Compra-se uma Esposa (Helen Bianchin) Título original: The Greek's Bought Wife PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V. Copyright (c) 2005 by Helen Bianchin Originalmente publicado em 2005 por Mills & Boon London. Digitalização: Polyana Revisão: Cris Paiva e Simoninha RESUMO: Nic Leandros sabe que a maioria das pessoas quer apenas seu dinheiro. Por isso, quando ele descobre que a linda Tina Matheson está grávida de seu irmão mais novo, ele tem certeza de que o preço dela será alto... No entanto, Tina tem de concordar com as suas condições: nenhum herdeiro Leandros nasceu fora de um casamento, então eles se casarão pelo bem da criança... CAPÍTULO UM Nic Leandros estacionou seu poderoso Lexus na garagem subterrânea de um luxuoso prédio localizado em Double Bay, Sydney. Seu telefone celular tocou e ele rapidamente checou o identificador de chamadas, esbravejou e deixou a ligação cair na caixa postal. Sabine... de novo. Quantas vezes ligara hoje? A mulher estava ficando obcecada. Havia meses desde que cortara os laços, educadamente recusando seus convites dissimulados até que seus protestos chegassem a ponto do desespero, a partir do qual ele recusou-se a atender qualquer ligação dela. Pelas semanas seguintes, ela o perseguiu virtualmente, recorrendo a mensagens pelo celular várias vezes ao dia, e aparecendo onde quer que ele estivesse... em seu restaurante favorito de Melbourne, em festas e em jantares beneficentes. Ele a avisou, legalmente. Mesmo assim Sabine continuava insistindo. Nic atravessou para o hall dos elevadores. Não precisava checar o número do apartamento ou o andar onde estava situado, pois era mais um dos muitos de propriedade da Corporação Leandros e ocupado até recentemente por seu meio-irmão. Seis anos mais novo que Nic, Vasili chegara na família Leandros com muito amor há 21 anos. Para seu pai, era uma alegria, a menina-dos-olhos de Stacey, a querida madrasta de Nic. Nic pensou na amizade que tinham um pelo outro, apesar da diferença de idade. A educação que Vasili recebeu foi idêntica a sua... severa, mas com muito amor. De que outro jeito poderia ter sido sob os cuidados de Stacey? No entanto, Vasili tornara-se negligente como Nic nunca poderia imaginar. Ele passou pela escola, formou-se em administração de empresas e entrou na Corporação Leandros pelo primeiro degrau da escada... assim como Nic, prosperando sem o mínimo esforço aparente. Vasili permaneceu em Sydney aprendendo a lidar com os negócios, enquanto Nic ficava no escritório central em Melbourne, entre grandes viagens pela América e Europa. Bonito, divertido, Vasili tivera paixão pela vida, por mulheres e carros possantes... nesta ordem. Tragicamente, fora um carro possante - um Lamborghini - que causou a morte de Vasili há pouco mais de duas semanas. Nic sabia da quantidade de mulheres que faziam de tudo para ter a companhia de Vasili, dividir sua cama e sua parte na fortuna dos Leandros. No entanto. Tina Matheson era a primeira mulher que Vasili convidava para morar junto com ele. O que Nic não ficara sabendo era a novidade sobre a gravidez de Tina. Stacey foi a única a saber, no dia anterior à morte prematura de Vasili. Nada fora mencionado sobre isso... droga, nenhum sinal aparente durante o enterro de Vasili, dez dias atrás. Em meio às lamentações, Tina permaneceu à distância. Tranquila, controlada, com uma fragilidade que ele instintivamente sentira necessidade de consolar. A recusa de Tina o surpreendera. Dadas as circunstâncias, pensara que ela se aproveitaria da situação para aproximar-se da família Leandros. Havia algo nela que o intrigava. Sua postura, a maneira como se mantinha indiferente. Os olhos brilhantes da cor de esmeraldas profundos, inescrutáveis. Intocável, lembrara a si mesmo. A mulher de seu meio-irmão. A mãe do filho de Vasili. A existência de um neto dos Leandros proporcionou alguma esperança a Paul e Stacey Leandros. O filho do filho deles. Uma criança que compartilharia a herança de Vasili e tomaria seu lugar de direito na família Leandros. Tanto Paul quanto Stacey presumiram que Tina receberia bem o apoio e a ajuda deles. O afeto e o amor incondicionais. No entanto, Tina recusara educadamente as ofertas dos dois, o que aumentara de forma inconsolável a dor de Stacey. Agora era a vez de Nic esforçar-se para influenciar a decisão de Tina. A qualquer custo, determinara Paul. Nic pressionou o botão da campainha, surpreendendo-se quando ninguém atendeu. Nic admirava-se com a fascinação de Vasili pela mulher que carregava seu filho. Tina tinha 27 anos e era quase seis anos mais velha que Vasili; a única filha de uma mãe viúva cujo segundo casamento resultara na mudança para Noosa. Droga, por que ela não atendeu? Ficou impaciente, pegou o celular, discou para Paul e perguntou qual fora a última vez que o apartamento havia sido checado. A resposta de seu pai fez Nic enrugar a testa. Na manhã seguinte à morte de Vasili. - Duas semanas atrás? - Por causa da situação atual - disse Paul. - Stacey recusa-se a interferir na decisão de Tina em relação a onde morar. Aumentou o tom de voz. - Dê-me alguns minutos e ligo de volta. Nic não precisou esperar muito para que Paul dissesse que o administrador do prédio estava a caminho com a chave-mestra. Nic agradeceu ao administrador e fechou a porta. Andou pela sala, os olhos atentos a qualquer sinal de ocupação; não havia nenhum. As roupas de Vasili estavam penduradas em um dos dois closets e havia uma variedade de produtos masculinos em cima da penteadeira. Ver essas coisas, curiosamente, causava-lhe muito mais dor do que quando recebeu a trágica notícia dada por Paul. Mais até do que o funeral. Nesse momento, havia a confirmação visual de que Vasili nunca mais retornaria para reivindicar o que era seu... roupas, bens ou a alegria de segurar seu filho. Assustou-se ao abrir o segundo armário e descobrir que estava vazio. Nic andou pelo apartamento, checou um segundo quarto, um terceiro... e descobriu que ambos estavam vazios. Não havia roupas nem nos armários nem nas cômodas. Nenhum sinal de pertences femininos. Esbravejou. Tina Matheson mudara-se. Era óbvio que Paul não tinha a intenção de ficar tomando conta da vida dela. Em 15 minutos, Nic obteve a informação de que precisava. Rapidamente, chegou ao pequeno hotel onde Tina estava hospedada. Não demorou a localizar seu quarto. Bateu à porta e, não obtendo resposta, bateu novamente, agora com muito mais força que antes. Ele ia tentar mais uma vez quando a corrente de segurança foi removida, a porta destrancada e aberta o suficiente para que pudesse entrever uma mulher enrolada em uma toalha de banho. Nic percebeu os úmidos cachos ruivos presos no alto da cabeça, o rosto pálido e um par de olhos ver-de-esmeralda. - Vá embora. A porta bateu e ele esbravejou qualquer coisa. - Faça isso novamente - alertou ele - e deixo a educação de lado. A porta foi entreaberta. - Eu poderia considerar isso uma ameaça e chamar a polícia. - Vá em frente. - Não me provoque. - Você não vai me convidar para entrar? - Não se eu puder evitar. - Nós podemos conversar agora com um pouco de privacidade ou... eu apareço em seu trabalho e conversamos lá. Houve um silêncio e depois a porta foi aberta totalmente. - Outro agente dos Leandros? Tina olhou rapidamente para a figura masculina, obrigou-se a encarar aqueles olhos escuros, quase pretos... e sentiu todos seus instintos de auto-defesa aflorarem. - Nós fomos apresentados. Enquanto Vasili aparentava um ar jovial, despreocupado, Nic Leandros possuía algo indefinível que misturava crueldade e poder... combinado com uma química sexual que nenhuma mulher podia ignorar. -Você quer conversar aqui na porta? Ela havia acabado de sair do banho. . - Você vai ter de esperar enquanto eu me visto. - Bateu a porta na cara dele. Ela levou apenas alguns minutos para se arrumar: jeans e camiseta. Ele ainda estava lá quando ela abriu a porta, e seu rosto parecia mais ameaçador do que antes. Homens da estirpe de Nic Leandros não estavam acostumados a ter portas batidas em suas caras. Ela percebeu isso com um certo humor irônico, indicando em silêncio que ele podia entrar. - Obrigado. - Sua voz estava seca e com um certo grau de impaciência. Tina virou-se para ele ciente de que precisava ter controle. - Vamos acabar logo com isso, sim? - Recusa-se a uma conversa educada? Ela começou a mexer nos cabelos para disfarçar seu nervosismo. - Por que fingir civilidade se temos posições divergentes? - Tina questionou. - Você cuípa meu pai e Stacey por quererem participar um pouco da vida do neto deles? - Você acha que não sei o que isso pode acarretar? - Esclareça-me. - Vamos ver. Ela começou a analisar as possibilidades: - Você vai apresentar muitas razões atraentes pelas quais eu deveria concordar com o desejo de seus pais de colocar o nome dos Leandros no filho de Vasili. - Ela parou e respirou fundo. Nic Leandros dominava o ambiente, e sua presença perturbava-a mais do que podia admitir. - Se eu concordar, a pressão será para que a criança seja educada e criada conforme a tradição dos Leandros. - E isso é um problema... por quê? - Ele não entendeu. - Eu vou perder o controle. - Todas as decisões deverão, é claro, ser tomadas de comum acordo. - Ah, por favor! - disse Tina com um cinismo evidente. - Me dá um tempo. O olhar dela o atingia como uma lança. - Quanto tempo vai levar, depois que ele nascer, para que seus pais peçam a guarda? Negue que é esse o grande plano. Nic tencionou o rosto. - Eu duvido que qualquer coisa desse tipo tenha passado pela cabeça de Stacey. - Mas passará. Sua impetuosidade e fragilidade eram contraditórias, o que Nic achou intrigante. - E quando eu voltar a trabalhar e colocar a criança na creche? E contratar babás nas poucas ocasiões em que sentir vontade de sair? - Meus pais querem o bem dessa criança. - Ele esperou um pouco. - Está tudo em suas mãos. Diga as condições. - E vocês vão aceitá-las? - Ela passou a mão pelos cabelos exaustivamente. - Obrigada, mas não. Ele tinha uma estratégia para cada um dos obstáculos impostos. Era apenas uma questão de tempo... - Talvez você queira dizer o porquê? - Eu não entendo por que uma noite determina que uma criança tenha de assumir o nome do falecido pai. Nic disfarçou o olhar. - Vasilí não significava nada para você? Tina levou algum tempo para responder. - Fingíamos ser namorados. Era... conveniente. Para ambos. Ela não tinha obrigação de dizer o porquê. - A diferença de idade não incomodava? Ela levantou o queixo e seus olhos adquiriram um brilho estranho. - Você está insinuando que Vasili era meu brinquedo? Nós éramos amigos. - No entanto, você foi morar com ele. As explicações tendiam a se tornar complicadas. Contudo, Nic Leandros tinha o direito. De que forma a decisão dela faria algum sentido? - Eu vendi meu apartamento. - Tina defendeu-se. - Estava para comprar outro. Vasili sugeriu que fosse morar com ele em vez de ficar em um hotel ou alugar um apartamento por temporada. Naquele momento parecia apropriado e ela insistira em contribuir com comida e outras utilidades. - E dividiu a cama dele. - Uma vez. Droga, isso foi tudo o que aconteceu. Uma vez. Um pouco mais de champanhe, um beijo amigável que se tornou um pouco mais que isso e, ela não sabia como, terminaram na mesma cama. Ela tentou evitar, mas foi difícil resistir às investidas... da boca, das mãos de Vasili. Então, já era tarde demais. O sexo não fora nada de especial. Não que ela tivesse tido muita experiência para comparar. - Eu devo ter desiludido sua mãe... desculpe, madrasta? Seu pai faz uma idéia errada de um relacionamento que era só amizade? Faça com que eles entendam que a concepção do cobiçado neto foi um erro. Droga- disse ela vigorosamente.-Um erro sem sentido. Ela quis bater em alguma coisa, atirar alguma coisa. Qualquer coisa para livrar-se da imensa raiva que queimava dentro de si, por ser tão insensível. - Obviamente, vocês não tomaram precaução alguma. Tina ouviu as palavras e segurou-se para não bater no homem que as proferiu. - Obviamente. - E você também não pensou em abortar? Ela colocou a mão como que protegendo a barriga. - Não. Nic enrugou os olhos. - Você teria abortado, mesmo se meus pais não estivessem sabendo da gravidez? Tina não hesitou. - Não. O insistente toque do celular soava alto no silêncio do quarto e Tina observou-o pegar o aparelho, checar o identificador de chamadas e mostrar sua irritação ao enfiá-lo de volta no bolso do paletó. - Você já comeu? Tina arregalou os olhos. - Como? - Jantar. - Ele parecia meio impaciente. Ele estava falando de comida? - Eu não acho que essa seja uma pergunta relevante. - É relevante se você não tiver comido. - Por quê? - Estou sugerindo para irmos jantar. - De novo... por quê? Ela o irritava e ao mesmo tempo o fascinava. E também era a primeira mulher, depois de muito tempo, a recusar um convite seu. - Vá se trocar. Vou fazer uma reserva. Tina fechou os olhos, depois os abriu lançando-lhe um olhar feroz. - Você é geralmente assim tão ditador? Ele pegou o telefone celular e discou. - Sou famoso por conseguir o que quero. - Jura? - Ela não se impressionara. - Você quer discutir comigo? - Que nenhuma mulher ouse! - Tina brincou. - E você seria uma exceção? - Pode apostar. - Ela olhou-o fixamente e andou até a porta. - Quero que você vá embora. A expressão dele permaneceu inalterada. Tina lançou-lhe um olhar penetrante. - Não quero jantar com você. - Mesmo lugar - Nic ressaltou. - Carros diferentes. - Essa é uma manobra persuasiva? - Um acordo. São quase sete horas, nenhum de nós comeu e ainda temos de chegar a uma solução satisfatória. - A minha decisão está tomada. - A que diz respeito a você. Mas a vida de uma criança está em jogo. - Espere lá fora enquanto eu me troco. - Pra você fechar a porta logo em seguida? - disse com cinismo. - Pegue as roupas que vai precisar e se troque no banheiro. Ela teve vontade de matá-lo... ou na melhor das hipóteses machucá-lo fisicamente. Mas não tinha o que discutir. Era melhor irem em carros separados do que permanecerem na intimidade de uma suíte de hotel. Pelo menos ela estaria livre para sair do restaurante sem ser intimidada. Enquanto que ali seria totalmente diferente. - Tem algum problema? Tina lançou-lhe um olhar sarcástico, - Eu estou decidindo que método deveria usar para ferir você fisicamente. Ela rapidamente pegou uma calça preta de seda, uma camisa de seda verde-esmeralda e foi para o banheiro. Alguns minutos depois estava pronta. - Vamos? Desceram até o estacionamento e logo Tina seguia o Lexus preto de Nic até o centro de Double Bay. Depois o acompanhou a um restaurante pequeno e aconchegante. O maitre cumprimentou Nic com todos os obséquios dignos de um cliente preferencial e pessoalmente os acompanhou até a mesa e chamou o garçom. - Você sempre come aqui. - Era uma afirmação, não uma pergunta. E Nic submeteu-a a uma avaliação solene. - Sempre que estou em Sydney. A sede da Corporação Leandros ficava em Meulbourne. Os pais de Vasili moravam lá. Nic também, dissera Vasili... quando não estava em viagens de negócios em Nova York, Londres, Atenas e Roma. - Imagino que você vai contar minha decisão a seus pais? - Quando resolvermos isto. - Não existe "quando". - E se eu sugerisse uma outra solução? - Nic parou, depois acrescentou: - Ou duas? - Não existe nenhuma. - Adoção - sugeriu ele com uma falsa tranquilidade. - Por uma quantia determinada de comum acordo. Tina ficou gélida, temporariamente incapaz de dizer uma palavra por vários segundos antes de a raiva ameaçar explodir. - Você deve estar brincando. - Um milhão de dólares. - Vá para o inferno! - conseguiu dizer com ferocidade. Apanhou sua bolsa e levantou-se. - Dois milhões. Tina percebeu a aparente calma na voz de Nic e por pouco não cedeu ao impulso de atirar algo nele. - Três. Ele a segurou com firmeza pelos braços. - Deixe-me ir! - Sente-se, por favor. - Ele acrescentou com frieza: - Existem outras opções. - Eu não entendo como você pode propor uma coisa dessas - disse Tina com irritação. - Casar - Nic fez uma pausa. - Comigo. Ela ficou paralisada por alguns segundos, chocada. Levou tempo para encontrar de novo a voz. - Você é louco? Tina jogou a água no rosto de Nic, em um ato espontâneo e selvagem, e permaneceu observando enquanto ele esquivava-se da água mineral gelada. No instante seguinte, o copo escapou de seus dedos, atingiu a mesa, quicou no chão ladrilhado e espatifou-se em incontáveis cacos. Tina mal percebeu a presença do garçom, a preocupação dele, a remoção do copo e a operação de limpeza. Nem mesmo lembrou-se de pedir desculpas. Ouviu Nic tentando explicar-se: - Não é sempre que uma mulher reage dessa forma, tão fora do comum, a um pedido de casamento. Ela não prestou atenção nas felicitações entusiasmadas e nem que a novidade espalhara-se. Sem perceber, já não estava mais de pé, mas sentada de frente para aquele homem arrogante e cruel que, ela fortemente suspeitava, certamente dirigia toda aquela cena. - Retrate-se, agora - disse Tina furiosa. - Um casamento conveniente para ambos. Nic continuou com a voz meiga: - Isso vai dar legitimidade ao filho de Vasili e um lugar legal dentro da hierarquia Leandros. O tom de voz de Tina era frio. - Não se esqueceu de alguma coisa? Um fotógrafo surgiu do nada e um flash cegou-a por alguns instantes. - Eu não vou fazer parte disso. - Não? - Nic perguntou. - Esteja avisada: eu posso ser seu amigo... ou seu pior pesadelo. CAPÍTULO DOIS Logo as coisas tomaram seus lugares e Tina passou a odiar Nic. Verdadeiramente o odiava. - Essa é sua última manipulação, não é? Tudo que aconteceu até agora fora uma farsa. A criança que ela carregava era de suma importância. A única coisa importante. - Um processo de eliminação. O fato de ele ter admitido fez Tina sentir um nó na garganta. - Você pensou que eu fosse uma aproveitadora, querendo dar o golpe do baú, de olhos bem abertos para não perder a melhor chance? - A raiva deixou-a descontrolada quando ele não respondeu. - Seu canalha. A expressão dele não se alterou, nem seu olhar desviou do dela. - Era uma possibilidade que eu tinha de considerar. Tina respirou fundo. - Deveria desconfiar de que você também investigou a minha vida? Ela não tinha nada a esconder, a não ser um incidente publicamente conhecido. Ele certamente não deve ter ido tão longe em suas investigações? - Educação particular, paixão por esportes, o pai morto em um acidente quando você tinha dezessete anos. Ele parou por alguns segundos. - Assaltada, um ano depois, por um intruso durante uma invasão em sua casa. Tina sentiu o rosto empalidecer, enquanto lutava para controlar as vívidas imagens que obscureciam sua visão. Em instantes estava de volta ao seu quarto, sozinha no apartamento que dividia com a mãe, sendo acordada por um estranho barulho e apavorada com a idéia de ter alguém em seu quarto. A voz gutural, um cheiro de roupa suja... uma mão pesada tapava a sua boca, enquanto a outra arrancava de seu corpo a delicada blusa de dormir. Ela lutara como um demônio, batendo com os pés e as mãos. Nove anos se passaram desde aquela noite assustadora. Fizera terapia, técnicas policiais e aprendera técnicas de combate. Sua determinação em ser uma sobrevivente e não uma vítima fez com que sentisse uma necessidade quase obcecada por medidas de segurança, desconfiança nos homens... e um legado de pesadelos, - Assaltada, mas não estuprada - Tina observou. Embora tivesse chegado perto de acontecer. Muito perto. Ele a machucou, quebrou seu braço, fraturou três de suas costelas. - Você foi hospitalizada. Então ele tivera acesso ao relatório médico. - Você também desenterrou uma multa por excesso de velocidade, umas violações de estacionamento. - Ela parecia um trem-bala, incapaz de parar. - Investigou se minhas contas são pagas em dia? O olhar fixo de Nic era enervante, enquanto o silêncio ficava cada vez mais longo entre eles. - Estou sugerindo um casamento apenas no papel - Nic propôs. - Uma mentira? Quartos separados, vidas separadas? - Uma parceria mutuamente conveniente. - Isso não é levar o dever familiar um pouco longe demais? - Vasili gostaria que seu filho fosse bem cuidado... para legitimamente carregar o nome Leandros. Posso, pelo menos, fazer isso por ele? - Indiferente aos meus desejos? -Você será recompensada. Casas aqui e fora do país, viagens frequentes, jóias e uma pensão extremamente generosa. - Pela qual eu deveria ser muito agradecida? Se olhar pudesse matar, ele cairia morto. - E você? - Tina inquiriu. - O que você ganha com esse casamento? - Uma esposa, um herdeiro Leandros legítimo. - Ele esperou um pouco. - E uma mulher muito teimosa fora da minha vida. - Eu duvido muito que você precise de proteção de quem quer que seja. Especialmente de uma mulher! E continuou: - Imagino que você espere que sua esposa faça vista grossa a uma amante discretamente instalada em algum apartamento? Ou seu gosto passa por pessoas do mesmo sexo? Ela vislumbrou algo de rancoroso nas profundezas daqueles olhos negros, que depois sumiu. - Acabou? - E minhas necessidades? O olhar dele prendeu-se ao dela e ela não pôde desviá-lo. - Tudo o que tem de fazer é perguntar. Ela suspendeu a mão em direção ao rosto de Nic. Mas não a encostou nele. Nic aproveitou o impulso dela para puxá-la para seus braços e silenciou-a com um beijo que lhe tirou os sentidos. Ela foi invadida por sensações ardentes, uma devastadora tentativa de suprimir sua vontade. Quando ele a soltou, ela mal podia ficar de pé. Era impossível ignorá-lo, pois ele estava lá enquanto ela abria a porta de seu Volkswagen. - Amanhã. - Nic curvou-se e ela entrou no carro. - Vá para o inferno. - Feroz, irritada, palavras idiotas, ela compreendeu enquanto esquentava o motor e dirigia o carro em direção à saída em uma velocidade acima do limite permitido. Nic Leandros era o homem mais insuportável que ela já havia conhecido. Uma buzina aguda assustou-a e ela praguejou contra si mesma por não ter notado que o sinal de trânsito mudara de vermelho para verde. Ela esforçava-se para tirar Nic Lendros de sua mente. O que não funcionou. Ainda podia sentir a pressão da boca de Nic na sua, o gosto dele. Nic Leandros estava simplesmente colocando em prática seu poder de dominação masculina em uma tentativa de calar o discurso inflamado de Tina. Tina dormiu muito mal e acordou sentindo-se como se tivesse corrido uma maratona e seu estômago, definitivamente, parecia não lhe pertencer. Chá e torrada. A tentação de enterrar a cabeça debaixo do travesseiro e mandar o mundo sumir era a melhor de todas. Mas isso não ia acontecer. Havia o trabalho... e, em algum momento, ela teria j de encarar Nic Leandros. Que horas eram? Ela checou o relógio e suspirou. Uma hora antes do café ser servido. Ok, então ela podia preparar o chá e provavelmente tinha um pacote de biscoitos no minibar. O jornal do dia já devia estar do lado de fora da porta... Dez minutos depois, ela largou o jornal, tomou um banho rápido e vestiu-se. Tomou um café-da-manhã saudável, pôs a suíte em ordem e deu uma olhada na hora. Era cedo, mas a necessidade de manter-se ocupada fez com que pensasse no trabalho. Melhor estar na butique do que ficar sentada sem fazer nada em um quarto de hotel. Durante a manhã, o movimento tende a ser mais calmo, poucos clientes aparecem antes das dez, quando Lily chegava para o dia de trabalho. Resolvida, Tina pegou seu laptop, a bolsa e desceu para apanhar o carro. Double Bay ficava a alguns quilômetros de distância. Ela estacionou, ativou o alarme e seguiu para a entrada da loja. Tina orgulhava-se da butique e de sua elegante sala de recepção. Sentia necessidade de estar em ambiente familiar, ela admitiu enquanto atravessava o salão da butique. Pensar e racionalizar a proposta de Nic Leandros. Ela não pensara em filhos, definitivamente não considerara casamento. Foi por esse motivo que ela socializava-se apenas com uns poucos e confiáveis amigos. Vasili costumava brincar que enquanto ele a protegia dos predadores masculinos, ela o protegia de caçadoras de fortuna. Uma relação mutuamente satisfatória. Pelo menos, fora até a noite fatal em que um beijo amigável levou a muito mais coisas. Um Vasili afetuoso, preocupado, que sugerira que já estava na hora de ela finalmente ter intimidade sexual com um amigo por quem ela sentia carinho e confiança. Mais o efeito do vinho... Irônico é que este ato resultaria em uma gravidez. Ainda que ela quisesse aquela criança... um presente inesperado da memória de um homem carinhoso e alegre. Ela estava certa de manter a criança exclusivamente para si. Se Vasili estivesse vivo, eles compartilhariam a paternidade e a criança assumiria o nome dos Leandros. Então, por que ela recusava isso diante da proposta de Nic Leandros? Porque o meio-irmão de Vasili era um homem desconhecido. Apesar disso, tinha de reconhecer que existiam algumas vantagens. A criança teria uma referência masculina, o direito legal de herança, avós, família. Um ambiente estável e cheio de carinho onde crescer. Em sua opinião pessoal, gostaria de um companheiro estável, em quem pudesse confiar. Outra questão era o fato de Nic viajar demais a trabalho. Durante a maior parte do tempo, ele não estaria na mesma cidade, no mesmo país. Tina tinha uma paixão natural por roupas e, até onde podia se lembrar, já tinha feito de tudo. Começou misturando e combinando apetrechos quando vestia suas bonecas e, na adolescência, ajudara na butique de sua mãe, provando que tinha um olho aguçado para moda. Ela não tinha dúvidas em relação a que carreira seguir. Aprendera sobre o mercado de confecção em todos os detalhes, inicialmente pela instrução perita de sua mãe e, depois, em uma das grandes lojas de Sydney por três anos antes de voltar para co-administrar a butique de sua mãe em Double Bay. Até cinco anos atrás, quando Claire conhecera e casara com Felipe, o segundo amor de sua vida, e mudara-se para Noosa, deixando Tina no controle. Lily chegou eufórica na butique, pontualmente às dez e, quando viu que Tina acabava de atender um cliente que comprara tudo o que estava exposto na vitrine, mudou seu comportamento. Um jornal dobrado foi colocado em cima do balcão central de vidro. - Você viu isso? - Lily inquiriu em voz baixa. Tina olhou de relance para a foto do jornal e ficou sem ar. Havia, estrategicamente centralizada na página, uma foto tirada na noite anterior no restaurante, com o texto em negrito especulando a data do futuro casamento de Nic Leandros com Tina Matheson. - Como você pôde guardar isso só para você? - Lily provocou. - Me dá aqui. Acreditar nisso era difícil até mesmo para uma amiga. - Isso representa uma má interpretação grosseira da mídia, iniciada por um homem manipulador e determinado - Tina argumentou e encontrou o olhar especulativo de Lily. - Isso é tudo o que você tem para dizer? - Pelo momento, sim. A campainha causou uma interrupção temporária e ela virou-se e viu o entregador dos correios que eslava com uma encomenda na mão. - Onde você quer que eu coloque isso? - Lá atrás. Minutos depois, o entregador partiu e Tina foi oferecer ajuda a duas mulheres que olhavam as roupas. Outra venda, seguida rapidamente por outra; uma manhã produtiva. - Ah, Deus. O tom abafado da voz de Lily fez com que Tina olhasse em sua direção. - O que foi? - O homem do olhar penetrante vai entrar na loja. Homem? Um marido atraente querendo comprar um presente caro para sua mulher. Tina deduziu. -Vai lá. - Adoraria. A entonação da voz de Lily provocou um leve sorriso. Lily era tão amiga quanto funcionária estimada e se considerava uma conhecedora de homens. - De qualquer modo, ele é seu. Tina virou-se rapidamente em direção à entrada do salão da loja e ficou sem ar quando reconheceu o homem que conversava com Lily. - Nic Leandros... aqui? Se ele pensou que ela fosse até ele e brincar de teatrinho, era melhor pensar de novo. Com uma calma apenas superficial, Tina tirou o último traje da caixa, colocou o cabide com habilidade na roupa e colocou-a em uma arara para que tomasse ar por um tempo. Ela estava ciente da música de fundo que saía por uma das caixas de som estrategicamente colocadas, criando um ambiente relaxado que era refletido na elegante combinação de uma delicada mistura de creme, cor de trigo e bege utilizada na mobília. Um cenário luxuoso para exibir a coleção exclusiva de roupas estilizadas pelas quais a butique era conhecida. - Tina. Era uma voz que reconheceria em qualquer lugar. Era também uma que ela não queria ouvir. No entanto, as boas maneiras a forçaram a vestir uma máscara educada quando se virou para encarar Nic Leandros. O olhar dela era desafiador. - Posso ajudá-lo em alguma coisa? - Tranquila... ela podia ficar tranquila, apesar de seu sistema nervoso estar em conflito direto. Era loucura que só de olhar para aquela boca sensual e bem desenhada ela se lembrasse claramente de como se sentiu quando a boca se Nic possuiu a dela. - Almoço. - Nic informou-a com uma falsa calma. - Sua assistente está feliz por ficar no comando por uma hora. Ele era realmente uma piada! - Já tenho planos. - Não tinha, mas ele não precisava saber disso. - Mude-os. - Por que eu deveria fazer isso? - Nós podemos discutir sobre os preparativos aqui ou durante o almoço. A escolha é sua. A campainha soou, sinalizando a chegada de um cliente. - Esse não é o momento e nem o lugar certo. Tina protestou, odiando-o por tê-la colocado em uma posição desagradável. - Dê-me cinco minutos. Ela fez em quatro. Falou rápido com Lily, saiu da butique na frente dele e esperou até que alcançassem a calçada para perguntar: - O que você quer? Tina manteve a voz baixa, mas sua raiva reprimida ora perceptível. - Continuar nossa conversa. Você foi embora de repente. Ela decidiu ignorar seu tom de voz severo. - Você está me dando uma escolha? Pela rua havia alguns cafés e restaurantes da moda e Nic indicou um que havia ali perto. Ela queria voltar, mas ele provavelmente a seguiria. Em segundos, ele chamou atenção do garçom, solicitou uma mesa e esperou até que estivessem sentados para falar. - É bem provável que a mídia entre em contato com você esta tarde. Tina não conseguiu disfarçar o cinismo. - E para isso eu preciso de você? O olhar de Nic estava fixo nela. - A respeito da minha declaração anunciando nosso futuro casamento. Uma garçonete veio até a mesa com um bloco e uma caneta e Nic fez o pedido para dois. - Talvez eu não queira César salad. - Tina declarou. - Você simplesmente não odeia quando um homem pensa que conhece a mente de uma mulher? A garçonete, que sem dúvida alguma testemunhou o comportamento de inúmeros clientes durante seu tempo de trabalho, olhou para Tina como se duvidasse de sua sanidade. Que mulher não daria a vida para ter um homem como Nic Leandros parecendo estar tão... sob controle? Droga. Ela gostava de César salad. - Peça a minha com espinafre e um fetta tortellini com molho de champignon e bacon. Tina olhou para os olhos entreabertos de Nic. - A gente pode ficar discutindo isso para sempre. Ela queria atingi-lo... ou, se isso falhasse, continuar a batalha verbal durante horas sem chegarem a um acordo. - Me dê um bom motivo pelo qual eu deveria concordar em casar com você, a não ser por estar grávida do filho de Vasili? Ele observou-a pensativamente. - Proteção - ele lhe assegurou. - Lealdade, confiança - ele endossou com calma. Sem amor ou fidelidade. Caia na real, uma voz debochada soou na mente de Tina. Nem amor nem fidelidade entram no jogo. Nem você os quer. Então por que entrar nessa? -E a criança? Você pretende assumi-la como sua? - Imagine que eu fosse o pai biológico da criança... - Sim. - Eu vou curtir a gravidez de minha esposa e entrar com o processo de adoção imediatamente depois do nascimento. Ele assegurava-lhe de que todas providências legais seriam tomadas. - Você fugiu à pergunta. - A criança nascerá um legítimo Leandros, com dois pais. Ninguém, a não ser Paul e Stacey, precisa saber dos detalhes pessoais. - E Claire. - Meu Deus, ainda tinha de contar sobre a gravidez a sua mãe. Ela olhou-o de cima a baixo. - Não vou esconder a verdade dela. - Eu não ia lhe pedir isso. Havia outras condições que ela precisava expor. - A butique de Claire é de minha responsabilidade. E não espere que eu largue o trabalho para me tornar uma socialite fútil. - Sem objeções, mas com uma restrição. A não ser que os médicos digam o contrário. Ela queria discutir. Os olhos ficaram ainda mais verdes. Algo que o fascinava. Ela era uma complexa mistura de fogo e gelo, força e vulnerabilidade. - Eu quero um acordo pré-nupcial protegendo meus interesses. Era aquilo que ele pretendia, certamente. - Mais alguma coisa? - E se um de nós pedir o divórcio? - Eu duvido que isso aconteça. - Mas e se isso acontecer? - Esteja certa de que eu brigaria com você na Justiça para obter a custódia total da criança. - Você nunca conseguiria - disse com firmeza. - A Justiça sempre favorece a mãe, especialmente quando o pai não é nem mesmo o pai biológico. - Você duvida da minha habilidade em reverter o caso contra você? Tina sentiu um frio na espinha. Nic Leandros tinha dinheiro e poder a seu favor. O suficiente para contratar os melhores advogados do país. - Não - ela disse sem querer. - Mas não subestime minha determinação em enfrentá-lo. Bravas palavras de uma brava mulher. Ele pegou seus talheres e indicou-lhe que fizesse o mesmo. - Vamos começar? O tortellini parecia delicioso, mas o apetite de Tina tinhaido embora. Em vez disso, olhou com inveja paia a alface crocante na tigela de Nic, os crotons e as iscas de frango, o molho saboroso... e percebeu nele um sutil sorriso de canto de boca. Sem uma palavra, ele sinalizou para a garçonete, pediu outra César salad de frango e olhou para Tina com calma. - O que você acha que está fazendo? O olhar dela intensificou-se. - Quero ter certeza de que tenha aquilo que prefere comer. - E você sabe disso por quê? Ele levantou a sobrancelha, - Devo esperar por um campo de batalha cada vez que comermos juntos? - Conte com isso se você pretender passar por cima de todas as escolhas que eu fizer! No entanto, quando a César salad chegou, estava tentadora demais para que pudesse resistir e Tina comeu em silêncio, enquanto ignorava o homem sentado a sua frente. - Sem conversa educada? - Estava tentando evitar uma indigestão. A leve risada dele surpreendeu-a e seus olhos abriram-se pouco a pouco quando viu uma centelha de humor naqueles olhos escuros. - Nosso relacionamento será bem interessante. Aquela observação afetou seu equilíbrio, e ela lutou para mantê-lo. - Uma condição ainda tenho de concordar. - Mas ira. - Como você tem tanta certeza disso? - Porque no seu coração você sabe que Vasili veria a nossa ligação como uma solução ideal. Ela não podia negar que Nic estava certo. - Junto com sua certeza, gostaria de pensar sobre essa alternativa. Ele levou algum tempo para responder: - Certamente. Tina quis atirar alguma coisa nele, e quase o fez. - Não gosto de ameaças. - Acredite que isso é a constatação de um fato. A certeza na voz dele era uma lembrança vívida de que ela não teria chance contra o dinheiro e a influência da família Leandros. Esse... casamento, Tina qualificou, era simplesmente um acordo de negócios, com vantagens para ela e para a criança, que certamente merecia uma educação estável..., ao contrário de ser um cabo-de-guerra em uma briga pela custódia. Ela não quis dar-se por vencida. Especialmente com aquele homem, cuja presença poderosa perturbava-a mais do que era capaz de admitir. No entanto, entre os ricos, um casamento baseado na conveniência mútua não era tão incomum. Forjava uma paternidade legal, construía dinheiro e providenciava herdeiros. Um acordo vantajoso, legalmente documentado e limites claramente definidos. - Quero tudo por escrito. Sujeito ao exame e à aprovação do meu advogado. Nic concordou com ela, tirou algumas notas da carteira e jogou-as em cima da mesa. Os documentos serão entregues a você mais tarde pelo correio. Uma cópia de cada será mandada para seu advogado. Qual é o nome dele? Depois de dar o nome, Tina ficou apreensiva. Um presságio? Não seja ridícula, zombou de si mesma enquanto saía do restaurante. Isso não é pessoal... é negócio. Ela parou ao chegar na calçada. - Ficamos em contato. Depois virou-se e afastou-se dele sem nada além de um breve olhar para trás. Tranquilidade superficial, pois por dentro seus nervos estavam quase em frangalhos. Lily mal pôde conter sua curiosidade quando Tina entrou na butique. - Detalhes - Lily implorou, indo direto ao assunto. A verdade não era uma opção. Assim sendo, foi ambígua. - Ainda estamos pensando. Uma ligação de seu advogado algumas horas depois insistindo em uma conversa pessoal no final do dia não a surpreendeu. Nem mesmo, enquanto sentava na frente dele, um conselho para que se prevenisse. Entretanto, ele concordou que cada uma de suas preocupações fosse tratada como negócio. Tina assinou e sua assinatura foi devidamente testemunhada. Ela foi embora, ansiosa para tomar um pouco de ar fresco, certa de que tinha acabado de selar seu destino. Uma hora depois, seu celular tocou. Era Nic Leandros na linha. - Acertei uma cerimônia íntima no fim de semana, na minha casa, apenas para a família. Qualquer especulação da mídia, reporte-a a mim. O coração dela quase pulou na garganta. - Tão cedo? - Por que demorar? Ela fechou os olhos, depois os abriu de novo. Porque eu não estou pronta para isso. Mas era de se duvidar que algum dia estaria pronta. CAPÍTULO TRÊS Os dias seguintes foram super agitados. Tina lidava com tudo o que precisava ser feito. Antes, teve de fazer uma longa ligação para sua mãe, para explicar e convidá-la para o casamento. O trabalho se transformou em uma distração muito bem-vinda à medida que respondia as perguntas da mídia, examinava e assinava documentos e ainda esforçava-se pra escolher algo apropriado para vestir no dia. Um dia que chegou rápido demais para sua paz de espírito e que começou com um café-da-manhã com Claire e Felipe no hotel em que estavam. Seguido, devido à insistência de sua mãe, de uma sessão de mimos: massagem, tratamento facial e capilar... toda a preparação, enfim. Uma demonstração de carinho dada com a intenção de ajudá-la a relaxar e espairecer. Depois, voltaram para a suíte do hotel de Claire e Felipe para se vestirem e dali partirem para a casa de Nic em Rose Bay. Tina escolhera um vestido de seda marfim com um lindo corpete trabalhado e um sonho de saia com tiras de chiffon drapeado. Havia uma mini jaqueta cor de marfim que combinava com o resto da roupa. Um casamento simples e íntimo para a família envolvendo Stacey e Paul Leandros, Claire e Felipe, o celebrante, a noiva e o noivo no estúdio da elegante casa de Nic em Rose Bay. Um cenário que acrescentou formalidade à ocasião no momento em que Tina estava ao lado de Nic. A grande aliança de diamante incrustado parecia estranha em seu dedo, e Tina escondeu a surpresa quando Nic apresentou-lhe uma aliança de ouro para que ela colocasse no dedo dele. De alguma forma, parecia um gesto inesperado, dada a natureza da união entre os dois. Da mesma maneira que o roçar dos lábios dele na bochecha dela... até que Tina percebeu o flash da câmera e entendeu que tanto Stacey quanto Claire tiravam fotos. Depois teve champanhe, que ela recusou. Bebericou algo mais leve, sentada ao lado do homem alto e bem vestido que agora era seu marido. Era tarde demais para segundos pensamentos e Deus sabia que ela tinha vários! Um deles era: onde estava sua sanidade quando concordou em se tornar Tina Leandros. O jogo já havia começado. Assim como, observou, jogavam todos que estavam ali naquela sala elegante. Nic, porque atingiu seu objetivo. Stacey e Paul, porque agora o filho do filho deles se tornaria um legítimo membro da família Leandros. Claire, porque amava sua filha e queria que ela tivesse uma relação baseada no zelo. Claire, a eterna otimista, que sem dúvida alguma nutria a esperança de que o zelo se tornaria carinho e depois amor. Como se isso fosse acontecer! - Vamos?- Nic sugeriu com delicadeza e ouviu murmúrios de consentimento. Jantar em um restaurante seleto da cidade onde a farsa continuaria. No entanto, isso era uma farsa? Claire e Stacey pareciam ter feito amizade e Felipe parecia sentir-se confortável na companhia de Nic e Paul. Mais tarde, pôde perceber que a noite fora agradável. O cenário e a comida eram ótimos, assim como o serviço. Nic herdara os genes de seu pai, os dois tinham a mesma altura e os mesmos ombros largos. Havia um companheirismo entre eles, uma igualdade e um respeito evidentes. Visível também era o amor que Paul tinha pela esposa. Era perceptível na forma como sorria, no suave toque de sua mão na dela, no brilho de seus olhos. Para um observador, aquela cena parecia o encontro de três casais muito amigos. Isso simplesmente provava que as aparências enganam, pois quem desconfiaria que a noiva e o noivo mal se conheciam ou que até aquela noite os pais nunca haviam se encontrado? Já era tarde quando saíram do restaurante, despediram-se carinhosamente e seguiram seus caminhos. Nic abriu o Lexus, viu Tina sentar-se e deu a volta para entrar no carro. Em segundos dava a partida. - Nada a dizer? Tina observou seu perfil. Na semi-escuridão do carro, os traços de seu rosto se desfiguravam. - Não consigo falar mais nada. - Foi tão ruim assim? Ruim não funcionava nesse caso, pois a noite havia sido superficialmente agradável. Exceto por estar completamente ciente dos segredos bem guardados associados ao casamento e a sua celebração. - Estava tudo absolutamente fabuloso. - Ela mudou o foco de sua atenção para a cena a sua frente e fixou-se na rua bem iluminada e nos carros que passavam. - Definitivamente exagerada. A voz dele tinha um toque de humor ou era apenas a imaginação dela? A ansiedade, as dúvidas e as noites de insônia fizeram com que fosse quase impossível manter os olhos abertos, e depois de alguns minutos ela desistiu. Tina ajeitou-se em uma posição mais confortável... e então caiu em um sono profundo. Quando ela acordou, a luz do sol atravessava as venezianas de madeira e por alguns segundos ela não fez idéia de onde estava. Depois a memória voltou junto com a consciência de que estava na suíte onde Nic a acomodara, em uma ala no andar de cima da casa dele. O primeiro choque foi quando viu que horas eram... o outro foi quando percebeu que estava despojada de suas roupas, com exceção do sutiã, calcinhas, meias-calças e a saia de baixo. Droga, ele deve tê-la carregado para dentro e a colocado na cama. Ótimo. Quanta privacidade! Banho, vestir-se, comer alguma coisa e ela estaria do lado de fora, indo para Double Bay... em menos de uma hora. Melhor seria se não encontrasse Nic Leandros. Mas não teve essa sorte. Ela o encontrou na cozinha, servindo o que provavelmente era seu segundo café-da-manhã. - Dormiu bem? Ninguém tinha o direito de parecer tão bem àquela hora da manhã. Recém-barbeado, cabelos penteados, calças pretas, blusa azul e gravata azul-escuro, paletó dobrado no encosto de uma cadeira: Nic projetava uma aura de poder invejável. Tina olhou para ele como se quisesse contar algo. - Você devia ter me acordado a noite passada em vez de me colocar na cama. - Acha que não tentei? - Não o suficiente. Ela não se mexera nem mesmo uma vez... quando ele a tirou do carro, carregou-a para cima, nem mesmo quando a deitou na cama e tirou-lhe os sapatos e as roupas. Cansaço relacionado à gravidez? Ele apontou para o bule. - Café? O aroma provocou seus sentidos, fazendo-a imaginar como seria seu sabor. Ela balançou a cabeça. - Não pode ter cafeína. - Tem várias marcas de chá na despensa. - Ele fez um sinal indicando o local. - Pegue o que quiser para comer. - Não tenho tempo. Nota para si mesma: descobrir onde tem um despertador, ou comprar um. - Arrume tempo. Tina revirou os olhos. -Vou comer umas frutas e iogurte antes de abrir a butique. - Faça isso. Despediu-se com deboche. - Sim, senhor. Engraçadinha... definitivamente engraçadinha. Nic tomou seu café, vestiu o paletó e pegou o laptop. - Vou passar o dia inteiro em Melbourne. Não me espere para o jantar. Ele apontou para um molho de chaves e dois controles remotos em cima da mesa. - Seus. Os códigos de segurança para a casa, garagem e portões. O celular tocou, ele checou o identificador de chamadas e rejeitou a ligação. - Tenho uma equipe para cuidar da casa e dos jardins. - Virou-se para a porta. - Tenha um bom dia. Tina o observou indo embora, respirou fundo e sentiu-se um pouco aliviada. Casada em um dia e lançada abruptamente à realidade no outro. O que você esperava? Nada, absolutamente nada. Uma olhada no relógio a fez entrar em ação e cinco minutos depois estava no carro, pegando a rua que ia dar na estrada principal. O tráfego àquela hora era intenso e, embora Double Bay ficasse a apenas dois bairros dali, só chegou à butique depois das nove. Comida e chá quente eram as prioridades. Havia iogurte, algumas maçãs e bananas no frigobar, e Tina fez uma refeição saudável. Lily chegou cedo, o que era bom, para um dia que começou muito movimentado. Um interesse verdadeiro por roupas ou simplesmente uma oportunidade de inspecionar a agora esposa de Nic Leandros? De alguma maneira Tina suspeitava que era a segunda alternativa. - Você vai me contar ou terei de arrancar os detalhes de você? - O casamento? - Amei a aliança... no estilo "nossa"! Lily deu um sorriso malicioso, depois acrescentou com seriedade: - Quero todos os detalhes. - Um conjunto marfim Armani, saltos de matar. O celebrante, os pais de Nic, os meus. Jantar na cidade. - Só isso? - Basicamente. - E? - Não existe "e". - Nic Leandros é um homem extremamente sexy. Sexy de sobra, Tina concordou para si mesma, aliviada com o som da campainha da porta, - Nós não acabamos - Lily advertiu-a em voz baixa enquanto ia em direção à porta cumprimentar as duas mulheres elegantes que entravam na butique. No fim do dia, tudo o que Tina queria era um banho, jantar e dormir cedo. - O que foi aquilo? - Lily perguntou enquanto as duas andavam em direção a seus carros. - Um dia na vida da esposa de Nic Leandros? - Arranja uma dessas para você. - O que foi, Tina? - Não sei o que você quer dizer com isso. - Ah, sabe, sim - disse Lily com delicadeza. - É... estou aqui se precisar. Meu Deus, Ela teria de melhorar sua interpretação caso Lily percebesse que nem tudo era o que parecia ser! - Obrigada. Estou bem. De verdade - disse Tina sorrindo. E "corta", disse um diretor invisível. Não exagere. - Uh-hum. A verdade era mais estranha que a ficção e ela não tinha intenção de divulgá-la, embora Lily fosse uma amiga, perspicaz, intuitiva e preocupada. - Tem sido uma semana emocionalmente confusa. Nic... - Ela quase acrescentou Leandros. - Apaixonada? - O sorriso de Lily era conta-giante. - Sim. - Sorriu. - E agora tenho de ir para casa e interpretar a esposa. - Como se fosse um sofrimento? Era um jogo, justificou Tina enquanto manobrava o carro. Tudo o que tinha de fazer era manter o fingimento. O quão difícil podia ser? A casa de Nic Leandros ficava em uma tranquila rua arborizada com mansões de vários estilos e idades. Tina ativou o controle e a porta da garagem abriu revelando um Porsche SUV estacionado em uma vaga. Ela estacionou seu carro ao lado. Uma nova aquisição? Devia ser, pensou entrando em casa. Pisos de mármore Travertino, escada caracol, uma requintada iluminação, mobília elegante, cómodos espaçosos... Havia um lounge e sala de jantar mais uma copa, cozinha e área de serviço no térreo. Cinco quartos, todos com banheiro, mais uma suíte principal, um grande escritório e uma sala de estar no andar de cima. Era agradável poder explorar a casa sozinha. No dia anterior não tivera oportunidade. Todas as suas roupas foram arrumadas no armário, dobradas nas gavetas, as malas provavelmente guardadas em outro lugar. Depois de um dia cheio e de uma semana confusa, isso foi uma surpresa bern-vinda. Sem dúvida, devido à ajuda da empregada invisível. Tomar um banho e trocar de roupa fizeram com que ela se sentisse quase humana de novo... e com fome, percebeu quando estava descendo para a cozinha. Um recado escrito à mão assinado por Maria estava afixado na porta da geladeira avisando que tinha comida pronta para ser aquecida. Tina tirou uma porção, esquentou e decidiu ir comer no terraço. A noite estava clara. Nas ruas distantes, as luzes começavam a surgir e a temperatura estava amena, tornando as cintilantes águas da enseada um cinza metálico escuro. Havia barcas cruzando em direção a Manly, carregando trabalhadores para a costa norte. A noite caiu e Tina recolheu seu prato e voltou para dentro, trancando a porta. As vendas do dia da butique foram gravadas em um disquete pronto para que se pudesse conferir o estoque. Uma mesa em seu quarto seria ideal, acesso à Internet também. O escritório de Nic? Não seria uma boa opção sem a permissão dele. Por enquanto, a mesa da sala de jantar serviria. Tina ainda estava lá quando Nic entrou na sala. Ele franziu os olhos ao perceber o susto evidente antes de ela conseguir disfarçar a expressão. - Vou mandar colocar uma chamada-alarme no seu celular assim que eu chegar perto do portão. - Por quê? - ela conseguiu dizer com firmeza. Foram anos de prática para recuperar a sua defesa tão rápido. - Você tem o melhor sistema de segurança. Duvido que qualquer pessoa entre em sua casa sem ser detectado. Mas você pisa como um gato - ela observou e tentou fazer uma brincadeira. - Então, da próxima vez, assovie. Ele deu um sorriso de canto de boca com a implicância. Ela tinha algo de especial - Dia cheio? - Nic perguntou. - Conversa educada? Nic lançou-lhe um olhar de investigação. - Uma simples pergunta. - A butique estava lotada de curiosos empenhados em uma missão de descoberta. Ele afrouxou a gravata e tirou o paletó. - E isso a incomoda? - Sydney era a área de Vasili - ela explicou-se. - Agora se tornou minha. As pessoas especulariam por que ela tinha morado com um irmão, mas se casado com outro? Um fato que já estava começando a despertar interesse. Então... ela lidaria com isso. - Como foi seu vôo? Nic serviu-se de café, açúcar e aproximou-se de Tina. - Tranquilo. Tina ficou perturbada com a proximidade de Nic. A colônia que usava era sutil, mas mexia com seus sentidos. Sensualidade gritante e crueldade eram uma mistura potente. Dotado de um corpo musculoso, um rosto esculpido... o resultado era dinamite. Como ele seria como amante? Deus... de onde veio esse pensamento? Ela não poderia querer descobrir, certamente? Apenas o pensamento já beirava à insanidade. Hormônios, concluiu Tina. Tinha de ser. Qualquer outra coisa seria loucura. Rapidamente, Tina desviou a atenção para o laptop. - Estou quase acabando. - Quanto antes melhor, e então poderia escapar para sua suíte. - Tem comida na geladeira, cortesia da Maria, se você ainda não comeu. Ela salvou o arquivo, fechou o laptop e pôs-se de pé. - Aceitei um convite para jantar com uns amigos da minha família na quinta-feira à noite. Naturalmente, você vai me acompanhar. Ela quis recusar e quase o fez. No entanto, não tinha outra opção a não ser aceitar. - É óbvio - disse ele. Ela era assim tão transparente? Sem uma palavra sequer, pegou o laptop e saiu da sala, alheia expressão especulativa nos olhos escuros do homem que a observava ir. Surpreendentemente, o sono veio dentro de minutos depois de deitar debaixo dos cobertores. Acordou com o som de seu mais novo despertador, levantou, tomou banho e vestiu-se. Ao ir para a cozinha, descobriu que estava vazia e que Nic já havia saído para o trabalho. Um dia igualmente agitado como o anterior, com boas vendas de acessórios... mulheres prontas a comprar como justificativa para conferir a nova esposa, única herdeira de Nic Leandros. Não se irrite com isso, avisou uma sábia voz interior. Apenas sorria e agradeça-lhes por serem clientes. Assim que saiu da butique, Tina recebeu uma mensagem no celular. Jantar de negócios. Tarde em casa. Nic. O que ela esperava? Companhia? Conversar? Nic Leandros levava uma vida de negócios intensa... Ainda mais agora que tomara o controle do escritório de Sydney. Não ficara feliz em saber que no dia-a-dia raramente o veria? Então, que ar de decepção era aquele? Controle-se. Vivera sozinha durante anos e gostava de ficar sozinha, assim como da possibilidade de escolher como e com quem se socializar. Havia a butique, sua paixão por roupas, o constante empenho para continuar seguindo os passos de Claire e manter uma das butiques de roupas que mais vendiam em Double Bay Ela estava proporcionando a seu filho dois pais e um futuro brilhante. O que mais ela podia querer? CAPÍTULO QUATRO Escolher o que vestir levou muito tempo - Tina selecionava e descartava roupas aleatoriamente. Amigos de família indicavam a necessidade de um traje casual. No entanto, se fazem parte do alto escalão da sociedade, estar vestida para matar seria mais apropriado. Ela optou por usar um vestido preto clássico, ajustado à silhueta com um decote cavado e mangas três-quartos. Nos pés, sapatos de couro de salto agulha. Maquiagem básica com ênfase nos olhos e brilho cor-de-rosa iluminando os lábios. Brincos de diamante em forma de gota completavam o visual. Nic estava esperando na entrada do foyer, a figura alta de ombros largos vestida em um esplêndido terno preto feito sob medida, camisa branca de algodão e gravata de seda. Ele estava... incrível. Um animal sexual em brasa. - Por que o sorrisinho? - Nossa primeira incursão na selva social. - Isso a aborrece? O que me incomoda é estar fingindo junto com você, ela pensou. Com Vasili era um jogo. Divertido. Nic era um animal diferente e totalmente imprevisível. Ela caminhou a seu lado até o carro, sentou no banco da frente e, assim que Nic começou a dirigir, perguntou: - Existe alguma coisa que eu deva saber sobre as pessoas que vamos visitar? - Dimitri e Paul são amigos e sócios há anos. Assim como Stacey, Eleni é a segunda esposa de Dimitri. Ele tem um filho do primeiro casamento e uma filha com Eleni. O filho é casado e mora em Londres, a filha é solteira e vive em Nova York. Dimitri e Eleni dividem o tempo entre Londres, Nova York e Sydney. Voltaram de uma visita à filha semana passada. - Entendi. O que ela não entendeu foi o número de carros enfileirados na entrada da garagem de uma casa suntuo-sa em uma colina em Vaucluse. - Imaginei que fosse um jantar para quatro - disse Tina enquanto Nic estacionava o carro. - Dimitri não mencionou nada diferente. - É hora da festa. - Ela olhou-o fixamente. - Apenas explique-me as regras. Devo parecer pensativa e calada, ou devo olhar para você apaixonadamente? - Calada? - Como se eu estivesse pensando em um sexo extraordinário. O que as pessoas, obviamente, imaginam que nós temos feito. - Vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente, pode ser? - Confiante você, não? - Saltaram do carro. - Apenas lembre-se de que precisa de duas pessoas. Em minutos, foram recepcionados por um criado vestido impecavelmente e levados a um saguão, anunciados e quase imediatamente cercados por seus anfitriões, que os receberam com afeição. - Tina, que prazer - disse Eleni com um sorriso afetuoso. - Há tempos esperávamos que Nic arrumasse uma esposa. - Cordialmente, apontou para os outros convidados. - Uma pequena reunião de amigos queridos. - Suas feições adquiriram um ar de grande pesar. - Vasili, que tragédia. Ficamos arrasados quando recebemos a notícia. - Obrigado. Nic mostrou-se grato e Tina surpreendeu-se quando ele passou a mão pela cintura dela. Uma ação que simplesmente ilustrava uma imagem esperada. No entanto, tê-lo tão perto deixou-a desconcertada. Ele esta ciente disso? Esperava fervorosamente que não! Apresentações feitas, algumas desnecessárias, pois Tina já conhecia aquelas mulheres... elas que ilustravam as páginas das colunas sociais dos jornais da cidade com frequência. O interesse especulativo em torno da nova esposa de Nic Leandros era evidente. Ela podia perceber, quase sentir. Dois garçons ofereceram-lhes bebidas e hors d'ouvres, e Tina escondeu sua surpresa ao ver que Nic pegara duas taças de água mineral. - Solidariedade? - ela perguntou. - Claro. - Devo agradecer? - Sua voz tinha um tom provocador. - Tenho certeza de que vou pensar em um jeito. - Jantar no Ritz-Carlton? A risada suave de Nic a fez sentir um calafrio. Por que esse homem? Não fazia sentido. Ela mal o conhecia... o que gostava, o que não gostava, seus defeitos. - Um encontro? Tina sorriu. - Quando puder encaixá-lo em sua agenda lotada. - Nicos! Um homem jovial de meia-idade bateu nos ombros de Nic, enquanto sua esposa puxava Tina para outro lado em um movimento que pareceu ser orquestrado. - Eleni disse que você gerência uma butique em Double Bay. Minha filha se casará em breve. Você tem de me dar o endereço para passarmos lá. - Claro. Ela deu todos os detalhes com educação, reconhecendo a marca do estilista famoso que a mulher usava, os sapatos italianos feitos à mão, as jóias e o perfume extremamente caro. Os olhos treinados de Tina fizeram a matemática. Dinheiro sério... dinheiro muito sério. A maior parte não era gasta ali, mas em viagens de compras ao exterior, na própria loja do estilista, em Milão. - Temos de almoçar juntas. - Sim, temos. - Vasili... que fim trágico. Você o conhecia, claro? Você podia dizer isso. - Nós éramos bons amigos - disse Tina, certa de que a fofoca estava prestes a se espalhar. - Tão jovem. - Havia uma curiosidade evidente. - Um pouco impetuoso, talvez? Divertido, carinhoso, acreditava que a vida foi feita para ser vivida. Vasili nunca possuíra uma mente perspicaz e aguçada para os negócios. - Eu não achava. - Nic tem a vantagem da maturidade - veio a resposta confiante. E, portanto, a melhor escolha? Ela resistiu ao impulso de ranger os dentes. Qual era a porcentagem de mulheres que intencionalmente escolhiam um homem por causa de seu dinheiro, maturidade e posição social? No entanto, ela fizera isso. Embora escolher não fosse exatamente a melhor palavra! Espontaneamente, seus olhos percorreram o salão até encontrar os de Nic. Ele estava concentrado em uma conversa e ela observou-o por alguns segundos, notando a aparente força, a estrutura bem definida. Atenta, mesmo a distância, a seu físico impactante, a sua aura primitiva que conseguia emitir sem o menor esforço. Naquele momento, ele olhou na direção dela, como se tivesse sentido seu leve olhar observador, viu-o dizer algumas palavras e atravessar o salão a seu encontro. - Toula... vejo que você se "apossou" da minha esposa. Olhou para Tina com afeto, segurou sua mão e cruzou seus dedos com os dela. - Querida, tem alguém que quero que você conheça. -Nic olhou para a senhora. - Se nos der licença? Querida foi um pouco demais. Assim como foi exagerado segurar sua mão com aquela força. Ela tentou puxar a mão, mas ele pegou-a pelo punho, um movimento que a deixou momentaneamente sem palavras. Quase como um reflexo, ele levantou suas mãos unidas e roçou os lábios nos nós dos dedos dela. Apenas ela podia perceber a expressão naqueles olhos negros, testemunhar sua provocação... e algo que ela não conseguia definir. Uma simples ameaça ou uma provocação silenciosa? Bem, ela podia jogar o jogo... e jogá-lo bem. Ela não se tornou adepta a farsas? - Tenha cuidado, Nicos. - Ela abriu um sorriso, seus olhos cintilaram e sua voz ganhou um tom de leve provocação. - Você corre o risco de querer abraçar o mundo com as pernas. - Que pensamento genial. Está propondo um desafio? - Desde que esteja ciente de que ele acaba no instante em que passarmos pela porta. Nesse momento, o empregado de Eleni pediu a atenção dos convidados para anunciar que o jantar seria servido. - Uma trégua? - Não aposte nisso. A sala de jantar era enorme. A mesa estava posta com porcelana chinesa, copos de cristal lapidado, requintados talheres de prata e uma formidável decoração de flores. Cartões indicavam os lugares dos convidados à mesa, e Tina achou-se sentada ao lado de um jovem muito atraente de cujo nome não se lembrava. - Alex - ele lembrou-a. - Filho de Toula. Terrível ela, não? Tina deu um sorriso malicioso. - Sua mãe é encantadora. - Você é muito educada. - Um elogio? - Claro que sim. Se eu disser que você é linda, isso a ofenderá? Ele estava jogando com ela, provocando de um jeito que a fez lembrar-se de Vasili. - Você tem a intenção de ofender? - Claro que não. Ela sorriu. - Nesse caso... obrigada. - Você devia experimentar o Chardonnay - entusiasmou-se Alex. - Dimitri tem uma das melhores adegas de Vaucluse. - Eu não bebo. - Não sabe o que está perdendo. - Sei, sim! Começaram a servir a entrada e ela observou Nic encher seu copo com água. - Obrigada. - Você fez uma conquista - comentou Nic. - Ciúmes? - Devia estar? Ela deu um sorriso irônico. - Acho que um marido recente deve ser possessivo. Nic pegou um pedaço de comida de seu prato e colocou na boca de Tina. - Obrigada, querido. - É um prazer. Ele era bom, tão bom que Tina quase acreditava ser verdade. Mas era um jogo... que ela podia jogar tão bem quanto ele. Então qual era a diferença com seu irmão? - ela se perguntou. Vasili era amigo e confidente. Tão íntimo quanto um irmão em quem podia confiar. Ela conhecia a mente, os pensamentos dele quase tão bem quanto os próprios. Nic, por outro lado, era um enigma. À parte seus atributos físicos, havia algo sobre seus olhos - a profundidade deles - quase como se tivesse visto mais e soubesse das complexidades da mente humana. Uma qualidade rara e especial cobiçada por muitos e possuída por poucos. E como amante? Ela tinha a intuição de que ele sabia tudo. Onde tocar para levar uma mulher às nuvens...e pegá-la quando cair. Não é assim que o sexo deve ser? Duas pessoas em sintonia uma com a outra, compartilhando o que era unicamente deles. Entregar-se a pensamentos provocantes à mesa de jantar cheia de convidados não conduzia à lucidez. - Minha querida, conte-nos onde Nic pretende levá-la para a lua-de-mel. Essas palavras foram acompanhas de risadinhas femininas, e Tina respondeu com um leve sorriso: - Será difícil viajar agora. - Claro, mas em breve, certamente? Tina virou em direção a Nic. - Uma viagem às ilhas gregas seria agradável, querido. - Deixe-me surpreendê-la. - Que lindo. - Sua voz parecia um ronronar de gato e Tina tentou manter a expressão embevecida, enquanto Nic sorria e passava os dedos em seu rosto. O rubor na face de Tina não fazia parte do jogo e ela concentrou-se em terminar a comida. - Cansada? - Um pouco. - Iremos em breve. Eles despediram-se e em poucos minutos o Lexus percorria o caminho para Rose Bay. - Você conseguiu cativar todo mundo - disse Nic assim que entraram em casa. - Devo agradecê-lo por fazer o mesmo? Subiram as escadas juntos. - Imagino que tenha conquistado vários clientes novos? - Você acha? Amigos tendem a querer descontos maiores que o usual. - Havia um tom de cinismo que ela temperou com um leve sorriso. - Tenho uma política de descontos rígida. Sem exceções. Chegaram no andar de cima e Tina virou-se em direção à ala da casa onde ficava sua suíte. - Boa noite. - Você esqueceu uma coisa. - Do quê? - Isso. Ele inclinou-se e pressionou sua boca sobre a dela em uni breve beijo que a tirou do lugar. - Durma bem. Ele encaminhou-se para a outra ala, dirigindo-lhe um olhar por cima dos ombros. Tina ficou imóvel por um tempo. O que foi aquilo? Um gesto de saudação? Tentando analisar a agenda dele... se por acaso ele tivesse uma... ocupou sua mente até que o sono providenciasse a libertação. CAPÍTULO CINCO - Uau - disse Lily em voz baixa. - O que eu não daria para ser assim. Tina desviou o olhar da fatura e olhou para a jovem e deslumbrante mulher que estava na loja. Alta, cabelos pretos até a cintura, um rosto incrível, realmente belo, maquiagem requintada e vestida com alta-costura de vanguarda que poucas mulheres escapavam impune. - Atordoante- concordou Tina. Espécie da variedade felina selvagem. Uma mulher que poderia devorar um homem e depois cuspir os pedaços. - Sua ou minha? - Por favor - declarou Tina em voz baixa. - Fique à vontade. Lily era a consultora de moda perfeita, possuidora de um incrível conhecimento de tecidos, modelos, estilistas nacionais e internacionais. Ela também tinha um talento para combinar peças - como a posição de um lenço de seda podia transformar uma linda peça de roupa em algo espetacular. Tina estava atenta à voz da mulher, de ar um tanto arrogante, enquanto examinava e descartava uma peça depois de outra. Ela deu a Lily mais cinco minutos antes de socorrê-la. - Há algo em que possa ajudá-la? De perto a beleza da mulher era ainda mais ator-doante. - A lista de estilistas da vitrine menciona que você tem Giorgio Armani. Tina sabia que Lily já havia mostrado tudo o que elas tinham do estilista. - Nós temos uma coleção limitada. Isso é o que estamos oferecendo para o verão. Ela recebeu um olhar frio. - Sua loja provavelmente não pode oferecer uma coleção completa. Tina esforçou-se para não responder à altura - Nós suprimos as necessidades da nossa clientela e visamos ser apropriados ao cenário social de Sydney. - Hum. - A linda mulher menosprezou. - Isso - ela indicou o cabideiro com um gesto de desprezo - é inútil. Devo esperar até que esteja em Paris no mês que vem. - Você tem essa opção. Uma mão elegante apontou três pares de sapatos altos e bolsas que estavam dispostos em intervalos ao longo da parede. - Isso é tudo o que você tem? - Essas são apenas sugestões. - Eu esperava um serviço personalizado. - Se você quiser comprar alguma coisa, Lily terá prazer em ajudá-la com qualquer escolha que fizer. Os tranquilos olhos escuros "analisaram" o rosto de Tina, fixando-se momentaneamente em seus cabelos. - Você ficaria melhor se fizesse umas luzes no cabelo e o usasse solto. - É meu dia de usar cabelo escovado- respondeu sem perder a chance e recebeu de volta um olhar de piedade. Com um olhar de desdém, a mulher virou-se e andou languidamente até sair da butique. - Bem. - A voz de Lily era tão arrastada que dizia tudo. - Oh, sim, de sobra. O resto do dia foi como de costume, com um telefonema de Nic dizendo que chegaria tarde em casa. A idéia de voltar para uma casa enorme e vazia não pareceu muito atraente a Tina. - Com vontade de assistir um filme? - foi a sugestão perfeita e interessou a Lily. - DVD ou cinema? - Tela grande e jantar antes? - Perfeito. A que horas e onde? Ela deu o nome de um restaurante e a hora. Enviou uma mensagem para o celular de Nic quando chegou em casa para trocar o terninho por jeans e camiseta. Pizza e um refrigerante as satisfizeram perfeitamente e o filme foi pura diversão escapista, da qual elas saíram leves e tranquilas. - Quer ir a algum lugar para tomar um café? Lily levantou a sobrancelha, - Sem pressa para chegar em casa e encontrar aquele pedaço de marido? Naquele momento, o celular de Tina tocou e ela viu que era Nic na linha. - Estou saindo da cidade agora. - Lily e eu vamos tomar um café. - Diga-me onde e encontrarei vocês. Ela olhou para Lily e perguntou " onde" ? Ouviu a resposta de sua amiga e informou o lugar a Nic. - Estarei lá em dez minutos. O café ficava próximo de onde estavam. Logo depois que chegaram e fizeram seus pedidos dois jovens perguntaram se podiam sentar com elas. - Desculpe, mas estamos esperando alguém. - Ainda não estão aqui. Tina olhou de um para o outro. - Se isso é uma paquera, precisa melhorar. - Talvez você possa me ajudar. Foi difícil não rir. - Por que você não vai praticar com outra pessoa? - Uma ótima idéia. - Uma voz familiar e ela virou-se para ver Nic de pé, sua expressão educada, embora apenas um tolo ignoraria a ameaça silenciosa escondida naqueles olhos. Ele pousou a mão nos ombros dela e baixou a cabeça para beijar-lhe o rosto. - Problemas, querida? - Nada com que eu e Lily não possamos lidar. -Sentiu um arrepio na espinha e interiormente praguejou sua própria vulnerabilidade. E simplesmente uma atuação, nada mais. Pelo amor de Deus, ela não queria que isso fosse verdade... queria? Ir por esse caminho a levaria a uma loucura que não conseguiria aguentar. - Lily - Nic a cumprimentou enquanto sentava ao lado de Tina. Mais tarde, Tina mal se lembrava da conversa que tiveram, com exceção de que falara sobre o filme que elas tinham acabado de ver e pela divertida piada a respeito da difícil cliente do dia. - Ele é de morrer - disse Lily ao pé do ouvido de Tina quando a beijou para se despedirem. - Vejo você amanhã. Lily virou-se para Nic: - Obrigada pelo café. - Foi um prazer. Tina estava de pé ao lado de Nic quando acenou para Lily, que entrava em seu carro. - Onde você estacionou? Ela disse para ele e os dois andaram até onde o Volkswagen amarelo cintilante de Tina estava. - Eu estacionei na outra esquina -informou Nic. - Espere e eu a seguirei, - Por quê? - Apenas faça isso, Tina. - Você está sendo ridículo. Ele colocou o dedo no centro de sua boca. - Espere. - Sem mais palavras ele se virou e andou até a esquina. Ela entrou no carro, deu a partida e seguiu em direção a Rose Bay, sem se preocupar com a reação dele. Por anos dirigira para casa sozinha. Por que agora devia ser diferente? Um tráfego normal ocupava a principal estrada e ela absteve-se de olhar pelo retrovisor até que chegasse no portão da casa de Nic. Impossível imaginar que ele não a teria alcançado e não ficou surpresa ao ver o carro dele Nic entrar na garagem ao lado do seu. Dois motores desligaram ao mesmo tempo, seguidos pela batida de duas portas, enquanto o portão da garagem fechava. - Provocação ou determinação em me contrariar? - Por que não as duas coisas? O clima de repente ficou carregado... elétrico... ela lutava uma batalha silenciosa pela supremacia. - Vamos entrar? Ela deu de ombros. - A garagem tem um certo... clima, não acha? - Você quer andar ou ser carregada? O tom meigo da voz de Nic causou um arrepio na espinha de Tina. - Você pode me deixar cair. - Gozação era uma das formas de lidar com a situação. Aquilo era uma centelha de humor naqueles olhos negros... ou imaginação sua? - Eu consegui muito bem da outra vez. - Contudo, ela o precedeu ao entrar na casa. - Onde quer fazer o inquérito? - Na cozinha? - Ah... informalidade - Tina brincou. - Significaria problema se você tivesse sugerido seu escritório. Minutos depois, eles estavam na cozinha. - Posso pegar um copo de água antes ou só depois do sermão? Ele deu um sorriso irônico. - Preciso que identifique uma mulher em um recorte do jornal de Melbourne do mês passado. Ele estava sério. - Você acha que posso reconhecê-la? - É possível que já a tenha encontrado. - E está deduzindo isso... por quê? - Pela descrição que Lily fez de sua cliente difícil de hoje. - A mulher linda de morrer de cabelos pretos compridos? - Ela mesma. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça. - Sabine Lafarge. - Uma amante? - Não havia nada que ela pudesse fazer a respeito da dor que sentia por dentro. - Passado ou presente? - Passado. - E você está me dizendo isso... por quê? - Eu terminei o relacionamento meses atrás. - E ela não quer aceitar? - Não. Como era possível que uma palavra tão pequena pudesse carregar tanta significação. - Ela está obcecada por você. Deve ser seu charme, dinheiro e sua habilidade sexual. - Ela ainda deu um leve sorriso. - Minha aposta é nos dois últimos... nessa ordem. Ela fez uma pausa e pediu: - Mostre-me o recorte do jornal, - Está em um arquivo no escritório. Ele tinha um arquivo da mulher? Logo depois, ela observava enquanto ele destrancava um armário de arquivo e tirava uma pasta de papéis que colocou em cima da mesa. Lá, capturada no papel do jornal, estava a tal mulher que fora à butique. A foto posada, os traços faciais perfeitamente alinhados, os olhos grandes e iluminados. Ela portava a segurança de uma mulher que tinha tudo... e sabia disso. - Sim - disse Tina simplesmente. - Por acaso, ela é um problema? Nic fechou o arquivo e o recolocou no armário. - Eu procurei um advogado. Perseguição. Por isso o arquivo. - E agora você acha que ela tem a intenção de me alvejar? - Parece que sim. - A partir de amanhã um guarda-costas vai ficar sempre próximo aos estacionamentos. Aparentemente sua presença vai ser a de um mordomo ou empregado da casa. - Isso não é um exagero? - Diminuirei ao mínimo minhas viagens. - O que acha que ela pode fazer? Me atacar? - Ela tem um pérfido modus operandi. Não quero que você fique exposta a isso. - Eu posso me defender sozinha. - Lições aprendidas, admitiu para si mesma. Ele passou a mão suavemente pelo rosto dela. - Não estou preparado para correr esse risco. Por causa da criança que ela carregava. Um pensamento absurdo passou pela cabeça dela... e se ela abortasse? Nic acabaria com o casamento. Então ela poderia voltar a levar a vida que tinha antes de Nic Leandros virar sua vida de cabeça para baixo. Uma certa raiva a assaltou. - E se eu não quiser ninguém atrás de mim como uma sombra seguindo todos meus passos? - Valente. Ela lançou-lhe um olhar feroz. - Nesse exato momento, não gosto muito de você. - Acho que posso conviver com isso. Tina pegou o objeto mais perto de sua mão - um peso de papel de cristal - e atirou em Nic, observando com fascinação ele agarrá-lo e recolocá-lo cuidadosamente fora do alcance dela. Então, ele olhou para Tina que quase morreu diante daquele olhar ameaçador. - Vá - ordenou ele com voz suave e perigosa. - Antes que eu faça algo lamentável. Ela não correria. Em vez disso, olhou-o de cima a baixo, virou e saiu do escritório, ombros retos e cabeça para cima. Quando chegou em seu quarto e fechou a porta atrás de si, permitiu-se refletir sobre o que tinha acabado de acontecer. Ela caiu recostada na porta. Tinha de ser maluca para tentar medir forças com ele. Louca de achar que podia. CAPÍTULO SEIS Sábado era um dos dias mais movimentados da semana e hoje as clientes visitavam a butique para ver a coleção da nova estação. A primavera era evidente: as árvores que se desfolharam durante o inverno estavam brotando novamente e o calor do sol tocava a terra, trazendo a promessa de um verão ameno. Não havia sinal de Sabine. Embora achasse improvável que a mulher aparecesse tão rapidamente. Dois convidados que estavam no jantar de Eleni e Dimitri passaram pela butique. Toula, Tina lembrou-se, que, depois de muito discutir e consultar sua amiga, finalmente decidiu comprar um conjunto muito caro. - Você me dá um desconto? A pechincha estava para começar. Tina ofereceu a porcentagem de costume e viu as sobrancelhas de Toula se erguerem. - Mas nós somos amigas. Trinta por cento. Amigas? Encontrei você apenas uma vez..., ela pensou. - Essa peça é da nova estação - explicou ela. - Não uma peça em liquidação. - Mas daria um desconto de pelo menos vinte por cento. - Se a peça ainda estiver no estoque em janeiro, eu lhe darei os vinte por cento. - Então vamos considerar que estamos em janeiro e você me dá o desconto de trinta por cento. Vinte por cento da liquidação e dez pela amizade. Com um leve sorriso e um balançar de cabeça provocador, Tina recolheu a roupa do balcão e colocou-a de volta no cabideiro. - Você é boa nisso, Toula. - Mas não o suficiente. - Meu desconto original permanece o mesmo. - Mas isso é ridículo! - Toula se aproximou. - Posso lhe trazer muitos negócios. Hora das duras palavras. - Eu gerencio essa butique para sua dona - disse ela. - É ela quem determina a tabela de porcentagem. - Vou a outro lugar. - Como quiser. Mas a peça que você escolheu é original e exclusiva dessa butique. Toula apertou os lábios. - Vou pensar sobre isso. - Gostaria que a reservasse por uma hora? - Tina checou a hora e sorriu. - Se não retomar até as três, coloco de volta na prateleira. - Muito bem. - Ela voltará - afirmou Lily quando as duas mulheres saíram da loja. - Talvez. - Ela adorou a roupa, ficou bem nela, tem dinheiro... por isso vai comprá-la. - Tina deu um sorriso malicioso. - Café por minha conta depois do trabalho se eu estiver errada. - Feito. Toula entrou na butique precisamente um minuto para as três com o cartão de crédito em mãos. - Você negocia duro. Isso era imaginação de Tina ou ela detectou um tom de respeito? - Eu dirijo um negócio de sucesso - corrigiu ela com gentileza. - Estou certa de que terá os sapatos e a bolsa certa. - Chamou a atenção de Toula para os itens expostos na vitrine. - Mas esses são esplêndidos, não acha? Toula examinou-os e decidiu. - Se você os tiver no meu número, levarei. - Deixe-me ligar e checar. Cinco minutos depois, ela conseguiu uma comissão com a venda, Toula ficou satisfeita e Tina devia um café a Lily. Eram quase cinco horas quando elas fecharam a butique e em poucos minutos estavam em um café esperando dois descafeinados. - Nada planejado para a noite? Como ela podia admitir que não tinha a mínima idéia? - Jantar em casa. - Isso deveria disfarçar. Lily franziu a sobrancelha e seus olhos assumiram um ar de provocação. - Um pouco de vinho, uma comida requintada... e deitar cedo? - Hu-hum... - foi uma resposta não comprometedora. - Amanhã é domingo. Vocês podem ficar na cama e curtir um ao outro - disse Lily em tom de brincadeira. - Aposto que ele é fabuloso. Provavelmente. E se confidenciasse que o casamento não envolve sexo? Pior, que estava grávida do irmão de Nic? Tina Matheson, educada com valores morais rigorosos, amiga... estava pagando um preço alto por uma insensatez. Ainda havia aqueles que discutiriam, dada a grande atratividade, dinheiro e status social de Nic... qual é o seu problema? Porque não é o que sou nem o que quero ser. Uma resposta complexa que nem chega a ser uma resposta. - Nada a dizer? - Lily questionou e Tina deu um sorriso frouxo. - Tem algumas coisas que devem permanecer privadas. - Ah, droga. Justo agora que achei que a conversa ia ficar interessante. - Vamos falar de você para variar um pouco, tá? - Uma palavra engloba tudo. Esperando. Pelo homem certo, pela vida certa, todos os meus sonhos realizados. Continuo procurando e não acho ninguém. Pelo menos, ninguém que queira compromisso. - Talvez você esteja procurando nos lugares errados. - Eu quero estrelas cadentes, pompa e circunstâncias... todas essas coisas de deixar a boca aberta. Mas talvez eu tenha de me conformar com o confortável. - E isso seria tão ruim? - Tina brincou. - Fácil para você falar isso quando se tem o Sr. Magnífico. Um celular tocou. Tina checou o seu e viu que era Nic na linha. - Terminando o dia? Ela moveu o celular em direção a Lily. -Tomando um café. - Mande-me uma mensagem quando for embora. - Até mais. - E terminou a conversa. - O homem? - Como adivinhou? - Chamando você para casa, né? - Me lembrando de que não sou mais uma mulher solteira. Lily revirou os olhos. - Como se você fosse esquecer. Já era o bastante. Tina pagou a conta e pôs-se de pé. - Vamos? A noite estava caindo. Elas andaram até o estacionamento para pegarem seus carros. - Tenha um ótimo fim de semana. Vejo você na segunda. Tina entrou em seu Volkswagen e partiu para Rose Bay. O sinal de trânsito estava contra ela quando parou em um cruzamento e sentiu um inexplicável formigamento nos ombros e no pescoço. Esquisito, muito esquisito. Era sábado a noite, pelo amor de Deus, havia carros em todas as direções. A sensação permanecia apesar do esforço que fazia para esquecer. Auto-sugestão, ela racionalizou, enquanto acionava o controle para abrir os portões. Não havia ninguém a seguindo... não checara o retrovisor várias vezes? Tina guardou o carro na garagem e entrou na casa. Um banho, trocar de roupa e alguma coisa para comer seria bom. Ela moveu-se em direção às escadas e parou abruptamente quando encontrou com Nic descendo a escada. Jeans e uma camisa pólo preta deram a ele um visual diferente - Oi. - O cumprimento pareceu sem emoção. - Dia difícil? - Apenas agitado. - Steve preparou o jantar. - O guarda-costas cozinha? - Nos fins de semana, se a gente quiser comer em casa. - Apenas um dos talentos dele? - Por que não pergunta para ele? - Ele não está na cozinha, está? - Bem atrás de você, madame. Madame foi demais. Alto, musculoso, jovem... e texano. O homem que estava de pé olhando para ela tinha em torno de quarenta anos, altura mediana e corpo magro. - Não era o que você esperava? - Por favor, me diga que acertei sobre o jeito texano? - Nascido e criado em Dallas. - Graças a Deus. Steve olhou para Nic. - Acho que nos daremos muito bem. - Daqui a pouco vocês vão dizer que são grandes amigos. - Nós nos conhecemos há algum tempo - revelou Nic. - Mais mulheres obsessivas entre os esqueletos no seu armário, querido? Ele pegou a mão dela, beijou-a no meio da palma... e observou seus olhos cintilarem. Uma emoção que ela rapidamente disfarçou. - Por que não vai se trocar? - perguntou ele com tranquilidade. - O jantar vai sair em meia hora, Depois Steve vai dar algumas instruções a você. Tina olhou bem para os dois. - Luto kick-box e sou faixa preta em karatê. - Uma vantagem - Steve reconheceu dando um sorriso. Quando ela chegou no andar de cima, ouviu a voz de Nic. - Estarei aí em alguns minutos. - Para esfregar as minhas costas? - as palavras saíram antes de ela pensar. - É só pedir. Como se fosse. O rosto de Tina ficou ruborizado com a resposta dele e ela praguejou contra sua língua afiada. Vinte minutos depois, ela havia tomado banho e trocado de roupa os cabelos cacheados presos em um coque. Quando Tina se aproximou da cozinha, um aroma inebriante tomava conta do ar. Ela entrou e viu Nic inclinado sobre a bancada, segurando uma taça de vinho enquanto Steve passava para uma baixela o que parecia ser um suculento cozido de carne. - Que cheiro ótimo! Precisa de ajuda? Steve apontou para um prato com diversos tipos de legumes e hortaliças. - Você pode levar isso para a mesa que eu e Nic levamos o resto. Ficou claro que os dois homens, além de patrão e empregado, eram amigos, e a troca de piadas durante a refeição tornou o clima tranquilo e alegre. Se o objetivo de Steve era deixá-la confortável, ele conseguiu, admitiu Tina para si mesma. Embora o mesmo não pudesse ser dito sobre Nic, cuja simples presença era suficiente para deixar os nervos dela no modo autoproteção. Por que era assim? Ela não podia estar atraída por ele, certamente? Pelo menos, não em nenhum sentido sexual. No entanto, os feromônios estavam trabalhando de modo sutil, provocando sua sensualidade de tal forma que poderia muito bem viver sem. Só de olhar para ele causava-lhe isso. O jeito como ele se movia, seu perfil forte, as marcas de expressão em seus olhos e o contorno sensual de sua boca. Ela teve uma rápida lembrança de como era seu toque, o breve deslizar da língua dele na dela. Havia uma parte dela, escondida bem no fundo, que queria mais, muito mais. O toque das mãos dele em seu corpo, apalpando cada curva, explorando-a... fazendo-a se sentir viva. O cozido estava delicioso e a sobremesa de maçã também. Ela deu a Steve os cumprimentos que ele merecia. Tina recusou o café e tomou chá, depois insistiu em arrumar tudo, apesar dos protestos de Steve. Os três arrumaram um pouco a cozinha antes de subirem para o escritório de Nic, onde a cena tornou-se estritamente de negócios. - Nós precisamos tomar nota de algumas falhas possíveis na segurança. Sem exceções. - Não acha que isso é um pouco exagerado? - Não estamos lidando com uma pessoa racional. Sabine fará qualquer coisa para atingir seu objetivo. Até agora, ela já violou um mandado de restrição judicial em Melbourne. A recém-mudança de Nic para Sydney e o casamento agravaram a situação. Ela já voltou a morar aqui. - Então, o que você propõe? - Eu quero que você carregue um dispositivo de rastreamento. Um no seu carro e um com você. - Você deve estar brincando! Steve não respondeu. - Você confere quando chegar na butique de manhã e quando for embora no fim do dia. - Depois você vai me dizer que vamos ter um código secreto. - Isso também. Ligado a mim, a Nic e a alguém da empresa de segurança. Tina olhou para um e para o outro. - Não vou entrar nessa. - Isso não é negociável - declarou Nic. - A criança que eu carrego é tão importante? - Mãe e filho. Claro, porque sem a mãe não há criança. Se ela não saísse de lá, diria algo repreensível. Além disso, havia dignidade no silêncio. Mas não acabava com o ressentimento... raiva, retificou ela, pondo-se de pé e saindo. Parou, virou para Nic e o olhou com severidade. Dane-se a dignidade. - Eu odeio você. A tentação de bater a porta foi quase irresistível, mas ela mostrou controle e fechou-a com um quase silencioso clique. Deus do céu. Ela precisava de ar fresco no rosto e colocar para fora um pouco da raiva. Droga, tinha raiva dela mesma, de Vasili, de Nic. Para não mencionar o invasor cujas atitudes causaram tal dano emocional. Dano que achara que tinha resolvido. E tinha, garantiu a si mesma enquanto abria a porta da frente e saía para a noite. Ela não precisava de um terapeuta para dizer que estava lutando uma batalha mental contra seu coração. Um coração que enterrara sob tantas camadas de proteção; dispensá-las estava fazendo-a sentir angústia e dor. Chegará o dia em que você vai descobrir o amor e precisará ultrapassar a última barreira. A qual ela respondeu: sentir medo e mesmo assim continuar? Você vai ter de se deixar levar. Desde então, e nos anos seguintes, ela se convenceu de que nunca mais se permitiria ficar emocionalmente envolvida. Agora ela estava metida em uma situação que não queria e ura diabinho caprichoso tinha a intenção de virar sua vida de cabeça para baixo. A lua estava alta e o céu escuro, com luz suficiente para que ela pudesse ver onde pisava. Os grandes portões de ferro que guardavam a propriedade estavam fechados e eletronicamente trancados, mas ela não tinha a intenção de se aventurar na rua. Atração física não era amor, nem de perto, racionalizou caminhando pela grama. Ele era tudo o que ela não gostava em um homem. Cruel, poderoso, inflexível. Sensível? Duvidava que ele tivesse alguma sensibilidade naquele corpo. Ela andou mais um pouco e decidiu entrar, Nic estava inclinado sobre o balaústre na base da escada. Sua expressão era indecifrável quando ela se aproximou. - Já terminou? Tina levantou o queixo e lançou-lhe um olhar que teria abatido qualquer outro homem. - Foi apenas uma volta para tomar ar fresco ou isso lhe causa algum problema? - Ela levantou os ombros. - E se você sugerir que eu vá para a cama, agora, bato em você. - Ia recomendar uma bebida quente. Ela teve enorme satisfação em dizer a ele exatamente o que ele devia fazer com aquela recomendação, depois passou por ele e subiu as escadas. O fato de ela ter ido para sua suíte, tirado a roupa e ido para a cama não tinha nada a ver com isso, porque ela tomou a decisão. CAPÍTULO SETE Iniciou da forma de sempre... Tina estava em um quarto escuro, à noite, em um sono tranquilo. Então, o som, tão suave que mal a arrancou de seu subconsciente. Veio de novo, um leve sibilar como se alguém ou algo roçasse nas cortinas perto da porta que levava à varanda de seu pequeno apartamento. Ela abriu os olhos, percebeu um leve movimento e soube naquele segundo assustador que não estava mais sozinha no quarto. O coração disparou quando o medo correu pelo seu corpo. Com certeza ele podia ouvi-lo. Ela podia. Feche seus olhos, respire com calma. Ele vai pensar que você está dormindo. Não é isso o que a polícia aconselha... não reaja? O silêncio consumiu-a. Onde ele estava? Além de objetos de decoração, nada de valor havia em seu quarto. Cada segundo parecia uma hora, e ela não conseguia detectar o menor som. Ele estava perto. Ela podia senti-lo, sentir o odor de cigarro... e algo mais. Suor. Por favor, por favor, ela implorou silenciosamente. Apenas pegue o que quer e vá embora. Houve um barulho mínimo quando ele abriu a gaveta de sua mesinha-de-cabeceira e um leve sussurro enquanto removia a caixa de jóias. Vá, ela insistiu. Vá. No instante seguinte, os cobertores foram arrancados da cama e ela gritou quando aquelas mãos pesadas seguraram seu corpo. Meu Deus, não. Foi um grito silencioso que não encontrou voz. Então ela realmente gritou quando ele agarrou a barra do blusão de dormir, puxou-o para cobrir o rosto dela e depois enterrou os dentes em seus seios. Ela lutou como um demônio, chutando e socando o que podia, depois gritou quando ele conseguiu segurar seus braços e puxou-os com força para prendê-los acima de sua cabeça. Vagabunda. O instinto de sobrevivência foi o responsável pelo desesperado golpe com o joelho que ela deu na virilha dele. A mistura de exultação e medo, o gemido de dor dele, o alívio dela quando ele rolou para o chão. Escapar era a idéia principal que se passava na mente dela. Para fora do quarto, do apartamento. Vá. - Tina. - Mãos sobre os ombros dela e ela lutou como uma fera. - Pelo amor de Deus. Saia. Ela ainda lutava, tão presa ao pesadelo que ele tornara-se realidade. Mas depois começou a mudar para um cenário que não lhe era familiar. Ela sabia o que vinha depois... e não era isso. O invasor no seu pesadelo não a carregava. Nem a chamava pelo nome. O que... Ela abriu os olhos e fechou-os em seguida para entender o que se passava. Não estava mais escuro. Ela não estava em seu apartamento ou em um quarto de hotel. Ela estava na casa de Nic Leandros. Sentiu um alívio. Alívio que durou pouco quando ela viu que não estava na sua suíte... mas na dele. E pior, sua camisola estava acima do que permitia a decência. E Nic não parecia estar usando nada além de uma toalha em volta da cintura. - Com que frequência você tem esses pesadelos? Droga, ele pôde ouvir os gritos dela. O primeiro estremecera-o por dentro e o segundo, que ele presenciou, mostrou o pavor, o choque esboçado no rosto pálido dela. Os olhos dela. Enquanto ele vivesse, nunca esqueceria aquela expressão. - Me coloque no chão. - Ainda não. - Por favor. O por favor funcionou. Mas ele apenas a pôs no chão e colocou as mãos sobre os ombros dela. - Estou bem. Vou voltar para rneu quarto. Ela estava longe de estar bem. E, além disso, ele não a queria enfiada em uma suíte no lado oposto da casa e muito menos ser acordado por seus gritos. - Você quer conversar sobre aquela noite? - Já falei demais anos atrás. - Mas os pesadelos ainda persistem. Tina sentiu um calafrio. - Ocasionalmente. - Você está gelada. - Sem dizer uma palavra, ele deslizou as mãos pelas costas dela e aproximou-a de seu corpo. Ele sentiu o cheiro do cabelo, o leve cheiro do perfume dela e encostou o queixo em sua testa. Por alguns segundos ela ficou absolutamente imóvel, quase com medo de se mover. Ela se sentia tão... bem. Sendo abraçada por ele, o leve cheiro de almíscar de sua pele contra a sua face, a delicadeza debaixo da musculatura rígida. Ela teve o estranho desejo de se afundar nele, de levantar as mãos e enganchá-las na nuca dele e puxar a cabeça dele em direção à sua. Mas tal atitude era equivalente à loucura. - Eu quero você perto. Onde eu possa vê-la... ouvi-la durante a noite. Nic sentiu-a ficar tensa e soltou-a, dando um passo para trás. Ele curvou-se e jogou os cobertores em cima da cama. - Hoje você dormirá aqui. Tina olhou para ele e quase desejou não ter olhado. O corpo dele, seminu, era demais. Os ombros poderosos, o abdomen trabalhado, másculo demais para a tranquilidade de qualquer mulher... muito menos ela. Dividir uma cama com ele? Ele era louco? - Dormir com você não faz parte do trato. - A palavra é dormir. - E espera que eu confie em você? - Tem minha palavra. Ela vivera sozinha por anos, sem ninguém para abraçá-la, confortá-la, ajudar a acalmar uma lembrança quando esta voltasse para persegui-la. - Eu prefiro voltar para meu quarto. - Ela afastou-se dele e quase morreu quando ele a virou para encará-lo. - Pelo amor de Deus. Ele passou o braço por debaixo dos joelhos dela e a fez escorregar para a cama, puxou os lençóis e curvou o corpo dela contra o seu. - Relaxe. Por favor. Como se aquilo fosse acontecer a qualquer momento. E se ela lutasse, o que ele faria? - Não vá. Ele lia mentes? - Confunda-me com qualquer outra pessoa durante a noite e eu não me responsabilizarei por minha reação - pronunciou Tina. - Durma. Ela mandou-o para o inferno em silêncio. Minutos depois ela sentiu a respiração dele profunda e esperou, contando os minutos até achar que estava seguro para retirar-se calmamente da cama. Pelo menos, esse era o plano. Mas não aconteceu, pois cada vez que ela fazia um movimento sorrateiro, o braço dele segurava-a com firmeza. Ele estava dormindo... tinha certeza disso. Aquela respiração profunda, ritmada, não podia ser fingida. Ou podia? Mas havia algo inacreditavelmente confortável em ser abraçada daquele jeito. O calor humano, segurança... sentir-se segura. Era bom. Ah, pelo amor de Deus, zombou de si mesma. Caia na real. Havia pouca coisa que ela pudesse fazer para controlar as loucas imagens que passavam por sua cabeça. Como seria se ele roçasse os lábios em sua nuca? Envolvê-la nos braços e trilhar um caminho até seus seios e demorar-se lá, saboreá-los? Antes de traçar uma linha em direção a sua cintura e aproximar-se devagar para prová-la, acariciá-la. E então penetrar nela... ele caberia? Basta! Controle-se. Qual era seu problema? Esse sentimento... era apenas hormônio. Nada a ver com o homem mesmo. Tinha todos os motivos para odiar a maneira como ele invadiu, ameaçou e tomou conta de sua vida. E também o odiava pelo que tinha feito. E, também, por expô-la a Sabine. Permanecer aqui, inerte, era impossível. Cinco minutos e ela tentaria se livrar dos braços dele. Essa foi a última coisa da qual se lembrou. Quando acordou era de manhã, uma luz prateada infiltrava-se no quarto... e ela estava sozinha na cama. Não houve o momento "ai-meu-deus". Ela lembrou-se com clareza do pesadelo e de sua consequência. Assim como se lembrou de ter adormecido nos braços de Nic. Contudo, isso não aconteceria de novo. Determinada, saiu debaixo das cobertas, voltou para sua suíte, tomou banho, vestiu um jeans e uma blusa e desceu até a cozinha para comer alguma coisa. Não havia sinal de Nic, e ela disse a si mesma que estava agradecida por isso. Steve estava no terraço tomando café. Ele se levantou e entrou na cozinha. - Vou preparar seu café-da-manhã. - Por favor - protestou Tina. - Eu mesma posso prepará-lo. - Nic pediu para avisá-la que tomou o vôo da manhã para Melbourne. Estará de volta à noite. A idéia de um dia livre de inquietações era definitivamente atraente e o coração dela ficou mais leve. - Você tem planos? Ela interpretou as palavras dele em um instante. - Como sair além dos portões trancados? - Um revirar de olhos disse tudo. - Talvez, em poucas horas. - Primeiro tinha de checar alguns dados no laptop, e ligar para sua mãe. Depois disso, o dia era dela. - Preciso de permissão? - Eu já instalei um dispositivo de rastreamento em seu carro. Preciso explicar algumas coisas e depois você está livre para ir. Tina levantou as mãos e fez um gesto de mímica indicando aspas. - O código secreto. - Sugiro que você trate isso com seriedade. - Entendido. Ele ficou sério, quase um militar. - Você acha que Nic me colocaria aqui tendo um gasto considerável por simples capricho? Ela teve de concordar. - Acho que não. - Então, fique em alerta. Não banque a heroína e comunique o menor incidente. Mesmo que ache irrelevante, explique detalhadamente. - O que acontece com você e o Nic? Vocês lêem mentes? - Expressões, - E as minhas são particularmente claras? - Descuidadas. E ela achava que estava disfarçando tão bem! - Foi apenas um sentimento, - Nunca ignore um instinto. Não viu nada inconveniente? Um carro seguindo-a pela rua? - Não. Eu chequei. - Nos falaremos quando tiver tomado o café-da-manhã. Ela atualizou os dados em seu laptop, telefonou para a mãe para o bate-papo habitual de domingo de manhã, depois pegou uma jaqueta, bolsa, as chaves e procurou Steve. Logo depois, ela partiu para Darling Harbour, onde parou para olhar as lojas e passear um pouco. Eram quase cinco horas quando se dirigiu para Rose Bay e em um impulso parou em seu apartamento, viu que a pintura estava pronta, o revestimento completo e o novo carpete. A questão que veio a sua cabeça era se devia manter o apartamento vazio ou alugá-lo. Decisões, ela pensou enquanto voltava para o carro. Alguma coisa chamou sua atenção quando abriu a porta. Um papel, sem dúvida um panfleto, fora colocado debaixo do limpador de pára-brisa; ela o removeu e jogou no assento do carona. O Lexus de Nic estava na garagem quando ela chegou em casa. Subiu ligeiramente as escadas para trocar de roupa antes de juntar-se aos homens para o jantar. Cinco minutos para dar uma refrescada e estaria pronta em dez. Ou estaria, mas quando abriu seu armário ele estava vazio. O quê... Ela foi até a cômoda e puxou uma gaveta, depois as outras... tudo vazio. Onde? - Eu passei tudo para minha suíte. Tina virou-se para encarar o dono da voz macia. Nic estava encostado no batente da porta. Calma, devia se manter calma, ela advertiu silenciosamente. - Por que fez isso? - Porque é lá que você vai dormir daqui para a frente. Ele observou aqueles olhos verdes adquirirem uma cor de fogo. Naquele momento, não havia dúvida alguma sobre sua raiva. - Você pode simplesmente mudá-las de volta. Ou melhor, eu irei. - Perfeitamente. - Ele permaneceu de pé em um lado e ela passou quase encostando nele. - Apenas esteja certa de que as mudarei de novo. - Então ambos ficaremos muito ocupados. - Parece que sim. Enfurecida, Tina entrou na suíte de Nic... e parou ao ver que a cama dele havia sido afastada do centro para acomodar uma outra. Intencionalmente para ela. Bem, ele podia arrumar tudo de novo. De jeito nenhum dividiria aquela suíte com dele. Ela foi até o armário mais próximo e, quando descobriu que era dele, foi até outro; juntou tudo em cabides e carregou-os de volta para a ala oposta da casa, onde os enfiou dentro do armário. Levou três viagens para trazer tudo de volta. Por um momento, quase decidiu que não jantaria mais, mas estava com fome. Steve estava cuidando de um churrasco no terraço quando se juntou a ele e Nic. Os bifes pareciam deliciosos. Tina pegou um bife pequeno, colocou salada no prato e passou-o para Nic com a intenção de interpretar o papel da esposa educada. - Então, como foi em Melbourne? - Uma viagem urgente a pedido de Paul. Você estava dormindo quando parti. - Sem problemas, espero. - Ela devia se preocupar? A luz realçava as feições de Nic. - A partir de amanhã, quero que use o Porsche. - Eu tenho meu próprio e perfeito carro. O Porsche muito bacana e fino estacionado na garagem não era dela, e Tina lhe disse isso. - Pegue ele. - E se eu não quiser? Droga, ela dava trabalho. - Você quer discutir? - Você quer submissão? Ele ficou dividido entre rir ou sacudi-la. - Deus me livre. Steve ocupou-se de limpar a churrasqueira quando eles terminaram de comer e Tina juntou os pratos, utensílios e levou-os para a cozinha. - Farei isso, - Steve a seguiu e ela balançou a cabeça. - Você cozinhou, eu vou limpar. Vá ter a "conversa de homens" com Nic. - Ele está em uma ligação. - Então, descanse um pouco. Ele levantou as mãos. - Tudo bem. Mas quando tiver acabado, vou apresentá-la ao cachorro. Cachorro? Impossível não ser um cachorro domestico pequeno, mimoso e fofinho que ela pudesse abraçar. Imaginou um poodle miniatura, um maltês... - De que raça? - Pastor alemão. Tina sorriu. - Claro. E ele tem nome? - Czar. Outro macho. Ela estava rodeada deles. - Me dê cinco minutos. Ele era um lindo animal, e ela se apaixonou na hora. - Vamos dar uma volta? Bem treinado, Czar obedecia a todos os comandos e olhava para ela apaixonadamente quando o acariciava e estendia a mão... que ele lambia, depois oferecia sua pata dianteira. Ela riu. - Você é simplesmente maravilhoso. - E seu. Tina olhou para Steve. - Outra medida de proteção? - Isso a incomoda? Talvez porque até algumas semanas atrás sua vida girava em torno de seu trabalho, do lazer e de suas atividades esportivas. Era uma vida boa, ela fora feliz, houvera satisfação em dirigir um negócio de sucesso que ela adorava. Agora, por acidente, estava grávida do filho de Vasili, casada com o irmão dele e sob possível ameaça da ex-amante tresloucada de seu marido. - Está faltando alguma informação? - A amizade entre você e Nic... - Onde, quando, como? - Steve antecipou. -Sim. - Nova York, dez anos atrás, através de amigos em comum. - Sucinto. - É o meu treinamento na Marinha. Ela olhou para ele. - Isso explica. - Achei que explicaria. Juntos eles retomaram para a casa e Steve deu-lhe boa noite. Tina checou as horas quando subiu as escadas. Um banho rápido, dormir cedo depois de ler um bom livro pareciam razoáveis para terminar o dia, e com isso em mente entrou em sua suíte, caminhou em direção ao banheiro... e parou. Seus produtos de uso pessoal, que ela havia colocado sobre a penteadeira, não estavam mais à vista. Nic não deve ter mudado suas coisas de novo, com certeza? Uma rápida inspeção no armário mostrou que sim. A cômoda também tinha sido esvaziada. Droga! A raiva subiu-lhe à cabeça e ela entrou enfurecida na suíte principal e começou ajuntar suas roupas. Quando ela retornou, ele estava em pé no quarto. - Indo a algum lugar? Ela quis bater nele e teria se seus braços não estivessem cheios de roupas. - Você não entende? Não vou dormir nesse quarto com você. - Você quer perder tempo e energia... - Ele deixou as palavras soltas no ar. - Cada vez que você levar essas roupas para a suíte de hóspedes, eu as trarei de volta. - Será interessante ver quem cansará primeiro. - De fato. - Ele observou-a com um olhar de irritação quando ela passou por ele e desapareceu pela porta. Nic não estava lá quando ela voltou minutos depois. Terceira viagem e ela tinha terminado. De todos os homens chauvinistas... as palavras lhe faltaram. Bem, aquilo não era exatamente verdade, Tina desconsiderou enquanto ajustava a temperatura da água e entrava no boxe. Ela tinha um repertório de descrições nada agradáveis para jogar na cara dele. Isso foi um pouco antes de ela desligar a torneira e pegar a toalha. Ela esticou a mão para alcançar o blusão de dormir, mas descobriu que não o tinha trazido para o banheiro. Em um rápido movimento, enrolou a toalha no corpo e entrou no quarto para encontrar seu vingador encostado na cômoda. - Procurando alguma coisa? Se ele pegara suas roupas... Ela fechou os olhos e abriu-os novamente devagar. - Você está se divertindo com isso, não está? - Particularmente não. - Eu quero matar você. Ele levantou uma sobrancelha em tom de escárnio. - Você não está exatamente vestida para brigar. Tina lançou-se sobre ele e gritou quando ele a pegou no colo e a carregou para fora do quarto. Ela mirou um soco no ombro dele. - Me coloque no chão, seu demônio! - Em breve. Tina levantou o punho para um outro ataque. - Não. Foi esse aparente aviso perigoso que deu a ela senso para parar. Logo depois, ele a soltou no chão de sua suíte. Ela era uma bola de fúria. - Eu não quero ficar aqui. - Você pode escolher... entre essa cama e a minha. Ela lutou por controle e o administrou... mal. - Eu o odeio. - Isso você já disse. - Ele passou os dedos pelo cabelo e olhou-a com atenção. - Tenho de trabalhar. Não planeje mais uma viagem para o outro lado da casa. Eu a trarei de volta. Amanhã, porém, era outro dia, e oferecia uma nova batalha. À beira do sono, uma voz provocou... Mas quem ganhará a guerra? Era tarde quando Nic voltou para o quarto. As luzes estavam baixas, mas não o suficiente para que não pudesse ver a pequena figura feminina curvada na menor das camas. Ele deixou seu olhar contemplar os delicados traços dela, a pele macia de creme, a boca entreaberta. Linda, ele reconheceu. Independente e com uma força interior admirável. Vulnerável, ele acrescentou, ciente da mistura fora do comum. Ele escolhera fazer uma vida com ela. Por causa do filho que ela carregava. Mas isso não era exatamente verdade. Ele estava intrigado e fora desafiado por ela, cativado de um jeito que o surpreendera. Havia uma parte dele que queria abrandar a dor no passado dela, reconstruir sua confiança e fazer com que ela o enxergasse como um amigo. Explorar o que o futuro podia oferecer. Algo que levaria tempo. Controle... ele tinha. E era um homem muito paciente. CAPÍTULO OITO Tina acordou com o barulho do chuveiro. Levou um tempo para se orientar e perceber onde estava. Não era sua suíte, mas a de Nic. Graças a Deus, não na cama dele. Que horas eram? Cedo o bastante para não ter de levantar nos próximos vinte minutos. Entretanto, não queria estar ali de jeito nenhum quando Nic saísse do banho. Pôs-se de pé, vestiu um robe, foi para o banheiro da outra suíte e não saiu até que tivesse tomado banho, se vestido parcialmente e feito a maquiagem. Nic estava arrumando a gravata quando ela o encontrou. Atue. Você pode fazer isso. - Oi. Ele parecia másculo demais para sua paz de espírito. Calças escuras, a camisa branca ressaltando a largura de seus ombros, a vitalidade que ele emanava sem muito esforço. Um poder de sedução para ser avaliado. E no quarto? Ela não queria pensar sobre isso. - Dormiu bem? Ele sim, sabendo que ela estava a uma distância alcançável. - Sim. - Isso foi uma surpresa, pois ela não se lembrava de como tinha acordado. Em seguida, desapareceu dentro do closet, deixou a porta entreaberta, escolheu um terninho e terminou de se arrumar. Depois, desceu para a cozinha. - Nic já saiu. Reunião cedo - Steve explicou. Ela se sentia muito bem disposta. Era segunda-feira, o sol estava brilhando e tinha a semana pela frente. Também precisava checar a agenda e marcar uma consulta com o obstetra. -Você vai pegar o Porsche. - Steve lembrou-a quando estava pronta para sair. Ela revirou os olhos. - Eu me sentiria melhor se fizesse um test-drive com ele antes de encarar o habitual horário de rush da manhã. Hoje à noite? - persuadiu Tina. - Prometo que o usarei amanhã. O tráfego parecia pior do que o usual até chegar à butique e começar a recolher sua bolsa, o laptop e notar o pedaço de papel que encontrara preso ao limpador de pára-brisa na noite anterior. Uma propaganda de desconto de pizza? "Compre um a pizza e leve um refrigerante?" Quase o amassou para jogar fora quando algo - curiosidade, instinto? - a fez desdobrá-lo. A página estava em branco, com exceção de uma palavra garranchada de batom vermelho brilhante. "Vagabunda". Sabine. Só podia ser. Veio a sua cabeça a idéia de que vinha sendo observada, seguida. Há quanto tempo? Desde que a fotografia de seu jantar com Nic aparecera no jornal? Ou isso começou quando Nic se mudara de Melboume para Sydney? Por um momento, ficou horrorizada, depois o bom senso lhe trouxe a razão. Tudo o que Tina tinha de fazer era ficar mais vigilante sempre que estivesse sozinha. E sobre o bilhete... entregaria a Steve à noite. O dia correu como planejado. Lily estava transbordando de alegria por ter conhecido um homem em um encontro às escuras. - Ele é legal... - Estou feliz por você. - Obrigada. Nós vamos pegar um cinema hoje. Tina estava mais calma quando o dia terminou. Durante todo o dia, um leve nervosismo deixou-a angustiada, e ela se achou checando a entrada da loja cada vez que a campainha soara, questionando a si mesma se ou quando Sabine apareceria. Ela questionou se era sensato pedir a Lily que ficasse por mais tempo. Pela primeira vez em anos, Tina experimentou um sentimento de apreensão quando fechou a loja e andou até o carro. A área estava bem iluminada e havia pessoas em volta. Tudo correu bem. Nenhum papel preso no pára-brisa do carro e ninguém pronto para surpreendê-la. Embora o tráfego estivesse congestionado, nenhum carro esteve colado à traseira do seu e também ninguém a seguiu quando ela virou na rua de Nic. O Lexus e o Porsche estavam na garagem quando ela entrou. A prioridade era trocar de roupa, colocar algo mais confortável. Ela sentiu necessidade de comer algo, um lanche, uma fruta, qualquer coisa para abrandar o enjôo. Nic estava trocando de roupa quando entrou no quarto, e rapidamente ela desviou a atenção do peito musculoso. Das coxas poderosas, da cueca preta... Esse negócio de dividir quarto teria de acabar. Ela valorizava sua privacidade e, além disso, nunca sobreviveria emocionalmente se continuasse dando encontrões com ele durante todo o tempo. - Teve um bom dia? Como ela responderia? Ir para a briga ou esperar até depois do jantar para a confrontação? - Mais ou menos. - Explique o mais ou menos. - A gente pode adiar o relatório para depois do jantar? Gostaria de trocar de roupa e comer primeiro. - Cinco minutos. A versão condensada - propôs ele com voz meiga. - Não vou dividir essa suíte com você. Alguém deixou um bilhete no meu pára-brisa. - Dividir ou não a suíte não é negociável. Explique o bilhete. - Em uma palavra: " vagabunda". Ele passou o dedo pelo queixo de Tina e de novo observou que as pupilas dela dilataram-se a seu toque. Ele quis puxá-la para si, saborear aquela boca deliciosa e tranquilizá-la. Quase o fez, mas ela cuspiria fogo. - Me diga que você não jogou o papel fora? - Está no carro. - Ela deu um passo para trás, aliviada quando ele a deixou ir. - E eu insisto em ter meu quarto de volta. - Sobre isso estamos resolvidos. - Sua casa, suas regras? - Chame isso do que você quiser. Tina esbravejou e entrou no closet. Quando ela saiu o quarto estava vazio. Em um piscar de olhos pegou suas roupas e transferiu para o outro quarto. O jantar já havia sido preparado por Maria. Diante do convite de Steve, pegou as chaves do Porsche para familiarizar-se com ele. Depois levou Czar para passear pelo jardim. Passavam das nove quando ela subiu para tomar banho e se preparar para dormir. Não havia sinal de Nic e ela não sabia se xingava ou gritava quando descobriu que suas roupas haviam sido removidas mais uma vez. Desista. Mas não era questão de ganhar ou perder. E sim questão de independência... a dela. Mas sua persistência não estava dando em nada. Além disso, estava cansada, sem disposição para brigar com ele... pelo menos, não aquela noite. Pensar em quando Sabine atacaria novamente era um jogo que Tina não queria jogar e, embora a aparição da mulher fosse inevitável, esperar isso acontecer não estava fazendo nenhum favor a seu sistema nervoso. Um convite para comparecer à première de um filme estrangeiro não a empolgava, pois seu conhecimento de francês restringia-se a poucas frases e palavras. No entanto, a noite era um evento social, com renda direcionada a uma instituição de caridade que a Corporação Leandros apoiava. A presença dele atraiu olhares imediatos e ela entendia o porquê. Além do fato de ser o herdeiro da Leandros e estar na lista dos benfeitores ricos, Nic possuía um tipo físico que emanava sensualidade e tinha o poder de chamar atenção. Especialmente das mulheres. Atraente nem chegava perto, ela admitiu enquanto aceitava uma taça de suco de laranja de um garçom que estava passando. Entre as pessoas havia vários rostos familiares. Ela observou os cumprimentos afetados, as roupas das mulheres, certa de que podia pôr um nome na maioria... dizer a diferença entre um genuíno estilista e uma cópia. - Está se divertindo? - Claro, querido. Os olhos de Nic brilharam com humor quando ele entrelaçou seus dedos nos dela. - Você está indo tão bem. - Obrigada. - Nicos. Tina ouviu a voz, reconheceu-a e virou-se para encarar sua dona. Linda em sua aparência superficial, ela concordou, e chamando atenção como poucas mulheres conseguiam. O vestido era um Versace, a maquiagem perfeita e o cabelo... um rio negro de seda até a cintura. Sabine. Em pessoa. Era um lugar público com muitos convidados. Nic seria forçado a bancar o educado. Mas ele mal inclinou a cabeça. Meu Deus. - Não vai me apresentar sua esposa? - perguntou Sabine. Uma mulher capaz de comer um homem vivo! Ela estava transando com os olhos... se isso fosse possível. Tina quis virar e ir embora. Os dedos de Nic prenderam-se aos dela, quase como se ele sentisse a intenção dela. - Nós já nos conhecemos. - Tina controlou a situação com calma, odiando estar naquela posição invejada. Sabine alfinetou-a com o olhar. - Jura? Ela ousava confrontar? - Você visitou minha butique sexta-feira passada. - Uma vez que começou, por que não partir para o ataque? - Você me seguiu em duas ocasiões e deixou um bilhete inflamado no meu pára-brisa. - Não sei do que está falando. - Sabe, sim - concluiu Tina. - Será interessante se a polícia combinar as impressões digitais encontradas no bilhete com as suas. - Ciúme não é uma característica atraente - opinou Sabine com uma doçura excessiva. - Também acho! - O touché estava deliberado e Sabine franziu os olhos e virou-se para Nic. - Estou um tanto decepcionada por não ter atendido minhas ligações, querido. - Por que eu faria isso? A voz dele estava tão fria quanto uma placa de gelo. Tranquila, mortal, letal. - Nós temos uma história. - Sabine passou a unha esmaltada na manga do paletó dele e fez um biquinho sedutor. - Você tem uma imaginação fértil. - O desprezo debochado dele teria derrubado qualquer mulher. Mas Sabine parecia imune. O biquinho aumentou. - Devo entrar em detalhes na frente de sua mulher? - Seria um esforço em vão - disse Tina. - Veja você, não me importo com o passado de Nic. - Notável. - Não é? - esquivou-se Tina e reclamou quando Nic a afastou. - Não preciso ser socorrida. - O protesto era sincero. - Não estava levando a nada. Naquele momento, a campainha soou como um aviso para os convidados tomarem seus lugares e Tina olhou em direção ao auditório do cinema, onde poderia relaxar sem precisar manter a farsa. Com certeza Sabine não conseguira reservar um assento perto. Espero que Deus não permita que o lugar dela seja próximo aos deles. Os lugares foram rapidamente tomados. Nenhuma das cadeiras próximas das deles foi ocupada por Sabine. A tradução do filme era feita por legendas, embora não estivesse em sincronia com os lábios do ator, o que provocava uma leve distorção. Tina ficou tão fascinada com o sofrimento pelo amor não correspondido, gestuais e linguagem corporal que levou tempo para notar que os dedos de Nic permaneciam entrelaçados aos dela. Algo que ela tentou corrigir, mas ele apertou sua mão, dificultando que ela a soltasse. Uma outra tentativa fracassou e ela pressionou as unhas contra os nós dos dedos dele, em sinal de aviso. Sem sucesso. Então qual era a grande questão? Manter o equilíbrio em relação a uma coisa. - Você não curtiu o filme? - Eles alcançaram o lobby e andaram em direção à entrada principal. - Diferente do que esperava. Muito noir. - Ao invés de leve e feliz com todos os finais bem resolvidos? - provocou Nic. - Claro. No entanto, a fotografia era boa. Não houve sinal de Sabine quando saíram do lobby nem quando andaram até o carro. Passado, mas não esquecido, supôs Tina, e então perguntou-se qual seria o próximo movimento da mulher... e quando. - Acho que me deve uma explicação - começou ela enquanto Nic dirigia. Ele a olhou de relance. - Sabine? - Quem mais? - Nós nos conhecemos por meio de amigos em comum, jantamos juntos, nos encontramos novamente em uma festa. Depois disso ela começou a aparecer em todos os eventos sociais em que eu pudesse estar. - Você teve um relacionamento com ela? - Por pouco tempo. - E você terminou? Ele não tentou disfarçar os fatos. - Com certa dificuldade. Tina podia imaginar. Sabine persistiu. - Telefonemas, torpedos, convites... todos os quais você ignorou. Depois a perseguição começou. Isto a influenciou na decisão de... - Casar com você? Ela devia ficar aliviada? - Sabine quer você. É obcecada por você. - Estou comprometido. Mas por que isto gerava um redemoinho de emoções? Era louco, insano ser presa da sensualidade daquele homem. O perfume dele agia como um afrodisíaco, provocando os sentidos dela, criando pensamentos maliciosos que não tinham lugar em sua vida. Ela queria manter o controle... sobre suas emoções. Se ela perdesse o controle, não teria ninguém para pegá-la quando caísse. - Em um casamento que é meramente decorativo. - Que cabe a ambos. Cabia? Ela já não tinha mais certeza. Quando Nic passou pelos portões as luzes se acenderam dentro da casa, dando-lhes as boas-vindas. Foi... reconfortante, admitiu Tina quando eles entraram na sala. - Vá subindo. Preciso checar os e-mails. Fuso horário - explicou Nic. Isso foi uma hora antes de ele subir as escadas e entrar na suíte. Por um momento, ele se perguntou se ela forçara a independência e se retirara para o outro lado da casa. Mas a cama da lado da dele estava ocupada, o corpo delgado de Tina enrolado sob os cobertores. Ela parecia indefesa dormindo, suas feições claras contra os cabelos vermelhos espalhados sobre o travesseiro, e ele resistiu bravamente ao impulso de ir para baixo dos cobertores e agarrá-la. Mas tal atitude faria com que ela acordasse agressiva e derramasse sua ira feminina sobre ele. Isso também o faria perder qualquer terreno que conseguira ganhar. CAPÍTULO NOVE Houve uma sensação de alívio quando o dia chegou ao fim sem contratempos. O dia de trabalho agitado e a volta para casa não deram a Tina motivos para preocupação, nem a perturbou saber que Nic estava jantando com uns associados na cidade. Chegar em casa tarde podia significar qualquer coisa. Ela decidiu passear com Czar pelo jardim antes de preparar uma salada e, depois de comer, tomar banho e deitar para ler um livro. Ela leu um pouco, depois apagou a luz e caiu em um sono profundo e sem sonhos do qual não despertou até da manhã. Nic estava sentado à mesa do café-da-manhã quando ela entrou na cozinha. - Noite bem-sucedida? Ele parecia descansado, energizado e incrivelmente másculo. Ele deu um sorriso meio cínico. - Nós conseguimos eliminar as dificuldades e concluímos que não é possível chegar a um acordo sobre alguns aspectos. - Mais ou menos, então? - Poderia ter sido melhor-aludiu ele com frieza. -Você está livre essa noite? Nic recostou na cadeira e a olhou com certa curiosidade. - O que tem em mente? - Jantar no Ritz-Carlton. Eu não deixo de pagar uma aposta - ele disse. - Nosso encontro... Com a condição de que eu dirija, faça o pedido, pague e leve você em casa. - Troca de papéis? - Ela o divertia como nenhuma outra mulher. - Você vai contestar? - De jeito nenhum. - Vou fazer uma reserva. Às sete está bom para você? - Claro - ele respondeu, sorrindo. Ela pegou a bolsa, o laptop e andou até a porta. - Hoje à noite. Seria, Nic pensou enquanto vestia o paletó e preparava-se para segui-la, uma noite interessante. Ele a estava esperando no hall de entrada quando ela desceu as escadas um pouco depois das sete e meia, usando um vestido de chiffon drapeado com estampa floral. Seu cabelo estava preso no alto com alguns cachos soltos nos dois lados do rosto e a única jóia que usava era um par de brincos esplêndidos. - Gosto de homens pontuais. Vamos? Nic estendeu o braço. - Depois de você. Escolhas, ela refletiu quando entraram na garagem. Ela preferia seu Volkswagen, mas duvidava que aquele homem alto se acomodaria com conforto dentro dele. O Porsche ganhou. Ela desacionou o alarme, abriu a porta do carona e indicou que ele podia entrar. - Essa troca de papéis não está indo longe demais? - Prometo que não vou constranger sua masculinidade em público - disse ela solenemente e ouviu o risinho dele. O restaurante tinha muitas reservas, muitas pessoas ocupando o espaço do bar, e Tina escolheu, então, ir direto para a mesa que reservara. Já sentados, ela consultou o garçom de vinhos, perguntou a preferência de Nic e fez o pedido. - Você já fez isso antes - disse Nic. - Claro. - Deixe-me adivinhar. Vasili era seu parceiro no crime. - Verdade. - Ela lembrou a alegria que eles compartilhavam. O garçom serviu o vinho e começou seu discurso, consentindo que o cavalheiro degustasse quando a madame recusou. Quando chegou a vez de escolher o menu, ela o examinou com cuidado e sugeriu uma entrada. - Posso pedir pão? - Naturalmente. De ervas, alho, bruschetta, árabe? - Árabe, com hommus? Tina chamou o garçom e fez o pedido. - Você está se divertindo com isso - declarou Nic e viu a clara expressão maliciosa nos olhos dela. - E você não? - Isso é uma troca saudável. - Fico feliz que esteja se divertindo. Ele quis rir, mas deu apenas um sorrisinho. - Me conte sobre um dia na vida de Nic Leandros. - Você realmente quer saber sobre isso? O homem ou o executivo? Ela levantou o copo e tomou um gole de água. - O último. O homem estava sempre presente, invadindo os pensamentos, os sonhos, a vida dela. Muito perto, perto demais. - Reuniões, dentro e fora do escritório, telefonemas de consulta, decisões. Lidando com percalços, atrasos, frustrações associadas a diferentes fusos horários de regiões do mundo todo. Associados, gerentes, assistentes pessoais, secretárias... algumas das quais tinham de ser mulheres. Atraentes? Elas tinham algo pelo patrão, flertavam com ele? Visavam a algo mais? - Sim - concordou Nic. - E não. Tina levantou a sobrancelha. - Não por não terem vontade de tentar, suponho eu. Ela também podia brincar de ler mentes. I O garçom serviu a entrada e Tina comeu com prazer. - Sua vez. - Um dia na vida de Tina... - ela quase disse "Matheson" - Leandros? Clientes agradáveis, consumidoras difíceis de agradar, entregas atrasadas, estoque indisponível. Os ocasionais furtos, lidar com as pessoas que compram uma peça, usam naquela noite e depois voltam no dia seguinte com a desculpa de que não caiu bem e exigem um crédito. - O ditado "o cliente está sempre certo" não se aplica? - Não quando o cliente foi fotografado usando a roupa em público... - Ah! Durante o prato principal, Tina puxou assunto sobre viagens, países que ela já visitara, aqueles que gostaria de conhecer. - Paris é uma loucura. Áustria para esquiar. Londres. Milão para os desfiles de moda. Veneza, Roma, Nova York. Acho que você viaja tanto que nem é mais uma aventura. Apenas longos vôos, suítes de hotel, intensas reuniões de negócios com pouco ou nenhum tempo para atividades sociais ou lazer. Ele tomou um gole de vinho e depois água. - Você não dá um tempo... nunca? Algum tempo que envolva pouco ou nenhum contato com o mundo dos negócios? - Raramente. - Sempre trabalho e nunca diversão? Ele deu um sorriso irônico. - Você quer detalhes sobre diversão? Romances? Deviam ser poucos. Ele tinha o olhar de um homem que conhecia as mulheres e levara muitas para a cama. Esse pensamento a incomodou mais do que imaginava. - Duvido que possa lembrar de todas - disse ela com doçura. - Você acha que houve muitas? - Preferia não responder, porque qualquer coisa que eu diga - Parou de falar propositadamente, sorriu com graciosidade e pediu o cardápio de sobremesas. - Se você tem uma boca boa para doce, o pudim é... - De morrer? - Humm - concordou Tina com um sorriso caloroso. - Eu vou de compota de frutas frescas. Tomaram café e chá, no caso de Tina, e quando o garçom apresentou a nota, ela o precedeu indicando que deveria ser dada a ela. - Já que você insiste. Minutos depois ela fez sinal para que o manobrista pegasse o carro. - Obrigado pela noite agradável - disse Nic com tranquilidade. - De nada. Eles entraram juntos em casa e ela subiu as escadas.. - Você se esqueceu de uma coisa. Ela se virou, uma leve surpresa marcou sua e pressão quando ele andou em sua direção. - Não é nessa hora que você me dá um beijo boa noite? Ele estava brincando... não estava? Tina hesitou, depois ergueu o corpo e deu um beijo no rosto dele. Pelo menos era essa as intenção, mas ele virou o rosto, e a boca de Tina juntou-se à dele. Ele não permitiu que ela tivesse a oportunidade de puxar a cabeça de volta. Em vez disso, ele segurou cabeça dela com ambas as mãos e transformou o breve toque em algo a mais. Muito mais. Uma dança lenta, exploratória, completamente sensual... intensa. Um sabor de paixão eletrificante e tão intoxicante quanto um sofisticado champanhe. Meu Deus, se ele beijava assim, como seria fazendo amor? Não vá até lá. Ela não tivera idéia de quanto tempo o beijo durou. Trinta segundos, cem... mais. Quando ele a soltou, ela só conseguiu ficar ali, parada, olhando para ele, em um silêncio atordoante. Ele passou os dedos com suavidade pelo rosto dela e pousou-os de leve em sua boca. -Durma bem. Ela continuou parada ali quando ele virou-se em direção ao escritório, e só depois de ouvir o clique imperceptível da porta fechando foi para a suíte. Dormir nunca foi mais distante. Os lábios dela, a boca... droga, o corpo inteiro estava incandescente com um calor sensual. Não era justo. Trabalhar trazia uma distração necessária e, a cada dia que se passava, Tina tornou-se mais tranquila em compartilhar a grande suíte principal. Ajudava o fato de existirem lá dois banheiros e dois closets espaçosos. A privacidade individual podia ser mantida. Embora viver em tal intimidade significasse que ela estava constantemente ciente da presença de Nic. Os cobertores jogados na cama dele, as roupas que usara durante o dia no cabideiro. O aroma da colônia dele. O cheiro fresco de sabonete que sai do banheiro dele espalhando-se pelo ar depois de cada banho. Naquela noite, não foi nada diferente enquanto ela dava os toques finais em sua maquiagem. Nic de pé, nu da cintura para cima enquanto vestia as calças. Uma olhada rápida já bastava para deixá-la louca. Pele bronzeada sobre fortes músculos que se flexionavam a cada movimento que ele fazia. Naquele momento, ele levantou a cabeça e os olhos ficaram vidrados uns nos outros, unidos por alguns segundos infinitesimais. Tina forçou-se a pronunciar um casual "não vou demorar" antes de desaparecer dentro do closet. O vestido que escolhera usar era de seda azul-escura, com corpete de miçangas bordadas e sapatos de salto agulha feitos à mão. Acrescentou um último toque ao visual com um par de brincos de diamante em forma de gota. Depois entrou no quarto e viu Nic parado com tranquilidade, irresistível demais para a paz de espírito de qualquer mulher. Especialmente ela. - Pronta para ir? Tina pegou sua bolsa e deu um sorriso atordoante. - Hora da festa. - Tem só uma coisa. Ele foi para o lado dela e Tina recorreu ao humor como mecanismo de defesa. - Batom nos meus dentes? Rímel borrado? - Você está linda. - Uma beleza que vinha de dentro, acrescentou ele para si. Meu Deus. Nic tinha idéia de como ele a afetava? - Obrigada. Ela deixou seus olhos passearem por aquela moldura vestida de forma impecável. - Também acho que as mulheres vão brigar em massa por sua atenção. - Não seja tão exagerada. Ela lançou-lhe um sorriso malicioso enquanto desciam as escadas. - É mesmo? O trânsito estava lento e uma fila de carros aguardava o tíquete do estacionamento do hotel. A festa beneficente do Hospital Royal de Crianças era um evento social glamuroso. Qualquer um que estava lá era alguém, e ela reconheceu várias de suas clientes. Premonição ou um instinto finamente aguçado Tina perguntava-se enquanto seus olhos percorriam o salão. Sabine apareceria de última hora? Os convites tinham se esgotado há semanas e a única forma de entrar seria sua habilidade de convencer alguém que ainda tivesse um convite para dividir com ela. Naquele momento, as portas para o enorme salão foram completamente abertas, os convidados foram convocados a tomarem seus lugares e Tina se permitiu um suspiro de alívio quando chegaram em sua mesa reservada. Má hora, dada a aparição de Sabine no último minuto antes de o mestre-de-cerimônias subir ao palco. O cabelo deslumbrante da mulher fazia com que ela se destacasse de qualquer outra presente. Como se isso já não fosse o suficiente para chamar a atenção, Sabine escolhera usar um vestido preto... frente única que moldava-se perfeitamente às suas curvas. O efeito era tão excepcional, tão atordoante, que sem dúvida alguma acelerava o coração de qualquer homem... assim como outra parte da anatomia masculina. Havia duas cadeiras vagas na mesa ao lado e Tina observava com fascinação ela andar em direção a eles. O mestre-de-cerimônias atrasou o início de seu discurso até que Sabine e seu acompanhante estivessem sentados. Pior, Sabine sentou-se exatamente na linha de visão de Tina. A mesma linha de visão de Nic. Seria, concluiu Tina, uma noite dos infernos. Uma afirmação suavizada, pois Tina jogaria com todas as artimanhas que conhecia. Sem dúvida alguma, somente para o benefício de Nic. Uma lembrança do que eles haviam compartilhado... e ainda podiam compartilhar? Tina disse a si mesma que não se importava. Conversou com alguns convidados que compartilhavam sua mesa. Embora depois disso não conseguisse lembrar nem o assunto nem sua contribuição na conversa. A leve dor nas costas que persistira indo e voltando durante o dia, de repente intensificou-se em uma enorme dor que se espalhou e ela movimentou-se um pouco na esperança de abrandá-la. Talvez ajudasse se ela levantasse e se movimentasse um pouco. Uma ida ao lavabo? O café já havia sido servido quando ela finalmente retornou ao salão e vários convidados trocavam de lugar em mesas diferentes enquanto outros iam em direção à porta principal. - Hora de partir? - Por favor - Tina concordou com a rápida sugestão de Nic. O olhar dele intensificou-se quando alcançou as feições pálidas e os olhos verdes de Tina, que pareciam esconder algo. - O que houve? Se fosse apenas algo simples como uma dor de cabeça, mas tinha medo de que fosse mais do que isso. - Não sei. Nic não hesitou em ligar para o motorista e depois a levou para a varanda, onde o carro já os esperava. - Prefiro ir para casa antes - protestou enquanto Nic seguia em direção ao hospital particular mais próximo. No instante seguinte, um espasmo de dor deixou-a temporariamente sem ar e qualquer dúvida que pudesse ter tido deu lugar a uma certeza repugnante. Depois disso, tudo ficou escuro e ela foi levada para a sala de emergência. Deram-lhe uma medicação intravenosa e depois a examinaram. Aborto natural. Fizeram alguns exames, uma ultra-som, deram-lhe um analgésico e a monitoraram durante toda a noite. Se tudo corresse bem, ela teria alta no dia seguinte. - Vá para casa - disse Tina quando viu que Nic permanecera no quarto depois que os médicos já haviam terminado. A expressão de Nic era de desolação, os olhos inacreditavelmente fundos enquanto puxava uma cadeira para sentar a seu lado. - Eu vou ficar. Ela estava se sentindo fraca demais para discutir com ele e simplesmente fechou os olhos sem vontade de pensar. Sem querer pensar. Deram-lhe algo para dormir? Que horas eram? Droga... O que isto importava? Nada mais importava. Um sono ininterrupto era impossível, pois as enfermeiras apareciam em intervalos frequentes durante o que restou da noite. Em um momento, quando virou o rosto, Nic ainda estava lá. O silêncio do hospital foi quebrado com a troca de turno das enfermeiras de manhã cedo, com a chegada da moça que trazia o chá e com o alvoroço geral da preparação da ronda de vários médicos. Não havia sinal de Nic e, quando ela perguntou, disseram-lhe que ele fora em casa trocar de roupa. Tina tomou um banho e colocou uma camisola de hospital limpa. - Você está confortável, querida? O café-da-manhã será servido em breve. Havia um controle remoto para ligar a televisão preso no alto da parede. Revistas para escolher. Não estava interessada em nenhum dos dois, mas qualquer coisa era melhor do que ficar pensando no aborto. Era como se estivesse presa em um estado de ambivalência onde pouca ou nenhuma emoção existia. Outra enfermeira apareceu, verificou sua temperatura, checou sua pressão sanguínea, a medicação intravenosa e depois perguntou como ela se sentia. - Bem. - A resposta vaga foi automática. A verdade era que não sabia como se sentia. Sua mente estava confusa com tantos pensamentos. Havia uma certa culpa de que a gravidez havia sido um erro; não algo planejado, concebido com um consentimento mútuo e o desejo por uma criança. Ela lembrou-se de seu choque inicial, decisões, a morte acidental de Vasili. A cabeça de Tina girava com tudo isso, seus pensamentos intensificavam-se à medida que se lembrava da insistência de Nic para que se casassem por conveniência para o bem do herdeiro dos Leandros. Mas agora não havia mais criança. Então, onde isso a levaria? O café-da-manhã chegou e ela comeu frutas, cereais, torradas e tomou o chá. Tina levantou os olhos e viu a silhueta de Nic na porta por um instante. Ele foi até a cama e inclinou-se para beijar-lhe a testa. - Como você está? Apontou para a bolsa que segurava em urna das mãos. - Trouxe algumas roupas para você. Coisas que achei que pudesse precisar. Ele segurava flores. - A enfermeira disse que iria trazer um vaso. - Obrigada. Ela parecia... frágil. E seus olhos tinham olheiras cujo motivo já sabia. - Chequei na enfermaria. O obstetra logo estará aqui. Ele controlou o impulso de tirá-la da cama, sentar com ela na cadeira e abraçá-la. No entanto, ela provavelmente resistiria à tentativa. Seus olhos ficaram vidrados nos dela, mas Tina foi a primeira a desviar o olhar. Diabos. Ela sabia o quão incapaz ele se sentia? Como palavras... quaisquer palavras... pareciam inadequadas? O obstetra chegou e foi embora, depois de agendar uma consulta de acompanhamento e autorizar sua alta no final daquele dia. Ela podia ir para casa. Uma boa sugestão... no entanto, onde era sua casa agora? Sem gravidez não havia razão para o casamento ir adiante. Quando podia esperar que Nic pedisse o divórcio? Pois o divórcio era inevitável... não era? - Já fiz algumas ligações necessárias - disse Nic em voz baixa. - Lily vai tomar conta da butique e Claire vem para cá por volta do meio-dia. Convidei-a para passar uns dias aqui. Stacey vai ligar para você à noite. Claire? Nunca precisara tanto de sua mãe. Nic permaneceu lá até a hora de ir buscar Claire no aeroporto e trazê-la direto para o hospital. Sentada na cama, Tina esticou os braços e abraçou sua mãe com força. - É tão bom ver você. - Ela bateu na cama. - Senta aqui. Nic sorriu ao vê-las juntas, duas mulheres que pareciam mais irmãs do que mãe e filha. - Vou deixá-las sozinhas. - Ele inclinou-se e beijou o rosto de Tina, - Volto às quatro. - Obrigada - disse ela. Foi maravilhoso rever sua mãe e elas conversaram durante horas... sobre todos e tudo, a não ser sobre o assunto mais difícil... Como o aborto afetaria o relacionamento dela com Nic. Tina achava impossível expressar seus medos em palavras e Claire, com intuição de mãe, deixou o assunto de lado. - Por quanto tempo você vai ficar aqui? - Até terça. Vou pegar o último vôo de volta, passar a noite em Brisbane e ir para Noosa ao amanhecer. O jantar à noite foi agradável. Steve tinha se superado com um frango assado magnífico, várias saladas e um cheesecake delicioso. Havia café e Tina saboreou-o com o prazer que lhe fora negado por diversas semanas. A ligação de Stacey, quando veio, foi difícil para as duas. Não houve palavras adequadas, nada para aliviar a dor da dupla perda que Stacey tivera em questão de semanas. Isso serviu para intensificar a culpa de Tina... sem fundamento, ela sabia, mas a culpa existia. Não apenas pela perda do filho, mas pelo medo de perder Nic. - Querida, por que você não vai para cama? - sugeriu Claire gentilmente por volta das nove. - Posso imaginar que você não dormiu muito na noite passada. - Você só quer se livrar de mim para poder jogar charme para esses dois homens - provocou ela e ouviu a risadinha de sua mãe. - Como você adivinhou? Nic levantou-se imediatamente e acompanhou Tina até ofoyer. - Você não precisa vir comigo - disse ela em voz baixa. - Não vou cair em prantos daqui até o quarto. Foi a fragilidade dela que o incentivou a acompanhá-la, pois ele podia ver Tina retraindo-se, distanciando-se, e não conseguiu evitar, sentiu-se sem forças para isso. - Não - ele concordou com uma tranquilidade premeditada, enquanto começava a subir a escada ao lado dela. Chegaram ao segundo andar e caminharam pelo corredor até a suíte principal. Dentro do quarto, Tina virou-se para olhá-lo. - Então por que está aqui? - Para ter certeza de que você vai tomar seu remédio. - Ele entrou no banheiro, e encheu um copo com água e retornou para entregar-lhe o remédio. - Não preciso de um enfermeiro. Tina engoliu o comprimido e o observou caminhar até a porta. - Vou ficar acordado até mais tarde. E então ele foi embora. Ela estava bem, disse a si mesma enquanto se despia e deitava na cama. E sabe o que mais, iria ler por algum tempo... Quando Nic retornou ao quarto, ela estava dormindo e o livro no chão acarpetado. Ele pegou o livro do chão e o colocou na mesa-de-cabeceira. Depois, permaneceu por alguns minutos olhando-a dormir. A tentação de deitar ao lado dela e puxá-la para perto de si era quase irresistível. Em vez disso, atravessou o quarto, mudou de roupa e deitou-se na própria cama. Ficou olhando para o teto escuro preso em um pensamento contemplativo. CAPÍTULO DEZ - O que você está com vontade de fazer hoje? Já passavam das nove. Havia uma sensação de prazer em dividir o café-da-manhã com Claire. - Ficar com você, querida. - Por que não vamos dar uma olhada na butique? - sugeriu Tina. - Almoçar e fazer compras para relaxar. - Claustrofobia tão cedo? - sua mãe brincou. - Pode ser. Como ela podia explicar para a mãe que possuía um desejo ardente de sair daquela casa? Uma casa da qual muito provavelmente pediriam que saísse? - Você não acha que deveria descansar? Tina balançou a cabeça. - Fiz isso ontem, lembra? Com a insistência sua e de Nic. Mas hoje... bem, hoje era diferente. - Obstetra... - Me garantiu que estou bem para voltar a minha rotina normal. Ciaire deu uma piscada. - Conheço bem essa sua determinação. Quatro horas no máximo - ela preveniu - Menos, se eu achar que está começando a ficar fraca. Elas saíram de casa às onze, apesar da relutância de Steve, cora Claire ao volante e Double Bay como destino. A butique era a prioridade de Tina e a recepção alegre e o abraço caloroso de Lily valeram seu dia. - É tão bom ver você - entusiasmou-se Lily. - Mas era para você estar aqui? - Foi isso que eu disse para ela. Lily deu um sorriso malicioso para Tina. - E ela não escutou, não foi? - Mantenho-a na rédea. - Pronta para refreá-la? - Se você não parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui... - protestou Tina com a voz calma. - Algum problema? - Nenhum com o qual eu não possa lidar - assegurou Lily. E continuou a descrever a lista de entregas, vendas e pedidos. - Quer fazer uma pausa enquanto Claire e eu tomamos conta da loja? Claire deu um passo adiante. - Eu tomo conta da loja e você senta - disse ela rapidamente. - Lily, tire meia hora. Era bom estar de volta, refletiu Tina. Qualquer um pensaria que ela estivera fora por semanas em vez de um dia. - Eu gosto do que você está fazendo aqui - elogiou Claire, enquanto Tina mexia no estoque. - Está bem organizado e e as roupas expostas com beleza. - Obrigada. Era agradável ver sua mãe receber os clientes que entravam apenas para olhar e acabavam comprando devido ao magnífico talento de Claire para as vendas. Definitivamente uma arte, reconheceu Tina, que sua mãe possuía de sobra. - Aprendi com a melhor de todas - elogiou Tina quando a butique ficou vazia e Claire deu um sorriso. - A peça que era bonita. Combinou com as feições e cor de pele dela... o mérito é da própria peça. - Com certeza. As duas estavam rindo quando Lily retornou. Levantando a sobrancelha de forma brincalhona ela disse: - Vocês vão dividir comigo ou terei de adivinhar? - Claire acabou de vender o conjunto Saab. A expressão de Lily era cômica. - Essa peça saiu do estoque agora de manhã. Você devia ficar mais algum tempo. Claire pegou sua bolsa. - Vou levar minha filha para almoçar. - Volto amanhã. - Melhor ver primeiro com Nic - advertiu Lily, ignorando a revirada de olhos expressiva de Tina. Tina conseguiu uma mesa em um restaurante elegante e bem conhecido por sua cozinha sofisticada. - Lily parece estar gerenciando a loja muito bem. - Claire deu um gole em sua água e inclinou-se um pouco na cadeira. - Você podia tranquilamente tirar umas férias. - Talvez. - Pense nisso - sua mãe a estimulou. Tina inclinou a cabeça e rapidamente a abaixou quando viu quem o maitre estava conduzindo a uma mesa vaga. Sabine. - Alguma coisa errada, querida? - Você, Tina. - A voz meiga e arrastada era definitivamente felina. - Não esperava ver você aqui. Acredite em mim, nem eu. - Não - disse ela em um tom de voz despreocupado. Sabine virou-se para Claire. - Acho que não nos conhecemos. Sabine Lafarge. Uma... - ela fez uma pausa proposital - uma velha amiga de Nic. Não tão velha, e determinada a intrometer-se no presente. - Talvez eu pudesse me sentar com vocês. Desagradável, definitivamente desagradável, concluiu Tina, que estava prestes a recusar, quando sua mãe se antecipou. - Não. - O restaurante não tem mais mesas vagas. - Vamos ter uma conversa íntima. Levantando uma das mãos, ela chamou o Maitre e explicou que não estavam dispostas a compartilhar a mesa e ouvir sua resposta volúvel. - Mas a madame insistiu que é uma amiga. O sorriso de Claire era puro mel. - A madame está errada. O olhar cortante de Sabine foi como um laser quando ela se virou e saiu do restaurante. - Você me deve uma explicação - começou Claire com imparcialidade. Tina explicou a história resumidamente e viu sua mãe franzir os olhos. - Essa mulher é perigosa. Tome cuidado, querida. - Pode deixar - disse ela com obediência. - Mais café? Por não ter podido tomar café por várias semanas, ela parecia inclinada a compensar o tempo perdido. - A reação de Nic para isso é... - Claire insistiu e Tina esbravejou. - Fortalecemos a segurança - ela esclareceu calmamente. - Um outro Steve como guarda-costas. Carrego um dispositivo de restreamento. Meu Volkswagen fica na garagem e eu dirijo o mais sofisticado Porsche. Tem também um cão de guarda. - Ela respirou fundo e expirou lentamente. - Já é o suficiente? - Estou impressionada. - Só podemos imaginar por quanto tempo isso vai durar. Claire olhou-a pensativamente. - Porquê...? - Não tem mais um herdeiro dos Leandros. Sua mãe parou para pensar um pouco. Talvez se concentrando em buscar as palavras certas? - Não é provável que em algum momento no futuro você e Nic não considerem ter um filho juntos? Tina ficou temporariamente sem palavras. - Você sabe... - Sim, eu sei - disse Claire rapidamente. - Então, por que você...? - Sugeriu? - Claire perguntou. - Não tem uma parte de você que quer amar e ser amada? Sentir-se segura em um relacionamento? Envelhecer ao lado de um homem que não é apenas seu amante, mas seu melhor amigo? - E já que o casamento com Nic existe, por que não matar dois coelhos com uma cajadada só? Tina não conseguia descrever como esse pensamento a afetava. - Você não esqueceu um pequeno detalhe? - Ela tentou se acalmar e quase não conseguiu. - Talvez isso seja algo que nenhum de nós dois queira... Claire ficou pensativa. - Você não quer? - Não preciso desse problema. Isso mal respondia à pergunta, mas era melhor não fazer comentário algum a respeito, decidiu Claire e pediu a conta. - Compras para relaxar? - sugeriu ela com um sorriso. Elas chegaram em casa duas horas depois com várias sacolas de compras, - Maria preparara para o jantar uma sopa de legumes e um delicioso cordeiro assado. Tina insistiu em colocar a mesa, enquanto Claire subiu para fazer as malas. Nic entrou na sala de jantar assim que Tina colocou o último copo e ela sentiu um frio na barriga quando ele se aproximou. - Teve um bom dia? Ela deu um passo para trás e sorriu. - Claire e eu passamos na butique. Almoçamos e fomos às compras. - Era para você estar descansando. - Já fiz isso com Claire. Nic decidiu não insistir. - Algum problema? Ele saberia disso de qualquer maneira, então era melhor que ela contasse logo. - Sabine entrou no mesmo restaurante que estávamos e fez de tudo para sentar-se conosco. Ele enrugou os olhos. - Suponho que ela não tenha conseguido? Tina tentou afastar-se dele e fracassou terrivelmente quando Nic pegou seu rosto com as duas mãos. Ela não queria ficar assim tão perto dele, pois bastava olhar para a curva sensual daquela boca para lembrar o que sentia quando ela se encostava a sua. - Por favor, eu preciso tomar uma ducha antes do jantar. Ele abaixou a cabeça e beijou-a... A língua de Nic passou leve e rapidamente na dela, e ele a soltou. Foi o suficiente para que ele sentisse o coração dela acelerado e percebesse a rapidez com que puxou o ar antes de sua boca encostar-se à dela. Nic observou-a deixar a sala e passou para a cozinha, onde checou com Steve se tudo estava em ordem. O revide de hoje aumentaria a vontade de Sabine em ir à forra. A parte difícil era prever como, quando e onde. Steve juntou-se a eles para o jantar e a conversa foi leve, com lugar até para brincadeiras. Normal, Tina avaliou enquanto levavam Claire ao aeroporto. Foi difícil dizer " adeus" quando chegou a hora de sua mãe passar pelo portão de embarque. Tina lutou contra um repentino sentimento de perda, enquanto Claire desaparecia de sua visão. O cansaço a invadiu quando voltavam para casa e ela simplesmente inclinou a cabeça contra o encosto do assento e fechou os olhos. Quando Nic estacionou o carro na garagem, ela tirou o cinto de segurança e entrou em casa antes dele. Cama, ela decidiu. Mas primeiro, um banho. Ele colocou um braço em volta de seus joelhos enquanto subiam as escadas. - Eu sei caminhar. - Entregue-se a mim. - Estou bem - ela assegurou-lhe assim que chegaram no quarto. - Com certeza você está bem. Ele colocou-a no chão e pegou os botões de sua blusa. - O que você pensa que está fazendo? - Tirando sua roupa. Ele parecia quase... atencioso. E, apesar de seu cansaço, o jeito como a tocava tinha um contexto completamente diferente. Um contexto que fazia alarmes soarem enquanto os dedos dele passavam sobre sua pele. Ela não queria estar se sentindo assim. Droga, ficar assim inerte era uma loucura que não podia deixar que acontecesse. - Não. Aquela era sua voz? Pedindo, quase implorando para que ele desistisse. Ele prestou pouca atenção e continuou sua tarefa até que ela ficasse apenas de sutiã e calcinha. - Vã. Tina fugiu para o banheiro e voltou algum tempo depois. Ela sempre considerou uma falácia o fato de alguém dizer que caía no sono assim que encostava a cabeça no travesseiro. No entanto, tudo o que conseguia lembrar era estar fechando os olhos. Mais tarde, não fazia idéia de que hora tinha dormido e por quanto tempo. Tudo o que sabia era que estava escuro e estava presa a um pesadelo familiar Em que estava deitada em seu apartamento, o suave som, o movimento silencioso e depois a mão sobre sua boca. Ela não conseguia respirar, não conseguia enxergar e começou a reagir, lutando contra uma força muito maior do que a sua... - Tina. Mãos fortes seguraram seus braços, que se debatiam, enquanto uma voz masculina penetrava em seu subconsciente. No entanto, ela continuava a lutar. Seu nome soou claramente, próximo... o pesadelo foi embora e ela retornou ao presente. Ela sentiu uma mistura de consternação e alívio ao reconhecer onde e com quem estava. Ela tinha a expressão assustada, seus olhos verdes estavam escuros e arregalados, refletindo um terror não pronunciado... e Nic levou-a de sua cama para a dele, apesar do protesto de Tina. - Não diga nada - ele repreendeu-a em voz baixa, enquanto a puxava para perto de si. Ela não deveria estar onde estava, não deveria ficar. Mas era tão bom. O corpo dele era quente, em seus braços fortes sentia-se a salvo. Segura, corrigiu em silêncio enquanto cedia e se deixava ser levada. Tina ficou agitada na cama durante toda a noite por causa da insônia. Movia-se com cuidado e percebeu que estava curvada contra um peito quente e musculoso. E mais do que isso, estava envolvida por um braço másculo e forte. Depois lembrou... e sentiu seu coração acelerar. Seria tão fácil ficar ali. Aconchegar-se nele e aproveitar aquela proximidade, respirar em meio a seu cheiro masculino e sentir o toque de suas mãos... No que ela estava pensando? Ela não podia ir até onde ele poderia conduzi-la. Disse a si mesma que não queria. Sabia que estava mentindo. E na escuridão da noite era possível entregar sua mente, permitir-se acreditar que qualquer coisa era alcançável. Até mesmo o amor. Mas isso não iria acontecer. E, além disso, permanecer na mesma cama com ele era impossível. Ela morreria se ele se movimentasse durante o sono e por engano, pensando que ela era outra pessoa, começasse a acariciá-la. Saia, uma voz silenciosa recomendou com insistência. Agora. O objetivo, ela determinou a si mesma vários minutos depois, era escapar. Não era fácil quando cada centímetro que ganhava era perdido à medida que o braço dele a puxava com firmeza pela cintura. Uma ação involuntária ou proposital? Involuntária, ela decidiu. Tinha de ser. O que faria depois? Tomaria coragem? Talvez funcionasse. Funcionou. E deitou-se em sua própria cama com uma sensação de alívio. Não havia sinal de Nic quando Tina acordou e desceu para tomar o café-da-manhã, preparada para a batalha em relação a sua decisão de voltar ao trabalho. Steve disse-lhe que Nic já tinha comido e já estava indo para a cidade. - Você acha que deve?- questionou Steve quando ela revelou sua intenção. - Sim. - Fique alerta - ele advertiu. - Sabine... - Pode ser ainda mais inconveniente - ela terminou. - Já entendi. Tina assegurou-lhe enquanto pegava suas chaves. A manhã foi agitada e havia uma sensação de normalidade na volta a sua rotina familiar. Por volta das onze Lily atendeu o telefone, falou em voz baixa e entregou-o a Tina. - Seu lindo marido. - O que você acha que está fazendo? A voz dele estava mais do que sedosa. - Trabalhando. - Espero que não seja pelo dia inteiro. Ela não estava no clima para proteção exagerada. - Estamos ocupadas. Tenho de ir. Ela desligou o telefone, deu uma olhada na loja... e percebeu que o dia acabara de tomar o rumo para o pior. Sabine. Em uma missão. - Precisamos conversar - começou a mulher sem preâmbulos assim que chegou. - Não temos nada para conversar - Tina respondeu tranquilamente. Sabine lançou-lhe um olhar cauterizante, que tinha a intenção de fazer com que sua vítima virasse cinzas. - Saia da vida de Nicos. Ou eu tiro você dela. Tina pôde ver Lily digitar sorrateiramente alguns números em seu celular ao fundo da loja. - Gostaria que você saísse daqui - disse Tina fingindo estar calma. - Quando eu terminar. Não tire seus olhos dela. Precaução é essencial. No entanto, o ataque veio do nada. E Sabine rapidamente segurou o rosto de Tina. - Nic é meu - sibilou Sabine. Sem mais palavras, a mulher virou-se e caminhou até a porta... que não se abriu. Então, Sabine gritou furiosa: - Abram a porta. - Vai ficar fechada até a polícia chegar. Sabine virou para Lily. - Abra! O grito de raiva de Sabine foi quase animalesco ao ver que Lily não se movimentou. Possuída pela fúria, começou a correr pela butique, empurrando um antigo espelho de postura; depois, pegou uma bolsa da vitrine e a atirou em Tina. Não foi o mais suave dos movimentos. Mas o salão não era um ringue, onde movimentos eram cuidadosamente orquestrados com habilidade e destreza. A falta de escrúpulos nunca foi elegante! Steve chegou minutos antes da polícia e tudo depois daquilo assumiu uma aparência irreal. Ela tentou evitar ser fotografada e estava em meio a um protesto loquaz quando Nic chegou. Sua presença provocou uma súplica ultrajante de Sabine, a qual ele ignorou, nem mesmo olhando-a. Em vez disso, foi diretamente até onde estava Tina para conferir como ela estava. - Não estou tão mal quanto pareço - disse ela. Ele observou o inchaço em seu rosto, os arranhões nas mãos por causa das unhas de Sabine e virou-se para o policial. Depois de dizer algumas palavras, acrescentou: - Aplique as leis adequadas. - Preciso me recompor - disse Tina olhando-se no espelho. O reflexo de Nic apareceu atrás do seu e ela ofereceu pouca resistência quando ele a virou para olhá-lo. Ela tinha de dizer alguma coisa... qualquer coisa era melhor que o silêncio que se estendia entre os dois. - Sabine enfim usou de força física-disse Tina. - Custando a você um certo preço. - Poderia ter sido pior. - Vou levar você para examinar isso. Depois vamos para casa. - Você quer brincar de enfermeiro... muito bem. Mas vou ficar aqui. Ela precisava se manter ocupada, sem ter de pensar nisso. - Com uma condição. Steve fica com você. - Isso não é um pouco exagerado? - Não. Graças aos esforços de Lily, a butique já estava novamente arrumada, e em seguida ela gravou com o policial sua versão para o ocorrido. - Isso é desnecessário - disse Tina enquanto um médico examinava seu rosto e limpava o corte. - Você vai ficar com um lindo hematoma. - Vou colocar gelo - ela prometeu. - Isso vai ajudar. Depois ela foi em direção a Nic. - Satisfeito? - Não, mas por enquanto está bom. Um policial permaneceu gravando o depoimento de Tina e expressou desejo em acessar as câmeras de segurança da butique, Nic seguiu os policiais depois de trocar algumas palavras com Steve, que indicou permanecer nos fundos da loja. Felizmente, o incidente ocorrera próximo ao meio-dia, quando o movimento na loja era pequeno. Tina minimizou a importância do acontecimento para aqueles poucos que tiveram curiosidade em acompanhar a polícia entrando e saindo da butique. Lily e Tina despediram-se com um boa noite afetuoso ao fim do dia. Tina dirigiu até Rose Bay com Steve seguindo-a logo atrás. O carro de Nic estava estacionado na garagem e não houve nada que ela pudesse fazer quanto ao calafrio que sentia no estômago enquanto subia a escada. Era loucura sentir-se assim, estar tão ligada a um homem que tomara o controle de sua vida, virara-a de cabeça para baixo... e sem dúvida alguma iria expulsá-la de sua vida muito em breve. A questão era quando, e não se... Dariam um jeito em Sabine Lafarge... mas quanto tempo levaria até que uma equipe de advogados lutasse por sua liberação com pagamento de fiança? E então, o que viria depois? Tina entrou na suíte principal e tomou um susto quando viu Nic saindo do banheiro com uma toalha enrolada na cintura. Só precisou de um olhar para que recordasse claramente como era sentir-se abraçada por aquele homem por várias horas durante a noite. Saber que podia ir até ele e puxar seu rosto em direção ao dela, saborear seu beijo, começar a intimidade e deleitar-se com sua reação. Esse mero pensamento de tê-lo como amante fazia sua pulsação acelerar. Ele tinha todo o jeito de um homem que podia levar uma mulher à loucura. Estava nos olhos dele, na postura. - Olá. Ele cruzou o quarto e parou perto dela. Tão perto que ela podia sentir o cheiro do sabonete que exalava de sua pele. - Como está a dor? - Suportável. - Em outras palavras, está doendo à beça. Tome alguma coisa para dor. Tina abaixou a cabeça e foi para o banho, surgindo pouco depois. Deixou seus cabelos soltos, passou hidratante e depois desceu. Comida... O que quer que fosse, tinha cheiro bom. E, além disso, estava com fome. Era a primeira vez que realmente sentia fome depois de uma semana. Maria preparara lasanha. Manjar dos deuses. - Alguma novidade sobre Sabine? - Pagou fiança - informou Steve. - Nic preencheu a queixa e requereu ordem de restrição em seu nome. Você precisa confirmar e assinar seu depoimento. - Farei isso no caminho para o trabalho amanhã. - Cedo - informou Nic. - No caminho para o aeroporto. - Você se importa em explicar isso para mim? - Nós vamos passar alguns dias nas Ilhas Hayman, em Whitsundays. Sol, temperatura amena, praias e águas límpidas. - Você tomou essa decisão... quando? - Essa tarde. - Sua assistente cancelou seus compromissos e fez as reservas? - Sim. - Tem uma coisa, você se esqueceu de perguntar se eu posso ficar fora por alguns dias. Nic pegou um pedaço de seu pão e comeu. - Já está decidido - declarou ele fingindo estar calmo. - Lily vai tomar conta da butique. Ela colocou seus talheres de volta à mesa com cuidado. - Você conseguiu isto em... - ela ergueu uma mão e estalou os dedos. - ...questão de minutos. Algumas ligações, pagamentos extras... e pronto. Ele parecia estar se divertindo um pouco. - Algo assim. - E se eu recusar? Ele intensificou o olhar. - Não estou lhe dando escolha. - Você não tem como me arrastar à força. Como você acha que vai me levar até lá? Ele levantou uma sobrancelha. - Me contrariando só por prazer? Ela soou ingrata. E só Deus sabia que não tinha a intenção de ser. Era apenas... por causa de tudo o que acontecera. O pior era não saber o que viria depois. - Não. Não sei se será bom ficarmos juntos 24 horas por dia. - Oh! Você pode ser surpreendida. CAPÍTULO ONZE Em relação a querer fugir de tudo aquilo, não havia dúvidas de que uma ilha particular era o lugar. Sol, céu azul e águas cristalinas com certeza proporcionavam um clima tranquilo. Um lugar que Tina desejava enquanto se familiarizava com a suíte luxuosa que reservaram para eles. Uma vista esplêndida. - Obrigada - ela disse a Nic. - Pelo que, especificamente? - Por me trazer aqui - disse ela. Esse momento distanciava-se do que as últimas semanas representavam. Talvez, apenas por alguns dias, ela poderia fingir que não havia sombras entre eles. Simplesmente curtiriam o agora e encarariam o futuro quando voltassem para Sydney. - Vamos nos trocar e conhecer o lugar. - É uma boa idéia - concordou Nic com tranquilidade. A imagem de executivo desapareceu assim que atravessaram a área da piscina e começaram a explorar a praia. Ele parecia tão relaxado quanto ela. Diferente, ela concluiu, ciente de que esse não era um estilo casual. - Fique ali parado - indicou ela pegando sua câmera. - Você quer fotos? Lembranças, ela pensou, que poderei olhar quando tudo isso estiver acabado. Algo para me fazer recordar de um pedacinho da minha vida com um homem que veio a significar muito para mim. Era... bom. Compartilhar tranquilidade, sem insinuações sexuais. Era isso o que ela queria... não era? Era o que pensava que queria. O que ela se condicionara a aceitar. Mas agora não tinha certeza se era suficiente. Você está louca? Esse breve interlúdio é o último adeus. Uma agradável preparação para o momento em que ele diria que o casamento chegara ao fim. Como poderia ser diferente? Nic sentia sua insegurança? Ela esperava que não. Mais tarde voltaram para o hotel, tomaram um banho e desceram para o restaurante. - Quanto tempo vamos ficar? - questionou Tina, dando um gole em seu vinho Chardonnay. - Até domingo. Quatro dias no total. Um leve tremor percorreu seu corpo, arrepiando seus pêlos. Por causa do homem e do perigo que era estar constantemente em sua companhia. E se... Pára. Não existe se. Mas você não queria que existisse? - uma voz interior perguntou. Pediram café ao fim da refeição e depois passearam pela praia. Era quase possível acreditar em mágica, Tina refletiu, enquanto Nic entrelaçava seus dedos nos dela. - Vamos voltar? Ela ouviu aquela voz meiga e sentiu uma onda de tristeza passar por seu corpo. Lágrimas estúpidas brotaram em seus olhos e ela piscou rapidamente para livrar-se delas. Mas elas escorreram em seu rosto. Isso era loucura. O que estava acontecendo com ela? Uma reação emocional, ela racionalizou. Vamos encarar o fato, o último mês não fora exatamente fácil! Tina manteve a cabeça baixa enquanto entravam na suíte. Ele estava próximo, próximo demais, e havia pouca coisa que pudesse fazer para evitar que Nic segurasse seu rosto e o puxasse em direção ao dele. Ele passou o dedo pelo seu rosto, o que fez outra lágrima escorrer. - Espero que você me conte, humm? Por onde deveria começar? - É fácil - disse Nic calmamente. - Uma palavra depois da outra. - Você acha? Haveria um momento melhor? Fugir do assunto apenas adiaria o inevitável. Certo, então o que havia a perder? - Quando você vai pedir o divórcio? - Pronto, ela enunciara a pergunta que a torturara durante dias. Ele não se moveu. - O que faz você pensar que é essa a minha intenção? - Não é? A perda do filho de Vasili nega a razão pela qual o casamento existe. Você vai querer ficar livre para escolher outra pessoa. Ter um filho seu. Ela estava buscando as palavras e a coragem para continuar. - Ter um herdeiro dos Leandros. Ele estava quieto demais e isso a enervava. - Você acha que essa é a solução lógica? - Você não? - questionou ela. - Seria inconcebível eu querer permanecer casado com você? - Por quê? - ela perguntou secamente. - Para manter as predadoras acuadas? - Para isto também. - E os filhos? Como você pretende tê-los? Ele esboçou um leve sorriso. - Através do método usual. Meu Deus do céu... Fazer amor com ele? - Você não pode estar falando sério. - Muito sério. - Resolvia o problema do divórcio, do filho do herdeiro, filhos. - Você está errada. Em todos os sentidos. - Então... por quê? - Por causa disso. Ele puxou-a e pressionou sua boca na dela, tomando conta de seu coração e levando-a às alturas. Nic apossou-se dela de forma profundamente sensual, como nunca sentira antes. Tão faminto e irresistível que quase a fez perder a cabeça. Ele percebeu sua reação e levou-a em direção a algo mais, atiçando seu desejo até que houvesse apenas o homem e uma emoção eletrificante tão intensa que ameaçava ter combustão espontânea. - Você quer negar o que sentimos um pelo outro? - ele questionou gentilmente. Tina fechou os olhos e depois os abriu. - Não sou muito boa nisso. - Vamos encarar os fatos, minha única incursão à intimidade fora um desastre. - Você confia em mim? Ela lançou-lhe um olhar assustado que tomou conta do coração dele. - Não é justo - ela conseguiu finalmente dizer. - Se eu pedir para você parar. Nic beijou-lhe a testa. - Vamos pensar nisso quando e se isso acontecer. Sua boca cobriu a dela com suavidade, persuadindo-a de uma maneira que a fazia querer mais. Ela colocou o braço em volta do pescoço dele e inclinou-se saboreando o toque, enquanto ele deslizava uma mão até suas nádegas e a outra circundava sua nuca. Um leve gemido de protesto emergiu de sua garganta, enquanto a boca de Nic trilhava a parte mais sensível de seu pescoço. A sensação espalhou-se por todo seu corpo. Ela queria tocá-lo, explorar sua carne nua, acariciá-lo enquanto ele a acariciava, mas Nic estava usando roupas demais. Ao ver que ela puxava sua camisa com força, tirando-a a das calças, Nic se afastou um pouco e a arrancou. - Sua vez. Ele não lhe deu tempo para pensar, segurou a bainha da blusa dela e a arrancou. Um hábil movimento e ela ficou sem o sutiã. Com delicadeza inacreditável, Nic acariciou cada um dos seios dela até que entumescessem a seu toque, e Tina gemeu alto quando ele baixou a cabeça e colocou um dos bicos em sua boca, chupando-o. Ela arqueou o corpo involuntariamente para que ele tivesse acesso mais fácil. As mãos dele rumaram em direção ao botão da calça dela e ele tirou. Uma calcinha preta era tudo que a separava da nudez total. Depois ele tirou a própria calça e puxou Tina para perto de si. Não antes de ela perceber que Nic estava completamente excitado. Por um momento, Tina não conseguiu respirar. Depois, gemeu quando os dedos dele tocaram sua virilha e entraram sob a seda. Quando ele estimulou seu clitóris, ela não conseguiu pensar mais. Gemeu muito alto enquanto a sensação espiralava por todo seu corpo, consumindo-a, eletrizando-a. Ele não parou. Justo no momento em que ela pensou que morreria, Nic começou uma exploração íntima que a fez morder os lábios em um esforço para manter algum vestígio de controle. Tina mal percebeu quando Nic deslizou o corpo para a parte inferior da cama. Ele ia devagar, usava a boca, as mãos para levá-la ao clímax, e ela gritou de prazer quando chegou às alturas. Ela fechou os olhos e deixou que sua respiração, seu coração diminuíssem um pouco o ritmo. Mas ele estava longe de estar satisfeito. Lentamente, com um cuidado infinito, ele a penetrou, sentindo as pernas dela relaxarem para acomodá-lo. Ele cobriu sua boca sentindo a maneira como sua respiração arfava, os gemidos sem som quando se afastou um pouco para trás e depois se aproximou novamente em movimentos suaves até que a preenchesse por completo. Depois começou a se movimentar, a princípio lentamente, cada golpe um pouco mais profundo até que ela pegasse seu ritmo, acompanhasse-o e ele renunciou ao controle, enquanto ela subia até as alturas alcançando junto com ele um clímax que os fez desabar. Nic enterrou sua boca no pescoço dela e manteve-a perto de si. A batida de seu coração acompanhava a dela, forte, rápida até que ele se acalmou e sentiu seu corpo tremer, enquanto passava levemente a mão pelos quadris dela, e pela coxa antes de pegar o seio. Tina não fazia idéia de quanto tempo ficaram entrelaçados, apenas sabia que era bom. Mais do que bom. Em um certo momento levantaram da cama e foram tomar um banho demorado, entregando-se a uma exploração íntima e lenta que levou a uma conexão erótica e à liberação de algumas de suas inibições. Depois do banho, Nic levou-a para cama e em poucos minutos ela caiu em um sono tão profundo que não se mexeu até antes do amanhecer. Havia algo inacreditável e sensualmente satisfatório em sentir o leve latejar dos músculos interiores, a sensação de ter sido possuída e bem-amada por um homem, refletiu Tina, enquanto espreguiçava e tentava sair da cama. Mas um braço em sua cintura puxou-a e uma boca quente acariciou sua nuca. - Onde você pensa que está indo? - Pedir o café e depois levá-lo às alturas. Nic sorriu e seus olhos negros brilharam para os dela. - Deixe o café para lá. Ela era uma ótima aluna que o deixava deliciado a cada instante. Uma amante intensamente fascinante. - Você vai ficar aí deitado? - Se você precisar de ajuda, é só pedir. Essa mulher, sua esposa, encantada em descobrir cada curva, cada veia de seu membro, demonstrava um prazer genuíno a cada arfada de sua respiração, a cada gemido enquanto ela demorava-se, provocando as partes sensíveis de seu pênis. Ela estava se divertindo e deu um sorrioso malicioso quando ele a puxou para cima de seu corpo e colocou as mãos nos seios dela. Ela quase entrou em colapso deitada com a respiração arfante sobre ele por causa da emoção que sentira. - Basta - disse Nic gentilmente passando o lençol por suas costas. - Vamos dormir um pouco, não? Temos o dia todo para explorar o resort. Tina acordou tarde e Nic já havia tomado banho e se vestido e estava sentado na sala lendo o jornal do dia. Nic ergueu a cabeça quando ouviu o movimento dela na cama e a sensualidade evidente no sorriso dele a fez querer sentar novamente. - Café-da-manhã? Ela olhou o relógio e sorriu. - Você não quer dizer almoço? - Vá se vestir-propôs ele. - Depois vamos comer e decidir o que fazer esta tarde. CAPÍTULO DOZE Os três dias seguintes estavam estre os dias mais felizes da vida de Tina. As noites eram algo mais. Tudo o que precisavam era uma troca de olhares, um toque de mão, uma palavra murmurada e voltavam à suíte para deliciarem-se em um amor longo e doce que os levava às alturas. Se isso era felicidade, Tina refletiu, por que pensaria em desistir? Qualquer coisa parecia ser possível. Um casamento duradouro, filhos, uma vida feliz e completa com o homem que adorava. O que mais uma mulher poderia querer? Logo que chegaram em Sydney, algumas dúvidas começaram a aparecer. Retornar a Sydney significava voltar à rotina, ao trabalho, a um estilo de vida agitado. Steve permaneceu na casa e com Sabine solta, a mulher era um espectro que não podiam ignorar. - Hei, você está... incrível - Lily disse quando Tina chegou à butique. - Como foi o descanso? - Realmente maravilhoso. - Só isso? Ela percebeu a expressão provocativa de Lily e balançou a cabeça. - O que você quer que eu diga? - Oh... apenas... que Nic foi fantástico, que foi a lua-de-mel que você nunca teve, que o sexo foi acima da escala Richter - sugeriu ela dando um sorriso irrepreensível. - Coisas deste tipo. - Você não vai desistir, não é? - Só se eu for obrigada. - Sim - disse Tina simplesmente e riu quando Lily fingiu desmaiar. - Você é incorrigível, sabe disso, não sabe? - Claro. Mas nós somos amigas. - A campainha tocou - disse Tina e observou Lily transformar-se em uma vendedora serena e prestativa. Foi um dia agradável, Tina refletiu quando chegou a hora de fechar a loja e ir para casa. Os negócios iam bem e, depois dos quatro dias de descanso, sentia-se renovada. Verdade, havia momentos de tristeza e culpa. Pela perda de um grande amigo como Vasili, a perda do bebê, por Stacey e Paul, para quem a criança teria significado muito. Steve entrou na butique exatamente quando estava pronta para fechá-la e minutos depois a acompanhou até o carro e seguiu-a até em casa. O Lexus de Nic já estava na garagem quando ela entrou e subiu rapidamente para o quarto, largou sua bolsa e o laptop e depois tirou as roupas e entrou nua no banheiro para acompanhá-lo em seu banho. - Muito bem - disse Nic enquanto ela colocava os braços em volta do pescoço dele e puxava-lhe a cabeça em direção a sua para dar-lhe um beijo destruidor de almas. - Isso é que é cumprimento. Ele puxou o rosto de Tina com as mãos. - Quer um repeteco? O sorriso malicioso de Tina derreteu seu coração. - Humm. O que você acha de um jantar? - O jantar pode esperar. Com essas poucas palavras, ele levantou-a e encaixou-a em seu quadril. - Mas você não pode - brincou Tina, adorando a maneira como ele se encostava nela, o toque de suas mãos, de seus lábios. Só desceram para jantar por volta das dez. Deram comida um para o outro, beberam um maravilhoso vinho tinto, depois voltaram para a cama... dessa vez para dormir. A respiração de Nic logo ficou profunda, enquanto Tina pensava contemplativamente. Uma semana atrás, teria dado qualquer coisa para chegar a esse ponto de entendimento, confiança e intimidade. Era a realização de um sonho. Como chegaram tão longe, tão rapidamente? Pare de analisar, ela repreendeu-se. Apenas aceite a vida como ela é. Que era boa. Ela podia encarar isso. Mas tinha uma parte dela que desejava por mais. Amor... eterno. Saber, no fundo de seu coração, de sua alma, que o que Nic sentia por ela era amor, não apenas desejo sexual. Isso era pedir demais? - Acho que eu tinha a intenção de impressionar - implicou Tina enquanto Nic enfrentava o tráfego da cidade. - Você conseguiu fazer isso sem esforço algum. A resposta tolerante de Nic tinha tom brincalhão e ela lançou-lhe um sorriso iluminado. - Um elogio. Que delícia. Ela se esforçara consideravelmente em relação a sua aparência, fez um coque nos cabelos, deixando alguns cachos soltos emoldurando seu rosto. O evento da noite era um jantar formal oferecido em homenagem a um ministro da Grécia, que estava na Austrália com o objetivo de fomentar o comércio entre os dois países. O local era um hotel no centro da cidade. A presença de Nic causou alvoroço entre as várias mulheres e, enquanto algumas disfarçaram, outras foram mais diretas em seus interesses. - Ah, aí estão vocês! - Uma voz vagamente familiar cumprimentou e ao virar, Tina viu Eleni e Dimitri. - Tina, linda como sempre. - Eleni deu aquele típico beijo no ar, depois pegou Tina pelas mãos e examinou-a. - Minha querida, seu rosto. O que aconteceu? E ela que pensava ter feito um ótimo trabalho com o corretor facial! - Bati em alguma coisa alguns dias atrás. Eleni olhou de esguelha para Nic. - Um acidente desagradável - ele confirmou. - É claro, um acidente. Tina decidiu se divertir um pouco e pegou a mão de Nic, oferecendo a ele um sorriso adorável. - Decidimos apagar esse acontecimento do nosso... - ela fez uma pausa proposital - do nosso repertório. Não foi, querido? Ele entraria na brincadeira e se divertiria? - Absolutamente. A expressão de Eleni era impagável. - Eu a deixei chocada - disse Tina com um certo remorso, quando Eleni pediu licença e foi atrás de Dimitri para cumprimentar um amigo. - Duvido - disse Nic com um olhar irônico. - Repertório? - Me pareceu adequado. Os convidados já estavam entrando na sala de jantar e a solenidade começou na hora marcada, com discurso de introdução, seguido por um longo e detalhado discurso do ministro de relações exteriores grego. A surpresa da noite veio quando Nic foi chamado ao palco e Tina observou-o com fascinação, enquanto ele discursava fluentemente, detalhando os benefícios que o comércio entre a Grécia e a Austrália geraria. Houve muitos aplausos e, quando desceu do palco, foi atacado... Sim, atacado era a palavra certa, refletiu Tina, por várias senhoras da sociedade, um fotógrafo e um jornalista. - Você não me disse... - ela murmurou. - Foi um pedido de última hora. O presidente da corporação que iria falar foi inesperadamente levado ao hospital essa tarde. Ele surgiu com um discurso esplêndido em uma hora ou coisa parecida. - Estou impressionada. - Obrigado. - Mais um de seus talentos. Era um elogio sincero. - Iremos em breve. Levou um tempo. Tina sorriu muito enquanto estava ao lado dele, embora o sorriso tenha se tornado um pouco forçado quando algumas mulheres decidiram mostrar sua afeição com entusiasmo. - A nova noiva de Nic. - Uma convidada brincou... estava um pouco alta devido ao vinho, Tina supôs. - Quem imaginaria? - Que eu seria uma noiva? - perguntou Tina educadamente. - Ou que Nic casaria comigo? - Oh, minha querida, não. Quero dizer, quem imaginaria que Nic se casaria. Houve aquela risada novamente. - Quero dizer, ele é um partido e tanto. Você tem de me contar seu segredo. Isso foi demais para Tina. - Sexo - ela revelou com sinceridade. - Muito, muito sexo. Os olhos da mulher quase ficaram vesgos. - Jura? A expressão não se alterou. - Juro. - Você tem noção - disse Nic muito mais tarde enquanto dirigia - de que suas gracinhas vão circular nesse meio social? - E isso é algum problema? - Ela balançou a cabeça. - O que significa ganhar uma reputação? - Ela suspirou e olhou-o de esguelha. - Seu medidor de instinto sexual selvagem vai atravessar o teto da casa - ela brincou. - Talvez você devesse testá-lo. - Vivo para agradar - ela assegurou-lhe. E ela realmente o agradou. Jogou-o na cama e bancou a vampira. Embora ela o tenha enlouquecido, foi ele quem tomou o controle e guiou-a em uma viagem de descobrimento por um caminho pelo qual nunca havia passado. Quando pensou que aquilo não poderia se tornar mais mágico, Nic levou-a para mais alto até ela gritar e implorar para que ele a possuísse. Foi feitiço perverso ao máximo. Sem restrições e transcendendo a mera paixão. Uma fome brutal e primitiva que dilacerava o coração, a alma, a deixava os dois resplandecendo com o calor sensual, sem fôlego por causa da intensidade que tinham acabado de compartilhar. Tesão, concluiu Tina quase pegando no sono. Mas e o amor? CAPÍTULO TREZE - Entrega especial para Tina Leandros. Tina foi até o balcão e assinou o recibo de entrega. Olhou confusa para a atraente caixa de presente. Nic? Claire? A manhã estava tão agitada que ela colocou a caixa na sala dos fundos, onde permaneceu intocada por várias horas. Saiu para o almoço, voltou e já estava quase no meio da tarde quando Tina aproveitou uma folga para ver o que era. Um embrulho lindo, refletiu enquanto desfazia o laço elaborado. Não havia um cartão visível. Muito papel de seda. Tina desembrulhou-os e lá estava... uma segunda pequena caixa. Jóia? Ela abriu a caixa de veludo sem saber o que esperar. Seus olhos se arregalaram quando viu o conteúdo que a caixa revelou. Uma boneca bebê de fraldas, com uma agulha enfiada em seu coração. O cartão que a acompanhava dizia: " Sinto muito por sua perda". Propositadamente cruel, só podia ter vindo de uma pessoa. - O que é isso? - Lily inquiriu preocupada. Lily aproximou-se dela, deu uma olhada e pegou o telefone. - O que você está fazendo? - Tina perguntou. - Ligando para Nic. - Não. - Recebi ordens. - Desliga - insistiu Tina.- Conto para ele à noite. Lily ignorou-a. Segundos depois, passou o telefone para ela. - Estou a caminho. - Não precisa... - Mas Nic já tinha desligado o telefone. Ela lançou a Lily um olhar vigoroso. - Por favor. Eu pareço uma flor frágil? - Vou fazer um chá. - Já chega - ela encerrou com exasperação, uma emoção que ficou evidente assim que Nic entrou pela porta. - Estou bem - Tina reiterou e ele imediatamente a puxou dando-lhe um beijo que a fez esquecer temporariamente onde estava. - Uh huu. Ele examinou suas feições e percebeu através de seus olhos que havia algo errado. - Vamos para casa. - Não posso... - Lily vai fechar a loja. - O que acontece com vocês dois? - Uma conspiração. Estamos tomando conta de você - acrescentou ele com calma. - Vamos. - Tenho escolha? - Não. A polícia pegaria a caixa e seu conteúdo. Steve já estava tomando conta disso, assim como conduzindo uma busca junto aos agentes de entrega da cidade. Era muito provável que Sabíne tivesse passado a perna neles usando luvas para evitar qualquer evidência. Mas a entrega era possível de ser rastreada... e se Sabine pudesse ser identificada, seguiriam-se condenação e sentença. Tina abraçou Lily. - Obrigada. Vejo você amanhã. - Você vai primeiro - disse Nic quando chegavam ao estacionamento. -Vou atrás. - Para onde? - Para casa. Casa proporcionava uma sensação agradável. E a casa elegante tinha se tornado sua casa. Seu santuário pessoal com o homem que era o amor de sua vida. Nic viu-a sentada no Porsche e depois foi em direção ao Lexus, esperando que ela colocasse o veículo na estrada. - Já sei qual é a firma de entrega. Existe uma possibilidade, mas o lugar de coleta não condiz com Sabine. - Ela pode ter usado alguém como fachada. Tina tomaria um banho, passearia com Czar, veria o que Maria deixara para o jantar e relaxaria. Na suíte, tirou as roupas e foi tomar banho. Céus. Ela fechou os olhos e deixou que a água morna caísse sobre seu corpo. Um leve som fez com que abrisse os olhos e visse Nic juntar-se a ela. - Você tem seu banheiro. - Dividir o seu é muito mais divertido. Ela pegou o sabonete e passou sobre o peito dele, na barriga e mais em baixo. E ele devolveu o favor. Era um jogo delicioso de amantes. - Quer que eu saia? Ela colocou as mãos nos quadris dele e puxou-o contra ela. A ereção dele tinha uma força potente e era sua, toda sua. - Não se você dá valor a sua vida. Nic beijou-a na boca saboreando o gosto, a textura dela, a umidade, a pele macia. Ele levantou-a e ela encaixou as pernas nos quadris dele, depois arqueou o corpo um pouco para trás. - Humm, você aprende uma coisa nova a cada dia. A risada suave dela tornou-se um gemido conforme Nic a conduzia em um movimento cadenciado; depois ele abaixou a cabeça em direção a seus seios. O calor surgiu em suas veias, abrangendo cada nervo de seu corpo até que estivesse pegando fogo, perdida de paixão, querendo mais, muito mais que os jogos preliminares. - Por favor... No entanto, ele queria jogar mais. E ela gemeu alto quando ele usou suas mãos para acariciá-la, atiçando ainda mais seus sentidos. Depois, ele posicionou-a cuidadosamente e preencheu-a em um só movimento, sentindo seu corpo sedoso alongar-se para acomodá-lo antes de começar a se mover, encontrando com facilidade o ritmo dele e acompanhando-o, levando os dois às alturas, a um lugar onde a sensação de plenitude reinava. Era mais, muito mais do que já esperara ter em sua vida... o homem, a paixão arrebatadora. E amor. Deixava-a sem ar. Nic envolveu-a, depois a beijou vagarosamente em um beijo tão inacreditavelmente doce que a fez ter vontade de chorar de absoluta alegria. Ele era sua alma gêmea. O ar que ele respirava. Sua vida. Todo dia. a cada noite, seu amor por ele parecia aumentar. Quando achava que não podia ser maior, aumentava ainda mais. Havia confiança. Todas as dúvidas e inseguranças tinham ido embora. E em seu lugar havia algo tão especial, tão único para cada um deles que encheu os olhos dela de lágrimas. - Hei - Nic censurou-a gentilmente. - O que é isso? - Você - disse ela tremendo e viu os olhos dele cintilarem. Oh, Deus. Havia palavras que queria, precisava dizer, mas ela mal sabia como e por onde começar. Tina tocou os lábios dele. O esboço de um sorriso apareceu em seus lábios. - Eu amo você - pronto, ela disse. - Nunca pensei que pudesse me sentir assim. Ela pegou-o de surpresa. - Tina. - Não. Por favor, ainda não - Tem tanta coisa... o filho de Vasili - disse ela tremendo. - Logo no momento em que estava lidando com a culpa associada ao como e ao porquê da concepção de uma criança, Vasili morreu. O bebê representava uma extensão de sua vida. Não pude escolher a saída mais fácil. A parte seguinte era dolorosa. - Havia Stacey e Paul. Você. Casamento como uma solução viável para o bem da criança. Ele enxugou as lágrimas dela e sentiu seu coração apertado devido à visível angústia que ela sentia. - A gravidez que nos fez ficar... juntos - ela gaguejou um pouco. - Uma criança que não pediu para ser concebida, mas que significava muito. Doía, mas ela precisava desabafar. - Quando tive o aborto, não foi apenas a perda da criança que me deixou triste. Era a possibilidade de perder você. - Seus olhos buscaram os dele. - Pois sem a criança não havia mais necessidade de o casamento continuar - Boba - ele a repreendeu. - Você me apoiou tanto. Foi tão carinhoso, - acrescentou ela. - No hospital, depois. Queria que a afeição que você demonstrava fosse real. Não apenas um dever. Oh, diabos, isto não era fácil. - Eu esperava todo dia que você falasse que ia chamar os advogados, anular o casamento e tomar seu caminho. Ela não tinha terminado. - Depois, quando você sugeriu que consumássemos o casamento e fizéssemos um filho nosso... Dei-me conta que não era eu que você queria, era um herdeiro. - Quando fizemos amor... como você não pôde perceber o efeito que tinha sobre mim? Verdade, honestidade. Se havia o momento certo para isso esse momento era agora. - Achei que fosse só sexo. - Um sexo muito bom. Além da escala Richter. - E você tinha muita prática na arte de satisfazer uma mulher. - E minha reação? Acha que era simplesmente devido à prática? Não por causa da mulher que tinha nos braços? Como me sentia com ela? Como a amava? Tina pensou que seu coração tinha parado. Tudo parecia suspenso... a hora, o lugar. Sua voz era pouco mais que um sussurro. - O que você disse? - Amor - ele reiterou. - Meu amor por você. Só por você. Isso tudo era demais para ela. - A primeira vez em que coloquei os olhos em você foi no funeral do meu irmão. A solenidade e a dor da ocasião, o fato de você estar grávida de um filho de Vasili... Ele fez uma pausa e depois continuou: - Nada disso diminuiu a atração instantânea contra a qual lutei. Você me fascinou, sua força, sua lealdade inabalável. Vulnerabilidade - ele acrescentou. - Eu poderia ter acabado com o homem que a atacou e quase destruiu seu coração. - Ele resistiu à tentação de puxá-la para si. - Queria você em minha vida. O casamento era a única opção. Ele usara uma habilidade considerável para alcançar seu objetivo. - Precisava lhe dar tempo para confiar em mim. Para confiar em você mesma. Eu chorei em silêncio quando você perdeu a criança. Ele continuou calmamente: - Sabendo o que a criança significaria... para Stacey, Paul. Para nós dois. Mas para você especialmente - ele acrescentou. - Sabine... Tina colocou os dedos na boca dele. - Ela é uma linda sedutora que ficou obcecada por você. - Ela podia ter machucado você. Aquele pensamento fizera com que ele passasse noites acordado. - Ela não teve a oportunidade. - Cancelei meus compromissos - Nic explicou dando um beijo na ponta do nariz dela, - A partir de segunda. Por um mês. Um mês. - Você fez isso? - Você não vai perguntar o motivo? - Surpreenda-me. - Voamos segunda à noite para Atenas e depois vamos passear pelas ilhas gregas. Um sorriso delicioso curvou os lábios de Tina. - Santorini? Eu sempre quis visitar esse lugar. - Naturalmente. - Acho que eu o amo. Ele abaixou a cabeça para tocar na testa dela com a sua. - Apenas acha? O sorriso alargou-se. - Você quer um resumo dos meus pensamentos mais íntimos? - Parece um plano. - Você não acha que devemos sair daqui primeiro? Nic fechou o chuveiro. - É melhor nos vestirmos. Ele passou a mão pelo corpo dela e segurou seu rosto. - Você acha? - Você tem uma idéia melhor? Ele levou-a até o quarto, puxou a colcha da cama e mostrou-lhe o que significava ser amada e adorada, levando-a em uma viagem sensual que fragmentava seu controle e a transformava em uma mulher sem pudores. Mágica. - Obrigada. - Pelo que, especificamente? - Ele beijou-lhe a testa e não resistiu ao impulso de brincar um pouco com ela. - Pelo sexo gostoso? - Pelo carinho, por acreditar em mim. - E assim vai ser pelo resto da minha vida - ele acrescentou. - Eu amo você. Ele era tudo, tudo o que podia desejar e mais. Ela tinha um desejo ardente de mostrar-lhe o quanto, de uma maneira que palavras nunca poderiam. Levou um tempo e foi ele quem gemeu ao toque dela... até que não pudesse mais aguentar. Depois disso, ela não conseguia mover um músculo de seu corpo. Nic colocou um braço em volta de sua cintura e passou um dedo na curva de seu nariz. - Com sono? - Uh-uhu. - Eu não agradeci você. - Ele fez uma pausa. - Por me dar o maior presente de todos. Você. Um presente verdadeiramente do coração e que iria conservar por toda a vida. Por toda a eternidade. - O mesmo em relação a você - disse Tina sorrindo. Esse era um dos momentos mais preciosos de sua vida; e ela tinha certeza de que haveria muitos outros nos próximos anos. O nascimento de uma criança muito desejada. Celebrações e aniversários. E um sentimento que seria uma constante. Amor. De um para o outro. Etemo. Helen Bianchin Compra-se uma Esposa 1