1 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL 2a Edição 2 Humanitas FFLCH/USP – março 2002 USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor: Prof. Dr. Adolpho José Melfi Vice-Reitor: Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz FFLCH – FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS Diretor: Prof. Dr. Francis Henrik Aubert Vice-Diretor: Prof. Dr. Renato da Silva Queiroz CONSELHO EDITORIAL ASSESSOR DA HUMANITAS Presidente: Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento (Filosofia) Membros: Profª. Drª. Lourdes Sola (Ciências Sociais) Prof. Dr. Carlos Alberto Ribeiro de Moura (Filosofia) Profª. Drª. Sueli Angelo Furlan (Geografia) Prof. Dr. Elias Thomé Saliba (História) Profª. Drª. Beth Brait (Letras) DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Chefe: Prof. Dr. Ariovaldo Umbelino de Oliveira Vendas LIVRARIA HUMANITAS-DISCURSO Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 – Cid. Universitária 05508-900 – São Paulo – SP– Brasil Tel: 3091-3728 / 3091-3796 HUMANITAS-DISTRIBUIÇÃO Rua do Lago,717 – Cid. Universitária 05508-900 – São Paulo – SP – Brasil Tel: 3091-4589 e-mail: pubfflch@edu.usp.br http://www.fflch.usp.br/humanitas FFLCH/USP 3 2002 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO • FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS JOSÉ OSÉ BUENO UENO CONTI ONTI ISBN: 85-86087-12-2 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL 2a Edição Copyright 2002 da Humanitas FFLCH/USP É proibida a reprodução, parcial ou integral, sem autorização prévia dos detentores do copyright Serviço de Biblioteca e Documentação da FFLCH/USP Ficha catalográfica: Márcia Elisa Garcia de Grandi - CRB 3608 HUMANITAS FFLCH/USP e-mail: editflch@edu.usp.br Telefax.: 3091-4593 Editor Responsável Prof. Dr. Milton Meira do Nascimento Coordenação Editorial Ma Helena G. Rodrigues – MTb n. 28.840 Arte final da capa Diana Oliveira dos Santos Projeto Gráfico e Diagramação Walquir da Silva – MTb n. 28.841 Revisão Lilian Abigail Melo de Aquino C762 Conti, José Bueno A Geografia física e as relações sociedade/natureza no mundo tropical /José Bueno Conti. 2. ed. – São Paulo, Humanitas Publicações – FFLCH/USP, 2002. 36p. ISBN: 85-86087-12-2 Aula proferida em 29.10.1996 por ocasião de sua Prova Pública Oral de Erudição no Concurso para Professor Titular do Departamento de Geografia 1. Geografia física 2. Ecologia humana I. Título CDD (19.ed.) 913.02 304.2 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL Aula proferida pelo Prof. Dr. José Bueno Conti, em 29.10.1996, no Salão Nobre da FFLCH da USP por ocasião de sua Prova Pública Oral de Erudição, no Concurso para Professor Titular do Departamento de Geografia. Banca Examinadora do Concurso Professores Titulares: Adilson Avansi de Abreu – FFLCH-USP Olga Cruz – FFLCH-USP Lívia de Oliveira – IGCE-Unesp (Instituto de Geociências e Ciências Exatas) Alvanir de Figueiredo – FCT-Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia) Adilson Carvalho – IG-USP (Instituto de Geociências) SUMÁRIO 1. EXISTE UMA GEOGRAFIA FÍSICA? .................................................................. 9 2. PODE-SE FALAR EM UMA GEOGRAFIA DOS TRÓPICOS?........................................ 13 3. O CONHECIMENTO DO MUNDO TROPICAL PELOS GEÓGRAFOS .............................. 17 4. AS CONSEQÜÊNCIAS DE UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA HOMEM X MEIO: DESMATAMENTO E DESERTIFICAÇÃO ................................................................ 23 5. O TRÓPICO E O IMAGINÁRIO ........................................................................ 29 BIBLIOGRAFIA .............................................................................. 33 1. EXISTE UMA GEOGRAFIA FÍSICA? Esta é a primeira indagação que se propõe. A resposta não seria simples e envolveria, necessariamente, considerações sobre a validade da prática de se dividir a Geografia em partes, exercício esse questionado desde os clássicos do século XIX (estamos pensando em Humboldt) e pelos que os seguiram, até os nossos dias. Na verdade, a Geografia é o setor da ciência que estuda a Terra enquanto morada do homem e diz respeito ao espaço terrestre, sua interpretação e seu entendimento. Portanto, surgiu, quando o homem passou a ter consciência espacial e esse processo pode ser dividido em três etapas: 1a. Consciência de que o espaço era um agregado de elementos heterogêneos, distribuídos de forma muito variada na superfície do planeta. 2a. Consciência de que esses elementos heterogêneos formavam unidades regionais, definidas, não só pelos fatores de macro-escala, como latitude, altitude, distância do oceano, etc., mas também pela ação antrópica. 3a. Consciência dos processos interativos que envolvem natureza e sociedade, chegando a definir espaços homogêneos e determinar seus limites, sem perder de vista a unidade da geosfera. A Geografia Física, admite-se, como sendo o ramo da Geografia que se preocupa, prioritariamente, com a natureza. 10 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. Na mais genérica das definições, diríamos que natureza é “o conjunto dos elementos bióticos e abióticos que compõe o Universo”. Portanto, o ser humano faz parte desse todo. O conceito varia, porém, conforme o período histórico e o contexto cultural em que é tratado. Segundo Milton Santos “a natureza é o continente e o conteúdo do homem, incluindo os objetos, as ações, as crenças, os desejos e as perspectivas”. É, portanto, cultura. “Com a presença do homem sobre a Terra, a natureza está sendo sempre redescoberta (...) com a criação da Natureza Social”.(SANTOS, M., 1992) Na mesma linha, o mestre Pierre George, em 1989 (“Les hommmes sur la Terre”), afirmava que “não se deve dar prioridade à chamada Geografia Física mas à localização da vida, da população, bem como à sua dinâmica relacional e conflitual com o meio ambiente” E prossegue: “Só há Geografia porque há homens sobre a Terra. A Geografia só interessa na medida em que ajuda a compreender como os homens nela vivem, nela podem sobreviver apesar da sua curta dimensão e seus conflitos.” (GEORGE, P., 1993) Para não nos alongarmos numa citação exaustiva de estudiosos, destacaríamos, ainda, um dos nomes mais respeitados da Geomorfologia deste século, R. J. Chorley, que afirmava em seu livro “Geomorfology as Human Ecology” (1973): “... sem algum tipo de diálogo entre o homem e o meio físico, num contexto espacial, a Geografia Física deixará de existir enquanto disciplina (...) e qualquer metodologia geográfica que não reconhecer esse fato, cai na obsolescência”. (CHORLEY, R. J., 1973) 11 CONTI, JOSÉ BUENO. Por outro lado, imagina-se que, ao se tratar de Geografia Física e mundo tropical, afloram os os riscos de se configurar uma postura determinista. Esse perigo, porém, é remoto. É bem verdade que os praticantes da Geografia Física têm sido vítimas de uma injustiça histórica. A partir de certa época passaram a ser olhados com reservas e acusados de defender idéias deterministas porque enfatizavam o papel da natureza na interpretação do espaço terrestre. Vidal de La Blache e seus seguidores concorreram para alimentar esse preconceito ao darem muito destaque aos aspectos sócio-culturais como forma de lastrear o raciocínio geográfico. Ora, os geógrafos físicos não precisam ter nenhum complexo de culpa, porque nunca negaram a enorme relevância do homem como agente transformador do espaço. Além de Chorley, já citado, chamaríamos o testemunho de William Morris Davis que, em 1898, defendia a Geografia Física como “o estudo do meio físico transformado pelo homem”. Hoje em dia evoluimos cada vez mais para os estudos integrados, baseados no Estruturalismo e na Teoria Geral dos Sistemas, valorizando-se, portanto, a prática da interdisciplinaridade. Por outro lado a concepção geossistêmica deu unidade e coerência à Geografia Física, ao incorporar à ação antrópica, o potencial ecológico e a exploração biológica, ao mesmo tempo que concorreu para diluir as fronteiras artificialmente levantadas entre esta e a Geografia Humana. Nesta altura, propõem-se duas novas indagações: pode-se falar em uma Geografia dos trópicos? E o que é o trópico? 2. PODE-SE FALAR EM UMA GEOGRAFIA DOS TRÓPICOS? Antigamente o conceito de trópico aprendia-se na escola fundamental, no tempo do bom ensino da Geografia e, a partir daí, a criança passava a entender melhor o seu entorno. Podia relacionar uma noção de macro-escala, como a de trópico, com o arranjo espacial ou a paisagem que estava à sua volta, ou seja, com a escala local, porque tinha consciência de sua posição no Globo. É preciso resgatar essa época rica, a fim de valorizar a nossa disciplina e recolocá-la como eixo dos conhecimentos humanísticos. Todavia, o trópico não é apenas uma categoria geográfica. Pode ser entendido, também, no plano cultural e sociológico e, neste momento estou me lembrando de Levi Strauss e de seu livro Tristes Trópicos, valioso estudo etnográfico sobre o Brasil do final dos anos 30. (STRAUSS, L.,1955) Trópico tem, ainda, significado histórico e geopolítico. Outra coisa não foi o movimento colonialista senão a incorporação dos trópicos ao sistema produtivo das médias latitudes em condições, aliás, muito vantajosas para estas, como se conclui, pelo menos, numa primeira análise. O conceito geográfico de zona tropical, porém, tem sido objeto de debates entre os próprios geógrafos, colocando- se, de um lado, nomes ilustres com De Martonne e Gourou (dos quais voltaremos a falar), defensores da exclusividade do uso do termo para as regiões quentes e úmidas e, de outro, Demangeot, Planhol e Rognon, para citar apenas geógrafos franceses, que estenderam esse conceito também para os ambientes áridos. 14 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. O assunto, nesse particular, é polêmico e já foi bem trabalhado. De nossa parte, nesta aula, vamos tomá-lo na sua concepção mais abrangente, compreendendo ambos os domínios, o seco e o úmido. Do ponto de vista de suas características naturais, a zona tropical tem uma identidade muito forte. Sua posição privilegiada em relação ao recebimento da radiação solar faz acumular o calor nessas latitudes, dotando-as de um excedente energético muito significativo sobre o restante do planeta. Estimativas indicam que esse superavit é, no mínimo, cinco vezes maior que o montante recebido pelas latitudes altas, consideradas como tais aquelas situadas além de 60 graus. A diferença entre terras e águas quanto à capacidade de absorver e reter a radiação contribui para que o calor se acumule nos oceanos e, como a zona intertropical é dominantemente líquida (as águas ocupam 76% de sua extensão), o fluxo desse calor chega, aí, a ser três vezes superior ao dos mares das latitudes elevadas. Essa importante concentração energética é dado preliminar para o entendimento da natureza tropical. Por outro lado, a interação oceano/atmosfera concorre para desenhar o mosaico climático das baixas latitudes. O giro anticiclônico (ou seja, anti-horário) das massas líquidas dos oceanos tropicais, conduz as águas frias, oriundas das latitudes mais elevadas, para as costas ocidentais dos continentes, tornando-as secas, resultando, portanto, em dissimetrias muito significativas quanto à distribuição das chuvas. O padrão da circulação atmosférica também coopera para salientar os contrastes. A atuação da Convergência 15 CONTI, JOSÉ BUENO. dos Alíseos e das macro-células de baixa pressão em torno da latitude zero originam, aí, situações de instabilidade, exacerbando a chuva. No sentido inverso agem os anticlones estacionados entre as latitudes de 20 e 35 graus, os quais, por serem semi-permanentes, geram extensas superfícies de estabilidade e, por conseguinte, de pouca chuva. Naturalmente, o excedente de energia da faixa entre os trópicos estimula a evaporação de tal forma que, aproximadamente, até a latitude de 20 graus, o volume de água evaporada é quase dez vezes superior à verificada nas latitudes médias. Nas áreas continentais de atmosfera estável, onde a reposição de água é insuficiente para restabelecer o equilíbrio hídrico (latitudes entre 20 e 35 graus), a conseqÜência é o surgimento dos desertos. Há, portanto, uma enorme variedade de ambientes nos trópicos, desde os super-úmidos até os hiper-áridos. Essa caracterização genérica, quando comparada às outras faixas do globo, autoriza-nos a falar , menos de uma Geografia Tropical e, mais apropriadamente, de uma Geografia Zonal. Aliás, a divisão da superfície da Terra em zonas foi um dos primeiros produtos da Geografia como ciência racional. Vários séculos antes da era cristã os gregos das ecolas jônica e alexandrina já o haviam proposto, numa época em que ainda se desconhecia 90% da superfície do planeta, donde se conclui que, nesse domínio, pouco se avançou. Em nossos dias, o mestre De Martonne, em artigo apresentado dos Annales de Geographie de janeiro de 1946, também sugeriria uma classificação das regiões do globo por faixas zonais mostrando que a situada entre os trópicos era a melhor caracterizada. (MARTONNE, E., 1946) 16 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. Bem antes dele, em 1912, o geomorfólogo alemão Albert Penck estabeleceria a relação entre as formas de relevo e os cinturões climáticos do planeta. O fato é que, desde fins do século XIX, William Morris Davis, já citado, havia oferecido ao exame dos estudiosos um modelo de zoneamento dos fenômenos da natureza assinalando a estreita dependência com os climas, privilegiando, por conseguinte, o princípio da zonalidade. Portanto, como ressaltamos, é no contexto dessa Geografia Zonal que se insere a chamada Geografia Tropical. 17 CONTI, JOSÉ BUENO. 3. O CONHECIMENTO DO MUNDO TROPICAL PELOS GEÓGRAFOS Historicamente, o europeu marcou sua presença no meio tropical a partir dos séculos XV e XVI quando navegadores, a serviço de Portugal e Espanha,chegaram às Antilhas, fizeram o contorno da África atingindo a Ásia e desembarcaram nas costas da América do Sul. É curioso notar- lhes o espanto ao entrar em contacto com o novo ambiente, para eles, inteiramente desconhecido. A Carta de Pero Vaz de Caminha é um precioso testemunho (aliás, pouco explorado pelos geógrafos) e dali retiramos esta descrição, com data de 1o. de maio de 1500: “Há lá muitas palmeiras. A terra em si é de muitos bons ares frescos e temperados como os do Douro e Minho (...) e as águas são muitas, infinitas”. (citado por ARROYO, L., 1971) Aí está uma amostra, de certa forma, surpreendente. Vê-se que o europeu tinha uma visão idílica que logo se transformaria em interesseira, como se sabe. Vamos tratar, porém, do conhecimento dos trópicos pela comunidade acadêmica. Isso viria ocorrer, somente em nosso século, com a chegada dos geógrafos, para aí deslocados no bojo do movimento colonial. Os trabalhos mais relevantes, porém, seriam divulgados após a Segunda Guerra Mundial, quando o colonialismo já se encontrava em recuo. É nesse momento que vem à luz o trabalho que se tornaria, até hoje, leitura obrigatória dos estudiosos das baixas latitudes: “Les pays tropicaux. Principes d’une Géographie Humaine e Economique”, de Pierre Gourou, 18 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. professor belga, porém, integrante do Collège de France, tendo sido seu livro editado em 1948, em Paris, e prefaciado por Paul Rivet, este último muito conhecido dos brasileiros. Nesse trabalho, Gourou analisa os trópicos úmidos, desde as Américas Central e do Sul (nosso país, inclusive) até a antiga Indochina Francesa, passando pela África e arquipélagos do Oceano Índico. (GOUROU, P., 1948) Ao longo de todo o livro, procura enfatizar a difícil compatibilização entre o que chama da “civilização branca” e a “natureza agressiva dos trópicos”, segundo ele, foco de doenças e de insalubridade. Demoraria algum tempo para que essa visão europeísta, afinal, desaparecesse, porque equivocada. Ainda nos quadros da geografia francesa é importante assinalar o trabalho realizado pelo grupo de Bordeaux que, nesse mesmo ano de 1948, fundou a revista Cahiers d’Outre-Mer, iniciativa dos professores Louis Papy e Eugéne Révert e editada pelo “Institut de la France d’Outre-Mer”. Pela matéria publicada, passou a ser conhecida, no meio culto europeu, como a melhor revista do mundo tropical e, ainda hoje, desfruta de grande prestígio. No ano seguinte o pesquisador A. Aubreville, engenheiro de formação, porém, geógrafo na prática em seu trabalho Climats, forêts et désértification de l’Afrique tropicale usou, pela primeira vez, os termos savanização e desertificação para designar áreas em vias de degradação na África Equatorial. (AUBREVILLE, A.,1949) Chama a atenção para as conseqÜências do mau uso do meio, acarretando desmatamento, agravamento dos processos erosivos e do déficit hídrico dos solos. E haveria muitos outros que contribuiriam valiosamente: Robert Capot-Rey, Jean Tricart, Jean Dresch. Louis 19 CONTI, JOSÉ BUENO. Papy, Pierre Deffontaine, etc., sem falar em Pierre Denis, que já havia publicado um trabalho sobre o Brasil em 1910. Com a fundação da USP em 1934 e a implantação dos cursos de Geografia em nível superior, iniciativa logo seguida pela Universidade do Rio de Janeiro, geógrafos europeus, especialmente franceses, viriam para o nosso país e lançariam as bases de nossa Geografia. Daí resultaram excelentes trabalhos sobre o meio ambiente tropical, o primeiro deles, a Tese de Doutoramento de Pierre Monbeig “Pionniers et Planteurs de São Paulo”, editada em Paris, em 1952. Essa pesquisa celebrizou-se, entre outros motivos, por ser o estudo de uma “sociedade em movimento” e do relacionamento desse dinamismo como o quadro físico, inovando, dessa forma, o próprio conceito de espaço geográfico. Ao tratar da cultura do café, analisou de forma inteligente a penetração do capitalismo no campo no quadro da economia internacional, ou seja, o que hoje chamamos de “globalização”. Lamentavelmente, alguns mal informados proclamam ser isso exclusividade da “nova” geografia praticada a partir dos anos 70! Relevante, ainda, foi a contribuição de Francis Ruellan que ministrou cursos de Geomorfologia na Universidade de São Paulo. Seu artigo “O papel das enxurradas no modelado do relevo brasileiro” de 1953, tornar-se-ia antológico entre os estudiosos da geomorfologia de processos. (RUELLAN, F., 1953) Fora dos quadros da geografia francesa, lembraríamos Leo Weibel, geógrafo alemão que, depois de percorrer o sul do México (região de Chiapas, hoje conhecida mundialmente pelo movimento zapatista), esteve entre nós , de 1946 20 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. a 1950, e deixou a obra Capítulos de Geografia Tropical e do Brasil onde há estudos sobre o sul de Goiás, a área de colonização européia do Brasil meridional e sobre as zonas pioneiras do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. (WEIBEL, L.,1958) E não nos esqueçamos, também, do geomorfólogo norteamericano Lester King que, nos anos 50, esquadrinhou o Brasil coletando dados para implementar sua teoria da pediplanação, a qual, posteriormente, se mostraria muito importante para a interpretação do nosso relevo. (KING, L., 1956) Todos esses mestres criariam uma verdadeira escola de Geografia Tropical que logo seria encampada pelos geógrafos brasileiros a partir dos anos 40 e 50. Mencionaríamos, em primeiro lugar, João Dias da Silveira que se notabilizou com sua Tese As Baixadas Litorâneas Quentes e Úmidas, de 1952 (SILVEIRA, J. D., 1952). Aliás, foi insigne mestre que já em 1951 propusera a transformação do Departamento de Geografia da USP num ponto de convergência dos geógrafos tropicalistas. Antonio Rocha Penteado, com seus estudos amazônicos, alguns dos quais, premiados internacionalmente, além dos realizados em Angola, deixou valiosa contribuição no plano do conhecimento empírico, portanto, de base. (PENTEADO, A. R.,1965) O XVIII Congresso Internacional de Geografia, reunido em agosto de 1956, foi um evento da maior significação para a Geografia dos Trópicos, a primeira vez e, até hoje a única, que se realizou nesta faixa do globo e ao qual estivemos presentes, na condição de aluno de graduação. Foi o momento em que a Geografia Brasileira ganhou ma 21 CONTI, JOSÉ BUENO. turidade e consolidou sua liderança nos estudos referentes às baixas latitudes. Nesse evento emergiram os nomes de Orlando Valverde, Lúcio de Castro Soares, Mário Lacerda de Melo, Lysia Maria Cavalcanti Bernardes, Nilo Bernardes, Aziz Nacib Ab’Sáber, Ary França e tantos outros. Novos nomes ainda se destacariam nos anos seguintes: Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, alçado, muito justamente, à condição de maior figura da Climatologia brasileira das últimas décadas; Olga Cruz, cujos estudos sobre a Serra do Mar e o litoral do Sudeste brasileiro tornar- se-iam referência obrigatória para os que investigam as zonas costeiras e as encostas úmidas; Adilson Avansi de Abreu, pesquisador do trópico alto, com suas Teses sobre o planalto de Poços de Caldas e o Maciço do Espinhaço; Alvanir de Figueiredo, pioneiro nos estudos da geografia da erva-mate no sul de Mato Grosso, já nos limites do subtrópico. E, ainda, Elina de Oliveira Santos, Augusto H. Vairo Titarelli, Lylian Coltrinari, Gil Sodero de Toledo, Jurandyr Luciano Sanches Ross, Selma Simões de Castro, Felisberto Carvalheiro, José Roberto Tarifa, Magda Adelaide Lombardo, para citar apenas nomes de São Paulo. Esta lista é muito incompleta pois há tantos e tantos outros de iguais méritos, não incluídos. Elaborá-la inteira, seria uma missão quase impossível. O Brasil é o maior e mais importante país tropical do mundo e por isso deve ocupar a posição de carro-chefe dos estudos nesse domínio. Tudo indica que estamos chegando lá e os que desejarem conhecer a geografia das baixas latitudes não podem deixar de ler os trabalhos dos autores citados. 4. AS CONSEQÜÊNCIAS DE UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA HOMEM X MEIO: DESMATAMENTO E DESERTIFICAÇÃO. Aproximadamente 40% da população do globo habita a faixa intertropical e aí se distribui de forma muito desigual, fatos já conhecidos de todos. A chamada sociedade urbano-industrial, que vem se desenvolvendo velozmente desde os fins do século XVIII, originou-se longe dos trópicos mas seus reflexos logo se fizeram sentir sobre todo o planeta. A expansão generalizada da cultura material e das atividades produtivas em escala até então desconhecida criou um novo tipo de relação entre o homem e a natureza, tendendo, muito mais, para uma postura dilapidadora do que preservacionista. A cadeia de dependência entre os componentes do meio físico tem equilíbrio frágil. Nas regiões tropicais onde o acúmulo de energia imprime maior agressividade aos processos, qualquer intervenção incorreta abre caminho para a desestabilização do sistema natural, com conseqÜente decomposição das rochas, lixiviação do solo, instabilidade das encostas e degradação generalizada. O modelo macro-econômico que nasceu da Revolução Industrial transformou, no início, os países situados nas baixas latitudes, em fornecedores de matérias-primas e produtos primários. Neste ponto, lembramo-nos de que a geografia marxista, com sua forma esquemática e economicista de interpretar o mundo, costuma classificar 24 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. as regiões tropicais como “de periferia” porque são economicamente subordinadas e menos industrializadas. Isso é apenas parcialmente verdadeiro, pois hoje, com todas transformações ocorridas, o quadro é menos simples e essa tese creio que já pode começar a ser questionada. Do ponto de vista de sua Geografia Física, os trópicos, ao contrário, dispõem de sobras de energia e as fornecem para o resto do globo. Imaginemos um cenário futuro, em que as dificuldade técnicas tenham sido vencidas e a radiação solar possa ser captada em larga escala e a preços competitivos para uso industrial. Nesse momento, os trópicos comandarão a economia do planeta. Já se vê que, se de algum modo, nossas latitudes, atualmente, possam estar em posição de inferioridade, a culpa não é da Geografia, que nos favorece e sim da História e da Economia. É necessário, também, ponderar a questão demográfica. Entre os trópicos, o crescimento populacional é expressivamente mais acelerado do que o verificado em outros lugares e isso pode ser apontado como uma das causas da forte pressão sobre os recursos. Apenas uma delas, porque, nestes tempos, em que tudo assume escala planetária, não se pode perder de vista o todo. E, além disso, há uma acentuada heterogeneidade de características naturais nas baixas latitudes, onde, por sua vez, habitam povos com enormes diferenças de etnias e culturas. O exame das relações homem x meio, aí, por conseguinte, está longe de ser uma tarefa simples. Não iremos caracterizar cada um desses meios e tampouco indicar onde se localizam pois resvalaríamos para um discurso excessivamente descritivo, além de supérfluo pois todos os que nos ouvem já conhecem a matéria. Procurare 25 CONTI, JOSÉ BUENO. mos fazer uma explanação, ainda que necessariamente suscinta, dada a enorme dimensão dos mesmos, sobre os dois problemas ambientais que apresentam, aí, maior expressão: o desmatamento e o avanço da desertificação, aliás, estreitamente imbricados Comecemos pelo desmatamento. As florestas tropicais são objeto de interesse do mundo todo, pois exibem o mais alto grau de biodiversidade do planeta. A preservação desse ecossistema foi objeto de importantes debates, há quatro anos, na Conferência de Cúpula RIO-92 e incluída na chamada Agenda 21, da ONU, que trata do desenvolvimento sustentado. Entretanto, o processo de destruição das matas, embora, historicamente, muito antigo, vem se acelerando em progressão geométrica. O uso de recursos poderosos, como por exemplo, moto-serras, desfolhantes químicos, escavadeiras mecânicas, etc. ampliaram enormemente a velocidade da devastação. Estimativas da W.W.F. – World Wildlife Fondation – admitem que quase metade das florestas tropicais do mundo já foram eliminadas e apontam os seguintes países como campeões do desmatamento: Tailândia, Malásia, Bangladesh, República do Congo, Nigéria, Ghana, Haiti e Brasil. Como conseqÜência, e isso interessa aos climatólogos, o volume de micropartículas de origem vegetal em suspensão na atmosfera, por exemplo os pólens, é drasticamente reduzido e o processo de formação da chuva tornase mais difícil. Isso porque as gotículas de água condensada necessitam dessas partículas (chamadas de “núcleos biogênicos”) para iniciar a coalescência e a formação das nuvens. 26 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. Por outro lado, a capacidade refletora da superfície, ou seja, o albedo, aumenta cerca de três vezes no solo nu, ocasionando perda de energia incidente e reduzindo a temperatura da superfície. Como resultado, enfraquecem-se as correntes convectivas ascendentes, desestimulando a formação da chuva. Essa redução das precipitações já foi demonstrada em várias partes do mundo. Pesquisadores da Universidade de Andhra, na Índia (Malini a Bhaskar), estudando uma área-piloto de 11.160 km2, constataram que, paralelamente à diminuição das florestas, de 2.450 para 1.470 km2, as chuvas cairam pela metade, em 30 anos (1961- 1990), em conseqÜência do desmatamento. (MALINI, H. B., BHASKAR, C. U., 1992) O ciclo hidrológico e a reciclagem do vapor d’água são, tambéem, perturbados. Em nosso país, é conhecida a pesquisa realizada na Amazônia por Enéas Salati, segundo a qual, 50% do vapor d’água presente da baixa atmosfera é proveniente da própria floresta, permitindo concluir que a eliminação da mata acarretaria a diminuição das chuvas à metade. (SALATI, E., 1985) Quanto ao problema da desertificação, entendido como sendo a perda progressiva da produtividade dos ecossistemas, afeta parcelas muito expressivas dos domínios subúmidos e semi-áridos em todas as regiões quentes do mundo. É nessas áreas, ecologicamente transicionais, que a pressão sobre a biomassa se faz sentir com muita força, através da retirada da vegetação arbustiva, do superpastoreio e das atividades mineradoras não controladas, desencadeando “stress” ambiental. O resultado é a salinização e esterilização dos solos, erosão acelerada e, finalmente, desertificação, definida na Conferência de Cúpula RIO-92 27 CONTI, JOSÉ BUENO. como “degradação das terras semi-áridas e subúmidas resultantes de vários fatores, incluindo variações climáticas e atividades humanas”. Avaliações do Prof. Harold E. Dregne, da Universidade do Texas, concluíram que cerca de 30% das terras emersas já estão prejudicadas pela desertificação e, desde 1977, a preocupação com o problema assumiu dimensões planetárias. Nesse ano, foi promovida, pela ONU, a Conferência Mundial sobre Desertificação, em Nairobi, Quênia. (DREGNE, H. E., 1977) O fenômeno coloca sob risco toda a biosfera, porém, depende de muitas variáveis, entre as quais, são da maior importância as características culturais e o grau de desenvolvimento econômico das populações atingidas, ou seja, as áreas pobres do mundo apresentam muito maior vulnerabilidade. Segundo cálculos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 86% das terras secas, porém ainda produtivas, da África, acham-se danificadas pela desertificação. Aí estão, como se sabe, alguns dos países mais subdesenvolvidos do mundo: Senegal, Sudão, Mali, Chade e Etiópia, por exemplo. No extremo oposto encontra- se a Austrália, país de PNB elevado, que tem apenas 22% de suas áreas secas, degradadas. Já em 1974, o Secretário Geral da ONU da época Kurt Waldheim, em Uagadugu, Alto Volta, hoje Mali, lançou o alerta: “Daqui a 50 anos o crescimento do deserto irá riscar do mapa três ou quatro países da África”. Portanto, a desertificação, em grande parte, é uma questão de pobreza. 28 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. No Brasil, no seio da comunidade geográfica, coube ao Prof. Aziz Nacib Ab’Sáber chamar a atenção para o problema com seu trabalho “Problemática da Desertificação e da Savanização no Brasil Intertropical”, apresentado em 1977, no mesmo ano da Conferência de Nairobi. (AB’SABER, A. N. 1977). De nossa parte, tivemos oportunidade de realizar uma pesquisa sobre o tema, na região semi-árida brasileira, apresentando-a como Tese de Livre- Docência, em 1995, na qual chegamos a apontar manchas, onde os processos de desertificação se manifestam de forma inequívoca, em parcelas expressivas do sertão nordestino. Cremos que, assim, atendemos ao dever de acrescentar, também, uma contribuição. (CONTI, J. B., 1995) 29 CONTI, JOSÉ BUENO. 5. O TRÓPICO E O IMAGINÁRIO Nesta etapa final de nosso pronunciamento procuraremos responder a esta instigante questão: de que maneira o homem do trópico concebe seu espaço? E de que forma os habitantes de outras partes do mundo vêem os trópicos? Não sei se chegaremos a trabalhar adequadamente o tema que se insere na Geografia da Percepção, especialidade refinada, que entre nós, foi proposta, pioneiramente, e com competência pela Profa. Lívia de Oliveira. Para esses estudiosos, o mundo dos fatos geográficos não inclui somente o clima, as propriedades agrícolas, o povoamento e os estados, mas, também, os sentimentos. O espaço é considerado em três vertentes: o espaço vivido, o percebido e o imaginado. Topofilia, termo criado por Yi-Fu Tuan, expressa o elo afetivo entre a pessoa e o lugar e é uma postura cultural. O Prof. Jean Gallais, da Universidade de Rouen (França), em artigo de 1977, (TUAN, 1980) aborda o assunto, começando por comparar o que chama de espaço-padrão das sociedades industriais com o espaço descontínuo das sociedades tropicais. (GALLAIS, J. 1977) Segundo ele, as sociedades industriais tendem a desenvolver no homem uma concepção do espaço vivido, como um emaranhado de diferenciações e organizações de uso coletivo. Infra-estrutra de transportes e comunicações, por exemplo, Para as sociedades pré-industriais, que habitam os trópicos, o espaço é concebido como um lugar homogêneo mas não necessariamente contínuo. Além disso, o espaço vivido é, aí, muito mais carregado de afetividade. 30 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. O autor que estamos citando exemplifica com algumas comunidades do Alto Nilo, cujos integrantes vêm o espaço, diferentemente, conforme a sazonalidade da chuva. A estação seca homogeiniza o espaço porque facilita os percursos ao passo que a das chuvas o fragmenta por causa da presença de pântanos que oferecem dificuldade de travessia. Entre nós, a Profa. Liliana Laganá, colega do Departamento de Geografia, em artigo publicado este ano na revista Travessia, intitulado “Terra Vermelha”, oferece bons elementos ao narrar a saga de um jovem casal italiano que imigrou para o interior de São Paulo (colônia de Pedrinhas) nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, mostrando a visão que cada um deles, marido e mulher, tiveram do novo meio. Para ele, o fascínio de construir uma cidade ideal, às margens do mundo, enfrentando a natureza desconhecida, a floresta, o calor, as distâncias e a terra roxa. Para ela, apegada às suas paisagens alpinas, com neve, inverno e brincadeiras de trenó, era espantoso trocar tudo aquilo por uma terra muito quente, de planuras sem fim, onde não havia casas nem habitantes, apenas porteiras, que produziam uma sensação imensa de vazio. (LAGANÁ, L., 1996) O relato, em forma de conto, desperta o leitor para a riqueza presente na alma do imigrante em sua trajetória, do ambiente natal para o desconhecido. Nesta temática, que é interdisciplinar, encontramos nos sociólogos contribuições bem interessantes. Roger Bastide, desde a década de 40, questionava, no plano sociológico, os limites entre o que é chamado de realidade e o imaginário, definindo este como “uma zona in 31 CONTI, JOSÉ BUENO. termediária entre o consciente e o inconsciente” (BASTIDE, R.,1971) A Profa. Maria Isaura Pereira de Queiroz conceitua-o como “um conjunto de representações, de objetos, de acontecimentos que nunca foram vistos na realidade e que, muitas vezes, não apresentam relação com ela”. Exemplifica examinando o imaginário do brasileiro, habitante do campo, em seu trabalho: “Le Paysan Brésilien et la Conception des Étendues”. (QUEIROZ, M. I. P.,1993) E agora, diríamos nós: Para os habitantes das outras latitudes, o trópico é muitas vezes uma idéia que oscila nas fronteiras do devaneio, transitando entre a realidade e a fantasia. Para muitos, no mundo afora, certos topônimos parecem envolvidos numa sonoridade especial: Taiti, Bali, Havaí, Iucatã, Galápagos, ilha de Páscoa, palavras que despertam sonhos, desejos de viagens e aventuras, que os estudiosos da Geografia do Turismo conhecem muito bem e os exploram. O Prof. Jean-Marie Miossec, da Universidade de Tunis, autor que nos foi indicado pela colega Profa. Adyr Rodrigues, analisa, com riqueza de detalhes, as diferentes modalidades de imagens com as quais trabalham as atividades turísticas dirigidas aos trópicos, onde o conteúdo simbólico das paisagens é utilizado para a produção de mitos a serem vendidos. (MIOSSEC, J., 1977) Concluiremos estas linhas reafirmando a importância do conhecimento da natureza tropical, com toda a grandiosidade de seus processos, a riqueza de sua biodiversidade e a multivariada expressão de suas paisagens. Ao geógrafo compete estudá-la de forma competente, oferecendo sua original contribuição para o mundo do saber. 32 A GEOGRAFIA FÍSICA E AS RELAÇÕES SOCIEDADE/NATUREZA NO MUNDO TROPICAL. A Geografia está entre os primeiros interesses do homem culto porque é a mais singular das ciências. É capaz de realizar sínteses regionias e de decodificar cada uma das infinitas unidades paisagísticas que compõem a superfície do planeta. Sua tarefa é da maior relevância no universo do conhecimento humano. 33 CONTI, JOSÉ BUENO. BIBLIOGRAFIA ABREU, A. A. de. Estruturação de paisagens no médio vale do Jaguari-Mirim. Col. Geomorfologia nos. 36, 37, 38 e 39. São Paulo. Instituto de Geografia da USP, 1973. ________. A. de. A teoria geomorfológica e sua edificação: análise crítica. Revista do Instituto Geológico. São Paulo. I.G. 4(1/2):5-23, 1983. AB’SÁBER, A. N. Problemática da desertificação e da savanização no Brasil intertropical. São Paulo, Geomorfologia no. 53. 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