ALBERTO ALMEIDA A Arte do RE ENCONTRO Casamento 1a Edição Curitiba - Paraná Federação Espírita do Paraná 2010 Ia Edição Copyright 2010 by Federação Espírita do Paraná Alameda Cabral, 300 A arte do (re)encontro - casamento / Alberto Almeida - Curitiba : Federação Espírita do Paraná, 2010. 192 p. livrariamundoespirita.com.br SUMARIO Apresentação Introdução O Casamento 1 Casamento e crescimento pessoal Preparação para o casamento e repetição de padrões comportamentais 3 Casamento, Espiritismo e rito religioso 4 Casamento e rito de passagem 5 Casamento e fronteiras 6 Fronteiras entre cônjuges e filhos Namoro no casamento 8 Casamento e estilo de comunicação 9 Papéis dentro do casamento 10 Casamento e cultura do diálogo 11 Casais com filhos de outro casamento 1 2 Casamento e sogra 13 Casamento e dinheiro \ 14 Causas de infidelidade conjugal 15 Traição conjugal e perdão 16 Casamento e separação 17 Casamento e ciclos vitais 18 Casamento e "devolução" 19 Casamento e celebração do cotidiano 20 Casamento: três modelos 21 Casamento e Amor APRESENTAÇÃO Em razão das alegrias que também podemos colher em nossas reencarnações, coube-nos a feliz oportunidade de fazer a apresentação do primeiro livro escrito pelo espírita paraense Dr. Alberto Almeida. Sem que represente encómios desnecessários, Alberto é daquelas pessoas dedicadas à Causa do Espiritismo e tem trabalhado pela sua divulgação em estreita consonância com os seus princípios doutrinários. Plenamente integrado ao Movimento Espírita Brasileiro, já exerceu, inclusive, a função de secretário da Comissão Regional Norte, do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira. Sua contribuição tem sido expressiva a todos aqueles radicados no Movimento Espírita Paranaense, nesses diversos anos de convivência, nos quais Alberto tem visitado o estado e nos dedicado, além do trabalho no bem, preito de amizade sincera e duradoura. Neste momento de plena maturidade profissional e lúcida atuação no Movimento Espírita, por parte de nosso estimado Autor, a Federação Espírita do Paraná, sente-se honrada por, através de sua Editora, ser o veículo que conduz ao público espírita e não espírita o seu primeiro livro, que tem sido aguardado por todos os espíritas brasileiros. Temos a absoluta certeza de que "A ARTE DO RE- ENCONTRO - CASAMENTO" ofertará a cada leitor inúmeras oportunidades para que, ante nossas reflexões necessárias, possamos ouvir a sugestão do amor, a cada passo, em nossa senda evolutiva. Francisco Ferraz Batista dezembro de 2010 Introdução Este trabalho representa um esforço de partilha em torno dos temas pertinentes à vida conjugal. Trata-se de uma reflexão acerca do casamento articulando minha formação acadêmica e prática profissional, iluminadas pelos conteúdos do Espiritismo. As histórias que iniciam cada capítulo são autênticas, não obstante estejam, quando necessário, emolduradas de modo a proteger os protagonistas por motivos óbvios. Revelam a minha experiência na convivência social e, sobretudo, terapêutica. O livro tem a intenção de oferecer contribuições em face dos assuntos palpitantes do cotidiano matrimonial, sem a preocupação de apresentar soluções mágicas, tampouco conclusões definitivas. Entretanto, tem a ousadia de pretender ser útil, ainda que singelamente, àqueles que caminham na afetividade, ansiando pela arte de viver um casamento maduro. É, também, uma pequena homenagem a Allan Kardec e a Jesus por representarem sublime alicerce na (re) construção de uma nova amorosidade conjugal a ser vivida nestes tempos contemporâneos. Alberto Almeida dezembro de 2010 O casamento Como consequência de largo processo antropossociopsicológico, o ser humano alcançou o patamar da união conjugal para o elevado ministério da constituição da família. Dos instintos de conservação da vida e da sua perpetuação mediante a união sexual decorrente dos impulsos da libido à poligamia, a Sociedade, no seu desenvolvimento evolutivo, concluiu que a disciplina e o respeito devem viger nas uniões, elegendo a monogamia como sendo o comportamento ideal para a vida digna e feliz. O sexo, como veículo da construção de vidas orgânicas, é abençoado pelo prazer em forma de sensação que se converte em emoção superior, unindo os parceiros e os tornando complementos afetivos um do outro. Com a liberalidade sexual em nome do modernismo, os relacionamentos múltiplos vêm reconduzindo o ser humano às superadas experiências primevas, atando-o aos vícios mentais e tormentos emocionais que se expressam em forma de promiscuidade e de insatisfação. Quanto mais se deseje instrumentar a união sexual com artifícios para aumentar-lhe o prazer, mais se reduzirá a emoção plenificadora, transformando-a em hábito desgastante e gerador de conflitos existenciais que culminarão na incapacidade orgânica, na amargura, na drogadição... O fator básico para a perfeita integração sexual entre dois seres humanos é a presença do amor amadurecido pela consciência psicológica em torno da vida, culminando, invariavelmente, no consórcio matrimonial em busca da sua preservação. Embora na atualidade essa união se encontre vilipendiada pelo erotismo e se torne motivo de exibicionismo de algumas personalidades de relevo na Sociedade, que o tentam proscrever, o casamento é conquista nobre que possibilita a harmonia entre os parceiros e o respeito recíproco. Os fracassos que se apontam nas uniões conjugais não são maiores do que nos relacionamentos ligeiros e sem compromisso ou responsabilidade, quase todos, porém, defluentes da imaturidade psicológica dos nubentes, qual sucede em qualquer outro tipo de parceria... Invariavelmente, a precipitação emocional e os impulsos irrefreados dos indivíduos buscam no casamento um campo de exteriorização das suas necessidades sexuais, sem a devida preparação para a convivência a dois ou a maior número de pessoas, quando surge a prole. Outros fatores que procedem de existências passadas como heranças infelizes, expressam-se em forma de conflitos e complexos tormentosos, que são frutos espúrios do egoísmo, da prepotência, do ciúme, das paixões dissolventes que estrugem em lutas perversas logo passa o encantamento inicial da eleição conjugal. Na condição de vínculo moral e legal de alta significação social e de responsabilidade, o casamento é a maneira mais digna para a construção da Sociedade. Sem dúvida, há parcerias sexuais ditosas pelos sentimentos de união que felicitam os consórcios. Nesses casos, por que não selar com o matrimônio a união consolidada, atendendo aos dispositivos legais elaborados pelo progresso moral? O ser humano avança para a superação dos atavismos doentios do passado e a vitória sobre os hábitos viciosos, sendo o casamento um recurso precioso para o equilíbrio e a edificação familiar. O livro que ora temos em mãos é um estudo sério sobre as uniões matrimoniais à luz da ética espírita e das elevadas propostas evangélicas de sustentação das criaturas e da família. Saudamos, nesta obra, o brado de advertência que o autor, com larga experiência psicoterapêutica e vivencial ante os conflitos humanos, oferece a todos quantos experimentam insatisfação nos relacionamentos profundos e incompreensões no santuário doméstico. Reflexionemos nas informações e nos relatos exarados, encarando o casamento como instrumento que favorece o progresso moral da Humanidade, e esforcem-se para o manter, mesmo quando transitoriamente se apresentem dificuldades e desafios. Salvador, 24 de novembro de 2010. Joanna de Angelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica do Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.) CAPITULO i CASAMENTO E CRESCIMENTO PESSOAL "Hipócrita! Retira primeiramente a viga do teu olho, e então verás em profundidade para retirar o cisco do olho do teu irmão." Jesus. (Mateus, 7:5) Rubinato encontrou seu amigo e contou ter sido sorteado na megassena. O amigo, contemplando-o, não viu a euforia que seria de se esperar, e indagou reticente: - Como assim? Desfazendo o suspense, o sortudo respondeu sorrindo: - É que eu sou casado com a Esmeralda. Ela é a minha riqueza, pois me exige paciência, indulgência, perdão, devotamento, mansidão, perseverança... O amigo compreendeu a metáfora, que apontava para um sentido de riqueza subjetiva. Ficou refletindo que a Esmeralda - também sua amiga - reclamava que o esposo era uma pessoa muito difícil. Por isso, comentou no mesmo tom: - Acho que você não ganhou a sorte sozinho. Não esqueça que ela é uma Esmeralda, enquanto... você é um Rubi-nato. Era um enlace matrimonial desafiador, posto que formado de almas em reajuste recíproco. Por fim, o amigo do casal arrematou ainda: - A Esmeralda será sua gema preciosa ou sua algema perniciosa. Em ambas as situações, a escolha está em suas mãos... E nas dela também! A pessoa, quando reencarna, recebe um enquadramento de vida do que precisa se conscientizar, dada a sua importância na apropriação de sua trajetória evolutiva, sob pena de não conseguir avançar na transposição de barreiras e limites para concretizar seu devir espiritual. Ao mergulharmos no corpo, conectamos com uma mãe que exercerá uterinamente uma poderosa influência em nosso psiquismo, seguida de perto pela presença paterna que comporá, com a mãe, a influência parental. Na sequência, receberemos a interferência da constelação familiar em que nascemos (além dos pais, os irmãos), dos parentes (as famílias de origem dos pais), da escola, dos amigos, etc. Registraremos as repercussões da cultura da cidade, do país e da globalização do planeta. É nesse campo de influências que vamos crescendo e estruturando consciente e sobretudo inconscientemente, nosso modo de ser, revelado por comportamentos, sensações físicas, sentimentos, pensamentos e espiritualidade. Entretanto, raros são aqueles que se dão conta de que semelhantes legados passam a integrar sua vida automaticamente; e mais raros ainda os que têm clareza da qualidade dessa herança, frequentemente cheia de negatividades a se revelarem por meio de nossas perturbações e conflitos, angústias e infelicidades, vazios e crises existenciais, sintomas e doenças. Olhar para dentro de si mesmo, a fim de avaliar como o seu interior se estruturou, bem como seu reflexo externo, suas sombras e suas projeções, seus pontos cegos e suas sombrias exteriorizações, é tarefa que exige determinação e paciência, coragem e força de vontade amorosa. Só podemos viabilizar esse mergulho, se for mediado por pessoas que nos sirvam de espelho. O casamento é uma dessas possibilidades de maior riqueza, por apresentar uma pessoa capaz de nos refletir com muita fidelidade, em razão da convivência estreita e contínua, em regime de intimidade franqueada. A(O) esposa(o) será um excelente contraponto de que necessitamos para resgatar a nossa história, a fim de reescrevê-la ao nosso sabor. A convivência conjugal proporcionará a identificação, origem e significação dos conteúdos positivos e virtuosos, como também dos conflitos internos. Pode-se, então, perceber quando os pais introjetados emergem através dos conflitos, dos complexos, das dores, etc, trazendo os scripts que ficaram sem elaboração dentro do filho, e que agora, no adulto acasalado, surgem como comando negativo, necessitando ser revistos e passados a limpo. São carências, abandonos, raivas, inseguranças, arrogância, tristezas, medos, ciúmes, invejas, ansiedades, enfim, encrencas cuja origem foi forjada no relacionamento inadequado com mãe e pai. De modo similar, dentro da conjugalidade, afloram dores diversas, cujas origens falam de um passado relacionado à parentela, ao grupo da escola, dos amigos, e que não foram solucionadas; e daí a se repetirem até hoje na forma de baixa estima, desprezos, vergonha tóxica, prepotência, complexos de inferioridade ou superioridade, entre outros. Quantos comportamentos reaparecem no casamento, vindos de outrora, intrinsecamente relacionados aos ranços culturais, à má-educação, a preconceitos étnicos, problemas de cidadania, tudo aguardando um equacionamento que não aconteceu. Por fim, ainda existem conteúdos como reflexos de outras vidas, que comparecem na forma de tendências, inclinações, emoções inatas, etc, lembrando algemas à espera de serem desatadas. É no matrimônio, sobretudo, que o ser humano tem oportunidade de reestruturar as negatividades que traz como herança desta e de outras vidas, tendo na parceria conjugal o espelho no qual pode apreender e aprender muito sobre si mesmo. Desta feita, no momento em que o homem consegue fazer esse caminho para dentro de si mesmo, no exercício do autoamor, torna-se possível um melhor desempenho dos papéis de esposo, pai, amigo, filho, cidadão, homem de bem; em idênticas circunstâncias, a mulher consegue desempenhar melhor os seus papéis de esposa, mãe, filha, amiga, cidadã e mulher de bem. À proporção que o casal avança para esse patamar, mais factível será conseguir uma boa interação nos âmbitos sexual, emocional, intelectual, moral e espiritual, sacralizando o casamento pela amorosidade. Vasculhar-se para se atualizar saudavelmente dentro da vida é trabalho árduo, facilitado quando se tem uma parceria conjugal, para que, de modo cúmplice e solidário, se logre transmutar negatividades em aprendizados felizes; sombras em lições luminosas; enfermidades em crescimento saudável; buracos egoicos em projetos existenciais plenificadores. "Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem bem-estar e progresso." (O Livro dos Espíritos, comentário à questão 768). CAPITULO 2 PREPARAÇÃO PARA O CASAMENTO E REPETIÇÃO DE PADRÕES COMPORTAMENTAIS 'Quem ama pai ou mãe mais que a mim, não é digno de mim..." Jesus. (Mateus, 10:37) Depois de demorada reflexão, após conferência sobre o quanto se repete aquilo que aprendemos com nossos pais, o esposo falou: - O que me intriga é que repito não só o que admirava no papai, mas também as coisas que eu nele censurava. E acrescentou, decepcionado consigo próprio: - Hoje, como um absurdo, me vejo inclinado a fazer com minha esposa as mesmas coisas que meu pai fazia com a mamãe: palavras ásperas, gritos, relações extraconjugais... Até aquilo que odiava nele quando, alcoolizado, partia para tentar agredir a mamãe, o que motivava minha intervenção, interpondo-me entre eles. E imprimindo tristeza na voz, concluiu: - É a força do exemplo... Do mau exemplo! Ao que o expositor, ouvindo-o, aditou, trazendo-o ao presente com vistas ao futuro: - Você tem filhos? O verdadeiro curso de preparação para a vida de conjugalidade não se faz às vésperas das bodas, - qual acontece em tentativas honestas de grupos especializados - cujos benefícios são tão somente de nível informativo. Contudo, no âmbito formativo, estrutural, jamais se improvisa a edificação de almas para conduzirem o barco conjugal no mar da vida, como, de modo idêntico, não se formam, numa oficina de fim de semana, comandantes para pilotar um navio. Aprendemos a ser esposos e esposas na convivência diuturna, especialmente com nossos pais, de forma consciente e inconsciente. Basta observarmos as crianças brincando de casinha e perceberemos, nas encenações, quão fielmente nos traduzem, tanto nas palavras como na mímica, a ponto de nos vermos, tal a perfeição com que reproduzem nossos comportamentos. É por mecanismo semelhante que se dá a internalização dos pais pelos filhos, desde tenra idade, e que vai se fixando por toda a infância e adolescência. As crianças modelam o comportamento dos pais - deuses de carne e osso - introjetando-o de tal modo que se tornam "reféns", pelo menos relativamente, das figuras parentais, vida afora. Mais tarde, repetem os conteúdos positivos e negativos, frutos da assimilação pela educação. Há sempre uma tendência em reproduzir a relação conjugal da família de origem nos nossos relacionamentos. É por este motivo que tendemos a nos acasalar com pessoas que lembram nossos pais, notadamente aquele com o qual nossa identificação foi maior. Se as figuras parentais foram exemplares nos papéis de cônjuges, a repercussão nos filhos será muito positiva, favorecendo a reedição de comportamentos adequados e virtuosos. Os filhos reproduzem com maior ou menor fidelidade e competência a forma apropriada como os pais se tratavam, cuidavam-se, assistiam-se, revelando o que viram quando eram crianças. Como atores, reeditam exatamente o texto que aprenderam, seguindo o roteiro da peça amorosa escrita e encenada por seus pais. Todavia, se os filhos presenciaram vivências destrutivas e atitudes infelizes dos seus pais, na posição de consortes, será inevitável que tragam, inconscientemente, scripts com tendência para repetir, nas relações afetivas de namoro ou de acasalamento, as cenas que assistiram. Reproduzem, assim, comportamentos muito similares àqueles que seus pais tiveram entre si, ou então assumem atitudes outras, radicalmente diferentes, mas raramente equilibradas, em oposição inconsciente ao que experimentaram no lar. Escolhemos pessoas que nos suscitam reproduzir o tipo de transação emocional que frequentemente vimos em nossa família de origem. Talvez como uma tentativa de "limpar" os conteúdos conflituosos que carregamos de nossa história de vida e que não conseguimos elaborar ou resolver. É por isso que vemos as cenas familiares se reescreverem, em reprise indesejada, trazendo os mesmos conteúdos, com variações a depender de cada Espírito encarnado: - filho que presenciou atritos decorrentes de abusos alcoólicos em casa, mais tarde namora pessoas com um pé no alcoolismo, ou então passa a beber tanto quanto o pai que ele criticava; - filha que acompanhou o ciúme descabido da mãe, manifestado por meio de agressão ao pai, hoje se vê insegura afetivamente em seu namoro, buscando, pela agressão, a forma de encaminhar, em vão, seus conflitos; - filho que assistiu o pai a usar palavrões e empurrões contra a mãe quando contrariado, agora se vale do mesmo expediente violento para lidar com a namorada ou a esposa, quando contestado; - filha que viveu a submissão servil da mãe ante a dor das traições do pai, se percebe mantendo atitude passiva diante do relacionamento com um homem poligâmico que lhe usurpa a dignidade, ou então, estabelece para si a negação do casamento, afirmando que "em homem não se confia"; filho que vivenciou a dor da mãe, traída pelo pai, passa a seduzir e a "usar" as mulheres em vingança inconsciente, ou vive o sentimento paranóico, perseguindo a esposa em seus mínimos movimentos. E assim, em infinitos tons desafinados, o eco conjugal dos pais alcança os filhos até em sua idade adulta, exigindo destes apurada atenção para identificá-los e tratá-los, a fim de que tais ruídos não infelicitem a sinfonia da nova conjugalidade. No entanto, os filhos não são afetados apenas pelo comportamento dos pais como cônjuges, mas também pelas relações pais/filhos. Ou seja, todas as pendências, vazios, abandonos, castrações, agressões e outros conflitos que resultaram da convivência entre pais e filhos pequenos reaparecem nos filhos adultos nas interações amorosas em geral, e, especialmente, nas de natureza conjugal. Precisando atualizar as suas relações com seus pais, os filhos transferem essas necessidades na direção de outras pessoas, dentre elas as que ocupam o lugar de namoradas ou esposas, por exemplo. Não é por outra razão que buscam pessoas muito parecidas com o pai e/ou a mãe, na ânsia inconsciente de equacionar problemas não resolvidos em sua história de vida. Justifica-se, desse modo, o faro com que identificam, mediante micromensagens, pessoas com as quais passam a se relacionar, sem se darem conta de que são escolhas inconscientes, automáticas, estabelecidas por comandos psicológicos estruturados ao longo de sua história de vida, implicadas com seus genitores. A vida sempre devolve aos Espíritos aquilo que ficou em suspenso, precisando ser solucionado, aprendido. Faz-se imprescindível, e com urgência, usar a autoanálise pela reflexão, meditando continuamente para identificar essas encrencas. Trazê-las à luz do consciente, a fim de dissolvê-las, integrando novos e inadiáveis aprendizados para nossa evolução intelecto-moral. Este não é um trabalho simples e de rápida execução. Ao contrário, requer o esforço continuado de um garimpeiro para identificar as pedras preciosas da boa convivência, separando-as do cascalho das negatividades arroladas ao longo dos anos de convivência com pais e outras pessoas que foram significativas na formação de nossa personalidade. Perceber as pedras preciosas é tomar consciência das virtudes como um legado, e que agora são incorporadas com reverência e gratidão. Refazer mazelas destrutivas herdadas dos nossos pais não é renegá-los ou desconsiderá-los. Antes, é honrá-los, transformando as dores em dons, com o aprendizado que se poderá haurir das experiências, agora transformadas em lições. Dedicação, tato, paciência são recursos indispensáveis nessa tarefa da própria reeducação continuada. Os filhos adultos enxergarão, nos parceiros atuais, espelhos que refletirão com transparência as suas relações ancestrais, facultando estabelecer, ao mesmo tempo, uma nova compreensão da sua história familiar e a reconciliação com seus pais e com outras figuras psicologicamente representativas da sua infância, bem como a possibilidade de estarem mais livres e maduros para viabilizar relações amorosas mais fecundas no presente. O Evangelho sob a óptica do Espiritismo é matériaprima de excelência para apoiar os futuros cônjuges na elaboração das sombras de ontem, a fim de transmutá-las em luz no hoje, facultando conquistas de competências virtuosas que se revelarão no casamento, na nova família e na vida em geral. "Quantos pais são infelizes com seus filhos porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração... "Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição." (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V item 4 Causas atuais das aflições). CAPITULO III CASAMENTO, ESPIRITISMO E RITO RELIGIOSO "Em resposta, disse: Não lestes que o Criador, no princípio, os fez macho e fêmea? E disse: Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne?" Jesus. (Mateus, 19:4 e 5) O jovem palestrante espírita era visitado por uma amiga que vinha lhe encomendar uma prece "especial" para o casamento do seu filho, a se realizar dali a seis meses. O trabalhador espírita, que nem conhecia o futuro nubente, deu-se logo conta de que estava sendo olhado pela comunidade espiritista como um sacerdote. Então, com discrição, esclareceu, declinando do convite: -Minha amiga, sinceramente, não me sinto emocionalmente ligado ao seu filho para estabelecer uma oração "especial". Talvez você mesma, como mãe, ou ele próprio, ou alguém da intimidade familiar pudesse ser o porta-voz do grupo, na oração em recolhimento doméstico. E, procurando quebrar um pouco o desconforto da negativa, em vista da euforia do convite, assinalou, em tom de descontração: - E se eu fosse sacerdote estaria desonrado, porque os três últimos casamentos que "eu fiz" desmancharam-se todos.. E era verdade. Ambos sorriram. E a amiga até suspirou, aliviada. O Espiritismo é claramente a favor do casamento e da família, sem pretender uma indissolubilidade conjugal, por ser esta absolutamente fora das Leis Naturais da Vida. Casamento não é um ato marcado por assinatura de papéis, muito embora as leis civis de um país assim o possam requerer, como formalidade para atender a necessidades legais, dando-se "a César o que é de César". Não obstante, há pessoas que se valem de documentos sociojurídicos unicamente para garantir permanência num país, visando adquirir cidadania, sem nenhuma vinculação afetiva. Neste caso, é apenas uma estratégia à cata de regularização em sua estada num país. Antes, o matrimônio se alicerça num processo de união de alma para alma, exigindo do par um contrato de coração a coração, que se vai afirmando no tempo. Compreensível, portanto, considerar o casamento não somente como o ato de casar-se, mas sim como um hábito de caminhar no acasalamento. É natural consignar-se a importância do rito de passagem, o qual funciona como uma necessidade psicológica perfeitamente aceitável. Isto não significa ritual religioso, muito embora possa estar associado à cultura social, de acordo com as crenças dos nubentes. Na perspectiva espírita não há rito religioso, não comportando, pois, atitudes que lembrem celebrações Litúrgicas oficiadas por autoridades eclesiásticas, dentro de uma hierarquia sacerdotal que é de todo inexistente no Espiritismo. Para a Doutrina Espírita, o casamento deve observar a lei divina, ou seja, se estabelece pela lei de amor, aliada à união sexual em nível material, conforme propõe Allan Kardec. A dimensão religiosa do Espiritismo não contempla culto externo como manifestação de crença, dispensando, desse modo, todo e qualquer ritualismo, simbolismos religiosos e sacramentos, não obstante respeite profundamente as religiões que se valem desses expedientes como parte de sua estrutura de funcionamento. Também é justo lembrar que são os noivos que estão se consorciando, e não seus pais. Estes, com frequência, fazem chantagens emocionais perante os filhos, a fim de imprimir, nas celebrações, seus modos, gostos e crenças, às vezes em completo desrespeito ao fator individualidade. Em muitas ocorrências chegam ao despropósito de afirmar que, caso não se concretize o matrimônio religioso dentro das determinações que tentam impor aos filhos, não reconhecerão o enlace conjugal, ou não se farão presentes às bodas. É perfeitamente adequado que os nubentes orem na intimidade, a sós, ou na companhia daqueles que compartilham a experiência, rogando diretamente a Deus as bênçãos com que se fortalecerão para arcar com a responsabilidade de direcionar o navio do casamento pelo mar da vida. Para a Doutrina Espírita, o que, efetivamente, torna sagrado um matrimônio não é a intermediação de alguém a quem se atribui uma autoridade religiosa, nem sempre em dia com a Divindade, mas sim, a qualidade divina da interação das almas que se entrelaçam nas juras de amor. O que diviniza um casamento não são as festividades das bodas de um dia, fáceis de concretizar, porém o quanto de amor se acrescenta a cada dia na conjugação afetiva, por meio do cuidado, do respeito, da fidelidade, da compreensão, do devotamento, da ternura, do perdão... Pergunta: Será contrário à lei da Natureza o casamento, isto é, a união permanente de dois seres? Resposta: "É um progresso na marcha da Humanidade." (O Livro dos Espíritos, questão 695). CAPITULO 4 CASAMENTO E RITO DE PASSAGEM E aconteceu que, ao ser batizado todo o povo e depois de Jesus ter sido batizado, e enquanto ele orava, ao se abrir o céu e descer sobre ele o Espírito Santo em forma corpórea, como pomba, surgiu uma voz do céu: Tu és o meu filho amado, em quem me comprazo." Jesus. (Lucas, 3:21 e 22) A jovem deprimida não conseguia entender a resposta do parceiro com quem se relacionava amorosamente. Agora, ao telefone, ouvira dele aquilo em que não queria acreditar. Ele estava interrompendo o relacionamento. Ela se julgava casada, pois investira no acasalamento não só a afetividade, porém o conforto material, viagens, presentes, aluguel de imóvel, enfim, muito dinheiro. Depois de três anos de convivência, ele, depois de passar em concurso para atuação em outra cidade, dizia-lhe que não permaneceria no relacionamento. E, quando ela argumentara que se sentia esposa, ele respondera que se sentia namorado. Em verdade, ambos nunca haviam conversado sobre o que representava aquele envolvimento. Foram coabitando sem definir o significado do relacionamento. Agora, diante da interrupção do vínculo emocional, ela se percebia traída, enganada, usada por ele. Se um casamento sob o olhar espírita é destituído de culto externo religioso, isto não implica que os nubentes não façam a celebração social segundo o estilo dos noivos naquilo que psicologicamente se pode denominar de rito de passagem. Os ritos são adotados, nas diversas circunstâncias da vida, a fim de que, em nível psicológico, se consagre algum evento. Por isso, observamos os ritos presentes nos aniversários, no acesso às universidades, nas formaturas, na posse de cargos profissionais, etc, atendendo às demandas emocionais, claramente necessárias na estruturação psíquica do espírito, em trânsito na sua encarnação. Um rito de passagem que pode prescindir totalmente de uma formalidade religiosa traduz a demarcação de nova etapa de vida social, a exemplo do encontro de Jesus com João Batista. Tem grande significação psicológica para ajudar um casal a assumir o novo compromisso afetivo valendo-se da presença de amigos e parentes, por exemplo, em comemoração social para esse fim. Há em nossa cultura vigente uma relação muito confusa quanto aos compromissos emocionais estabelecidos, a ponto de os participantes dos relacionamentos terem dificuldade em definir claramente que tipo de vinculação está sendo vivenciada. Parece existir um medo crescente de assumir responsabilidades à medida que o relacionamento vai avançando, e é comum não haver consenso quando se pergunta ao par: O que é a relação de vocês? Como vocês chamam a esse tipo de relacionamento? Na atualidade, com frequência, existe certa dificuldade em nominar o tipo de relação, sobretudo quando ela está mudando de nível. Por isso, habitualmente, o casal não consegue ter consenso quando se lhe pergunta sobre a dinâmica que eles estão vivendo, sendo comum o desencontro na caracterização do relacionamento, mormente quando estão em crise, ou se separando. Surgem, então, as opiniões não coincidentes, variando entre: casado, ficando, "rolo", namorando, coabitando, experimentando, união estável, convivendo, juntos, etc. É evidente que falta um varal onde se coloquem gradualmente os compromissos, facilitando melhor ao casal situar a sua relação, dispondo, assim, de maior clareza sobre as etapas em que se desenvolve o aprofundamento dos laços afetivos, e permitindo, desse modo, a assunção de responsabilidades proporcionais e em caráter de reciprocidade. Fica clara a necessidade de seguir-se uma sequência na evolução do envolvimento emocional, nomeando-se cada fase, de forma que o casal esteja consciente sobre o que significa aquele encaixe amoroso e o que ele representa como responsabilidade afetiva recíproca. Quando se faz o enquadramento adequado da dinâmica relacional, fica evidente a importância do rito psicológico para cada um caracterizar aquele momento de envolvimento sentimental. Tal ocorre, por exemplo, quando se avança dentro do namoro para a "aliança de compromisso" ou para o noivado, devendo-se solenizar a mudança de cada fase. Posteriormente, o casal avançará para a etapa do casamento que, por meio de outro rito de passagem, lhe facultará melhor apropriação do relacionamento, assumindo com profundo respeito a conjugalidade estabelecida. Desse modo, evitam-se desencontros quanto ao encaminhamento da relação diante da presença natural dos conflitos que surgem no cotidiano da dinâmica emocional. Se não estiver explícito qual o significado da relação, o casal poderá surpreender-se com a impropriedade em seu trato, pelas atitudes de indiferença, fugas, desconsiderações, deserções, abandonos capazes de acarretar lesões afetivas imprevisíveis. Por tudo isso, quando o casal assume solenemente o casamento, favorecido por um rito social, estabelece-se no psiquismo um compromisso socioafetivo e também espiritual, - mesmo sem casamento religioso formal, que sugere maior cuidado com o patrimônio afetivo em construção, evitando, inclusive, a banalização de separações irresponsáveis. Em resumo, para o Espiritismo não cabe casamento religioso, tampouco mediação de figuras de autoridades religiosas em culto exterior. O matrimônio, segundo o Espiritismo, segue o preceito do "dar a César o que é de César", atendendo às necessidades civis, sociopsicológicas, e incluindo, assim, o rito de passagem. E o "dar a Deus o que é de Deus" significando que, do ponto de vista divino, o casamento resulta da união dos sexos e da união amorosa. Pergunta: Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento? Resposta: "Seria uma regressão à vida dos animais." (O Livro dos Espíritos, questão 696). CAPITULO 5 CASAMENTO E FRONTEIRAS "Assim, tudo o que quereis que os homens vos façam, assim também fazei vós a eles, pois esta é a Lei..." Jesus. (Mateus, 7:12) Ela desabafava abertamente com um amigo, sobre a insatisfação crescente com o seu relacionamento conjugal: - Ele determinou que eu devesse ficar em casa cuidando dos filhos pequenos; - impediu que exercesse a minha profissão, alegando que era pouco rentável; - escolhia qual vestido eu deveria usar; - não permitiu que eu mantivesse amigos; - isolou-me da minha família de origem; - não ouvia quando me queixava de algo do cotidiano; -jamais dava atenção aos meus desejos, gostos e aspirações. Depois de alinhavar outras tantas mágoas, concluiu: - Ele invadiu a minha vida, desapropriou-me de mim mesma. Você não acha? O amigo olhou-a com ternura e perguntou: - E onde você estava todo esse tempo? E arrematou, perante a mulher pensativa: - Ninguém nos invade e nos domina sem o nosso próprio consentimento! A família é um sistema formado por um conjunto de subsistemas, quais sejam o conjugal (composto pelos cônjuges), o parental (constituído por pais e filhos) e o fraternal (feito pelos irmãos). Chamam-se fronteiras os espaços de troca entre os membros de um sistema; são os limites entre os membros de uma relação, por meio dos quais permutam comunicações eficazes ou não, dentro de uma interação afetiva. O sistema, quando tem boa funcionalidade, edificase com fronteiras bem nítidas entre os subsistemas, caracterizando uma excelente transação emocional entre os membros da família. No entanto, quando esses limites não são bem estabelecidos, surgem fronteiras difusas ou rígidas, que revelam má funcionalidade dentro do sistema. O casal compõe o subsistema conjugal, e deve-se perguntar como andam as suas comunicações, tendo em vista as fronteiras que seus membros criam para se movimentarem um em relação ao outro. Quando as fronteiras são difusas, a comunicação sofre os prejuízos de uma interação muito misturada, invasiva, com real comprometimento da intimidade, por não se estabelecer o necessário respeito pela privacidade de cada qual, com o risco de um engolir o outro, ainda que seja em nome de pretenso amor. Há perda de identidade e de individualidade, caracterizando um relacionamento disfuncional, com grande bloqueio para o crescimento de ambos. Faz parte desse tipo de interação, portanto, vasculhar a carteirabolsa do outro; abrir a correspondência do outro, sem permissão; exigir senhas de e-mail, cartão de crédito e de outros expedientes que pertencem exclusivamente ao parceiro; decidir rotineiramente pelo outro, sem consultálo, e sem que haja um motivo justo; escolher coisas sozinho (carro, imóvel, decoração, etc.) e circunstâncias de vida (férias, cinema, passeios, etc.) quando são atribuições do casal; dizer como o outro deve se vestir, adornar-se e aonde deve ir ou não ir; castrar o outro acerca dos seus desejos, seus gostos, seus sonhos a serem concretizados, em completa desconsideração pela singularidade do parceiro. É verdade que há conivência, isto é, existe uma aquiescência servil por parte daquele que consente ao outro a usurpação do seu espaço de vida. Às vezes, encontra-se um casal que mantém atitudes invasivas recíprocas, apenas alternando as posições, porém sempre mantendo um padrão difuso de comunicação. Há, portanto, sempre, uma atitude de permissividade a ensejar o encaixe simbiótico, disfuncional. Esse tipo de acasalamento pode durar a vida inteira, pagando preço alto pelo modelo de padrão transacional que limita o crescimento de ambos. Contudo, pode suceder que um se canse e opte pela mudança, buscando a liberdade de ser o que é como individualidade e resgatando a sua personalidade, deflagrando, desse modo, um conflito ameaçador à permanência do casamento caso o outro não se disponha, igualmente, à aceitação, à mudança. Bem dizia Khalil Gibran: "Os pilares do templo ficam separados, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro". Quando as fronteiras se colocam em um padrão de rigidez, o casal experimenta exagerado distanciamento, posto que os limites se constituem em uma parede que inviabiliza a intimidade desejada para a interação conjugal. Cada um dá prioridade ao atendimento das suas próprias carências, em detrimento do espaço de conjugalidade, comprometendo, assim, a cumplicidade indispensável ao casamento. Por isso, o casal vive um individualismo que afeta a saúde do relacionamento, pois há uma desatenção às demandas do outro. Isso determina, por consequência, uma relação egoísta, geradora de carência emocional, sensação de solidão e abandono, que acaba por impactar o tecido de sustentação da conjugalidade. Fazem parte desse padrão transacional as seguintes negatividades: Não existe preocupação em partilhar as atividades rotineiras; um não conhece os amigos do outro; um não sabe do que o outro gosta, ou deixa de gostar; não há compartilhamento de aspirações, já que são buscadas solitariamente; não é avaliada a importância de se permutarem desejos e preferências culturais; cada um vive em seu nicho profissional, sem que o outro tome conhecimento de como cada um caminha nesse âmbito; enfim, "dormem na mesma cama, mas não sonham os mesmos sonhos" nem compartilham a mesma vida. São pessoas que se habituaram a privilegiar o seu mundo próprio, a sua independência, com prejuízo para o outro, que procede do mesmo jeito, selando um padrão interativo. Apresenta-se, então, a escassez de cumplicidade e de partilhas, tornando vulnerável o par, que fica exposto à dor da solidão, da carência e da sedução externa. Tais fatores acabarão por contribuir para um distanciamento maior e definitivo, até a separação, caso não haja mudança de consciência e de atitude na vinculação a dois. Quando as fronteiras são nítidas, os limites entre o par guardam profunda clareza, permitindo a identificação dos direitos e deveres recíprocos na relação, desse modo proporcionando ao casal um bom funcionamento em sua interação matrimonial, dando, também, oportunidade aos membros para experimentarem dupla ventura: cada um sentir-se um indivíduo, um ser inteiro, e ao mesmo tempo unido, integrado ao ser amado. Cada qual tem a sua identidade preservada, sem prejuízo do acasalamento. Sentem-se integrados, criando um espaço de permuta que os enriquece extraordinariamente. Observa-se, nesse tipo de relacionamento: um cuidando do outro, porém respeitando sua privacidade; ambos têm prazer de informar ao outro sobre suas atividades cotidianas, em trocas espontâneas; dividem e se enriquecem na partilha de desejos e sonhos; comungam vitórias e frustrações de cada evento importante vivido; cada um, sozinho, quando necessário, dispõe de tempo para si mesmo, para buscar, no silêncio, a oração e a meditação de que carecem individualmente; há respeito pelas atividades específicas de cada um, sem nenhuma vigilância policialesca entre si; os espaços individuais são preservados reciprocamente, sem intromissões indébitas, seja quanto aos ambientes e objetos de uso pessoal, seja quanto aos espaços internos emocionais. Juntos, mas não fundidos; distintos, mas não separados. Pergunta: Como se pode definir a justiça? Resposta: "A justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais." (O Livro dos Espíritos, questão 875). CAPITULO 6 FRONTEIRAS ENTRE CÔNJUGES E FILHOS "Quem ama pai ou mãe mais que a mim, não é digno de mim; quem ama filho ou filha mais que a mim, não é digno de mim." Jesus. (Mateus, 10:37) O jovem, filho único, depois de abrir seu coração na psicoterapia, aos poucos foi compreendendo que sofria as repercussões das atitudes parentais. Dormira no quarto dos seus pais, entre os dois, por mais de quinze anos, quando rompera, rebelandose, reivindicando dormir em seu quarto, nunca usado para o sono noturno, porque seus pais não o consentiam. Fora a criança e o adolescente confidente da mãe acerca dos conflitos conjugais revelados nas conversas recorrentes. Da convivência com o cônjuge, a mãe jogara sobre o filho seus t onflitos sexuais, suas frustrações emocionais e suas angústias