planejado. Aquela menina, Charlotte, a quem chamavam de Charlie, era mesmo um transtorno. - Susan, quando foi a última vez que você viu Charlie? - perguntou Rachel. - Não apenas ouviu música em seu quarto, mas a última vez em que a viu! Eu sei que você está nervosa, mas isso é muito importante. Fora uma reação impulsiva tentar arrancar a informação da garota tão bruscamente, então ela se forçou a parecer mais calma e razoável. - Precisamos saber há quanto tempo ela saiu. - E-eu não tenho certeza - disse a garota, aos prantos. - Eu estava estudando, minhas provas são na próxima semana. - Mas você é paga para cuidar da criança, não para estudar. Um olhar de Nigel foi o bastante para que Rachel tentasse novamente se controlar. - Nigel, escute! - disse ela, referindo-se ao ruído de uma chave girando na fechadura da porta da frente. - Charlie! A menina entrou na sala de estar, correndo. - Eu não queria que Susan descobrisse que eu fui... - Charlie! - Mãe! - A criança correu para a mãe, sem notar que Benedict entrara atrás dela. - Eu ainda te mato sua pestinha! - Aquela voz rouca parecia cheia de carinho, não era a voz que Benedict imaginara. Ela caiu de joelhos e abraçou avidamente a filha. - Você está bem? Como pôde fazer isso? Só então Rachel notou o homem parado na porta de ligação com o pequeno vestíbulo. Apertou a filha nos braços e olhou para ele. Achou-o bonito, com uma expressão descontraída, olhos escuros, quase pretos. Parecia latino, não havia nada de anglo-saxão naquela pele com tonalidade de oliva e nos cabelos escuros. - Quem é esse homem, Charlie? - Esse é... Steve. Ele me trouxe para casa. Eu achei que voltaria antes de você, mãe. Como você soube? - Susan me telefonou, é claro. - Susan não presta atenção em mim, depois que John chega, para minha sorte! - John? - repetiu Rachel virando-se para a babá que parecia ainda mais nervosa. - Meu namorado. Às vezes ele vem me fazer companhia. Teve de ir cedo para casa, hoje. - Com o rosto molhado de lágrimas, ela evitava o olhar inquisidor de Rachel. - Que bom para nós, que ele teve outras prioridades - comentou Rachel, irônica, voltando seu olhar para o homem parado na porta. Um bom samaritano, pensou, com um olhar cheio de gratidão. - Eu sinto muito, srta. French. É que eu e John não temos muito tempo para nos ver, ambos temos empregos de meio período e... A voz cansada de Rachel interrompeu os lamentos da babá: - Eu não faço objeções quanto a você ter a companhia de seu namorado, apenas não quero que você descuide de Charlie. Foi uma longa noite, talvez você deva ir para casa. - Certo, vou pegar minhas coisas. - Rachel voltou sua atenção para a filha, que tinha claros sinais de cansaço no rosto delicado. - Muito bem, minha pequenina, isso valeu a pena? - Você sabe aonde eu fui? - Não faço ideia, querida. - Bem, só sei que havia uma multidão, eu não conseguia ver nada - confessou Charlie. - O motorista do táxi cobrou muito caro, e com todas aquelas pessoas fazendo barulho... - Mas que aventura, hein? - murmurou Rachel. Ela sabia que não era nada daquilo, mas era difícil lidar com a imaginação fértil daquela criança. - Isso é tudo o que você tem a dizer? - perguntou Nigel, incrédulo. Mãe e filha viraram-se com olhares idênticos para ele. Rachel levantou-se graciosamente, sem tirar as mãos dos ombros de sua filha. - Até o presente momento, sim. - disse com calma. - Essa criança precisa ser punida, precisa saber que o que fez foi errado. - Isso não é da sua conta! - gritou Charlie, pulando de volta para os braços da mãe. Rachel suspirou. - Isso não é jeito de falar com Nigel. Ele estava muito preocupado com você. - Não, ele não estava, ele nem gosta de mim! - Rachel estremeceu ao ver a filha sair, batendo a porta da sala atrás dela. - Eu sinto muito por isso, Nigel. - Será que sente mesmo? - perguntou ele, passando a mão pelos cabelos. - Desculpe, Rachel. É que esta noite deveria ser especial... - Talvez nós devamos simplesmente esquecer esta noite. - Isso quer dizer que você não quer se casar comigo? - ele indagou com voz incrédula. - É claro que eu não quis dizer isso. Ou será que quis? Aquele pensamento encheu-a de culpa, quando ela olhou para o rosto entristecido de Nigel. Com a intenção de dar-lhe um beijo, Rachel aproximou-se. Já fazia algum tempo que havia chutado seus sapatos de salto alto para longe, e agora pisou descalça em uma tachinha perdida. - Diabos! - Ela levantou o pé com a tachinha cravada na sola, até que prontamente surgiu uma mão que a tirou com extrema delicadeza. - Oh, obrigada! Percebendo depois que não se tratava de Nigel, mas do estranho que levara sua filha de volta, sentiu os músculos do estômago se apertarem e ficou sem fôlego por um momento. Agora sua gratidão ganhava um ar de precaução. - Eu nem sei como lhe agradecer... O que ela podia fazer para agradecer? Benedict pensou. Ele tinha uma resposta que devia ser óbvia. Sentira-se atraído por aquela mulher desde o primeiro momento em que a vira. Rachel. Ele gostava daquele nome. - Pelos transtornos que você teve... Benedict olhou para o namorado dela, que lhe estendia uma nota. "O que ela vê nele?", perguntou-se. - Eu não quero seu dinheiro - declarou, sem disfarçar seu desprezo. - Por favor, não se ofenda. - Rachel pediu com urgência. - Ele não teve a intenção de... - De me despachar daqui? Porque não me enquadro bem nessa vizinhança? - Olhe aqui, rapaz.... - Nigel não parecia tão confiante como de costume. - Nigel! - O tom da voz de Rachel mostrava mais exasperação do que simpatia. Ele estava agindo como se aquela fosse sua casa, sua filha, sua dívida a pagar. Será que ele não podia enxergar que ferira o orgulho do outro homem? - Talvez seja melhor nos despedirmos e... - Você está me pedindo para ir embora? Certo... - Agora, ele parecia um garoto. - Não seja infantil, Nigel! - Você se importa muito mesmo é com os sentimentos dele. E quanto aos meus? - A acusação tirou o fôlego de Rachel. Novamente, Nigel falava em tom infantil. - Uma das coisas que eu mais gosto em você é de sua frieza, que demonstra seu alto nível, mas às vezes parece que... Ah, esqueça! Amanhã eu telefono, e lembre-se de que temos um jantar com os Wilson, na terça. Fazendo uma pausa, olhou para o vestido de Rachel com ar crítico. - Use algo menos... Revelador. Você sabe como Margaret é conservadora. Essa desculpa soou dramática e, em seguida, Nigel saiu. Rachel franziu as sobrancelhas, seu vestido era cavado, preso por cordões nas costas, o que impedia o uso de sutiã, mas isso não fazia falta, devido a firmeza de seus seios. - Pro inferno! - Rachel exclamou, desafiadora. Estava cansada de tentar agradar Charlie e Nigel, sempre andando numa corda bamba. E também estava cansada de sempre sentir-se tão culpada. Por um momento, Benedict pensou no que ela faria, se ele a beijasse naquele momento de fascínio. Ela te mataria, seu idiota, pensou. - Isso tudo foi minha culpa? Rachel ergueu os olhos, percebendo que, por um momento, havia se esquecido de que ele estava ali. - Não, claro que não. Eu estou realmente muito grata e gostaria muito de lhe agradecer, sem... - Ferir meus sentimentos? - ele completou. Aquelas palavras trouxeram um tímido sorriso aos lábios dela. - Como eu poderia... - Eu perdi meu jantar, trazendo... Charlie para casa. Que tal um sanduíche? Essas palavras, acompanhadas por aquele sorriso, derreteriam o coração de qualquer mulher com mais de cinco anos de idade. Ela acenou quase imperceptivelmente com a cabeça. - Siga-me. Ele provara ser confiável, levando Charlie para casa. Embora parecesse perigoso, com os cabelos despenteados e barba por fazer, Rachel já havia ensinado Charlie a não julgar as pessoas pela aparência, e ela própria não cometeria esse erro. Charlie apareceu, indo de encontro à mãe, que ficou preocupada ao ver o quanto ela parecia cansada. - Nigel já se foi? - a menina perguntou, parando ao ver o homem andando atrás de sua mãe. - O que você está fazendo aqui? - Agora, ela parecia mais curiosa do que crítica. - Steve está com fome. - É verdade. - Ele achou melhor concordar com Rachel. - E você, tome um banho e vá para a cama. - Para surpresa de Benedict, Charlie bocejou e obedeceu à ordem. Rachel olhou para ele e convidou: - Sente-se. Ele sentou-se à mesa e olhou curioso ao redor. - Bonito lugar. "Se for verdade o que dizem sobre o lugar refletir a personalidade do morador, Rachel French é uma mulher organizada e despretensiosa, mas com um cálido interior", ele refletiu. Esticou as pernas e deu um longo suspiro. Agora era tarde demais para ir à casa de Sabrina. - Você... Você tem casa? - perguntou Rachel, olhando inconscientemente para seu jeans surrado. Para Benedict, ela estava obviamente comparando sua fortuna com a aparente pobreza dele. - Tenho casa, sim. - Estava se sentindo um rato. Então, acrescentou com sinceridade: - Mas não tão boa quanto esta. - Não perguntei por mal, é que existem tantos sem-teto... - E você costuma ser caridosa, Rachel? Ela notou a forma casual como ele pronunciou seu nome, suave aos ouvidos. - Você faz essa pergunta parecer um insulto. Algumas pessoas realmente se importam, você sabe - respondeu com calma. - Sei que tenho uma boa condição financeira e sei também que pena não é uma emoção muito construtiva. - Mas é muito natural. - Acho que é um pouco tarde para falarmos sobre desigualdades sociais - ela disse suavemente. - Vou preparar um sanduíche para você. - Posso ajudar? - ele ofereceu, levantando-se. Rachel ficou alarmada com a ideia daquele homem seguindo-a pela pequena cozinha. Sua presença fazia a cozinha parecer ainda menor. E, apesar das aparências, não havia nada de errado com sua higiene pessoal. Ele não tinha aquele cheiro carregado de perfume como Nigel, graças a Deus! Tinha cheiro de homem. - Não, não é necessário. Você gosta com bastante queijo? Tenho só um pouco. Amanhã é dia de fazer compras. Como se ele estivesse interessado! Rachel notou que estava tagarelando. - Queijo é bom - Benedict aprovou. - Charlie me contou que você vai se casar. Rachel abaixou-se para pegar a faca que derrubara no chão, sentindo as faces corarem. O que sua filha poderia ter contado àquele estranho? Ela pensava, alarmada. - Essas crianças não perdem nada - ele comentou com a certeza de alguém que entendia do assunto. Na verdade, não sabia muito sobre crianças. Sua irmã se sentiria insultada, se fosse enquadrada nessa categoria, e a sobrinha de dezessete meses ele vira apenas duas vezes. - Eu não pude deixar de ouvir... - É, Charlie não perde nada. Ela é brilhante, tem um Q.I. tão alto, que às vezes faz me sentir inadequada. Às vezes eu me esqueço de que ela é tão jovem. - Mas, e você? Vai mesmo se casar? - Eu não sei. "Por que estou falando disso com ele?" Ela pensou. - Deve ser difícil cuidar de uma criança sozinha - disse ele em tom casual. - É bem melhor dividir a responsabilidade com alguém, ainda mais se esse alguém for rico... - Eu não estou procurando um pai para Charlie, nem uma pensão alimentícia - Rachel retrucou, sentindo seus instintos defensivos aflorando. - Certo, pois parece que sua filha não gosta muito desse homem que estava aqui. Rachel respondeu com um tímido sorriso: - Charlie tem opiniões muito definidas e embora eu ame minha filha, não posso deixá-la se intrometer entre mim e o homem que eu escolher. Maionese? - Sim, por favor. - Sirva-se - disse Rachel, colocando o prato, um frasco de catchup e outro de maionese no balcão. - Obrigado. - Benedict puxou um dos bancos debaixo do balcão e sentou-se. - Você não vai comer? Dois bancos, ele notou. Pelo visto, o namorado não fica muito aqui. - Eu perdi meu apetite em algum ponto, entre o desaparecimento de minha filha e a briga com meu noivo. Ela olhou para as mãos, pensando no anel que não pusera no dedo e no "sim" que não dissera. - É sempre assim, por aqui? - perguntou ele, interrompendo-lhe os pensamentos. - Eu não tenho o costume de perder minha filha, se é isso o que quer dizer. "Mas que noite!", pensou ela. "Não me admira não estar conseguindo me concentrar". - E brigar com seu namorado? Ele já não é tão jovem, não é? - Benedict continuou, dando uma mordida no sanduíche e notando o rubor subindo às faces dela. Tocara em um ponto fraco, dessa vez. - Ele tem quarenta e dois anos - ela respondeu, tamborilando as dedos no balcão. - E eu não vejo por que deva me justificar a você! - Não se irrite... - Não estou irritada! - Você provavelmente se sente irritada com a diferença de idade. - Diferença de idade! - ela repetiu. Aquele homem estava tirando sua paciência! - Eu tenho trinta anos. - Sério? Não parece. - Eu deveria ficar lisonjeada? - perguntou ela, duramente. - Posso fazer melhor do que isso. - Tenho certeza que sim - Rachel retrucou, levantando as sobrancelhas com ar de sarcasmo. - Ele já foi casado? - Na verdade não, e não é gay! - Será que não, mesmo? - Claro que não! Ele é um homem cauteloso e tem visto o fracasso do casamento de vários de seus amigos. - Ela, porém, não mencionou o fato de Nigel estar sempre mais preocupado com o prejuízo financeiro do que com a felicidade dos amigos. - Não há nada de errado em ser cauteloso. E, se você já acabou de comer... - Sempre foram só vocês duas? - Você é sempre tão curioso sobre a vida dos outros? - Charlie fez com que eu me sentisse um membro da família. - Sério? - perguntou, obviamente surpresa. - Ela não tem esse costume. - Mas você não concorda comigo, que às vezes encontramos alguém que temos a impressão de que sempre conhecemos? A voz de Benedict era tocante, íntima, e tinha efeito perturbador sobre ela. - Eu não tenho dessas coisas - Rachel assegurou. Aquela situação era desconfortável e parecia estar piorando cada vez mais. Ele riu. - Você fala como se me julgasse ridículo. - Eu não tive a intenção de... Rachel parou, pois aquilo era exatamente o que achava. Ele parecia um homem que usava seu carisma para seduzir o sexo oposto. Uma mulher mais sensível certamente desconfiaria de alguém com uma sensualidade tão descarada. - É a minha classe social, ou minha aparência física que me colocam abaixo de você? - ele persistiu. - Não gosto desse tipo de conversa. - Mamãe, estou pronta. Rachel virou-se para a filha, que tinha acabado de sair do banho. - Certo. - O amor explodia em seu peito, enquanto olhava aquela pequenina figura. Como alguém podia ficar zangado com uma criança como Charlie, ainda mais com aqueles olhos cansados? - É melhor você se despedir do senhor... - Steve serve. Steve era um bom nome para um homem que não tivera um berço de ouro. - Obrigada, Steve - Charlie agradeceu, pegando as mãos dele. - Vou levá-la para a cama pela segunda vez hoje - comentou Rachel. Benedict olhou-as partir, pensativo. Rachel naturalmente não imaginara que sua visita inesperada fosse demorar tanto para ir embora. Ela estava com um olhar vago e cansado, quando voltou do quarto de Charlie. - Obrigado pelo sanduíche - Benedict agradeceu. - Você não me disse onde ou como encontrou Charlie... - Digamos que ela me encontrou - ele disse, sorrindo por alguma razão. - Nunca esquecerei o que você fez. - E de mim, você irá esquecer? Rachel decidiu ignorar o desafio. Beijá-lo poderia dar uma impressão errada, então ela estendeu a mão. - Você não imagina o quanto eu fiquei feliz ao ver minha filha chegar. Eu estava me sentindo a pior mãe do mundo. - Eu também pensei isso por uns dois segundos, mas foi só uma primeira impressão - ele confessou. Ela pareceu não entender muito bem o significado daquelas palavras. - E espero que você sempre continue assim, digo desse jeito... - Ela tomou fôlego. - Digo, o modo como se veste... - Também acho que não há nada de errado com o modo como você se veste, não importa o que seu namorado diga. - Havia um tom divertido na voz dele, nada ofensivo ou irônico. - Um homem que te diz o que vestir logo estará te dizendo o que pensar. Boa noite, Rachel. - Não deixarei ninguém fazer isso comigo. - Boa garota. - Benedict a segurou pelo queixo e colocou os lábios quentes sobre os dela. Aquele impacto sensual fez seu corpo estremecer. - Não direi adeus, pois acho que nos encontraremos de novo, em breve. Rachel o observou partir, sentindo-se confusa. Ela sabia que eram apenas palavras, mas não parava de pensar na possibilidade de aquele homem aparecer em sua casa novamente. CAPÍTULO II Oh, certo, se ela trabalhava para Albert, deve ser bonita - disse Benedict, torcendo a boca numa expressão insatisfeita. Não estava feliz por ter que trabalhar com uma estranha, por mais que ela pudesse ser bonita. Com um suspiro, continuou: - Mag, é muita baixeza de sua parte, me abandonar no primeiro dia de minha volta. - Eu podia ficar e ajudá-lo, mas não sei uma palavra de alemão, e só o que posso fazer é parecer inteligente. A secretária lançou-lhe um olhar onde não havia nenhuma simpatia por seu desgosto, enquanto examinava uma gaveta do fichário. - Achei. Não sei como veio parar aqui! Desamassou uma folha de papel, então prosseguiu: - Preciso deixar tudo em ordem para Rachel. Aquele nome familiar trouxe um sorriso aos lábios de Benedict. - Você passaria seu feriado trabalhando comigo, Mag? - Não. Não vejo a hora de desaparecer daqui - ela respondeu com franqueza. - É bom ver alguém tão apaixonada por seu trabalho. - Ah! Olha só quem fala! Você também não me parece muito animado. E, além disso, eu sou apenas uma secretária, não uma escrava. A diferença é sutil, eu sei, mas... Benedict sentou-se no canto de sua mesa. - Você já foi mais dinâmica. - É, não me sinto muito dinâmica, no momento. - Tem certeza de que prefere ir para uma praia tropical com seu marido do que ficar aqui, trabalhando? - ele perguntou, fingindo incredulidade. - Certamente... Ah, é você, Rachel? Vamos, entre - Mag convidou, ao ouvir o barulho da porta se abrindo - Rachel French, este é Benedict Arden. Rachel não acreditou no que via. Steve! Ele tinha um irmão gêmeo? A surpresa foi se transformando em fúria, quando ela se certificou de que era o próprio, pois ele a olhava, parecendo surpreso também. O que era aquilo? Alguma brincadeira doentia? - Bem, vou deixá-los a sós. Já mostrei o trabalho a Rachel e também já avisei que você vai lhe tirar toda a energia. Tente ser mais gentil com ela do que comigo, sim? A brincadeira não surtiu o efeito desejado. Benedict estava pasmo. - Vou tentar, Mag - ele disse distraidamente, reparando na expressão hostil de sua nova assistente. - Ele trabalha muito e não pensa que o resto de nós tem uma vida social. Mag não percebera seu espanto e sua raiva, pensou Rachel, mas sem nada dizer, pois se dissesse o que queria, certamente perderia o emprego. Vida social? Pelo que ela ouvira falar, Benedict Arden, filho de sir Stuart Arden, o chefe da Chambers, tinha uma vida social muito comentada e documentada na da alta sociedade. Num gesto inconsciente, fechou as mãos como se preparando para socar alguém. - Então, você trabalha para Albert. - Trabalho, sim. - As secretárias dele sempre tiveram excelentes... Habilidades. Ele não estava olhando para as "habilidades" de Rachel. - Você está dizendo que sou uma boa secretária por causa de minhas pernas? - ela indagou. Ninguém podia negar o fato, ele estava realmente olhando para suas pernas, esbeltas e bem definidas. - Não fique na defensiva. Eu sei que você não dormiria com o patrão, todos sabem que Albert é um homem muito bem casado. - Achei que você estivesse pensando... - Não estava pensando nada. Já providenciei a tradução dos documentos mais relevantes. Não sei se já teve a oportunidade de ler. Como ele estava diferente! Os cabelos mais curtos combinavam com a face bem barbeada, revelando sua bela pele bronzeada sobre uma perfeita estrutura óssea. Ele tinha uma beleza máscula, nada suave. - Então, iremos trabalhar juntos. - Talvez. - Rachel fez a palavra soar como se fosse pensar melhor sobre o assunto - O lugar é seu, se quiser. Naquele momento ele parecia um daqueles jovens executivos vaidosos, com seus sapatos bem engraxados e gravatas de seda. "Seja profissional", ela recomendou a si mesma. "Não gaste energia perdendo a paciência". - Então, vamos melhorar este clima? - propôs Benedict, como se pudesse invadir a privacidade da mente dela. - Sou uma secretária, preciso de algumas instruções - informou Rachel, disfarçando parte da antipatia. - Certo. Primeiro, sente-se! - Como ousa falar comigo dessa forma? - Por favor? - pediu ele, sorrindo. - Assim é melhor - ela aprovou, sentando-se na cadeira indicada. - Por que está nervosa? Rachel torceu os lábios, encarando-o. Benedict não podia estar falando sério. - Não estou nervosa. - Talvez surpresa? - ele prosseguiu. - Impressionada, curiosa? Eu fiquei assombrado, ao vê-la entrando pela porta. E pude notar seu espanto. - Mas não me pareceu muito espantado. - Sempre escondo minhas emoções por trás de uma expressão neutra - Benedict comentou, calmo. - Você está se divertindo à minha custa? Essa suspeita aumentava no íntimo dela. - Não fique brava, srta. Rachel French. E não tente mentir, pois seus olhos denunciam a sua raiva. Para o inferno com a política de escritório! Ela diria o que estava pensando e iria embora, deixando seu rastro de insatisfação. - Odeio mentiras. - Mas eu não menti para você de modo algum! - Realmente, ele não havia distorcido a verdade em nenhum só momento. - E o nome "Steve"? - Isso foi ideia de Charlie, - Por que minha filha inventaria um nome para você? - ela perguntou em tom de desprezo. - Foi quando ela inventou uma estória de que eu era seu irmão mais velho. Parece que Charlie tem um sentimento forte pelo nome Steve. Mas, mesmo eu não sendo Steve, ainda sou o homem que salvou sua filha. Ele tinha que lembrá-la daquilo? Rachel mordeu inconscientemente o lábio inferior. Não podia negar a verdade daquelas últimas palavras, mas a parte sobre ser irmão de sua filha não fazia o menor sentido. - Você me enganou, nos enganou. Fez com que eu tivesse pena de você - acusou com indignação. - Sentir pena é uma emoção muito negativa - ele a lembrou. - Desculpe minha memória fotográfica, mas pena não foi tudo o que você sentiu. - O modo como ele a olhou fez aquela frase parecer uma acusação. - Acho curioso que você tenha gostado mais de mim quando pensava que eu era um pobre miserável. - Isso não é verdade! - Quando conheço uma mulher que sabe quem eu sou, e quem é minha família, posso deduzir que ela está interessada apenas em minha conta bancária. - Oh, pobrezinho! Então, você procura desesperadamente por alguém que o ame pelo que você realmente é. - A voz dela agora estava cheia de sarcasmo. - É por isso percorre as ruas, trajado como um traficante de drogas! - Você costuma convidar traficantes para entrar em sua casa? - Eu estava grata! - Estava? - Eu... Eu estou grata - Rachel corrigiu, cabisbaixa. - E senti pena de você. "Isso vai me ensinar a não ser mais tão sentimental", pensou. - Não se sinta culpada, seu corpo está quimicamente programado para encontrar um parceiro, e os hormônios não se preocupam com questões financeiras e esse tipo de coisa. - Deixe meus hormônios fora disso! - ela esbravejou. - Certo - Benedict concordou com um sorriso que a fez querer gritar. - Posso lidar com a pena. Na verdade, prefiro a pena do que a ganância. - Apenas alguém muito privilegiado poderia dizer algo tão estúpido. - Você tem opiniões fortes sobre os ricos, não é, Rachel? - Não, somente sobre você. Você é um irresponsável e... - ela se interrompeu, antes que deixasse escapar alguma palavra mais imprudente. - Vamos, continue - pediu ele com um sorriso provocador. - Não deixe de dizer o que pensa só porque sou seu chefe. - Chefe temporário. - Acho que você está desconfiada a meu respeito, mas deixe-me esclarecer alguns fatos passados. Quando eu encontrei sua filha, ela estava prestes a ser levada a um posto policial por um casal preocupado. Para se safar, Charlie decidiu dizer que eu era seu irmão, e que ela estava comigo, se livrando assim do casal. A expressão nervosa de Rachel tornou-se pensativa. Aquilo parecia muito estranho. - Mas isso não explica o modo como você estava vestido. - Ela abanou a cabeça, incrédula. - E por que não me contou isso naquela ocasião? - Se você trabalhasse aqui há mais tempo, saberia que eu acabo de voltar de uma fazenda em Queensland, Austrália, onde não faria muito sentido usar roupas elegantes. Além disso, não falei nada sobre mim. Você e seu encantador companheiro tiraram conclusões precipitadamente. A propósito, como foi o jantar dos Wilson? Você vestiu algo mais adequado? Rachel enrubesceu. - Nigel ficou resfriado, nós não fomos. - Eu pus Charlie num táxi e a segui em outro, com a intenção de falar algumas verdades aos pais delinquentes daquela criança. Mas levei apenas dez segundos para compreender melhor a situação e, além disso, sua beleza me deixou sem fala. Rachel rangeu os dentes e abriu a boca para dizer o quanto aquilo tudo era ridículo. Mas ele não podia estar falando sério. Ou podia? - Não diga essas coisas! - Eu sou assim, transparente. - Mas eu não sou bonita, nem mesmo atraente. - É como costumam dizer: a beleza está nos olhos de quem vê, e eu vejo muita beleza, vejo até um coração. - Um fato que não cabe a você explorar - ela o lembrou. - Eu não resisti - Benedict confessou. - Mas ainda acho que a sua caridade poderia ter se entendido a uma cama para a noite. Rachel sentiu-se ultrajada. Ficou sem fala, de tanta raiva. Aquele homem não tinha vergonha? - Sinto-me feliz por agora estarmos nos conhecendo melhor - ele afirmou, sorrindo. - Não sei de que outro modo eu poderia lhe contar que na verdade sou um homem respeitável. - Respeitável? - ela sibilou, incrédula. - E duvido que você tenha realmente se lembrado de mim. - Oh, lembrei, acredite - Benedict assegurou, apoiando o queixo na mão. De repente, não estava mais sorrindo e, então, acrescentou meigamente. - Ficou mais fácil para mim, convidá-la para jantar. - Eu recusarei seu convite, porque agora vejo que a primeira impressão que tive de você estava correta. - Que primeira impressão? - Muscularmente bem desenvolvido e mentalmente atrasado, ou seja: um belo imbecil! - atacou com voz raivosa. - E, além disso, tenho um noivo, não saio com outros homens. - Você não usa um anel - observou Benedict ceticamente. - Mas Nigel e eu temos um compromisso. E nós nos entendemos bem. - Ele não pareceu entendê-la muito bem, naquela noite. Pode ser até uma boa pessoa, mas não é muito imaginativo. "Mas que arrogância!" Ela exclamou mentalmente. - Para sua informação, Nigel é muito imaginativo. - Que bom para você - disse Benedict em tom solene. - Uma boa vida sexual é algo importante. - Eu não quis dizer imaginativo na cama! - Ah, isso eu sabia que ele não era. - Nigel é equivalente a dez de você! - Rachel quase gritou. - Está sendo muito severa. Eu vi que ele tem uma pequena barriga, nada que não fosse esperado num homem daquela idade, mas para um velho ele está até que bem conservado. Diga-me, seus pais ainda estão vivos? A repentina mudança de assunto abalou-a, provocando um misto de raiva e confusão. - Não, fui criada por minha tia Janet. Janet French sempre estivera ao lado dela. E sua morte recente deixara Rachel com o espírito profundamente abatido. - Oh, uma casa só de mulheres! Foi o que pensei. E agora, que só restam você e Charlie, você está a procura de um pai para sua filha, não de um amante, Rachel. - Seu maníaco! - Rachel reagiu com desprezo. - Isso é assédio sexual! - Isso é atração mútua - Benedict contradisse. - Ambos soubemos disso desde o primeiro momento em que nos vimos. - Seu ego é inacreditável! - exclamou Rachel. - Eu não acharia estranho, se você tivesse aparecido em minha casa, embrulhado para presente. - Se você preferir, nós podemos manter nossas relações pessoais e profissionais estritamente separadas. - Nós não temos relações pessoais. Ele é persistente e, seja honesta, Rachel, extraordinariamente atraente, ela pensou. Se fosse descomprometida, quem sabe? Mas ela não era, tinha filha e responsabilidades, não podia agir por impulso. Fizera isso uma vez, aos dezenove anos, e sofrerá as consequências, não que tivesse se arrependido de ter tido sua filha. - Mas teremos, Rachel - Benedict afirmou com uma confiança que parecia inabalável. - Eu sou mãe solteira. - E daí? Você só se relaciona com possíveis candidatos a pai? E o que faria, se um dia Steve batesse novamente em sua porta? - Ora, seu... O que ele, Benedict Arden, podia saber como era criar uma filha? Pensou Rachel. - Sabe o que eu acho? - ele continuou. - Acho que abriria a porta, e não apenas para provar que não é esnobe. Ela ficou em silêncio, sabia que aquelas palavras iam persegui-la, quando estivesse sozinha, mais tarde. Mas Steve nunca existira. Somente aquele homem arrogante e sensual. , - Você é de carne e osso, Rachel, não uma máquina. Não pode controlar seus sentimentos. E uma mulher solteira que teve uma filha, e nunca se casará com o bom e velho Nigel, porque, apesar de ter qualidades, ele não passa de um chato. Benedict parecia satisfeito ao dizer aquilo. Irritada, ela permaneceu calada. - Não estou pedindo que faça nada que possa magoar sua filha, só peço que reparta o pão comigo e abra uma garrafa de vinho, que tomaremos juntos - ele prosseguiu. - Acha que sempre pode fazer o que quer? - Rachel perguntou, ressentida. Agora ele tinha uma expressão estranha no rosto. - Estou aqui, livre. E você? Estará livre, hoje à noite? - Eu não gosto de você. - Mas poderá gostar. Eu sou um bom rapaz, pergunte a qualquer um. Pense no assunto, sim? - Mostrou um sorriso atraente, então olhou para o relógio de pulso. - A reunião com Kurt será em vinte minutos, certo? - Certo - ela concordou um pouco confusa. - Quando negociei com Kurt, no ano passado, ele tinha seu próprio tradutor. Você fala fluentemente alemão? - Benedict levantou-se, e Rachel imitou-o. A mudança para um assunto impessoal tornara o clima mais suave. - Alemão, italiano e francês - ela confirmou. Sabia que era uma boa profissional e sentia-se feliz por trabalhar no ramo. Seu patrão, Albert, tinha com Benedict um trabalho de leis corporativas, e enquanto estivesse fora do país, seus clientes se dirigiriam a Benedict, que usaria também os serviços dela. Quando Rachel soubera disso, sentira-se feliz, mas isso fora antes de saber quem era Benedict Arden. - Prefere ser secretária? Por que não trabalha como tradutora? - Eu fazia isso, quando Charlie nasceu. - Trabalhava em casa? Devia se sentir muito isolada. - É verdade, mas quando diminuíram os cuidados necessários com a criança, comecei a trabalhar num escritório perto de casa. - Onde você morava? - Shropshire. Talvez ele estivesse querendo saber demais, perguntando tanto sobre sua vida. - Foi onde sua tia a criou, não é? E o pai de Charlie? - Minha filha não é um assunto que discuto com estranhos. - Você é o assunto que me interessa, mas se isso a faz sentir-se melhor, posso deixar para uma outra ocasião. Não, não fez com que Rachel se sentisse melhor, mas ela pôde ao menos respirar um pouco mais livremente. Logo ela veria que a competência dele no trabalho era inegável. Benedict pensava e agia rápido, sempre atencioso com os detalhes. No correr do dia, ela foi desenvolvendo uma certa admiração por ele. - Nós trabalhamos muito bem juntos, não acha? - Benedict comentou, guardando a última ficha no devido lugar. - Mas não conte a Mag que eu disse isso, porque ela me acharia desleal. A que horas eu posso te pegar? - Me pegar? - Para jantar. - Hoje é dia das garotas lá de casa comerem pizza, e mesmo que não fosse, eu não gostaria de sair com você. - Tem certeza? - Estou tentando ser educada. - Não se preocupe com boas maneiras. Seu expediente acabou meia hora atrás, seja rude se quiser, você não está mais em horário de trabalho. - Por que está fazendo isso? - Hormônios, talvez? Não era a resposta que Rachel esperava, e ela quase riu. - Você não está acostumado a ser rejeitado, não é? Aposto como é do tipo que gosta de conquistar mulheres difíceis e perde o interesse uma vez que capture a presa. - Em resposta a sua primeira pergunta, sim, eu já fui muito rejeitado. - Claro! - Não acredita em mim? - E por que deveria? - Não sei, mas eu gostaria muito que você aceitasse meu convite. E essa conversa, de que estou tentando conquistá-la porque se trata de algo difícil, é pura besteira. - Até que horas vamos ficar conversando aqui? - Dizendo isso, Rachel pegou seu casaco e vestiu-o, mas, para sua surpresa, pegou-se brigando com um botão que se recusava a fechar. - Posso? Ela estremeceu ao vê-lo aproximar-se e estender as mãos para ajudá-la a abotoar o casaco. "Que situação ridícula", pensou ela, irritada consigo mesma. - Diga a Charlie que Steve mandou lembranças - pediu Benedict, fechando o último botão. Rachel recuou depressa e afastou-se em direção à porta, sem nada responder. Observando-a, ele refletiu que aquilo parecia uma fuga. E, se ela estava fugindo, era porque não tinha tanta certeza de ser imune a ele. E isso era um ótimo sinal. CAPÍTULO III O que você está fazendo? Rachel percebeu então que o sólido objeto em que ela estava apoiada era na verdade o peito de Benedict, seu chefe temporário. - Pe-perdão - desculpou-se, engasgando. Jurara manter uma fria distância profissional, mas depois de uma manhã cansativa, de uma surpresa extremamente desagradável, lá estava ela, se atirando nos braços dele! Ela sentia uma forte e bizarra necessidade de contar seus problemas, mas aqueles eram o lugar errado e a pessoa errada. Não podia falar com Benedict a respeito pesados fardos que carregava. - Está um dia perfeito para um sanduíche no parque, não é? Eu até me juntaria a você, se não tivesse outros compromissos. - A expressão brincalhona e perturbadora desapareceu do rosto de Benedict, quando ele notou a palidez de Rachel. - Algo errado? O que aconteceu? - Eu sinto muito, mas preciso ir... É uma emergência. Eu deixei um bilhete para você, agora preciso ir para casa. Ela o empurrou, pousando as mãos em seu peito. Deus, o que Benedict pensaria dela? No segundo dia de trabalho, ela já estava falhando. Mas não importava o que ele ia pensar. Charlie era sua mais alta prioridade. - Espere, Rachel, qual é o problema? - Sei que isso não é certo, que é uma inconveniência, mas eu... - Esqueça isso de inconveniência e me conte o que está acontecendo. - A diretora da escola ligou para avisar que Charlie foi para o hospital! - Meu Deus! Para o hospital? Qual deles? O que aconteceu? Vamos, eu levo você. - O quê? Não... Nas ocasiões em que ocorriam problemas domésticos, quando ela precisava se ausentar do trabalho, seus outros chefes a tratavam com impaciência e a criticavam pela falta de profissionalismo. Benedict, no entanto, queria ajudá-la. - Vamos logo, Rachel. - Está bem. - Ela suspirou, aliviada. - Vamos, mas eu não queria perturbar você. Acho que... - Cale-se, mulher. Estou tentando mostrar que sou um bom rapaz, não estrague tudo. Vendo o olhar de gratidão naqueles olhos maravilhosos, Benedict soube que estava fazendo a coisa certa. Rachel também não se opôs ao toque gentil de sua mão, que a guiava pelos corredores do prédio. Rachel puxou a cortina que corria ao lado da cama e viu algo que provocou-lhe um horrível aperto no coração. - Oh, Charlie! - Eu sei que estou horrorosa, mas o cabelo vai crescer de novo. Eles tiveram que raspar algumas partes para dar os pontos, mas esse sangue é do meu nariz - a menina contou em tom orgulhoso, mostrando a camisola manchada. - Eu não quebrei nenhum osso. - Meus parabéns por isso - Rachel disse secamente, sentando-se na borda da cama. - Eles vão me mandar embora para casa, preciso me aprontar. - E a sra. Faulkner? Ela vai mandar você embora da escola também? - Acho que sim. Mas não faz mal. Aquela escola é uma droga, todos se acham muito espertos. - E você, não se acha esperta? Rachel refletiu que o novo "corte punk" dos cabelos de Charlie dava-lhe uma aparência bem mais jovem. - Isso é diferente... - Mas foi preciso brigar a socos, Charlie? - A garota ergueu os ombros, defensiva. - Ele era bem maior que eu, e nem cheguei a machucá-lo. Caí da escada antes de ter esse prazer - admitiu honestamente. - Srta. French? - a enfermeira indagou, entrando no quarto. - Se ela apresentar algum dos sintomas anotados aqui, por favor, traga-a de volta. Rachel estendeu a mão para pegar o papel com a lista de cuidados a serem tomados, e a enfermeira continuou: - Ou, então, só daqui a dez dias, para tirar os pontos. A diretora conversava com Benedict na recepção, quando Rachel e Charlie apareceram. A mulher parecia animada, ouvindo algo que ele estava dizendo. Rachel sentiu-se grata por isso. De fato, precisava mesmo que a diretora estivesse o mais calma possível. - Será que podemos ter uma breve conversa, srta. French? - a diretora perguntou e, baixando os olhos para Charlie, acrescentou: - A sós? - Eu sei que você não entra em carro de estranhos, mas com a permissão de sua mãe, você não gostaria de dar uma olhada no meu? - Benedict convidou. - Que carro você tem? - Um Mercedes. - Que modelo? Benedict descreveu o carro, e os olhos da menina brilharam de admiração. Quando Rachel acabou de falar com a diretora e foi encontrá-los no carro, os dois pareciam estar tendo algum tipo de discussão técnica. - Desculpe pela demora, eu... - começou. - Ele não sabe nada sobre este carro - Charlie interrompeu-a, com ar exultante. - Agora eu sei - Benedict observou. - Quer me dar licença, Charlie? Eu estou me desculpando com o sr. Arden. E desça daí, porque nós vamos embora de táxi. - Não seja boba, Rachel - Ben ralhou brandamente. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, alguém a chamou. - Rachel! - Ela olhou em volta, surpresa a reconhecer a voz. - Nigel! O que está fazendo aqui? - Eu trabalho neste hospital, lembra-se? A questão é: o que você está fazendo aqui? - Ele mudou de expressão, ao reconhecer a pequena figura no banco do passageiro do Mercedes, e comentou: - Charlie pelo visto esteve na guerra. Mas porque você não me ligou, Rachel? - Foi tudo muito rápido, eu recebi um telefonema no trabalho, e o sr. Arden gentilmente me ofereceu uma carona. E como você está? Melhorou da gripe? - Melhorei, sim, estou bem. Esse é o Sr Arden? Nós já nos conhecemos? - perguntou o médico, olhando para Benedict com ar curioso. Rachel prendeu a respiração. - É possível - respondeu Benedict. - É parente de sir Stuart Arden? - Ele é meu pai. - Posso ver a semelhança, agora. Seu pai e eu jogamos golfe no mesmo clube - explicou Nigel, afável. Então, tirou do bolso o pager de compromissos urgentes, que tocava sem parar. - Espere um pouco, Rachel, e eu levo você e Charlie para casa. - Não se preocupe, a casa delas fica no meu caminho - disse Benedict. Rachel olhou para ele, sentindo-se em pânico. - Está bem, então - Nigel concordou. - Eu te ligo à noite, Rachel. Mesmo dando um beijo no rosto dela, ele não parecia a pessoa mais carinhosa do mundo, e Rachel ergueu a cabeça, beijando-o levemente na boca. Ele mostrou-se surpreso, mas pareceu gostar, e ela imediatamente sentiu culpa por usá-lo. - Vá para trás, Charlie, e deixe a mamãe sentar aqui na frente - pediu Benedict em tom gentil. Nigel ficou visivelmente impressionado ao ver a criança obedecer sem reclamar. - Talvez essa pancada na cabeça não tenha sido tão ruim assim - comentou, afastando-se. - O que foi que ele disse para te deixar com essa expressão assassina? - Benedict perguntou a Rachel ao dar partida no carro. - Nada - ela respondeu laconicamente, tentando não olhar para ele. - Eu prefiro "Steve", Benedict. - Charlie falou do banco de trás. - Meus amigos me chamam de Benedict, se isso muda algo para você. - Benedict... - ela murmurou, experimentando o nome. - Nada mau. Achei bom, quando minha mãe disse que estava trabalhando para você. - Para você, ele é "sr. Arden" - disse Rachel, descontente com a simpatia repentina que sua filha começava a demonstrar por ele. Onde estava aquela personalidade difícil da filha, que agora devia se manifestar? Pensou. - Mamãe ficou louca, quando descobriu que você nos enganou - Charlie contou. - Acho que ela ainda não te perdoou. - É mesmo? - Tire uma soneca, Charlie. Você parece cansada - Rachel aconselhou, incomodada com os comentários indiscretos. - Eu não me preocupei tanto com você, como mamãe. - Não? - Não. Vi o relógio caro que você estava usando, então soube que só podia ser um ladrão ou um milionário excêntrico. - Então, você se preocupou comigo? - ele perguntou a Rachel com voz sugestiva. Por que a voz de Benechct lhe produzia o mesmo efeito de uma garrafa de vinho tinto seco? - Não mais do que eu me preocuparia com qualquer outro desfavorecido - ela respondeu, pois nunca admitiria a verdade. Continuaram em silêncio por mais alguns minutos, e Charlie adormeceu. Rachel pegou o papel que recebera no hospital para dar uma olhada. - "Sonolência ou dificuldade para despertar" - leu, olhando com ternura para a filha. - Você acha que... - Charlie está dormindo, Rachel. Apenas isso. Ela teve um dia muito cansativo. "É incrível como uma segunda opinião muda a perspectiva das coisas", ela refletiu. - Sou uma mãe neurótica. - Pois eu acho que você é perfeita, no papel de mãe. Mas será que não negligenciou um pouco seu papel de mulher? Essas palavras fizeram-na sentir-se desconfortável. - Está querendo dizer que não me acha feminina? - Você é a mulher mais feminina que eu já conheci. - Agora ela sentia o estômago contorcer-se de nervosismo. - Você é muito preocupada com sua condição de mãe solteira. Quando foi a ultima vez em que fez algo para si mesma? - Como assim? - Refiro-me a algo espontâneo, egoísta. - Não sou uma pessoa muito espontânea. - Mas acho que já foi, um dia - ele disse, olhando a criança adormecida pelo espelho retrovisor. - E eu acho que isso não é da sua conta. - Tudo bem - Benedict concordou simplesmente. - Mas como acha que Charlie irá se sentir daqui a uns oito anos, quando descobrir que você passou a vida preocupada unicamente com as necessidades dela? - Mas isso não é verdade! - Rachel protestou em tom severo. Aquele homem não sabia nada a respeito de sua vida! Como podia ficar dando palpites? Lembrou-se então de que sua tia Janet havia insinuado algo semelhante, no ano anterior. - É provável que Charlie se sinta culpada, quando quiser ser independente e viver a própria vida. Você não está fazendo a coisa certa, se sacrificando por causa dela. - Mas eu não estou me sacrificando! - Talvez ainda não, mas as coisas apontam para essa direção. - Você não sabe o que é ser mãe. Charlie sempre será a pessoa mais importante da minha vida. Benedict moveu a cabeça num gesto afirmativo, como se entendesse o que ela queria dizer. - Mas você tem uma vida, Rachel? Que seja apenas sua? - Eu pensava que tinha, até você aparecer, querendo me provar do contrário. Você quer me dizer como devo viver, mas o fato é que não habita o mesmo planeta que nós. Devo acreditar que suas sugestões sejam fruto de puro altruísmo? - Nunca pensei que você fosse tão ingênua a ponto de pensar isso - ele observou em tom de provocação. - Por que fica tão nervosa, quando estou tentando ser bom com você, Rachel? Tem medo de gostar de mim? Ela também não sabia a resposta. Seria medo? Benedict era do tipo de homem de quem todas as pessoas gostavam. Até Charlie gostava dele, e aquela criaturinha nunca deixava as pessoas se aproximarem demais, mas quando deixava... O carro parou, diante da casa dela. Com a mão na maçaneta da porta, Rachel sorriu, virando-se para ele. Ela desceria do carro, se suas pernas ajudassem. - Benedict... - Progresso! Você disse meu nome! Foi tão difícil assim? - Você está sendo bobo! - ela ralhou, evitando olhá-lo nos olhos e virando-se para o banco de trás - Charlie... - Está dormindo como um bebê - ele comentou, virando-se também, de modo que seu rosto ficou muito próximo do de Rachel. Percebendo a proximidade subitamente, ele prendeu a respiração, achando que o tempo tinha parado. - Eu quero tanto beijar você, Rachel French! Diga que quer que eu a beije. - É melhor deixarmos tudo como está - ela murmurou, evasiva. Mas uma parte de sua mente não aprovava essa fuga. A letargia tomou conta de seu corpo, que queria o oposto do que o bom senso ditava. - Que frustrante! - ele reclamou. A rouquidão sensual de sua voz a fez estremecer. - Pelo amor de Deus, Benedict, vamos acabar logo com isso. Houve um segundo de silêncio, então ele começou a rir. - Meu Deus! Você realmente sabe como acabar com um clima romântico, Rachel. Parece uma daquelas virgens que são sacrificadas em filmes de horror - comparou, sem parar de rir. Ela o fitava, confusa. - Não sou virgem - declarou tolamente. - Eu já suspeitava - Benedict confirmou, ainda com um sorriso nos lábios. Como se ela tivesse que lhe dar satisfações! Ridículo! Benedict era um desalmado, um insensível, não percebia que ela precisava manter uma certa fineza. Bem, e se ele não ia beijá-la, ela teria de... Agora com os joelhos encostando nos dele, ela tomou-lhe o rosto entre as mãos e deliberadamente cobriu os lábios másculos com os seus. Benedict ficou imóvel, e seus lábios permaneceram passivos. Rachel abriu os olhos. Os olhares dos dois encontraram-se, e ela quis morrer, de tanta humilhação. Afastou-se dele, sentindo-se como se estivesse queimando por combustão espontânea. - Não! Ela ouviu a voz de comando e viu a investida dos lábios de Benedict contra os seus. Estava mais inclinada para a frente, e sentiu os braços musculosos deslizarem a sua volta, prendendo-a com delicada firmeza. Lentamente, ele contornou os lábios com a língua, arrancando-lhe um gemido de protesto e prazer ao penetrar mais profundamente em sua boca. Agora era Rachel quem passava seus braços por trás do pescoço dele, e, por alguns momentos, ficaram abraçados, entregues a um beijo explorador e sensual. Benedict interrompeu o beijo bruscamente, e ela fitou-o nos olhos, frustrada e confusa. - Eu pensei que Charlie estivesse acordando - ele explicou num sussurro. Rachel começou, então, a lembrar-se de quem era e de onde estava! Horrorizada, olhou para trás e lá estava Charlie, parecendo profundamente adormecida. - Nós já chegamos? - ela perguntou num fio de voz. - Chegamos. Como está se sentindo? Ela se sentia mal. Seu propósito, de manter distância de Benedict, fora por água abaixo. Ela se comportara como uma... - Eu me sinto dolorida. - Onde dói? Charlie espreguiçou-se, e devia ter pensado que a pergunta fosse para ela, porque respondeu: - O corpo todo. Apreensiva, Rachel olhou rapidamente para Benedict. A expressão de satisfação desaparecera do rosto de feições cinzeladas, e ele parecia distraído. - Você deve estar com pressa de voltar para o escritório - comentou Rachel, indecisa sobre o que dizer. - Ansiosa para se livrar de mim? - Eu não seria tão rude. - A impecavelmente educada srta. French. - Rachel estava ansiosa para escapar, para acabar com a situação que a constrangia. Desceu do carro e abriu a porta de trás para ajudar Charlie a descer, mas Benedict antecipou-se e pegou a menina no colo. - Está entregue - ele disse carinhosamente. Balançou Charlie de um lado para o outro, como para niná-la, e a garota riu. - Vai fazê-la vomitar! - Rachel alertou-o, recusando-se a entrar no espírito da brincadeira. Sem colocar a menina no chão, Benedict seguiu-a na direção da casa. - Entre - ela convidou ao abrir a porta, mas apenas porque não tinha outra alternativa. Benedict entrou e foi direto para a sala, onde colocou Charlie no sofá.. - Tem certeza de que não estou sendo um intruso? - E faria alguma diferença, se eu dissesse que sim? - ela ironizou, encaminhando-se para a cozinha. Alguns instantes depois, ele foi atrás de Rachel. - Charlie mandou dizer que quer um milkshake. De chocolate, de preferência. - Não sei se devo atendê-la. O que ela fez não merece recompensa, mas castigo.. - O que você está fazendo? - ele perguntou, vendo-a tirar um pote do armário. - Um pouco de chá. E não me lembro de tê-lo convidado para vir à cozinha. É muito pequena, e você... você é muito... grande. - Herdei o tamanho de meu avô - Benedict explicou em tom de desculpa. - Ele era australiano, de descendência italiana. Minha irmã também é alta, mas Tom, meu irmão mais velho, não cresceu muito. O perfume fica mais acentuado, neste espaço pequeno. Eu... Calou-se bruscamente, horrorizado com sua última frase, que jorrara de sua boca sem que ele tomasse consciência. - O quê? - perguntou Rachel, olhando-o, pasma. Benedict não olhou para ela, mas para as próprias mãos. É, algo incrível, estava ruborizado! - Seu perfume. Eu sinto esse seu cheiro delicioso, no escritório, mas neste espaço pequeno fica mais acentuado - explicou. - Percebi isso também no carro. Seu perfume me enlouquece, Rachel. Desculpe, mas não sei fazer rodeios. Enquanto falava, brincava com um copo que pegara de cima do balcão, e acabou quebrando a haste e cortando um dedo. - Você está sangrando - observou Rachel, vendo um filete vermelho escorrer e pingar no tampo de granito. - Vamos ver isso. Pegou-o pelo braço e levou-o até a pia, abrindo a torneira colocando a mão dele sob o jato de água.. - Quanta preocupação! - Benedict brincou. - Não posso deixar você sangrar até a morte em minha cozinha. - É apenas um pequeno corte. - Muita valentia de sua parte, mas para mim o corte parece bem profundo - afirmou, preocupada. - Eu tenho uma caixa de primeiros socorros na banheiro. Espere um pouco. Foi para o banheiro, refletindo que nem sabia direito o que estava fazendo. Sua filha tinha se ferido em uma briga, e ela estava ali, preocupada com um homem que levara um corte no dedo. E nunca mais conseguiria usar seu perfume, sem se lembrar das palavras dele. Benedict falara aparentemente sem querer, no início, mas depois fora bastante sincero para deixar claro que a desejava. Voltando à cozinha, ela aplicou um pouco de antisséptico no corte. - Eu sei que dói, mas é necessário - falou brandamente, enquanto pegava uma compressa de gaze. - Tudo bem. Isso me faz esquecer um pouco a outra dor. - Que dor? - Ela fitou-o nos olhos, intrigada. - Eu acho que sabe de que dor estou falando. - Rachel sabia. Os olhos dele diziam tudo. - Não vou oferecer meu chuveiro para que você alivie essa "dor", tomando um banho frio. Com certeza você tem um banheiro muito melhor em sua casa. - Tem coragem de me mandar para um banheiro decorado no estilo dos anos sessenta, ladrilhado de preto, cheio de espelhos e detalhes dourados? Mulher perversa. - Se não gosta de seu banheiro... - Quando o construtor pediu minha opinião, meu maior erro dizer-lhe que fizesse o que quisesse, que eu não me importava. - Por que fez algo tão estúpido? - Rachel perguntou em tom de censura, enrolando esparadrapo em volta do dedo coberto pela compressa de gaze. - Porque realmente não me importava. - Estranho. - Nem tanto. Eu não me importo muito com certas coisas - Benedict explicou, olhando para o dedo enfaixado. - Parece curativo feito por uma enfermeira. Você deve ter muita prática. - Tenho, graças a Charlie. Ela vive se machucando, é muito peralta. - Rachel fez uma pausa, então acrescentou em tom preocupado: - Mas nunca tinha se envolvido em uma briga, antes. - Se eu fosse você, ouviria o que ela tem a dizer, antes de repreendê-la - Benedict aconselhou. - Por que está me dizendo isso? - ela perguntou, cheia de suspeita. A ideia de Charlie fazendo confidencias a uma pessoa quase estranha era horrível. - Charlie contou-lhe alguma coisa? - Às vezes é mais fácil a gente se abrir com alguém que não faz parte do... - Parte do problema? - Rachel completou, interrompendo-o. - Ela é muito protetora em relação a você. - Conte-me o que ela disse, Benedict. Ele suspirou, observando o belo rosto, que mostrava tensão e mágoa. - Certo. Parece que a professora pediu que cada criança fosse à frente e falasse um pouco do próprio pai, e quando foi a vez de Charlie, ela disse a todos que você foi buscar o pai dela em um banco de esperma. - Ela disse o quê? Meu Deus! E você acreditou? O que está pensando que eu sou? - Não importa o que eu penso, mas sim o que Charlie pensa. - E você, por acaso, sabe o que ela pensa? - Fique calma Rachel. Quer que eu faça o chá? - Benedict ofereceu. - Por que não? Ela não se oporia àquilo. Por que ele não faria as tarefas domésticas também, se já invadira sua vida? - Esse garoto com quem Charlie brigou começou a fazer insinuações sobre... suas... suas preferências sexuais, Rachel. E, como eu disse, sua filha é muito protetora em relação a você. Rachel apertou os lábios, tentando dominar a angústia. - Ela nunca me perguntou sobre o pai - murmurou. Mas, se tivesse perguntado, o que eu diria? Pensou. Como eu falaria de Raoul? - Ele não quis assumir a paternidade? - indagou Benedict em tom gentil. - Ele morreu - respondeu Rachel sem nenhuma emoção na voz, olhando atentamente para Benedict, tentando adivinhar o que ele estava pensando. - Entendo - ele disse simplesmente. - Será que errei no meu modo de educar Charlie? Estou perdendo a confiança em minha capacidade de ser uma boa mãe. - Não menospreze o que tem feito, Rachel. Charlie é uma criança adorável. Você certamente fez o melhor que podia por ela, e sozinha. Não deve ter sido fácil. - Nem sempre fui sozinha. Tia Janet me ajudou muito. E o dinheiro que herdei dela me permite viver com conforto. Além disso, ela me fez continuar meus estudos, foi uma mãe para mim, me deu um lar seguro... - Mas não lhe deu senso de proporção - ele comentou. - O quê? - Você não acha que está exagerando um pouco, dedicando-se tão completamente a Charlie? - Ah, só me faltava isso! - Rachel exclamou, irritada. - Alguém que ficasse me dizendo tudo o que eu faço de errado! - Rachel, admito que não entendo nada de crianças, mas acho que você devia expandir seus horizontes, incluir outras pessoas em sua vida. Digo isso com a melhor das intenções, mas também em interesse próprio. - Ah, é? - É. Eu quero ser seu amante, Rachel. - Diz isso assim, tão calmamente? - ela retrucou, incrédula. A franqueza de Benedict era devastadora. - É sempre tão seguro de si? - A única coisa que afirmo com segurança, Rachel, é que formaríamos um bom par. Muito bom. - Estou saindo com Nigel - ela o lembrou. - Oh, sim, Nigel. Acho que está na hora de dizer a ele que está tudo acabado entre vocês, não é? Rachel abriu a boca mas não disse nada por um momento. Aquela arrogância deixava-a sem fôlego. - Por que eu deveria fazer isso? - ela finalmente questionou. - Prefiro ter direitos exclusivos... - Direitos sobre o quê? Sobre meu corpo? Não sou nenhuma feminista radical, mas isso é ultrajante. - Não precisa ser feminista radical, mas é a mulher mais teimosamente independente que eu já conheci. - Diz isso porque não acredito em tudo o que você me fala? - Não me entenda mal. Adoro mulheres independentes, que sabem tomar a iniciativa - Benedict declarou em tom sugestivo. - Um beijo, e você já se acha dono de mim e do meu corpo. Quer tudo, e eu, ganho o quê? Nigel é diferente, quer casar comigo. Benedict não pareceu impressionar-se. - De fato, ele é diferente - concordou. - Você me espanta, com toda essa sua arrogância. Me diga uma coisa. As mulheres sempre fazem tudo o que você quer? - Você não é igual às outras mulheres que conheço. Vi isso em um minuto, no dia em que nos conhecemos. É autêntica, corajosa e desafiadora. Gosto de você, Rachel. - Gosta? - Por que se surpreende? É claro que eu gosto. Se você me desse uma chance, eu provaria que tenho qualidades muito boas. - Não tenho tempo para... complicações. - Está dizendo que eu sou uma complicação? - Não esperamos as mesmas coisas da vida, Benedict. Ele torceu os lábios, parecendo irritado. - E desde quando você sabe o que eu quero da vida? Rachel olhou-o, perplexa. - Eu não sei. Como poderia saber? Você não me diz nada. Parece saber muito sobre mim, mas, e eu? O que sei sobre você? - Tudo o que você precisa fazer é perguntar. Sou um livro aberto. O que dizem sobre mim, no escritório? - Depende. Os homens, ou as mulheres? - Rachel indagou, maliciosa, disposta a não inflar-lhe o ego. - Ai! - Benedict gemeu, então sorriu, dizendo: - Já vi que os homens não falam bem de mim. - Vou ver como Charlie está - ela avisou, saindo da cozinha e ponto um ponto final na conversa. CAPÍTULO TV - Então, mamãe o beijou. Eles pensaram que eu estivesse dormindo. - Charlie! - Rachel exclamou, chocada. - Oh, olá, mãe. Eu abri a porta para Nigel, você não escutou a campainha. Pensei que você e Benedict estavam... - Chega, Charlie! Vá para o seu quarto! - Mas... - Já! A expressão de dor no rosto de Nigel a fez sentir-se uma mulher sem escrúpulos. Ele parecia uma criança que acabava de descobrir que Papai Noel não passava de uma mentira dos adultos. Ela não podia culpar Charlie. A menina não podia saber que seria errado contar a Nigel o que vira. - Você quer que eu fique? - Benedict perguntou, entrando na sala. Rachel olhou-o, totalmente desconcertada com a embaraçosa situação. - Acho que não. - Meu Deus! - Nigel murmurou, levantando-se. - Aquele vagabundo ousado... É seu chefe! Jaqueta de couro e cabelos desgrenhados. Não sabia que tinha esse tipo de fetiche, Rachel. O tom de desprezo na voz dele a fez sentir-se ainda mais culpada. - Foi só uma coincidência, Nigel. - Ele riu, sarcástico. - Oh, por favor, Rachel! Não acredito em coincidências. - O que ela poderia dizer? Começou a estalar os dedos nervosamente. Não queria que tudo acabasse daquela forma. Por quê? Por que deixara as coisas tomarem aquele rumo? Por que beijara Benedict? - Benedict e eu não... nós não... não fizemos... - Ainda. Não fizemos nada ainda, não é querida? - Benedict completou. - Obrigada! - ela falou por entre os dentes cerrados. Ele provavelmente estava gostando daquilo tudo. - Fico feliz por ter descoberto agora, antes que fosse tarde demais, que tipo de mulher você é - Nigel declarou em tom frio. Rachel enrijeceu-se ao ouvir o insulto. Benedict passou o braço ao redor de sua cintura, e ela sentiu-se grata pelo gesto confortador. - Se eu soubesse antes, que você gosta de perversões... - Ela se sentia culpada, mas não ia tolerar aquele tipo de ofensa. - Sinto muito se o decepcionei, Nigel, mas você está fazendo um papel ridículo, e sabe bem disso. Eu não posso me casar com você. Sei que devia ter dito antes, mas... - Acha que eu ainda a quero? - ele retrucou, obviamente contendo a fúria. - Fico feliz por nunca sequer ter dormido com você. - Estou do seu lado - Benedict sussurrou junto ao ouvido dela. Os olhos de Nigel encheram-se de ódio e ciúme diante do gesto carinhoso. - Pensei que você fosse especial, Rachel... - Nigel não conseguia conter-se. - Coloquei-a num pedestal e agora eu vejo que Jenny tinha razão sobre você. - Jenny? - Ela é prima de Ted Wilson. Foi muito simpática comigo, na terça-feira. - Na terça-feira em que você estava resfriado? Quer dizer que mentiu para mim, que foi ao jantar! - Eu pedi em você em casamento - Nigel continuou, como se não houvesse ouvido a acusação. - Mas mulheres promíscuas como você não valem um centavo, e é por causa desse tipo de mulher que as contaminações hoje são tão alarmantes. - Basta! - Benedict finalmente interrompeu-o. - Você já foi longe demais. Algumas ofensas são aceitáveis, quando nos sentimos feridos, mas acho que Rachel já está se sentindo suficientemente culpada. Pare com isso, esfrie a cabeça. O tom de sua voz era firme, porém educado, mais de aviso do que de ameaça. Após uma breve pausa, ele concluiu: - E não se sinta tentado a insultá-la novamente, ou eu me sentirei tentado a... Aquilo já havia passado dos limites, Rachel decidiu. - Sou capaz de resolver meus próprios problemas. - afirmou, soltando-se dos braços de Benedict. - Em momento algum pensei o contrário - ele assegurou com um sorriso que acalmou-a um pouco. - O caso é o seguinte, Nigel - ela começou, flexionando o pescoço tenso. - Eu... - Não se preocupe, eu já estou indo. Sei o caminho da saída - ele disse simplesmente, marchando para o vestíbulo. Um instante depois, a porta da frente fechou-se com uma forte batida. - Pobre Nigel - Rachel lamentou indo para a cozinha. - Não, não tenha pena. Ele não merecia você - Benedict confortou-a. - O pobre Nigel tem uma mente perversa e até já arranjou uma substituta para você. - Ele não é assim, só agiu dessa forma porque se sentiu humilhado. Benedict achou irritante aquela tentativa de defesa. - Por que não dormiu com ele? - perguntou, disfarçando a irritação. - É uma obrigação, dormir com o namorado? - Costuma ser, quando um casal de namorados pretende casar-se - ele confirmou secamente. - Eu não disse a Nigel que me casaria com ele. - Você nunca achou que ele é um pouco estranho? - Benedict parecia querer insistir no assunto. - Não. Ele sempre foi sensível e compreensivo. - Mas morto do pescoço para baixo, aposto. - Você às vezes consegue ser bem vulgar! - Rachel censurou, indo para junto do fogão, onde a chaleira apitava, anunciando que a água fervera. - É, consigo. No calor da discussão, ela fez um movimento desajeitado ao erguer a chaleira do fogão, e um pouco da água fervente espirrou em seus braços e pernas. - Não me toque! - comandou, rejeitando a ajuda de Benedict, que correra para ela. - Não consigo mais imaginar você me tocando! - Essa foi a coisa mais gentil que você já me disse. - Espero que tenha gostado, pois é a frase mais gentil que vai ouvir - afirmou ela, brava, enquanto enxugava os respingos com um pano. - Aprecio tudo que você me diz, Rachel, até mesmo os insultos. Ela não pôde deixar de rir. Aquele homem era impossível! Meneando a cabeça, lançou-lhe um olhar de reprovação. - Acho que você também deve ir embora. Saiba que eu estou muito grata por sua ajuda. Mas estou cansada, quero ir para a cama, e preciso falar com Charlie também. - Rachel explicou com o máximo de dignidade que pôde reunir. Observando-a, Benedict refletiu que ela era admirável. No meio de tudo aquilo, ficara furiosa, voltara-se contra ele, mas não perdera a compostura. Que mulher era aquela? Parecia que não precisava de um ombro para chorar, que não precisava de ninguém. - Vai falar sobre o pai dela? - Não sei - Rachel respondeu honestamente. - Acho que terei de falar sobre essa história de inseminação artificial que ela inventou. Pensei que o dia em que eu teria de falar a Charlie sobre meu relacionamento íntimo com um homem, com o pai dela, não chegasse tão cedo. Que idiota! - E quanto a nós? - perguntou Benedict. - A gente se vê no escritório, amanhã - respondeu ela, fingindo não ter entendido o verdadeiro sentido da pergunta. - Use os cabelos soltos amanhã, Rachel, por mim. - Ela ainda estava tentando entender o estranho pedido, quando ele saiu, bem mais silencioso que Nigel. Ir com os cabelos soltos? E se ela fosse? Isso representaria para ele um tipo de rendição? A conversa com Charlie precisaria ser adiada até a manhã do dia seguinte. Quando Rachel entrou no quarto, viu que a menina dormia, atravessada na cama. Tirou-lhe os sapatos e cobriu-a com um edredom. Benedict olhou imediatamente para a mesa da secretária, quando entrou no escritório e sorriu. - Bom dia - Rachel cumprimentou-o, desligando o telefone. - Seu pai ligou e disse que está vindo para cá. Nem mesmo a visita de sir Stuart poderia estragar aquela manhã, ele pensou. - Obrigado, Rachel. Ela sabia que a expressão satisfeita de Benedict não fora causada pelo aviso de que o pai o visitaria, pois no momento em que ele chegara, pousara os olhos por alguns segundos em seus cabelos, que lhe desciam livres pelos ombros, e sorrira. Rachel quase se atrasara, naquela manhã. Primeiro fora ao cabeleireiro, depois tivera com a filha a conversa que pretendera ter na noite anterior. - Como está Charlie, hoje? - perguntou Benedict. - Está bem e mandou lembranças - ela respondeu, levantando-se e indo até o arquivo guardar uma ficha. Era verdade que a menina mandara lembranças a Benedict, e isso preocupava Rachel. - Algum problema? - ele perguntou, obviamente percebendo a expressão incomodada de Rachel. - Não, propriamente - ela mentiu, ficando tensa ao notar que ele a seguira e que agora estava próximo demais. "Não quero que minha filha fique muito ligada a você", pensou. "Dizer isso seria muito rude, mas verdadeiro". Na conversa que haviam tido naquela manhã, Charlie mostrara uma certa tendência de adotar Benedict como uma figura paterna. Sir Stuart Arden parecia não ter o costume de bater antes de entrar, e Rachel não teve tempo de pensar em algo mais para dizer a Benedict. O homem tinha um ar poderoso, entrou e ficou por um instante olhando para os dois, que se encontravam junto um do outro, numa proximidade inadequada para uma secretária e seu chefe. Atrás dele entrou uma mulher loira, muito alta e magra, que foi direto para Benedict e passou os braços ao redor do pescoço dele. - Pensei em lhe fazer uma surpresa, trazendo Sabrina - sir Stuart disse. - Embrulhada para presente, pelo que vejo. - Você gostou, querido? Rachel observou-a exibindo o vestido lilás e verde com desgosto. Ela devia ser aquele tipo de garota que chamava a qualquer um de "querido", indiscriminadamente, mas no caso de Benedict parecia que era para valer. - Até que enfim você voltou daquela horrível fazenda - Sabrina falou em tom sexy. - Mas, pelo visto, você não tem ficado muito atrás de sua mesa - observou sir Stuart, mostrando-se descontente com a ausência do filho no dia anterior. Rachel rapidamente percebeu isso e ficou tensa. Ele havia se ausentado por causa dela. - Você, ou nossos clientes têm alguma reclamação de meu trabalho? - perguntou Benedict. - Você saberia, se eu tivesse - sir Stuart confirmou secamente. - Estive falando com seu pai, Sabrina, e ele me contou que você acaba de se formar numa escola de gastronomia. - Isso mesmo, e agora posso praticar minhas habilidades com Benedict. "Aposto que sim", pensou Rachel, enojada com a cena. "Mas o que eu tenho com isso? Não faço parte desse cenário e não vou competir com ninguém pelas atenções de Benedict". - Só ele me deu ânimo para ir até o fim - declarou Sabrina, sorridente. - Papai contou que vai abrir uma empresa de serviços de bufê para mim? É assim que são as coisas, pensou Rachel, filosófica. Aquele era o verdadeiro mundo de Benedict. Voltando para sua mesa, ocupou-se em digitar um relatório no computador, fingindo não estar ouvindo a conversa dos três. Pessoas como o pai de Benedict e Sabrina tratavam secretárias como peças de mobília. Era provável que nem houvessem notado que ela não era Mag. - Você não é Mag - sir Stuart disse de repente, derrubando a teoria dela. - Não, não sou - respondeu Rachel, e não foi capaz de dizer mais nada, incomodada com o olhar perscrutador do homem. - Pensei que você tivesse escolhido a substituta de Mag, pai - comentou Benedict, indo em socorro dela. - Esta é a srta. Rachel French. - Ah, é? Acho que fui eu, sim. Tenho feito várias coisas por aqui. - Com tantas coisas, não pode lembrar-se de tudo, não é? - Você é um trocista - disse Sabrina. - Seria ótimo, se os jovens de hoje tivessem metade do dinamismo e da energia de sir Stuart. Rachel nunca entenderia como homens inteligentes ainda se apaixonavam por mulheres tão fúteis como aquela. - Eu só vim convidar você para almoçar comigo - a moça prosseguiu em tom meloso. - Vai aceitar meu convite, não é, querido? Cada vez que ela repetia a palavra "querido", Rachel sentia os nervos tremerem. Apertava os dentes e fingia estar concentrada no trabalho. - Sinto muito, Sabrina, mas eu já fiz outros planos. - Com alguém que eu conheço? - perguntou ela, apertando os lábios e marchando para a porta que levava ao corredor. - Então, vou esperar por você no escritório de seu pai. Talvez a sra. French possa levar um café para mim. Srta. French, Rachel protestou em pensamento, prestes a dizer que servir café não era uma obrigação que constasse do contrato de trabalho. - Srta. French... - Agora era sir Stuart que inclinava a cabeça em sua direção. - Está gostando de trabalhar com meu filho? Ele é um bom chefe? - É sempre bom ter a oportunidade de usar minhas habilidades linguísticas. - Muito diplomático. Eu ouvi dizer que você é uma jovem muito esperta. Rachel irritou-se. O modo como ele dissera "esperta", soara quase como um insulto. - Tenho um amigo que trabalha em Bruxelas e que está sempre à procura de pessoas com sua experiência em idiomas - continuou o pai de Benedict. A senhorita faria um grande sucesso por lá. Já pensou em se mudar? - Eu tenho uma filha, Sir Stuart. - Colégios internos são uma boa opção, torna as crianças independentes. Gosto do meu café sem açúcar e sem creme - o homem acrescentou abruptamente, antes de ir para a sala de Benedict. "Por que todo esse interesse em meu sucesso?", perguntou-se Rachel, enchendo uma xícara com café. Não se sentia nada confortável, depois de toda aquela atenção que lhe pareceu suspeita... - Eu levo o café para ele - Benedict ofereceu. - Olhe, quero que você me chame dentro de, digamos, sete minutos, dizendo que alguém deseja falar comigo ao telefone, com urgência. - Entendi - ela afirmou. Olhando Benedict entrar na outra sala, refletiu que, apesar de ter perdido os pais muito cedo, sem poder conhecer uma verdadeira convivência familiar, percebia que Benedict não tinha uma relação normal com seu pai. Havia uma espécie de antagonismo entre eles, que ela, com sua capacidade de percepção, captara. Stuart Arden sentou-se em frente à mesa de Benedict, assumindo uma atitude que sempre visava intimidá-lo. A independência de Benedict era um traço característico de sua personalidade, desde que ele era um bebê, e aquilo irritava o pai. Nem o irmão mais velho de Benedict era tão independente. - O que posso fazer pelo senhor, pai? - Benedict perguntou, indo para perto da janela, onde ficou olhando para fora. Assim não notou que o pai apertara um botão do intercomunicador, ligando-o. - Precisamos conversar - sir Stuart preludiou. - O assunto é você e essa srta. French. Há algo de errado com você desde que voltou, e ontem cancelou todos os seus compromissos. Está dormindo com ela? - Sinto desapontá-lo, mas já tenho um amigo íntimo com quem compartilhar meus segredos. - Você? Compartilhando algo? Nisso eu não acredito! Sempre foi a criança mais evasiva que... - Eu apenas tentava ser educado - admitiu Benedict. - Se eu dissesse "cuide de sua própria vida", estaria faltando com o devido respeito. Stuart Arden tamborilou os dedos na mesa. As palavras de seu filho irritaram-no. - Ela trabalha para você e tem uma criança. Você vai criar... Falsas expectativas. Isso sem falar que existe a possibilidade de essa moça estar tramando uma armadilha. - Como o senhor é generoso! Como evita julgar os outros! - Benedict retrucou, irônico. - Pode zombar, mas observe os fatos. Quem poderia culpá-la por querer... Agarrar você? E não acho que seja inteligente de sua parte procurar problemas, quando há jovens bonitas e totalmente livres, como Serena, que... - Sabrina, pai - Benedict corrigiu. - Tanto faz. O fato é que a esposa certa é muito importante para alguém na sua posição... - Assim como foi para o vovô? - perguntou Benedict com um sorriso irônico. - E como foi, então, que você se casou com mamãe, sendo que ela nem tinha pedigree? A palavra "hipocrisia" apareceu em minha mente, por alguma razão... - Isso é completamente diferente. - É claro - concordou Benedict com sarcasmo. - A ideia de criar a filha de outro homem não o incomoda? - Estamos falando da criança, ou da mãe? - Benedict queria livrar-se daquela situação, não estava disposto a levar adiante o estúpido combate verbal. - Falo de ambas! Isso é suicídio social! Você tem ideia de quanta sujeira pode esconder a vida de uma mulher como essa? E um juiz da Suprema Corte precisa ter reputação imaculada. Uma gargalhada escapou da garganta de Benedict. - Juiz da Suprema Corte, pai? É isso que você quer que eu seja, quando crescer? - Você tem um futuro brilhante pela frente, todos dizem isso - Stuart alegou, defensivo. - Obrigado, pai. Dando a impressão de que se sentia muito velho, o pai levantou-se da poltrona de couro. - Obrigado, por quê? - Por lembrar-se que é da minha vida que estamos falando. - Sua vida? Que conversa é essa? Você é um Arden, garoto, meu herdeiro. - Desde que não ultrapasse os limites impostos por você, não é? Tem outros filhos... - Seu irmão mais velho parece feliz com a vida no campo - disse o pai meneando a cabeça, pois sempre desaprovara a escolha feita pelo seu primeiro filho. - E Natalie? - Oh, Natalie é uma menina! - Ora, abra os olhos. Ela é uma garota com ambição e inteligência suficientes para governar o país. E posso dizer que, em se tratando de cérebro, minha irmã é melhor do que eu, mas você nunca lhe deu crédito, simplesmente porque ela é mulher. - Natalie nunca reclamou. - Talvez você não saiba distinguir as coisas que são realmente importantes - observou Benedict, olhando pensativo para o pai. - Vou lhe dar um conselho: algum dia desses, tenha uma boa conversa com Natalie. Ela certamente só espera uma chance para mostrar seu potencial. - Diferente de você. - Stuart parecia desapontado. - E quanto a essa mulher... - O nome dela é Rachel - enfatizou Benedict com firmeza. - Eu só me preocupo porque quero seu bem. - Uma arma calibre doze parece menos destrutiva do que sua preocupação - comentou Benedict francamente, mas sem se exaltar. - E, se isso o faz sentir-se melhor, ela nem está interessada em mim. O pai riu maldosamente. - Talvez, então, ela tenha algo de bom. - Humm... É bom ter a aprovação do pai - Benedict zombou. - Mantenha a cabeça no lugar, meu jovem. Eu não estou aprovando nada. - O senhor não será rude com ela, não é? - Na verdade, serei extremamente gentil. - Verdade? Diante do olhar suspeitoso de Benedict, o pai confessou: - É, mas acho que acidentalmente liguei o intercomunicador, enquanto nós dois conversávamos. - Você quis que ela o ouvisse chamá-la de oportunista, de cavadora de ouro, não é? - Benedict rosnou, nervoso, olhou uma ultima vez para Stuart e saiu da sala. Surpresa! Não havia ninguém na mesa da secretária, e ele não podia voltar para sua sala, não queria mais olhar para o pai. Durante toda sua vida, fora tolerante demais com aquele velho manipulador. "Para onde ela foi?", pensou. A bolsa entreaberta estava no chão ao lado da cadeira. Mas claro! Para onde vão as mulheres, quando querem derramar lágrimas sem que ninguém as veja? - Bom dia, Benedict - a mais recente estagiária da firma cumprimentou-o, espantada, ao vê-lo passar por ela e entrar no banheiro feminino. - Bom dia, Sarah. Uma rápida olhada mostrou que não havia ninguém na frente da fileira de espelhos. A porta de um dos cubículos, porém, estava fechada. - Eu sei que você está aí, Rachel. Saia, vamos. Você só ouviu o que meu pai queria que ouvisse. - A voz dele ecoava forte pelo banheiro de teto alto. - Nós dois precisamos conversar, que inferno! Se você não sair, vou arrombar a porta! - Rachel! - ele gritou novamente. Mas, quando a porta rangeu, abrindo-se, quem saiu foi uma mulher que ia sempre à firma dos Arden, procuradora de um de seus clientes. - Sinto desapontá-lo, Benedict, mas sou apenas eu. - Oi, Carol. Desculpe, pensei que fosse outra pessoa. - É, eu notei - disse ela olhando-o com ar divertido. - E não sabia que você era tão romântico. Começou a rir, enquanto Benedict saía do banheiro apressadamente. CAPÍTULO V - Desculpem o atraso, senhores. - Kurt Hassler levantou-se com a mão estendida. - Não se preocupe, Benedict. Rachel já me explicou tudo. - Tenho certeza que sim. - Rachel desviou o olhar, evasiva. - Vejo-os, então, após o almoço, cavalheiros. - Espere, será um almoço de negócios, e talvez fosse bom que você, nos acompanhasse - disse Benedict e, então, virando-se para os outros homens, acrescentou: - Essas mulheres e suas dietas! Comem apenas iogurte e maçãs. Rachel sorriu ao pensar no que faria com uma maçã, se tivesse uma em mãos naquele instante. Benedict já devia saber como ela odiava aquele seu tom paternalista, como se ela não fosse capaz de sair sozinha de qualquer situação. - Eu não faço dietas - ela afirmou. - E, mesmo que fizesse, não rejeitaria um almoço grátis. Não deixaria Benedict saber que tinha ouvido sua conversa com o pai dele. Ao menos, agora, ela não teria mais medo de cair em tentação. Após aquelas coisas ditas por sir Stuart... E, naquela tarde, ela soube que Benedict, realmente, tinha um grande futuro como advogado. Conseguira um acordo que parecera impossível, e o cliente ficara muito satisfeito, achando bem gasto cada centavo que pagara. - Você ainda está aí? - Pergunte daqui a dez segundos, e não estarei mais - respondeu Rachel, pondo a bolsa no ombro. - Você deve estar muito feliz com os acontecimentos de hoje, não é? Calmamente abotoou o casaco, e seus gestos suaves e precisos pareceram irritar Benedict. Um ímpeto perverso fez com que ela voltasse a sua mesa e pegasse uma folha de papel. - A secretária de Albert está tendo dificuldade para encontrar uma certa pasta. Você não se importa que eu a ajude, não é? - E por que eu me importaria? - Você parece um pouco... Nervoso - observou ela inocentemente. - Nervoso? Claro que estou nervoso. Depois da visita de meu pai... - Ele parece saber muita coisa sobre mim. - Você ouviu, não é? Olhe, Rachel... - Ouvi, o quê? - perguntou, num tom forçadamente indiferente. - O que meu pai fez questão que você ouvisse. - Isso não importa - ela declarou, olhando para o relógio. - As coisas que ouvi fazem muito sentido. Que ingênua ela fora, ao pensar que podia significar algo para Benedict Arden. Homens como ele não levavam mulheres a sério. Ela devia agradecer a sir Stuart por abrir-lhe os olhos. - Você e meu pai parecem ter o mesmo tipo de mentalidade - ele comentou, parecendo irritado. - E você se importa com isso? - Rachel perguntou friamente, pondo na mesa a folha de papel que estivera segurando.. Benedict aproximou-se, e ela pôde sentir o perfume masculino que emanava do corpo musculoso. De súbito, como se perdesse a paciência, ele bateu com a mão em uma pilha de papéis. - Quer parar com isso, Rachel? - Não sei o que você quer dizer. - Está agindo como criança. O fato era que ela estava se sentindo humilhada, desde que ouvira a conversa de Benedict e sir Stuart através do intercomunicador. - Diga a seu pai que ele não precisa se preocupar, que não vou tentar desviar você do grande futuro que o espera. - Eu sou mais independente do que ele possa pensar. Faço o que quero com minha vida. Ela deu de ombros, sorrindo. - De qualquer forma, sinto muito, se causei algum desentendimento entre vocês. - Eu vivo em constante desentendimento com meu pai. - Pode ser, mas não me sinto nada bem, no meio de um campo de batalha. E ouvir vocês discutirem por minha causa... Bem, isso fez com que eu me sentisse culpada e... - Magoada? - sugeriu Benedict em tom gentil. - Não importa - falou ela, suspirando. - Eu sei que algumas pessoas acham que mães solteiras vivem à procura de homens ricos. E, quanto ao almoço de amanhã, devo reservar uma mesa para dois? - Como? - perguntou Benedict, confuso com a abrupta mudança de assunto. - Não recebeu o recado que Sabrina lhe deixou? Ela quer que vocês almocem juntos, amanhã. - Recebi, sim. - Sabrina parece uma garota muito persuasiva. "Talvez eu deva aprender com ela, a ser tão fingida", pensou Rachel malignamente. - E também cozinha muito bem - Benedict comentou. - Sei que seu horário de trabalho já terminou, Rachel, mas será que pode escrever uma carta para mim? - Claro - ela respondeu em tom profissional, sentando-se à mesa e pegando um lápis para anotar o ditado. - É uma carta de demissão. - Rachel ergueu á cabeça e olhou-o, aturdida. - O quê? Quer que eu: peça demissão?! - perguntou, horrorizada. - Não. Sou eu que vou me demitir. - Pelo que houve com seu pai, por minha causa? Não pode fazer isso, Benedict! - Oh, claro que posso. E não tem nada a ver com você. - Não acha que precisa pensar mais a respeito? Essa é uma decisão séria. - Sei que você me julga uma pessoa fútil, incapaz de uma reflexão sóbria. Mas, veja, eu já estava pensando em deixar a firma. É algo que estou querendo fazer desde que cheguei da Austrália, e, além disso, penso em voltar para lá. "E eu, que pensei que tivesse algo a ver com essa decisão", pensou ela, sentindo-se uma perfeita tola. - Você deve saber o que está fazendo. Imagino que goste muito da Austrália - comentou, então, não resistiu ao impulso estranho de dar uma alfinetada: - As mulheres de lá devem ser muito bonitas. - São, sim - Benedict confirmou. - Talvez seja essa a razão pela qual você deseja voltar para lá. Estou certa? - Cuidado, Rachel. Desse jeito, posso pensar que está com ciúme de mim. - E, antes que ela dissesse algo ele acrescentou: - Minha avó me deixou algumas cabeças de gado e uma fazenda em Queensland, chamada Connor's Creek, quando morreu, quatro anos atrás. Contratei um administrador para tomar conta, mas não obtive bons resultados. - Lamento. - Se não fosse pelo valor sentimental, porque minha mãe gostava muito do lugar, eu certamente já o teria vendido. Essa fazenda já me causou muitos transtornos. - Causou, é? Benedict sorriu, tendo a impressão de que Rachel estava interessada na história. - Causou e ainda causa, mas o lugar e apaixonante. Minha vida sempre foi muito previsível, com tudo planejado por meu pai. Mas em Connor's Creek tudo é diferente. Eu me sinto livre, e cada dia representa um novo desafio. - Por que só agora pensou em morar lá? - Achei que outras opções fossem melhores. Você sabe, a vida na cidade... Fui criado de uma maneira, que só consigo me sentir uma pessoa respeitável se estiver usando um terno. Rachel se lembrou, então, de como ele estava vestido, quando o vira pela primeira vez. Parecia um rebelde. - E sua família não ficará nada satisfeita, se você se mudar para lá. "Se Benedict partisse, seria a perfeita solução para o meu problema", ela pensou, admitindo que se sentia poderosamente atraída por ele. - Meu pai vai ter um ataque, e minha irmã sentiria muito a minha falta. - E como ficaria sua carreira? - Posso sobreviver sem ela. Para ser sincero, sempre achei meu trabalho uma chatice. - Talvez foi por isso que você se atirou tão intensamente à vida social, para compensar suas neuroses com a vida profissional - Rachel opinou. - Me perdoe, mas, quem garante que você não ficará entediado também, levando vida de vaqueiro? - Deixe a ironia barata por minha conta, sim? Não combina com você - disse ele, sorrindo. Antes, se alguém lhe dissesse que ele poderia se apegar a um lugar, Benedict certamente riria. Mas, agora, ele sabia que podia. E esse lugar não era Londres. - É um passo muito importante, deixar uma vida para trás e começar outra, totalmente diferente - ela falou, séria. - Descobri que é o único que vale realmente a pena, Rachel. Meu Deus, ele ia para o outro lado do mundo! Ela queria, sim, esquecê-lo, mas isso seria muito doloroso. - Todos já sabem de seu plano, ou você quer que eu mantenha segredo? - Rachel perguntou. - Você é a única pessoa para quem eu contei, Rachel pôde captar um tom de intimidade na voz dele. - Entendo. Pode contar com minha discrição. - Sentirá minha falta, Rachel? Por um momento, ela ficou confusa com a pergunta inesperada. - Sou apenas sua secretária temporária, de modo que sua ausência não poderia me afetar demais - respondeu por fim. - Ah, sim, eu tinha me esquecido - Benedict comentou suavemente. - Mas posso, para defender minha causa, alegar que existem laços pessoais, além de profissionais, entre nós. Ela forçou-se a dar uma risadinha zombeteira. - Existem, é? Eu não sabia. Quais são? - Para começar, Charlie simpatiza comigo, apesar de você não aprovar, porque receia que ela se apegue demais a mim. - Não é verdade que eu não aprove - Rachel discordou, tentando não sentir-se culpada. - Você não gosta da proximidade de homens, não é? Principalmente de um que pode estar apenas de passagem em sua vida. Talvez foi por isso que se relacionou com o bom e velho Nigel, porque sabia que ele nunca romperia o trato. - Quanta bobagem! - gritou Rachel. "Qual o problema em alguém querer ser emocionalmente independente?" perguntou-se. Benedict falava como se isso fosse uma doença. - Não creio que seja bobagem - ela replicou, levantando-se com a intenção de ir embora, mas ele bloqueava-lhe a passagem. - Tenho maturidade bastante para saber que algumas relações são superficiais, e não quero magoar Charlie. Você é bom para ela, e ela gosta de você mas... - Rachel, olhe-se no espelho. Muitos homens enfrentariam uma gangue de bandidos por sua causa - afirmou Benedict, pegando-a pelo queixo. - "Muitos homens" querem apenas relacionamentos superficiais - ela persistiu, sentindo que, se ele a beijasse, não teria força para rejeitá-lo. - Mas não era exatamente isso o que você queria com Steve... Ou seja, comigo? Você não fantasiou, em nenhum momento, a possibilidade de fazer amor com um total estranho? Não pode negar que se sentiu atraída por mim... - Fazer sexo com estranhos não faz parte de minhas fantasias - Rachel informou, nervosa. - Mas, talvez, fosse um alívio para sua sexualidade reprimida. Eu não me surpreenderia, se você me dissesse que a última pessoa com quem dormiu foi o pai de Charlie - Benedict provocou. Ficou calado por um instante, olhando fixamente para o rosto dela. - Meu Deus! - exclamou então. - Acertei, não é? Você nunca mais teve outro homem. Rachel ficou tão chocada, diante de tanta percepção da parte dele, que não respondeu nada. Aos dezenove anos, trabalhando no sul da França, ela agira como a maioria das garotas de sua idade. Raoul Fauré era um talentoso piloto de Fórmula Um, e seu comportamento temerário nos circuitos provocava a admiração do público e a inveja de seus companheiros. Raoul dissera que ela era a mulher mais bonita do mundo, e Rachel acreditara. Ele fizera a declaração de amor que toda adolescente gostaria de ouvir, e o que se seguira fora inevitável. Na semana seguinte, porém, ele já estava com uma jovem e famosa atriz em seus braços. Rachel sentira-se miserável, com suas fantasias de adolescente despedaçadas. - Castidade tem suas vantagens - ela declarou. - E sexo, apenas, não é algo tão importante para mim. - Isso é verdade? - perguntou ele, sem se preocupar em esconder o ceticismo. - Eu já disse que é, não disse? Dois segundos depois, ela percebeu como ele estava próximo, mas já era tarde demais para se afastar. A boca máscula, quente e ávida, cobriu rapidamente a sua. A intensidade do beijo desencadeou nela uma reação inesperada, destruindo todas as barreiras tão cuidadosamente construídas. Ela estremeceu ao sentir os braços fortes ao redor de seu corpo, as coxas musculosas movendo-se sensualmente contra as dela. Rachel ergueu os braços, abraçando-o pelo pescoço, introduzindo os dedos entre os cabelos dele, e os dois moveram-se lentamente, até que ela ficou encostada na parede. Benedict ergueu a cabeça e, por um momento, entreolharam-se. Ele tinha uma expressão triunfante no rosto. - Você é... - Rachel sussurrou, sem conseguir completar a frase, pois estava sem fôlego. - Eu sou o quê, Rachel? - ele persistiu, curioso. Ao vê-la virar o rosto para o lado segurou-lhe o queixo, forçando-a a olhá-lo nos olhos. - Diga o que pensa de mim. - Você é muito cruel e... Bonito - ela murmurou. Então, entregou-se novamente aos braços de Benedict. Queria fazer amor com ele. Desesperadamente. Estava viva! Sentia desejo. E seus mamilos eretos eram prova disso. - Não podemos, Benedict - Rachel reagiu, lutando contra a tentação, ignorando os arrepios quentes que percorriam seu corpo. - Olhe, eu... - Não diga nada - ele a interrompeu num murmúrio. - Amo sua boca. Beije-me! Ela gemeu, pressionando avidamente os lábios contra os dele. Sentiu uma vertigem de desejo, desistiu de lutar. - Talvez você esteja certo, e eu deva mesmo fazer amor com você. Leve-me para a cama, então tudo poderá voltar a ser como era, e você continuará com seu ego intacto, sabendo que nenhuma mulher pode resistir a Benedict Arden. Ele ergueu a cabeça e fitou-a com uma expressão que dizia que estava disposto a não se deixar desencorajar pelas palavras dela, quase ofensivas. Uma expressão muito sugestiva, que a fez perceber que fora longe demais. "Calma, Rachel", ela se aconselhou. "Você tem de se controlar". Mas o conselho de nada valeu. Uma onda de amargura, de descrença em relação aos homens, levou-a a continuar: - Afinal, tudo sempre acaba saindo do jeito que você quer, tudo sempre... - Esta é a parte em que eu devo ficar ofendido e me retirar? - Benedict indagou. Mas, para surpresa de Rachel, não parecia nada ofendido. - Estou apenas sendo realista - ela afirmou, imaginando se não seria melhor usar de sinceridade e confessar que estava apaixonada por ele, mas que tinha medo de sair emocionalmente ferida? - Essa sua estratégia não funcionará comigo, Rachel. - Eu não quero ir para cama com você! - exclamou, contradizendo o que dissera antes, pois estava confusa, sentindo-se sem forças. - Eu te desejo, e você também me deseja, estamos fazendo algo errado? Traindo alguém? Acho que não, porque nós dois somos livres. O fato é que você me quer em sua cama, mas não consegue admitir, não é, meu amor? - Não sou seu amor! - Rachel reagiu, quase engasgando de surpresa. - E você, provavelmente me odiará, amanhã - ele observou placidamente. - Já odeio hoje. - É um bom começo. - Você é louco? - Não sei, mas estou louco por você - Benedict declarou, tomando-a novamente nos braços. "Meu Deus, eu estou gostando do papel de donzela indefesa!", ela pensou. - Em minha sala há um sofá, e a porta tem chave - ele informou. - E você está com a chave? - Rachel, perguntou, respirando fundo, abandonando o bom senso, que a mandava rejeitá-lo. - Não - ele respondeu, pondo uma pequeno objeto frio na mão dela. - Você está. Isso quer dizer que a decisão é sua. Ela descobriu que o sofá era confortável, e o couro, macio, sob suas costas nuas. Seu sutiã era quase transparente, e Benedict, ajoelhado no chão, fechou os lábios sobre um mamilo enrijecido. Sugou-o lentamente, até que Rachel arqueou-se, gemendo, tomada de desejo. Ele tirou a camisa e arremessou-a para alguma parte da sala, então voltou a torturá-la com carícias, tocando-a no triângulo escuro entre as coxas, ainda protegido pela calcinha de renda. Ela estremeceu com o toque tão íntimo, mas não ofereceu resistência, ao senti-lo puxar-lhe a calcinha para baixo e tirá-la. - Você gosta disso? - perguntou Benedict, voltando a tocá-la em sua feminilidade. Rachel gostava, gostava muito. - Gosto - disse simplesmente, flexionando e entreabrindo as pernas. Ele aprovou o movimento, acariciando-a ainda mais eroticamente enquanto que, com a outra mão apalpava a firmeza de um dos mamilos. Rachel, querendo sentir o toque da mão dele na pele nua, fechou os olhos tirou o sutiã. - Assim é melhor? - indagou em tom rouco. - Muito. Você é linda, muito linda. Na primeira vez em que nos vimos, notei que você não estava usando sutiã. Fiquei quase enlouquecido de desejo... Olhando-o, ela admirou a beleza do peito e dos ombros musculosos, bronzeados. Um torso magnífico. Suspirou profundamente e, virando-se ligeiramente de lado, deixou que suas mãos descessem pelo corpo dele até encontrarem o botão da calça e soltarem-no. Instantes depois, Benedict também estava nu, parecendo mais poderoso e belo. - Tudo bem com você? - ele quis saber, parecendo preocupado com o possível desconforto dela no sofá. - Tudo bem - ela afirmou com sinceridade. - Só posso estar bem, tocando-o e sendo tocada por você. Aquilo era muito diferente do que Rachel experimentara durante a adolescência. Estava sendo um momento especial, que compartilhava com um homem sensível e atencioso. - Sente-se realmente confortável? - Benedict insistiu, ajeitando-se sobre Rachel, apoiando cada joelho num lado do corpo dela. - "Confortável" não é exatamente a melhor palavra para descrever como estou me sentindo - Rachel sussurrou meio ofegante, pois ele tomara um de seus mamilos na boca e circundava-o com a língua. Gemeu, invadida por uma onda de prazer. Benedict beijou-a do seio até uma das orelhas, desenhando uma trilha que parecia queimar a pele acetinada. - Eu não tenho muita experiência - Rachel balbuciou. - Não fiz isso muitas vezes e... Meu corpo não é perfeito, eu já tive uma criança... - Acha que estou preocupado com perfeição? - ele murmurou, erguendo-lhe o queixo para que ela o fitasse nos olhos. - Não consigo descrever a sensação que tenho ao tocá-la, mas atrevo-me a dizer que é felicidade, não apenas prazer sensual. Rachel sentiu-se aliviada, notando sinceridade em suas palavras. Benedict colocou a mão entre as coxas dela, acariciando-a, preparando-a para a penetração. - Este sofá não nos deixa muita opção, mas você prefere ficar por baixo, ou em cima? - perguntou. - A escolha é sua. - Já escolhi - ela respondeu, arqueando o corpo para beijá-lo na boca e puxando-o para a maciez de seu corpo. - Eu vou esmagar você, desse jeito - ele avisou. - Mas eu gosto de ser esmagada por você - Rachel assegurou. - Não posso me mover muito bem, neste aperto. - Pode sim, pode se mover exatamente onde eu quero que você se mova. - Você é uma menina muito esperta, Rachel. Foi a última coisa que Benedict disse, antes de possuí-la. - Oh, diabos! Não usei preservativo, Rachel! Aquilo não era suficiente para arruinar o doce clima que os envolveu depois do amor. - Não se preocupe, não estou no período fértil de meu ciclo. - Mas o problema não é esse. - Não é? - ela perguntou, sentindo uma pontada de apreensão. - Não quero que você pense que sou irresponsável, um desmiolado. - Relaxe. Eu não penso nada disso. - Da próxima vez... - Não haverá outra vez, Benedict. Rachel ouviu o sofá ranger, enquanto ele se levantava abruptamente. - Como?! - ele exclamou, olhando para o corpo esbelto, ainda suado. - Não estou censurando você. Foi tudo muito bom. - Ainda bem - ele disse com um sorriso que não iluminou-lhe os olhos. - Mas não pode acontecer de novo. - Se você me ouvir durante dez minutos, acho que mudará de ideia. - Preciso ir para casa. - Deixe-me adivinhar: não sou o tipo de homem que você quer que conviva com Charlie - ele arriscou em tom sério. - Não quero dar falsas esperanças a minha filha, Benedict. Ela gosta de você, e... - E o que a mãe dela acha de mim? - Ela acha que você é um homem muito atraente. - Mas? - Não fale assim - pediu Rachel. - Você não pretende compartilhar sua vida comigo, e temos muito pouco em comum. Além disso, não sou do tipo de mulher que ficaria feliz por ser apenas mais uma em um harém. - Mas de que harém está falando? Você não... - Será melhor para ambos, se nossa relação for estritamente profissional. Agora preciso me vestir. Benedict observou-a levantar-se. - Não vai me pedir para fechar os olhos, vai? Sinto muito, mas não vou fechar. Adoro vê-la nua. Diga-me uma coisa, Rachel. Depois de hoje, como espera que possamos ter uma relação exclusivamente profissional? - Você adora complicar tudo, não é? - ela criticou, vestindo a calcinha. - Talvez não acredite, mas eu nunca me vi numa situação dessas antes. Claro que não esperava adoração de sua parte, mas... - Não? Só aplausos por sua performance? - Nem adoração, nem aplausos. Mas acho que você gostou mais de mim quando pensou que eu era um pobre-coitado, que andava pelas ruas sem um centavo no bolso. Por que a ideia de uma relação de igual para igual a deixa tão assustada? "De igual para igual? Ele estará falando sério?", pensou Rachel, acabando de vestir o sutiã - Não quero me envolver com você, só isso. - Quer jantar comigo amanhã, Rachel? - Benedict convidou, entregando-lhe a saia, que apanhara do chão. Ela hesitou, então moveu a cabeça num gesto afirmativo, enquanto vestia a saia. - As oito? O horário é bom para você? - ele insistiu. - É - ela respondeu laconicamente, pegando a blusa do chão e começando a vesti-la. - Nosso primeiro encontro! - exclamou ele, sorrindo. - Primeiro e único - Rachel afirmou, desafiadora. CAPÍTULO VI Preciso ir ao banheiro. Não deixe que levem nada daqui - Charlie recomendou a um dos zeloso garçons. - Eu ainda não acabei. - Eu vou com você - Rachel falou, levantando-se. - Não sou mais um bebê, mãe. Posso fazer isso sozinha. - Perdão - Rachel esforçou-se para não deixá-la perceber que estava reprimindo o riso. "O orgulho de uma menina de dez anos é coisa delicada", refletiu. - Vai ter de conversar com Benedict, enquanto eu não estiver aqui - a menina avisou, antes de afastar-se. - Essas crianças... - murmurou Benedict, recostando-se na cadeira e olhando fixamente para Rachel. - Você não está pensando que eu trouxe Charlie para usá-la como um... - Um escudo? - ele completou. - Aposto como você planejou isso no momento em que aceitou meu convite. - Não tem do que se queixar. Aceitei jantar com você, e estou jantando. - Não estou me queixando, Rachel - Benedict assegurou, sorrindo, estendendo o braço para alcançar a mão de Rachel. - Relaxe. Estou gostando muito, Charlie é uma ótima menina, inteligente e agradável. Nós temos muito em comum, sabe? Também fui uma criança muito esperta. - Por que está me dizendo isso? - perguntou Rachel, sentindo-se insegura com o comentário. - Eu acho que você se sente dividida. Por um lado quer ser uma mãe zelosa, por outro, tem medo de tornar-se dominadora, o que poderia sufocar o potencial de sua filha. Mas há só uma coisa que eu quero saber sobre Charlie: a que horas ela irá para a cama? Rachel ficou perplexa com a pergunta. - Nos fins de semana o horário é flexível. - Bem que ela poderia dar uma cochilada, não é? - ele comentou com voz sarcástica. Ela puxou a mão, tentando livrá-la da dele, mas sem conseguir. Benedict estava fazendo movimentos circulares com o dedo na palma de sua mão, e com aquela carícia era impossível para ela concentrar-se em demonstrar frieza. - Já estaremos bem longe um do outro, quando ela dormir. - Está tentando me dizer algo, Rachel? Não está realmente com medo de ficar sozinha comigo, está? Rachel cerrou os dentes, então forçou-se a exibir um sorriso. - Estou sozinha com você agora, não estou? E nem por isso estou tremendo. - Firme como uma rocha, mas muito mais bonita - disse Benedict, curvando-se e beijando as costas da mão dela. Aquele toque foi como um choque elétrico, que a fez dobrar os dedos. - E que há coisas que eu gostaria de lhe dizer em particular, Rachel - ele continuou. - Eu não acho que queira ouvir - ela declarou, sem conseguir pensar em outra resposta, mais indiferente. - Por quê? Rachel olhou-o, enquanto ele enchia seu copo com vinho. Um vinho que ela não tinha intenção de tomar. - Você está indo embora, Benedict. Para o outro lado do mundo. - E isso a incomoda? - perguntou ele, olhando-a intensamente. - Não espere que eu diga que estou me sentindo arrasada com a ideia de vê-lo partir - respondeu ela calmamente. - Só estou estabelecendo um fato. Você vai embora, e eu vou ficar. Não tenho nenhum motivo para ouvir o que você possa ter para me dizer. - Essa é uma das coisas que eu gosto em você. - Do quê? - Você é uma lutadora. Só aceita uma situação quando não pode mais combatê-la. Não é assim que você pensa? - Oh, agora também lê pensamentos? - Ontem, nós dois parecíamos estar fazendo isso, naquele sofá. Rachel meneou a cabeça, tentando se livrar das lembranças que desorientavam sua mente. - Pensei que tivéssemos concordado em esquecer aquilo - disse com frieza. - Não concordei com nada. Você fez isso por nós dois. E eu não pensei que você fosse o tipo de garota que gosta de aventuras de um dia. - E não sou - ela informou honestamente. - Mas faria alguma diferença, se eu não estivesse de partida? Aquela pergunta astuta deixou-a confusa. - Eu estou impressionada por você não ter se enjoado de mim ainda - ela alfinetou. - Não acha que devia aprender a lidar com relacionamentos normais, antes de querer manter um a longa distância? - E se eu não estivesse indo embora, você me ajudaria a aprender isso? - Estou sem tempo livre, no momento. E não acho que você esteja disposto a... - Me comprometer? - Aí vem Charlie. De repente, Rachel sentiu-se empalidecer ao ver o homem que ao lado de sua filha. E ele estava falando com Charlie. - Rachel? - Benedict chamou-a, assustado com sua expressão. Ela parecia estar vendo um fantasma. Benedict, então, virou-se na direção em que ela olhava, tentando descobrir o que estava causando tanto espanto. Viu Charlie entregando um copo vazio para um homem alto, que estava limpando a frente da camisa com um guardanapo. E ele parecia estar assumindo a culpa pelo acidente. O corpo de Rachel gelou, quando ela viu Charlie aproximando-se da mesa, ainda na companhia do homem. Achara que aquele dia nunca fosse chegar. A chance de encontrar um dos Fauré era remota, mas finalmente acontecera. - Olá, Rachel. - Christophe, que surpresa - ela disse simplesmente, sem nenhuma entonação. - Para mim também. O rapaz tinha um sotaque francês, e aquilo devia ser muito atraente para as mulheres. - Você se casou, Rachel? - Não, não, este é Benedict Arden. Benedict, este é Christophe Fauré. - E Charlie eu já conheci - disse o francês, sorrindo para a menina. Charlie tinha os olhos dele, Benedict notou. Por isso ele parecera tão familiar. Por isso Rachel ficara tão assustada. - Você está sozinho, aqui em Londres? - ela indagou. Era um pesadelo. Christophe certamente descobrira a verdade. Pelo modo como olhava para Charlie, era como se visse nela o próprio irmão. - Annabel ficou em casa, ela tem uma exposição no mês que vem. Annabel é minha esposa - disse ele educadamente, olhando para Benedict. - Ela é pintora. - Então, você é casado? - Era difícil para Benedict disfarçar a hostilidade. - Sou. - Posso perguntar uma coisa? - Benedict, sem importar-se com as boas maneiras, estava entrando na conversa. - Você era casado, quando conheceu Rachel? - Era, sim. - E quando foi isso? - Benedict! - exclamou Rachel com um olhar reprovador. Ele estava se comportando como se fosse seu pai, ou um amante ciumento... - Onze anos atrás - respondeu Christophe, olhando novamente para a menina. - Sua mãe era uma grande amiga minha, Charlie. Ficava o tempo todo lá em casa... Meu Deus, o que diria em seguida? Pensou Rachel, alarmada. Se Charlie tinha de conhecer aquela história, que fosse ela a contar. - Quer dançar comigo, Christophe? - ela convidou, inspirada pela urgência da situação. Tinha de afastá-lo de Charlie. - Seria um prazer. - Desculpe - ela pediu momentos depois, porque, nervosa como estava, pisara no pé dele pela segunda vez. - Ela é filha de Raoul, claro - o francês disse. Rachel apenas moveu a cabeça afirmativamente, sem nada dizer. - Raoul era meu irmão, e eu o amava, mas era um egoísta - Christophe declarou. - E eu era só uma garota boba - ela acrescentou, sem discordar da opinião dele a respeito do irmão. - Ele sabia de Charlie? - Não. - Mas suponho que seria tudo diferente, se soubesse. Você poderia viver conosco. Sob nossa responsabilidade, porque Raoul era um irresponsável. - A voz dele tinha um tom severo. - Charlie é minha sobrinha, tem meu sangue em suas veias, e eu lhe daria toda a assistência. Espero que você não pense que o resto da família é igual a Raoul. - Não, claro que não. Você e Annabel sempre foram muito gentis comigo, mas eu fiquei assustada e envergonhada, não queria que ninguém soubesse como fui estúpida. Rachel fez uma pausa, experimentando uma onda de amargura ao recordar o que sofrera. - Quando eu soube do acidente com Raoul, pensei em contar, mas tive medo de que pensassem que eu queria apenas... - continuou. - Bom, isso podia gerar muitas suspeitas, e Raoul não estava mais entre nós para confirmar a história. - Os olhos de Charlie são a prova, Rachel. Você foi prejudicada, e ajudá-la seria um prazer, não uma obrigação. Ela ficou comovida com a emoção e a sinceridade que sentiu na voz de Christophe. Era incrível como dois irmãos podiam ser tão diferentes. - E aquele homem que olha para mim com jeito de assassino? O que ele é seu? - É meu chefe - ela explicou, lançando um olhar através da pista de dança, na direção de Benedict, que os observava com uma expressão rude de desaprovação. - Talvez ele não goste que você dance com outros homens. - Isso não é da conta dele - disse ela em tom irritado. Christophe olhou-a com ar cético, mas não insistiu no assunto. - Eu gostaria muito de compensá-la pelo que sofreu - declarou. - Sei que agora é tarde, mas... - Não, por favor! - ela interrompeu-o. - Rachel, não me negue esse prazer. Quero fazer isso não apenas por você, mas por mim também Annabel e eu não podemos ter filhos. Rachel captou sofrimento na voz dele. - Lamento - disse com sinceridade. - Não há mais jovens em nossa família, e a voz de uma criança nos encheria de felicidade. Não negue a minha mãe o prazer de conhecer sua única neta, Rachel. Você poderá nos visitar na França, e todos poderemos nos conhecer melhor. - Charlie e eu não temos nenhum parente - ela contou. Não podia acreditar que tudo podia ser tão simples. De repente, sua filha teria uma avó e toda uma família, algo que ela nunca conhecera. - Agradeço e aceito seu convite, Christophe. Ele suspirou, obviamente aliviado. - Obrigado, Rachel. Você me deixou muito feliz. Agora, é melhor você me dar seu endereço antes de voltar para o seu namorado. - Ele não é meu namorado. - Acho que ele não concordaria, se a ouvisse - Christophe comentou em tom seco. - Eu quero que Benedict me dê um beijo de boa-noite. - exigiu Charlie, enquanto escovava os dentes. Como é bom ser querido, pensou Rachel, ao ver Benedict curvar-se diante da garota e dar-lhe um beijo na testa. - Seu desejo é uma ordem, minha dama! - disse ele galantemente, fazendo a menina rir. Rachel nunca vira Charlie tratar outra pessoa daquela maneira. Talvez todo aquele tempo em que permanecera sozinha tivesse tido alguma influência negativa sobre a filha, que não tivera a oportunidade de amar outras pessoas, a não ser tia Janet. Momentos depois, Charlie já fora para a cama, e os dois estavam a sós, na sala. Benedict sentara-se no sofá, e Rachel acomodara-se numa poltrona. - Benedict... eu..., é que... - ela gaguejou, tentando pôr as ideias em ordem. - Ele não sabia de Charlie, não é? Rachel percebeu de quem ele estava falando. Mas quem ele achava que Christophe era? Um ex-namorado? - Não, não sabia - ela respondeu simplesmente. - E nunca imaginei que um dia reencontraria Christophe ou a esposa dele. - Oh, sim, a esposa. Rachel notou o sarcasmo na voz, dele, mas não entendeu o motivo. - Eles não podem ter filhos e... - Não posso acreditar no que estou ouvindo! Rachel olhou-o confusa, quando Benedict bateu com a mão fechada na palma da outra mão, visivelmente furioso. - Por que ele mentiria? Não tem nenhuma razão para isso. - Nenhuma razão? Você está disposta a acreditar em tudo que ele diz? Uma palavra dele, e está tudo perdoado e esquecido? - Benedict gritou, alterado, com os olhos brilhantes de raiva. - Mas não foi culpa de Christophe! - ela protestou. Como poderia culpá-lo pelos erros do irmão? Benedict respirou fundo. - Na minha opinião, um homem mais velho e casado, que seduz uma adolescente, não passa de um... um... - Interrompeu-se antes que dissesse um palavrão. Ficou calado por um instante, tomou fôlego e continuou: - Não vou ofender sua sensibilidade, dizendo o que penso desse homem. Mas como você explicará a Charlie que o pai dela milagrosamente ressuscitou? Sabe, eu acho que você realmente tem uma queda por homens muito mais velhos - acrescentou maldosamente. Ficou óbvio, para Rachel, que Benedict notara a semelhança entre Christophe e Charlie. E ele estava pensando que a menina era filha de Christophe! Fora por isso que não dissera uma palavra sequer, no caminho de volta, parecendo ter perdido o bom humor que demonstrara durante todo o jantar, apesar da frieza dela. - Está enganado, Benedict - ela começou calmamente, com a intenção de esclarecer o mal-entendido. - Meu Deus! - ele exclamou, levantando-se com um movimento brusco. - Você não tem mais dezenove anos, mulher! Aposto que o homem até a convidou para ir para França com ele. - Na verdade, convidou, sim. Agora ela sabia o que tinha que fazer. Talvez não fosse o mais correto, mas ela ia usar aquele mal-entendido para tirar Benedict de sua vida. "Não, isso não é justo", refletiu. Então, sufocou a voz da consciência, dizendo para si mesma que nem tudo era justo, no mundo. Benedict pegou o paletó, que deixara no braço do sofá, e jogou-o no ombro. - Pelo visto, o francês não perde tempo, não é? - escarneceu, caminhando para a porta. Não, ela não podia deixar que ele partisse, pensando... - Benedict! - chamou, levantando-se da poltrona. - Escute, as coisas não são como você pensa. Ele parou e virou-se. - Homens como ele nunca mudam, Rachel. Mas sempre há mulheres tolas como você para acreditar nas mentiras deles. Essas palavras humilharam-na, fazendo-a desistir de contar a verdade. Olhando-a com expressão gélida, Benedict continuou: - Ele vai partir seu coração, como já fez antes, e quem irá querer ficar com os restos? - Certamente não será você, porque não estará aqui. "Você está partindo meu coração, seu estúpido!", era o que ela queria gritar, mas conteve-se. - Estou aqui agora, Rachel. - Eu preferia que não estivesse - ela declarou. - Você não parecia tão ansiosa para se livrar de mim, antes do aparecimento desse fantasma do passado. Eu te quero, Rachel - ele disse nervosamente, aproximando-se dela. - Quero sentir seus seios contra o meu peito novamente, quero ouvir sua voz implorando por prazer, quero estar dentro de você... - Não pode falar assim comigo! É ofensivo! - É a mais pura verdade. E você não está ofendida, está gostando de me ouvir. Enquanto dizia essas palavras, ele a tomou nos braços e beijou-a suavemente. - Estou gostando, sim - ela confessou. - Eu te quero, e não apenas quando estamos juntos. Só de pensar em você, desejo tê-la em meus braços, possuí-la. E penso muito em você. Isso não faz com que se sinta poderosa? Poderosa? Pelo contrário, ela se sentia fraca, sem autocontrole, uma boneca de pano sem vontade própria. - Talvez minhas palavras "ofensivas" a aqueçam, e eu gosto de pensar em você quente, nua, pronta para mim. Ele a acariciava enquanto dizia essas palavras, que pareciam a confissão de suas fantasias eróticas. A boca faminta alcançou a dela, e Rachel rendeu-se à desesperada paixão que parecia consumi-lo. - Rachel... Rachel.. - ele murmurou em tom suplicante. - Onde... onde fica seu quarto? - No andar de cima - disse ela apontando para a escada, com a cabeça apoiada languidamente no ombro de Benedict. - Mas eu não tenho cama de casal. - Não importa. Na verdade o que importa é apenas isto - ele falou, abrindo a blusa dela e acariciando os seios firmes. Rachel gemeu, querendo mais, desejando que ele lhe sugasse os mamilos, que a acariciasse o centro de sua feminilidade, que a penetrasse impetuosamente, que a levasse numa selvagem cavalgada até o pico do prazer. - Benedict, por favor... - implorou num murmúrio. - Vamos subir, Rachel. - ele comandou, começando a andar para a escada. Subiram para o quarto dela, abraçados, beijando-se, acariciando-se. Pararam ao lado da cama, e ela começou a tirar a camisa que ele vestia, distribuindo beijos pelo peito largo, excitando os mamilos chatos com a língua. - Você parece saber do que eu gosto... - ele murmurou roucamente. - Isso, assim... é muito bom... - Eu quero descobrir do que é que você mais gosta - ela disse, começando a tirar-lhe o cinto de couro. - Quatro mãos funcionam melhores do que duas. - declarou, ajudando-a. Quando ficou nu, tirou as roupas dela com movimentos apressados, quase violentos. - Posso tocá-lo onde quiser? - ela perguntou, ainda sentindo-se um pouco tímida. - Onde quiser, meu bem... Rachel maravilhou-se com a potência da ereção que tomou em uma das mãos, massageando-a delicadamente e enchendo-se de alegria e orgulho ao ouvir Benedict gemer alto, dominado pelo prazer que ela lhe proporcionava. - Pare, querida, ou não aguentarei - ele sussurrou. - Está se guardando para me fazer subir às nuvens? - perguntou ela, sorridente. - Só se você se comportar. - Quer mesmo que eu me comporte? - Não. Quero que faça o que quiser, que seja selvagem - ele respondeu, caindo com ela na cama. Ela suspirou e fez o que ele queria. Soltou-se, entregando-se a todos os seus instintos primitivos. Quando, por fim, ele a penetrou, ambos encontravam-se à beira do clímax e, movimentando-se freneticamente foram envolvidos pela explosão do prazer, seus gritos de êxtase misturando-se no ar. Algum tempo depois, feliz e cansada, sem nenhum arrependimento, ela se aconchegou ao corpo dele, lânguida como uma gata. - Eu tinha prometido a mim mesma que não faria isso novamente - murmurou em tom sonolenta. - Mas queria fazer, não é? - Queria, mas não costumo me despedir das pessoas dessa forma. - Despedir? Você está se despedindo de mim? Ela não respondeu. Estava cansada demais para conversar. Adormeceu. - Agora é melhor você ir embora - Rachel observou ao despertar, sem saber quanto tempo dormira, mas vendo que já amanhecera. A expressão sonolenta de Benedict dava-lhe uma aparência de menino. Olhando-o, ela refletiu que fora realmente bom acordar ao lado dele, com a cabeça recostada em seu ombro, os dois confortavelmente aconchegados no calor da cama. Benedict passou a mão nos cabelos e espreguiçou-se parecendo relutante em se levantar. - Você está praticamente me dizendo para me vestir e desaparecer o mais rápido possível - reclamou. - Não. O que estou dizendo é que é bom você ir antes que Charlie acorde. Ela ficaria confusa, se o visse em minha cama. - Eu já estou confuso, sendo expulso desse jeito. - Na verdade, não parecia confuso, mas irritado. - Seja razoável, Benedict. Eu é que teria de responder às perguntas de Charlie - Rachel lembrou-o com a voz tensa, levantando-se e pegando um roupão de cima da poltrona ao lado da cama. - Tem certeza que é das perguntas dela que você tem medo? Não seria mais honesto admitir que está fugindo de suas próprias indagações? - Benedict argumentou, estendendo as longas pernas para fora da cama. - É algo muito simples que estou lhe pedindo - ela insistiu, amarrando a tira do roupão ao redor da cintura. - Para mim, isso deixa claro que você se arrependeu de passar a noite comigo. Que está envergonhada. - A noite passada foi apenas... apenas um... - O termo certo lhe foge, não é? Rachel olhou-o, ressentida. Ele parecia sentir algum tipo perverso de satisfação ao vê-la constrangida e ansiosa. - Estou apenas tentando ser prática. - Sexo é algo que a incomoda sempre, ou você me achou desagradável como parceiro? - ele indagou. Havia um misto de raiva e desilusão em seu rosto, e Rachel, para tentar mudar o rumo das coisas disse em tom divertido: - Não se preocupe, que isso não vai afetar sua masculinidade. Devo lhe dizer que você é um amante fantástico. Benedict vestiu a cueca branca, de malha de algodão, e ergueu a cabeça, fitando-a com uma expressão de desgosto. - Acho que você prefere ficar com suas fantasias do que ter um homem em sua cama, pelo menos, pode se poupar o trabalho de mandá-lo embora pela manhã. Você não precisa se livrar de ninguém pela manhã. - Olhe, sexo para mim não é nenhum esporte, como deve ser para você - ela retrucou. - Acho que há pessoas que podem ser felizes, sem... - Ah é? Mas você gostou, gemeu, gritou de prazer, aproveitou muito bem. - Precisa ser tão rude e vulgar? - Rachel censurou, enraivecida. - Estou apenas tentando dizer que não é do meu feitio fazer sexo sem amor. - Isso é bobagem. Qualquer um pode simplesmente dizer "eu te amo", sem nenhum sentimento. - Eu, não. - Seu francês charmoso deve ter dito muitas vezes que a amava, e veja no que deu. Isso nos leva à conclusão de que ações valem mais do que palavras. - As pessoas não se entenderiam, se não dissessem o que sentem e não ouvissem o que precisam ouvir para sentir-se seguras. - Quer dizer que eu nunca mais serei bem-vindo em sua cama, a menos que jure amor eterno? - perguntou Benedict, incrédulo. Rachel queria que ele vestisse logo a camisa e a calça, pois vê-lo seminu tornava a situação ainda mais difícil. - Não sou tão ingênua assim. Mas esta é minha casa, Benedict, e eu decido quem fica e quem vai embora. Não estou tentando fingir que a noite passada não aconteceu... - Sério? - Devemos aprender com nossos erros. - Oh, mas que atitude equilibrada e sábia! - ele zombou. - Posso muito bem passar sem seus ataques de cinismo - disse Rachel, sentindo-se corar de raiva.. - Desculpe. Mas me diga o que foi que aprendeu com o nosso... "erro" - ele pediu, vestindo-se. - Isso não vem ao caso. O fato é que nem podemos pensar em um futuro, pois você estará indo embora dentro de poucas semanas. - Mas, e aquele francês? Você acha que ele vai deixar a mulher por sua causa? Por causa de Charlie? Cresça, Rachel e veja que esse tipo de homem não serve para você. - Pelo amor de Deus, não estou falando de Christophe, mas de você! Vá embora, por favor. Vejo que você não consegue portar-se civilizadamente. Saia de minha casa! - Pensei que não quisesse que Charlie nos visse, mas se continuar gritando assim, vai acordá-la - ele alertou, sorrindo ironicamente. - Vá embora, Benedict, antes que as coisas piorem - Rachel avisou por entre os dentes. Ainda sorrindo ele vestiu o paletó, sem abotoar a camisa, e Rachel achou aquilo tremendamente sexy. "Encare os fatos, menina", disse a si mesma. "Você acharia Benedict Arden sexy, mesmo que ele estivesse vestindo um saco de lixo, e isso é doentio, ridículo e..." - As coisas podem piorar? - ele perguntou em tom zombeteiro. - Você é uma mulher tão fina, não vai atirar nada em minha cabeça, vai? - Você ainda não viu nada - ela ameaçou. - Relaxe. Eu não fico em um lugar onde não sou bem-vindo. - Parece que finalmente entendeu a mensagem. Demorou, hein? - Acalme-se Rachel - Benedict pediu, com ar sarcástico, caminhando para a porta. - Estou indo, mas pode acreditar que quem perde com isso é você. Saiu, fechando a porta atrás de si. Furiosa, ela arremessou uma escova de cabelos contra a porta fechada. CAPÍTULO VII Pode parar por aí! - exclamou Rachel, horrorizada. Por sorte, sir Stuart oferecera-lhe uma cadeira, antes de dizer por que a chamara para aquela conversa, do contrário ela estaria estendida no chão, desmaiada de surpresa e raiva. - Calma, srta. French - o pai de Benedict pediu, obviamente notando seu descontrole emocional. Não, ele não podia ter dito o que dissera. Ela só podia ter entendido mal e se sentiria extremamente ridícula, mais tarde. - Vamos ver se entendi direito - começou quando se sentiu mais controlada. - O senhor quer que eu durma com seu filho? Sir Stuart não riu, nem pareceu ficar furioso, o que certamente aconteceria, se ela houvesse interpretado mal as palavras dele edito um absurdo. - Eu não disse isso. - Mas foi o que deu a entender! - Rachel argumentou, pensando que, aparentemente, ele queria que usasse seu corpo para seduzir Benedict. - É franca demais, direta demais, srta. French, mas eu gosto disso - disse ele num generoso tom de aprovação. - Eu pensei que o senhor achasse que sou inadequada para seu filho - observou ela secamente. - Admito que posso ter sido um pouco rude. Eu não gostei da ideia de ver meu filho envolvido com uma mulher que já tem uma filha. - Eu lhe asseguro que não estou à procura de um marido rico. Nem de marido nenhum. Estou muito bem sozinha. - Confesso que a tenho... Observado. E fiquei impressionado com o que vi. Ela se sentia terrivelmente incomodada e queria pôr um fim naquela situação estranha e desagradável. - Acho que o senhor entendeu tudo errado. Benedict não está partindo pata a Austrália por minha causa. Sir Stuart não parecia estar convencido disso, e pelo jeito ela teria muito mais dificuldade em livrar-se dele do que imaginara. Quando fora chamada a comparecer no escritório dele, Rachel pensara em várias coisas. Achara que ia ser demitida, por exemplo, ou que o velho lhe faria um "sermão", aconselhando-a a romper seu relacionamento com Benedict. Mas nunca lhe passara pela cabeça que ele fosse lhe pedir para enredar Benedict em seus encantos femininos, fazendo-o desistir da ideia de ir morar na Austrália. - Você não é o tipo de garota com quem Benedict costuma sair. É óbvio que ele acha que está apaixonado. - Seu filho não está apaixonado por mim - ela afirmou com voz controlada. Mas, infelizmente, não tinha o mesmo controle sobre seu coração, e era doloroso pensar que Benedict não a amava e nunca amaria. - No entanto ele pensa que está. E se há uma coisa que Benedict não tolera é sentir-se rejeitado. - Benedict me disse que tomou a decisão de mudar-se para a Austrália quando ainda estava lá, de férias - Rachel contou. - Ah! - exclamou Sir Stuart, triunfante. - Então, meu filho lhe fez confidencias. Isso prova tudo. - Prova, o quê? - Rachel indagou, confusa. - Que Benedict deseja ter um relacionamento sério com você. - Não, não deseja - Rachel negou. - Não tenho nenhuma influência sobre seu filho. - Tem, sim, e muita - o homem teimou. - Você o influencia mais do que eu. E estou pedindo que use sua influência para impedi-lo de cometer um erro terrível. No fim, ele nos agradecerá por isso. Ela captou frustração e ansiedade na voz do velho senhor. - Não acho que Benedict nos agradeceria por conspirar contra ele. - "Conspirar" é uma palavra muito forte. - Forte, porém adequada - ela replicou. O homem parecia estar realmente desesperado. Rachel até tentou sentir alguma simpatia por ele, pois, apesar de seus modos arrogantes e do meio indecente que desejava usar para impedir Benedict de partir, era um pai preocupado com o filho. Como ele dissera, o lugar de Benedict era ali em Londres, onde poderia cuidar da firma e fazer uma carreira brilhante. - Eu não acho que Benedict seja imprudente, capaz de tomar uma decisão precipitada. - Você não faz ideia de quanto Benedict é talentoso. Ele tem um grande futuro pela frente, e está jogando tudo fora! - sir Stuart exclamou em tom alterado, batendo na mesa com o punho fechado. - Você quer que ele vá embora? Rachel não respondeu e baixou os olhos. - Foi o que pensei. - O homem sorriu com ar de triunfo. - Você não quer. - Mas o que eu quero não faz a mínima diferença. - Vocês são amantes? Levantando-se, com toda a dignidade que pôde reunir, Rachel respondeu: - Como meu empregador, o senhor tem muitos direitos, mas perguntar esse tipo de coisa não é um deles. - Não se ofenda, minha querida - sir Stuart pediu com gentileza. - Mas, se você gosta desse homem por que não luta por ele? Eu sei que tem as armas certas para isso. Rachel olhava-o extremamente aborrecida. Não se deixaria enganar por aquele sorriso de crocodilo. - É melhor eu ir embora, senhor - disse, contendo-se para não dizer a sir Stuart o que pensava dele. - Uma criança, um bebê, isso sim faria Benedict ver a vida de forma mais responsável. Já com a mão na maçaneta, Rachel parou, atônita, e olhou novamente para o velho senhor. - Está sugerindo que eu engravide de Benedict, para mantê-lo aqui na Inglaterra? - Você certamente já havia pensado nisso. - Ele parecia estar falando sério. - Há algumas desvantagens em ser mulher, mas há também vantagens, e eu sempre admirei mulheres que sabem usar sua feminilidade para conseguir o que querem. - Mesmo que eu concordasse com o senhor, o que não é o caso, não aceitaria sua sugestão - Rachel declarou, sentindo-se mal com tanto descaramento. - Eu apenas sugiro que utilize suas armas para conseguir o que quer. Se não quiser engravidar, eu entendo, mas só uma simples possibilidade de gravidez já seria o bastante para segurar meu filho. E muitas mulheres perdem seus bebês nos primeiros meses de gestação, você sabe. - Quer que eu finja que fiquei grávida? - A ideia é essa. Os detalhes, naturalmente, ficariam por sua conta. Ela apertou os lábios com força, tentando conter a raiva. - Não espere que eu o ajude nesse seu plano sujo. - Por que não? Ambos só temos a ganhar. E não vejo nenhuma sujeira nesse esforço de impedir que Benedict faça uma grande tolice. Ela respirou profundamente, procurando acalmar-se. - Eu deveria encorajar Benedict a deixar o país - disse. - Seria uma maneira de ele se livrar de suas maquinações diabólicas! O que o senhor sugere é monstruoso e imoral, e, eu nunca usaria uma criança para prender um homem. Pode dizer que ama seu filho, sir Stuart, mas, na verdade não sabe o que é amar. Amar é nunca manipular ou controlar as pessoas. - Então, você ama meu filho - comentou ele, pensativo. - Duvido que o senhor conheça o significado dessa palavra. Repentinamente, sir Stuart riu sonoramente. - Sabe, minha esposa disse a mesma coisa, quando eu a pedi em casamento. Ela também exibia esse mesmo olhar de desdém. - E o que fez para que ela o aceitasse? Sequestrou o pai dela? Ameaçou-o de morte? - Talvez algum dia eu conte, minha querida. Agora, minha única preocupação é salvar Benedict, evitando que ele arruine sua carreira. - O senhor quer disfarçar suas ações desprezíveis, alegando preocupação paternal, mas a verdade é que se preocupa apenas consigo mesmo, sir Stuart. Dizendo essas palavras Rachel girou nos calcanhares e saiu. - Charlie aceitou bem as novidades? - perguntou Christophe. - Melhor do que eu esperava - assegurou Rachel. Na verdade, aquela noite também estava sendo melhor do que ela esperara. Christophe era uma companhia realmente agradável, um homem interessante e muito gentil. - Isso é bom - ele aprovou. - Ela está maravilhada com a possibilidade de conhecer pessoas novas. Comecei até a ensinar-lhe um pouco de francês. - Ela é uma criança muito inteligente. - É sim - concordou Rachel, movendo a cabeça afirmativamente. - Charlie tem me pressionado com perguntas intermináveis sobre a nova família. Eu nunca havia percebido que ela queria tanto saber a respeito do pai. Mas acho que agora ela quer interrogar você. - Está me deixando nervoso - ele brincou. - Eu disse que ela podia ficar acordada, nos esperando. Mas não precisa fazer isso, Christophe, a menos que queira. Ele exibiu um sorriso onde havia sinceridade. - Eu adoraria conversar com ela - afirmou. - Annabel sugeriu que fossemos logo todos para a França, mas acho melhor irmos com calma para não perturbar demais a menina. - Charlie não fica perturbada facilmente. Mas você tem razão, é melhor irmos com calma. - Humm, que maravilha! - exclamou ele, suspirando de prazer ao ver o garçom servindo a sobremesa. Rachel sorriu ao notar que Christophe estava entusiasmado como um garoto. - Eu imaginei que você ia querer jantar em algum lugar que servisse comida francesa - Rachel comentou, olhando em volta do restaurante especializado em pratos típicos ingleses... - O que pode ser mais tentador e delicioso que esse pudim? - Christophe perguntou, cravando a colher no doce. - Confesso que tenho uma queda pela comida inglesa. - Seu cardiologista tentaria convencê-lo do contrário. - Tudo o que fazemos sem exagero não pode causar nenhum mal. Rachel sorriu educadamente, mas sentia-se triste. Não conseguia deixar de pensar em Benedict, por mais que tentasse. Estava grata por ter voltado a trabalhar no escritório de Albert, pois sir Stuart Arden não precisava mais de seus serviços, de acordo com o que dizia o curto memorando que recebera dias atrás. - Quer tomar um café? - Christophe ofereceu. - Ei, menina, está no mundo da lua? - Desculpe, eu me distraí. Você perguntou alguma coisa? - Rachel sorriu, um pouco envergonhada. - Perguntei sé gostaria de tomar café. - Eu sei fazer café muito bem. O que acha de irmos para a minha casa? Enquanto eu estiver fazendo o café, você poderá conversar com Charlie. E já era mais de meia-noite quando Christophe foi embora. Rachel estava subindo a escada, quando a campainha tocou. Imaginando que Christophe esquecera alguma coisa, voltou e abriu a porta, sorrindo, mas seu sorriso desapareceu, quando ela reconheceu Benedict. - Vá embora! - ordenou com rudeza. Forçou a porta, determinada a fechá-la, mas ele introduziu a mão na fresta, impedindo-a. - Deixe-me fechar a porta, Benedict! Não quero você aqui. Vá embora! - Não arredo pé daqui, antes de você me dar algumas explicações. Se não me deixar entrar, ficarei gritando seu nome aqui fora. Quer provocar um escândalo? - Não se atreva a me envergonhar! Além disso, é você quem precisa me dar explicações. O que veio fazer aqui? Não acha que é um pouco tarde para bater em minha porta? - Estava esperando seu querido Fauré ir embora. E fui muito educado, você não acha? - Então, quer dizer que anda rondando minha casa? - perguntou ela em tom de acusação. - Está me espionando? - Você falou com o meu pai, não é? - Mas, antes que ela pudesse responder, Benedict prosseguiu: - Ele me disse. - É verdade, falei. - Ele me contou tudo. - Não achei que contaria. - Por quê, em vez de falar com meu pai, não foi falar comigo, Rachel? - ele perguntou com voz angustiada, passando a mão nos cabelos. Rachel ficou confusa. Por alguma razão, Benedict parecia acreditar que fora ela quem pedira a entrevista com Sir Stuart. - Eu sei que você está com raiva, mas não pode me culpar, assim como não o culpo. - Não estou entendendo, Rachel? Por que eu ficaria com raiva? E por que a culparia? - Mas é evidente que está com raiva, Benedict! - Estou irritado porque você não me contou que teve uma conversa com meu pai, não porque falou com ele. - Olhe, você não podia esperar até amanhã para falar sobre isso? Ou melhor, até segunda-feira? Você está exagerando, Benedict. - Exagerando? Desculpe, se minha impaciência está incomodando você, mas pense bem. Não é todo dia que eu recebo a notícia de que vou ser pai. Você já passou por isso antes, mas é a minha primeira vez! Rachel, completamente atônita, ficou muda por alguns instantes. - Você acha que estou... - conseguiu balbuciar por fim. - Seu pai lhe disse que estou grávida?! - Pelo menos uma vez na vida, meu pai me fez uma coisa decente. Achando aquilo engraçado, de tão absurdo, Rachel não pôde conter o riso. - Você consegue achar graça numa situação dessas? Por que não me contou logo a respeito da gravidez? Já privou sua filha do direito de conhecer o pai. Ia fazer a mesma coisa novamente? Sejam quais forem seus planos, Rachel, por favor não me exclua deles. - Isso tudo é extremamente ridículo! Me escute, por favor. - Você foi muito injusta. Não levou meus sentimentos em consideração... - Está tudo bem srta. French? - um homem perguntou, aparecendo rio alpendre da casa ao lado, de pijama, pois certamente fora incomodado em seu sono pela conversa dos dois. - Desculpe, sr. Brown, se o acordamos - pediu Rachel. - Mas não se preocupe, está tudo bem. - É melhor entrarmos - Benedict sugeriu. Rachel concordou, movendo a cabeça afirmativamente. Não queria que os vizinhos tomassem conhecimento de seus problemas particulares. - Charlie já está dormindo? - perguntou Benedict, olhando ao redor da sala. - Já - respondeu Rachel laconicamente. - Ela conversou com Fauré? - Conversou, e os dois estão se dando muito bem - ela afirmou. - Não acha complicado lidar com dois pais ao mesmo tempo, Rachel? - Eu não estou grávida, Benedict. - Não faça isso comigo! Não me trate como se eu fosse um idiota. - Estou dizendo a verdade. Não estou grávida. - Por que está fazendo isso? Quer ser mãe solteira novamente? Ou quer que Fauré assuma essa criança também? As perguntas acusadoras deixaram-na irritada. - Não o culpo por estar falando comigo como um ditador, pois suponho que seu pai sempre falou assim com sua mãe, mas não vou tolerar esse seu tom de voz, essa prepotência. De repente, Benedict sorriu. - Qual é a graça? - Rachel indagou. - Quando conhecer minha mãe, você saberá. - Eu não vou conhecer a sua mãe. Mudando novamente de expressão, ele a olhou com ar malicioso, e isso irritou-a ainda mais. No entanto, não disse nada, pois, se dissesse, iria começar a gritar e acordaria Charlie, que dormia no andar de baixo, no quarto ao lado da sala. - Você achou que, como pretendo ir embora do país, eu nunca descobriria, não é? Mas seu erro foi pensar que meu pai não me contaria que está grávida. Há algo que você não sabe, Rachel. Família, para ele, é algo muito importante! - Ah, sim! - ela escarneceu. - Eu sei muito bem da preocupação de seu pai com a família. Posso imaginar sir Stuart fazendo qualquer coisa, menos o papel de avô amoroso. - O que meu pai faz ou deixa de fazer não vem ao caso - Benedict declarou. - Estamos falando sobre nós dois. - Você não está me entendendo, Benedict! Não estou grávida. Não usamos nenhuma proteção, mas eu não estava em período fértil. Eu lhe disse isso! - Mas a única forma segura de contracepção é a abstinência - ele argumentou. - E podemos comprar um kit, para fazer um teste. - Pare com isso! - Rachel exigiu. - Não estou grávida! Seu pai mentiu para você. - Não. Por que mentiria? O que ele lucraria com isso? Ela agora, finalmente, tinha a oportunidade de explicar! - Ele acha que, se eu engravidasse, você não iria para a Austrália e consequentemente não deixaria a firma. - Essa é a melhor explicação que você pode dar, Rachel? Meu pai não pensaria que um filho me prenderia na Inglaterra. Não existe melhor lugar do que uma fazenda, para criar uma criança. A tática de sir Stuart parecia estar funcionando. Benedict acreditara realmente na invenção do pai, de dizer que ela estava grávida. Que absurdo! Se as circunstâncias fossem outras, ela até seria capaz de rir. Mas, no momento, tudo o que sentia era raiva. - Pense bem, Rachel. Tenho certeza de que Charlie irá adorar ter um irmão ou irmã. E, depois que estivermos casados... - Casados? - ela repetiu, horrorizada. - Eu hão pretendo ser um pai ausente, Rachel. - Ele se recusava a ouvi-la. Não entendia que tudo não passava de uma maquinação do pai. - E por favor, sente-se e acalme-se. Não pode mais se cansar ou ficar nervosa. - Não quero sentar. Não estou cansada, nem doente! - Rachel protestou. - Claro que não. Gravidez não é doença... Você teve problemas no parto, quando Charlie nasceu? Eu vi sua cicatriz de cesariana, e... Impressionante! Ele havia notado a cicatriz quase invisível na barriga dela. - Eu tive Charlie numa cesariana, realmente, mas Benedict... de uma vez por todas, entenda que não estou grávida - disse Rachel suspirando. Pensou que, se ele continuasse a insistir naquilo, ela acabaria acreditando também que ia ter um bebê. - Posso entender que você esteja confusa, tentando negar a verdade, mas aconteceu, Rachel. Precisa aceitar o fato. - Você não está entendendo nada - ela assegurou. - Não estou confusa, e muito menos grávida. Vai se sentir um idiota, quando descobrir que estou dizendo a verdade, Benedict! - Meu Deus! - ele exclamou, parecendo horrorizado. - Você não está pensando em aborto, está? Não pode fazer isso, Rachel! - Não sei mais o que dizer - ela murmurou, beirando o desespero. - Mas eu sei. - Não, Benedict, você não sabe. - Admito que fiquei chocado, no começo. Ter um filho agora não estava nos meus planos. Mas a ideia de que uma vida gerada por nós está se desenvolvendo dentro de você é... é incrível, maravilhosa! - Não há nada de incrível ou maravilhoso aqui, Benedict. Por favor... - Para mim, há! Eu quero compartilhar todos os momentos da gravidez com você. Por favor, não me afaste de nosso filho. Vamos para a Austrália, onde as crianças poderão crescer saudáveis, em contato com a natureza... - propôs Benedict, exaltado, caindo de joelhos e pousando as mãos na cintura de Rachel. De repente, ela começou a querer que aquilo fosse verdade. Descobriu que desejava que realmente houvesse uma razão para começarem uma vida juntos. - Deixando um pouco de lado esse assunto de gravidez, o que o faz pensar que eu o acompanharia até o outro lado do mundo? Sei que dizem que uma mulher deve acompanhar o marido aonde quer que ele vá, mas acredito que os dois devem estar apaixonados, para que isso aconteça. - Mas, Rachel... - E o caso é que entre nós houve muita luxúria, mas amor? Se você houvesse dito que me ama, eu me lembraria. - E se eu disse, e você não ouviu? - Deixe disso, Benedict. Você não disse, eu não disse, e não vou me casar com um homem a quem não amo. - Então, terei de fazer com que me ame. - Não seja estúpido. - Parece nervosa, Rachel. - Não estou nervosa, mas cansada. E, para encerrar esta conversa, você não pode me obrigar a amá-lo. Ou uma pessoa ama outra, ou não. - Não precisa ter medo, então. Seu coração está a salvo. - Medo? Não se trata disso. O que quero dizer é que deve esquecer essa história de casamento. - Você talvez fique surpresa, mas ultimamente venho pensando muito em me casar. - É, isso me surpreende - Rachel admitiu. - Mas, se está pensando em dizer que descobriu que me ama, pode esquecer. Uma expressão que ela não soube interpretar passou rapidamente pelo rosto dele. - Eu disse que andei pensando em me casar - Benedict confirmou. - Mas disse que era com você? Ela ergueu o queixo altivamente, lutando para não demonstrar que ficara mortificada. - Você usa táticas estranhas para fazer uma mulher apaixonar-se - zombou. - Não. Só estou querendo que entenda que não vou assediá-la com pedidos de casamento. - Basta que comece a sair com outras mulheres - ela sugeriu. - Sabrina, por exemplo. Ele sorriu. - Sabrina é uma garota adorável, mas você consegue imaginá-la morando no campo? Então, não precisa ter ciúme dela. - Ah! Você está à procura de uma garota com modos de camponesa para levar para sua fazenda. Eu me sinto lisonjeada. - Acho que você tem uma impressão errada da fazenda, Rachel. As condições de vida, lá, não são exatamente primitivas, e, embora seja uma propriedade isolada, um avião pode vencer qualquer distância. - Você pilota? Rachel ficou interessada. Pilotar aviões era algo que ela sempre quisera aprender. - Minha avó, Nina, me pagou aulas de vôo, quando completei dezoito anos. Sentindo-se mais relaxada com o rumo da conversa, Rachel decidiu ser mais gentil. - Desculpe se fui grosseira, mas sua insistência abalou meu senso de humor. - Entendo. Mas, pelo menos, agora você parou de negar que está grávida. - Mas eu não estou, que inferno! - ela explodiu. - Ah, me dê uma chance! Estou tentando dar uma impressão de maturidade. - Está me chamando de imatura? - Benedict pegou-a- pelos braços. - Não. Só estou dizendo que sua gravidez muda tudo, queiramos ou não. Você fez um grande trabalho, criando Charlie sozinha, mas uma criança precisa de pai e mãe. - Pai e mãe que se amem! - Nós podemos nos amar sensacionalmente. - Estou falando de amor, não de sexo. Sexo sensacional, apenas, não é boa base para um casamento. - Ah, acabou de confessar que achou nosso relacionamento sensacional. Eu também achei. Mas tenho mais um argumento: Charlie gosta de mim. - Isso é muito baixo. Não se envergonha de usar os sentimentos de uma criança? - Não estou dizendo nenhuma mentira, Rachel. Sua filha gosta de mim. E acredito que eu desempenharia papel de pai bem melhor do que esse tal Fauré. - Não acha que está sendo um pouco incoerente? Momentos atrás estava defendendo com unhas e dentes seus direitos de pai biológico em relação ao bebê que acha que estou esperando. - Mas Fauré é casado! Perdeu todos os direitos que poderia ter. Pretendo dizer isso a ele, muito em breve. - Não! Você não pode fazer isso! - ela reagiu, quase perdendo o fôlego, de tanta aflição. Podia imaginar a reação do pobre Christophe, quando Benedict o acusasse de ser o pai ausente de Charlie. E se a história chegasse aos ouvidos de Annabel? - Por favor, não diga nada a ele! - Então, vamos fazer um trato - Benedict propôs. - Eu não entrarei em contato com Fauré, se você parar de mentir para mim com relação a sua gravidez. Afinal, temos de cuidar logo da parte prática. Rachel não sábia o que dizer. Sua vontade era de mandá-lo para o inferno, mas precisava proteger Christophe! No dia seguinte, procuraria Stuart Arden e o obrigaria a confessar que mentira. - Que parte prática? - perguntou, - Como consultar um obstetra, por exemplo. E quero ir com você. - Certo Benedict, você tem toda a razão, mas agora eu estou extremamente cansada. Ele olhou-a com preocupação, fazendo-a experimentar uma pontada de culpa. - Nos vemos amanhã, então, Rachel? Ela simplesmente meneou a cabeça, concordando, e Benedict acariciou-lhe o rosto suavemente, antes de virar-se e caminhar para a porta. CAPÍTULO VIII - Sir Stuart não se encontra em casa - informou o mordomo. - Eu espero ele voltar - respondeu Rachel, entrando audaciosamente no enorme vestíbulo. Aquela não era hora para se intimidar com a vastidão e o luxo ostentoso da mansão, que mais parecia um museu. - Sinto muito, madame, mas isso não será possível. Rachel ergueu a cabeça, voluntariosa. Seria preciso mais do que aquele aviso para que o mordomo a convencesse a sair. - Informe-o de que estou aqui, e ele certamente irá querer me ver - ela insistiu.. - Algum problema, David? Ouvindo a voz feminina, Rachel virou-se para a escadaria e viu uma mulher que descia os degraus correndo. Ela usava traje de montar, era alta, esbelta, tinha cabelos escuros e belos olhos verdes. - Essa senhora deseja ver sir Stuart. Não sei como ela passou pela segurança - o mordomo explicou em tom de desculpa. Rachel, então, mostrou um maço de papéis. - Eu disse ao guarda que era uma mensageira do escritório - E é, mesmo? - perguntou a outra mulher, interessada, parando ao lado do mordomo. - Eu trabalho lá - Rachel respondeu. - Para meu marido? - Marido? Não, isso não!, pensou Rachel, sentindo-se como se houvesse levado um soco no estômago. Aquela mulher seria esposa de Benedict? Não, não podia ser. Se ele fosse casado, principalmente com uma mulher tão bonita, as Colunas sociais já teriam feito o maior estardalhaço a respeito. - Algum problema? Perguntou a mulher, parecendo preocupada. - N-não, só fiquei surpresa. Parece jovem demais para ser mãe de Benedict. - Sou Emily Arden - a mulher apresentou-se. - Você trabalha para Benedict, não é? É ele que está procurando? - Não. Eu não quero vê-lo! - exclamou Rachel, horrorizada com a possibilidade de encontrá-lo ali. - Então, ficará feliz em saber que ele não está em casa. Rachel esforçou-se para controlar a tensão. - Eu preciso falar com sir Stuart. É realmente um assunto urgente. - Relaxe e tome uma bebida, querida. Você parece estar precisando. Providencie isso para nós, David - Emily pediu, guiando Rachel para uma sala de estar. - Que lindo! - Rachel elogiou, olhando para um quadro que representava a visão aérea de um lugar de natureza exuberante. - Eu nasci aí nessa fazenda - contou Emily, sorrindo. - Connor's Creek? Quando Benedict falara da beleza do lugar, não estava brincando, pensou Rachel. - Exatamente - Emily confirmou. - Mas hoje em dia não existe mais tanto verde por lá. Sente-se e me conte o que quer com meu marido. - Eu preciso que ele diga a verdade a Benedict. - Que verdade? - Que eu não estou grávida. A mulher piscou duas vezes, parecendo perplexa com o que ouvira. - Deixe-me ver se entendi. Benedict pensa que você está grávida? - Porque sir Stuart disse a ele que estou, mas isso não é verdade. - Isso é bem típico de Stuart! Cria confusões e depois deixa que eu as resolva. Ele sempre se intromete na vida alheia! Rachel ficou surpresa. A mulher nem a conhecia e parecia dar crédito a sua história. - Acredita em mim, sra. Arden? Eu podia ser... - Eu sei. Sou mãe de dois filhos homens, e sempre me preparei para o dia em que entrasse por essa porta uma jovem dizendo que estava grávida. Mesmo assim, não preparei nenhum discurso apropriado para a ocasião. - Eu não estou brincando - observou Rachel, tensa com a resposta divertida da outra mulher. - Eu sei disso minha querida. Desculpe. - É tudo muito estranho - disse Rachel, não contendo as lágrimas causadas pelo nervosismo. - Benedict quer se casar comigo. - Somente por causa do bebê. - Isso mesmo, mas não há nenhum bebê. - Tente contar isso a ele. É um cabeça-dura, que... - Emily interrompeu-se ao ouvir o som de vozes se aproximando. - Enxugue as lágrimas, querida. Vamos ter uma invasão por aqui. Apenas me diga seu nome, para que eu possa apresentá-la ao resto da família. - Meu nome é Rachel. Rachel French. - Natalie, querida, não traga esses animais para dentro, eles cheiram mal. - Eu gosto de cheiro de cachorro molhado - afirmou a jovem alta e de cabelos compridos que entrou na sala, olhando curiosa para Rachel. - Oi! Atrás dela entraram mais algumas pessoas. - Esta é Rachel French - Emily apresentou, falando com a moça. - Ela trabalha com seu irmão. Rachel, essa é Natalie, minha filha, e aquele é Tom, meu filho mais velho. O homem alto e magro sorriu para ela. A seu lado estava uma mulher com uma criança adormecida no colo. - E a esposa dele, Ruth - continuou Emily. - Ah, e aquela é Sabrina, uma amiga da família. - Já conheço você - disse Sabrina em tom desinteressado. - É a secretária de Benedict. Por falar em Benedict, ele está aqui também? - Suponho que não - respondeu Emily. - Vamos ter uma reunião de família com a ausência de dois de nossos homens e a presença de duas participantes inesperadas. Aqui tudo é possível. - Eu não pretendo ficar - avisou Rachel. Se sir Stuart não estava em casa, não havia razão para ela permanecer ali, sem falar que havia a possibilidade de Benedict aparecer. - Preciso ir, agora. Desculpem a intromissão. - Junte-se a nós para um café - Emily convidou. - Eu insisto. Olhando-a, Rachel viu gentileza em seus olhos, mas também determinação. Aquela mulher certamente não aceitava um "não" como resposta. Dava para entender de quem Benedict herdara a teimosia. - Não posso ficar, sra. Arden. Um amigo meu virá me buscar. . - O porteiro avisará, quando ele chegar. Quem é seu amigo? - O nome dele é Fauré - Rachel informou com perfeito sotaque francês. - Um francês! - exclamou Natalie, sentando-se no sofá com um cão no colo. - Os homens do continente são deliciosos, bem mais atraentes do que os chatos dos britânicos. Meus namorados serão todos franceses ou italianos. - Obrigado por sua opinião a respeito dos ingleses - ironizou o irmão mais velho. - E melhor levar Libby para cama, ela já adormeceu. Com licença. - Depois, por favor, avise o porteiro sobre a chegada do amigo de Rachel, sim Tom? - Claro, mãe. Ouviu-se, então, a porta da frente bater. - Eu reconheço essa batida. Só pode ser Benedict - disse a mãe. - Que ótimo! - Sabrina exclamou, levantando-se do sofá e indo ajeitar os cabelos na frente de um espelho de moldura dourada. Apenas Rachel não estava sorrindo, quando Benedict apareceu pela porta. - Querido! - Sabrina saudou-o, indo ao seu encontro. - Oi. O que você está fazendo aqui, Sabrina? - Ele passou por ela, fugindo de seu abraço, e olhou em volta. Então, parou, parecendo petrificado. - Meu Deus! Rachel? Rachel achou que não suportaria a tensão, se não fosse embora imediatamente. - Eu já estava de saída, sr. Arden - anunciou em tom formal. - Sr. Arden? - ele repetiu, irônico. - Não srta. French, não vou deixá-la partir. Sabrina, então, decidiu resolver a situação, pois interferiu: - Benedict, querido, deixe sua secretária ir. É fim de semana, e ela deve ter mais o que fazer, seja lá o que for que as secretárias fazem em seus dias de folga. - Eu não sou secretária dele! - Ela não é minha secretária! Benedict e Rachel responderam simultaneamente, deixando Sabrina espantada. - Mas o que ela é então? E por que está aqui? - perguntou a loira, indignada. Os olhares de Rachel e Benedict cruzaram-se. - Boa pergunta - ele aprovou. - O que veio fazer aqui, Rachel? Ele parecia se divertir com o constrangimento dela. - Eu trouxe alguns papéis para seu pai assinar. - Que papéis? Onde estão? - indagou Benedict, olhando ao redor? - Os papéis já foram mandados para a mesa de seu pai - informou Emily Arden. - Você está com uma aparência horrível, Benedict! O que andou fazendo? Rachel olhou para a mulher, agradecendo mentalmente a intervenção. - Fiquei pelo menos duas horas parado em frente à casa de Rachel. - Não me culpe por isso! - Rachel alertou-o, em resposta ao seu olhar acusador. - Foi você quem escolheu perder seu tempo dessa maneira. - E o que eu deveria fazer? Ficar sentado perto do telefone, esperando que você ligasse para dizer que me queria em sua cama? - Se você não se importa com meus sentimentos, poderia pelo menos ter a delicadeza de não constranger sua família! - ela quase gritou, furiosa. - Eu não estou constrangida - declarou Natalie, que parecia estar achando a situação muito interessante. Sabrina, por sua vez, parecia chocada e confusa. - Então, ela... - balbuciou. - Estou indo - Rachel apressou-se em dizer, antes que Sabrina a ofendesse com alguma observação malévola. - Não vai, não. Só sairá daqui quando eu disser que pode ir! - decretou Benedict em tom severo. - Eu vou para onde quiser, na hora em que bem entender. E se tentar me impedir... - O que vai acontecer? - Benedict desafiou. Rachel olhou ao redor, e lá estava toda uma audiência, prendendo a respiração e esperando uma resposta dela. - Sabe de uma coisa, Benedict? Agora que conheço você melhor, sei que não passa de um insensível, egoísta-e manipulador - ela desfiou com voz carregada de desprezo. - Eu não me casaria com você, nem que minha vida dependesse disso! - E o que a faz pensar que não depende? Naquele momento apareceu Tom, que devia ter ouvido parte da discussão, porque olhava para Benedict com um sorriso divertido. - Tom! - rugiu Benedict, sem esconder que a atitude do irmão o irritava. - O que está pretendendo? Me dar alguns de seus sábios conselhos? - Na verdade, vim apenas avisar que o amigo da srta. French está lá fora, esperando por ela. - Peça para entrar ele, Tom - pediu Emily, sem necessidade, pois naquele exato instante a porta abriu-se, e Charlie entrou, acompanhada por seu tio, Christophe. A menina olhou ao redor da sala, repleta de pessoas que lhe eram estranhas. - Parece uma daquelas salas de capa de revista de decoração - observou, sorrindo ao pousar os olhos em Rachel. - Mamãe! A família toda olhava com grande atenção para Benedict, que exibia uma expressão chocada, olhando ora para Charlie, ora para o francês. - Estava justamente me perguntando onde você estava, querida - Benedict conseguiu finalmente dizer à garota. - Eu estava com meu tio Christophe. Ele me levou para nadar. - Ah, sim. Seu tio Christophe. Agora, ele obviamente achava que Rachel havia inventado uma outra história para enganar a menina. Benedict olhou para Christophe, que aparentemente não sabia como reagir à evidente hostilidade. Rachel agradecia silenciosamente a presença de Charlie, pois talvez essa fosse a única forma de inibir alguma atitude mais agressiva de Benedict. - Charlie é uma excelente nadadora - comentou Christophe, naturalmente sentindo a necessidade de dizer alguma coisa. - Quando eu for para a França, vou nadar no mar - declarou a criança. - O mar lá é quente, não é mamãe? - Sem olhar para Benedict, Rachel simplesmente meneou a cabeça, concordando. - E quando você pretende ir para a França, Charlie? - perguntou Benedict em tom amável. - Eu não sei. Não seria bom, se Benedict também fosse, mamãe? Rachel percebeu que não tinha outra saída, a não ser responder. - Seria, sim, mas ele é um homem muito ocupado e provavelmente estará na Austrália, quando viajarmos para a França. Seu olhar encontrou-se com o de Benedict. - Mas meus planos podem mudar - ele afirmou. - Os meus, não. Christophe parecia confuso com aquela situação, mas sorriu gentilmente. - As portas de nossa casa estão abertas para qualquer amigo seu, Rachel. Meu Deus! Ela pensou. Agora Benedict podia acreditar que estava sendo convidado para participar de um ménage à troisl Mas, antes que Rachel pudesse manifestar-se, ele falou em tom áspero: - Não gosto desse tipo de coisa. Aprecio limites, tanto em casa, como no trabalho e, principalmente, no casamento. - Por que Benedict não gosta do tio Christophe? - perguntou Charlie, mostrando, mais uma vez, como era perceptiva. Fez-se um silêncio desconfortável na sala, após aquela pergunta franca, ditada pela inocência. Benedict olhou para Rachel franzindo a testa, visivelmente constrangido com sua própria atitude. - Pois eu acho que os franceses são ótimos - disse Natalie, intrometendo-se na conversa. Emily sorriu, parecendo admirar a sagacidade da filha, que escolhera um bom momento para interromper uma conversa difícil, criando um novo clima. - Obrigado, mademoiselle - Christophe agradeceu. - Meu nome é Natalie - a moça apresentou-se, sorridente. - Você é irmã de Benedict? - perguntou Charlie, curiosa. - Sou, para pagar meus pecados. - É, vocês se parecem - a menina comentou. - É verdade, mas infelizmente ele é mais bonito do que eu. - Gentileza sua - resmungou Benedict. - Você gosta de cavalos, Charlie? - perguntou Natalie, continuando sua conversa amigável com a menina. - Eu estava à caminho dos estábulos e... - Adoro cavalos! - a garota respondeu, os olhos brilhando de excitação. - Eu costumava cavalgar, mas agora moramos na cidade. - Gostaria de ir comigo? - Acho que já atrapalhamos demais por hoje - interferiu Rachel em tom sério, olhando para a filha. - Além disso, precisamos ir, porque Christophe tem um compromisso no centro da cidade. Se Christophe a desmentisse naquele momento, ela morreria. - É verdade - ele confirmou, entendendo o olhar suplicante que ela lhe lançou. - Infelizmente, preciso ir. Rachel sentiu-se aliviada e sorriu, agradecida. - Mas isso não é problema - assegurou Benedict, falando com Rachel. - Você e Charlie podem ficar, e depois eu as deixarei em casa. Não será nenhum incômodo, porque é meu caminho. Rachel rechaçou-o, irritada. O manipulador encontrara uma maneira de fazê-la ficar. - Devo acompanhar o sr. Fauré até a porta? - perguntou Benedict. - Acho que agora é tarde para fazer o papel de bom anfitrião, meu filho - disse a mãe suavemente. - Eu acompanharei o sr. Fauré e tentarei persuadi-lo a voltar a nos visitar em uma ocasião menos explosiva. - Então, vamos, Charlie. Vamos ver os cavalos! - Natalie convidou com entusiasmo. As duas saíram quase correndo, enquanto Emily acompanhava Christophe até a porta. - Você não ia nos mostrar as fotos do casamento de seu irmão, Sabrina? - Tom perguntou. - Ruth está no quarto e gostará muito de vê-las. Vamos para lá? Sabrina, apesar de impertinente, deixava-se induzir facilmente, e acompanhou Tom. - Finalmente, a sós - observou Benedict. - Eu nem me despedi de Christophe - Rachel queixou-se. Benedict aproximou-se e fez menção de abraçá-la. - Não se atreva a agir como um... um bárbaro! E, se me tocar, eu grito - ela ameaçou, recuando. - Todos os membros de minha família são muito barulhentos, não darão atenção aos seus gritos. Além disso, nenhum deles interromperá nossa conversa, porque percebi que gostaram de você e querem que nós dois nos entendamos. Será muito mais simples do que eu pensava, dizer a eles que você será minha esposa. - Benedict... - Rachel murmurou civilizadamente. - O quê? Eles se olharam, e daquela vez ela sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, mas isso não a demoveu da ideia de fazê-lo entender a verdade. - Eu não estou grávida. - Eu sei. Rachel arregalou os olhos, surpresa. - O que foi que você disse? - Eu sei que você não está grávida - Benedict confirmou, aproximando-se e puxando a fita que prendia os cabelos dela. - Você fica mais bonita assim. As mechas sedosas tombaram de modo exuberante pelos ombros dela, e ele, sorrindo, acariciou-a no rosto. O toque suave desarmou-a, como ele naturalmente já previra. - Eu pressionei meu pai, e ele contou a verdade. - Mas, então... - Rachel estava confusa. Ele estaria sentindo pena dela? Ou apenas queria ser gentil? Mas, ao menos, agora ela podia relaxar e prosseguir com sua vida, sem o peso daquela mentira. - Está aliviado, agora? - Deveria ficar? - Quando penso nesse mal-entendido, tenho vontade de rir. - Não consigo ver as coisas dessa forma. Meu pai não tinha o direito de fazer o que fez. - Olhe, não seja tão duro com seu pai. Ele mentiu para você, mas na verdade queria apenas o seu bem. - Isso é o que ele diz, mas nem imagina como me fez sofrer com seus jogos ardilosos e manipulações. Rachel sabia muito bem que o velho senhor era realmente manipulador, mas não queria pôr mais lenha na fogueira, por assim dizer. Odiaria, se causasse uma briga na família de Benedict. - O que importa é que agora você pode levar seus planos adiante, livre e tranquilo, sabendo que não tem nenhum filho para criar - ela ponderou, tentando soar generosa e otimista. - Mas você acha que seria tão ruim assim, se realmente fôssemos ter um filho? - perguntou ele com um olhar profundo, segurando-a pelo queixo. - Nós mal nos conhecemos, Benedict. Mas, para ser sincera, por um momento até desejei que a gravidez fosse uma realidade. - Eu também desejei muito que fosse verdade. Por isso demorei tanto para acreditar que não era, embora você continuasse a afirmar que fora tudo uma armação de meu pai. Ter um filho com você seria uma boa razão para nós dois ficarmos juntos. Ele tomou, a mão de Rachel levou-a aos lábios e beijou-a. - Case comigo Rachel - pediu com evidente emoção. - Se você não gostar de Connor's Creek nós podemos ficar aqui mesmo, na Inglaterra. Não me importa o lugar, contanto que fiquemos juntos... Rachel não conseguiu dizer nada, invadida por uma onda de emoções desencontradas: surpresa, alegria, medo de acreditar e desiludir-se depois. Benedict, então, prosseguiu: - Eu te amo, querida. Quero que você e Charlie sejam minha nova família. É o Fauré que está em nosso caminho? Livre-se dele. Você merece mais do que ser amante de um homem casado. Dê-me uma chance, e eu farei de você uma mulher muito feliz.. Benedict parecia estar sendo sincero, mas Rachel relutava em render-se e confessar que também o amava. Já fora magoada demais, por acreditar em um homem. - Você não pode me amar. Eu sou... - Você é a mulher dos meus sonhos - ele a interrompeu, abraçando-a com tanta força, que ela mal podia respirar. - É a mulher com quem eu quero viver, ao lado de quem quero envelhecer, aquela a quem vou amar eternamente. - Mas você não me procurou mais, depois que eu... - Depois que me expulsou de sua cama? De sua vida? Eu queria saber se você ia sentir minha falta. E perdoe minhas grosserias, mas eu achei que você ficaria mais maleável, após alguns comentários mordazes. Errei, fui um imbecil. - E Sabrina? Pensei que você e ela tivessem um relacionamento. - Apesar das aparências, não tenho nada com Sabrina. Faz tempo que eu disse a ela para parar de querer ressuscitar o ligeiro caso que tivemos no ano passado. Rachel moveu a cabeça afirmativamente, aceitando a explicação. - Eu não conseguia pensar em um futuro ao seu lado - confessou. - Mas nunca nenhum outro homem conseguiu me fazer tão feliz. Eu me apaixonei por você, Benedict, mesmo achando que não podíamos ter um relacionamento duradouro - Oh, meu amor... E o que se seguiu foi um longo beijo, quente e apaixonado, que os dois só interromperam porque ouviram passos no corredor. - Vem vindo alguém. - Rachel murmurou com os lábios junto ao pescoço dele. - Parece que sim. Fosse quem fosse que estivesse andando pelo corredor, passou direto, porque ninguém entrou na sala. - Você precisa fazer a barba - Rachel comentou, acariciando o rosto de Benedict. - Está quase como da primeira vez em que o vi. E quase estou com pena de você novamente. Riu baixinho, beijando-o no queixo. - Uma das coisas que gosto em você é sua honestidade, que chega a ser contundente, às vezes. - Por falar nisso... - O que devo esperar agora? Uma confissão escabrosa? - É sobre Christophe... Benedict enrijeceu, obviamente tenso. - Escute, Rachel, sei que ele é pai de Charlie, mas... - Não, não é. - Como? - Christophe não é pai de Charlie, apenas tio. O irmão dele, Raoul, era o pai. - Raoul Fauré - Benedict pronunciou o nome lentamente. - O piloto? - O próprio. Eu o conheci quando trabalhei na França - ela contou. - Fiquei ofuscada pelo charme dele, e o resto você já sabe. Christophe e Annabel nunca souberam que eu tive uma filha, até aquela noite em que ele viu Charlie no restaurante. Só de olhar para ela, ele soube. - Meu Deus, Rachel. E eu tive desejos de matar o pobre homem. Você não imagina como tem sido difícil para mim, ficar imaginado vocês dois juntos! Por que não me contou antes? - Eu quis usar isso a meu favor, para afastar você de mim e tornar as coisas menos dolorosas, porque achava que você ia me deixar. - Mas agora Charlie já sabe a verdade sobre seu pai? - Sabe. - Tudo? - Mais ou menos. Eu não podia contar que, uma semana depois de ela ser concebida, Raoul já não se lembrava sequer do meu nome. - Fez bem - Benedict aprovou. - Eu amo Charlie e acho que ela não precisa ouvir certas coisas que a fariam sofrer. Beijou Rachel na testa, então continuou: - Posso imaginar o que você sofreu por causa daquele canalha, o que você teve de enfrentar para criar Charlie sozinha, mas agora tudo será diferente, meu bem. - Você quer um bebê? - ela perguntou, sorrindo como tola, de tanta felicidade. - Quero muito. E você, quer? - Um só, não. Afinal, vamos ter bastante espaço, não é? - Está querendo dizer que aceita casar comigo? - Aceito, aceito, aceito! Beijaram-se novamente, e estavam tão enlevados, que nem ouviram quando Charlie e a irmã de Benedict entraram na sala. - Natalie tinha razão! Ela disse que vocês iriam casar! - a menina exclamou em tom exultante, saltando em volta deles. - Eu sempre tenho razão - afirmou Natalie com uma risadinha. - Onde está o champanhe? Precisamos comemorar. Rachel sorriu, fitando Benedict nos olhos. - Eu devia saber, no primeiro momento em que o vi, que você ia me causar encrenca. - Encrenca?! - ele protestou. - Da qual não quero sair, nunca. EPÍLOGO Rachel cobriu as perninhas gorduchas do bebê com o fino lençol de cambraia e, ao virar-se, sentiu os braços de Benedict rodeando-a. - William dormiu? - perguntou ele, sussurrando. - Finalmente. Quer ligar a babá eletrônica, por favor? Benedict fez o que ela pediu e olhou-a orgulhosamente. Ela se saíra muito bem, preparando tudo para o batizado do filho. Na verdade, revelara-se uma esposa maravilhosa, além de ficar mais linda a cada dia, o que o fazia desejá-la com a mesma intensidade dos primeiros tempos. - Que tal descansar um pouco, agora? - Benedict sugeriu. - Vamos encontrar os outros na varanda. O bebê está dormindo tranquilamente, e hoje já se alimentou o suficiente para hibernar até os dezoito anos. Riu da própria brincadeira, lançando um olhar carinhoso para o pequeno William. - Antes eu preciso ver Charlie. Ela estava tão agitada, que... - Não se preocupe - ele a interrompeu, colocando um dedo em seus lábios. - Já verifiquei. Ela está dormindo como um anjo. - Obrigada, querido. Deram uma ultima olhada no bebê e saíram silenciosamente do quarto de mãos dadas, envolvidos em uma aura de felicidade. Charlie também estava muito feliz, pois ganhara uma família maravilhosa e adaptara-se perfeitamente à vida na fazenda, como se houvesse nascido lá. Ganhara um pônei, que se tornara sua paixão, frequentava a escola da vila, fizera amigos, amava Benedict, a quem chamava de pai, e adorava o irmãozinho. - Quando vamos poder ir para a cama? - perguntou Benedict, quando desciam a escada. - Estou louco para fazer amor. - Psiu! - ela o alertou. - Alguém pode nos ouvir. - Mas ontem à noite Você não se preocupou com a possibilidade de alguém nos ouvir, não é? - Benedict! - ela exclamou, tentando parecer zangada, mas sem conseguir reprimir um sorriso. Na verdade, ela vivia sorrindo, desde que os dois haviam se casado e mudado para a Austrália. Passara a entender a paixão de Benedict pela Fazenda Connor's Creek, pois também se apaixonara por aquele lugar maravilhoso. Quando chegaram na enorme varanda que corria ao longo de três lados da casa, Tom dirigiu-lhes um sorriso. - Ruth estava dizendo que soube, no primeiro momento em que os viu juntos, que vocês iam se casar. - Isso não quer dizer que eu tenha algum dom especial. O amor estava estampado no rosto deles - explicou a esposa de Tom. - Eu também percebi isso - afirmou Natalie. A varanda estava cheia de pessoas que haviam ido a Connor's Creek para o batizado do pequeno William. Os Arden e os Fauré não encontraram dificuldade em tornar-se amigos, e o clima era de alegria e festa. - O que acham de parar de falar de nós? - propôs Benedict. - Estão nos deixando constrangidos. - Também tenho algo a dizer - anunciou sir Stuart Arden, levantando-se da poltrona de vime. Parecia meio tonto, pois passara o dia todo tomando vinho. - Não acha melhor continuar sentado, querido? - sugeriu Emily. - Acha que fica bem, eu fazer um brinde sentado? - o marido replicou, continuando de pé. - Tem razão, não fica - a esposa concordou. - Muito bem então proponho um brinde a Rachel e Benedict! Desejo que sejam sempre felizes e que me deem muitos outros netos. Eu sempre apoiei a união desses dois. Não é verdade, querida? - perguntou, olhando para Emily, que se limitou a responder com um olhar irônico, provocando o riso de todos. Fim!!! KIM LAWRENCE vive numa fazenda, na parte rural de Anglesey. Ela corre mais de três quilômetros por dia e acha isso uma excelente oportunidade de buscar inspiração para seus livros. Também ajuda-a a manter a energia para lidar com o marido, dois filhos ativos e vários animais de estimação que a família adotou. Sempre uma fanática leitora de livros de ficção, agora é uma igualmente escritora que adora finais felizes!