MINHA PRIMEIRA PAIXÃO Copyright B Elenice Machado de Almeida e Pedro Bandeira, 1990 Todos os direitos de edição reservados à EDITORA FTD S.A. MATRIZ Rua Rui Barbosa 156 (Bela Vista) São Paulo CEP 01326-010 Telefone 253 5011 Fax (011) 288 01 32 Editora lone Meloni Nassar Editora assistente Maria Esther Nejm Editor de arte Claudio Cueliar Revisora Mara Lafourcade Rayel Arte-montagem Ana Maria Francischetti Produção Claudio S. dos Santos Dados Intemacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infanto-juvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5 Como foi feito este livro Elenice Machado de Almeida foi uma autora de livros para você. Uma autora inesquecível. Uma das mais importantes. Em ca da um de seus livros havia sempre uma nova intenção de explorar diferentes formas para a narrativa, sempre mais um esforço criati vo para fazer livros melhores, mais moder nos, que mais agradassem a seus leitores. Se você ainda não conhece, procure co nhecer Deu minhoca na história, O rapto da co roa, It'Ieu cavalo invisível, No tempo em que a gira fafalava, O pomo da discórdia, Oito a comer bis coito ou dez a comer pastéis e Presente de grego. Em 1989, porém, a criatividade de Ele nice teve um fim. Uma doença fulminante levou embora essa autora sem igual. Como não podia deixar de ser, até o último momen to de sua vida Elenice escreveu. Era mais um livro para você, mais um pedaço do amor de Elenice por você. Mas a morte teve pressa, e o último livro de Elenice ficou inacabado. Seu marido, dr. Gilberto Machado de Almei 1a, passou-me o que sua esposa havia escri to e sugeriu que eu terminasse a história. Pouco conheci Elenice pessoalmente. Mas sempre acompanhei de perto e com imensa admiração o seu trabalho literário. Foi assim que aceitei a incumbência de terminar este livro. A partir daí, a paixão de Elenice passou a ser também a minha paixão. Pimpo e Frida, os jovens personagens deste livro, passaram a ser também meus persõnagens. Eles, como planejara Elenice, são um casal zinho de jovens exatamente como os milha res de leitores que já sonharam, que já se di vertiram, que já se emocionaram com a pai xão e com o carinho que Elenice tão bem sou be transmitir em cada página, em cada linha, em cada palavra de cada um de seus livros. Se Elenice já havia planejado um título para este livro, jamais alguém saberá. Emo cionado com o que elajá havia escrito, eu re solvi chamar o livro de Minha primeira paixão. Porque era procurando compreender os sen timentos dos jovens que Elenice vivia. Assim, enquanto alguém como você es tiver lendo este Minha primeira paixão ou qual quer um dos outros livros desta grande auto ra, Elenice reviverá, e será como se nunca, nunca, ela tivesse morrido. Dentro da ima ginação de pessoas como você, Elenice con tinuará viva para sempre. Porque você, jo vem adolescente, foi a primeira e a última pai xão de Elenice Machado de Almeida. Pedro Bandeira Dezembro de 1989 Almeida, Elenice Machado de Minha primeira paixão! Elenice Machado de Almeida, Pedro Bandeira; desenhos de Claudia Scatamacchia. 10. ed. - São Paulo: FTD, 1994. - (Coleção terceiras histórias) ISBN 85-322-0243-8 1. Literatura infanto-juvenil 1. Bandeira, Pedro, 1942- II. Scatamacchia, Claudia. III. Título, IV. Série. 94-0842 CDD-028.5 SUMÁRIO Pimpo Frida Cachinhos ruivos Laranjinhas maduras Poeta amador Pimpo ou Zebedeu? Planos de vingança E bem pago ou bem pagado? Dois pagamentos para o mesmo poeta Um cachorrinho de óculos O plano infalível do Pimpo Coitado do Pimpo! Sem Celinha e sëm chantili E lá se vai a Argentina... Todo mundo envergonhado Pimpo e Frida o dia em que apareceu a aluna nova, foi uma revolução na sexta série A. A caretona da dona Marta, a professora de Educação Moral e Cívica, exige que a gente se enfileire nas carteiras pela ordem das letras do alfabeto. E desse jeito todo mundo tem de ficar sentado também nas outras aulas. A primeira carteira é do Adriano e lá no fundão se senta a Zenaide. Frida, a novidade do dia, instalou-se atrás do Fábio e, portanto, bem no meu lugar. Meu nome é José Olímpio e não tem nenhum Gastão, Hermenegildo nem Ildefonso para ficar entre nós dois. Também, se tivesse gente com estes nomes malucos, eu acho que... Que nada! Será que existe nome mais maluco do que Frída? o Cutuquei o Zeca, para ele passar para a carteira de trás. O Zeca cutucou a Laís e a Laís cutucou o Luís Alberto, que cutucou o Luís Paulo. Foi uma cutucação geral, e a turma deu uma de jardim-de- infância, fazendo a maior bagunça. Dona Marta primeiro pediu ordem. Depois berrou. Acabou se esgoelando. Meia aula depois, conseguiu algum silêncio. Levo fama de distraído. Todo mundo me enche por causa disso. Na escola, vem sempre gozação quando não escuto a professora me chamar ou quando não sei do que estão rindo. O problema - que ninguém entende - é que, quando me fixo numa idéia, não consigo me desligar para prestar atenção em outras. Enquanto dona Marta explicava sei lá o quê, eu me liguei no cabelo da minha Celinha, para mim a garota mais bonita da escola, disse: monte de pintinhas na cara, nos braços e nas pemas. - Caramba! Que mina estranha! - comentou o Zeca, no recreio. nova colega de frente. Só do lado esquerdo contei mil e oito cachinhos vermelhos, bem pequenininhos, grudadinhos na cabeça. Não deu para contar o resto, porque bateu o sinal. Enquanto analisava a hipótese de haver a mesma quantidade do outro lado, a Frida se levantou e eu vi que ela era magra que nem espeto, e tinha um - respondi. - Superbacana pra - Só sei que o Pimpo gamou. Pelo menos, não tirou o olho de cima dela. - Gamei foi no nome botar na minha tartaruga. Pensaram que eu estava brincando. O caso é que eu tenho mesmo uma tartaruga e tinha achado um nome legal para ela. EI' Para treinar a minha veia poética, fiz alguns versos, aproveitando uma palavra linda que eu havia aprendido: donzela. Que junto com Frida e tartaruga, deu o seguinte: Oh, tartaruga até agora inominada! Oh, tartaruga sofrida. De agora em diante, serás Frida, minha donzela preferida! Róti-dógui com batata frida! Pena que a inspiração tenha vindo justamente na aula de Matemática. O professor me chamou para repetir o exercício que ele tinha acabado de escrever na lousa, mas fiquei olhando aqueles números com x no meio e não consegui sacar coisíssima nenhuma. Levei zero e todo mundo me gozou. Inclusive a idiota da menina nova, que, além de tudo, bancou a sabichona, pois foi lá na frente e fez tudo direitinho. Imbecil! FI?IIDÁ omo é duro ser criança! E ainda por cima, menina! Os adultos fazem da gente o que bem entendem. A gente não tem nem o direito de escolher a escola que mais gosta! As diretoras da escola onde eu estudava, e onde estudavam todas as minhas amigas, desentenderam-se e quebrou o maior pau. A escola ficou fecha não fecha. Meu pai não gosta de situações desse tipo e não quis dar um tempo para a crise se resolver. Acabou matriculando meu irmão Davi e eu num outro colégio. Eu sabia que ia ser duro mudar no meio do ano, mas nunca pensei que fosse tão chato. Na aula de Educação Moral, logo no primeiro dia, deu aquele bode. Todo mundo teve de mudar de carteira por minha causa. Raio de professora chata! - Frida! Você fica na frente do José O tal José Olímpio era um cara-de- coruja, de óculos de aro preto. Sujeitinho estranho... Bem que notei os olhos dele grudados no meu cabelo. Será que nunca viu gente ruiva? Depois me olhou de alto a baixo e fez cara de desaprovação. Debilóide... Só pode mesmo ser bobo quem vai na lousa e não sabe o que o professor acabou de explicar. O zero foi muito bem feito! dia foi eu ter acertado o exercício, depois que o tal José Olímpio fracassou. Aliás, esse cara tem um apelido horroroso: Pimpo. Aposto que o Davi vai adorar o nome para pôr num dos cachorrinhos que a Sherazade vai ter! Pimpo. Isso só pode mesmo ser nome de cachorro! No segundo dia de aula, levei de lanche um sanduíche muito bem preparado pela minha mãe. - Bar de escola é sempre um roubo - ela vive dizendo. O tal Pimpo deu uma cheiradinha no Olímpio! Uma coisa boa que aconteceu nesse guardanapo que servia de embrulho e falou: - - E proibido trazer esse tipo de lanche na escola! - Proibido por quê? - perguntei. - Porque fere a sensibilidade olfativa dos colegas. - Sanduíche de sardinha com cebola nunca foi proibido em lugar nenhum falei. - Ah! Então é isso... Sanduíche de sardinha com cebola! E continuou: - Por que você não come róti-dógui, xis-salada ou rambúrguer lá na cantina? Eu não quis explicar que o bar da escola é muito caro e que o meu pai é pão-duro. Por isso, respondi: - Adoro sanduíche de sardinha com cebola! - Acontece que a norma da escola proíbe isso. - Quem proibe? - perguntei. - A norma e o estatuto do colégio - repetiu o Pimpo. Resolvi nem desembrulhar o meu lanche, antes que a tal da dona Norma e o tal do seu Estatuto invocassem comigo. Só depois de alguns dias percebi que tinha sido enganada por aquele cara-de- coruja. Covarde! As coisas não andam bem na minha casa. Meu pai continua com a mania de que eu preciso tirar notas boas. Acontece que os professores falam, falam, falam... Tudo sem interesse. Quando percebo, estou pensando em coisas bem mais legais. Por minha causa está quebrando o pau entre o meu pai e a minha mãe. Um exemplo de diálogo entre eles: - Você precisa tomar conta desse menino, Sílvia. Estas notas no boletim dele são simplesmente i-na-cei-tá-veis. Mamãe, que geralmente está falando ao telefone com as amigas ou assistindo novela na televisão, responde: - Gozado! Por que você não ensina um pouco de Matemática para o Pimpo? 14I]1H(O iRiIIVO? - ( Papai bufa e diz que ele trabalha muito, não tem tempo, que isso é função da dona de casa, da mãe, etc., etc., etc. Não é bem assim, Tempo até que ele tem. So que sempre chega cansado do trabalho", e tudo tem de ficar "pra depois". Nessa semana, meu pai veio com a boa notícia que, se tudo correr bem, vamos fazer uma viagem de automóvel até a Argentina. Fiquei entusiasmado, imaginei os pingüins, as focas, neve caindo... - Nossa viagem vai ser nas férias de verão, Pimpo - explicou meu pai. - E nós vamos só até Buenos Aires. - Nada de pingüins, de focas, nem de neve? - Não. Mas vai ter muita coisa fantástica, meu filho. Você vai adorar! Olhou bem de frente para mim e completou: - Só que eu não vou pagar viagem nenhuma pra quem tirar nota vermelha no boletim. Infelizmente, é sempre assim. Meu pai costuma dar uma boa notícia, e logo em seguida anuncia uma péssima. Enfiei a carapuça. Lembrei-me da última aula de contar o outro lado da cabeça da Frida. Mil e sete cachinhos, o que deu um total de dois mil e... Enquanto fazia as contas, dona Marta me perguntou de quantos membros é composto o Senado brasileiro. - Dois mil e quinze! - respondi, rápido. E lá se foi mais um zero para a coleção! Senti vontade de levar uma tesoura e cortar os cachinhos da Frida. Assim como o Sansão perdeu a força, quem sabe ela perderia a sabedoria quando ficasse sem cabelos. Educação Moral, em que eu resolvi Quer dizer, sabedoria matemática. De x, de raiz quadrada e de mínimo múltiplo comum ela entende. Em compensação, é uma ignorante completa em matéria de palavras. Incrível! Pensou que norma e estatuto fossem funcionários da escola... Fui vingado, além de ter ficado livre do sanduíche fedorento. Imagine: sardinha com cebola! Nos livros que eu leio, adoro anotar palavras diferentes... De agora em diante, vou usá-las como bombas contra a ruiva sardenta. Ah! Ah! Ah! Meu pai percebeu que eu ria sozinho e comentou: - Pelo jeito, o Pimpo não vai ter problemas com as notas, está tão contente... Laranjinhas MaduraS , Detesto a escola nova, detesto o tal de Pimpo, que me enganou com o sanduíche de sardinha com cebola! Detesto a minha casa. Detesto o meu cabelo. Detesto a minha cara. Detesto as minhas sardas. - Banana pintadinha! - me chamavam quando eu era pequena. Detesto tudo! Não sei por que criança tem de sofrer tanto... r Quer dizer, sei lá se sou criança... Outro dia, a dona Adélia - ai, como é chata! - falou que eu já estava mocinha. Acho que foi daí que a minha mãe resolveu ter comigo uma conversa de "mulher para mulher" e me explicou um monte de coisa que eu já sabia. Me deu também um sutiã. Isso foi bom, porque dava vergonha andar com os peitos balançando que nem duas laranjinhas. Não sei por que ela não deu um todinho de renda, em vez deste de algodão, sem nenhum enfeite. Quer dizer, sei sim. E porque é mais barato. Nesta casa, a gente tem de economizar, não se pode gastar. Detesto esse pão-durismo do meu pai! Detesto o pão-durismo, porque o meu pai eu adoro. Ninguém no mundo entende tanto de Matemática. Ele sabe tudo, é um gênio. Coitado, precisou trabalhar muito moço, não deu para ser um cientista como ele queria. Quando eu acerto algum problema difícil, ele fica contente. - Frida... você vai seguir a carreira que eu não pude... Já a minha mãe faz planos para o Davi. Quer que ele seja o melhor violinista do mundo. Para isso, ela taca aula em cima do coitadinho, e faz ele praticar duas horas por dia, pelo menos. Os vizinhos quase sempre se enchem, mas a minha mãe não liga. Hoje é domingo, dia de visitar avô e avó, e eu falei pra mamãe que eu bem que queria ir com um vestido novo. O Davi se intrometeu: - Xi, Frida! Você pode botar o vestido mais lindo do mundo, que vai continuar parecendo a Emilia do Sítio do Picapau Amarelo... Tive vontade de quebrar o violino na cabeça dele. Qualquer dia vou ajudar os vizinhos a fazer picadinho desse garoto metido. Enquanto esse dia não chega, vai tomando uns beliscões. Quando a mamãe está perto, o Davi banca o nenezinho. Começou a chorar, levei bronca, saí gritando: - Não vou contar o nome lindo que eu arranjei para um dos filhotes da Sherazade! Poeta amador té que enfim uma aula boa! O professor Eugênio comentou os poemas de Carlos Drummond de Andrade. Perguntou quem sabia alguma coisa sobre ele e eu dei um show na classe... Também, esse cara é demais! (inserir poema) * Isso não é lindo? Fiquei com vontade de perguntar para o professor como se faz para publicar um livro. Poeta amador já sou. Tenho um monte de poesias. Quero virar profissional. Meu pai quer que eu seja engenheiro que nem ele. Um dia quase teve um * Nesse ponto, Elenice Machado de Almeida deixou apenas esta observação: "inserir poema". É impossível saber qual dos trabalhos do grande poeta a autora teria escolhido. Desse modo, procure você mesmo um bom poema nos livros de Carlos Drummond de Andrade, de modo que você mesmo possa exclamar como o Pimpo: "Isso não é lindo?" (Nota de Pedro Bandeira). ataque quando descobriu que eu fazia versos. - Pimpo, pelo amor de Deus, isso é profissão? Você tem de estudar algo que te dê um emprego decente. Poeta no Brasil morre de fome! Será que é melhor morrer de tédio? E o que iria me acontecer se eu tivesse de fazer cálculos o dia inteiro, que nem ele? Nesse ponto, minha mãe é mais legal. Ela também gosta de poesia, se bem que não encontre tempo para ler. As vezes tenho vontade de dizer que, se ela falasse menos no telefone ou se assistisse menos televisão, ia sobrar muito mais tempo. Mas isso iria irritá-la tanto, que eu sempre desisto. Não posso arriscar de chateá-la, porque depois ela começa a pegar no meu pé. Hoje no recreio o Zeca veio me contar que brigou com a Celinha. - Poxa, mas vocês namoravam há um tempão... - eu falei. Ele chutou um pedregulho e disse: - A gente deu um tempo... Tava ficando chato, aonde eu ia ela ia atrás... Bem que eu queria que a Celinha fosse atrás de mim... Zeca é o meu melhor amigo, mas a Celinha é bonita paca! Que é que vou fazer, se o meu coração disparou de alegria? Comecei a imaginar o que ia acontecer se eu tivesse coragem de convidá-la para ir ao cinema. Talvez ela respondesse: - Claro, Pimpo! Puxa, há quanto tempo eu estou esperando esse convite... Que tal sábado? Daí eu bancaria o gostosão e diria: - No sábado eu já tenho compromisso. Pode ser no domingo? Então eu passava na casa dela e a gente ia juntinho, de mãos dadas. No escurinho, ela me perguntava se eu não ia lhe dar um beijo. Mas antes eu ia recitar no ouvido dela: Oh, minha amada! Oh, minha idolatrada! E por ti que meu coração fortemente bate. Eis aqui, aos teus pés, um humilde e inofensivo vate. Não sei se inofensivo ia pegar bem no contexto... Inofensivo vate.., vate... Puxa! Que bomba de palavra para ser jogada em cima da Frida! Ela vai boiar mais do que baiacu morto quando eu soltar essa palavra em cima dela... Pronto! Outra vez... Perdi tudinho o que o professor falou. Vou ter de copiar todo o ponto de História. Acho que era algo sobre os hititas, ou seria sobre os maias? Culpa daquela sardenta cacheada que fez eu me distrair outra vez... uxa, mas esse cara-de-coruja só dá fora mesmo! Levou mais um castigo. Bem feito! Acho que ele nunca presta atenção no que fala o professor. Só fica ligado no meu cabelo. Tem hora que eu até sinto o olhar dele em cima de mim, através daqueles oculos horrorosos. Parece ate que queima! E eu nunca vou esquecer a história do sanduíche. Aquele cara-de-coruja ainda me paga! Eu fui reclamar e o danado ainda falou: - Por que você não traz um róti dógui com batata frida? E saiu, falando bem alto, às gargalhadas: - Frida-batata-frida! Frida Zebcde batata-frida! das novelas, se ele agora vai trabalhar em Aquele apelido era bem pior do que banana pintadinha. Com a banana pelo menos eu já estava um pouco acostumada. Mas com batata frida... O Pimpo pensa que é muito esperto só porque sabe um monte de palavras difíceis. E só porque o professor de Português, o chato do seu Eugênio, foi com a cara-de-coruja do Pimpo e sempre dá nota boa para aquele antipático. Professor chato, gorducho e baixote! E! Mas eu quero ver é se o Pimpo vai conseguir passar em Matemática, Matemática quem sabe sou eu. Sou eu e pronto! Se ele fosse como o Zeca... Que pena que o nome do Zeca seja José Roberto! Pena que ele não se chame Geraldo. Aí, ele ia sentar logo atrás de mim e não atrás do... do Pimpo! E o Pimpo! Ah, ele devia se chamar Zebedeu para ficar sentado lá no fundo, com a Zenaide atrás e a Valéria na frente! Ai, o Zeca! No colégio, ele foi o assunto do dia. Ele fez um teste e foi escolhido para fazer uma propaganda na televisão! Imagine só! Também, do jeito que ele é lindão... Todo mundo ficou à volta dele, perguntando mil coisas, se ele foi mesmo lá na televisão, se ele conheceu os artistas novela, se ele vai ter de abandonar o colégio, para ficar o tempo todo trabalhando na televisão... - Nada disso, gente, vocês não entendem - respondeu o Zeca. - A gente só filma a propaganda. A filmagem é feita num estúdio. Depois, eles levam o filme para a estação de televisão e ficam passando o anúncio nos intervalos. Eu só vou filmar a propaganda. Não vou - conhecer nenhum artista de televisão. E assim que é feita a coisa. Eu fiquei bem quietinha, pois sempre pensei que os artistas das propagandas de televisão ficavam lá, o tempo todo, e representavam o anúncio de novo, em cada intervalo. Ainda bem que eu não falei nada. Não ia querer que o Zeca pensasse que - Quando é que você vai filmar a propaganda? - perguntou a Laís. - Vai ser neste fim de semana. - E propaganda de quê? - De iogurte... Ai, de agora em diante, só vou comer iogurte. Hoje, lá no banheiro da escola, a Celinha me contou que não namora mais o Zeca. - Poxa, Celinha. Logo agora que o Zeca vai ser artista de televisão... - Isso não tem nada a ver, Frida. O Zeca é muito mandão. Vive achando desculpa pra discutir. Imagine que ele armou uma bruta discussão só porque eu me maquiei pra sair com ele, no sábado! Bom, se o Zeca quisesse me namorar, eu aceitava tudo. Mesmo que nunca mais usasse batom, em toda a minha vida. A Celinha não percebeu que o Zeca é ciumento. E quem tem ciúme é porque gosta da pessoa. Se ele implicasse comigo, seria uma prova de que gostava de mim. Vou dar um jeito do Zeca implicar comigo. Vai ser amanhã! PLANOS DE VINGANçA 'Tomara que este ano acabe logo para eu não ter de ficar o tempo todo sentado atrás daquela ruiva com nome de tartaruga. Quando eu me distraí minuto e levei outro castigo, percebi que a danada estava se remoendo de satisfação ali na frente. Lambisgóia! / Taí! Outra palavra ótima para eu pregar uma peça nela. Desta vez, tenho de me vingar bem vingado, porque a tal da Frida ainda saiu dando uma risadinha quando eu tive de perder o recreio para copiar o ponto de História. Estou com uma idéia de vingança que é... Como é mesmo a palavra? Arquitetônica? Catastrófica? Não... Ai, outro dia o meu pai usou essa palavra falando de um político mau-. caráter. Como era mesmo? Não importa. Vou devorar o dicionário e a danada da Frida vai ver como é bom rir-se dos outros! Vou usar vate e lambisgóia. Vou procurar no dicionário um monte de palavras difíceis. Ah, vai ser uma vingança ma-qui-a-vé-li-ca! E isso! Achei! A palavra era maquiavélica! iogurte! Isso é que é sorte. E ainda disse que vai ganhar um cachê para fazer o filme. O que será um cachê? Vai ver o sortudo vai ganhar uma bicicleta nova... Vai ver cachê é o mesmo que bicicleta. Fui ver no dicionário. Cachê quer dizer "Pagamento feito a qualquer pessoa que se apresente em espetáculo público". Na certa vai ser um pagamento tão grande que o Zeca vai poder comprar uma bicicleta nova. Aposto que a Frida não sabe o que quer dizer cachê. Ela é tão idiota que vai pensar que cachê é o mesmo que Puxa vida! O Zeca vai fazer uma propaganda de televisão! Um anúncio de Agora o Zeca vai ficar ainda mais famoso na escola. Tomara que a Celinha não se arrependa e resolva voltar a namorar com ele. Que nada! Agora ele vai ficar importante demais. Só vai querer namorar artista de televisão. Não vai nem ligar mais para a Celinha. Está pra mim! Ufa, que foi difícil! Como tem palavra complicada no dicionário, sô! Mas aqui esta o poema . Poema! Ah, ah! O que eu fiz foi uma arapuca que vai fazer a danada da ruiva ficar roxa de vergonha! Os cachinhos ruivos vão ficar até esticados. Bem, como poema, é a pior coisa que alguém já escreveu: Oh, natureza eqüestre! Oh, lambisgóia florescente! Quem está no magistério, o vemáculo ensinando, é um microcéfalo ser, pantagruelico voraz, que este vate nunca mais quer ver... Ébem pagoou bem pagado? não deu certo. Fui toda de batom e ruge e rímel e blâchi e usei até base para esconder as minhas sardas e o Zeca nem ligou. Passei pela frente dele no recreio mais de mil vezes e até parecia que eu era transparente. Depois fui até o banheiro e tirei toda a maguiagem. E o Zeca? Não deu a menor bola. Agora que ele é artista de televisão, acho que não vai mais dar bola pra nenhuma das garotas do colégio. Detesto todas as garotas do colégio. Detesto esse colégio idiota. Detesto a cegueira do Zeca. Detesto todos os artistas de televisão. Detesto tudo. Mas detesto principalmente o Pimpo. e Fu! Dois mil e quinze cachinhos ruivos! O professor Eugênio mandou a gente pesquisar o Castro Alves. Disse que é um poeta baiano. Deve ser um desses velhos, como o Caetano Veloso e o Gilberto Gil. Era para decorar um poema que o Castro Alves escreveu. Se o professor chamasse um de nós e esse um soubesse um poema do Castro Alves de cor, ganharia um ponto na nota. Eu bem que precisava de um ponto a mais em Português. Mas na biblioteca da escola só encontrei poemas do Castro Alves muito compridos. Como eu ia decorar tudo aquilo? Foi aí que o Pimpo disse que podia me ajudar, pois de poetas ele entende. Me passou uma folha com um poema curtinho e disse que eu podia decorar aquele, que era do tal Castro Alves. Eu achei que o raio do poema era feito só com um ajuntamento de palavras difíceis, que ninguém entende. Acho que poeta é assim: escreve um monte de palavras que ninguém entende. Quanto menos a gente entende, mais dizem que o poeta é ótimo. Mas eu não tinha outro jeito e decorei tudo direitinho. Uma bobagem complicada, cheia de eqüestre, de vemáculo, de vate e de lambisgóia. Uma chatice! Na aula, não deu outra. O professor Eugênio falou o meu nome e eu, mais que depressa, toda satisfeita, declamei os tais versos que o Pimpo tinha me passado. O professor foi ficando vermelho, depois ficou azul, roxo e acabou me botando pra fora da classe. Pela primeira vez na minha vida! Que ódio! Fui parar na diretoria e nem sei como não fui suspensa. Mas tive de levar uma carta de advertência para o meu pai assinar. O pobre do meu pai ficou branco como um lençol. Ajeitou os óculos e me olhou como se aquilo nem fosse verdade. - Frida, Frida... O que você foi fazer? Falou, falou, parecia até que ele é que tinha sido expulso da classe. Minha mãe ficou só ouvindo, vi que ela enxugava uma lagrima ponta do avental. O Davi enfiou pela porta a cara mais feliz do mundo, como se dissesse "bem feito". mas eu com a Corri para o quarto, para chorar tudo aquilo, toda a bronca do papai, todas as lágrimas da mamãe, toda a chatice do Davi, toda a cegueira do Zeca, toda a propaganda de televisão, toda a raiva do Pimpo. Antes, no caminho, dei um beliscão bem forte no Davi, para ele ver se aprende a não caçoar da desgraça dos outros. Ah, o Pimpo há de me pagar! De pagar muito bem pagado! Ou será muito bem pago? 'Ah! O vexame da Frida! Foi a coisa mais divertida de se ver! E justo no dia que ela veio toda cheia de maquiagem, cheia de pinturas e não sei que mais. Enfeitou-se toda só para me impressionar. E eu não dei a mínima bola. Ah, ah! Vai ver ela pensou que eu ofereci a "poesia" para ela só porque estava achando bonita aquela cara sardenta cheia de tinta e de batom feito tia velha em dia de casamento na família. Aquela foi mesmo muito boa. O chato é que, logo depois, uma outra poesia havia de me colocar numa fria muito pior do que o vexame da Frida. Dois pagamentos para o mesmo poeta II O que é que eu podia fazer? A aula de Ciências estava um horror e a Celinha estava mais linda do que nunca. Daí eu tinha de fazer uns versos, não tinha? A voz da professora foi diminuindo, diminuindo, e no lugar foi se instalando a inspiração. O lápis foi deslizando sobre o caderno e os versos foram saindo: Oh, turbilhão que me invade a alma! Poeta solitário, nesta manhã tão calma, vou desfiar o abecedário, da sala até a cozinha, para falar da beleza da minha querida Celinha! Eu estava pensando se cozinha era uma boa palavra para fazer parte de um poema de amor, quando a professora de Ciências passou pela minha carteira e tomou o meu caderno. - Vamos ver se o senhor está tomando nota da aula direitinho, senhor José Olímpio. Eu sempre fico desconfiado quando algum adulto me chama de senhor. Eu sei que vem bronca, na certa! Só que, naquela hora, eu até preferia uma boa bronca. Qualquer coisa seria melhor do que aquilo que a chata da professora resolveu fazer. -. Ora, mas vejam só! O senhor José Olimpio é um poeta! Em vez de prestar atenção na aula, vejam o que ele estava escrevendo... E leu a minha poesia em voz alta, para todo mundo ouvir! Decididamente, eu nunca mais poderia pisar naquela escola, depois do que aconteceu na aula de Ciências. Falei isso para o meu pai e ele não concordou. Disse que eu tive sorte de não ser suspenso. Disse que a gozação 74 L .. - vVVVV VVVV ,Vv vV '1V V V V V V V VV 'VV ! V V VVV da turma até que tinha sido um castigo pequeno. Pequeno! Porque não tinha sido com ele. Pequeno! Será que ele não entende que não dá mais para encarar os colegas? E a Celinha, então? Acho que nunca mais vou poder levá-la ao cinema. O pior de tudo foi a cara sardenta da Frida olhando para mim! Ai, que raiva! Minha sorte foi que a gozação tinha acontecido na sexta-feira. Quando cheguei ao colégio, na segunda, o assunto não era mais a minha poesia. 1 O assunto era a propaganda de televisão que o Zeca tinha feito no fim de semana. Todo mundo perguntava: - Mas você não ficou nem um pouquinho nervoso? Com aquelas luzes todas... as câmeras... - Que nada! Já estou acostumado... - respondia o Zeca, como se nunca tivesse feito outra coisa na vida. Eu não perguntei nada. Procurei ficar o mais quietinho possível. Não queria que ninguém se lembrasse da aula de Ciências da sexta-feira e resolvesse inventar mais gozações. Fiquei meio afastado do grupo. Do meu lado estavam os cachinhos ruivos. A Frida estava toda cheirosa e eu bem que percebi que ela já estava usando sutiã. Ela olhou para mim e sorriu, toda lambida. Acho que já esqueceu o vexame que eu fiz ela passar com a tal "poesia do Castro Alves". Ou vai ver se sentiu vingada com o meu azar na aula de Ciências. Eu quis mostrar que não estava nem aí e botei-lhe a língua. Bom, ela ja estava indo para a carteira porque a aula ia começar e eu acabei botando a língua só para os cachinhos ruivos. Mas que eu botei a língua, lá isso eu botei! Fu! Dois mil e quinze cachirihos ruivos... UM CACHORRINHO DE ÓCULOS gozado é que eu nem consegui rir do vexame do Pimpo. Que raiva! Para mim, ele veio com aqueles versos gozando o professor Eugênio. Para ela, ele vem com versinhos todos melosos, todos cheios de nhenhenhém! Para falar a verdade, eu até fiquei com um pouquinho de pena dele. Mas foi um pouquinho só, que acabou logo, feito restinho de massa de bolo quando a mãe dá a tigela para a gente lamber. A turma estava toda em volta do Zeca, perguntando da propaganda que ele fez, quando o Pimpo veio todo boboca para o meu lado, querendo agradar. gozado é que eu nem consegui rir do vexame do Pimpo. Eu dei uma risadinha de desprezo para o lado dele e fui me sentar. Ele nem desconfia da vingança que eu preparei para ele. Depois de amanhã tem prova de Matemática. Você que vá esperando, "senhor" Pimpo! Vá esperando! Quando cheguei da escola, tinham nascido os filhotes da Sherazade! Cinco! São duas cachorrinhas e três cachorrinhos. Um mais fofinho do que o outro. Que lindeza! Que lindeza! O mais sapequinha é o Pimpo. Tem duas manchas pretas em volta dos olhos, feito os óculos do outro Pimpo. Parece até que a Sherazade adivinhou que um deles ia se chamar Pimpo. A mamãe disse que a gente tem de dar os cachorrinhos para alguém, pois não dá para ficar com "essa cachorrada. toda em casa". - A casa ia ficar uma loucura, com duas crianças como vocês e cinco cachorrinhos correndo e fazendo xixi pelos cantos! Tive vontade de perguntar quem é que ia fazer xixi pelos cantos. Eu e o Davi ou os cachorrinhos. Mas, em vez de perguntar, resolvi protestar: - E como é que fica a Sherazade? Como é que você ia ficar se alguém me desse e desse o Davi para o vizinho so porque achava que não era possível "ficar com essa criançada toda em casa"? - Cachorro é diferente de gente, Frida. Quando os filhotes estiverem desmamados, a Sherazade nem vai mais ligar para eles. Quem é que disse isso para a minha mãe? A Sherazade não foi, isso eu tenho certeza. O Davi esperneou, eu esperneei, mas não adiantou nada. Eu tentei ficar pelo menos com um dos cachorrinhos e também não adiantou. - Nossa casa é pequena demais, minha filha - encerrou a mamãe. Vai ficar uma loucura com um cachorro a mais. Quando os filhotes desmamarem, vocês dois tratem de arranjar quem fique com eles. E não adianta mais discutir! A Sherazade está toda pimpona, orgulhosa dos filhotes. Ei! "Pimpona"! E claro que ela sabia que eu ia dar o nome de Pimpo para um deles. Senão, por que estaria assim, toda pimpona? Quando fui me vestir, depois do banho, descobri que o Davi tinha cortado os biquinhos do meu sutiã novinho! Enfiei uma camiseta de qualquer jeito ul e saí correndo atrás do Davi. O desgraçadinho ficou correndo em volta da mesa da sala e gritando: - Peitinho escondido com bico de foraa! Peitinho escondido com bico de fo-raa! Fiquei de castigo, fechada no quarto, depois da bruta surra que eu dei no Davi. Acho que foi a maior surra que já dei nele. Levei o Pimpo para o castigo junto comigo. Como é gostoso ficar alisando uma bolinha quentinha e fofa como o Pimpo! O Pimpo adormeceu no meu colo, enquanto eu fiquei pensando que, se a casa era muito pequena para duas crianças e cinco cachorrinhos, era melhor a gente mandar o Davi para outra casa e ficar com os cachorrinhos... u rui INFALÍVEL DO PIMPO primeira aula de hoje foi Educação Física. A Frida pediu para ser dispensada porque estava doente. O que será que ela tem? Está com a mesma cara cheia de sardas. A cara de sempre. Não dá pra notar nenhuma doença. Mas não deu para me preocupar com a doença da Frida. O meu caso é a Celinha. Só que, depois do episódio da aula de Ciências, a Celinha vira a cara cada vez que eu passo por perto. Como ela estava linda na aula de Educação Física! De tirar o fôlego! Foi durante a aula de Educação Fisica que me ocorreu uma idéia. Uma idéia sensacional. O melhor modo de fazer a Celinha cair direitinho por mim. Camada! Ela vai ficar gamada! Tive a idéia e fui procurar o Alfredo, também chamado Alfredão, o garoto mais forte da classe. - Alfredão, você me faz um favor? - Depende do favor. - O negócio é o seguinte. Eu estou querendo namorar a Celinha, sabia? - E daí? Todo mundo está, agora que ela brigou com o Zeca. - E daí que eu arranjei um jeito de "ganhar" a Celinha e todo mundo não achou. - E que jeito é esse? - E eu dar uma boa surra em alguém, na frente da Celinha. O alguém chega e, sem mais aquela, passa a mão na Celinha. Aí eu vou tomar satisfação e encho a cara do alguém de cacete. Daí a Celinha vai ficar impressionada comigo e pronto, está no papo! - E se ninguém passar a mão na Celinha? E se você não estiver por perto quando o alguém passar a mão nela? - E tudo combinado, Alfredão. Eu combino tudo com o alguém. A hora, a passada de mão, a surra, tudo! - E quem é que vai topar esse plano todo, Pimpo? - Eu estive pensando, Alfredão, que dar uma surra.num fracote como eu não vai adiantar nada. A surra tem de ser em alguém forte, que nunca tenha perdido uma briga para ninguém. - Ah, é? E quem foi esse "escolhido"? - Você... O Alfredão deu um pulo e nem conseguiu cair na gargalhada, tal a surpresa: - Você?! Ora, cresça e apareça! Quem é você para... Não deixei ele terminar: - Já falei que a surra é fingida, Alfredão. A gente finge que briga e você finge que apanha... - E por que eu faria isso? - Te dou metade da minha mesada... - Metade? E pouco. E como é que fica a minha reputação? Se eu fingir que apanho de um frango como você, de quatro-olho e tudo, o que é que o pessoal vai ficar pensando de mim? - Te dou a mesada inteira... - E pouco. - Te dou a mesada inteira e uma semana de lanche. - Ainda é pouco. - Uma quinzena de lanche... - Pouco... - Olha que a minha mãe me manda lanche sempre com bolo... - Bolo? Bolo de quê? - Bolo de chocolate... - De chocolate? - E com chantili... Acho que foi o chantili que fez o Alfredão mudar de idéia. Combinamos tudo direitinho e chegamos até a ensaiar alguns golpes. A briga ficou marcada para a hora do recreio. Isso sim que é plano infalível! Desta vez a Celinha vai entrar na minha, ora se vai! roga de irmão! Tive de ir para a escola com o sutiã remendado pela mamãe. Só de tarde ela vai comprar outro. E como é que eu ia fazer Educação Física desse jeito? Como é que ia tirar o uniforme no vestiário com o sutiã remendado? O que é que as colegas iam dizer? Daí eu tive de inventar uma desculpa. Disse que estava doente e pedi dispensa da aula. Fui para a biblioteca da escola e descobri um livro de poesia que eu já tinha lido na quarta série. Tinha uma que era assim: Irmão menor é pior que catapora. Irmãozinho é pior do que camiça, é pior do que injeção. Mexe no que é meu, rabisca meu caderno, perde meu carrinho, e eu fico de castigo se lhe dou um safanão. E praga, é prega, é sarampo, é varicela! E não venha achar estranho, só porque dei uma surra no danado do moleque que xingou o meu irmão. Eu posso xingar. Os outros não. Pois se alguém xingasse o Davi eu inda ajudava. Se alguém quisesse dar uma surra no Davi, podia contar comigo. O alguém, ião o Davi. O Davi me paga! E o Pimpo me paga, também. Castro Alves! Ele vai ver o que eu vou aprontar para ele amanhã. Hoje não foi o dia dos meninos. Foi o dia da vergonha, para o Zeca e para o Pimpo. Ontem passou a propaganda do Zeca na televisão. Grande artista! Na verdade, na propaganda, tinha um garoto e uma garota, mais um vendedor de iogurte. No fundo da cena, tinha uma multidãozinha de crianças. E nada do Zeca. Todo mundo caiu de cobrança em cima dele e o Zeca disse que era um dos que estavam na multidãozinha. Só que ninguém viu. Não viu nem dava para ver. Grande artista de televisão! E o Pimpo? Por que é que ele tinha de se meter com um cara forte como o Alfredão? No recreio, o cafajeste do Alfredão passou a mão na Celinha e o Pimpo foi tirar satisfação. O que é que o Pimpo tem a ver com a sirigaita da Celinha? Aí os dois se pegaram de socos e pontapés. O gozado é que o Pimpo até que estava levando a melhor. Logo contra o Alfredão. Parecia até que o Alfredão estava meio mole, sem querer bater no Pimpo. Mas daí o Pimpo deu uma cabeçada na barriga do Alfredão e o Alfredão ficou uma fera. Saiu de sopapo em cima do pobre do Pimpo e acho que tinha arrebentado com ele se a turma não fosse apartar. E a sem-vergonha da Celinha ainda ficou toda melosa com o Alfredão! Os óculos do Pimpo voaram longe e as lentes se quebraram. Acho que o Pimpo vai ficar feito ceguinho até consertar os óculos. Pelo menos, vai ficar algum tempo sem aquela cara-de-coruja. Coitado do Pimpo! Coitado nada! Primeiro eu vou me vingar bem vingado da "poesia do Castro Alves", da batata Inda e do sanduíche de sardinha. Só depois é que eu vou dizer "coitado do Pimpo". raiva! O meu plano não deu certo. Tudo até que estava indo bem, quando eu me entusiasmei com a briga e dei uma cabeçada no Alfredão. Daí ele ficou fera e partiu com tudo pra cima de mim. Se a turma não apartasse... Puxa, não quero nem pensar! Na briga, lá se foram os meus óculos. Sorte que a mãe tinha guardado meus óculos velhos. Vou ter de usar os velhos até que fique pronto o conserto dos outros. O chato é que os óculos velhos são de quando eu era menor. Mal cabem na minha cara. Tudo deu errado. Agora, a Celinha vai namorar o Alfredão. - Nossa! - ela disse para o Alfredão, depois da briga. - Como você é forte, Alfredinho... Alfredin ho! E o pior é que o Alfredão cismou que eu tenho de pagar o trato, do jeito que a gente combinou: - Não quero saber, Pimpo. Você é que quebrou o trato. Você é que veio com uma cabeçada pra valer. Agora tem de pagar. Quero a mesada inteirinha e quinze dias de lanche. Com bolo de chocolate e tudo. E com chantili! E eu? Podia discutir? Pronto. Levei uma surra e ainda vou ficar um mês sem um tostão. E sem lanche. Raiz quadrada! Para que raio de E sem a Celinha. razão alguém pode precisar saber a raiz Sem Celinha e sem chantili... quadrada de um número? A prova de Matemática é amanhã e eu ainda não sei nada. Perdi quase a tarde toda. Também, por que justo hoje a Frida resolveu sumir? Tive de procurar por todo canto e só fui encontrar a Frida debaixo da cômoda do quarto dos meus pais. Tartaruga é um bicho muito estranho. Não late, não mia, não faz nenhum barulho. Devagarzinho, devagarzinho mete-se por baixo dos móveis e vá L4 elo jeito, eu vou perder a viagem para a Argentina. Também, como é possível alguém se interessar por esse monte de números? alguém tentar encontrá-la! - Hum... deixe ver... ele. - E quem lhe passou senhor José Olímpio? Mas o meu problema era a prova de Uma cola completa! Eu estava salvo! Matemática. Eu só conseguia pensar na viagem para a Argentina, Se eu tirasse nota vermelha e ficasse de segunda época em Matemática, meus pais iriam sozinhos para a Argentina? E eu? Ia ficar com quem? Acho que na casa da Vovó. Copiei as questões na folha de prova e fiquei em pânico. Eu não sabia nem por onde começar. Aos poucos, fui esquecendo da prova e fiquei olhando para aqueles cachinhos ruivos bem na minha frente. Nunca vi ninguém tão ruivo. Até que é muito bonito cachinhos ruivos. Dois mil e quinze cachinhos ruivos... Estava mas não estive. No mesmo segundo em que eu peguei o papel, lá estava o diabo do professor em cima de mim, com aquela cara de policial de filme de TV que pega o criminoso com a mão na massa. - O que o senhor está escondendo aí, debaixo da carteira, senhor José Olímpio? O senhor outra vez! Não havia mais nada a fazer do que entregar a cola para ele. Junto, eu sabia que estava entregando também minha viagem para a Argentina. Foi aí que eu fiquei arrependido de ter implicado tanto com a Frida. Fiquei - resmungou esta cola, '' arrependido da "batata frida", da poesia do Castro Alves", do sanduíche de Devagarzinho, na minha frente, a sardinha com cebola, fiquei arrependido de tudo. Frida levantou-se. E respondeu, olhando para o chão, sem encarar o professor: Porque foi justo a Frida que tentou - Fui eu... salvar minha viagem para a Argentina. Puxa, que vergonha! Eu tinha feito Quinze minutos depois de começar a tanta gozação com a Frida e ela, além de prova, eu já estava a ponto de entregar a tentar me salvar, ainda se acusou! folha em branco, quando a Frida passou disfarçadamente para trás um pedaço de papel com todas as perguntas A vergonha foi tanta, naquela hora, que eu, quase sem pensar, tentei tirar a Frida do aperto. Se alguém tinha de levar respondidas. um zero, que fosse eu, que ia levar s zero de qualquer jeito: Bom, eu e a Frida sabíamos o que - Não, professor! Nada disso. Eu é aconteceria depois daquele encerramento que trouxe a cola de casa.., de caso. O professor deu aquele sorrisinho Zero para os dois. odioso de adulto sádico prestes a fazer Naturalmente, fomos postos fora de uma grande maldade com a gente: classe. - Oh, foi você? E como é que você, Meu arrependimento era muito maior na sua casa, adivinhou as questões que do que o zero. Eu só podia pensar na iam cair na prova? E como é que vergonha que sentia por dentro. escreveu tudinho imitando a letra da Olhei de lado. A Frida estava Frida? chorando. 0 Não falei nada e corri para o banheiro. Não queria que a Frida visse que eu também estava chorando. - E se ela perguntasse por que eu estava chorando? Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi dar duas folhas de alface bem verdinhas e bem lavadinhas para a Frida. Foi aquele o jeito que encontrei para agradecer à tartaruga Frida o que eu devia para a menina Frida. Tartaruga é um bicho feliz. Não precisa se preocupar com Matemática. 'ue vergonha! Que vergonha! Como é que isso foi acontecer? Mais uma advertência que eu levo para casa. Mais uma desilusão do papai. Mais uma lágrima no avental da mamãe. E o Pimpo? Eu já tenho média em Matemática. Mas ele vai ficar de recuperação, na certa. Acho que eu devia ter pensado nisso antes. Hoje o Pimpo veio falar comigo, antes da gente entrar na classe. Eu estava sem coragem até para olhar para a cara dele. Ele estava com outros óculos. Uns óculos menores, parecia até que não eram dele. Daquele jeito, ele estava com cara de-corujinha. VAI - Frida, olha... - começou ele. - Eu queria falar com você. Sabe? Ahn... Eu queria pedir desculpa. - Desculpa? Por quê? - Por tudo. Por tanta coisa. Pelo sanduíche de sardinha. Pela batata frida. Por aqueles versos horríveis que eu dei para você, dizendo que eram do Castro Alves.:. O que é que eu ia dizer? Naquele momento, se eu tivesse vergonha na cara, eu devia contar a verdade ao Pimpo. Eu comecei a ter vergonha na cara: - Sabe, Pimpo... Eu... eu também queria te dizer uma coisa... - O que é, Frida? No último momento, eu fiquei com vergonha de ter vergonha na cara e dizer a verdade, O que me veio na cabeça, naquela hora, foi isto: - E que... A Sherazade, sabe? A cachorrinha l de casa. Ela teve uns filhotinhos. E a minha mãe disse que a gente não pode ficar com eles. Você quer ganhar um? - Um cachorrinho? Puxa, seria ótimo. - Então, por que você não vai em casa hoje à tarde? Os cachorrinhos são tão sapecas... Um mais bonito que o outro. Daí você escolhe com qual deles quer ficar. Eu disse para o Pimpo onde era a minha casa. Quando a gente já tinha entrado na classe, eu completei: - Olha, se você quiser, eu posso te ensinar Matemática. Não é difícil. Daí, você passava fácil na recuperação e não ficava de segunda época... Pareceu que o rosto do Pimpo mudou na hora. Ele ficou com uma expressão tão... tão gostosinha! Eu vou ter de arrumar um jeito de contar a verdade para o Pimpo. Será que eu vou arranjar coragem? Será que ele vai em casa hoje à tarde? Eu queria tanto que ele fosse... cho que eu preferia que a Frida tivesse me xingado, gritado, que ela tivesse dito "nem morta eu te perdôo!", do que o que ela disse. Puxa, como a Frida é legal! Ela tentou me ajudar na prova com a cola, depois se acusou para o professor, e ainda por cima me ofereceu aulas particulares de Matemática! E ainda por cima do ainda por cima, ela vai me dar um cachorrinho de presente! Por que é que eu fui fazer tanta maldade com ela? Engoli o almoço e corri para a casa da Frida, sem sobremesa nem nada. Que beleza são os cachorrinhos! Eu e a Frida ficamos sentados no tapete da sala da casa dela, brincando com os cachorrinhos. Eles ainda são pequenos demais. Parecem bolinhas felpudas. - E este aqui? - perguntei para a Frida. - Este com manchinhas em volta dos olhos. Você já deu um nome para ele? - Já... Mas acho que você não vai gostar... - .Não vou gostar? Ué... por quê? - O nome dele é... é Pimpo! - Pimpo? Você deu o meu nome para o cachorrinho? Então é com esse que eu quero ficar! A Frida estendeu o cachorrinho para mim. Eu o peguei, mas ela não o soltou. Ficamos ali, parados, por um longo tempo, um olhando nos olhos do outro. Eu sentia o calor do cachorrinho e o calor do corpo da Frida, bem juntinho do meu. Meus dedos estavam sobre os dedos dela. - Sabe, Frida... eu também dei o seu nome para... - Para quem? - Para a minha tartaruga... A Frida sorriu, parecia meio sem jeito, como se quisesse dizer alguma coisa mas tivesse vergonha. - Pimpo... Não precisa me agradecer por eu ter te passado a cola. Sabe, eu sou uma garota muito má. - Muito má? O que é isso, Frida? - Pimpo, eu estava com muita raiva de você. Muita raiva das implicâncias, muita raiva dos apelidos, das gozações, do sanduíche de sardinha com cebola. Estava com muita raiva da história da poesia do Castro Alves... - Com toda razão, Frida. Eu é que fui muito mau com você... - E que você não sabe de uma coisa, Pimpo. Eu não estava querendo ajudar você, quando lhe passei a cola... - Não? Mas por que então... - A cola estava toda errada, Pimpo. Era a minha vingança pelas suas implicâncias. Eu passei para você um papel com todas as respostas erradas... - Erradas? Essa é muito boa! Quer dizer que ia acabar tirando zero de qualquer jeito? - Acho que ia, Pimpo. Mas eu lhe ensino Matemática. Você vai passar na recuperação, eu garanto. Eu estou arrependida. De verdade. Você não está zangado comigo? - Não, Frida. Nem um pouquinho. Acho que estamos quites, não estamos? - Estamos. Eu sempre achei que quem implica com alguém é porque... - É porque... - Porque gosta... - Porque gosta muito... Como ela estava linda naquele momento! Como eram lindas aquelas sardas em volta das covinhas do sorriso... E como brilhavam seus cachinhos vermelhos, cheirando a xampu... Não sei se fui eu que aproximei minha cara da cara dela, ou se foi ela que aproximou a cara dela da minha. Só sei que, de repente, nossos narizes estavam quase se tocando. Minhas mãos tremiam, e eu senti que as mãos da Frida também tremiam debaixo das minhas. O coração disparou dentro do peito e um friozinho me correu pela espinha, igual quando a gente fica com medo assistindo filme de Drácula. Mas aquilo nada tinha a ver com medo. Nada a L ver... Parecia que o mundo tinha sido queria acariciar os dois mil e quinze inventado naquela hora. Nada mais cachinhos vermelhos da Frida. Mas acho parecia existir senão eu e a Frida. Não que eu não confessava isso nem mesmo havia mais Matemática, nem recuperação, para mim. nem Celinha, nem mês sem mesada, Senti a respiração da Frida chegando nem quinzena sem lanche, nem viagem juntinho da minha boca. para a Argentina. Só havia aquela Ia ser como eu tinha visto tantas menina de cachinhos vermelhos. vezes na televisão. Só que foi mais Dois mil e quinze cachinhos! Minha 1 gostoso do que eu jamais tinha mão correu pelos cachinhos, enleou-se, imaginado. percorreu, perdeu-se. Fazia tempo que eu Muito, muito mais gostoso... 0 Quem é Elenice Machado de Almeida Elenice nasceu em Santo Amaro, naquela época um pequeno e tranqüilo submunicípio de São Paulo. Teve uma infância feliz, ao lado de dois irmãos e de vários primos e primas, que gostavam muito de inventar historinhas e fazer teatrinho. Mais tarde, estudou Letras e casou-se. Teve uma escadinha de filhos: Gilberto, Renato, Otávio e Eduardo. Durante muito tempo, não fez outra coisa senão mexer com fraldas e mamadeiras. Na hora de os meninos irem para a cama contava histórias: Branca de Neve, Cinderela, A Bela Adormecida... Quando os meninos queriam novidades, inventava outras historinhas. Mais tarde, ainda no curso de Orientação Educacional, ficou amiga de Ruth Rocha, que a estimulou a escrever para a revista Recreio. A partir de então, publicou vários contos nas revistas Re creio e Alegria e alguns livros: No tempo em que a girafa falava, Presente de grego, O pomo da discórdia, Oito a comer biscoito ou dez a comer pastéis, O rapto da coroa, Meu cavalo invis(vel e Deu minhoca na história. Infelizmente, muito cedo, muito cedo mesmo, ficou doente. Lutou muito, mas a doença foi mais forte e, agora, todos que a conhece ram não conseguem se acostumar com a idéia de sua ausência. Quem é Pedro Bandeira A primeira paixão de Pedro Bandeira aconteceu em Santos, on de o Autor nasceu, em 1942. Não entenda mal: em 1942 ocorreu o nascimento, não a primeira paixão do Autor; a não ser que ele te nha se apaixonado pela enfermeira da matemidade. Mas ele nem se lembra da cara dela, porque era muito pequeno em 9 de março de 1942 e nasceu de olhos fechados. Será que a enfermeira valia a pena? Quando ele já andava de olhos bem abertos, começou a sua carreira de apaixonado, que ele jamais abandonará. Como é bom apaixonar-se! Veio para São Paulo em 1961, estudar Ciências Sociais na USP e fazer teatro profissional. Como, na verdade, ele era bem canas trão e os salários em teatro eram e são um horror, ele acabou fa zendo jomalismo para se sustentar. A partir de 75, começou a escrever textos curtos para crianças, publicados em revistas. Daí gostou da coisa e, desde 83, começou a publicar livros. Atualmente, Pedro Bandeira é apenas isto: um es critor de histórias para crianças e jovens. Seus livros são estes: Literatura infantil Trocando as bolas, O pintinho do vizinho, Pequeno pode tudo, Ca valgando o arco-íris, E proibido miar, O dinossauro que fazia au-au, Sem pé nem cabeça, Velhinho entalado na chaminé, A menor faze dora de mágicas do mundo, Chapeuzinho e o Lobo Mau, Ritinha danadinha, Uma idéia solta no ar e O sumiço da Maricota. Literatura juvenil Malasa venturas - safadezas do Malasarte, Ameaça de sete ca beças, O fantástico mistério de Feiurinha (Prêmio Jabuti), O ele fante assassino, O mistério da fábrica de livros, A marca de uma lágrima (Prêmio APCA), Agora estou sozinha, A droga da obediên cia, Pântano de sangue, Anjo da morte, Na colméia do infemo, Co mo tinha de ser e Os cachos da situação. Quem é Claudia Scatamacchia Claudia Scatamacchia nasceu, estudou e sempre morou em São Paulo. Aluna de Yoshiya Takaoka ainda adolescente, Claudia afirma emocionada que esse grande mestre lhe abriu a alma para a pintura e para a vida. Formada em Comunicação Visual, sempre trabalhou com pintu ra, design, projetos gráficos, direção de arte e ilustrações. Claudia fala pouco de si e também pouco explica seu trabalho. Seus desenhos falam por ela e seu relacionamento com o mundo também acontece de modo semelhante. Seus desejos e sonhos transparecem nas aguadas, aquarelas, nos bicos-de-pena, nas nuances dos lápis de cor. Em seu processo de trabalho alia o rigor da técnica à sensibili dade artística. Diante de uma obra, antes de se decidir por uma li nha de desenho e pelo ângulo de recriação da história, estuda, ana lisa, pesquisa, incorporando o texto ao seu dia-a-dia, à semelhança dos atores que incorporam o personagem. Premiada várias vezes no Brasil e no exterior, ilustrou clássicos e autores de renomada importância: Goethe, Virgflio, Andersen, Ir mãos Grimm, Perrault, Lewis Carrol, Femando Pessoa, Erico Ve ríssimo, Walmir Ayala, Odette de Barros Mott, Maria Dinorah, Lúcia Pimentel Góes. 1 0