============================================================== PEDAGOGIA HOSPITALAR: um breve histórico Cláudia R. Esteves1 Muito se tem falado sobre Qualidade de Vida, de como aplicá-la aos seus dias de forma a viver sua saúde física e mental em equilíbrio, de estar de bem consigo, com as pessoas, em harmonia com a vida. A Pedagogia Hospitalar vem se expandindo no atendimento à criança hospitalizada, e em muitos hospitais do Brasil tem se enfatizado a visão humanística. Como pratica deste trabalho Humanista, o nosso trabalho deverá ser o de ter os olhos voltados para o ser global, e não somente para o corpo e as necessidades físicas, emocionais, afetivas, e sociais do individuo. Como referencial teórico, utilizo as experiências e pesquisas realizadas nos hospitais do Brasil onde a Classe Escolar Hospitalar foi implantada no auxílio de tratamentos às crianças e adolescentes. Meu objetivo é, conscientizar, discutir e ampliar as idéias dos profissionais da educação e da saúde, quanto a proporcionar uma melhor qualidade de vida, para todas as pessoas que requerem um cuidado e um olhar especial para um atendimento individualizado, seja no atendimento domiciliário ou hospitalar. Procurando favorecer toda estratégia que ajude o desenvolvimento desta modalidade educacional e que sensibilize os agentes da educação e da saúde sobre a importância do atendimento educacional à criança hospitalizada, faz-se necessário construir um espaço para profissionais dedicados à atenção 1 Especialista em Psicopedagogia, Pedagogia Educacional e Hospitalar. Mais informações, acessar o endereço na Internet: http://qualievidanapedhospitalar.blogspo t.com/ às crianças e jovens que devem permanecer hospitalizados, com o objetivo de sensibilizar para a questão, trocar experiências e refletir sobre pedagogia hospitalar, oferecendo ferramentas para o desenvolvimento desta modalidade educacional e explorando sua relação com o sistema educacional formal. Tendo em vista o embasamento legal, contido na legislação vigentes que amparam e legitimam o direito à educação, os hospitais devem dispor às crianças e adolescentes um atendimento educacional de qualidade e igualdade de condições de desenvolvimento intelectual e pedagógico. A inserção do ambiente escolar no período de internação é importante para a recuperação da saúde da criança, já que reduz a ansiedade e o medo advindos do processo da doença. Sua história... A Classe Hospitalar tem seu início em 1935, quando Henri Sellier inaugura a primeira escola para crianças inadaptadas, nos arredores de Paris. Seu exemplo foi seguido na Alemanha, em toda a França, na Europa e nos Estados Unidos, com o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas. Pode-se considerar como marco decisório das escolas em hospital a Segunda Guerra Mundial. O grande número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir à escola, fez criar um engajamento, sobretudo dos médicos, que hoje são defensores da escola em seu serviço. Em 1939 é Criado o C.N.E.F.E.I. ­ Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas de Suresnes, tendo como objetivo formação de professores para o trabalho em institutos especiais e em hospitais; Também em 1939 é criado o Cargo de Professor Hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. O C.N.E.F.E.I. tem como missão até hoje mostrar que a escola não é um espaço fechado. O centro promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas; os médicos de saúde escolar e a assistentes sociais. A Formação de Professores para atendimento escolar hospitalar no CNEFEI tem duração de dois anos. Desde 1939, o C.N.E.F.E.I. já formou 1.000 professores para as classes hospitalares, cerca de 30 professores a cada turma. Legislação No Brasil, a legislação reconheceu através do estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, através da Resolução nº. 41 de outubro e 1995, no item 9, o "Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar". Em 2002 o Ministério da Educação, por meio de sua Secretaria de Educação Especial, elaborou um documento de estratégias e orientações para o atendimento nas classes hospitalares, assegurando o acesso à educação básica. Em Santa Catarina, a SED baixou Portaria que "Dispõe sobre a implantação de atendimento educacional na Classe Hospitalar para crianças e adolescentes matriculados na Pré-Escola e no Ensino Fundamental, internados em hospitais" (Portaria nº. 30, SER, de 05/ 03/2001). Todo o aluno que freqüenta a classe possui um cadastro com os dados pessoais, de hospitalização e da escola de origem. Ao final de cada aula o professor faz os registros nesta ficha com os conteúdos que foram trabalhados e outras informações que se fizerem necessários. O aluno que freqüenta a classe por três dias ou mais é realizado contato telefônico com sua escola, comunicando da sua participação na classe e obtendo-se informações referentes aos conteúdos que estão sendo trabalhados, no momento, em sua turma. Após alta hospitalar, é enviado relatório descritivo das atividades realizadas, bem como do seu desempenho, posturas adotadas, dificuldades apresentadas. Para que este seja legitimado, é necessário o carimbo e assinatura do diretor (escola da Rede Regular Estadual) a fim de encaminhá-lo à escola de origem. A proposta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (MEC, 1996) é a de que toda criança disponha de todas as oportunidades possíveis para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam suspensos. A existência de atendimento pedagógico-educacional em hospitais em nada impede que novos conhecimentos e informações possam ser adquiridos pela criança ou jovem e venha contribuir tanto para o desenvolvimento escolar. Após alta hospitalar, é enviado relatório descritivo das atividades realizadas, bem como do seu desempenho, posturas adotadas, dificuldades apresentadas. Para que este seja legitimado, é necessário o carimbo e assinatura do diretor (escola da Rede Regular Estadual) a fim de encaminhá-lo à escola de origem. Objetivos da Pedagogia Hospitalar A Pedagogia Hospitalar vem se expandindo no atendimento à criança hospitalizada, e em muitos hospitais do Brasil tem se enfatizado a filosofia humanística. Um dos objetivos da classe hospitalar, na área sócio-política, e o de defender o direito de toda criança e adolescente a cidadania, e o respeito às pessoas com necessidades educacionais especiais e no direito de cada um ter oportunidades iguais. Como pratica deste trabalho Humanista, o nosso trabalho deverá ser o de ter os olhos voltados para o ser global, e não somente para o corpo e as necessidades físicas, emocionais, afetivas e sociais do individuo. Como um de seus objetivos a Classe Hospitalar possibilita a compensação de faltas e devolver um pouco de normalidade à maneira de viver da criança. O que é a Classe hospitalar? A implantação da Classe hospitalar nos hospitais pretende integrar a criança doente no seu novo modo de vida tão rápido quanto possível dentro de um ambiente acolhedor e humanizado, mantendo contato com seu mundo exterior, privilegiando suas relações sociais e familiares. A classe hospitalar constitui uma necessidade para o hospital, para as crianças, para a família, para a equipe de profissionais ligados a educação e a saúde. Sua criação é uma questão social e deve ser vista com seriedade, responsabilidade e principalmente promover uma melhor Qualidade de Vida. A classe hospitalar se dirige às crianças, mas deve se estender às famílias, sobretudo àquelas que não acham pertinente falar sobre doenças com seus filhos, buscando recuperar a socialização da criança por um processo de inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem. Esta inclusão social será o resultado do processo educativo e re-educativo. Embora a escola seja um fator externo à patologia, a criança irá mantém um vínculo com seu mundo exterior através das atividades da classe hospitalar. Se a escola deve ser promotora da saúde, o hospital pode ser mantenedor da escolarização. A Secretaria de Educação Especial define como classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, com tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital- semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental. A classe hospitalar foi criada para assegurar as crianças e aos adolescentes hospitalizados, a continuidade dos conteúdos regulares, possibilitando um retorno após a alta sem prejuízos a sua formação escolar. Na infância, assim como na adolescência a hospitalização alterar desenvolvimento emocional, pois restringe as relações de convivência da criança, pois a afasta da sua família, de casa, dos amigos e da escola. A preocupação com a saúde física da criança deixa os pais desnorteados e muitos deixam de dar o devido valor aos estudos durante o tratamento, as criança neste período de internação ficam desestimuladas, sem estimulo para continuar a desenvolver suas habilidades e competências. O Pedagogo Hospitalar Chamo a atenção para o atendimento realizado por um profissional capacitado, em desenvolver e aplicar conceitos educacionais, e estimular as crianças na aquisição de novas competências e habilidades, e ressaltar a importância de se ter um local com recursos próprios dentro do hospital que seja apropriado para desenvolvermos este trabalho onde à criança interaja e construa novos conceitos. Ele será o tutor global da criança para que ela possa ser tratada de seu problema de doença, sem esquecer as necessidades pessoais. A intervenção faz com que a criança mantenha rastros que a ajudem a recuperar seu caminho e garantir o reconhecimento de sua identidade. O contato com sua escolarização fazem do hospital uma agência educacional para a criança hospitalizada desenvolver atividades que a ajudem a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação com a vida familiar e a realidade no hospital. Lembramos que o atendimento a essas crianças é um direito de todos os educandos, garantidos por Lei, pelo tempo que estiverem afastados ou impedidos de freqüentar uma escola, seja por dificuldades físicas ou mentais. A formação do professor hospitalar Para atuar em Classes Hospitalares, o professor deverá estar habilitado para trabalhar com diversidade humana e diferentes experiências culturais, identificando as necessidades educacionais especiais dos educandos impedidos de freqüentar a escola, decidindo e inserindo modificações e adaptações curriculares em um processo flexibilizador de ensino/aprendizagem. O professor deverá ter a formação pedagógica, preferencialmente em Educação Especial ou em curso de Pedagogia e terá direito ao adicional de insalubridade. O trabalho do professor hospital é muito importante, pois atende as necessidades psicológicas e sociais e pedagógicas das crianças e jovens. Ele precisa ter sensibilidade, compreensão, força de vontade, criatividade persistência e muita paciência se quiserem atingir seus objetivos. Deverá elaborar projetos que integrem a aprendizagem, de maneira especificas para crianças hospitalizadas adaptando-as há padrões que fogem da educação formal, resgatando e integrando-as ao contexto educacional. O pedagogo Hospitalar no atendimento pedagógico deve ter seus olhos voltados para o todo, objetivando o aperfeiçoamento humano, construindo uma nova consciência onde a sensação, o sentimento, a integração e a razão cultural valorizem o indivíduo. BIBLIOGRAFIA ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 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Da escola tradicional à classe hospitalar: quebra do paradigma de escolarização de um adolescente com câncer. Fortaleza: Anais da X Semana de Pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará. Novembro, 2001(b). FILME: PATCH ADAMS ­ O amor é contagioso. Tudo por Amor. Amigos para sempre. Golpe do Destino. Fale com Ela. SERIADOS DE TV: House ER SITES: www.praticahospitalar.com.br http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/livro9.pdf http://www.inep.gov.br/pesquisa/bbe-online/det.asp?cod=58708&type=P http://www.pedagobrasil.com.br/wforum/forum.asp?acao=msg&id=245 http://portales.educared.net/aulashospitalarias/por/sobreelproyecto_nues trasaul as.jsp artigo PEDAGOGIA HOSPITALAR: A PRÁTICA DO PEDAGOGO EM INSTITUIÇÃO NÃO-ESCOLAR Rosângela Abreu do Prado Wolf Resumo: O artigo trata da diversidade atual no campo de atua- Abstract: This article is about the current diversity in pedagogue´s ção do pedagogo, que além de atuar em instituições escolares, performance field, who works in scholastic and non-scholastic também, vem atuando em instituições não-escolares. Apresenta institutions. It presents the Pedagogy Course extension project o projeto de extensão do curso de Pedagogia da UNICENTRO, from UNICENTRO in Guarapuava-PR, that is developed in the Pe- campus de Guarapuava-PR, que é desenvolvido na ala de Pedia- diatrics' wing of the Hospital de Caridade São Vicente de Paulo tria do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, cujo objetivo which objective is to give the students of Pedagogy, during their é propiciar ao acadêmico de Pedagogia durante sua formação initial education, the opportunity to develop practices and to ac- a oportunidade de desenvolver práticas e adquirir conhecimen- quire knowledge about the pedagogue´s performance in non- tos sobre a atuação do Pedagogo em instituições não-escolares scholar institutions such as a Hospital, for the continuity of the como a hospitalar, através da escolarização hospitalar para a hospitalized children's studies. The methodology used is qualita- continuidade dos estudos das crianças hospitalizadas. A metodo- tive-interpretative (ERICKSON, 1988; VASCONCELOS, 2002). The logia utilizada é de cunho qualitativo-interpretativo (ERICKSON, results obtained indicated the improvement of the hospitalized 1988; VASCONCELOS, 2002). Os resultados obtidos indicaram a children symptomatic state because the students adapted, moti- melhora do quadro sintomático da criança hospitalizada, pois a vated, and used idle time for several activities of reading, guaran- mediação do acadêmico possibilitou a adaptação, a motivação, teeing their right to education. e a ocupação sadia do tempo ocioso através de atividades diver- sas de leitura, além de garantir o direito a educação. Keywords: Non-scholar pedagogy. Hospital Teaching. Teachers' education. Palavras-chave: Pedagogia não-escolar. Escolarização hospita- lar. Formação de professores. Atualmente, a Pedagogia Hospitalar como processo pe- produzir novos conhecimentos, estendendo sua influência dagógico é uma realidade no vasto leque de atuação do e ação à sociedade que a cerca e abriga. No entanto, unir pedagogo na sociedade contemporânea. Em muitos casos ensino, pesquisa e extensão, os três eixos definidores do funciona em parceria entre hospital, Universidade através seu papel, tem sido o grande desafio das instituições de ensino superior não só brasileiras, como internacionais, dos estagiários e a instituição escolar de onde o paciente constituindo, no entanto, lugar comum pensar a Univer- é oriundo, preservando a continuidade do desenvolvimento sidade em relação às suas três funções básicas. A elas, da aprendizagem, através de metodologias diferenciadas, acrescentaremos a formação de profissionais de diferen- flexíveis e vigilantes que respeitem o quadro clínico. tes carreiras e áreas do conhecimento. Rezende (2001) defende a importância desses estágios para os acadêmicos no hospital, colocando que O acréscimo que ocorre na relação de profissionais de áreas diferentes destacado por Stori (2003), e no nosso [...] a criação de um estágio multiprofissional e interdisci- caso entre o profissional pedagogo e os profissionais da plinar da área de saúde é benéfico a toda a comunidade saúde, é a pura expressão de uma prática transdisciplinar envolvida. Os alunos terão uma visão das condições de saúde e a clientela do projeto, orientação para uma me- entre áreas e saberes científicos que se cruzam e dialogam. lhor qualidade de vida. As universidades terão campos de Domingues (2001, p.18), sobre práticas e saberes transdis- estágios, mostrando a realidade profissional, e a comuni- ciplinares, as define como sendo: dade será beneficiada com o suporte científico. [...] aquelas situações do conhecimento que conduzem à Nesse caso, a Universidade enquanto parceira cumpre também com o seu papel extencionista e social, como nos 1 Professora Me. do Departamento de Pedagogia da Universidade Estadu- lembra outro teórico, Stori (2003, p. 30-1): al do Centro-Oeste/UNICENTRO/Guarapuava-PR. e-mail: rosangelawolf@ onda.com.br. 2 O título do projeto de extensão neste ano de 2007 é "A pedagogia [...] o que distingue a Universidade, diferenciando-a de hospitalar desenvolvendo práticas de leitura através da literatura infanto- tantas outras instituições de ensino ou pesquisa, é a sua juvenil, da dramatização, do lúdico e da recreação na ala de pediatria do capacidade de fazer análises, diagnosticar problemas e Hospital de Caridade São Vicente de Paulo. transmutação ou ao transpassamento das disciplinas, à dado especial no desenvolvimento das atividades. Quanto custa de suas aproximações e freqüentações. Pois, além à Pedagogia Hospitalar caberá: o efetivo envolvimento com de sugerir a idéia de movimento, da freqüentação das dis- o doente; modificação no ambiente em que está envolvido; ciplinas e da quebra de barreiras, a transdisciplinaridade modalidades de ação e intervenção; programas adaptados permite pensar o cruzamento de especialidades, o traba- às capacidades e disponibilidades do enfermo. lho nas interfaces, a superação das fronteiras, a imigração de um conceito de um campo de saber para outro, além Essa prática não só é possível na atualidade, como é im- da própria unificação do conhecimento. Vale dizer que não portantíssima, de acordo com os teóricos apresentaremos. se trata do caso da divisão de um mesmo objeto entre (in- Pimenta (2001) levanta discussões sobre os Cursos de ter) disciplinas diferentes (multi) que o recortariam e tra- Complementação Pedagógica, e aponta indicativos para a balhariam seus diferentes aspectos, segundo pontos de formação do pedagogo cientista educacional como sendo vista diferentes, cada qual resguardando suas fronteiras um profissional que e ficando (em maior ou menor grau) intocadas. Trata-se, portanto, de uma interação dinâmica contemplando pro- atue como gestor/ pesquisador/ coordenador de diversos cessos de auto-regulação e de retroalimentação e não de projetos educativos, dentro e fora da escola: pressupondo uma integração ou anexação pura e simples. sua atuação em atividades de lazer comunitário; em espa- É nesse novo paradigma de ambiente universitário, ços pedagógicos nos hospitais e presídios; na formação de pessoas dentro das empresas; que saiba organizar pro- apresentado por Domingues, que pretendemos criar condi- cessos de formação de educadores de ONGs; que possa ções para que se desenvolva esse novo cenário da prática assessorar atividades pedagógicas nos diversos meios científica, em uma perspectiva transdisciplinar que permite de comunicação como TV, rádio, Internet, quadrinhos, re- e res-peita a diversidade. vistas, editoras, tornando mais pedagógicas campanhas A prática do pedagogo na Pedagogia Hospitalar poderá sociais educativas sobre violência, drogas, AIDS, dengue; ocorrer em ações inseridas nos projetos e programas nas que esteja habilitado à criação e elaboração de brinque- seguintes modalidades de cunho pedagógico e formativo: dos, materiais de auto-estudo, programas de educação nas unidades de internação; na ala de recreação do hos- a distância; que organize, avalie e desenvolva pesquisas pital; para as crianças que necessitarem de estimulação educacionais em diversos contextos sociais; que planeje projetos culturais e afins. essencial; com classe hospitalar de escolarização para con- tinuidade dos estudos e também no atendimento ambula- Podemos perceber, com o que Franco (2001) destaca torial. sobre a formação capacidades do pedagogo, que neste mo- A Pedagogia Hospitalar também busca oferecer asses- mento histórico da Pedagogia começam a ser quebrados soria e atendimento emocional e humanístico tanto para antigos paradigmas sobre o perfil de formação e atuação o paciente (criança/jovem) como para o familiar (pai/mãe) do pedagogo, e começa a surgir um novo pedagogo com que muitas vezes apresentam problemas de ordem psico/ uma nova práxis educativa a partir de novas perspectivas afetiva que podem prejudicar na adaptação no espaço formativas que fornecem o enfrentamento corajoso do re- hospitalar, mas de forma bem diferente do psicólogo. A nascimento desta profissão. prática do pedagogo se dará através das variadas ativida- Podemos comprovar isso com Matos e Muggiati (2001), des lúdicas e recreativas como a arte de contar histórias, ao apresentarem a integração de duas pesquisas de disser- brincadeiras, jogos, dramatização, desenhos e pinturas, a tação de mestrado, uma na esfera social e a outra na esfera continuação dos estudos no hospital. Essas práticas são as pedagógica, mas ambas com propósitos complementares estratégias da Pedagogia Hospitalar para ajudar na adap- e convergentes à criança hospitalizada. O livro apresenta tação, motivação e recuperação do paciente, que por outro essas mudanças no campo de atuação do pedagogo abor- lado, também estará ocupando o tempo ocioso. dadas por Pimenta e Franco, pois enfatizam que estamos A sistemática do trabalho da Pedagogia Hospitalar de- passando por um momento histórico da Pedagogia, que penderá da instituição, ou seja, da disponibilidade do hos- vem sinalizando a necessidade da também presença do pital em termos de espaço físico e o tipo de convênio firma- pedagogo nas equipes de saúde. Porém, alertam para o do e dependerá das necessidades do hospital. O que não fato de que muda é o fato que em todo hospital a enfermidade signifi- ca, no organismo, uma certa ruptura, cujo efeito resulta em [...] a questão da formação desse profissional constitui-se impedimentos geradores de mecanismos de adaptação, num desafio aos cursos de Pedagogia, uma vez que as mu- principalmente no caso de crianças hospitalizadas, o que danças sociais aceleradas estão a exigir uma premente e demanda compensação dos subsistemas, alterando as fun- avançada abertura de seus parâmetros, com vistas a ofe- ções do organismo e esforço por adaptar todo o organismo recer os necessários fundamentos teóricos-práticos, para às circunstâncias que se impõem no meio ambiente. o alcance de atendimentos diferenciados emergentes no A Pedagogia Hospitalar busca modificar situações e ati- cenário educacional. (MATOS; MUGGIATI, 2001, p. 15). tudes junto ao enfermo, as quais não podem ser confundi- das com o atendimento à sua enfermidade. Isso exige cui- Elas orientam ainda para o fato que a Pedagogia Hos- importância da atuação do Pedagogo em instituições não- pitalar vem "[...] oferecer à criança hospitalizada, ou em escolares, como a hospitalar, através da escolarização hos- longo tratamento hospitalar, a valorização de seus direitos pitalar; possibilitar a criança hospitalizada a continuidade à educação e à saúde, como também ao espaço que lhe é dos seus estudos, o que caracteriza essa prática como de devido enquanto cidadão do amanhã". (MATOS; MUGGIATI, inclusão; desenvolver atividades didático-pedagógicas, lúdi- 2001, p. 16). cas e recreativas com as crianças hospitalizadas, sob a luz As autoras apontam possibilidades para a realização da da disciplina de Metodologia do Ensino da Língua Portugue- prática da Pedagogia Hospitalar com as Universidades, no sa, enfocando a leitura de maneira bem diversificada. atual momento "convênios têm sido firmados, por meio dos Outro motivo para o nosso interesse em desenvolver o quais são ofertados, aos estudantes de Pedagogia, está- projeto em pauta justifica-se pelo fato de querermos forma- gios práticos para complementação de sua aprendizagem lizar o intercâmbio que vínhamos estabelecendo com o hos- em contexto hospitalar". (MATOS; MUGGIATI, 2001, p.16). pital há três anos (2003, 2004 e 2005), com o desenvol- As mesmas autoras em 2006 citam casos de alguns vimento de atividades pelos acadêmicos de Pedagogia na hospitais em Curitiba-Paraná, onde pedagogos desenvol- ala de Pediatria. O nosso ingresso no hospital ocorreu em vem as seguintes práticas: Projeto mirim de hospitalização 2003 após sermos contatados e solicitados pela superviso- escolarizada; projeto ala de espera; Projeto literatura infan- ra do hospital para que desenvolvessemos atividades com til; Projeto enquanto o sono não vem (contador de histórias); as crianças hospitalizadas, pois lá já funcionava um projeto inclusão digital; mural interativo; prevenção; projeto Eurek@ que o hospital criou e denominou de Projeto Coração Ami- Kids; Projeto campanhas sociais e datas comemorativas e go. Este projeto contava com o apoio de um patrocinador brinquedoteca hospitalar. que fornecia material didático a ser utilizado com as crian- Podemos considerar que os objetivos e práticas da Pe- ças hospitalizadas. Porém, o hospital dependia de recursos dagogia Hospitalar apresentados indicam que ela se cons- humanos que fossem desenvolver atividades lúdicas e re- titui como uma modalidade da Pedagogia com natureza creativas utilizando esse material que o hospital ganhava realmente transformadora, que busca tornar a vida em so- para as crianças. No entanto, segundo a supervisora, o nú- ciedade mais sustentável e humana. mero de voluntários efetivos eram poucos, e os mesmos de- senvolviam esporadicamente algumas atividades. Foi neste Universidade e hospital: relato de uma parceria que deu momento que compreendemos que o curso de Pedagogia certo se encaixava perfeitamente no projeto, fornecendo o recur- so humano, os acadêmicos, que por sua vez teriam espaço Como a Pedagogia trata da educação e o campo edu- para capacitarem-se também no âmbito hospitalar. cativo é muito vasto, pois a educação ocorre em muitos Em 2006, formalizamos nossas atividades através de lugares e sobre variadas modalidades, há também uma um projeto de extensão, após firmarmos um convênio com o diversidade de pedagogias e não apenas a pedagogia esco- Hospital de Caridade São Vicente de Paulo. O projeto possi- lar. Atualmente o curso de Pedagogia em âmbito nacional bilitou a cada dupla de acadêmicos desenvolverem 8 horas passa por um momento de reformulação e elaboração de semanais de atividades práticas para complementação de suas Diretrizes Curriculares. Tais reformulações levam em sua aprendizagem em ambiente não-escolar. A ênfase es- conta também que a prática e atuação do pedagogo não se tava na importância da escolarização hospitalar para o de- faz única e exclusivamente apenas em espaços escolares. senvolvimento cognitivo, social, biológico e afetivo/emocio- Como o curso de Pedagogia da UNICENTRO não está nal sob a luz da disciplina de Psicologia I - desenvolvimento alheio a esta realidade e necessidade na formação de seus humano. Os acadêmicos envolvidos em 2006 foram os da acadêmicos, atualmente vem propiciando práticas de Pe- 1ª série de Pedagogia, matriculados e cursando a referida dagogia Hospitalar através de um projeto de extensão sob disciplina, e as atividades desenvolvidas de escolarização a luz da disciplina de Metodologia da Língua Portuguesa. objetivavam levar o acadêmico a observar a relevância do Para a realização desse projeto de extensão foi estabele- pedagogo em espaço hospitalar e identificar a repercussão cido um convênio com o Hospital de Caridade São Vicente das atividades nos aspectos cognitivo, psicomotor, social, de Paulo com o objetivo de ofertar aos acadêmicos de Pe- biológico e afetivo/emocional do desenvolvimento da crian- dagogia a oportunidade de desenvolver atividades práticas ça hospitalizada. para complementação de sua aprendizagem em ambiente A partir de 2007 o projeto de extensão passou a ser in- não-escolar, relacionados com os conteúdos da referida titulado "A pedagogia hospitalar desenvolvendo práticas de disciplina. Os objetivos do projeto são: propiciar ao acadê- leitura através da literatura infanto-juvenil, da dramatização, mico de Pedagogia durante sua formação a oportunidade do lúdico e da recreação na ala de pediatria do Hospital de de desenvolver práticas e adquirir conhecimentos sobre a Caridade São Vicente de Paulo", e envolve os acadêmicos do 3º ano do curso de Pedagogia da UNICENTRO- Campus 3 As experiências e as práticas de Pedagogia Hospitalar são desenvolvidas de Guarapuava. Os objetivos do projeto, atualmente, são: pelo curso de Pedagogia da UNICENTRO do Campus de Guarapuava-PR. propiciar ao acadêmico de Pedagogia durante sua forma- ção a oportunidade de desenvolver práticas e adquirir co- namento e os pais informam que o tratamento exigirá mais nhecimentos sobre a importância da atuação do Pedagogo dias de estadia no hospital, estabelecemos contato com a em instituições não-escolares como a hospitalar, através da escola para preparar as atividades de escolarização. Como escolarização hospitalar; possibilitar a criança hospitaliza- isso não ocorre na maioria dos casos, trabalhamos com da a continuidade dos seus estudos, o que caracteriza essa essa criança em idade escolar através de atividades diver- prática como de inclusão; desenvolver atividades didático- sas de leitura e de produção de textos. pedagógicas, lúdicas e recreativas com as crianças hospi- Fonseca (2003, p. 8) acredita que esse tipo de aten- talizadas. Os acadêmicos desenvolvem semanalmente 8 dimento "mesmo que por um tempo mínimo, e que talvez horas de atividades sob a supervisão e acompanhamento pareça não significar muito para uma criança que atende a da proponente, que também é a professora que ministra escola regular, tem caráter importantíssimo para a criança para turma a disciplina de Metodologia do Ensino de Língua hospitalizada." Portuguesa. Toda a ação educativa desenvolvida no projeto tem a A disciplina, além de dar fundamentos para o trabalho leitura como eixo condutor e é através da leitura que norte- pedagógico em ambiente escolar, também enfatiza o tra- amos nossas ações. Isso porque consideramos que a leitu- balho com a linguagem, através de atividades de leitura, ra no ambiente hospitalar é uma atividade agradável que, do contar histórias, da produção de textos em ambiente es- não só preenche o tempo ocioso, mas também propicia e colar, como medida preventiva e corretiva nas dificuldades dinamiza a compreensão e atribuição de sentido sobre o existentes para tais habilidades. conteúdo a ser desenvolvido. Outro papel importante da lei- Outro fator que justifica nosso trabalho com a leitura tura, principalmente da literatura infantil e infanto-juvenil, está atrelado à realidade atual da ala de Pediatria do Hospi- é a capacidade de despertar, estimular a fantasia, a imagi- tal São Vicente de Paulo, que difere das alas de pediatria de nação, a criatividade e envolver emocionalmente a criança grandes hospitais, como por exemplo, do Hospital Pequeno hospitalizada a ponto de amenizar o estado de ansiedade Príncipe em Curitiba-PR, que em sua ala de oncologia pedi- em que muitas se encontram. átrica conta com a presença do pedagogo hospitalar reali- zando atividades de escolarização hospitalar, pelo fato de Considerações Finais ter não só um fluxo maior de crianças hospitalizadas, como também, crianças com tempo maior de internamento, o Através deste projeto, pretendemos não só formalizar tal que acaba por efetivar práticas de escolarização hospitalar parceria, mas solidificá-la, pois obtivemos resultados posi- contínuas, amplas e com constante acompanhamento do tivos nestes anos, primeiramente para as crianças e para a pedagogo. formação dos acadêmicos, e ainda, para os pais das crian- Na nossa realidade a rotatividade é maior, são poucos ças que muitas vezes, encontravam-se deprimidos pelo es- os casos de crianças que chegam a ficar por mais de três tado de enfermidade de seus filhos internados. semanas internadas. Quando ultrapassa 10 dias de inter- Enfim, pretendemos que todos os esforços empreendi- dos venham a se constituir, neste momento histórico de transição da Pedagogia com suas novas Diretrizes Curricu- 4 As figuras 1, 2, 3 e 4 são das acadêmicas do 3º ano de Pedagogia (2007) lares, contribuindo expressivamente com os processos de desenvolvendo atividades de leitura individual e coletiva, na Pediatria do construção social e educacional e, também, colaborando Hospital São Vicente de Paula. A figura 1 mostra duas crianças fazendo a leitura individual sobre o tema hábitos de higiene, após a realização das para estabelecer uma integração entre Universidade e Hos- atividades coletivas. Na figura 2, as acadêmicas aparecem desenvolvendo pital, visando a uma sociedade sustentável, humana e de as atividades sobre Hábitos Alimentares e atividades de leitura no quarto natureza realmente transformadora. em que a criança que não pode sair do leito. Na figura 3, as acadêmicas utilizam fantoches e estão caracterizadas de contadoras de história. Na figura 4, as acadêmicas estão desenvolvendo atividades diversas, como produção de texto, jogos e pinturas, que são realizadas nas mesinhas com a participação da mãe da criança hospitalizada. REFERÊNCIAS DALTO, Vanina. Parceria comunidade e academia: uma alternati- va na promoção de saúde. In: REZENDE, Lucinea Aparecida de. (Org.). Tramando temas na educação. Londrina: Ed. UEL, 2001. DOMINGUES, Ivan. (Org.). Conhecimento e transdisciplinaridade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. ERICKSON, Frederic. Métodos cualitativos de investigación sobre la enseñanza. In: WITTROCK, M. C. La investigación de la en- señanza, II. Metodos cualitativos y observación. Buenos Aires: Pia- dos, 1988. p. 195-301. FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo: Memnon, 2003. MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de Freitas. Pedagogia Hospitalar. 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(Graduanda em Pedagogia, Faculdades Coc); Silva, D.M. (Graduanda em Pedagogia, Faculdades Coc); Moreira, G.M. (Curso de Pedagogia, Faculdades Coc, Ribeirão Preto, SP). marlenebergamo@hotmail.com Resumo O objetivo desse trabalho foi resgatar o trabalho do professor na classe hospitalar, percebendo a correlação entre a freqüência das crianças hospitalizadas ao atendimento e o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e de seus aspectos de saúde. Para atender esse objetivo fez-se uma pesquisa qualitativa, em um hospital público, localizada no município de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada, com duas professoras. As entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2008, as quais foram gravadas, posteriormente transcritas e minuciosamente lidas. É importante ressaltar que anterior à realização das mesmas, foi realizada uma entrevista piloto, para adequar o roteiro e para aprimorar o treinamento das pesquisadoras. Os dados foram organizados em algumas categorias de análise: formação docente, rotina de trabalho, projetos desenvolvidos na Classe Hospitalar e concepção de morte. Observou-se entre os dados obtidos que as professoras da Classe Hospitalar são pedagogas, com experiências na área de educação especial. As professoras mostraram-se preocupadas com as dificuldades de seus alunos e para uma melhor atuação pedagógica, fazem a avaliação diagnóstica dos seus alunos logo no início de sua internação, para nortear as ações nos desenvolvimentos das atividades em seu plano de aula, contemplando assim os projetos pedagógicos. Estes, conforme as professoras estão sempre em consonância com os projetos desenvolvidos na escola de origem da criança, ou seja, na escola em que ela está matriculada. Os resultados também apontaram algumas concepções quanto à morte. As professoras relataram que mesmo com os cursos de treinamento oferecidos, muitas vezes se sentem despreparadas para lidar com essa situação. Considerando esse contexto, percebeu-se que a classe hospitalar oferece recursos para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e adolescentes atendidos. Nesse sentido, concluiu- CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 se a importância da atuação do professor nessa modalidade de ensino, como possibilidade de assegurar os direitos à educação dessas crianças e adolescentes hospitalizados, assim como uma alternativa de oferecimento de recursos para o seu desenvolvimento. Introdução Segundo estudos (FONSECA; CECCIM; 1999) a partir da segunda metade do século XX observou-se na Inglaterra e nos Estados Unidos que os orfanatos, asilos e instituições que prestavam assistência às crianças não respeitavam alguns aspectos básicos do seu desenvolvimento emocional, por falta de atendimento mais completo. A conclusão a que se chegou é que essas falhas no atendimento infantil traziam riscos de seqüelas que na vida adulta poderiam evoluir para doenças psiquiátricas. Surgiu então, a iniciativa de implantar experiências educativas para crianças e adolescentes internados em instituições hospitalares. A Segunda Guerra Mundial foi de grande importância à presença da escola dentro dos hospitais, pois o grande número de crianças e adolescentes atingidos, mutilados e impossibilitados de ir às escolas fez criar um engajamento dos médicos, incentivando a escola em seu hospital. No entanto, foi com a ajuda de religiosos e voluntários que essa escola ganhou espaço na sociedade, sendo difundido por toda a Europa. No Brasil, em 1950 na cidade do Rio de Janeiro, o Hospital Municipal Jesus foi o primeiro a desenvolver atividades em classe hospitalar, que está em funcionamento até os dias de hoje. Mas foi somente com a publicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) que houve o reconhecimento oficial e o aumento significativo desta atividade dentro das instituições de saúde pública em nossos pais. Com essa nova modalidade de atendimento, surge a necessidade de formular propostas para uma política voltada para as necessidades pedagógico-educacionais e os direitos à educação e à saúde deste público nesta fase transitória de suas vidas (FONSECA; CECCIM; 1999). A proposta da Classe Hospitalar é dar continuidade às atividades escolares das crianças e adolescentes internados, da educação infantil ao ensino médio, de CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 maneira que haja interação harmoniosa entre as ações educativas a serem realizadas de acordo com a realidade hospitalar. A Classe Hospitalar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é uma modalidade da Educação Especial que visa dar atendimento pedagógico ­ educacional, principalmente às crianças e adolescentes de seis a quatorze anos, que freqüentam desde a pré-escola até o ensino fundamental. Essas crianças encontram-se internadas à espera de cirurgias, enquanto que outras realizam ou aguardam tratamentos. Trabalhar junto a crianças e adolescentes hospitalizados é um desafio que implica em descobrir estratégias diferenciadas e adaptáveis à realidade e necessidade de cada um, por exemplo, como abordar e provocar neles interesse em aprender, diante de uma doença grave. No entanto, para que isso ocorra de maneira efetiva, é preciso compreender e respeitar sua dor, seu tempo, mas também que se estabeleçam normas e regras para as atividades pedagógicas não cair num conceito de diversão e passa-tempo (VASCONCELOS, 2004). Estes escolares hospitalizados muitas vezes são sufocadas pelas rotinas e práticas hospitalares que os tratam como pacientes. Neste sentido a intervenção escolar deve se tornar parte dessa rotina, respeitando seus limites e resgatando o lado saudável. A criança e o adolescente hospitalizado passam por uma experiência dolorosa de privação de saúde e de liberdade, vivida pela dor física e pelo desequilíbrio emocional, ocasionando à sensação de abandono no ambiente hospitalar que dificulta a cura e prolonga o tratamento, refletindo na vida escolar da criança. Há que se levar em consideração que a criança e o adolescente hospitalizado, se encontram em pleno período de aprendizagem e que estão ávidos por novidades. O afastamento da escola vem lhe trazer prejuízos deste processo de aprendizagem. A inclusão social será o resultado do processo educativo, sendo a escola um fator externo a doença, logo, a inserção da escola no hospital é um vínculo que a criança e o adolescente mantém com o seu mundo exterior (VASCONCELOS, 2006). CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 O interesse pelo tema surgiu do fato que pouco se conhece sobre essas práticas, ou até mesmo como é realizada a abordagem dos pacientes. Assim, surgiram questões como: quem são os profissionais envolvidos e como são suas ações frente às diversidades encontradas no ambiente hospitalar. O objetivo desse trabalho foi resgatar o trabalho do professor na classe hospitalar, percebendo a correlação entre a freqüência das crianças hospitalizadas ao atendimento e o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e de seus aspectos de saúde. Desenvolvimento Método Com o objetivo de compreender o trabalho docente realizado na classe hospitalar e sua correlação com o desenvolvido das crianças e adolescente internados, adotou- se como abordagem a pesquisa qualitativa. O presente estudo se desenvolveu em um hospital público, situado na cidade de Ribeirão Preto ­ Interior de São Paulo. Foram sujeitos da pesquisa duas professoras com tempo de atuação docente entre treze e vinte anos. A pesquisa apresentou como instrumento de coleta de dados a entrevista com roteiro semi-estruturado. As perguntas utilizadas no trabalho foram abertas o que permitiu ao entrevistado maior liberdade de expressão, dando-lhe condições de responder com mais ênfase sobre o tema. Segundo MOURA M. L. S.; FERREIRA, M.C.; PAINE, P.A. (1998) ao procurar identificar e reconhecer as múltiplas facetas de um objeto de estudo, a realidade a ser pesquisada é tida como fonte direta dos dados e o pesquisador é considerado um instrumento chave. Pensando na formação do pesquisador foi realizada uma entrevista piloto com uma professora que não estava participando do estudo. Esse procedimento permitiu ainda que o roteiro fosse reelaborado de acordo com os objetivos da pesquisa. Foi realizada uma entrevista com cada professora, com duração de uma hora em média, que aconteceu no próprio hospital, entre os meses de agosto e setembro do corrente ano. As entrevistas foram previamente agendadas com os docentes, que CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 consentiram a gravação dos dados mediante a assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido. Após a coleta, os dados foram transcritos integramente, estudados e categorizados de acordo com os seguintes temas: formação docente, rotina de trabalho, projetos desenvolvidos na Classe Hospitalar e concepção de morte. Uma vez categorizados, os dados foram confrontados buscando-se as divergências e as convergências nos relatos das professoras entrevistas. Resultados Observou-se entre os dados obtidos que todas as profissionais da Classe Hospitalar são pedagogas. Uma das professoras possui experiência na área de educação especial enquanto que a outra quer aprimorar seus conhecimentos, fatos que contribuem para a qualidade de ensino oferecida a essas crianças e adolescentes hospitalizados, o que é de fundamental importância, dado a fase fragilizada de suas vidas. As educadoras da Classe Hospitalar mostram-se sempre preocupadas com as dificuldades de seus alunos, tentando adequá-los o mais próximo possível dos conteúdos e do ambiente escolar em que estavam inseridos. Para uma melhor atuação pedagógica, fazem uma avaliação diagnóstica dos seus alunos logo no início de sua internação, o que vai nortear suas ações nos desenvolvimentos das atividades em seu plano de aula. Além disso procuram desenvolver na sua prática diária atividades de acordo com o nível do aluno, levando em conta as dificuldades encontradas no momento. Nesse contexto trabalham com projetos pedagógicos, que estão sempre em consonância com os projetos que são desenvolvidos na escola de origem da criança, ou seja, na escola em que ela está matriculada. Os projetos vão direcionar os conteúdos, as metodologias como também as atividades, sempre de acordo com o nível de aprendizagem que se encontra aluno. A Classe Hospitalar trabalha com os mini - projetos, que se adaptam aos ambientes hospitalares e às condições de saúde do aluno. A Classe Hospitalar é composta por uma união de diferentes escolas: as escolas vinculadoras, a escola de origem e a Classe Hospitalar. As escolas vinculadoras dão suporte e orientam as pedagogas quanto aos projetos e práticas educacionais CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 desenvolvidos dentro do hospital A escola origem ou a escola em que a criança está matriculada apóia e participa da Classe Hospitalar nos casos em que as crianças necessitam de longos períodos de internação, oferecendo os conteúdos e atividades desenvolvidas, dando assim continuidade ao processo de aprendizagem. Tem-se ainda a Classe Hospitalar onde são desenvolvidas práticas pedagógicas individualizadas de acordo com o tempo de internação e o nível de ensino que se encontra cada criança. As crianças que estão matriculadas na rede de ensino e nos casos de internação mais prolongada seguem os conteúdos referentes às matérias aplicadas na escola. As professoras se reúnem por duas horas semanalmente, na escola vinculadora, com o objetivo de trocar experiências e fazer atualização do ensino. Outro dado muito valorizado é a relação professor - aluno - morte. Podemos destacar que mesmos com os cursos de treinamento oferecidos, as professoras muitas vezes sentem-se despreparadas para lidar com este fato. Conclusão A classe hospital é uma modalidade de ensino cuja oferta está assegurada por lei, conforme demonstrado. No entanto, muitos alunos internados ou em tratamento de saúde estão sendo privados desse direito. Faz-se necessário uma política pública educacional voltada aos interesses desse público, pois eles sofrem pelas patologias e pelo afastamento de seus familiares e da escola. Os atendimentos pedagógicos oferecidos aos alunos em hospitais ou até mesmo em domicílio devem ter o conhecimento da sociedade, para os que eventualmente necessitarem se afastar da escola por motivos de patologias possam usufruir desse benefício. O atendimento pedagógico hospitalar oferece recursos para a aprendizagem e para o desenvolvimento de crianças e adolescentes internados, minimizando as suas condições adversas potencializadas pela doença ou pelo tratamento, tais como insegurança e baixa auto-estima. Considerando os objetivos da presente pesquisa concluiu-se que a função do pedagogo dentro das instituições hospitalares é mediar as relações entre a escola e a criança ou o adolescente internado, ensinando e dando continuidade aos conteúdos. Assim, o professor deve proporcionar condições de qualidade de vida CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2008, São Carlos. Anais, 2008 e oferecer oportunidades de crescimento cognitivo. 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