HUSKY SIBERIANO Jessica Vallerino HUSKY SIBERIANO Tradução de Maria da Graça Moraes Sarmento de Jessica Vallerino Editorial Presença ÍNDICE INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . ORIGENS DA RAÇA. . . . . . . . . . . . . . Os Chukchi e as origens do Husky Siberiano. . . . . . . . . . . . . . . . Os Siberianos no Alasca e as primeiras corridas . . . . . . . . . . . . Leonhard Seppala, o maior musher de todos os tempos . . . . . . . . . . . . . As primeiras corridas de sled dog nos Estados Unidos. . . . . . . . . O STANDARD OU ESTALÃO ............. ... ... 19 Aspecto geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Cabeça......................... 19 Crânio ......................... 20 Focinho ........................ 20 Orelhas ............ . ......... 24 Olhos .......................... 24 Espelho nasal ou narinas. . . . . . . . . . . 25 Defeitos da cabeça . . . . . . . . . . . . . . . 25 Tronco .......... .............. 27 Defeitos do tronco. . . . . . . . . . . . . . . . 30 Membros anteriores. . . . . . . . . . . . . . . 30 Membros posteriores. . . . . . . . . . . . . . 31 Pés................. .......... 31 Defeitos dos membros anteriores e posteriOres. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Cauda ........ ................ 37 Defeitos da cauda . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Movimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Manto .................... ..... 40 Defeitos ............... . ...... 41 Carácter........................ 43 Será indicado para uma casa isolada? ........... ...... 50 Pode-se deixá-lo sozinho?. . . . . . . . . . 51 Entre os adultos e as crianças. . . . . . . 52 COMO COMPREENDER E FAZER-SE COMPREENDER PELO CÃO. . . . . 55 Para que serve comunicar. . . . . . . . . 55 As mensagens do focinho. . . . . . . . . . 55 As mensagens do corpo e da cauda .................... . 56 Que diz o cão quando fala. . . . . . . . 58 Como comunicar com o cão através de palavras . . . . . . . . . . . . . 59 Quando o cão ladra a despropósito. . . 60 Os sinais olfactivos e a marcação do território. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Quando o cão faz as necessidades em casa ...................... 61 REPRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . 64 O acasalamento. . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Como se dá o acasalamento. . . . . . . . 66 A gravidez ... .................. 66 O parto ........ ................ 67 A falsa gravidez. . . . . . . . . . . . . . . . . 72 A ESCOLHA DO CACHORRO . . . . . 75 Os problemas que um cão pode causar... .................... 78 Aidade certa .................... 80 Macho ou fêmea? . . . . . . . . . . . . . . . 81 Onde comprá-lo?. . . . . . . . . . . . . . . . 82 O privado .............. ........ 83 A criação amadora. . . . . . . . . . . . . . . . 85 INTRODUÇÃO De entre todos os animais domés- ticos, o cäo é aquele com o qual o homem estabeleceu um relaciona- mento mais estreito. Muitas coisas aproximam estas duas espécies: tal como o homem, também os cäes selvagens vivem numa sociedade or- ganizada, no âmbito da qual se esta- belecem hierarquias bem definidas e existem relaçöes estáveis; ambos são predadores, que em certa altura vi- viam da caça, e isso permitiu que se estabelecesse uma relação que se tornou cada vez mais firme ao longo dos séculos. Homem e cão sabem compreender-se e compensar-se mu- tuamente. Muitas foram ao longo da história as funções dos cães, que deram ori- gem às várias raças, seleccionadas para finalidades bem precisas, con- soante as suas qualidades: velo- cidade, agilidade, potência, olfato, agressividade, protecção, companhia e muitas outras, que ajudaram o ho- mem em diferentes tarefas. Mas nes- tes últimos anos a cinofilia está a atravessar uma transformação con- siderável. O número de pessoas que sentem a necessidade e o desejo de ter um cão, especialmente de raça, aumenta de ano para ano. O cão já não é considerado exclusivamente um auxiliar para determinadas funções, mas é principalmente visto como um amigo com quem se pode partilhar o tempo livre e viver uma experiência diferente, através de uma estreita re- lação homem-animal. Mas os gostos são muito variados e a escolha é frequentemente difícil devido ao elevado número de raças existentes. Não basta, no entanto, deixar-se atrair pelas características exteriores: é importante aprender a conhecer as atitudes e o carácter de cada raça. É necessário pois saber escolher o cachorro que nos parece mais idóneo e aprender a acompanhar o seu crescimento da melhor forma. Com este livro pretende-se trans- mitir uma mensagem mais directa e imediata através do texto e das ilus- trações com amplas legendas explica- tivas. Conhecimentos científicos e experiências práticas vividas pelo au- tor guiaräo o leitor na consulta do livro. Ao texto específico sobre a raça foram acrescentados alguns capítulos inerentes aos aspectos técnicos de carácter geral, por exemplo: ¦¦Como compreender e fazer-se compreender pelo cão¦¦, da responsabilidade da Prof. Marina Verga, docente de etnolo- gia zootécnica na Universidade de Milão: ¦¦Reprodução¦¦, ¦¦Alimentação¦¦, ¦¦Saúde e Higiene¦¦, tratados conjunta- mente pela Dra. Carla Cristofalo e por mim próprio. Neste volume, o capítulo sobre o treinamento do Husky Sibe- riano foi escrito pela Senhora D. Nico- letta Bettini. ORIGENS DA RAÇA A história oficial do Husky Siberiano começa nos anos 30, quando o Ameri- can Kennel Club reconhece a raça (em 1932 é publicado o primeiro standard ou estalão, isto é, a descrição das ca- racterísticas morfológicas e de com- portamento da raça, em 1938 é publi- cado um segundo mais aprofundado), graças ao trabalho e à paixão de algu- mas grandes personagens: Leonhard Seppala, Elisabeth Ricker (depois Nasen), Eva "Short" Seeley e Lorna Demidoff. O trabalho destas duas últi- mas foi fundamental para a estabiliza- ção da raça e para a sua posterior difusäo. Em 1928, Seeley foi chamada a Wonalancet (New Hampshire), por Arthur Walden, que estava de parti- da para a Antárctida, a fim de se ocu- par dos seus cäes (grandes híbridos chamados Chinook); em 1929 ena- morou-se dos Siberianos e a eles se dedicou com absoluta competência. Estes cães deviam ter bem estabeleci- das aquelas características que tinham feito do pequeno cão dos Chukchi um incomparável cäo de trenó: a ¦¦fun- cionalidade¦¦ e uma homogeneidade de tamanho, o manto, a posição da cauda e das orelhas. e sobretudo um carácter dócil e afectuoso. Pessoa muito activa. Eva Seeley, ocupava-se dos 300 cães de Wona- lancent e participava em todas as cor- ridas de New England; foi certamente graças também aos seus esforços que a raça foi reconhecida pelo American Kennel Club. Em 1938 faz parte do comité que cria o Siberian Husky Club of America. Desse comité faziam igualmente parte Ricker e o mítico Leonhard Seppala, que se tinha torna- do um juiz sempre presente em todas as manifestaçöes da raça. Uma outra grande figura feminina que contribuiu para estabelecer as bases do actual Husky Siberiano foi Lorna Barnes Taylor Demidoff. Grande condutora de trenó (mushe¦, monopoli- zou durante anos a primeira posição em todas as corridas e fundou uma dinastia, os ¦¦Monadnock¦¦. Os primei- ros Monadnock foram cães de corrida, leaders (ou seja cães da frente, velozes e obedientes) e óptimos reprodutores. Entre eles recordamos especialmente Aleka of Monadnock, Monadnock's Pando e o grande Monadnock's Akela. Os Chukchi e as origens do Husky Siberiano Antes de chegar à história oficial da raça, o Husky Siberiano está na história de um povo indómito, os Chukchi. Este povo conseguiu so- breviver autonomamente graças aos seus cães e à mestria que demons- tram ter na conduçäo de trenós. Na época dos czares (1742), os Chukchi conseguiram sobreviver a uma tentativa de genocídio dos Rus- sos, que eles derrotaram em 1747. Obtiveram a independência política em 1837: foram isentados de todos os impostos, tendo sido proibido aos próprios russos estabelecerem-se no seu território. Foram criadores no verdadeiro sen- tido da palavra, ainda que os seus métodos possam parecer cruéis. Na sua sociedade não era possível ali- mentar bocas inúteis: apenas algu- mas fêmeas, as mais vitais para a reproduçäo, eram mantidas vivas; os machos, na sua maior parte, eram castrados e, depois da primeira selec- ção, com base nas características e no comportamento, os indíviduos pos- tos de parte eram eliminados. Seleccionavam os cães com base no seu comportamento no trenó e não pela capacidade física: tinham de ser pequenos e velozes, com uma extra- ordinária resistência e preparados para enfrentar todos os percursos. Também os Yakuty, os Yukaghiry, os Koriki e os Itelmen da Kamciatka eram valorosos condutores de trenó, mas não gozavam da mesma fama como criadores, e os cães mais procu- rados e mais comercializados, por ocasião de feiras e mercados, eram os ¦¦pequenos cães dos Chukchi¦¦. Os Siberianos no Alasca e as primeiras corridas Kazan e Kappa no seu ambiente preferido: a neve, elemento muito apreciado pelo Siberiano. embora não indispensável. O Husky precisa das mesmas atençóes que uma criança de 3-4 meses no que respeita a altas temperaturas e humidade (foto de A. Brizio). A vida no Alasca, colonizado pelos Russos e que passou a constituir territorio dos Estados Unidos em 1867, manteve-se sem modificações até à descoberta de alguns filões de ouro ao longo do rio Klondike, em 1896: cerca de 30000 homens afluíram àquele ter- ritório dando ínicio à ¦¦Gold Rush¦¦, ou corrida ao ouro, que tantas vítimas deixou pelo caminho. Quando em 1899 se encontrou ouro perto de Nome, repetiu-se o fenómeno. Uma enchente humana de proporçöes in- calculáveis fundou em redor desta pequena aldeia uma extraordinária cidade de tendas, em que as con- dições de vida eram terríveis e os in- despensáveis cães de trenó, tinham de ser grandes e fortes. Esta comunidade heterogénea pas- sava o tempo, nas noites invernosas, a jogar e a fazer apostas e, logica- mente, eram os cães o objecto dessas apostas; faziam corridas de força e de velocidade que não tinham quaisquer regras. A primeira pessoa a introduzir re- gras rigorosas para salvaguardar a vi- da dos musher e dos cães foi Scotty Allen do Kennel Club local. As corridas tornaram-se cada vez mais populares, apareceram os pri- meiros musherprofissionais, os pri- meiros patrocinadores e, depois dos cronistas locais, chegaram também os convidados especiais dos grandes jor- nais, que contribuíram para criar o mi- to dos grandes homens do Alasca. E neste cenário apareceram os pri- meiros Siberianos de William Goosak, comerciante russo, que primeiro cau- saram espanto (eram de facto de ta- manho relativamente pequeno e de carácter muito dócil) e depois troÇa, quando o dono decide inscrevê-los, em 1909, na segunda edição do All Alaska Sweepstakes. Os pequenos Siberianos, conduzi- dos por Louis Thrustrup, classificaram- -se em terceiro lugar e, ao contrário dos outros cães, näo pareciam cansa- dos nem doridos, apesar de terem cor- rido durante três dias numa prova árdua que tinha poupado os prémios, e estavam alegres e contentes como se tivessem dado um passeio. Entre os espectadores estupefactos encon- trava-se um nobre inglês, ¦¦Fox¦¦ Maule Ramsay, que nesse mesmo ano foi comprar a Markovo, a mesma cida- de de onde provinham os cães de Goosak, 60-70 cães, incluindo al- gumas fêmeas. No ano seguinte, as suas três equipas classificaram-se no primeiro, segundo e quarto luga- res: agora os grandes mestiços (cães provenientes de cruzamentos, não puros) estavam definitivamente redi- mensionados. Nos anos seguintes, a equipa dos Siberianos, conduzidos por John Johnson ¦¦Iron man¦¦, chegou sempre entre os primeiros, para de- pois vencer finalmente em 1914 - os resultados eram satisfatórios. Leonhard Seppala, o maior musher de todos os tempos A consagraçäo pública definitiva como ¦¦cães de trenó por excelência¦¦, obtiveram-na os Siberianos com Leon- hard Seppala, considerado como o maior musher de todos os tempos. Seppala, nascido numa pequena terra norueguesa em 1877, chegou ao Alasca com o seu amigo Jafet Linden- berg, que por conta do governo ame- ricano, para lá transportava uma manada de renas norueguesas. Exímio esquiador que era, aproxi- mou-se dos cães e dos trenós e ficou tão fascinado por este desporto ao qual se dedicou com tanta paixão e perícia, que venceu três edições, em 1915, 1916 e 1917 do All Alaska Sweep- stakes. Estas três vitórias foram con- seguidas com tal vantagem que mushers e espectadores ficaram as- sombrados. O que ressaltava em Sep- pala era o relacionamento que tinha com os seus cães: falava com cada um deles, ocupava-se pessoalmente da sua alimentação, tratava-os com deli- cadeza, e eles obedeciam-lhe sempre, mesmo nas passagens mais difíceis. Os primeiros Siberianos tinham chegado a Seppala de maneira fortui- ta. Lindenberg, que era presidente do Pioneer Mining Co., de Nome, tinha preparado em 1913 muitos cães de trenó para Roald Amundsen, que esta- va a organizar uma nova expedição ao Pólo Norte. Quando este último desis- tiu da empresa, os cães, de grande valor comercial, foram cedidos por uma soma simbólica, por Lindenberg, ao seu amigo Seppala. Este grupo de animais era composto em parte pelos cães importados por Goosak e por ¦¦Fox¦¦ Ramsay. O primeiro leaderde Seppala, foi Suggen, mas muito mais famoso foi o seu filho, que alcançou um lugar na história do Alasca: Togo, leader na famosa ¦¦corrida do soro¦¦. New Morning Snow du Loup Polaire. pro- priedade de /. Zirri. Um cão de trenó tem alguns atavismos que nunca perde mesmo que viva noutras latitudes: não é raro. por isso, ouvir um uivo alasquiano num pinhal ou ver um Husky a dormir na Serra da Estrela, como os seus antepassados na Sibéria (foto de A. Brizio). Em 1925, foi detectada em Nome uma epidemia de difteria e as pro- visões de soro não eram suficientes, por isso era indispensável fazê-lo lá chegar no mais curto espaço de tem- po possível. De Anchorage a Nenana, de comboio, e de Nenana a Nome, com cães e trenós, começou uma cor- rida contra o tempo para evitar a tragédia. Seppala pôs em acção a sua ca- pacidade organizativa e a sua téc- nica e conseguiu fazer chegar o soro a Nome em cinco dias e meio: uma distância de 658 milhas, usualmente cobertas pelos estafetas de trenó do correio americano em 25 dias. Seppala, agora cinquentenário, e Togo, o seu leader de sete anos, co- briram 340 milhas do percurso e tor- naram-se heróis. Depois de ter cumprido esta ta- refa, foi reservado a Togo um trata- mento especial e, em 1927, foi doado a Elisabeth Ricker durante uma tour- né de propaganda nos Estados do Nordeste. As primeiras corridas de sled dog nos Estados Unidos New England era um território que se prestava bem para as competições com os trenós (sled dog) e em 1924, em Boston. foi fundado o ¦¦New En- gland Sled Dog Club¦¦. Uma figura que depressa se desta- cou pelas suas capacidades foi Arthur Walden, que durante muitos anos ti- nha vivido no Alasca. Este corajoso musher, grande conhecedor de cães e organizador competente (acompa- nhou Byrd à Antárctida), corria com uma muda de grandes híbridos e do- minou quase sem oposiçäo todas as corridas organizadas pelo clube no primeiro triénio. Quando, em 1927. Seppala chegou a New Hampshire instalou-se em Wonalancet Farm Inn. onde Walden tinha as suas mudas, e foi convidado a participar na corrida que teria lugar no Maine em Poland Spring. Campeäo Innisfree's Golden Arrow e Campeäo Innisfree's Star Enchantress. respectivamente leader e swing-dog da equipa Grand Canyon. Cada individuo tem uma posiçäo bem definida na equipa. Para além do leader (cão da frente. não necessariamente o mais forte do grupo. mas seguramente o mais veloz e o mais disposto a obedecer ao musher). há os swing-dogs (cäes atrelados ime- diatamente atrás do leader. podem substitui-lo. conhecendo também eles as vozes de comando). os team-dogs (cäes sem tarefas especificas. mas igual- mente úteis ao grupo) e os wheel-dogs (os cäes mais fortes e possantes: aqueles que ficam mais próximos do trenó e que. consequentemente puxam a maior parte do peso). Também naquela ocasião os pe- quenos Siberianos se mostraram su- periores aos grandes híbridos e entu- siasmaram muitos: musher, cronistas e público. Entre os mushervencidos estava também Elisabeth Ricker, mulher do organizador de Poland Spring, locali- dade em que nasceram os ¦¦Poland Spring Kennels¦¦ propriedade conjunta de Seppala e Ricker. Surge um outro canil no Canadá, pela mão de Harry Wheeler, que junta- mente com Seppala é dono dos cães. Ricker, depois do encontro com Seppala, dedicou-se exclusivamente aos siberianos e aos caes do no- rueguês junta outros quatro, Kreevan- ka, Tserko, Volchok e Laika's Bilka, adquiridos directamente na Sibéria por Olaf Swenson (um americano comer- ciante de peles e óptimo conhecedor de cães), e mais dois nascidos no Alasca, Bonzo e Tosca. Depois do divórcio, Ricker (agora Nansen) mudou os seus cães pa- ra o Canadá, para St. Jovite, perto de Wheeler, e os resultados des- ta criaCão influenciaram toda a New England. Entretanto entram em cena Eva ¦¦Short¦¦ Seeley e Lorna Demidoff. O STANDARD OU ESTALÃO Antes de tratarmos pormenoriza- damente do standard ou estalão do Husky Siberiano parece-me útil recor- dar o que é um standard: trata-se da descrição das características morfoló- gicas e comportamentais de uma raça canina. Esse standard é elaborado pelo organismo cinófilo nacional, do país ao qual pertence a raça (neste caso os Es- tados Unidos) e homologado pela Fe- deração Cinológica Internacional (FCI), para cada estado membro. O standard actualmente em vigor na Europa é o adoptado pelo FCI, e também pe- la ENCI (Entidade Nacional de Cino- filia Italiana) em 1979 (anteriormente aprovado pelo American Kennel Club em 18 de Abril de 1979); a 9 de Ou- tubro de 1990 o AKC, sob proposta do Siberian Husky Club da America (SHCA), aprovou uma revisão do stan- dard ou estalão operacional de 28 de Novembro de 1990, ao qual nos re- feriremos mais pormenorizadamente, indicando as suas principais caracte- rísticas. As partes do texto em itálico põem em evidência os pontos mais sig- nificativos mencionados no standard. Aspecto geral O Husky Siberiano é um cão de tra- balho de tamanho médio com um as- pecto geral impetuoso e ágil e com movimentos desenvoltos e elegantes. O seu corpo, moderadamente com- pacto, tem Bastante pêlo, as orelhas erectas e a cauda em escova recor- dam-nos a herança do Norte. Os seus movimentos são suaves e leves. Cäo de trenó para cargas ligeiras, o Husky Siberiano está preparado para desenvolver esta função da melhor maneira e todo o seu corpo reflecte um equilíbrio de força, velocidade e resistência. Como cão de trabalho deve ser musculoso mas nunca pesa- do ou maciço. Tamanho e peso Machos: - de 53,54cm a 59,69 cm ao garrote. - de 20,34kg a 27,24kg Fêmeas: - de 5O,SOcm a 55,88cm ao garrote. - de 15,87kg a 22,68kg. Cabeça No standard o termo cabeça com- preende os seguintes pontos: cränio, focinho, orelhas, olhos e espelho do nariz ou narinas. A sua forma permite identificar e diferenciar uma raça, e as diferenças raciais têm sempre como base moti- vações que vão muito além do simples factor estético: estão sempre ligadas ao lugar onde o cäo vive e actua. Muitas características do Husky Si- beriano encontram-se também em ou- tros animais que vivam em condições climatéricas análogas, por exemplo o lobo boreal e a raposa árctica. Crãnio De tamanho médio e proporcional ao corpo; ligeiramente arredondado no topo, reduz-se gradualmente do ponto mais largo até aos olhos. Focinho De comprimento médio; a distãncia entre a ponta do espelho do nariz e o stop é igual à distância do stop ao oc- cipital. O stop é bem definido e a cana do nariz, do stop à ponta do focinho, é direita. O focinho é de largura média e reduz-se na direcção do espelho do nariz, não tendo a ponta nem afunilada nem quadrada. Os labios bem pigmentados ajustam-se perfeitamente; os dentes fecham-se como uma tesoura. Funcionalmente, e portanto, a forma do craneo e do stop, que o standard precisa "bem definido". E opiniao geral, como Volker Shon faz notar nos seus comentarios, que o stop bem pronunciado tenha como funcao interceptar o ar quente expirado, de forma que na pratica este forme uma almofada de ar para proteccao da fronte e do olhos; um stop pouco pronunciado fa-lo-ia, ao contrario, espalhar-se mais rapidamente. A forma da cana do nariz e dos seios frontais tem tambem a funcao de aquecer o ar frio que e inalado. E de notar que os caes de treno quando as temperaturas sao muito baixas, trabalham de boca fechada. ORELHAS De comprimento medio, de forma triangular, implantadas juntas... sao espessas, bem fornecidas de pelo, um pouco arqueadas na parte pos- terior, erectas, com as pontas um pouco arredondadas dirigidas para o alto. As orelhas pequenas e bem co- bertas de pêlo têm a funçäo de não desperdiçar o calor e de oferecer ao mesmo tempo uma menor superfície que possa ser atacada pelo frio; di- reitas como em tantos animais sel- vagens, tornam-se menos sujeitas a inflamações e infecções. Olhos Em forma de amêndoa, moderada- mente distanciados e ligeiramente obliquos... de forma a serem o mais salientes possivel... podem ser de cor castanha ou azul; são admitidos olhos de cor diferente um do outro ou com ambas as cores num só olho. Azuis?... Moda Em relaçäo à cor dos olhos o stan- dard é muito claro e não há qualquer variante no standard efectivo de 28 de Novembro de 1990; igualmente clara é a frase ¦¦são admìtidos olhos de várias cores...¦¦ (no standard origi- nal: ¦¦Eyes may be brown or blue in color; one of each or parti-colored are acceptable.¦¦ Por isso o olho azul não deve ser penalizado na apreciação no ringue. Quando a raca se torna "moda" assiste-se a um multiplicar de criadores improvisados e em busca de ganhos faceis que seguem as exigencias do mercado; e no caso do Husky, é solicitado o olho azul. Considerando que o olho azul é uma característica com tendência reces- siva, é evidente que para ter ape- nas sujeitos com olhos azuis, tem que se trabalhar em estreita con- sanguinidade; isso pode produzir indivíduos com graves defeitos es- truturais de tipo, ou ainda pior, com defeitos de carácter. O Husky Siberiano é um cão de trabalho, o que explica a sua activi- dade em condições particularmente difíceis, por isso são outros os pontos fundamentais que se devem notar e a falta de P1 e por vezes de P2 não é um defeito tão grave como a falta de outros pré-molares. Devem portanto penalizar-se ape- nas as anomalias congénitas e não faltas ou quebras causadas por aci- dentes. Tronco O standard americano agrupa nes- ta designação o pescoço, as espá- duas, o garrote, o tórax, o dorso, os rins e a garupa. O standard define: pescoço de com- primento médio, arqueado...ombro bem inclinado para trás, formando um ângu- lo de 45 graus com o terreno.... Os mús- culos e os ligamentos que unem a espádua à caixa torácica são sólidos e desenvolvidos. Tórax profundo e forte mas não demasiado largo... linha dorsal horizontal do garrote ao ombro....de comprimento médio. O rim é tenso e seco...0 ombro baixa da espinha dorsal mas nunca é täo pronunciado que limite os impulsos das pernas posteriores. De perfil, o comprimento do corpo da ponta da espádua à ponta isquio- nática da nádega é ligeiramente supe- rior à altura. As palavras utilizadas para as des- crições säo empregues criteriosa- mente, pois da construção depende o movimento do cão, que no Husky Si- beriano tem a maior importância, na medida em que ele não deve apenas correr mas também puxar cargas. EM cima: Dunivak de Bleue Fontaine. foi criado por Isabella Travadon que também é sua proprietária (F). Uma bonita cabeça, óptimo ·¦cartão de visita¦· mesmo para os menos conhecedores. Página anterior em baixo: Velykayas Inti- -Raymi: individuo com heterocromia da iris e olho gázeo (propriedade e fotografia de A. Rampini). A sua construção indica-nos como o cão se moverá: um indivíduo anatomi- camente correcto terá um movimento equilibrado. Por exemplo, um indivíduo correcta- mente constituído, em movimento, es- tende o pescoço para a frente; um cão com um ângulo de pescoço errado que tem, por exemplo, a cabeça em posi- ção erecta, tem escasso rendimento e despende energia em excesso. O pescoço e a cabeça servem de balanceiro para equilibrar o corpo du- rante o movimento. Igualmente importantes são órgäos como o coração e os pulmões que, para terem um rendimento óptimo, além de serem bem desenvolvidos, devem ter espaço para poderem fun- cionar: daí portanto a necessidade de um tórax profundo. No entanto, näo deve ser demasiado largo porque, daria assim espaço ao coração e aos pulmões, mas seria um obstáculo ao movimento dos membros anteriores, tal como um tórax demasiado descaído, ou seja, abaixo da linha do cotovelo. Em ambos os casos ficaria compro- metido o andamento em trote veloz, em que os membros seguem uma linha imaginária, paralela à linha dorsal, ao longo do plano sagital médio. Kristmas Kazan. máscara em lirio e olhos azuis. Ultimamente tem-se disculido bas- tante a cor dos olhos. A cinofilia tradicional italiana sempre foi contrária aos olhos claros. à heterocromia (mono ou bilateral) ou ao olho azul (gázeo). Mas de acordo com o standard a heterocromia e o olho azul não devem ser penalizados. Defeitos do tronco São considerados defeitos: pes- coço demasiado curto e grosso, pes- coço demasiado comprido. Espáduas direitas, espáduas frágeis. Tórax de- masiado largo ou ¦¦em pipa¦¦; costelas demasiado chatas ou frágeis. Säo igualmente problemáticas as seguintes caracteristicas: uma es- pinha frágil ou flexivel; um dorso de carpa; uma linha dorsal descaida. Cauda Em cauda de raposa, bem forneci- da de pêlo, está inserida ligeiramente acima da linha dorsal e, quando o cão está em guarda, encontra-se geral- mente levantada, formando uma gra- ciosa curva semelhante a uma foice, não se dobra nem de um lado nem do outro lado do corpo e também não de- ve apoiar-se deitada sobre o dorso. Uma cauda abandonada, a pender, é normal quando o cão está a trabalhar ou em repouso. O pêlo da cauda é de comprimento médio e é aproximada- Innisfree's Long Shadow ¦¦Jimmy¦¦ (EUA), proveniente de uma prestigiada criação americana, propriedade de J. Vallerino Nazarri. mente igual na parte superior, inferior e de lado, tendo o aspecto de uma es- cova redonda. Defeitos da cauda Também não se considera correcta uma cauda apoiada sobre o dorso ou enrolada; cauda franjada; cauda in- serida demasiado acima ou demasia- do abaixo da linha dorsal. A cauda, no Husky Siberiano, como foi definida pelo standard nos seus aspectos estéticos, também tem im- portantes funçöes: protege-o contra o frio e serve de timão quando o cão caminha. Também uma inserção correcta é determinante para o trabalho de um cão de trenó, pois está estreitamente ligada à musculatura e à angulação que o animal deve ter. E um compri- mento e posição adequados são im- portantes para a tipicidade da raça. Movimento O movimento é o resultado de uma construcao correcta e deve ser: re- gular e aparentemente sem esforco. É saltitante e ligeiro nos membros e quando o cão está no ringue deve ser conduzido à trela solta a um trote moderadamente veloz, de forma a mostrar uma boa extensão dos mem- bros anteriores e um bom impulso dos posteriores... mas à medida que a ve- locidade aumenta os membros se inclinam gradualmente para o interior até que os pés se alinham sob o eixo longitudinal do corpo (single-track). Quando os rastos convergem, as pernas anteriores e as pernas poste- riores são lançadas direitas para a frente, com os cotovelos e os joelhos sem girar nem para o interior nem para o exterior. Cada membro poste- rior coloca-se por cima do membro an- terior do mesmo lado. Innisfree's City Cowboy (EUA), propriedade de S. rvlonville e w Kistemann (a). O carácter típico do Husky Siberiano é amável e simpático, mas ao mesmo tempo atento e curioso. Não demonstra as qualidades possessivas do cão de guarda nem é excessivamente descon- fiado em relação a estranhos ou agres- sivo com os outros cães. No cão adulto pode encontrar-se uma certa reserva e dignidade. O Husky Siberiano é um cão de ma- tilha, o que explica a sua actividade em conjunto com o hemem: é portanto necessário dar muita atenção à se- lecção e à criação dos cachorros, du- rante os seus primeiros meses de vida. Uma agressividade excessiva pa- ra com os seus semelhantes ou para com o homem, ou pelo contrário uma timidez evidente são de penalizar. O CARÁCTER O homem sempre seleccionou o cão com base no trabalho e no local em que este se devia desenvolver. Os povos do Norte vivem num am- biente duro no qual os débeis morrem e um animal deve desenvolver preco- cemente todas as suas capacidades de sobrevivência. Eram povos pacífi- cos para os quais a chegada de um hóspede era sempre vista com alegria e os raros inimigos eram visíveis ao longe. A caça, para homens e animais, era a única fonte de alimento e a so- brevivência de uma família dependia muitas vezes de um deslocamento rápido para um território de caça mais rico. Com estas premissas foi selec- cionado o Husky Siberiano: cão de matilha e apenas de trenó. Muito in- teligente, com uma inteligência útil em primeiro lugar à sua própria sobre- vivência: um cachorro capaz de so- breviver sozinho desde muito cedo e capaz de nos considerar mais ou menos dignos da sua fidelidade e amizade, e apenas em segundo lugar da sua obediëncia: obediência nun- ca cega, pois a uma ordem errada, em condiçöes limite, pode seguir-se a morte. Por isso ele avalia sempre se lhe convém ou não obedecer ao ¦¦chefe¦¦, figura no entanto indispensável numa matilha que se respeite; mas se o ¦¦chefe¦¦ viesse a faltar estaria perfei- tamente disposto a aceitar outro, na condição de que este se mostrasse digno de tal cargo. É absolutamente incapaz de fazer guarda, por isso os estranhos são re- cebidos pelo Husky primeiramente com curiosidade, depois festivamente, e está mesmo disposto a ir ¦¦dar uma volta¦¦ com eles; para um Husky Sibe- riano o homem nunca é um inimigo. O instinto da caça, indispensável à sobrevivência na natureza está muito presente no Siberiano e, em minha opinião, não é suprimível. Lebres, coelhos, esquilos, galinhas, aves e até cabras e porcos são para ele presas irresistíveis; este seu instin- to pode ser contido, mas não elimina- do, por um bom chefe de matilha. Dada a importäncia da figura do chefe da matilha vamos explicar o sig- nificado de tal papel e como pode ser utilizado na educaçäo de um cão de matilha tal como o Husky Siberiano. Na matilha selvagem o chefe co- manda apenas pela sua capacidade: dirige a caça e em ocasiões de perigo Ediack de Bleue Fontaine aos 2 meses, criação e propriedade de Isabella Travadon. Alguns comportamentos são instintivos e outros adquiridos, em respos- ta a estirriulos provenientes do indiv¦duo ou do ambiente que o rodeia. A aprendiza- gem em jovem é determinante para a for- mação do carácter. sabe levar a matilha para lugar se- guro; é em suma o mais astuto, o mais sensato, o de maior confiança. O Hus- ky Siberiano, que dá grande impor- täncia às hierarquias sociais, está absolutamente disposto a obedecer a um chefe de matilha eficiente. Mas se é dificílimo, quase impossível, que um Siberiano adulto adopte um chefe de matilha, é certamente muito simples que um cachorro o faça; o cachorro tem necessidade de um chefe que possa seguir. O nosso cachorro, saído de uma criação, onde tinha uma posição de- terminada no seio de uma matilha, vê-se catapultado para uma realidade formada por bípedes sem pêlo e por máquinas barulhentas sem cheiros; é evidente que tudo isto o pode ater- rorizar e portanto deve dar-se tempo para que se habitue de forma equili- brada. E, tal como faria um verdadeiro chefe de matilha, devemos demons- trar-lhe que esta realidade é normal e que nós estamos, de facto, com ele. As primeiras situações que vamos enfrentar com o nosso cachorro são determinadas por embates e encontros com objectos que lhe säo totalmente desconhecidos; nestas situações de- vemos dar o ¦¦bom exemplo¦¦. Aproximamo-nos do objecto em causa, vamos mantendo contacto tác- til com o cão, damos-lhe o objecto a cheirar, enquanto vamos falando e rindo, puxamo-lo com delicadeza para a dificuldade. Nive White Navel do Grand Canyon, pro- priedade de Maura Bensi Allegri. A curiosi- dade é um momento de conhecimento e por isso é normal que um cachorro como este procure, fareje e experimente. Tal co- mo uma criança, está sempre em movi- mento e sempre em busca de novos estimulos: é tarefa do companheiro- -homem ajudá-lo a evitar o perigo. Agiremos da mesma forma sempre que a mesma situação se apresente utilizando as mesmas palavras. Desta maneira crescerá a sua confiança num chefe coerente e sempre presente. De importância fundamental para lhe conquistar a confiança é a atitu- de que adoptarmos em situações de ¦¦agressão¦¦ por parte de outros cães, e que muito provavelmente aconte- cerão nos jardins das nossas cidades. Se o nosso cachorro for agredido, não nos devemos comportar como pais preocupados: os nossos gritos assus- tam-no e vão deixá-lo em má posição para se defender, bloqueando-lhe os mecanismos inatos que desenvolveu ao crescer com os irmãos. Da mesma forma, prendê-lo com a trela permite ao cão agressor levar a melhor. Se o adversário estiver solto e sem dono convém libertar o nosso Husky pois ele saberá desembaraçar-se muito bem sozinho; se, pelo contrário, estiver acompanhado pelo dono, uma actuação combinada, como agarrar os respectivos cães pela cauda e le- vantá-los, é a atitude mais prática e a maìs inteligente; os cães, de facto, nem sequer se aperceberão da in- tervenção humana e desorientados desinteressar-se-ão da presa (ver Psi- cologia Canina, de William Campbell). Um chefe deve ser sempre coerente, sensato e conhecedor E necessária uma conduta li- near, sem contradições. Aquilo que hoje não permitimos ao nosso ca- chorro, não lho podemos permitir amanhã: o cachorro tem um carác- ter em formação que nos põe fre- quentemente à prova até à distância de meses. Temos de fazer o nosso cachor- ro entender que queremos ser os seus mestres e que somos capa- zes de merecer a sua confiança. Desta maneira aceitará os nossos ensinamentos e seguir-nos-á, acei- tando-nos como chefe de matilha eficazes. Se tivermos bem presente o con- ceito de coerência actuaremos de forma a obter a total confiança do nosso Husky. Bastará dar-lhe um permanente apoio psìcológico nas situações em que se encontre ¦¦sozi- nho¦¦, depois de afastado da mãe e dos irmãos, a sua primeìra matilha. Enjoy the Silence de Whymper dos G. Jorasses nas suas primeiras explo- rações, propriedade de G. Ruaro. Há um periodo na vida do Siberiano em que ele costuma afastar-se mais: geralmente isso acontece aos 4 meses, para conhecer o mundo. Por este motivo, se quisermos ter um companheiro que nos ouça, devemos dedicar-nos com muita paciência à sua educação. Activo e vigilante O Husky Siberiano é alegre, vivíssi- mo, ternurento, dócil e passível de ser adestrado; como um cão de qualquer outra raça, está em condições de aprender, sempre que formos capa- zes de o ensinar. Nunca poderá tor- nar-se um cão de defcsa, pela simples razão de que um verdadeiro Husky Siberiano nunca atacará o homem. A sua formação secular e a sua utilização por parte de um povo que valorizou alguns dos seus dotes, elimi- nando ao mesmo tempo algumas das suas manifestações agressivas, re- flecte-se nos indivíduos contempo- râneos. Um Siberiano não obedece cegamente, tem que ter motivações válidas para o fazer, deve respeitar e amar o homem que o ensina. Para um Husky este homem não é um sobera- no inquestionável, mas alguém que lhe deve demonstrar que vale mais do que ele e por isso é digno do seu amor, res- peito e posteriormente obediência. Não são raros os Siberianos capa- zes de executar exercícios de agili- ty e obedience; nos Estados Unidos participam habitualmente em com- petições deste tipo e são proclamados campeões. Temos também em Itália e nos outros países europeus, Sibe- rianos capazes de executar todos aqueles exercícios que competem aos cães com formação de defesa (utiliza- dos pelo exército e pelas forças de se- gurança), embora isto não os defina como cães ideais para tal trabalho. Será indicado para uma casa isolada? Os Chukchi, ao contrário de outros povos, como por exemplo os Samoie- dos que tinham manadas de renas, eram essencialmente povos caça- dores: os cães eram utilizados exclu- sivamente para o trenó, para deslo- cações rápidas de um território para outro. Eram um povo nómada, sem limites territoriais nem propriedades a defender, por isso não tinham neces- sidade de um cão de guarda. E porque o homem selecciona o cão para ter um colaborador válido, o Siberiano nem tinha sequer possibilidade de se tornar cão de guarda. Um cão de guarda tem um território a vigiar e a defender, tem limites terri- toriais precisos, que não ultrapassa e que não permite que os outros ultra- passem; deve estar sempre vigilante e pronto a advertir o homem se um es- tranho se aproximar ou entrar no es- paço que lhe foi atribuído. Um Husky Siberiano acolhe amigos e ladrões com a mesma cordialidade, tal como os ignora se estiver interessa- do em qualquer outra coisa. Não sabe ladrar ao intruso ou ao mal-intenciona- do e não são raros os casos de Husky Sìberianos roubados de jardins particu- lares e de dentro de automóveis. Neste ponto, à pergunta se será adequado para uma casa isolada a resposta é: NÄO! Correremos o risco de, ao re- gressar a casa, não o encontrarmos à nossa espera. Pode-se deixá-lo sozinho? O Husky Siberiano sempre foi utilizado em trabalhos de equipa, puxando trenós, e para obter o má- ximo rendimento matilha deve fun- cionar em harmonia, situaçäo que se propicia, entre indivíduos que vivem juntos. E o sentido de matilha está precisa- mente na base da construção mental do Husky Siberiano. A matilha, com- posta por quatro ou cinco elementos, tem uma hierarquia precisa no seu interior que regula todas as acções, da caça à partilha da presa, do acasala- mento ao tratamento da prole, e os vários membros estão ligados por um forte sentido de cooperação. Retirar um Siberiano do grupo é afastá-lo do seu meio natural, mas na nossa so- ciedade poucos se podem permitir ter uma matilha de Huskys e um bom substituto da matilha é um grupo hu- mano. Um cachorro Siberiano equili- brado depressa encontra o seu lugar na família, isto se todos colaborarem e se alguém assumir a posição de chefe. Consegue-se assim educá-lo e até mesmo habituá-lo, gradualmente, a ficar sozinho, apesar de esta não ser uma situaçäo ideal para ele, sem que destrua, por irritaçäo ou enfado, de- masiados tapetes e móveis e sem que o nosso jardim se torne um campo de batalha com mil crateras. Entre os adultos e as crianças A sua relaçäo com o homem é sem pre marcada pela mais estreita cor dialidade, não morde nunca, nem num desconhecido e nem sequer num ini- migo. Isto é a herança do seu antepassa- do: o pequeno cão dos Chukchi, selec- cionado também com base no carácter. Homens e cäes viviam em contacto estreito, em locais onde os estranhos eram raros e sempre recebidos com alegria. Aqui a hospitalidade era obri- gatória pois disso dependia muitas vezes a sobrevivência de ambos; se um cão ficasse sozinho corria perigo de morte, era-lhe portanto indispen- sável encontrar alguém com quem viver. É pois um cão que não deverá criar problemas de agressividade, mas se não for educado poderá criar problemas com a sua viva cordia- lidade: facilmente se atira para um desconhecido, adulto ou criança, ape- nas porque lhe é simpático, e nem to- dos, nesta nossa sociedade, aceitam essas violentas manifestações de afecto. Delicadeza, paciência, prontidão para a submissão, são estas as quali- Ao lado: fotografia de familia ¦¦Bleue Fontaine¦¦ de Isabella Travadon. A matilha é indispensável ao Husky Siberiano. Ele está de facto muito próximo dos seus antepassados lobos e a habituação a um trabalho de grupo, a muda, deixou-lhe a necessi- dade de viver em matilha e por isso irá obrigatoria- mente procurar uma; esta encontra-se organizada segundo uma hierarquia precisa, e unida por um forte sentido de cooperação. Em baixo: ¦¦Pippi na Toscänia¦¦, fëmea da criação de Likidado, propriedade de Anna D'Entreves. Só com uma boa educação se pode limitar a vivaci- dade do Husky dades que se procuram num cão que consideramos adequado para crian- ças: o Husky Siberiano não é um cão para crianças. Um Husky Siberiano não aceita brincadeiras, não se torna brincalhão ou bobo sem uma razão, e além dis- so, para a maioria das pessoas, o cão para uma criança deve ser submisso: dificilmente um Husky, especialmen- te jovem, obedece a quem considera seu semelhante, só o fará em relação a um chefe. Uma criança não con- segue educar um Husky Siberiano, a menos que seja grandinho e com uma boa preparação cinotécnica, e mesmo assim não conseguirá levar o ¦¦seu cão¦¦ a passear, mas será o cão a levar a ¦¦sua criança¦¦ a passear. Um Siberiano procura compa- nhia, não faz companhia: não está à disposição de quem quer brincar com ele, apenas brinca se tiver von- tade. COMO COMPREENDER E FAZER-SE COMPREENDER PELO CÃO ' Todos reconhecem os diferentes sinais que os cães utilizam nos seus encontros quer com os outros cães quer com o homem: sinais vocais, quando se põe a ganir, ou a ladrar, ou mesmo a rosnar; sinais visíveis, como dobrar as pernas anteriores para ¦¦con- vidar à brincadeira¦,, ter as orelhas e a cauda baixas, em posição de medo, ou abanar a cauda, agitar todo o corpo, na expectativa de provar alguma gulo- seima ou de ir dar uma bela passeata. Todos estes, e muitos outros, tais como os sinais olfactivos, transmitidos sobre- tudo com a emissão de urina, fazem parte de uma espécie de linguagem, que constitui o sistema de comuni- cação característico de todas as espé- cies, no sentido de que no interior de todas as espécies os animais comuni- cam entre si com mensagens próprias. Para que serve comunicar É obvio que a transmissão de sinais comporta um certo grau de so- ciabilidade, ou seja, o desenvolvimen- to de uma vida social no seio da qual cada indivíduo encontra a sua posi- ção, o seu nível e o seu papel em re- lação aos outros. E isto é vantajoso quer para o sujeito singular quer pa- ra o grupo; de facto, o primeiro conse- gue perceber, através das indicações dos outros, a possibilidade de se ali- mentar e de acasalar, ou seja, de so- breviver e de se reproduzir, enquanto o segundo consegue manter a sua coesão sem que os seus componen- tes lutem continuamente entre si. Além disso, a comunicação entre os grupos sociais permite uma melhor defesa perante os perigos, que são rapidamente assinalados, mesmo à distância, sobretudo através de men- sagens sonoras. O cão pertence a uma espécie al- tamente social, e como tal rica nas diversas formas de comunicação, es- pecialmente visuais/gestuais, sonoras e olfactivas. As mensagens do focinho As expressões do focinho, ou seja a chamada máscara facial, são funda- mentais na linguagem do cão, espe- cialmente naquelas raças que têm possibilidade de mexer as orelhas. As várias posições das orelhas, jun- tamente com as dos lábios, podem revelar-nos as intenções do cão. Em resumo, podemos notar que: o olhar fixo e atento com as pu- pilas reduzidas, frequentemente acompanhado de um rosnar surdo e um ligeiro eriçar do pêlo do dorso, é, certamente, um sinal de ameaça; o olhar baixo e evasivo indica ime- diatamente timidez, mas atenção, se houver um estado de real e ver- dadeiro medo pode progressiva- mente tornar-se um sinal de pré- -ataque; · o olhar atento, acompanhado de um abanar de cauda, enquanto ladra e mantém a parte anterior do corpo baixa, pode querer dizer ¦¦queres brincar comigo?¦¦; · o olhar lânguido e, ¦¦humanamen- te¦¦ falando, quase implorativo, com o corpo em posição de sedução, e um pouco de baba que escorre da boca, significa que o nosso amigo espera pacientemente a comida desejada¦; · o olhar ausente, a posição apática e a pouca reacção aos sinais que lhe transmitimos, podem indicar que algo não está bem a nível físi- co, que pode existir uma patologia de qualquer natureza ou até uma patologia nervosa; há casos em que um tal olhar é concomitante com verdadeiras crises nervosas, que podem mesmo resultar em epi- sódios de intensa agressividade, imprevista e absolutamente impre- visível, dirigidas até contra pessoas que o animal conhece bem, mesmo contra o próprio dono. As mensagens do corpo e da cauda No seu conjunto todo o corpo do cão é capaz de transmitir sinais, seja alterando a atitude, seja levantando o pêlo de tal forma que parece aumentar de volume. O princípio geral é simples: quanto mais imponente for a figura do animal (orelhas direitas, pêlo eriçado no dorso, posição erecta), melhor pode mostrar a sua situação de domínio pe- rante o ambiente que o cerca, incluin- do os outros cães ou as pessoas nele inseridas; pelo contrário, quanto mais a figura nos parecer reduzida (cauda en- tre as pernas, orelhas baixas, posição semiacocorada), maior é a intenção, por parte do cão, de se declarar sub- metido, perdedor, ou até ¦¦enamora- do¦¦, no caso do macho que faz a corte a uma fêmea no cio. Ainda não é totalmente claro o sig- nificado do abanar da cauda: de facto todos percebemos a mensagem do nosso cão quando se nos dirige abanando a cauda, com a trela, a mal- ga ou a bola na boca, e interpretamo- -la como o desejo de ir passear, de re- ceber a suspirada ração ou de brincar connosco. No entanto, o cão muitas vezes também abana a cauda, talvez de maneira mais rígida, menos relaxa- da, quando se encontra em situações de rivalidade com outros cães ou em atitude de pré-agressividade. É ver- dade que um tal comportamento se manifesta já no cachorro durante a mamada ou quando há qualquer for- ma de competição com os irmãos de ninhada. E também com o movimento da cauda, eles podem assinalar a sua presença, uma vez que ao abaná-la o cão espalha em redor de si próprio sinais olfactivos que, como veremos mais adiante, são um outro sistema de comunicação muito importante. O abanar da cauda na expectativa da brincadeira ou de uma recompensa é por outro lado um sinal de tipo infan- til que mesmo o cão adulto mantém quer perante os seus semelhantes quer perante o homem. O que é que o cão percebe? Há quem esteja convencido que o cão percebe de facto quando uma pessoa é amiga dele ou então quan- do tem medo, etc. Na realidade o ani- mal pode demonstrar ter percebido as mensagens transmitidas pelo homem através da sua linguagem corporal nem que seja apenas uma atitude de descontracção. Funçöes da cauda segundo alguns autores A cauda pode ser: a) instrumento de sinalização com fins sociais ou sexuais, quando cobre ou descobre a zona anal-genital, es- condendo-a ou mostrando-a aos ou- tros para lhes chamar a atenção; b) instrumento de sinalizaçäo do nível social do indivíduo no interior do grupo-matilha, na medida em que a intensidade e a amplitude do abanar da cauda podem indicar o nívei de controlo da emotividade do animal. Que diz o cão quando ¦¦fala¦¦ As mensagens acústicas ou as vocalizações são utilizadas pelo cão em larga medida para comunicar a uma distância considerável. Sabe- mos bem que coros de várias vozes se desencadeiam nos horários mais impensáveis, quando, na maior tran- quilidade, bem no meio do nosso merecido sono nocturno, os cães de toda a vizinhança assinalam uns aos outros que ouviram um barulho sus- peito nos arredores ou, simplesmen- te, que está a passar alguém diante de uma cancela. E conhecemos tam- bém o ¦¦falar furioso¦¦ de alguns cães quando assinalam ao dono que al- guém se está a aproximar da porta de casa, coisa absolutamente natural como sistema de defesa do território por parte do animal, mas bastante aborrecida para o próprio dono e para os seus vizinhos! No entanto esta é uma das funções da comunicação acústica: dar o alerta ao grupo, de maneira que este possa imediata- mente preparar a defesa. Existem ainda outras mensagens que o cão transmite através de sons, e várias distinguem-se em função do tipo de som utilizado: o cachorro assi- nala à mãe, com ganidos lamentosos, que tem frio, fome ou necessidade de cuidados; o adulto assinala ao com- panheiro, ladrando, que tem necessi- dade de estar atento porque está pre- sente um perigo, ou, por vezes, uma presa; o macho assinala à fêmea, com uma imensidade de sons, o seu pró- prio ardor amoroso. Como comunicar com o cão através de palavras E opinião corrente entre muitos pro- prietários que o cão ¦¦compreende¦¦ o significado das mais variadas palavras e dos discursos mais complexos, de forma que se pode estabelecer com ele longos diálogos, quer quando se trata de o premiar, quer quando se lhe manifesta desapontamento por um comportamento negativo. A única coisa certa é, na realidade, que o cão consegue associar certos sinais nos- sos ao seu comportamento e, segui- damente, à nossa resposta a este: por exemplo, pode associar a palavra ¦¦vem¦¦ ao facto de se aproximar de nós e ao facto de por isso receber uma excelente guloseima; ou então a palavra ¦¦sentado¦¦ ao sentar-se diante de nós para receber imediatamente a seguir um afago acompanhado de um ¦¦bravo!¦¦, ou entäo a palavra ¦¦rua!¦¦ à sua tentativa de subir para o nosso sofá preferido, seguida de um ¦¦não!¦¦ seco de desaprovação. Através destas associações instaura-se aquilo a que se chama ¦¦aprendizagem por con- dicionamento¦¦, e é exactamente por esse facto que o cäo percebe que há relação entre um certo sinal acústico, o seu comportamento de resposta e aquilo que com ele consegue, sobre- tudo se se trata de um prémio. A pa- lavra-sinal correspondente a qualquer mensagem que se queira transmitir- -lhe pode ser de qualquer tipo, o im- portante é que para cada mensagem seja usada sempre a mesma palavra, dita no mesmo tom de voz e acom- panhada pelos mesmos gestos, de outra forma o nosso amigo ficará con- fuso e não poderemos certamente esperar dele que compreenda e obe- deça a sinais diferentes que no entan- to querem indicar a mesma coisa! Quando o cão ladra a despropósito Acontece muitas vezes que o nos- so amigo tenta literalmente ensurde- cer-nos com o seu ladrar insistente e chega mesmo a ouvir-se donos deses- perados dizerem: ¦¦não sei que mais lhe dar nem que possa dizer-lhe para o fazer parar de ladrar¦¦. Ora, se con- siderarmos que o ladrar é precisa- mente um sistema de comunicaçäo, é consequência lógica esperarmos que a nossa atenção e resposta imediata à mensagem não apenas não o inibam, mas ainda o aumentem. Cabe ao dono distinguir entre um ladrar razoá- vel e o maçador, inútil ou inoportuno, prestando atenção ao primeiro e igno- rando o segundo, de forma que tam- bém o animal possa distinguir quando é que este seu sistema de comuni- cação é aprovado ou não. Por exem- plo: se ladra insistentemente depois de nos ter trazido a bola, não se ca- lará se brincarmos com ele, porque depressa voltará a trazer a bola e re- começará a ladrar. Se pelo contrário o ensinarmos a obedecer a uma ordem que o faça estar em silêncio, então sim, podemos atirar para longe a bola para brincar com ele. Os sinais olfactivos e a marcação do território Porque é que os chichis nunca mais acabam? Especialmente se te- mos um cão macho notamos que durante o passeio diário, se estão presentes outros cães machos, ou fê- meas no cio, e sobretudo se nos encontramos num ambiente não habi- tual, ele tem o cuidado de ¦¦marcar¦¦ com urina todos os objectos verticais que encontra: árvores, rodas de au- tomóveis, cantos de edifícios, etc. Desta maneira o nosso cão ¦¦assinala¦¦ aos outros que naquele lugar está ele e que, eventualmente, não desdenha o facto de se acasalar com as fêmeas disponíveis. A mensagem olfactiva ba- seia-se na emissão de odores através da urina, feses, saliva e directamente por glândulas específicas; nos perío- dos de cio são também transmitidas as chamadas ¦¦feromonas¦¦, secreções com um cheiro especial que indica, e como tal é recebido, disponibilidade para o acasalamento: A marcação do território é mais in- tensa por parte dos animais ¦¦domi- nantes¦¦, para se evidenciarem perante os ¦¦submissos¦¦, sobretudo os do mes- mo sexo. Este comportamento pode ser parcialmente reduzido pela cas- tração. Muitas vezes o cavar buracos no solo pode constituir um sistema de marcação do território. Quando o cão faz as necessidades em casa Este aborrecido comportamento é característico no cachorro que acaba de chegar à nova casa e vai gradual- mente diminuindo, até desaparecer quando o animal, depois de correcta- mente educado, ¦¦compreender¦¦ que apenas deve fazer as necessidades no exterior. Se esse comportamento se mantiver pode ser indicativo de um estado patológico (o cão está doente e não consegue conter-se), ou de uma educação inadequada, ou ainda de várias formas de ¦¦perturbação comportamental¦¦, como por exemplo a ¦¦síndrome de abandono¦¦. isto se o cão o faz apenas quando é deixado sozinho. Um caso especial é a ¦¦mic- ção de submissão¦¦: o cão emite pe- quenas ou grandes quantidades de urina por exemplo nas nossas costas, depois de ter sido deixado sozinho durante um período mais ou menos longo, durante o dia, ou quando é agredido mesmo que simplesmente pela voz, ou quando está particular- mente agitado. Este é um fenómeno de carácter emotivo, que quase nunca se resolve com sistemas punitivos: como nos casos precedentes e em todos os outros casos de problemas comportamentais, é fundamental pro- curar e compreender a fundo as cau- sas que os determinaram. Uma vez posta de parte a ideia de que o pro- blema provém de qualquer doença orgãnica particular, pode intervir-se com uma metodologia oportuna para modificar o comportamento do animal de maneira duradoura e definitiva. Algumas regras de comunicação com o cão · O cão é um animal social; os seus comportamentos são determi- nados quer pelas suas característi- cas de espécìe e de raça, quer pelo ambiente no qual vive, desenvolven- do-se ao longo do tempo, desde ca- chorro até adulto. Por isso, para conseguir uma educação correcta de forma a obter um animal equili- brado e não nevrótico, é importante começar a comunicar com ele e a en- tender as suas mensagens quando ele ainda é cachorro, porque é sobre- tudo no primeiro período de vida que tem a maior capacidade de apren- dizagem. · Se quiser ¦¦dominan, o cachorro ou o cão adulto (sempre que anterior- mente tenha estabelecido a sua ¦¦superioridade¦, em relação a ele), prenda-o pelo ¦¦garrote", como faz a mãe com os seus cachorros. · Olhar o cão directamente nos olhos é sìnal de desafio. · Alguns estímulos particulares, como cabelós, fardas, ou toda uma indumentária especial, diferente do normal, como a bata do veterinário, podem provocar reacções de fuga, ou mesmo de agressivìdade, no cão não habituado. · Por vezes o cão pode reagir ne- gativamente mesmo a estímulos apa- rentemente neutros, pelo menos aos nossos olhos. Em geral isto acontece porque o animal associa esses estí- mulos a experiências particularmente negativas ou traumáticas que teve anteriormente. · Não nos devemos aproximar de um cão estranho com os braços le- vantados, ou gesticulando animada- mente, ou batendo os pés. · Todas as ordens de obediëncia devem ser dadas com uma men- sagem acústica e vìsual sempre igual. É importante, se o cão é comandado por vários membros da família, que todos lhe dëem sinais concordantes e que todos tenham as mesmas reacções ao seu comportamento. · Prémio ou castigo (não punições demasiado violentas!) apenas podem ser eficazes se aplicadas imediata- mente a seguir à acção do animal e näo se forem dados à distância de horas ou mesmo de minutos. · A comunicação entre a criança e o cão é normalmente imediata e re- cíproca, no entanto é bom controlar, sobretudo de início, a aproximação entre os dois, de forma a evitar de- sagradáveìs mal-entendidos por parte de ambos. REPRODUÇÃO' O acasalamento A escolha do acasalamento mais adequado deve ser feita com muito cuidado e com conhecimentos especí- ficos que provêm de uma preparação adequada com base numa boa expe- riência. Se não se está suficientemente preparado é bom confiarmos nos con- selhos de um criador com experiência de anos e de indubitável seriedade. É necessário avaliar não apenas ca- da um dos indivíduos, mas também conhecer a genealogia e os resultados de acasalamentos anteriores. Os reprodutores devem ser ante- riormente todos sãos e não devem transmitir anomalias hereditárias (displasia da anca, criptorquidismo, ectropismo, entropismo, surdez, ce- gueira, atrofia progressiva da retina e outros). Devem além disso apresen- tar características morfológicas ade- quadas e um carácter franco e equi- librado. Enfrentar a gravidez, o parto e so- bretudo a criação e o desmame dos cachorros pode ser uma experiência emocionante; porém também requer sacrifício e sobretudo disponibilidade de tempo e um lugar adequado. É, além disso, necessário prever com an- tecipação a quem, ou através de que canais, se pode ceder os cachorros desmamados. O cão é uma espécie monoestra, na qual o cio e a ovulação se manifestam em média todos os seis meses, mas com uma ampla variaçäo (5-12 meses) que depende quer do indivíduo quer da época. Os cäes selvagens geralmente entram no cio apenas uma vez por ano. Como aperceber-se do cio · Tem uma duração de cerca de 3 semanas, com notáveis variações in- dividuais. · O comportamento da cadela mu- da: torna-se nervosa e irascível com frequentes e imprevisíveis tentativas de fuga, na procura do macho. · Brinca de boa vontade com ou- tros cães, tanto machos como fêmeas, e até com os donos, apresentando ati- tudes exageradas. · Urina muito frequentemente mas apenas poucas gotas de cada vez, alçando um dos posteriores como um macho. · A vulva engrossa e a cadela lam- be-se frequentemente. · Há ligeiras perdas vaginais san- guinolentas durante os primeiros 9-10 dias. · Entre o 10Q e o 14¦ dias dá-se a ovulação e a fëmea aceita o macho. · Existe no entanto uma enorme variação de cadela para cadela. O primeiro cio aparece normal- mente entre os 8 e os 12 meses, e aconselha-se que a cadela seja co- berta apenas a partir do segundo ou terceiro cio, porque muitas vezes o or- ganismo ainda não completou o cresci- mento e por isso uma gravidez poderia comprometer um normal desenvolvi- mento do corpo. Os cios manifestam- -se durante toda a vida da fêmea, que não apresenta menopausa, e portanto não cessam com a velhice. Não é aconselhável deixar a fêmea acasalar a cada cio, mas sim em cios alternados, de forma a deixar sufi- ciente tempo entre uma gravidez e outra. Depois dos 7-8 anos, não é aconselhável deixá-la acasalar mais. Os vários momentos fisiológicos do ciclo reprodutivo são influenciados por complexas variações hormonais. A fêmea aceita o macho exclusiva- mente durante o período da ovulação e geralmente entre o 10ó e o 14ó dia, ainda que existam fêmeas que acei- tam o macho durante mais dias e ou- tras apenas num período muito curto: um dia ou mesmo menos. Uma vez efectuada a fecundaçäo, a fêmea geralmente não aceita mais o macho. É possível identificar o melhor período para o acasalamento através do exame microscópico de um esfre- gaço vaginal ou com análises da pro- gesterona hemática. Também os machos atingem a ma- turidade sexual entre os 8 e os 12 meses, mas aconselha-se que acasa- lem apenas depois do ano. Säo atraí- dos pelo odor emanado pela fêmea, que conseguem detectar a distâncias consideráveis. O macho é fecundo durante toda a vida, se for mantido em activida- de, mas se nunca fecundou antes dos 4-5 anos, dificilmente poderá repro- duzir-se. Como se dá o acasalamento Geralmente é o macho que é trazi- do junto da fêmea durante o período em que esta se deixa cobrir. O mo- mento ideal pode ser reconhecido, para além dos exames laboratoriais, também pela observação do compor- tamento da fêmea que, quando aceita o macho, coloca a cauda de lado, es- pecialmente se for tocada no dorso. Algumas fêmeas ficam tranquilas mesmo na presença de machos des- conhecidos, outras são mais nervo- sas e necessitam de um tempo para a ¦¦apresentação¦¦. A fase preliminar é caracterizada pelo cortejar e por jogos rituais. Os dois cães farejam-se e lambem-se até que a fêmea deixa que o macho lhe salte sobre a garupa (co- brição), consentindo na união (cópu- la). Em alguns casos a fêmea não aceita o macho ou recusa-o mesmo de maneira enérgica e agressiva: isto depende muitas vezes da escolha er- rada do período, mas por vezes pode estar ligado a um comportamento anó- malo da fêmea. Nos indivíduos jovens pode acontecer que o macho tenha de ser ajudado e a fêmea segura, ain- da que seja sempre melhor que os dois cães tenham o tempo necessário para uma cobrição natural. Durante a cobrição há erecção do pénis, que penetra na vagina; pouco depois, o macho volta-se de costas e devido a uma particularidade anatómica vira-se sem se poder separar. O pénis faz uma rotação de cerca de 180 graus e os dois cães mantêm-se ligados, cauda contra cauda, e nesta posição ficam durante um tempo médio de 15-20 minutos, mas que pode variar entre 5 a 45 minutos. Durante esta segunda fase faz-se a circulação do líquido prostático. O volume do pénis diminui gradual- mente e na sequência dos puxões da fêmea e do macho os dois indivíduos separam-se. É importante não provo- car uma separação violenta durante esta fase, porque se poderiam veri- ficar lesões nos órgãos genitais. É por isso necessário que duas pessoas assistam à cobrição e estejam pron- tas a segurar os dois indivíduos, para impedir uma separação demasiado brusca. Aconselha-se a efectuar dois ou três acasalamentos a uma distância de 24-48 horas um do outro. Nos casos em que não se consiga fazer acasalar os dois cães, pode recorrer-se à fecundação artificial. A gravidez Dura em média entre 60 a 63 dias, com notáveis variações, pois não se conhece o momento em que se deu a fecundação do óvulo, na medida em que os espermatozóides podem per- manecer vivos e activos no aparelho feminino durante um período bastante grande. Encontraram-se casos em que o período de gravidez variou en- tre os 57 e os 72 dias depois dos A mesma ninhada pode ter vários pais? Existe a possibilidade de uma cadela ser fecundada por dois ou mais machos durante um mesmo cio. De facto é fisiologicamente possí- vel que alguns óvulos sejam fecun- dados pelos espermatozóides de um macho e outros pelos de outro ma- cho. Pode acontecer, dado que o tem- po de permanência dos espermato- zóides vivos e vigorosos no aparelho genital feminino é bastante longo. É no entanto um acontecimento bas- tante raro e, em qualquer caso, cada ovo apenas pode ser fecundado por um único espermatozóide. É portanto necessário tomar aten- ção, mesmo depois do acasalamento, e manter a cadela sob controlo, para evitar encontros desagradáveis. acasalamentos. É boa norma registar sempre as datas de todos os acasala- mentos. No que respeita às variações hormonais revelou-se como dado mais constante o período que decorre do pico de LH (hormona luteinizante), que se verifica cerca de dois dias antes da ovulação, ao parto; este pe- ríodo tem a duração de 64-66 dias. No cão a fecundação do óvulo não se dá imediatamente depois da ovulação, o óvulo-célula precisa de um período de maturação de 2-3 dias. Durante o primeiro mës de gravi- dez a fêmea näo mostra sinais parti- culares, apenas no segundo mës se evidencia um progressivo engrossa- mento abdominal, que pode variar en- tre 20 a 55%. Mais acasalamentos distanciados podem fazer mal? Alguns, erradamente, defendem que se uma fêmea foi acasalada várias vezes em alturas distantes, pode haver óvulos fecundados em alturas dife- rentes. Isto provocaria o nascimento de alguns cachorros no tempo certo e de outros prematuros. É uma ideia que não tem fundamentos biológicos, porquanto a ovulação é provocada por estímulos hormonais precisos e acon- tece num período muito breve. Nos cães selvagens é normal que os acasalamentos se repitam várias vezes enquanto a fêmea aceitar o ma-. cho e não há razão para que isto pos- sa ser nocivo para a gravidez normal dos nossos cães. Portanto, repetindo várias vezes o acasalamento, a uma distância de 24-48 horas, aumenta- mos as probabilidades de fecundação. A cadela grávida necessita de um bom exercício físico, com pelo menos um passeio quotidiano; são, no entan- to, de evitar os esforços excessivos e os saltos. Durante o segundo mês a dieta deve ser melhorada e as refeições duplica- das, evitando no entanto que engorde. Uma semana antes do presumível evento é necessário preparar em local separado e tranquilo a casota para o parto. O parto Quando se aproxima o termo do tempo a fêmea está geralmente in- quieta, escava e procura arranjar um Um acasalamento indesejado pode repercutir-se à distância nos ca- chorros futuros? Esta teoria, que toma o nome de telegonia, era defendida no início des- te século, mas agora é totalmente re- cusada, com base nos conhecimentos biológicos actuais. Segundo esta teoria, uma cadela que, infelizmente, se deixasse ,¦se- duzir,¦ por um bastardo, ressentiria consequências negativas até mesmo nos cachorros seguintes. Näo existe motivo de preocu- pação: todas as gravidezes e os res- pectivos cachorros são influenciados apenas e exclusivamente pelos pro- genitores daquele preciso acasala- mento. Mas, no entanto, ainda hoje há quem acredite na telegonia. ¦¦ninho", no dia anterior não come e nas 12-24 horas precedentes a tem- peratura rectal sobe um grau cen- tígrado. É bom, por isso, medir a tem- peratura, durante alguns dias sempre à mesma hora, e anotar. É importante que a cadela com- preenda onde deve parir. Deve ter à sua disposiçäo, em local afastado mas familiar, uma casota para o par- to, geralmente feita de madeira, com dimensöes que variam conforme o tamanho do animal, mas que para um cäo de tamanho médio são de 80 x100 cm, com apoios de 30-40 cm. Pode-se ainda pôr no interior, a cerca de 5 cm de altura, uma balaustrada para evitar o esmagamento dos ca- chorros pela mãe. No fundo pode colocar-se um tapete que deve ser Diagnósticos de gravidez · Tem lugar: entre o 20ó e o 25ó dia do acasalamento, com a apalpação abdominal. A probabilidade de erro é elevada e depende da constituição do animal, da sua gordura e da palpa- bilidade do abdómen. · 20-25 dias depois do acasa- lamento, com o exame ecográfìco, podem revelar-se as formaçöes em- brionais e as batidas cardíacas dos fetos. · 46-50 dias depois do acasala- mento, com o exame radiográfico, podem evidenciar-se o núcleos de ossificação dos fetos. · Não existem testes rápidos, co- mo para outras espécies. mudado frequentemente. Durante o Inverno, se o ambiente não for aque- cido, é bom colocar sobre a casota uma lâmpada de raios infra-verme- lhos, tomando no entanto atenção para que não aqueça demasiado. Durante o parto a cadela deve ser deixada o mais tranquila possível; ge- ralmente faz tudo sozinha, sem in- tervençäo do homem, mas é melhor mantê-la sob controlo. Os cachorrinhos surgem geral- mente de cabeça e com os membros anteriores esticados para a frente, embora frequentemente saiam de pés, mas sem complicações para o parto. Se, pelo contrário, surgirem um ou dois membros e a cabeça sepa- radamente, o nascimento apresen- tar-se-á difícil; não se deve de forma nenhuma puxar, porque os tecidos são ainda delicados e poderiam fi- car lesionados. É suficiente ajudar com a delìcadeza quando a mäe tem contracções a intervalos regulares. A fëmea, especialmente no primeiro parto e se tem mais de três anos, pode ter algumas dificuldades em expulsar o primeiro cachorro e pode levar até uma hora. Cada cachorro está envolto num saco transparente (saco amniótico) que imediatamente depois do parto a cadela rasga (mas pode também ras- gar-se durante o parto) e come. O ca- chorro é então estimulado a respirar, pela mãe, que o lambe intensamente, depois de ter cortado com os dentes o cordão umbilical, mastigando-o insis- tentemente junto ao abdómen. Depois empurra-o com decisão na direcção do mamilo mais próximo. A placenta pode ser expulsa agarrada ao cordão umbilical ou 5-10 minutos depois do nascimento de cada cachorro, e a mãe trata de a comer. Entre um ca- chorro e outro decorrem geralmente 2-3 horas, especialmente entre o primeiro e o segundo, depois normal- mente o intervalo diminui; se a cadela estiver tensa, o último cachorro pode nascer até 18 horas depois. A duração do parto varia, em função do número de cachorros e de outros factores maternos, entre 4 a 8 horas e pode continuar durante 24 horas sem qual- quer complicação. Em todo o caso, se decorrerem mais de oito horas, é bom consultar um veterinário. As perdas durante o parto são em geral abundantes e de cor vermelha- -escura com traços rosados; têm um cheiro muito intenso mas não putre- facto. Se, ao contrário, aparecessem ama- reladas, purulentas ou com mau cheiro, poderia haver uma infecção no útero, com grave perigo para a mãe e para os pequenos. As mesmas perdas, quando esverdeadas podem também preceder em algumas horas o parto do primeiro cachorro e são devidas à emissão de sangue estagnado, produzido por hematomas marginais consequentes do descolamento da placenta. Em caso de dificuldade pode-se recorrer ao par- to por cesariana, que o veterinário efec- tua com anestesia geral. Vinte e quatro horas depois do parto mande ver a cadela, especialmente em caso de um imprevisto aumento de temperatura. É importante também verificar se o útero entra no processo normal de con- tracção. Nos dias seguintes, de facto, o útero contrai-se, expelindo membranas e coágulos; se o fenómeno se prolon- gar, se tiver demasiada intensidade ou se surgir um cheiro de putrefacçäo, de- verá consultar o veterinário. Depois de alguns dias, por causa do elevado número de cachorros pa- ridos, pode aparecer uma forma de tetânio provocada pela falta de cálcio, que se acumula no leite produzido (eclampsia). Depois do parto a fêmea fica muito tempo na casota e não é fácil afastá- -la de lá. É necessário tomar aten- ção, porque pode ser particularmente agressiva para com os estranhos e os outros cães: o instinto leva-a de facto a defender a prole. O aleitamento dura cerca de 40-50 dias até ao desmame, mas logo a par- tir do 20ó-25ó dia pode-se ajudar a cadela com a alimentaçäo artificial dos cachorros. Durante o aleitamento é necessário assegurar que os mamilos não estão doridos e que todos däo leite. A falsa gravidez Esta situação é bastante frequente e apresenta-se mesmo em cadelas normais. Os sintomas aparecem à distância de dois meses depois do úl- timo cio e lembram os de uma cadela realmente grávida: fome, sede, por vezes vómitos, inquietude e em al- guns casos engrossamento abdomi- nal. O leite aparece no último período e traz graves problemas de mastite, uma vez que não existem os cachor- ros para sugarem o leite. A causa desta patologia parece ser a evolu- ção da progesterona hemática. A ESCOLHA DO CACHORRO O homem sempre quis ter junto de si animais: cavalos, ovelhas, bois, aves, etc., para viver ou para ser aju- dado nas suas actividades; mas o ani- mal que certamente utilizou mais foi o cão. Desde pastor, caçador até cão de trenó, sempre esteve junto do ho- mem e ganhou, com a evoluçäo dos costumes e da cultura, um lugar privi- legiado. Deixou de ser considerado ¦¦instrumento vivo¦¦ para uma determi- nada actividade, e passou a ser ¦¦com- panheiro de vida¦¦. Apenas o cão subiu ao nível de amigo. E é nesta óptica que, em minha opinião, é necessário dirigirmo-nos ao cão: desta forma con- seguirá dar o melhor de si a quem o compreende, respeita e ama. Na vida chega muitíssimas vezes o momento em que se sente a neces- sidade de ter um companheiro de quatro patas e se nos inclinamos para o cão de raça (tal como para o gato de raça) a escolha desta última representa uma decisão importantís- sima. É sabido de todos que cada raça tem, para além das caracterís- ticas morfológicas, características psicológicas variadas. Se temos ne- cessidades precisas, um hobby ou uma paixão tal como a caça, ou se temos medo, se moramos numa casa isolada e temos necessidade de se- gurança, a escolha deve recair sobre determinadas raças; se, pelo con- trário, procuramos apenas um com- panheiro de vida, encontramos diante de nós uma possibilidade de escolha muito ampla. Na primeira selecção poderá ser útil consultar uma enciclopédia cani- na; lendo os standard tem-se uma pri- meira informação genérica. Escolhida a raça ou as raças em que estamos fundamentalmente interessados, é in- dispensável dirigirmo-nos aos cria- dores sérios, pois apenas eles nos poderão explicar os prós e os contras da raça. Os seus endereços podem ser solicitados às sociedades es- pecializadas - no caso do Husky Siberiano, ao Clube Italiano das Ra- ças Nórdicas (CIRN) - que depende do Gabinete Nacional de Canicultura Italiana, ou então ao SHC-I (Siberian Husky Club - Itália), clube específico da raça. Locais adequados para encontrar os criadores e ver os seus produtos são as exposições caninas, organi- zadas ou patrocinadas pelo ENCI. Es- tas manifestações não são uma ¦¦feira de vaidades!¦¦, mas sim um momento importante na vida de qualquer cria- dor. Naquelas ocasiões ele avalia o seu próprio produto e o produto dos outros; comparando os resultados po- de decidir que indivíduo utilizar para os futuros acasalamentos. Neste ponto chegámos ao penúlti- mo elo da cadeia, o criador que nos ajudará na escolha final: o nosso ca- chorro. A decisão de confiar nessa pessoa é muito importante. Um criador consciencioso conhece os seus ca- chorros, não apenas fisicamente, porque os alimentou, desparasitou, vacinou, mas sobretudo psicologica- mente: brincou com eles ensinando- -lhes a conhecer e a amar o homem, ajudou-os a construir as bases para uma relação futura equilibrada com os outros cães. Um cachorro será um adulto que irá viver em contacto estreito com o ho- mem, por isso deve começar a senti- -lo como presença positiva; desde os primeiros dias de vida deve ser muito tocado, com suavidade, e nunca deve ouvir barulhos ou vozes humanas vio- lentas ou demasiado fortes. Ele en- contrará na sociedade cães com carácter mais ou menos equilibrado e compete sempre ao criador fazer de maneira que o cachorro comece a ¦¦viver¦¦. Apenas o poderá conseguir deixando-o ficar com os irmãos pelo menos até aos 60-80 dias, para lhe permitir desenvolver os instintos de defesa e de agressividade inatos nele. É geralmente muito útil põr os ca- chorros a brincar com adultos equi- librados e pacientes, dessa forma aprenderão também a não agredir de futuro os cachorros ou os cães que dão provas de submissão. Isto é apenas uma pequena parte do trabalho que o criador deve de- senvolver; eis o motivo porque deve- mos dirigir-nos sempre a profissionais sérios. Ao criador é feito o pedido nos ter- mos adequados: não é possível esco- lher aos 60 dias um futuro campeão, nem o leader da nossa matilha, po- demos apenas pedir um cachorro säo e equilibrado. E estes são os pontos mais importantes na escolha de um cachorro: saúde e carácter. Pode certamente ser útil observar os progenitores do cachorro, ainda que muitas vezes não sejam determi- nantes, mas é sobretudo importante ver o ambiente em que vivem, o local onde cresceram, e saber quais os métodos de criaçäo que são utili- zados. Nunca nos devemos deixar seduzir por ¦¦um focinhito tão engra- çado¦¦. Se por detrás deste estiver um carácter demasiado medroso podere- mos ter no futuro um indivíduo muito tímido, e se não tivermos experiên- cia isso poderá criar-nos problemas na fase de adaptação à caótica vida citadina. Apenas o criador nos poderá ex- plicar tudo em relação aos seus ca- chorros. Cachorros de 25 dias. Por volta do 21 ó dia de vida o cachorro procura conhecer me- lhor a sua casota e o território em redor. Manifesta comportamentos inatos, tal co- mo pôr-se de barriga para cima para evitar a agressividade dos adultos, e inicia a sua exploraçäo do planeta do homem. Do 21 ó ao 50ó dia inicia-se o mecanismo do imprinting. Os problemas que um cão pode causar Levar para casa um cachorro não é como comprar uma bicicleta, que se não for utilizada pode ser posta na garagem. Um cão é um ser vivo com direitos semelhantes aos nossos; e se não temos intenção de lhos reco- nhecer é certamente melhor não o levar para casa. Um cão tem o direi- to de viver bem e o Husky Siberiano é muito exigente. Um cachorro desta raça, para além de apresentar os mesmos problemas de qualquer outro cachorro, choros nocturnos, destruição de objectos, bu- racos no jardim, etc., exige da nossa parte uma presença contínua e por presença entende-se a capacidade da nossa parte de o ensinar a viver connosco, a amar-nos e assim a obe- decer-nos. O Siberiano não pode ser confiado a outros porque fomos nós que lhe ensinámos a obedecer: ape- nas nos obedecerá a nós, porque nos ama e não por ¦,sermos mais fortes¦¦. Se gostamos de viajar para terras longínquas ou passar as nossas férias em hotéis de luxo, onde um cão não é bem aceite, não temos o direito de o pôr no canil durante dois ou trës me- ses: ele viverá esta situação como um abandono e dificilmente se adaptará a ela. Além disso, muitas vezes, os ca- nis não estão em condições de alo- jarem cães que saltam alturas de um metro e oitenta ou escavam túneis profundos para fugir. Se gostamos de ter a casa arruma- da, o Husky não é certamente o nosso cão. As suas mudanças catastróficas transformarão, duas ou três vezes por ano, a nossa casa e as nossas rou- pas. Se somos também maníacos da jardinagem, o Husky não é cão pa- ra nós: destruirá cuidadosamente os nossos bolbos, comerá os rebentos das moitas e arrancará a casca das árvores jovens. Será um alegre com- panheiro dos nossos passeios, mas igualmente um sério caçador de tudo o que vir movimentar-se em redor de si. Por isso devemos mantê-lo sempre ao alcance da vista e da voz. E para que ele responda ao nosso chamamento devemos educá-lo para tal desde os primeiros meses da nos- sa convivência. A idade certa A idade ideal para levar o cachorro para casa depende de dois factores precisos: saúde e formação psíquica. Deve ser vacinado depois dos 50 dias contra a parvovirose, a esgana e a he- patite. Esta vacinação no entanto não se torna eficaz senão depois de 5-10 dias, e por isso é sanitariamente erra- do levar o cachorro para casa antes dos 60 dias. Para uma correcta formação psí- quica é necessário que o cachorro vi- va o período compreendido entre os 45 e os 60-70 dias de vida com a mäe, os irmãos e, se possível, com outros cães adultos. Desta maneira apren- derá as regras que lhe seräo indispen- sáveis para a vida adulta. Muitas vezes os cachorros reti- rados da matilha demasiado cedo tornam-se adultos inseguros e, por ve- zes, o que felizmente é muito raro, viram-se contra o homem. No que diz respeito ao relaciona- mento com o homem, é fundamental o trabalho de um criador atento: ca- be-lhe de facto fazer com que o ca- chorro chegue aos 60 dias com uma boa imagem dos homens e possivel- mente das crianças, ficando assim em condições de enfrentar o mundo exte- rior para lá do território que conhece bem, e sem o apoio da matilha. Macho ou fémea? A escolha do sexo é extremamente subjectiva e não é fácil aconselhar um ou outro. O macho é sempre mais vistoso, mas também é mais forte e violento, a fêmea é mais pequena, geralmente mais doce e disponível para aprender. O Husky Siberiano tem um carácter independente e o macho tem-no clara- mente mais marcado do que a fêmea: se sente estranhos no seu território- no caso de um cão de cidade este se- ria constituído pelos jardins públicos diante da sua casa - precipita-se para avaliar a situação; se sente cheiro de cadela no cio vai certamente p rocu rá-la. A fêmea, por seu lado, no período do cio deixa marcas no chão de casa, isto apesar de o Siberiano ser geral- mente muito limpo; e recebe a visita, mais ou menos do agrado do proprie- tário ou dos vizinhos, de cães ena- morados que assinalam o território com urina e rosnando. Kiska das Sombras Compridas com os seus filhos, Suomi, Sally e Speaker É um grave erro separar os filhos da mãe antes dos 60-70 dias. Por volta dos 50 dias o ca- chorro é vacinado, mas os efeitos da vaci- na apenas se verificam 5 a 10 dias depois: não é, por isso, aconselhável levá-lo para casa antes desse periodo. Além disso, neste momento da sua vida começa a con- tactar com os adultos, assumindo aquelas atitudes que servem para confronfar a agressividade e que utilizará quando en- frentar outros cães (foto de M. Maniscalchi). Onde comprá-lo? Quando uma raça se torna moda multiplicam-se os ¦¦pontos de venda¦¦ e isto cria gravíssimos problemas para a raça. Um cachorro deve ser comprado a um criador sério, de forma a podermos ter todas as garantias, que vão da certeza de ter um indivíduo são à cer- teza de encontrarmos apoio se tiver- mos algum problema. Se o cachorro apresenta defeitos de crescimento imputáveis ao criador este estará sempre disponível poden- do chegar mesmo a proceder à substi- tuição do cão. Vejamos porém, sumariamente, ou- tras pessoas a quem poderemos com- prar o cão. O privado O privado, proprietário de uma cadela que teve uma ninhada, na maior parte das vezes ama-a muito e é igualmente pródigo de atenções em relação aos seus cachorros. Tem amiúde alguns problemas de colo- cação, especialmente se não tem muito espaço, por isso vende-os a um preço inferior ao do mercado. Se esti- ver interessado em adquirir um, con- vém sempre informar-se dos registos no LOP (Livro de Registos Português) e dos cuidados sanitários que os ca- chorros tiveram. A criação amadora Esta designação indica um ver- dadeiro apaixonado pela raça, que tem poucos ajudantes, trata dos aca- salamentos e leva os seus cães às exposições; está, em suma, a iniciar as bases de uma verdadeira criação. No entanto, muitas vezes também se definem como tal os ¦¦cadeleiros¦¦, cu- ja única finalidade é venderem cães, que muitas vezes compram a outros. Para poder ajudar aqueles que de- sejam comprar um cachorro de Husky Siberiano, a revista O Husky Sibe- riano organizou um serviço chama- do ¦¦SOS Husky¦¦ (Save our Siberian Husky), que envia a quem lhe pede uma espécie de guia para uma aqui- siçäo criteriosa. A CRIA¦ÃO Onde ter o Husky Um Husky Siberiano pode viver em qualquer parte, desde que o seu com- panheiro-homem deseje ter junto de si um cão de trenó. Isto significa cuidar dele para além das suas necessidades físicas, dar longos passeios e fornecer uma ali- mentação correcta. Terá também que responder às suas exigências psíqui- cas: o Husky Siberiano como vimos é um cão de matilha que sofre imensa- mente com a solidäo. Devemos fazê-lo sentir-se amado, ser para ele um amigo atento e um chefe de matilha de confiança, e des- ta maneira ele aceitará todas as si- tuações e será capaz de as suportar estoicamente. Quer se viva na cidade ou no cam- po é indispensável educá-lo, para o poder deixar correr e gozar plena- mente a sua enorme vitalidade. Sendo também muito inteligente e curioso, é necessário, se se tiver um jardim, que este seja bem murado, para evitar que ele vá explorar jardins e galinheiros da vizinhança, onde nem sempre tem um bom acolhimento. Quem tem um Hus- ky nunca deverá, por exemplo, utilizar o telecomando para abrir a cancela do jardim, pois ele aprende com rapidez a forma de funcionamento e na primeira ocasião favorável aproveitará a nossa chegada para fugir para a rua. Geral- mente aconselha-se a quem tem um grande jardim que construa um recinto onde o possa fechar quando estiver à espera de visitas ou de pessoas es- tranhas. Nem todos têm a sagacida- de necessária para conviver com um Husky Siberiano. Não somos de forma alguma de opinião que o Husky Sibe- riano deva viver sempre e apenas no jardim, primeiro porque nenhum cão gostaria de tal situação, segundo porque o Siberiano não pode, e não deve, estar grande parte do seu dia sozinho; isso deixá-lo-ia muito infeliz e para mais poderia ser roubado com muita facilidade: recordemo-nos que o Husky nunca desconfia dos desco- nhecidos. Onde quer que o façamos viver devemos sempre dar-lhe a pos- sibilidade de arranjar um local fresco para passar as horas mais quentes e um lugar protegido onde se escon- der e refugiar se tem desejo de uma caverna, mas sobretudo, repetimos, devemos fazer-lhe sempre muita com- panhia. É nossa convicção que entre um parque de 10 000 metros em que estivesse sozinho ou um apartamento de 150 metros no qual viva connosco, preferirá certamente o segundo. O acessórios de um Husky Sibe- riano não diferem dos dos outros cães: coleira de tela (estraga menos o pêlo) para os passeios ao parque ou as excursões nos dias festivos, uma longa trela (muitas vezes na cidade é proibido libertar os cães), uma coleira de estrangulamento (de tela ou em corrente) e uma trela não mais compri- da do que metro e meio para os pas- seios na cidade ou para o treino. Se viver dentro de casa terá um trapo ou um tapete facilmente lavável, se viver ao ar livre uma casota coloca- da em lugar protegido do frio e do calor, possivelmente com um tecto plano, porque o Siberiano gosta de se instalar em posiçäo elevada para ver melhor em seu redor. Ele não bebe muito mas a água deve estar sempre ao seu alcance e a comida deve ser- -lhe dada em malga de metal, dificil- mente atacável pelos dentes de um cachorro, e bem lavada. O Husky Si- beriano não precisa de toilette espe- cial; é um cão extremamente limpo (graças à consistência do manto e ao comprimento do pêlo dificilmente apan- ha folhas ou raminhos secos) e uma escova de seda e outra de cerdas, es- pessa e larga, são suficientes para manter o pëlo em óptimas condições. Como é bem sabido, o Siberiano não tem aquele típico ¦¦cheiro a cão¦¦. O cachorro A entrada de um cachorro na nos- sa vida traz sempre muita confusão; deve, por isso, ser bem preparada quer do ponto de vista prático (aces- sórios indispensáveis), quer do psi- cológico (a nossa disponibilidade). Os objectos compram-se, o nosso tempo não! Tratemos pois de fazer coincidir a chegada do cachorro com um perío- do de férias, no qual não existam saí- das nocturnas ou dias no meio de pessoas: o cachorro tem necessidade de toda a nossa atenção e não deve ser exibido como um vestido novo. O pequeno Husky na nova casa sente-se assustado e sozinho, aca- bou de deixar o seu território cheio de odores conhecidos e reconfortantes e a sua matilha, que lhe dava segu- rança, e agora tem necessidade de ser ajudado. Não podemos pretender que se habitue imediatamente a dor- mir sozinho ou que ande de forma se- gura no meio das pessoas, quando ainda há poucos dias dormia e se movimentava sempre na matilha com os irmãos ou seguindo um adulto. Se o nosso cachorro saiu de uma boa cri- ação, tem geralmente um conheci- mento positivo do homem, que foi aquele que sempre o tocou e tratou com amor, brincou com ele e o ali- mentou, por isso não devemos fazer mais do que darmo-nos a conhecer como amigos e começar a comunicar com ele. O cachorro observa-nos sempre e nós devemos utilizar esta sua cu- riosidade para ¦¦falar¦¦ com ele, mas a nossa linguagem deve inicialmente ser feita de ¦¦monossílabos huma- nos¦,, acompanhados de atitudes o mais ¦¦caninas¦, possíveis, para lhe dar a possibilidade de compreender. Por exemplo, se desejamos ralhar-lhe por uma pequena asneira (e fará muitas desde os primeiros instantes da sua chegada) é inútil gritar, não compreenderia, mas uma ¦¦rosna- dela¦,, acompanhada por uma enér- gica sacudidela, agarrando-o pelo garrote, como fazia a sua mãe, é mui- to mais eficaz do que um ,¦não!,¦ que jamais seria compreendido. Depois da sacudidela será lançado o ¦¦não!,¦, até que lhe bastará este último para o convencer a interromper a acção que não nos agrada. Apenas nesta altura poderemos in- tervir com uma pequena sapatada, nunca violenta, se ele insistir na acção: na fase anterior teria sido violência gratuita, porque lhe era desconhecido o significado do ¦¦não!¦¦, e um chefe de matilha digno de respeito nunca é vio- lento ou agressivo por acaso. Bate-se no cachorro com mera in- tençäo intimidatória e demonstrativa, e apenas se ele procurar morder ou re- voltar-se: coisa que sucederá pontual- mente porque até poucos dias antes estava habituado a tratar com os ir- mäos, com os quais as rixas e as mor- didelas eram um facto mais que normal. Se tiver tido um imprinting cor- recto tratar-nos-á com circunspec- ção e deveremos ensinar-lhe que somos nós ¦¦o chefe¦¦. Educação Muitas vezes quem compra um Husky, informado do seu carácter um pouco especial, resigna-se logo à par- tida a ter um cão desobediente, fac- to absolutamente errado. Um Hus- ky Siberiano é facílimo de ensinar e está desejoso de obedecer, se for- mos capazes de o ensinar. Devemos enfrentar esse trabalho com muita disponibilidade e paciência, mas os resultados compensar-nos-ão am- plamente do esforço. Em primeiro lugar o cão deve começar a responder à chamada: sem chamada está sem- pre em perigo e pode tornar-se pe- rigoso para os outros (um siberiano nunca morderá o homem, mas poderá fazer cair uma criança, uma pessoa idosa ou provocar incidentes na rua). A chamada é sempre composta por duas palavras: nome próprio (o mais claro possível) acompanhado de um ¦¦vem aqui¦¦, ou semelhante. · Inicialmente trabalhe em casa com o cachorro solto. Chame-o quando vir que já tem intenção de se aproximar de si, quando o ti- ver alcançado demonstre-lhe a sua satisfação: um pequeno prémio, um croquetezinho ou um biscoitinho será ainda mais eficaz (a obe- diência do Husky passa através da gula). · Quando tiver a impressão de que o cachorro já compreendeu aquilo que deseja dele, saia de casa, ou do jardim, e caminhe para um lu- gar seguro, vedado e privado de distracçöes. Ate à coleira, de couro ou de tela, uma corda comprida e deixe-o brincar, e então chame-o. Se vier ter consigo faça-lhe muitas festas e recompense-o, se não vier, puxe-o para si com muita delicade- za, mas firmemente: não demons- tre sentimentos de ira ou de impa- ciência, e mal o alcance cubra-o de elogios. Desta maneira pensará que ¦¦forças divinas o ajudam¦¦. · Na terceira parte do programa li- berte o cachorro, sempre num local seguro, vedado e privado de dis- tracções. Agora deve ter compreen- dido aquilo que espera dele, se desobedecer deverá recomeçar a trabalhar com a trela ou a corda comprida. Importante: se o cachorro não vier, não o siga, mas dirija-se na direcção oposta, quase de certeza que se as- sustará e correrá a procurá-lo: elogie- -o muito como se tivesse obedecido. E nunca o castigue, mesmo quando chega com muito atraso, ou associará a puniçäo não ao atraso da sua res- posta, mas sim à sua acção, e pen- sará que o chamou para o castigar: provavelmente na vez seguinte não o ouvirá de facto. ¦¦Não¦¦: uma ordem precisa Desde os primeiros dias em que o cachorro vive connosco aprende o sig- nificado desta palavra: devemos con- seguir que deixe de fazer aquilo que está a fazer, especialmente se estiver- mos longe e não o podemos alcançar com uma sapatada. Um bom sistema é distraí-lo, entre- tendo-o com qualquer outra coisa; isso consegue-se fazendo barulho: uma caixinha ou uma lata cheia de peque- nas pedras serão suficientes para con- seguir que interrompa a acção e que se vire para nós. Nesta altura intervi- mos com o chamamento seguido da recompensa. ¦¦Para a cama¦¦, uma ordem muito útil A ordem ¦¦para a cama¦¦ está a in- dicar um local do agrado do cäo, para o qual se retira, mesmo quando orde- nado, e no qual fica sossegado, facto muito útil se a sua presença cria al- gum problema momentäneo. · Devemos pôr sempre no lugar que lhe agrada um tapetinho, um trapo, e se estivermos no exterior, uma ca- sota confortável onde devemos dei- xar os seus brinquedos e a comida. · Fixemos uma corrente de cerca de um metro à parede. · A ordem deve ser dada apenas quando o cachorro já estiver muito sossegado: considerará natural ir dormir. Devemos atá-lo à corrente e mostrar-nos muito delicados e afec- tuosos para com ele; desta maneira ligará a ordem a um determinado momento do dia ou a uma situação especial e näo a uma punição. · Se nos mostrar que não lhe agrada o facto de estar preso, não devemos ceder. mas sim ficar junto dele, mimando-o até que se acalme. · O tempo de permanência obri- gatória na casota deve ser aumen- tado gradualmente e quando o ca- chorro para lá for espontaneamente já não será necessário prendê-lo. Não fazer chichi Um cachorro geralmente não faz as necessidades no local onde dorme, por isso é boa norma, quando acorda, levantá-lo em peso e levá-lo para o local por nós escolhido para tal. Mal tenha feito as suas necessidades, poderemos cumprimentá-lo e recom- pensá-lo. Faremos o mesmo depois de cada refeição, depois de ter bebido e depois de ter brincado ou corrido du- rante muito tempo. Quando o cachorro tiver compreendido que naquele local é permitido fazer as necessidades, de- veremos ensiná-lo a não o fazer nos locais proibidos. Se isso acontecer de- veremos mostrar-lhe pela voz e com gestos (nunca com pancada), ou com um barulho (um jornal dobrado), o nos- so profundo desgosto e desaponta- mento, levando-o imediatamente para o local indicado para tal. Porém o mé- todo certamente mais prático e apli- cavel desde os primeiros dias da chegada do cachorro ao apartamento é aquele definido por ¦¦confinamento¦¦, que se baseia também no instinto do cachorro em não fazer as necessi- dades na casota. É necessário porém haver um local adequado: cobriremos o pavimento com jornais, excluindo o ponto onde é posta a casota; o ca- chorro logicamente fará aí as suas necessidades; progressivamente re- duziremos o espaço coberto e o ca- chorro começará a ir procurar os jor nais para o fazer. Por vezes torna- -se muito difícil ensinar o cachorro a fazer as necessidades fora do seu ter- ritório, por exemplo, no jardim, se se mora na cidade, pois ele reconhece os locais já ¦¦assinalados¦¦ pelos outros cäes: cabe-nos fazer-lhe compreender como ficámos alegres e felizes por aquilo que fez. Proibidos os saltos em cima da cama ou do divã Todos os cäes desejam ocupar os lugares utilizados pelo companheiro- -homem com quem vivem, mas é na- turalmente útil ensiná-lo que não o pode fazer sobre todos os divãs. Por exemplo, os meus cães fazem-no ape- nas sobre um dado divã, para os ou- tros apenas saltam se os convido a isso. Isto é facilmente conseguido com o sistema de recompensa após uma ordem cumprida. Se o cachorro sobe para o divã, e nós não queremos que isso aconteça, começamos por proibir todos os membros da família que lho permitam; um seco não, fora!, obrigan- do o cachorro a descer e indicando- -lhe o seu lugar, será suficiente. Quan- do tiver descido e se tiver sentado no local por nós indicado (se estivermos na nossa casa será sempre o mes- mo) seremos pródigos em carícias. Da mesma maneira, poderemos ensi- nar-lhe que pode subir sozinho, se houver uma cobertura no divã. Condução à trela Este exercício é indispensável quer para o cão que vive na cidade quer para aqule que tem à sua disposiçäo um amplo jardim, para o cão apenas de companhia e para o de exposição. Um Husky que passeia na cidade não pode puxar o dono como se se tratas- -se de um trenó; num ringue deve caminhar de maneira correcta sem perturbar os outros cães. Deve se- guir-nos docilmente, sem puxar, sem brincar com a trela, sem atravessar a rua ou vir meter-se entre os nossos pés. Para o conseguir são indispen- sáveis a habitual coleira, não de es- trangulamento, e uma trela macia de couro, com cerca de dois metros de comprimento (mais curto não seria útil, de nylon ou de corrente, ferir-nos- -ia as mãos) e pode começar-se o treino, que é feito num local tranquilo e bem conhecido do cão para evitar que se distraia ou assuste. Leve o ca- chorro à sua esquerda, afrouxe a trela e afaste-se: ele segui-lo-á; se não se mover chame-o com delicadeza até que o faça. Se pelo contrário recusa a trela, se rebela, puxa e chora não faça absolu- tamente nada, mais tarde ou mais ce- do acalmar-se-á, e só então deverá começar a chamá-lo com delicadeza. Quando ele tiver compreendido que a trela não é um instrumento de tortu- ra, leve-o para um lugar que ele goste, fora de casa, com maiores possibili- dades de distracçäo e com barulhos: ele deverá sempre e apenas segui-lo. Superado o medo e o incómodo es- tará pronto a aprender a ser guiado: não é indispensável que um Husky caminhe como um Pastor Alemão em competição, basta que não fique para trás e näo atravesse a estrada. Se ficar para trás deve chamá-lo e incitá-lo à brincadeira; bata com uma mão na perna; quando o tiver alcança- do detê-lo-á com a mão diante do fo- cinho, premiando-o. Se pelo contrário, o ultrapassar de- verá actuar imediatamente: um rápido front-sinist é adequado para o caso. Na realidade durante este movimento muito provavelmente chocará com ele, dando-lhe talvez uma palmada; o ca- chorro interpretará esta acção como um incidente e não como uma pu- nição. Depois de duas ou três vezes começará a lição. Se for atravessar a rua, segure-lhe a trela de forma a tor- nar-lhe difícil tal manobra. O cão adulto Por adulto entende-se um indivíduo que tenha completado o crescimento físico e psíquico. O Husky Siberiano é um cão que amadurece fisicamente tarde, por volta dos três anos, mas em termos psíquicos está seguramente maduro antes de muitas outras raças. Isso deve-se à sua instintiva necessi- dade de sobreviver em condições cli- matéricas duras, e à vida em matilha, na qual é indispensável desenvenci- lhar-se e, para dominar, ser mais firme do que os outros. Por isso se é muito fácil conviver com um Husky que se tornou adulto connosco, não o é tanto com um comprado ou adoptado de- pois de adulto. Se o cão já viveu em família, poderá ter ganho vícios, pois quem está disposto a dá-lo depois de adulto possivelmente não terá tido tempo para o educar. Um Husky não é ¦¦fiel até à morte¦¦ e adapta-se depres- sa à sua nova família, à qual, porém procura impor as suas próprias regras. Se sempre viveu num recinto fecha- do ou num canil, viverá a sua nova condição de filho único, muito amado, com muita alegria, e estará disposto a ouvir-nos se tivermos a vontade e a capacidade de nos dedicarmos a ele durante uma grande parte do dia. Conseguiremos também bons resulta- dos, mas certamente inferiores aos de um cachorro que cresceu connosco e que foi educado por nós. Muitos cria- dores ou musheradquirem indivíduos adultos. Mas as finalidades são bem diferentes: se um criador adquire um adulto fá-lo por exigências precisas da criaçäo e se se tratar de um cão de exposição, certamente terá sido adquirido a um outro colega importan- te e chega na maior parte das vezes já preparado para essa actividade. O Husky adquirido pelo musheré certamente um valioso cão de trenó, mas muito dificilmente um cão urbano, se o musher é apenas musher não corresponderá ao modelo do criador que faz trabalhar os seus cães, cui- dando também do seu carácter, para que estes possam viver com o homem em diferentes situações. O enorme interesse que suscita a raça, pode levar a comprar um Husky Siberiano sem avaliar plenamente os problemas que iremos encontrar, quer por escassa preparação cinotécni- ca, quer porque criadores menos es- crupulosos venderam um cachorro minimizando as dificuldades reais. Recordemos, portanto que, se é pro- blemático adoptar um Husky Siberiano adulto, que apenas deverá ser acolhi- do por uma pessoa preparada e apta a enfrentar e a resolver todas as ques- tões que se lhe deparam, nada é mais triste para um pobre cão do que pas- sar de uma casa para outra! ALIMENTAÇÃO ' Como todos os animais também os cães tém necessidade de uma perma- nente vigilância nutritiva e de serem alimentados correctamente. A mastigação é muito ligeira e a deglutição é bastante rápida. O ali- mento, especialmente o sólido, per- manece no estõmago durante muito tempo (3-12 horas) e é transformado em papa antes de passar ao intestino onde se dá a assimilação. As substân- cias nutritivas são transportadas aos vários tecidos através do sangue. Pe- las suas características anatómicas, o aparelho digestivo do cão permite a in- gestão de refeições abundantes e a existência de intervalos prolongados entre uma refeição e outra, porquanto o esvaziamento do estômago se pro- cessa lentamente. É preferível dar-lhe a comida em bocados grandes do que triturada. Os cães são animais carnívoros, mas um longo processo de adaptação e de convivência com o homem levou- -o a consumir também outros produtos de origem não animal; tém portanto necessidade de uma dieta bastante concentrada, com elevado teor nutriti- vo, mas variável de raça para raça e consoante o estado fisiológico (manu- tenção, crescimento, reprodução, lac- tação) e o clima. Para obter os melhores resultados devemos alimentar os nossos cães de forma a dar-lhes as quantidades ade- quadas dos principais nutrientes: pro- teínas, carbohidratos e gorduras, para além de vitaminas e minerais. A dieta deve ser bem equilibrada, os vários nutrientes devem por isso encontrar- -se na proporção adequada, de forma a não serem nem em excesso nem em falta. É indispensável uma alimen- taçäo óptima para manter o cäo em boas condições de saúde, não de- masiado gordo nem magro, e com um belo pêlo; este aspecto é ainda mais importante na fase de crescimento do cachorro, que requer especial atenção e cuidado. Para alimentarmos bem os nossos cães é necessário conhecer o significado biológico dos vários nu- trientes e as possíveis fontes para a sua obtenção. Frequëncia das refeições diárias Meses 1-3 4-7 8-18 18 Refeições 4 3 2 1 As fémeas no segundo mës de gravidez e no período de aleitamento farão 2-3 refeições. A energia Mesmo nos momentos de repouso o corpo tem necessidade de energia. Os nutrientes säo transportados para as várias células do organismo onde, em contacto com o oxigénio, são trans- formados em energia. Durante este processo de transformação é também produzido calor, o qual permite ao cão manter a sua temperatura. Quanto maior for a actividade do animal, tan- to maior deve ser a quantidade de ali- mento para transformar em energia. Os cachorros têm quase o triplo das exigências em comparação com o adulto. O valor energético de um ali- mento é geralmente expresso em energia metabolizante (E.M.), e medi- do em quilocalorias (Kcal) ou em Mega Joules (Mj). As gorduras däo uma con- tribuição energética que é cerca do do- bro da dos açúcares e das proteínas. Um excesso de energia é em geral eliminado sob a forma de depósitos de gordura. É portanto útil pesar os nos- sos cães em períodos regulares e ano- tar o peso para verificar um estado de gordura normal. Os princípios alimentares Os açúcares (carbohidratos ou glúcidos): são fonte de energia ne- cessária ao trabalho muscular e às várias actividades do corpo. Alguns têm uma estrutura simples (frutose, lactose, etc.). Outros, como o amido têm uma estrutura mais complexa. Quer no adulto quer no cachorro um excesso de sacarose pode näo ser bem tolerado e provocar diarreia por causa da escassa presença no intesti- no do cão do enzima específico (saca- rase); de igual forma o cão adulto pode digerir mal o leite por falta da lactose. O amido é o carbohidrato mais im- portante e encontramo-lo abundante- mente em cereais como o trigo (päo), milho (papa de farinha, flocos, etc.), arroz, etc. O amido para ser digerido pelo cão deve ser bem cozido ou ser submetido a outros tratamentos. A celulose, a hemicelulose e as fi- bras cruas em geral, contidas em muitos vegetais, não são digeridas pe- los cães, portanto quanto mais eleva- do for o seu conteúdo, menor é o valor energético. No entanto, a presença de um pouco de fibra na dieta, especial- mente nos indivíduos idosos ou se- dentários pode ser útil para não os O cao gordo Observe os depósitos de gordura no garrote, sob a garupa e nas coste- las, para verificar se o seu cão está gordo. Pese-o regularmente e anote o peso. Ponha absolutamente de parte aparas e restos de cozinha. Resista ao olhar suplicante. Alimente-o com dietas especiais hipoenergéticas, mas bem equili- bradas e com o nível adequado de proteínas e de integração vitamínìco- -mineral. Dê-lhe refeìções húmidas e com a quantidade necessária de fibras. Deixe-lhe alguns ossos para roer. Certifique-se de que näo existem patologias devidas a disfunções hor- monais e metabólicas. Faça-o movimentar-se mais. deixar engordar e para manter um fun- cionamento intestinal regular. As gorduras ou lípidos: são es- senciais ao organismo, como consti- tuintes das células. Fornecem energia ao corpo e também calor. As que es- tão presentes no organismo como depósitos de gordura (subcutânea, perivisceral, intramuscular) funcionam como uma reserva energética a que o organismo recorre quando a con- tribuição alimentar é insuficiente e além disso actuam como isolante tér- mico. Alguns compostos lipídicos de- senvolvem importantes funções como constituentes celulares (fosfolípidos, glicolípidos) e bio-reguladores (coles- terol, hormonas, vitaminas liposso- lúveis, ácidos biliares). Estão presentes em todos os ali- mentos e podemos distinguir as de ori- gem vegetal (azeite) ou as de origem animal (banha, toucinho, etc.). A sua presença na dieta é indispensável. As proteínas: são alimentos mol- dáveis que intervêm na construção do organismo e servem para a formação de novas células. Têm portanto uma função essencial na formação, na ma- nutenção e na reparação dos múscu- los, dos ossos, e dos orgãos internos. A sua necessidade é particularmente elevada no cachorro e durante a fase de crescimento. Podem ser de origem animal, como as que se encontram na carne, no leite, no peixe, e nos ovos, ou de ori- gem vegetal, como as da soja, da ervilha, dos feijões, etc. O valor biológico das proteínas e a sua utilizaçäo depende da relação en- tre os vários aminoácidos. Como não existe a possibilidade de armazenar os aminoácidos, estes devem ser for- necidos com a dieta proteica diária. Os sais minerais: em função da quantidade presente no organismo di- videm-se em macroelementos (cálcio, fósforo, enxofre, sódio, cloro, potássio, magnésio) e microelementos (ferro, cobre, zinco, manganês, iodo, selénio, cobalto, mobileno). São constituintes essenciais dos tecidos do organismo e têm função quer modeladora quer bio-reguladora, participando em muitos processos bio- químicos e desenvolvendo funções de importäncia vital tais como a ma- nutenção da pressão osmótica e do equilíbrio ácido-básico dos líquidos do corpo, a contracção muscular, a trans- missão nervosa, a constituiçäo de al- guns enzimas e hormonas. Tomam parte na formação do es- queleto e são muito importantes para o animal em crescimento. Encontram-se na farinha de ossos, no leite, no queijo, no peixe, na carne e em muitos vegetais. Na alimentação dos cães é indispensável integrar a dieta com a ajuda dos sais minerais, e é importante manter uma correcta re- lação entre alguns deles: cálcio-fós- foro, ferro-cobre, etc. As vitaminas: dividem-se em lipos- solúveis (A, D, E, K) e hidrossolúveis (B1, B2, ácido pantoténico, ácido nicotínico, B6, ácido fólico, H, 812, colina, C); actuam em muito peque- na quantidade intervindo em muitos processos orgânicos básicos. A falta de uma ou mais vitaminas pode levar a graves desequilíbrios e disfunções. O excesso de algumas vitaminas é também prejudicial e pode provocar problemas sérios. São geralmente produzidas pelos organismos vegetais e encontram-se no fígado, nos ovos, nos rebentos dos cereais, na levedura, nos óleos vege- tais e animais. Podem ser facilmente destruídas pela luz e pelo calor, por is- so säo sempre acrescentadas à ração quando esta tem uma temperatura tépida. É necessário além disso tomar cuidado com o facto de os alimentos prontos muitas vezes já trazerem as vitaminas (consultar a composição): a sua acumulação poderia levar a um excesso prejudicial. Os alimentos Carne: pode ser de bovino, de ga- linha, de peru ou outra. Pode dar-se crua ou cozida, conforme a qualidade. A de suíno deve ser sempre cozida. O conteúdo proteico e energético varia consideravelmente conforme a per- centagem de ossos e de gordura pre- sentes. A digestibilidade e o valor biológico são tanto maiores quanto maior a proporção de músculo e, pelo contrário, diminuem quando há uma percentagem elevada de tendões, car- tilagens e colagénios em geral. A carne é cozida Crua é melhor digerida, mas se não é fresca e de boa qualidade é preferível cozê-la. Em qualquer caso deve ser pouco cozida. A de suíno de- verá ser sempre cozida para evitar o perigo de infecções (doença de Aug- jeschy) e infestações (triquìnoses). Os cães conseguem digerir carne mesmo quando em putrefacção, graças ao elevado nível de sucos gástricos. Fressura: é constituída por vís- ceras: coração fígado, tripa, baço, etc. É em geral muito apreciada pelos cães embora tenha um conteúdo proteico inferior ao dos músculos. É óptimo ali- mento especialmente para os cachor- ros e cães em crescimento. É bom que seja servida após breve cozedura. Peixe: é mais apreciado quando cozido. É uma óptima fonte de pro- teínas facilmente digeríveis e de alto valor biológico. É também rico em sais minerais e vitaminas. Recomenda-se para cães em crescimento. Podem ser servidos mesmo peixes secos, espe- cialmente durante o Inverno. Ovos: são um óptimo alimento, ri- co em proteínas de elevado valor bio- lógico, em gorduras e em vitaminas. Säo particularmente indicados para os cachorros, os reprodutores e cadelas a amamentar. Podem substituir par- cialmente a carne e o peixe. Podem ser servidos crus. Leite: é um óptimo alimento que traz proteínas de elevado valor bioló- gico, gorduras, vitaminas e minerais. É um dos principais alimentos do ca- chorro. Alguns indivíduos adultos não o digerem bem por falta de lactose (enzima específico). Toucinho, gorduras e óleos vege- tais: óptimas fontes calóricas, muito apetecidas pelos cães que têm ten- dência a comer mais do que o neces- sário. São particularmente úteis para os cães que trabalham e fazem es- forços físicos e em certa quantidade são indispensáveis. É aconselhável acrescentar à ração um pouco de azeite ou de óleo de sementes. Arroz e massa: estão entre as principais fontes energéticas por se- rem ricos em amido. Para serem di- geridos devem ser bem cozidos. Pão seco: é uma óptima fonte energética, geralmente apreciada pe- Os ossos Os cães gostam muito especial- mente daqueles que podem roer bem como o joelho. Mas é preciso tomar cuidado porque, especiaimente nos cães veihos e sedentários, podem provocar obstipação ou então oclusão intestinal. As lascas de osso podem provocar perfuração do intestino. Deve-se evitar especialmente os os- sos de galinha e de coelho. lo cão. Deve ser bem seco e deixado ao ar. Não deve estar bolorento, por- que poderia ser prejudicial. Flocos de cereais e arroz tufado: são óptimas fontes energéticas que podem substituir o arroz, a massa e o pão. Devem ser submetidos a um tratamento prévio adequado, para serem bem digeridos pelo cão. São alimentos volumosos, portanto na ra- ção deve ter-se em conta o seu peso e não o seu volume. Verdura e fruta: dão uma con- tribuição nutritiva geralmente escassa, mas o seu conteúdo em fibra crua pode ser útil para os cães sedentá- rios que tenham tendência para a obesidade ou sofram de obstipação. Podem ser substituídas por algumas colheres de farelo. Água: deve estar sempre à dis- posiçäo do seu cão. Alimentos já prontos O leitor encontrará no comércio uma vasta gama de produtos ali- mentares, mas é importante aprender a conhecer os diferentes tipos para os poder utilizar da melhor maneira. Uma cuidada leitura da composi- çäo presente na maior parte das con- fecçöes de alimentos poderá dar-nos úteis indicações. Poderemos de facto referir três ti- pos diferentes: Alimentos simples: diferentes pro- dutos de origem animal ou vegetal (por exemplo, arroz tufado). Alimentos completos: compostos por mais produtos aptos a satisfa- zerem as exigências nutritivas do cão sem ser necessário juntar outros ali- mentos ou integradores. Alimentos complementares: mis- turas que apresentam elevados con- teúdos de algumas substâncias (por exemplo, proteínas, minerais, etc.) mas que devem ser associados a outros alimentos para satisfazer as exigências nutritivas do cão. A qualidade de um alimento de- pende das matérias-primas empre- gues, da sua composição, dos trata- mentos a que é submetido e da forma sob a qual se apresenta (em flocos, descascado, expandido, tufado, bis- coito, etc.), bem como da conser- vaçäo. Na embalagem estão indica- Doces e chocolate Os cães são gulosos e é difícil comer um chocolatinho sem ter que lhes dar um pedacinho. Mas não se deve abusar porque muitas vezes näo são bem digeridos e podem provocar distúrbios gástri- cos. Existem no comércio biscoitos próprios para cäes dos quais também não é necessário abusar. Atenção aos excessos nutritivos Existem no mercado diversos pro- dutos estudados especificamente para serem apreciados pelos cäes, mas é necessárìo evitar os possíveis excessos que têm repercussões ne- gativas na saúde. Não é necessário dar demasia- das proteínas, demasiadas gorduras, demasiadas vitaminas ao cão. Deve ter-se em conta a acumulação de substäncias contidas nos vários ali- mentos, em particular de vitaminas e minerais. Aprenda a ler as embalagens. das a data da fabricação e de vali- dade, as instruções de utilização e os ingredientes, que devem ser men- cionados em ordem decrescente de quantidade ou de percentagem. De- vem além disso ser mencionados os dados analíticos que nos informam Gianerin's Kiwak, propriedade de V Rossi: um Husky Siberiano é um cão activo que necessita de uma alimentação sã e bem equilibrada. Eventuais carências ou exces- sos alimentares podem repercutir-se nega- tivamente no aspecto do pêlo (foto Pancaldi). sobre a composição dos principais nutrientes (água, proteína bruta, gor- duras virgens, celulose natural, cin- zas). É também indicada a proporção de vitaminas e minerais por cada qui- lo de alimento. Os alimentos já prontos permitem uma formulação de uma dieta em função das necessidades reais do cão, com uma composição de proteí- nas e energia, com uma integração vitamínica e mineral completa e equi- librada, como acontece muitas ve- zes na preparação doméstica das rações. O conteúdo analítico de um bom alimento composto e completo para cäes adultos deve ter as seguintes características: - humidade máxima 13o/o; - proteínas naturais 22-25%; - lípidos naturais 4-8%. O menu Damos agora alguns exemplos de menus. As doses variam conforme a activi- dade do cão, que pode ser ¦¦activo¦¦ ou de ¦¦casa¦¦. Os eventuais restos de co- mida não devem entrar na sua dieta. Exemplos de menus Carne fresca de vitela, de galinha ou de peru Pão seco ou biscoito Um pouco de azeite Caldo morno Suplemento vitamínico e mineral Carne congelada Arroz ou massa bem cozidos Verduras mistas Um pouco de azeite Suplemento vitamínico e mineral Carne congelada Flocos de cereais mistos ou arroz tufado Uma colherada de farelo Água morna O suplemento já está geralmente presente Alimento completo em croquetes, ou em pedaços Administrar conforme as instru- ções da embalagem Alimento completo em flocos, a en- sopar em água morna, caldo ou leite Administrar conforme as instru- ções da embalagem Como alimentar o cachorro Por volta do 25ó dia de idade pode começar-se a complementar a alimen- tação materna com algumas refeições constituídas por leite mais uma gema de ovo por cada 100 ml. Depois do 30á dias inicia-se o verdadeiro desmame, com uma alimentaçäo mais enxuta. Um desmame precoce poupa a mãe e é particularmente útil nas ninhadas numerosas. Os cachorros são separa- dos durante períodos progressiva- mente mais longos da mãe e entre os 45 e os 55 dias devem estar completa- mente desmamados e alimentados apenas artificialmente. No início do desmame junta-se ao leite de vaca um pouco de carne pica- da ou passada finamente pela má- quina, que pode ser substituída por produtos homogeneizados. Passa-se depois a uma alimentaçäo mais sólida constituída por: - carne e/ou peixe de boa quali- dade; - arroz bem cozido e/ou flocos de cereais; - leite; - um pouco de azeite; - vitaminas e minerais. Leite, carne e peixe devem ser pre- ponderantes sobre os cereais, consi- tuindo 80o/o da raçäo aos 40 dias e Página seguinte: Kiska das Sombras Compridas. uma bonita cachorra. Pedir à mesa: É um péssimo hábito que se fica a dever ao ¦¦bom coração¦¦ do dono que de tempos a tempos lhe dá uns bo- cadinhos de comida. Nunca dë de comer ao cão quando estiver à mesa ou durante a preparação das refei- ções. Faça-o comer antes e, se ne- cessário, não o deixe assistir à sua refeição. 60o/o aos 60 dias. Progressivamente aumenta-se a quantidade de cereais em relação à carne. Esta pode ser da- da crua, se for de boa qualidade, mas é melhor escaldá-la. Uma refeição por dia pode ser cons- tituída por pão biscoitado e leite. Du- rante todo o período de crescimento, pode dar-se um gema de ovo cru, três ou quatro vezes por semana, e queijo, podendo assim substituir-se parcial- mente a carne. Ch. It. Eur, Soc. Gold Rush del Grand Ca- nyon, propriedade de Maura Bensi Allegri. Assegure-se de que o complemen- to vitamínico mineral contém níveis adequados de cálcio e de fósforo. · A água deve estar sempre acessível · Não deixar no prato o alimento que sobrou SAÚDE E HIGIENE' Quando se compra ou se recebe de presente um cão, quer seja cachorro ou adulto, o primeiro instinto é de o mimar, de lhe demonstrar de qualquer forma o nosso afecto. Mas não nos devemos esquecer de que, ao mesmo tempo, nos tornamos responsáveis pelo seu estado de saúde. As doenças são múltiplas, e por is- so arriscamo-nos a cair na tentação de substituir o veterinário de forma empírica, apressada e sobretudo er- rada. É bom que o veterinário seja o profissional de referëncia, tal como ca- da família tem o seu médico de con- fiança. O veterinário poderá seguir o cão ao longo do tempo de vida providen- ciando as vacinas oportunas e inter- vindo em caso de doença. A relação de confiança com o médico será fun- damental para poder sempre efectuar diagnósticos correctos e aplicar te- rapias adequadas. Na sua ausën- cia, em caso de urgências extremas, poderá dirigir-se ao pronto-socorro, apto a intervir mesmo à noite. Presentemente existem também entre os veterinários, para além dos generalistas, especialistas, oficial- mente reconhecidos, que praticam clínica de animais de estimação. AI- guns deles são pois especialistas em áreas específicas como cardiologia, oftalmologia, traumatologia, homeopa- tia, oncologia e outras. É porém acon- selhável que seja o veterinário a indicar o especialista que se deve con- sultar, caso a caso. De qualquer modo será vocë a pas- sar a maior parte do tempo com o no- vo amigo de quatro patas e por isso observe-o com atenção nos momen- tos principais do dia: a alimentação, os passeios, a brincadeira, o sono. Deve procurar captar aquelas pe- quenas variações comportamentais que servirão de alerta e o faräo sus- peitar de alguma forma de mal-estar. O cão em certos aspectos pode ser considerado como um recém-nascido que não tem possibilidade de expri- 0 cão saudável 0 que observar Como deve ser Comportamento atento vivo equilibrado Apetite constante equilibrado vigoroso Movimento coordenado fiuido, ágil Sono regular não excessivo ' Da responsabilidade do Prof. Luigi Guidobono Cavalchini e da Dra Carla Cristofala. 111 mir as suas sensações verbalmente mas apenas através de comporta- mentos específicos e vocalizações especiais. Vejamos agora a que sin- tomas gerais se deve prestar atenção e, se prolongados, deverá consultar o veterinário. Apesar de ser um erro pensar que se conhece todos os sintomas e as doenças do cäo e crer que se pode tratá-la sozinho, é no entanto impor- tante saber quando é que a situação requer uma intervenção rápida do ve- terinário. Alguns sintomas são de fac- to sinais de patologias graves. Alguns parâmetros fisiológicos de referência podem ser-lhe úteis para avaliar o estado de saúde do cão, que, no entanto, recordamo-lo, deve ser observado quando em repouso. De facto o esforço físico e a brincadeira podem fazer acelerar a respiração e as pulsações cardíacas, bem como elevar a temperatura, sem que isto seja patológico. As doenças do cão O cão pode sofrer de doenças va- riadas, muitas das quais, mas näo todas, são de origem especificamente infecciosa. Doenças orgãnicas São aquelas que atacam um órgão específico ou uma parte dele: säo de etiologia diversa e tëm uma evolução que não é sempre igual; nem sempre são contagiosas; o seu desapareci- mento depende directamente da gravi- dade dos sintomas. Sintomas de doença grave · Respiraçäo e ritmo cardíaco lentos, acelerados, arrítmicos, superficiais · Temperatura do corpo baixa (hipotermia), alta (febre) · Melena (presença de sangue nas fezes) ·Hematúria (presença de sangue na urina) · Hematemese (vómito hemorrágico) · Rinirragia (deitar sangue do nariz) Sintomas gerais de mal-estar · Indolência · Abatimento · Recusa de brincar · Falta de apetite (anorexia) · Vómitos e/ou diarreia persistentes · Corrimento. nasal e conjuntival · Sede e/ou fome injustificadas · Emagrecimento evidente · Pêlo sem brilho Doenças infecciosas De origem viral e bacteriana; ata- cam geralmente vários órgãos, säo contagiosas e muitas vezes mortais; a cura depende da gravidade dos sin- tomas e da resposta imunitária do cäo; podem ser prevenidas com as vacinas. Esgana: atinge os cães de todas as idades: existe um período de incuba- çäo de cerca de 3-7 dias. O cão afec- tado pode apresentar secreções ocu- lares e nasais purulentas, conjuntivite acompanhada de fotofobia, tosse e complicações pulmonares (podendo mesmo chegar a sofrer de bronco- pneumonia), gastroenterite, tempera- 112 PARÃMETROS FISIOLÓGICOS DE REFERÉNCIA Parãmetros Cachorro Adulto Temperatura do corpo 38-39 oC 37,5-38,5 oC Frequência respiratória (por minuto)(*) 20-22 14-20 Pulsações cardíacas (por minuto) 100-130 60-120 (*) Com temperatura externa elevada a frequência aumenta turas muito elevadas (41 oC) na pri- meira fase da doença, temperatura quase normal durante a fase nervosa, danos irreversíveis no sistema ner- voso (paralisia dos membros poste- riores e tiques nervosos). A doença é frequentemente mortal. Hepatite infecciosa viral: atinge cães de todas as idades, e tem um período de incubação de 3 a 9 dias; dá-se um aumento da temperatura na primeira fase da doença; conjuntivite serosa e iridociclite; tonsilite; surgem pequeníssimas hemorragias na zona abdominal; dores abdominais; opaci- dade córnea 1-3 semanas após o iní- cio da doença. Herpes viral.' atinge também os re- cém-nascidos, de forma quase sempre fatal. No cachorro podem surgir mani- festações como diarreia, vómitos, tra- queíte e sintomatologia nervosa; no cão adulto o sintoma mais frequente é a laringotraqueo-bronquite acompanha- da de rinite; existe também o herpes ge- nital que pode afectar ambos os sexos. Como medir A temperatura Muitos proprietários podem sus- peitar de um aumento de temperatura observando o nariz (extremidade do nariz): se não está húmido e fresco pensam que o cão está com febre. Isto nem sempre é verdade. De qualquer forma é melhor tirar a temperatura rec- tal utilizando um termómetro vete- rinário ou pediátrico, lubrificado com óleo ou vaselina. Levantar a cauda e agarrando sempre o cão introduzir o termómetro delicadamente (2-3 cm) e esperar cerca de 3 minutos. As pulsações cardíacas Pode-se encostar directamente o ouvido no tórax e ouvir a batida cardía- ca. Ou então podem medir-se as pul- saçöes da artéria femoral, apertando com o polegar a face externa da coxa e ao mesmo tempo com o indicador e o médio a parte interna. A artéria ficará assim delicadamente comprimida e poderá perceber-se o pulso. A frequëncia respiratória Observa-se o tórax calculando o número de movimentos respiratórios por minuto, avaliando também o ritmo e a amplitude. 113 EXEMPLOS DE DOENÇAS ORGÃNICAS Doença Órgão atacado Doença Órgão atacado Otite Ouvidos Astite Vesícula Estomatìte Boca Prostatite Próstata Bronquite Brônquios Miosite Músculos Endometrite Útero Nevrite Nervos Nefrite Rins PRINCIPAIS DOENÇAS INFECCIOSAS Doença Etiologia Transmissão Profilaxia Esgana Vírus paramixo + Directa-indirecta Vacinação + bactérias muito contagiosa Hepatite Vírus adeno Contacto directo Vacinação infecciosa viral contagiosa Herpes Vírus da herpes Intra-uterína Vacinação contacto directo Parvovirose Vírus parvo Muito contagiosa Vacinaçäo muito resistente Tosse dos canis Vírus adeno Muito contagiosa Vacinação Raiva Vírus da raiva Contacto por Vacinação mordedura Leptospirose Leptospira (várias) Contágio oral Vacinação Parvovirose: gastroenterite hemor- rágica, vómitos, desidratação e perda de peso, abatimento geral, hipotermia, leucopenia. Existe uma forma cardíaca que nos cachorros é geralmente fatal. Tosse dos canis: laringo-tráqueo- -bronquite de evoluçäo benigna com tosse; propaga-se rapidamente nos canis e nos pensionatos com elevada concentraçäo de cães. 114 Raiva: transmitida através de mor- dedura infectada de um animal doente, ataca mamíferos selvagens e domésti- cos; é afectado o sistema nervoso, com paralisia progressiva; variações do comportamento de índole variada; na forma muda, paralisia progressiva da mandíbula, cordas vocais e outros mús- culos da cabeça com consequente sali- vação abundante e afonia, incapaci- dade de deglutir sólidos e líquidos; na forma furiosa aparece uma extrema ir- requietude à qual se segue um estado hiperexcitado com abundante saliva- ção e uivos; morte por paralisia exten- sa; perigo de contágio para o homem. Leptospirose: ataca cães de todas as idades e muitas outras espécies in- cluindo o homem; o rato e a ratazana são as suas principais fontes de contá- gio; apresenta quadros suaves ou de gravidade variável: podem aparecer nefrite, conjuntivite, leve paralisia dos membros posteriores, gastrite com vó- mitos, deficiência cardiocirculatória,ic- terícia, raramente broncopneumonia; a evolução pode muitas vezes ser mortal. Doenças provocadas por infestação (parasitoses) As doenças parasitárias têm na base organismos unicelulares, como os coccídios, ou organismos mais com- plexos, como os vermes intestinais. Os parasitas convivem com o cão nu- ma situação de equilíbrio dinâmico que pode levar, em casos extremos de in- festação, à morte do animal. Atacando os tecidos e privando o cão de alimen- tos nutritivos debilitam-no muito, tor- nando-o ainda mais sensível às doen- ças infecciosas. O contacto faz-se geralmente pela absorção de ovos ou de larvas espa- lhadas no ambiente por outros cães doentes. Daí ser necessário um con- trolo constante do seu cão, para além de ser uma vantagem óbvia para ele, é-o também para os outros. Alguns parasitas são perigosos para o ho- mem, muitas vezes hóspede inter- médio (por exemplo, no caso da ténia equinococo). As terapias, que aqui mencionamos de maneira puramente indicativa, são aplicadas com base no parasita e no órgäo atacado. Lembre-se de seguir com atenção as prescrições do vete- rinário, porque o fármaco pode ser eventualmente prejudicial para o cäo. Micoses Säo patologias provocadas por fun- gos, bolores e mofos microscópicos; são contagiosas para o cão e para o homem, sobretudo para as crianças (tinha); uma adequada higiene am- biental e cutãnea do cão reduz os ris- cos de contágio; na maior parte dos casos são curáveis; nas formas mais comuns manifestam-se com alopécia (perda de pêlo). Doenças congénitas São aquelas que se encontram já presentes na altura do nascimento e que são determinadas, por exemplo, por causas genéticas ou por carëncias de nutrição da cadela; os órgãos ata- cados são vários; não são conta- giosas; podem ou näo ser compatíveis com a vida do cachorro. 115 SINTOMAS GERAIS DAS PARASITOSES MAIS COMUNS Parasitas Sintomas Terapia Cutâneos Dermatite superficial, der- Pós, banhos, desinfecção, matite profunda, forfora, pëlo gotas, coleiras e outros sem brilho Intestinais Emagrecimento, dìarreia, fla- Produtos vários em compri- tulência, vómíto ocasional, midos, pomadas, gotas, pêlo sem brilho xaropes Hematícia Insuficiência cardiocircu- Vária e complexa latória, anemia grave Auriculares Otìte ceruminosa complicada Gotas auriculares Doenças hereditárias São patologias causadas por genes particulares presentes nos progeni- tores e herdados pelos cachorros; po- dem manifestar-se na altura do nas- cimento ou manifestar-se mais tarde. O cão poderá seguidamente transmi- tir aos cachorros o mesmo defeito. Entre as mais conhecidas estäo a displasia da anca, as doenças dos olhos e a hemofilia. Displasia da anca: é uma patologia que afecta a articulação coxofemoral, que na forma mais grave provoca o coxear dos membros posteriores, de forma mais ou menos evidente. A causa deve procurar-se numa confor- mação defeituosa da junta articular, com consequente subluxação, usura e erosão da cartilagem. Com o correr do tempo a degeneração leva a fenó- menos de artrose deformante. Tendo embora sido especificada a origem genética não foi todavia ainda esclare- cido o mecanismo de transmissão. O estudo da hereditariedade é de facto complexo: vários genes parecem estar envolvidos (carácter poligenético) e o seu efeito pode ser agravado por condições ambientais de criação e de crescimento. O comportamento gené- tico recessivo pode mascarar a pre- sença do carácter, que pode ou não aparecer nos progenitores e depois apresentar-se nos filhos. Algumas raças parecem estar mais predis- postas do que outras. A construção anatómica, quer óssea quer muscular, em particular a amplitude dos ossos pélvicos e a sua inclinação, tem pro- vavelmente um papel importante. A displasia manifesta-se com maior facilidade nos indivíduos de rápido crescimento. O exame radiográfico da articulaçäo coxofemoral é hoje o meio universalmente aceite para identificar os indivíduos doentes e os que säo portadores de leve anomalia. A ra- diografia deve ser pedida a um vete- 116 rinário especializado, com o cão anes- tesiado, para garantir um relaxamen- to muscular adequado e assim uma posição dorsoventral correcta do indi- víduo. Emergéncias Choque O estado de choque aparece quan- do: - existe uma grave perturbação car- dio-circulatória; - se declara vasodilatação perifé- rica; - há acumulação de substâncias tó- xicas nos tecidos. Causa: Traumas fortes; hemorragias; reac- ções anafilácticas; patologias car- díacas e neurológicas; intoxicação e desidratação; choques eléctricos. Sintomas: Mucosas pálidas; grande abatimen- to; diminuição da temperatura do corpo e tremores musculares; pulso fraco e frequente; respiração superficial; perda de fezes e urina; vómitos; colapso. Como intervir: Manter o cão em local morno, tran- quilo; consultar imediatamente um veterinário, para eventuais infusões de líquido ou transfusões de plasma, administração de fármacos anticho- que, analgésicos, analépticos, oxi- génio. O cão deve ser mantido sob vigilância durante alguns dias, para nos assegurarmos de que o fenómeno foi completamente superado. Envenenamentos Podem ser acidentais ou dolosos. No caso de se aperceber de que o cão ingeriu substãncias perigosas poderá provocar o vómito administran- do meio copo de água no qual tenha sido dissolvido uma colherzinha de uma solução de sal ou estimulando o palato e o princípio da garganta. Estas manobras devem ser evitadas se o cão ingeriu ácidos ou alcalóides fortes ou ainda objectos susceptíveis de pro- vocar lesão. Como evitar os envenenamentos acidentais · Evitar que o cäo ingira champô e produtos próprios para desparasi- tação durante os tratamentos. · Evitar que o cão possa andar solto em locais onde tenham sido feitos recentes tratamentos de desin- festação e desratização. · Manter o cäo longe dos líquidos de lavagem dos radìadores dos au- tomóveis (o anticongelante é doce e apetecível). · Manter todos os remédios, as substâncias venenosas e químicas para uso doméstico fora do aicance dos cäes. · Näo colocar produtos perigosos junto aos alimentos. · Não deixar medicamentos ao al- cance dos cães, sobretudo se são cachorros. · Não deixar tigelas para a alimen- tação ou água no jardim durante tratamentos de desparasitação. · Retirar imediatamente os ani- mais mortos dos pátios e jardins. 117 ENVENENAMENTOS ACIDENTAIS OU DOLOSOS Tipos de veneno Sintomas Organofosfóricos Salivaçäo, contracções musculares de vária intensi- (para desparasitação) dade, convulsões, vómitos, dìarreia, pupila fechada (mioses),sem reacção, espasmo brônquico, edema pulmonar, etc. Estricnina Convulsões, dispneia (respiração irregular), espuma (raticida) na boca e asfixia por paralisia dos músculos inter- costais e do diafragma, morte Compostos com cianeto Perda de força muscular, respiração arfante e pro- (herbicida) funda, colapso, morte; o hálito tem cheiro a amên- doas amargas ANTU Salivaçäo profusa, vómito, edema pulmonar e disp- (potente ratícida) neia, fraqueza muscular, pulso acelerado e fraco Dicomarino Depressão, febre, hemorragias múltiplas asso- (para matar roedores) ciadas a prolongamento do tempo de coagulaçäo equimoses na superfície cutânea, anemia, pulso rápido e débil, hemorragia, dispneia, morte Glicoetileno Pulso rápido, atassia, delírio, dispneia, vómito, (anticongelante) anúria (ausëncia de urina), oligúria (pouca urina), desidratação Fármacos Variáveis consoante o produto Para evitar os envenenamentos do- losos é necessário ensinar ao próprio cão a recusar alimento oferecido por estranhos e restos abandonados pela rua. Para evitar os acidentes, serão su- ficientes algumas regras de bom senso. Picadas de insectos Muitas vezes os cäes são mordidos na cabeça por abelhas, vespas, mos- cardos, etc. As picadas, embora do- lorosas, tëm efeitos passageiros, por vezes mesmo leves. Em geral é sufi- ciente arrefecer a área com muita água e administrar anti-histamínicos por via oral. A situação pode ser mais grave quando o cão é picado na garganta, na tentativa de comer o insecto. Neste caso, a reacção de inchaço pode ser intensa e o risco de asfixia grave. Con- sultar, por isso, imediatamente um ve- terinário e, se não for possível, em ca- 118 sos extremos administrar anti-his- tamínicos por via parenteral (injec- ções). Também no caso de picadas múltiplas procurar imediatamente o veterinário que poderá intervir antes que se gere um choque anafiláctico. Mordida de vespa O focinho é a parte mais exposta, que geralmente é mordido quando o cão tenta capturar o insecto. Se o cão se encontra em bom estado de saúde pode superar o envenenamento que requer de qualquer maneira o trata- mento com o soro antivespa e a assis- tëncia veterinária. Golpe de calor Verifica-se repentinamente durante o Verão ou nas estações quentes, es- pecialmente quando o cão é deixado dentro do carro com as janelas fe- chadas. Para manter a temperatura do Gipsy e Glenda do Valle del Muto, fi- lhas de Innisfree's Long Shadow e de Kon- toki's All in good time. propriedade de Edoardo Milesi. corpo, o cão geralmente põe-se em contacto com superfícies frescas e sombrias; não podendo fazer isto au- menta a ventilação pulmonar que, no entanto, nem sempre é suficiente. Os sintomas evidentes säo o cambalear, o aumento considerável da tempera- tura rectal, pele quente e seca, pulso rápido, dispneia, colapso, morte. Em presença de tais sintomas procure baixar a temperatura do corpo e ultra- passar o estado de colapso molhando o cão com água fria, mantendo-o em repouso em local fresco e sombrio. Chamar com urgência o veterinário. Fracturas As fracturas mais frequentes são geralmente as dos membros, da colu- na vertebral e do maxilar. São nor- 119 malmente a consequência de trau- mas violentos tais como choques na estrada ou quedas de grandes al- turas. Podem afectar um ou mais os- sos e nos casos mais graves podem fazer fractura exposta. Os sintomas são coxear, com fortes dores, tume- facção, hemorragia, parésia ou para- lisia e nos casos mais graves estado de choque. Neste caso deixar o cão o mais sossegado possível, dando-lhe tempo para se recompor do susto e para se habituar à dor aguda. No ca- so de fracturas nos membros procure mexer-lhe o menos possível e, se a intervençäo do veterinário não pu- der ser imediata, imobilize proviso- riamente o membro com talas de madeira ou de cartão e ligaduras. Limpe e desinfecte sempre as feridas, depois cubra-as com gaze. Se o cão não estiver em condições de se mover deite-o no chão e transporte-o com a ajuda de uma padiola de vete- rinário, tendo o cuidado de näo forçar a coluna vertebral. Nestes casos de- ve submeter o cão a exame radioló- gico, mesmo se se tratar de traumas ligeiros e pouca sintomatologia, por- quanto fracturas leves podem ser causa de anomalias permanentes se não forem cuidadas. Conselhos de pronto-socorro Como agir com um cão traumatizado Um cão traumatizado, geralmente atropelado, está quase sempre muito amedrontado e desorientado. Por esse motivo deve aproximar-se dele com cautela para evitar que o medo aumente e o animal tente escapar, tal- vez por caminhos não acessíveis ao socorrista. Fale-lhe com voz calma e procure reconfortá-lo mais do que obrigá-lo a ficar quieto. Se, pelo con- trário, o trauma tiver sido particular- mente violento poderá entrar em estado de choque, com dores fortes por causa das fracturas e das con- tusões. Também neste caso é acon- selhável aproximar-se lentamente do animal, falando-lhe calmamente: o cão reconhecerá o timbre da sua voz e is- so reconfortá-lo-á. Não faça movimen- tos bruscos e tome cuidado porque, por causa do medo e da dor poderá estar particularmente irritável e agres- sivo. Como resposta ao seu cuidado poderá receber uma mordidela. Se considerar necessário ponha-lhe o açaime ou um laço de emergência antes de tentar levantá-lo. Procure ficar calmo porque ele certamente perceberá o seu estado de tensão o que aumentará a sua irritabilidade. Socorra-o com delicadeza para não agravar os traumas que já suportou e leve-o o mais depressa possível ao veterinário ou a um centro de pronto- -socorro. Como transportá-lo Se o cão não estiver em condições de se levantar espontaneamente e de caminhar, deverá procurar levan- tá-lo de forma o menos traumática possível: · os cães pequenos ou de tamanho médio podem ser agarrados pas- sando um braço debaixo da barriga ou do tórax; não o levante pelas pernas que podem estar partidas; 120 Innisfree's Long Shadow ¦¦Jimmy¦¦ (EUA) aos 12 meses. Innisfree é uma prestigiada criação americana: se para um criador por vezes é quase indispensável importar cães do outro lado do oceano, um privado que deseje um bom cão de exposição pode tranquilamente dirigir-se a um criador eu- ropeu, junto do qual poderá ver e eventual- mente até comprar o seu próprio Siberiano. · os cães de tamanho médio- -grande podem ser levantados pas- sando-lhes um braço diante dos membros anteriores e outro atrás do posteriores e mantendo-o en- costado ao nosso tórax; · os cães de grande porte podem ser transportados em padiolas de emergência: uma coberta, um ca- saco, um pano em que as quatro partes funcionam como pegas. Faça o menor número possível de deslocaçöes e se os membros poste- riores lhe parecem completamente pa- ralisados, suspeite de um trauma na coluna vertebral. Neste caso procure não obrigar a coluna vertebral a ängu- los de flexão perigosos para a recu- peração do funcionamento da medula espinal. Como cuidar de uma ferida Não é possível tratar especifica- mente cada uma das diversas feridas que um cão pode fazer brincando, tra- balhando, por vezes até comendo. No entanto algumas regras gerais po- derão servir de ajuda. Como primeira regra pare a hemor- ragia comprimindo a zona da ferida com um trapo ou um pano limpo; se está a ocorrer uma hemorragia inten- sa, por exemplo, nas feridas das pernas, procure bloqueá-la fazendo pressão acima do golpe. Notará ime- diatamente que o fluxo diminui. Utilize como laço hemostático um cinto, uma corda, uma gravata que apertará de 121 forma a poder alargar de vez em quando (10 minutos) e deixar circular um pouco o sangue na perna. Se pelo contrário a ferida é no abdómen ou no tórax, procure fazer pressão com uma toalha ou um pano dobrado. Na maior parte dos casos fazendo isto con- segue-se deter o sangue, mas al- gumas vezes é necessário que o veterinário suture o vaso sanguíneo rasgado, para bloquear definitiva- mente a hemorragia. Como segunda intervenção é necessário desinfectar abundante- mente a ferida e procurar tirar toda a terra e porcaria. Atenção, o cão irri- tado poderá mordê-lo; ponha-lhe o açaime antes de actuar. Sobre a feri- da assim limpa e desinfectada colo- que uma gaze provisória para impedir uma nova infecção e siga para o ve- terinário, que analisará a ferida. As feridas dos membros podem afectar também tendöes e nervos que devem ser rapidamente suturados para evitar lesões permanentes. Se a ferida for uma fractura exposta procure lavá-la com soro fisiológico e água oxigenada, cubra-a com uma gaze e parta imediatamente para o veterinário. Os tecidos lesionados são facilmente infectáveis e podem pro- vocar doenças muito difíceis de tratar (osteomielite). Lesões nos olhos, ouvidos, nariz Os olhos estão particularmente ex- postos a traumas nas raças pequenas com globo muito grande e proemi- nente (pequineses, Bulldog, etc.). As garras de gatos e de outros cäes po- dem também lesionar a córnea de maneira muito grave. Igualmente pe- rigoso é o trauma violento que faz saltar o globo ocular da órbita. Em to- dos os casos lave o olho ferido com solução fisiológica, água bórica ou se não tiver mais nada água limpa; mantenha o olho húmido, com um pa- no embebido em água, e corra para o veterinário. Tome cuidado porque as lesões nos olhos são muito dolorosas. O trauma mais frequente nas ore- lhas é a ferida com laceração e san- gramento ou o hematoma no interior do pavilhão auricular. Em ambos os casos procure deter a hemorragia comprimindo a zona afectada, talvez ligando a orelha sobre a cabeça e apli- cando gelo. Consulte o mais rapida- mente possível o veterinário. As hemorragias do nariz são certa- mente as mais inquietantes para o dono. O cão em geral sente o sangue que sai das narinas e, aborrecido, sacode-se lançando pingos encarna- dos em seu redor. A rinorragia pode ser causada por envenenamento ou por pequenos corpos estranhos que se enfiaram no nariz e lesionaram um pequeno vaso criando uma forte irri- tação que obriga o cão a sacudir-se com violência. Procure deter o sangue com gelo e vá ao veterinário. Queimaduras As queimaduras não são muito fre- quentes, pelo menos as provocadas pelo fogo, devido ao seu instinto inato de fugir dele. No entanto pode sofrer queimaduras de água a ferver que se entorne da panela que está ao lume com a carne, ou então de substâncias químicas abrasivas que involuntaria- 122 mente lhe caiam em cima. Como pri- meira intervenção lave com muita água fria, que diluirá a substância irri- tante e esfriará imediatamente a parte afectada, no caso de queimaduras de calor. Prepare pachos frios que colo- cará na parte afectada, para reduzir a vasodilatação. Cubra a queimadura e dirija-se ao veterinário, que procederá de forma a controlar o estado de cho- que que se pode gerar depois de uma queimadura extensa. Congelamento Nos nossos climas não é um fenó- meno frequente, no entanto pode veri- ficar-se nas montanhas. Geralmente são atacados os membros e as pontas das orelhas. Leve o animal para um ambiente aquecido e cubra-o de forma a fazer subir a temperatura. Massa- ge delicadamente as partes conge- ladas e procure aquecê-las com panos quentes ou botijas de água quente. Uma cor rosada da pele indicará o reinício da circulação. Sufocação Esta é uma emergência que requer uma intervenção imediata. Mantenha aberta a boca do cão, que já está a procurar retirar o objecto estranho, abaixe-lhe a língua e olhe para o fun- do da garganta; se consegue ver o ob- jecto tire-o. Para evitar que o cão lhe morda, esmague delicadamente um pedaço do lábio entre os dentes, isto evitará que possa fechar as maxilas. Se não vê nada e o cão é de tamanho pequeno, agarre-o pelos membros posteriores e sacuda-o de forma que o corpo estranho caia. Se o cão pesa muito para permitir esta operação dê-lhe pancadas precisas mas não demasiado violentas no tórax; o ar ex- pulso poderá remover o objecto que provoca a oclusão. Crises convulsivas e de excitação Geralmente a crise convulsiva as- susta o dono a primeira vez, espe- cialmente se é muito intensa. Nestas circunstãncias, procure manter o cão numa zona sem saliências para ele não se ferir durante a fase convulsi- va ou de excitação. Passada a crise, deixe o animal tranquilo num quarto, limitando os barulhos e a luz, até que tenha recuperado totalmente; tape-o com uma coberta. Depois da crise totalmente superada (normalmente duram poucos minutos), leve-o ao ve- terinário. Como administrar os remédios Um cão doente é, para além do mais, um indivíduo irritável e nem sem- pre disposto a tomar os remédios. Por isso, a primeira tentativa é feita com astúcia, a segunda, com decisão. Os remédios ministrados por via oral são de diversos tipos, mas po- deremos dividi-los em comprimidos, cápsulas, drageias, etc., e fármacos líquidos. Para o primeiro tipo pode tentar-se a administração misturando com a comida, escondendo-lhe o sabor com um alimento particularmente do agra- do do cão (queijo, carne). Se se trata 123 Medicamentos para as emergéncias · Desinfectantes: água oxigenada, tintura de iodo, mercurocromo ·Soluções desinfectantes suaves: solução fisiológica, água bórica · Adstringentes · Laxantes: vaselina · Antieméticos · Um antibiótico de emergência aconselhado pelo veterinário · Compressas de gaze, algodão, gaze com 5cm para ligaduras · O número de telefone do vete- rinário de pó ou de comprimidos esmagados pode-se tentar misturá-los com um pouco de carne, dando-lhe o resto da ração depois de nos termos assegura- do de que o cäo comeu toda a primei- ra porçäo. Todavia existem casos em que o remédio não pode ser misturado com os alimentos porque se poderia estragar, ou porque tem um sabor de tal maneira forte que será descoberto pelo cão e por isso recusado. Neste caso, abra a boca do cão, introduza profundamente o comprimido voltando a fechá-la rapidamente e mantendo a cabeça para cima massage-lhe a garganta para facilitar a deglutição. Assegure-se de que o cäo engoliu o remédio porque por vezes guarda a pastilha a um canto da boca para a cuspir mal você se tenha virado. Os remédios líquidos podem ser ministrados com seringas sem agulha, com pipetas de borracha ou conta-go- tas. Mantenha-lhe a cabeça levanta- da, insira a seringa no canto da boca entre os lábios e faça fluir o produto lentamente para permitir a deglutição. Nunca ministre líquido mantendo a bo- ca aberta à força: impedindo a deglu- tìção poderá provocar sufocamento. Remédios para uso parenteral Este tipo de fármaco é administra- do por injecções subcutâneas, intra- musculares ou na veia. O dono deverá aprender a dar as subcutãneas para prosseguir as terapias indicadas pelo veterinário, utilizando sempre seringas descartáveis ou esterilizadas. Deve levantar-se uma prega de pele ao lon- go do dorso entre o pescoço e o flan- co, desinfectar a pele, levantar o pêlo e introduzir a ponta da agulha parale- lamente à espinha. Depois injectar o fármaco. Se o produto é irritante pedir ajuda a outra pessoa para que man- tenha o cão seguro. Fármacos para as otites Mantenha levantada a ponta da orelha e introduza na conduta auricular o conta-gotas. Deixe cair as gotas e depois massaje a parte que está por baixo para distribuir uniformemente o produto. Mantenha a cabeça do cão segura durante alguns minutos, de outra forma sacudi-la-á para se livrar do fármaco que lhe irrita os ouvidos. Fármacos para os olhos Mantenha levantada a cabeça do cäo e deixe cair as gotas do colírio so- bre a córnea. Se tiver em vez disso de ministrar pomadas, baixe a pálpebra inferior e ponha um bocadinho de po- 124 PREPARAÇÃO COMO CÃO DE TRENÓ E DE TRABALHO' A maior parte das pessoas que de- cidiram escolher como amigo um Hus- ky Siberiano ver-se-ão mais tarde ou mais cedo tentadas a experimentar fa- zê-lo trabalhar. Considerando a exuberâncïa inata desta raça e a sua natural predis- posição para aprender as técnicas do trenó será certamente útil canalizar de maneira construtiva as energias do nosso cachorro. Com um mínimo de empenho, e talvez utilizando o tempo dedicado a um dos passeios quotidianos, con- seguiremos ensinar ao nosso Husky Siberiano o mínimo indispensável pa- ra o podermos utilizar como cão de trenó. Os métodos utilizados para fa- zer trabalhar o nosso amigo näo estão necessariamente ligados à presença da neve: poderemos embridá-lo e ligá- -lo à nossa cintura com um cinto forte, atá-lo ao volante da nossa bicicleta de montanha, a uma carroça, ao auto- móvel, e, finalmente, ao trenó. Este tipo de instruçäo levará o nos- so cão a trabalhar com naturalidade e além disso fará dele um companheiro de excursões e de aventuras insubsti- tuível. É verdadeiramente divertido ir pas- sear com um cäo que caminha diante de nós tomando atenção às nossas ordens sem puxar para a direita ou para a esquerda e sem se deter para enfiar o nariz em todas as moitas. Atrelamento O arnês ou arreio O arnês serve para segurar o cão por meio de uma corda (linha de tre- nó), à nossa cintura ou àquilo que de- sejamos fazë-lo puxar. Conseguiremos encontrar um arnês numa escola de sled dog ou, com um pouco de sorte, em qualquer expo- sição canina, em alguma loja de arti- gos para animais, ainda que não seja fácil: aqueles que normalmente se en- contram nas lojas não estão adap- tados ao trenó, quer pelo material de que são feitos quer pelo modelo que não fornece o apoio adequado ao ani- mal que está a trabalhar. Teremos maiores possibilidades de o encontrar no estrangeiro, nas lojas especia- lizadas em atrelamento de cães de trenó. A alternativa mais económica será a de o construirmos nós próprios. Se nos decidirmos por esta solução serão indispensáveis alguns metros de fita para arnês, fio de vela ou fio dental, uma agulha de lã não dema- siado grossa e um pouco de tecido com pêlo para forrar. Com um pouco de paciência e seguindo o desenho fabricaremos um arnês para o nosso Husky Siberiano. A coleira Com a mesma fita utilizada pa- ra fabricar o arnês ou arreio pode- remos construir uma coleira adaptada aos momentos de trabalho do nos- so cão. Team Grande Canyon. A velha divisão en- tre cães de trabalho e cães de exposição näo é de forma alguma válida para o Siberiano. Infelizmente, na Europa, tentou- -se construir um Husky de velocidade, com o objectivo de obter um indiv¦duo com membros muito compridos, tórax estreito e alto e cabeça que perdeu a sua tipicidade. Os cães da foto, no entanto, tëm certa- mente o aspecto de tipicos Siberianos. Educação Período dos 2 aos 3 meses Neste período começa-se a convi- ver com o cachorro, a fazer-Ihe com- preender que pode contar connosco e que poderemos ser amigos mas que em qualquer caso seremos sempre o seu ¦¦chefe de matilha¦¦. Fazendo isto amar-nos-á e respeitar-nos-á, será para ele uma espécie de privilégio se- cundar-nos e obedecer-nos. Inicial- 127 mente a educação será a que é adap- tada a todos os outros cachorros e servirá para fazer dele um cão bem educado e agradável na vida de todos os dias. Para ter um indivíduo bem equilibrado e com boa capacidade de adaptação às várias situações tere- mos o cuidado de o habituar à trela, às pessoas, aos barulhos do tráfego. Durante este período empenhar-nos- -emos em levar o nosso cachorro a lu- gares frequentados por outros cães, de forma a dar-Ihe a possibilidade de fazer experiências com os seus se- melhantes. O sucesso desta fase fa- rá do nosso cão um Husky Siberiano adaptado, pelo menos psicologica- mente, ao trabalho; é de facto impen- sável utilizar para o trabalho um indivíduo que não consiga manter a calma na presença de outros cäes. A única maneira de impedir que se verifiquem rixas a cada vez que no horizonte surja outro cão é a de ser in- flexível e de castigar o cachorro quan- do experimentar fazer voz grossa. A pouco e pouco compreenderá que pretendemos dele um comportamento amigável para com os seus seme- Ihantes, como devem de facto ter to- dos os Husky Siberianos. Período dos 4 aos 5 meses Superada a primeira fase de co- nhecimento do mundo que o rodeia, o cachorro estará pronto a fazer tam- bém o conhecimento do seu primeiro arnês. Deve ficar bem claro que dar- -Ihe a conhecer o arnês näo deve de forma alguma significar fazê-lo co- meçar a puxar, porque nesta idade se- ria prejudicial tanto em termos físicos 128 como psicológicos. Ensiná-lo a aceitar o arnês será uma empresa muito mais fácil nesta idade do que mais adiante. Num momento em que dispusermos de um pouco de tempo chamamos o cão e, mostramos-Ihe o arnês e dei- xamo-lo cheirá-lo e conhecê-lo. Falan- do com doçura e calma prendemos o cão perto de nós. Sempre docemente metemos o cachorro entre as nossas pernas, permanecendo em pé por cima dele. Seguramo-lo apertando- -Ihe os flancos entre os joelhos e des- ta maneira temos as mäos livres para manejar o arnês. Dobramos em duas a parte do arnês que se apoia sobre o peito do cão e nesta altura teremos o arnês pronto para ser enfiado no pescoço do cachorro. Quando o ar- nês estiver no pescoço do cão pode- remos fazer passar as pernas ante- riores por cima da fita, com o cuidado de não torcer as articulações ao nosso jovem amigo. Uma vez estendido o arnês sobre o dorso do cão, acariciamo-lo, para o reconfortar. Na maioria das vezes o cachorro mostrará apenas um pouco de curiosidade procurando farejar o arnês. Deixamo-lo cheirar mas não Ihe permitimos que o morda ou que se rebole para o ferrar com os dentes. O método mais correcto para en- sinar o nosso Husky Siberiano a tra- balhar, será o de sair em passeio-ex- cursão. Apertaremos à nossa volta um cinto forte e com um mosquetão li- gamo-nos à trela do nosso cachorro. Fixaremos depois a trela à alça do arnês e estaremos prontos para uma primeira saída. O local ideal para as lições será uma estrada ou um car- reiro tranquilo, com poucos desvios do percurso principal e tão poucos ele 128 mentos distractivos quanto possível. Com delicadeza pomos o cão diante de nós, na direcção em que deseja- mos seguir, seguramo-lo e apenas quando decidirmos partir daremos a ordem: ¦¦hike¦¦ (pronuncia-se: haik), ou entäo ¦¦go¦¦.* O nosso andamento será de passo rápido ou ainda melhor de corrida e inicialmente seremos ajuda- dos pela tendência natural do Husky Siberiano para correr à nossa frente. Depois de algum tempo a curiosidade do cachorro, que nos foi tão útil na primeira parte da corrida, levá-lo-á a deter-se para farejar e bisbilho- tar, seremos entäo firmes e com um ¦¦näo¦¦ seco, acompanhado da ordem ¦¦ahead¦¦ (pronuncia-se: ehèd: segue em frente) obrigamo-lo com firmeza a seguir na direcção de marcha, direito diante de nós, como compete a um valente cão de trenó. Um percurso de 3-4 quilómetros será perfeito para começar este tipo de adestramento e permitirá também ao dono menos exercitado seguir o cão com a atenção necessária para corrigir os erros e evitar eventuais dis- tracçöes. Quando o nosso Husky Si- beriano tiver começado a seguir a direito diante de nós sem se desviar da direcçäo de marcha terá chegado o momento de começar a ensinar-lhe a virar, à direita ou à esquerda. Co- meçaremos por estudar um percurso 129 Innisfree's Star Walker (EUA). propriedade de S. Monville e W Kistemann. só com desvios à direita e, com o cão no seu arnës e ligado ao nosso cinto como no exercício anterior, damos, no cruzamento, a ordem ¦,gee¦, (pronun- cia: gi) ou então "right" (pronúncia: rait). Para induzir o nosso cão a dirigir- -se na direcção desejada deveremos reduzir o passo na proximidade do cruzamento e quando o nariz do cão estiver quase junto à bifurcação da- remos a ordem. Inicialmente o nosso cachorro não compreenderá o que queremos dele e devemos portanto continuar a repetir a ordem até que se dirija na direcção que queremos. Para tornar mais fácil a aprendiza- gem deste exercício poderemos uti- lizar um pequeno truque: detemo-nos e, puxando para nós a trela que nos liga ao arnês do cão, daremos a or- dem ,¦gee" e se o cão tentar seguir em frente largaremos repentinamente a trela. Ao fazer isto o cäo sentir-se-á Golden Arrow e as suas filhas "douradas¦,, propriedade de M. Bensi Allegri. Uma cons- tituiçäo correcta é útil para obter o máximo da potëncia e da agilidade, caractensticas indispensáveis no cão que trabalha. atirado para a frente e experimen- tará uma sensação desagradável. A nossa função, nesta altura, será ordenar com voz firme e sem gritar ¦,no¦¦, ¦¦gee¦,. Quando o cão tiver vi- rado para a direcção requerida con- tinuaremos a caminhar elogiando-o e mostrando-nos satisfeitos pelo sucesso obtido. Depois de um certo período, e sobretudo quando per- cebermos que na cabeça do nosso Husky está bem claro que à ordem ¦¦ahead,¦ se deseja que siga a direi- to, enquanto à ordem ,¦gee¦¦ deve- rá virar à direita, começaremos a ensinar-lhe o desvio para a esquer- da. O método é o mesmo utilizado 130 Campeão Francês. Soc. Ripr. Kontoki's All in good time ¦¦Butch¦¦, fotografado aos 2 anos, propriedade de F Cattaneo. para o ensinamento do virar à direita, começaremos por escolher percursos com desvios para a esquerda e uti- lizaremos a ordem ¦¦haw¦¦ (pronuncia: hà) ou entäo ¦¦left¦¦ para dirigir o cão. Se durante todos estes exercícios tivermos tido a sagacidade, de ca- da vez que nos detemos, de dar a or- dem de paragem: ¦¦whoa¦¦ (pronúncia: uooò) ou então ¦¦stop¦¦, teremos com- pletado a série de comandos indispen- ' sáveis para sair com o nosso cão quer em passeio quer com um dos métodos que veremos mais adiante. Período dos 6 aos 7 meses Enquanto procedemos ao adestra- mento do cachorro notaremos que se tornará cada vez mais difícil manter o passo do cäo durante as saídas. Inevi- tavelmente o cão procurará arrastar o nosso peso na corrida e isto não é bom: chegou o momento de iniciar o treino com a bicicleta. O mais indicado é utilizar uma bicicleta de montanha dotada de óptimos travões, e será sensato munirmo-nos de luvas, para salvar as mãos em caso de queda, e eventualmente um capacete de ci- clista. Utilizaremos uma trela com um comprimento de aproximadamente 150 cm que de um lado se atará ao 131 cão e do outro ficará ligada imediata- mente abaixo do guiador da bicicleta. O método é o mesmo utilizado nas excursões a pé, mas requererá muita atenção por parte do musher: dada a maior velocidade e o inevitável risco de queda, ou, pior ainda, a possibilida- de de se atropelar o cão no caso de este decidir parar repentinamente. As normas de segurança näo são muitas mas devem ser seguidas como de- monstram experiências anteriores e múltiplas cambalhotas; o número de cães vai de um a três, conforme o pe- so e a habilidade do condutor e é boa regra, sobretudo no início, conhecer anteriormente o percurso dando uma volta sem os cães. É sensato levar sempre na bibicleta uma trela para prender o cäo de forma segura a uma estaca ou a uma árvore no caso de termos de nos deter para A brincadeira é importante para o desen- volvimento do cão: nela demonstrará todas as atitudes que o acompanharão no decur- so da sua vida e que são determinantes para a continuação da espécie (foto de A. Brizio). desembaraçar o cachorro ou por qual- quer outra razão. O comprimento dos percursos será inicialmente de 3-4 quilómetros e pouco a pouco alongaremos as nos- sas excursöes de treino até 6-7 quilómetros no máximo. Isto para não cansar o cão e para não lhe tirar o na- tural desejo de correr. Manteremos um andamento médio: inicialmente o nosso Husky procurará galopar, depois passará a um trote rápido, o que se traduzirá num óptimo exercício, se formos observadores atentos prontos a corrigir a velocidade 132 no caso de o cão começar a puxar de maneira excessiva. Nesta idade um esforço demasiado enérgico no treino levará o cäo a es- forçar as pernas posteriores, a afastar os pés e a assumir um andamento de ¦¦marreca¦¦. É melhor por isso um trote fluido e ligeiro com um sentido de tracçäo equilibrado que obterá uma dupla fi- nalidade, educar o nosso cão para um andamento correcto e ao mesmo tem- po para a tracção. Período dos 8 aos 12 meses Nesta idade pode começar-se a atar o cachorro ao trenó. Como para as saídas com a bicicleta de monta- nha os percursos seräo inicialmente breves, até porque a tracção na neve é mais cansativo do que a da bicicleta. Para utilizar um trenó, mesmo o mais ligeiro, são necessários pelo menos dois cães e será melhor que o segun- do indivíduo já tenha tido experiência de tracção. Em caso contrário, tere- mos apenas que ter mais paciência. Aproximemos os dois cães, deixemos que se conheçam e então atemo-los lado a lado: se até aqui tínhamos tra- balhado apenas com um Husky Sibe- riano, poderemos agora gozar do seu divertimento por trabalhar em compa- nhia. O nosso amigo de quatro patas ver-se-á envolvido numa aventura que recorda o antigo rito da caça levado a efeito pelos seus antepassados e tra- balhará com mais entusiasmo. A es- colha dos percursos recairá sobre pistas mistas com subidas e descidas näo demasiado inclinadas e falsos- -planos que permitirão ao cão re- pousar. É importante recordar que, na subida, o condutor deverá descer do trenó e procurar empurrá-lo para aju- 133 dar a equipa e que, em descida, quan- do os cães se lançam a galope, de- verá travar ligeiramente o andamento para dar apoio aos cães (ligeira sen- sação de tracção), de forma a impedir que possam magoar-se nas articu- lações da espádua. Em caso de näo haver neve e com um número de cães que torne difícil a saída com a bicicleta de montanha poderemos utilizar duas alternativas divertidas mas cansativas: a carroça e o automóvel. No que diz respeito à carroça, não há grandes diferenças em relação à bicicleta, o único problema a não dei- xar de ter em atenção é que manter parada uma carroça, com 5 a 8 cães decididos a prosseguir a todo o custo, pode tornar-se verdadeiramente difí- cil. Basta um gato, uma galinha ou um outro cäo no percurso e poderemos encontrar-nos em apuros: devemos pois ter sempre ao alcance da mão Clint de l'Aurore Boréale, cachorro de 8 meses, propriedade de Oudin Voilet. Au- rore Boreale e Bleue Fontaine são nomes de criadores franceses: Innisfree, Nootka e Isbook americanos e canadianos. uma corda para atar a carroça a uma árvore ou a uma estaca e, no caso de se sair com mais de 6 cäes, utilizar de preferência uma carroça que tenha possibilidade de levar uma segun- da pessoa. No que diz respeìto ao automóvel estaremos muito mais tran- quilos quanto aos incidentes do per- curso, mas devemos ter muita atençäo para não atropelar os cães. Recor- demos sempre que: em qualquer mo- mento e pelos motivos mais incríveis os cães podem parar todos de re- pente. Uma pessoa com uma certa experiência pode ir sozinha treinar a sua equipa por este método, mas quem estiver no começo deverá le- var uma segunda pessoa que possa 134 ajudar. Geralmente trabalha-se bem quando um dos dois instrutores se dedica à condução, atento ao que fazem os cães diante dele, enquanto o outro tem os olhos na estrada e nos desvios e dá as ordens à equipa sobre o percurso a seguir. Para além do ano A actividade desportiva que desen- volvemos nos últimos meses será aquela que, definitivamente, podere- mos continuar nos anos seguintes. A diferença que notaremos será a de termos diante de nós um cão que está a amadurecer fisicamente e sobretudo psicologicamente. Graças a este cres- cimento poderemos pedir ao animal Nagoya do Fiocco Nero e Aileen num mo- mento de repouso, propriedade de Michel Laboux. Trabalhar com os seus próprios cães é certamente um desporto mara- vilhoso. Não são necessárias escolas especiais para aprender a conduzir um trenó, mas é indispensável a capacidade de adestrar os seus próprios Siberianos para lhes ganhar a obediëncia: e para edu- car um Husky é necessário ter também muita sensibilidade. um maior empenho no seu trabalho. Os percursos tornar-se-ão gradual- mente mais compridos e cansativos, tendo sempre em mente as capaci- dades atléticas da nossa equipa e ainda o número de indivíduos que a compõem. Poderemos até decidir en- trar numa das corridas que todos os 135 anos säo organizadas em todo o cír- culo alpino: lembremo-nos que este desporto está povoado por apaixo- nados dispostos a dividir connosco o entusiasmo por estes cães. Aproxi- mando-nos deste mundo com humil- dade e vontade de aprender encon- traremos por certo bons conselhos e ser-nos-äo revelados os ¦¦segredos dos mestres¦¦. As corridas Todos os anos em Itália são or- ganizadas numerosas corridas para cães de trenó. Sendo os percursos na maioria das vezes de quilometragem limitada, as corridas säo na sua maior parte competições de sprint. As pro- vas desenrolam-se em duas mäos: uma ao sábado e outra ao domingo e o percurso, o mesmo nos dois dias, tem uma extensão variável confor- me o número de cães que compõem a equipa. A categoria ¦¦três cães¦¦ (mínimo dois) percorre entre 6 a 8 quilómetros; a categoria ¦¦seis cães¦¦ (mínimo quatro) segue um percurso que vai de 8 a 12 quilómetros. Tam- bém a pulka escandinava tem uma extensão que vai de 8 a 12 quilóme- tros. A categoria ¦¦8 cães¦¦ (mínimo seis) faz uma corrida de 15 a 18 qui- lómetros, enquanto os participantes que correm com um número ilimitado de cães (mínimo sete na primeira mäo e cinco na segunda) percorrem de 18 a 25 quilómetros. As pistas são geral- mente as do esqui de fundo e apre- sentam por isso dificuldades de vários graus, representadas por curvas, des- cidas, subidas e, por vezes, desvios. A partida dá-se com intervalos de dois 136 minutos entre cada concorrente e é cronometrado o tempo de percurso de cada equipa. A classificação definitiva baseia-se na soma dos tempos ob- tidos nas duas mãos: vence, obvia- mente, quem realizou o melhor tempo. Para participar numa corrida é ne- cessário também conhecer a sinalética de percurso, a mesma para todos os países europeus, que está oganizada numa série de cartazes de diferentes cores. À partida encontramos um car- taz, 30 metros após o alinhamento, que indica o fim da zona de pista de- nominada ¦¦área de partida¦¦: esta parte da pista deve ser deixada livre dois minutos depois da ¦¦saída¦¦ do concorrente. Se nestes dois minutos a pista não estiver livre e o concorrente perturba a partida de outro musher, o director da corrida poderá desqualificar essa equipa. Esta é a única zona de pista em que é permitido ajudar um concorrente em dificuldade. As curvas do percurso são indicadas com um cartaz vermelho que é posto ao lado da pista, pouco antes da própria curva: à direita para a curva à direita, e à es- querda para a curva à esquerda. Na proximidade de uma bifurcação que possa gerar dúvidas, a direcção de marcha ¦¦a direito¦¦ será indicada com um cartaz azul colocado na beira da pista pouco antes do cruzamento. Os pontos peri gosos na berma serão por sua vez assinalados com um cartaz amarelo ou alaranjado posto imediata- mente antes do perigo. No Inverno de 1990-91 no fim da zona de pista con- siderada perigosa, começou-se a uti- lizar um sinal de ¦¦fim do perigo¦¦, car- taz ama- relo com risca vermelha. Por altura do fim do percurso, precisamen- te nos últimos 800 metros, é posto um 137 Afterglow del Marginone, propriedade de Gulio A. Bernardini. sinal ¦¦800 metros¦¦. Nesta zona da pista não são válidas as regras de pre- cedência para as ultrapassagens, váli- das em todo o resto do percurso; esta última zona da pista é em certo senti- do ¦¦terra de ninguém¦¦. Conhecer as regras de corrida não é suficiente para nos inscrevermos nu- ma destas manifestações sem nos arriscarmos a ficar em apuros ou pior ainda prejudicar os outros concor- rentes. Antes de nos inscrevermos numa corrida será bom verificar as ca- pacidades da nossa equipa: um dos requisitos fundamentais é a capaci- dade dos cães para ultrapassarem uma outra equipa sem pararem e não tentarem agredir os cães superados. Um outro requisito importante é o trei- no adequado da equipa, consoante a quilometragem da corrida. Com estas preocupações evitaremos encontrar- -nos em situações embaraçosas e estaremos em condições de levar a bom termo o percurso de corrida, de maneira correcta e divertindo-nos. O tempo e a experiência serão precio- sos conselheiros para nós e os nossos cães: depois de uma época de corri- das notaremos que os nossos cães trabalharão com mais vontade e vão empenhar-se muito mais, ao longo de todo o percurso, como se na sua ca- beça estivesse claro o conceito de que ¦¦a corrida é divertida mas quando se pára, acaba¦¦! O treino da equipa Uma equipa bem treinada é garan- tia para enfrentar uma corrida com prazer, e com a satisfaçäo de vermos 137 Babouchka de Bleue Fontaine, leader de Isabella Travadon. os nossos próprios cães inscreverem- -se numa prova de verdadeiros atletas. Os métodos de treino são diversos e muito pessoais: trataremos de seguida os dois métodos que foram propostos e discutidos por ocasião do I Encontro de 1990/1991, organizado pela Asso- ciação Italiana de Musher (AIM). As técnicas de treino propostas são fruto da experiência de importantes musher, a validade destes sistemas é provada e confirmada pelos resulta- dos obtidos nas corridas. O primeiro método baseia-se na natural vontade de correr que o cäo tem e tira partido dessa disposição. O treino é iniciado a meio de Setembro, quando a tempe- ratura começa a baixar. Em qualquer caso as primeiras horas da manhã e a noite seräo os melhores momentos. Utilizam-se inicialmente percursos de 3-4 quilómetros fazendo os cães puxar, de forma a testar a capacidade de esforço mas sem frustrar a vontade de correr. Com o prosseguir da esta- ção continuar-se-á este sistema, au- mentando as distâncias mas não o peso de resistência de tracção. Es- te método alia a força e o poder de tracção do cão; a velocidade será tomada em consideraçäo no primeiro nevão, quando poderemos tirar par- tido do entusiasmo dos indivíduos que compõem a nossa equipa e também da capacidade de resistência já ad- quirida. A segunda técnica de treino, ao contrário, tem em consideração desde logo a velocidade da equipa. Treinam-se os cães começando por percursos mais compridos do que os utilizados no método anterior (inicia-se com cerca de seis quilómetros) tentan- do obter a velocidade máxima em todo o percurso. O peso arrastado não será excessivo e em qualquer caso não su- perará o peso do trenó e do musher no momento da corrida. Os meios uti- lizados para treinar os cães são geral- mente representados pela carroça ou pelo automóvel visto que são ver- dadeiramente poucos os afortunados que no nosso país se podem permitir o ¦¦luxo¦¦ de preparar os cães sobre a neve. Poderemos dar-nos por felizes se conseguirmos fazer uma saída ou duas antes da primeira corrida da época. Tomando em consideração os meses que estão à nossa disposição, poderemos considerar a carroça um atrelado que consegue simular muito bem o trenó, sobretudo no que diz respeito ao condutor que, para além 138 Lilith di Likidado, propriedade de C. Geuna. de treinar a equipa, se treinará a si próprio, descendo para empurrar e para correr, e adquirindo um perfeito sentido de equilíbrio. No que diz respeito aos cäes, o método da carroça será realmente indicado se utilizarmos uma carroça com um peso adequado às capaci- dades de tracção da nossa equipa: não faria de facto sentido treinar os cães utilizando um meio que pesa demasiado, porque não desenvol- veriam a musculatura necessária para puxar o trenó no momento da corrida. Uma carroça demasiado pesada, pelo contrário, resultaria em esforço excessivo para os cães, arruinando o seu desejo de correr. O automóvel, por sua vez, é um meio muito válido no que diz respeito à preparação atlética da equipa, mas já no que diz respeito ao musher não o é! A possibilidade de atarmos os cães diante de um meio provido de motor permite-nos dosear o esforço dos animais e levá-los a puxar um pe- so adequado no devido momento da preparação atlética. É, no entanto, opinião geral que não se deve ultrapassar os 20 qui- lómetros à hora na fase de treino com o automóvel. Este último sistema de prepara- ção atlética é também muito cómo- do porque permite ao musher de- ter os cães, descer do automóvel e efectuar as mudanças necessá- rias na equipa para que se consiga um melhor rendimento. 139 Será também muito útil, para refres- car a memória dos nossos Husky, ter a possibilidade de bloquear verdadeira- mente o transporte quando, numa bi- furcação, os cães näo quiserem seguir na direcção que queremos. É muito importante recordar que, se os cães perceberem que, insistindo na sua intenção, conseguem fazer aquilo que querem, tentarão fazê-lo, depois, todas as vezes que a ocasião se lhes apresentar, e assim teremos uma equipa praticamente arruinada. Treino do musher Os resultados de uma equipa são influenciados também pela prepa- ração atlética dos musher. Esta última é pois particularmente evidente nas Campeäo Italiano e Internacional Forstal's Ivich (1975-1987), indiv¦duo tipico dos anos 70-80. categorias que contam um número re- duzido de cães. O musher, durante a corrida deverá descer do trenó para correr e o empurrar, de forma a ajudar os cães no esforço que estão a efec- tuar. Um ponto a ter em consideração é que, geralmente, as corridas na neve são levadas a efeito sob condições rígidas e a temperaturas, na maior parte, das vezes rigorosas: estes são factores que aumentam notavelmente a fadiga física e que requerem por isso uma preparaçäo atlética adequada. Também aqui os métodos e as técni- cas de treino são diversas e não igual- mente válidas para todos os atletas; entre estes sistemas é particularmente 140 Grupo de uma criação dos anos 80. A raça está em conti¦ua evolução mesmo na Eu- ropa, embora mais lentamente do que além oceano, e por isso não sujeita às modas. Os campeões da fotografia cons- tituem um grupo muito homogéneo, diver- sas vezes premiado nos ringues europeus. Canil das Sombras Longas. interessante o que é utilizado para a preparação atlética dos esquiadores de fundo. Este tipo de técnica divi- de-se em dois momentos: uma pri- meira fase chamada de capilarização e uma segunda fase chamada interval training. A fase de capilarização requer pelo menos um mës; procurar-se-á um percurso misto com um comprimento de cerca de 10 quilómetros de corri- da e começando gradualmente nos primeiros 15 dias (ou seja em dias alternados), chegar-se-á a percorrê-lo a uma velocidade mínima de 1 qui- lómetro em cada 5 minutos. Levare- mos a efeito este percurso seis dias na semana. A fase de interval training é utiliza- da 20/30 dias antes da corrida. Per- correm-se os 10 quilómetros anterior- mente utilizados, com etapas de 200 metros, a 90% da nossa potência máxima. Depois de ter efectuado a etapa, faz-se um intervalo de descanso con- tinuando a corrida a uma velocidade constante de 1 quilómetro a cada 5 minutos. Uma vez por semana faz-se o percurso correndo até ao limite das nossas possibilidades e fazendo se- guir-se dois dias de repouso absoluto depois deste esforço máximo. É fun- 141 Beau Geste do Grand Canyon. uma bela filha do Campeão Innisfree's Golden Arrow. propriedade de Monica Monaci. damental lembrarmo-nos de respirar com expirações completas. Enfrentar uma época de corridas atleticamente bem preparado per- mitir-nos-á gozar plenamente a be- leza deste desporto e dedicar mais atenção à actividade física dos nossos Endereços úteis · Clube Portugués de Canicultura Rua Frei Carlos, 7 - r/c 1600 Lisboa Tel.: 796 53 44/54 Fax: 796 5316 cäes, ajudando-os no momento do es- forço e evitando aquelas situações que poderiam vir a revelar-se física e emotivamente desgastantes para a equipa. Será este, definitivamente, o ver- dadeiro sucesso do musher, visto que, antes de mais e acima de tudo, deve preservar o bem-estar dos cães, inde- pendentemente do veredicto do cro- nómetro. · Fédération Cynologique Inter- nationale (FCI) 12, rue Leopold II B - 6530 Thuin / Bélgica 142 FIM DO LIVRO.